CAPÍTULO

Prevenção de Trauma

OBJETIVOS DO CAPÍTULO

Ao final deste capítulo, o leitor deverá ser capaz de fazer o seguinte:

INI1111~~11

 Descrever o conceito da energia como causa de  Descrever e defender o papel dos serviços de
lesão no trauma. emergência médica na prevenção de trauma,
incluindo:
 Construir uma Matriz de Haddon para um tipo de
trauma específico.  Indivíduos
 Famílias
 Relacionar a importância das observações atentas
 C o mu ni da de s
e precisas da cena e da documentação dos dados
 Profissionais
pelos socorristas do atendimento pré-hospitalar
 Oraanizacões
opara
sucesso das iniciativas de prevenção de trauma.
 Gru po s de or gan iz açõ es
 Auxiliar no desenvolvimento, implementação e
 Identificar estratégias que os socorristas de
avaliação de programas de prevenção de trauma na
atendimento pré-hospitalar possam implementar e
sua comunidade ou na organização de serviços de
que irão reduzir o risco de traumas.
emergência médica.
 CAPÍTULO 2 Prevenção de Trauma 15

Você e seu parceiro estão na cena de urna colisão de automóveis e estão trabalhando para retirar rapidamente um paciente pesado do
banco do motorista de seu veículo. Ele não usava cinto de segurança durante a batida. Você e seu parceiro estão ambos usando coletes de
segurança aprovados sobre o seu uniforme de trabalho urna vez que vocês estão perto da estrada. Policiais estão no local para controlar o
tráfego, e a ambulância está estacionada para maximizar a proteção de veículos no sentido contrário. O paciente está devidamente
acomodado e protegido na maca elétrica, utilizada devido ao peso do paciente. A maca elétrica permite que você e seu parceiro levantem o
paciente com segurança até a ambulância, sem colocar o excesso de peso sobre seus corpos.
Uma vez dentro da ambulância, você coloca seu cinto de segurança na cadeira voltada para trás e continua a cuidar do paciente enquanto
seu parceiro opera a sirene e as luzes estroboscópicas intermitentes da ambulância para chamar a atenção dos outros motoristas. Ele manobra
com segurança até a pista e segue para o hospital. A ambulância chega com segurança ao hospital, e você transfere o paciente para os
cuidados da equipe do pronto socorro.
Enquanto preenche a papelada após o chamado, você pensa nas estatísticas de lesões e mortes nacionais globais dos socorristas. Você
percebe que, graças à cuidadosa atenção a todos os aspectos da prevenção de lesões que você e seu parceiro demonstraram, o chamado foi
concluído com segurança para todos os envolvidos.

 A prevenção de acidentes é uma abordagem realista para prevenir traumas e mortes em colisões automobilísticas e outras causas de
lesão traumática?
 Existem evidências de que a conformidade com o uso de assentos e cintos de segurança apresentam impacto na prevenção de lesões e
mortes?
 Como socorristas, o que podemos fazer para evitar mortes e lesões causadas por colisões automobilísticas?

entanto, o método mais eficiente e eficaz para combater o trauma é

Foi de grande importância para o
desenvolvimento dos serviços de emergência médica (EMS)
modernos a publicação, em 1966, pela Academia Nacional de
Ciências / Conselho Nacional de Pesquisa (NAS / NRC), do artigo
entitulado Accidental Death and Disability: the Neglected Disease of
Modern Society. A publicação destacou falhas nas condutas no
atendimento ao trauma nos Estados Unidos e ajudou a lançar uru
sistema formal de atendimento na cena e de transporte rápido dos
pacientes feridos em decorrência de "acidentes". Essa iniciativa
educacional foi fundamental para a criação de um sistema mais
eficiente que oferecesse atendimento pré-hospitalar aos doentes e
feridos.'
A incidência de morte e invalidez por traumas nos Estados
Unidos diminuíram desde a publicação desse artigo. 2 Apesar desse
progresso, no entanto, o trauma permanece como um grande
problema de saúde pública. Mais de 182.000 americanos morrem
anualmente por trauma, e outros milhões são afetados negativamente
em algum grau. 3' 4 O trauma ainda é uma das principais causas de
morte em todos as faixas de idade. 5,5 Para alguns grupos etários,
especialmente crianças, adolescentes e adultos jovens, ele é a
principal causa de morte.
O trauma é também um problema mundial. Mais de cinco
milhões de pessoas morreram no mundo em decorrência de traumas
em 2010. 5 Em todo o mundo, nove pessoas morrem de lesões
ocasionadas por traumas a cada minuto.
O desejo de cuidar de pacientes acometidos por traumas atrai
muitos para o campo dos serviços de emergência médica. O curso de
Suporte Pré-hospitalar de Vida no Trauma (Prehospital Trauma Life
Support, PHTLS) ensina os socorristas a serem eficientes e eficazes
no atendimento a traumatizados. A necessidade de socorristas bem
treinados para cuidarem de vítimas de trauma sempre existirá. No
impedir que ele aconteça em primeiro lugar. Profissionais de saúde
em todos os níveis desempenham um papel ativo na prevenção de
traumas para que se alcance os melhores resultados não somente
para a comunidade em geral, corno também para si mesmos.
Em 1966, os autores do relatório da NAS/NRC reconheceram a
importância da prevenção do trauma, quando escreveram:
A solução de longo prazo para o problema do trauma é a
prevenção... A prevenção de acidentes envolve o treinamento
em casa, na escola e no trabalho, reforçado por ações frequentes
voltadas para a segurança nos meios de comunicação; por
cursos de primeiros socorros e reuniões públicas; e pela
inspeção e vigilância das agências reguladoras.'
As ações de prevenção de algumas doenças, como a raiva ou
o sarampo, são tão eficazes que a ocorrência de um único caso se
torna notícia de primeira página. As autoridades de saúde pública
reconhecem que ações de prevenção resultam nos melhores
resultado para a redução do número de casos de doenças. Os
currículos para formação de socorristas há muito tempo incluem a
instrução formal sobre segurança da cena e uso dos equipamentos
de proteção individual, como meio de prevenção de lesões para
esses profissionais. Para estimular os sistemas de serviços de
emergência médica a desempenharem um papel mais ativo nas
estratégias de prevenção de trauma na comunidade, a Emergency
Medical Services Agenda for the Future, que foi desenvolvida pela
e para a comunidade dos serviços de emergências médicas, lista
a prevenção como um dos 14 atributos a serem desenvolvidos, a
fim de "melhorar a saúde da comunidade e resultar no uso mais
apropriados dos recursos de saúde". 7 Para esse fim, o National
16 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMA, OITAVA EDIÇÃO

EMS Education Standards (padrão nacional de educação dos

serviços de emergências médicas) incluiu a prevenção de
Energia Fora de Controle
As pessoas dominam e utilizam todas as cinco for .
trauma na comunidade.
em diversas atividades produtivas todos os dias. Nes
Os serviços de emergências médicas estão se transformando energia está sob controle, de modo que ela não afet:
de um modelo exclusivamente reativo para um modelo mais amplo e o corpo. A capacidade de um indivíduo controlar a e
mais eficaz, que inclui maior ênfase na prevenção. Este capítulo de dois fatores: do desempenho durante a execução
apresenta os principais conceitos de prevenção de trauma para exigências dessa tarefa. 9 Enquanto a capacidade para
soem-listas. executar uma tarefa for superior às exigências energia
será liberada de forma controlada para ser u
Conceitos de Trauma Nas três situações seguintes, entretanto, a
exceeder o desempenho, levando à liberação de
Definição de Trauma energia:

Uma discussão sobre a prevenção de trauma deve começar com a 1. Quando a dificuldade da tarefa repentina
definição do termo trauma. Trauma é hoje definido como um evento capacidade de desempenho do indivíduc
nocivo que acontece quando há liberação de formas um socorrista pode operar uma ambulância
específicas de energia física ou quando há barreiras ao fluxo durante condições normais de condução, 1
normal de energia.8 A grande variabilidade das causas de trauma o controle quando o veículo passar sobre
inicialmente representaram um grande obstáculo para seu estudo água na pista. O aumento repentino nas
e prevenção. Por exemplo, o que uma fratura de quadril tarefa pode ultrapassar a capacidade de e
causada pela queda de um idoso tem em comum com um socorrista e causar um acidente.
ferimento de arma de fogo autoinfligido em crânio de um adulto 2. Quando o nível de desempenho do indir ficando abaixo do que
jovem? Além disso, qual o paralelo que pode ser feito entre uma exigiria a taref, que adormece ao volante de um veículo 4 em
fratura de fêmur de uma queda em uma senhora idosa e uma uma estrada apresenta urna redução desempenho. E, sem que
fratura de fêmur de um homem jovem que bateu sua moto? Todas houvesse mudança' da tarefa, ela pode sofrer um acidente.
as possíveis causas de trauma, desde colisões de veículos, 3. Quando ambos fatores são modificados sim Falar em um telefone celular
passando por ferimentos por arma branca e suicídio até ao enquanto concentração de um motorista na estrad surge de repente na
afogamento, apresentam um fator em comum: a transferência de frente do veículo, a exi de forma brusca. Em circunstâncias norml
energia para a vítima.
poderia ser capaz de lidar com esse aumer
A energia existe em cinco formas físicas: mecânica, química, da tarefa. Uma redução da concentraçã
térmica, radioativa e elétrica. exato em que a habilidade adicional é exi
uma colisão.
 Energia mecânica é a energia que um objeto contém
quando está em movimento. Por exemplo, a energia Assim, podem ocorrer lesões quando há liberaç
mecânica, a causa mais comum de lesões, é transferida a forma descontrolada em locais próximos às vítimas.;
partir de um carro quando um motorista, sem cinto de
segurança bate contra o para-brisa durante uma colisão
1
do veículo. O Trauma como uma Doença
 Energia química é a energia que resulta da interação
de um composto químico com o tecido humano exposto O processo patológico tem sido estudado há anos.
a ele. Por exemplo, a energia química leva a urna que três fatores devem estar presentes e interagir si
queimadura por meio da exposição a um ácido ou uma para que uma doença ocorra: (1) um agente que cau:
base. um hospedeiro em que o agente possa residir e (
 Energia térmica é a energia associada com o adequado no qual o agente e o hospedeiro possar
aumento de temperatura e calor. Por exemplo, a Assim que os profissionais de saúde pública reco
energia térmica causa lesões quando um cozinheiro ao"tríade epidemiológica", eles descobriram como
borrifar um líquido inflamável no carvão em brasa em doenças (Figura 2-1). A erradicação de certas doen-
é possível por meio da vacinação do hospedeiro, eli
urna churrasqueira ao ar livre, acaba queimando seu
agente com antibióticos, da redução da transmissão
rosto.
meio de melhorias no saneamento básico, ou de mi
 Energia por radiação é qualquer onda eletromagnética que
desses três fatores.
trafega em raios (como o Raio-X) e não apresenta massa
física. A energia por radiação pode produzir queimaduras Apenas no final da década de 1940 inicia a pesqui
solares em urna adolescente que tentasse ficar com um do processo de trauma. Os pioneiros no estue
demonstraram que, apesar dos resultados obviamei
bronzeado dourado para o verão.
a doença clínica e o trauma se comportam de fora
 Energia elétrica é resultante da movimentação de
elétrons entre dois pontos. Ela está associada tanto ao
trauma direto, bem corno ao trauma térmico e, por
exemplo, pode produzir lesões na pele, nervos e vasos
sanguíneos de um socorrista que falha durante a
avaliação adequada da cena antes de tocar em um
veículo que bateu em um poste de luz.

Qualquer forma de energia física em quantidade suficiente

pode causar danos aos tecidos. O corpo pode tolerar a transferência
de energia até certos limites; no entanto, sempre haverá trauma
quando esse limiar for excedido.

Figura 2-1 Tríade epidemiológica.
Ambos apresentam os três elementos da tríade epidemiológica, e,
consequentemente, ambos são tratados como urna doença:
1. Para que uma trauma ocorra, um hospedeiro (no caso,
o homem) deve existir. Assim como acontece com as
doenças, a susceptibilidade do hospedeiro não se mantém
constante de indivíduo para indivíduo; ela varia em
função de fatores internos e externos. Fatores internos
incluem inteligência, gênero e tempo de reação. Fatores
externos incluem intoxicação, raiva e crenças sociais.
A susceptibilidade também varia ao longo do tempo em
relação a uma mesma pessoa.
2. Como descrito anteriormente, o agente do trauma é a
energia. A velocidade, a forma, o material e o tempo
de exposição ao objeto que libera a energia, todos
desempenham um papel na relação de eventual sobrecarga
do nível de tolerância do hospedeiro.
3. O hospedeiro e o agente devem se encontrar em um
ambiente que permita que os dois interajam. Normalmente,
o ambiente é dividido em componentes físicos e sociais.
Fatores físicos do ambiente pode ser vistos e tocados.
Fatores sociais do ambiente incluem atitudes, crenças
e julgamentos. Por exemplo, os adolescentes são mais
propensos a comportamentos de risco (componente físico),
porque eles apresentam uma sensação de invencibilidade
(componente social), maior do que outras faixas etárias.
As características do hospedeiro, do agente e do ambiente
mudam conforme o tempo e as circunstâncias. Os profissionais de
saúde pública Tom Scavo Christoffel e Susan Gallagher descrevem
essa dinâmica da seguinte forma:
Para ilustrai; pense nos componentes da tríade epidemiológica
como rodas que giram constantemente. Dentro de cada roda,
há divisões, como fatias de torta, urna para cada variável
circunstancial possível — boa e ruim. As três rodas giram
em velocidades diferentes, então características diferentes
interagem (se encontram) em momentos diferentes e em
diferentes combinações. Algumas combinações fazem com
que nenhum trauma ocorra; outras levam a um desastre.w
No caso do trauma, o hospedeiro pode ser uma curiosa criança
de 2 anos de idade que se move; o agente do trauma pode ser uma
piscina cheia de água com uma bola de praia que boia bem próximo
da borda; o ambiente pode ser um portão que foi deixado aberto
CAPÍTULO 2 Prevenção de Trauma
enquanto a babá corria para dentro da casa para atender ao telefone.
Com o hospedeiro, agente e ambiente todos juntos, ao mesmo
tempo, uni trauma não intencional — nesse caso, o afogamento —
poderá ocorrer.
Matriz de Haddon
Dr. William J. Haddon Jr. é considerado o pai da ciência da prevenção
ao trauma. Durante seus estudos sobre o conceito da tríade
epidemiológica, em meados da década de 1960, ele reconheceu que
o trauma pode ser dividido em três fases temporais:
1. Pré-evento: Antes da lesão.
2. Evento: O momento no qual a energia nociva é liberada.
3. Pós-evento: As consequências do trauma (veja também o
capítulo PHTLS: Passado, Presente e Futuro).
Ao exa mi nar os três fa t or es da tría de epi demi oló gic a
durante cada fase temporal, Haddon criou uma matriz "fase-fator"
constituída de nove células (Figura 2-2). Esta tabela ficou conhecida
corno a Matriz de Haddon. Ela fornece um meio para representar
graficamente os eventos ou ações que aumentam ou diminuem
as possibilidade de ocorrência de um trauma. Ela também pode
ser usada para identificar estratégias de prevenção. A matriz de
Haddon demonstra que diversos fatores podem levar a um trauma e,
consequentemente, existem diversas possibilidades para prevenir ou
reduzir sua gravidade. A matriz desempenhou um papel importante
na desmistificação da ideia de que a trauma seria o resultado de uma
única causa, de azar ou do acaso.
A Figura 2-2 mostra urna Matriz de Haddon para um acidente
de ambulância. Os componentes em cada célula da matriz são
diferentes, dependendo do trauma a ser analisado. A fase de
pré-evento inclui fatores que podem contribuir para a probabilidade
de um acidente; no entanto, a energia ainda está sob controle. Essa
fase pode durar de alguns segundos até vários anos. A fase do evento
mostra os fatores que influenciam na gravidade da lesão. Durante
esse período, a energia descontrolada é liberada e o trauma ocor re
se a transferência de energia exceder a tolerância do corpo. Afase do
evento é normalmente muito curta; pode durar apenas uma fração de
segundo e raramente dura mais do que alguns minutos. Os fatores na
fase pós-evento afetam o resultado depois de uma lesão ter ocorrido.
Dependendo do tipo de evento, pode durar de alguns segundos até
o tempo de vida restante do hospedeiro. (Veja também o capítulo
PHTLS: Passado, Presente e Futuro).
Programas de saúde pública adotaram a t erminologia de
prevenção primária, secundária e terciánia.
 A prevenção primária destina-se a evitar o trauma antes
que ele ocorra. Esse tipo de atividade de prevenção
envolve programas de educação para ajudar a minimizar
comportamentos de risco e a usar equipamentos de
proteção como capacetes, assentos de segurança para
crianças e cintos de segurança em veículos.
 A prevenção secundária refere-se às medidas tornadas para
prevenir a progressão de uma lesão aguda, uma vez que ela
já tenha ocorrido — por exemplo, evitando a ocorrência de
hipóxia ou hipotensão após uma lesão cerebral traumática
18 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMA, OITAVA EDIÇÃO

ou corrigindo-a o mais rapidamente possível se já estiver

presente.
■ A prevenção terciária visa reduzir a ocorrência de morte
e de invalidez a longo prazo por um trauma (ou doença)
após ele ter ocorrido. Programas ativos e agressivos de
reabilitação se enquadram nesta categoria.
Modelo do queijo suíço
O psicólogo britânico James Reason propôs uma outra maneira
de pensar sobre como ocorrem os acidentes." Ele comparou o
processo a um queijo suíço. Em cada situação, existe um risco, que
tem o potencial de causar traumas ou permitir que um erro ocorra.

Figura 2-2 Matriz de Haddon para colisões com ambulâncias

Fases Fatores do hospedeiro
Pré-evento Precisão visual do motorista
Experiência e julgamento
Quantidade de tempo na
ambulância por turno
Nível de cansaço
Alimentação adequada
Nível de estresse
Adesão às leis de trânsito da
comunidade e da empresa
Qualidade dos cursos de
formação do motorista
Tríade epidemiológica
Fatores do agente
Manutenção dos freios, pneus etc.
Equipamentos com defeito
Centro de gravidade mais alto na
ambulância
Velocidade
Facilidade de controle
Fatores do ambiente
Visibilidade dos perigos
Inclinação e curvatura da estrada
Coeficiente de atrito da superfície
Largura da pista de acostamento
Sinalização de trânsito
Limites de velocidade

Evento Uso do cinto de segurança Capacidade de velocidade Falta de grades de proteção

Condicionamento físico Tamanho da ambulância
Limiar de lesão Limitadores automáticos
Ejeção Rigidez e perfurabilidade
das superfícies de contato.
Rigidez e perfurabilidade de itens
soltos (p. ex., pranchetas, lanternas)
Coluna de direção
Prática de hábitos seguros de
condução: velocidade, uso de
luzes/sirene, ultrapassagens,
cruzamentos, ré
Prática de bons hábitos de parceiros
no deslocamento: observar a
estrada, parar em cruzamentos
Estacionar com segurança
Pós-evento Idade Integridade do sistema de
Condição física combustível
Tipo e tamanho do trauma
Aprisionamento
Barreiras centrais
Distância entre as estradas e
objetos fixos
Limites de velocidade
Outros tráfegos
Postura quanto ao uso de cinto de
segurança
Manutenção de uma rota de fuga
Não fazer suposições sobre
um ambiente ser seguro (p.
ex., "uma região bacana da
cidade", "casa de alto padrão")
Tempo
Capacidade de comunicação de
emergência
Distância e qualidade da resposta
da emergência médica
Treinamento da equipe de
emergência médica
Disponibilidade de equipamentos
de extricação
Sistema de atendimento ao trauma
da comunidade.
Programas de reabilitação
na comunidade

Geralmente há uma série de proteções ou barreiras para impedir
que isso aconteça. Ele sugeriu que cada urna dessas barreiras ou
proteções funcionem como um pedaço de queijo suíço. Os buracos
do queijo são brechas ou falhas que aumentariam a probabilidade
de uni risco ou erro causarem traumas. Estas falhas podem ser
resultado de deficiências na administração ou organização ou podem
ocorrer após a fiscalização do sistema (condições latentes), ou corno
resultado de atos de omissão ou comissão (falhas ativas). A lógica
mostra que todo risco possui urna trajetória e que geralmente é
necessário que ocorra urna série de falhas para que haja um problema
subsequente, e que a trajetória deve ser de tal forma que cruze com
buracos ou falhas que estejam alinhados para permitir que todas as
proteções não funcionem e que o trauma ocorra (Figura 2-3)."
Classificação do Trauma
U m mé t o d o c o mu m p a r a s ub c l a s s i f i c a r o t r a u ma b a s e a - s e
na intencionalidade. O trauma pode resultar tanto de causas
intencionais, quanto não intencionais. Embora este seja um caminho
lógico para visualizar o trauma, ele ressalta a dificuldade dos
esforços de prevenção.
Trauma intencional é trauma associado a um ato de violência
interpessoal ou autointligido. Problemas como homicídio, suicídio,
assalto, violência sexual, violência doméstica, abuso infantil e
guerra entram nesta categoria. Antigamente, a prevenção de um
trauma intencional era pensada corno de exclusiva responsabilidade
da justiça criminal e dos sistemas de saúde mental. Embora
estas agências colaborem para a redução de mortes violentas, os
traumas intencionais podem ser melhor prevenidos por meio de
uma abordagem ampla e multidisciplinar, que inclui o professional
médico.
No passado, traumas não intencionais eram chamadas de
acidentes. Os autores do relatório público da NAS/NRC se referiram
de forma adequada à morte acidental e invalidez; esses eram os
vocabulários da época.' Porque desde que se compreendeu que
fatores muito específicos devem se reunir para que um trauma
ocorra, os profissionais da saúde perceberam que o termo acidental
não descreve traumas não intencionais decorrente de eventos corno
colisões de veículos, afogamentos, quedas e choques elétricos. Os
sistemas dos serviços de emergências médicas acolheram esse
conceito ao usarem o termo colisões de veículos automotores
(frequentemente abreviado corno CVM) no lugar de acidentes com
veículo automotores (AVM). No entanto, a percepção do público
geral muda de forma muito mais lenta. Repórteres ainda falam nos
noticiários de pessoas feridas em acidentes de automóveis ou em
disparos acidentais. O termo acidente sugere que uma pessoa foi
ferida como resultado do destino, intervenção divina ou azar. Isso
implica que a lesão era aleatória e, portanto, inevitável. Enquanto
persistir essa percepção equivocada, a implementação de medidas
corretivas será muito difícil.
Também é importante observar que pode haver sobreposição
entre estas duas classificações comuns de trauma." Por exemplo,
uma colisão de um veículo automotor pode ser resultado de um
motorista que tentou cometer suicídio. Classificar o ocorrido
como um acidente de veículo automotor, apenas, não implica
qualquer intenção por parte do condutor em relação aos riscos, ao
passo que o conhecimento da ideação suicida do condutor implica
claramente na intenção de causar a colisão.
CAPÍTULO 2 Prevenção de Trauma 1 9
Figura 2-3 O modelo do queijo suíço.
Fonte: Reproduzido do British Medical Journal. Reason, J, Human error. Models and
Management, 320, p. 768, 2000 com permissão de BMJ Publishing
Group Ltd.
Escopo do Problema
Morte por trauma é um grande problema de saúde em todo o mundo,
resultando em mais de 14.000 mortes diariamente (Figura 2-4),
com colisões automobilísticas levando a aproximadamente 1,3
milhão, suicídios 844.000 e homicídios 600.000 mortes anualmente.'
Na maioria dos países, independentemente do seu nível de
desenvolvimento, o trauma aparece entre as cinco principais causas
de morte.4 Apesar de as causas de morte por trauma variarem pouco
entre os países, existe grande variabilidade que causa maior impacto
sobre cada faixa etária específica. Devido a questões econômicas,
sociais e de desenvolvimento, a causa da morte relacionada ao
trauma varia de país para país e até de região para região dentro de
um mesmo país.
Por exemplo, em países de baixa e média renda do Pacífico
ocidental, as principais causas de mortes ligadas a trauma são
colisões automobilísticas, afogamento e suicídio, ao passo que na
África as principais causas são colisões automobilísticas, guerras
e violência interpessoal. Nos países de alta renda das Américas, a
principal causa de morte entre as pessoas entre 15 e 29 anos de idade
são colisões automobilísticas. Para esta mesma faixa etária, em
países de baixa e média renda das Américas, a principal causa é a
violência interpessoal.' A Figura 2- 5 mostra que o trauma exerce uni
papel de liderança no peso global de doenças.
Em 2010, cerca de 33.000 pessoas nos Estados Unidos morreram
em colisões de veículos automotores, o menor valor desde 1949. Mais
de 10.000 pessoas morreram nas mãos de motoristas alcoolizados, e
cerca de 2,6 milhões de motoristas e passageiros foram atendidos
em pronto-socorro (PS) após colisões automobilísticas.' Nos
Estados Unidos, as lesões são a quinta causa de morte no geral,
sendo responsáveis por mais de 180.000 mortes por ano, ou cerca de
1 pessoa a cada três minutos' (Figura 2-6). Trauma é um problema
especialmente grave para os jovens dos EUA, assim corno para a
maioria das nações industrializadas de todo mundo. Nos Estados
Unidos, o trauma mata mais crianças e adultos jovens do que todas
as doenças somadas (mais de 32.000 em 2006).' Sessenta e cinco
por cento das mortes de crianças com menos de 19 anos de idade
ocorrem devido a traumas não intencionais."
Infelizmente, as mortes por trauma são apenas a ponta do
iceberg. O "triângulo do trauma" mostra um panorama mais
completo do impacto do trauma na saúde pública (Figura 2-7).
PO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMA, OITAVA EDIÇÃO
Figura 2-4
Lesão Geral
 As oito principais causas de mortalidade relacionadas com
lesões, em ordem, foram:
1. Lesões ocorridas no trânsito
2. Violência auto-infligida
3. Violência interpessoal
4. Afo game nto
5. Intoxicação
6. Guerra
7. Quedas
8. I ncêndios
 Estima-se que cinco milhões de pessoas morrem no mundo
vítimas de trauma.
 Trauma responde por 9% das mortes no mundo e 16% das
incapacidades/invalidez.
 Para pessoas com idade entre 5 e 44 anos, 6 das 10
principais causas de morte eram relacionadas a trauma.
 O peso das doenças relacionadas a trauma, principalmente
lesões em colisões automobilísticas, deverá aumentar
drasticamente até o ano de 2020.
 Duas vezes mais homens morrem de trauma do que
mulheres; mortes relacionadas com o fogo são uma
importante exceção.
 Os homens na África têm as mais altas taxas de mortalidade
ligada a trauma.
 Mais de 90% de todas as mortes relacionadas a trauma
ocorrem em países de renda baixa e média.
 Traumas respondem por 12% do total de anos perdidos de
vida potencial, seja por morte prematura ou por invalidez.
Traumas ocorridas no trânsito
 Estima-se que 1,3 milhão de pessoas morreram em
consequência de traumas no trânsito, e outras 50 milhões
ficaram feridas ou inválidas.
 Trauma no trânsito é a principal causa de morte de crianças
e jovens com idade entre 10 a 29 anos.
A mortalidade no trânsito para os homens é quase três vezes
superior à das mulheres.
 O sudeste asiático é responsável pela maior percentagem de
mortes por trauma no trânsito.
Queimaduras em incêndio
 Aproximadamente 195.000 mortes relacionadas com
queimaduras em incêndio ocorrem anualmente em todo o
mundo.
 Mulheres no sudeste asiático têm as mais altas taxas de
mortalidade por queimaduras relacionadas à incêndio.
 Crianças menores de 5 anos de idade e idosos têm as mais
altas taxas de mortalidade relacionadas a incêndio.
 O sudeste asiático sozinho responde por pouco mais de
metade das mortes de queimaduras relacionadas a incêndio.
odos os dados foram compilados a partir dos relatórios de 2012 da Organização Mundial da Saúde (OMS).
~■~~~im
1
Afogamento
 Cerca de 389.000 pessoas se afogaram em 2004.
 97% das mortes por afogamento ocorreram em países de
baixa e média renda.
 Entre as várias faixas etárias, crianças menores de 5 anos de
idade apresentam as mais altas taxas de mortalidade por
afogamentos, sendo responsáveis por mais de 50%.
 Os homens na África e no Pacífico ocidental apresentam as
mais altas taxas de mortalidade por afogamento.
Quedas
 Estima-se que 424 mil pessoas morrem anualmente em
função de quedas.
 Um quarto de todas as quedas fatais ocorrem em países de
alta renda.
 Em todas as regiões do mundo, adultos com mais de 65
anos de idade, especialmente as mulheres, apresentam a
maior taxa de mortalidade por queda.
 A Europa e o Pacífico ocidental somados respondem
por quase 60% do número total de mortes relacionadas
com quedas.
Intoxicação
 Estima-se que 346 mil pessoas morreram de intoxicação em
todo o mundo.
 Mais de 94% das intoxicações fatais ocorreram em países de
baixa e média renda.
 A taxa de intoxicação geral entre os homens na Europa é
aproximadamente três vezes maior do que a taxa em ambos
os sexos em qualquer outra região do mundo.
 A região da Europa responde por mais de um terço de todas
as mortes por intoxicação em todo o mundo.
Violência interpessoal
e Estima-se que 520 mil pessoas morreram em todo o mundo
como resultado da violência interpessoal.
 95% dos homicídios ocorreram em países de baixa e média
renda.
 As maiores taxas de violência interpessoal são encontradas
nas Américas, entre homens de 15 a 29 anos.
 Entre as mulheres, a África tem a maior taxa de mortalidade
por violência interpessoal.
Suicídio
 815 mil pessoas em todo o mundo cometeram suicídio.
 86% de todos os suicídios ocorreram em países de baixa e
média renda.
 As mulheres da China tem uma taxa de suicídio que é
aproximadamente o dobro das mulheres em outras partes
do mundo.
 Mais do que 50% de suicídios ocorreram com pessoas de
idade entre 15 e 44 anos.
 CAPÍTULO 2 Prevenção de Trauma 21

de morte. Em 2006, os traumas diminuíram um estimado de 3,68

Traumas milhões de anos de suas vítimas em comparação com 1,8 milhões
decorrentes 23% de anos pelo câncer, muito embora o câncer tire mais vidas do que o
do trânsito trauma.'
Urna terceira medida da gravidade do trauma pode ser
demonstrada financeiramente. Os aspectos econômicos do trauma
3% são sentidos muito além do paciente e de sua família. Os custos do
Intoxicação trauma estão distribuídos em um amplo espectro. Toda a sociedade
7% sente o efeito, porque os custos do trauma são sustentados por
agências federais e outras agências, programas de seguro privados
4% Quedas que repassam a despesa para outros contribuintes e empregadores,
Guerra
16% 5 % '`f bem como ao próprio paciente. Como resultado, todos pagam
9%
Incêndios quando um indivíduo fica gravemente ferido. As estimativas de
custo do trauma giram em torno de 406 bilhões de dólares por
Afogamento ano, o que inclui o custo direto da assistência médica e os custos
Violência Violência indiretos, como lucros cessantes. 4 Dados da Organização Mundial
'6

interpessoal auto-infligida de Saúde (OMS) indicam que as atividades de prevenção são um

bom investimento:
Figura 2 5 Distribuição da mortalidade mundial por trauma em
-

função da causa.  Cada dólar americano investido em capacetes de moto

Fonte: Dados do projeto da OMS Peso Mundial das Doenças, 2002, Versão 1.
Nos Estados Unidos, em 2009, mais de 118 mil pessoas morreram
por traumas, e outras 2,8 milhões foram hospitalizadas por causa
de traumas não fatais. Os traumas também levaram a mais de 45,4
atendimentos em pronto-socorros. 3
O impacto pode ser ainda mais notado por meio da análise
do número de anos potenciais de vida perdidos (APVP), como
resultado do trauma. Os anos potenciais de vida perdidos (APVP)
são calculados pela subtração da idade à morte de uma idade fixa
do grupo sob análise, geralmente 65 ou 70 anos ou a expectativa
de vida do grupo. Trauma mata ou incapacita pessoas de todas as
idades, mas afeta proporcionalmente mais crianças, jovens e adultos
jovens, especialmente nos países industrializados. Como o trauma é
a principal causa de morte de americanos entre 1 e 44 anos de idade,
é também responsável por mais APVP do que qualquer outra causa
leva a uma economia de 32 dólares com despesas médicas.
 Cintos de segurança diminuem o risco de ser ejetado e de
ferimentos graves ou fatais em 40% a 65%, e já salvaram
um número estimado de 255 mil vidas entre 1975 e 2008. 14
Os números do trauma relacionados a morbidade, mortalidade
e impacto econômico é excessivo. Conforme colocado por Maguire
e seus colegas:
O trauma é desde sempre uma ameaça ao bem-estar público,
mas até meados do século )0(, as doenças infecciosas
ofuscaram a terrível contribuição do trauma à morbidade
e à mortalidade humanas. O sucesso de saúde pública em
outras áreas ofuscou o trauma como um importante problema
de saúde pública, que tem sido chamado de "a epidemia
negligenciada"."

Figura 2-6 lassificação de Causas de Mortes Ligadas a Traumas por Faixas Etárias, 2010
Faixas etárias
<1 1-4 5-9 1 0 -1 4 1 5-24 25 -3 4 5-44 45-54 55-64 65 + Todas as
idades
(número
de mortes)
Lesão não 5° Principal Principal Principal Principal 3° 4° 5°
intencional (120.859)
Principal 9°
Intencional Principal
Lesão
3° 3° 18° 10°
* 4°
Suicídio 13° 4° 8° (38.364)
4° 2° 2°
* 16°
3° 4°
50
13° 17°
Homicídio 3° (16.259)
14°

*Dados não aplicáveis ou não disponíveis.

Fonte: Retirado de National Vital Statistics System, National Center for Health Statistics, Centers for Disease Control and Prevention (CDC), Office of
Statistics and Programming, National Center for Injury Prevention and Control. CDC: ranking of causes of injury-related deaths by age groups, 2010.
http://www.cdc.gov/injury/wisdars/pdf/10LCID_All_Deaths_By_Age_Group_2010-a.odf. Acesso em 11 de janeiro de 2013.
 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMA, OITAVA EDIÇÃO
Mortes
118,000
Altas hospitalares
2,8 milhões
Atendimentos no pronto-socorro
45,4 milhões
Casos de lesões atendidas medicamente
66 milhões
Figura 2 7 Triângulo do trauma.
-
Fonte: Dados do US Department of Health and Human Services, Centers for Disease
Control and Prevention, National Center for Health Statistics. injury in the United
States 2007 Chartbook.
A sociedade está pedindo a todos os setores da comunidade
médica para que aumentem suas atividades de prevenção. Com
até 840 mil socorristas apenas nos Estados Unidos, os sistemas de
serviços de emergência médica podem dar uma enorme contribuição
para os esforços de prevenção de trauma com base em ações na
comunidade.
Trauma ao Socorrista durante o
Atendimento
Os socorristas de emergência médica estão expostos a urna ampla
variedade de situações que podem resultar em traumas. As cenas do
incidente são muitas vezes inseguras, apesar dos melhores esforços
dos serviços de emergência médica e dos policiais, pois estas cenas
envolvem pessoas que estão passando por crises emocionais e
físicas. A própria natureza do trabalho de emergência implica riscos
de trauma. O simples fato de dirigir até a cena do incidente pode
ser perigoso. Trabalho pesado, exposição a riscos ambientais e
a doenças infecciosas, privação do sono e o estresse do trabalho
também trazem riscos significativos para ocorrência de traumas.
A privação do sono é um fator importante que afeta claramente
o desempenho do socorrista." Quanto maior o tempo que uma
pessoa fica acordada, maior sera a fadiga resultante e a sonolência;
maior o efeito sobre o tempo de reação e sobre a avaliação e toma da
de decisão médica; e maior a probabilidade de ocorrerem erros,
lesões em si próprio ou nos outros, e até mesmo fatalidades. i 7 A
privação do sono é comparada à intoxicação alcoólica: ficar sem
dormir durante 18 horas equivale a uma concentração de álcoo l
no sangue (CAS) de 0,05 e ficar sem dormir durante 24 horas se
assemelha a uma CAS de 0,1.
Além disso, a privação do sono pode ter efeitos profundos
sobre a saúde do socorrista, bem como interferir nas relações
pessoais e familiares mais importantes. Falta de sono pode levar à
irritabilidade, ansiedade e depressão.
De 1992 a 1997, um número estimado de 12,7 mortes ocorreu
a cada 100.000 trabalhadores por ano nos serviços de emergência
médica.1839 Isso equivale a uma taxa de letalidade média nacional de 5
em 100.000 para todos os trabalhadores, a uma taxa de 14,2 em 100.000
para policiais e de 16,5 para os bombeiros durante o mesmo período.
Mais de 58% das fatalidades relacionadas aos serviços de emergências
médicas envolveram colisões de ambulâncias e 9% envolveram
agressões ou homicídios. Assim como acontece com as mortes,
estimar os traumas não fatais também pode ser difícil. No entanto,
1 trauma grave e incapacitante com necessidade de hospitalização a
cada 31.616 remoções foi documentada por socorristas em ambiente
urbano.2°
Um estudo publicado em 2011 avaliou as lesões fatais e não fatais
de socorristas e paramédicos durante o período de 2003 a 2007. 21 Os
autores revisaram os dados do Censo de acidentes de trabalho fatais
do Bureau of Labor Statistics, bem como os registros ocupacionais do
Sistema Nacional de Vigilância Eletrônica de Lesões. No período, eles
constataram 99.400 lesões não fatais e 65 fatalidades. A maioria das
mortes foi relacionadas ao transporte, de colisões com veículos (45%)
a quedas de aviões (31%). Entre os socorristas remunerados, a taxa
de mortalidade foi de 6,3 por 100.000, mais alto do que a taxa para os
bombeiros (6,1 por 100,000) no mesmo período. A única notícia boa
neste relatório é que os números de fatalidade são menores do que os
documentados 10 anos atrás.
Esses números revelam uma realidade preocupante. De acordo
com Garrison:
... os momentos mais perigosos para a equipe de serviços de
emergência médica são quando estão dentro da ambulância
em movimento ou quando estão trabalhando no local do
incidente perto de outros veículos em movimento."
É fundamental que a equipe de serviços de emergência médica
conheça e compreenda os conceitos de trauma e prevenção do
trauma para que os riscos inerentes ao atendimento médico possam
ser identificados e corrigidos. Desde praticamente o primeiro dia
de treinamento, os estudantes são ensinados que ninguém é mais
importante na cena do incidente do que o socorrista, de modo
que a sua segurança deve vir em primeiro lugar. O uso do cinto de
segurança na ambulância é o primeiro passo de segurança.
Em 2009, o Conselho Consultivo Nacional dos Serviços de
Emergência Médica (National EMS Advisory Council, NEMSAC)
observou que a Agência Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário
(National Highway Traffic Safety Administration, NHTSA) deveria
criar uma cultura nacional de segurança nos serviços de emergências
médicas. Para isso, uma minuta de documento foi desenvolvida
descrevendo os vários passos e ações recomendados e necessários
para implementar esse conceito. 23
Prevenção como
Solução
O ideal, antes de mais nada, é prevenir que um trauma ocorra,
eliminando assim a necessidade de tratá-lo depois de ocorrer. Quando
o trauma é evitado, poupa-se o paciente e a fanulia do sofrimento

e de dificuldades econômicas. O Centro Nacional de Prevenção e
Controle de Traumas (National Center for Injury Prevention, NCIPC)
dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estima o
seguinte:
 1 dólar gasto em detectores de fumaça economiza 69
dólares.
■ 1 dólar gasto em capacetes de bicicleta economiza 29
dólares.
 1 dólar gasto com assentos de segurança para crianças
economiza 32 dólares.
 1 dólar gasto em linhas de sinalização no centro e nas
margens das pistas economiza 3 dólares apenas com
gastos médicos.
 1 dólar gasto em consulta com pediatras para evitar lesões
economiza 10 dólares.
 1 dólar gasto em serviços de controle de contaminação
economiza 7 dólares em despesas médicas.'
Além dos achados do NCIPC:
 Um estudo de avaliação financiado pelo CDC sobre o
sistema regional de cuidados de trauma, em Portland,
Oregon, encontrou uma diminuição de 35% no risco de
morte para pacientes gravemente feridos tratados no
sistema."
 Um programa de distribuição de detectores de fumaça em
Oklahoma reduziu lesões relacionadas com queimaduras
em 80%.25
Devido à variabilidade entre hospedeiro, agente e ambiente, em
determinado momento, os profissionais de atendimento de saúde
nem sempre podem prever ou prevenir todos os traumas individual.
No entanto, é possível identificar populações de alto risco (as
quais incluem os socorristas), produtos de alto risco e ambientes
de alto risco. Os esforços de prevenção que sejam voltados pa ra
grupos ou situações de alto risco influenciam uma ampla gama da
sociedade. Os profissionais de saúde podem buscar a prevenção
de várias maneiras. Algumas estratégias provaram ser um sucesso
em todo os Estados Unidos e ao redor do mundo. No entanto,
algumas estratégias funcionam em uma região, mas não em outra.
Antes de implementar uma estratégia de prevenção de trauma,
deve-se concentrar em determinar se ela vai funcionar. Embora não
seja necessário "reinventar a roda", profissionais de saúde podem
precisar modificar uma estratégia de prevenção para melhorar suas
chances de sucesso. Os métodos para fazer isso são analisados na
seção seguinte.
Conceitos de
Prevenção de Trauma
Objetivo
O objetivo de programas de prevenção de trauma é provocar uma
mudança no conhecimento, na postura e no comportamento por
parte de um segmento previamente identificado da sociedade.
Simplesmente fornecer informações a potenciais vítimas não é o
suficiente para evitar traumas. Um programa deve ser executado
de forma a influenciar a postura da sociedade e, mais importante,
a mudar comportamentos. A expectativa é de que toda mudança de
CAPÍTULO 2 Prevenção de Trauma 23
comportamento seja em longo prazo. Essa tarefa é monumental, mas
não é insuperável.
Oportunidades para Intervenção
As estratégias de prevenção podem ser organizadas de acordo
com o seu efeito sobre o tipo de trauma. Elas coincidem com as
fases temporais da Matriz de Haddon. Intervenções no pré-evento,
conhecidas como intervenções primárias, visam evitar que o trauma
ocorra. As ações destinadas a manter os motoristas alcoolizados longe
das estradas, reduzir os limites de velocidade e instalar semáforos,
são projetadas para evitar que colisões ocorram. Intervenções na
fase do evento visam reduzir a gravidade do trauma ao suavizar os
choques que ocorrerem. Usar cintos de segurança, instalar painéis
almofadados e air bags em veículos, e aplicar leis para uso do
assento de segurança infantil são meios de reduzir a gravidade dos
traumas sofridos em colisões. Intervenções no pós-evento oferecem
um meio de aumentar a probabilidade de sobrevivência dos feridos.
Incentivar a boa forma fisica, projetar sistemas de combustível para
veículos que não explodam no momento do impacto e implementar
sistemas de serviços de emergência médica de alta qualidade visam
reduzir o tempo de recuperação dos feridos.
Os sistemas pré-hospitalares limitam tradicionalmente, o
contato com a comunidade na fase pós-evento. Como resultado,
inúmeras vidas foram salvas. No entanto, por causa das limitações
em função da espera até que o trauma tenha ocorrido, melhores
resultados ainda não foram alcançados. Sistemas de emergência
médica devem tentar entrar ainda mais cedo no ciclo da lesão.
Usando a Matriz de Haddon, sistemas de serviços de emergência
médica podem identificar oportunidades de colaboração com outras
organizações de saúde pública e de segurança pública, para evitar
que traumas ocorram ou para suavizar o seu impacto.
Estratégias Potenciais
Nenhuma estratégia isolada é a melhor abordagem para a prevenção
de trauma. A opção ou as opções mais eficazes dependem do tipo
de lesão era questão. No entanto, Haddon desenvolveu uma lista
de 10 estratégias genéricas projetadas para quebrar em vários
pontos a cadeia de eventos que produzem traumas (Figura 2 -8).
Essas estratégias representam estratégia para que a liberação de
energia descontrolada possa ser evitada ou pelo menos reduzida a
patamares que o corpo consiga tolerar melhor. A Figura 2-8 também
mostra medidas defensivas que podem ser tomadas nas fases de
pré-evento, evento e pós-evento e que são voltadas ao hospedeiro,
agente ou ambiente. Esta lista não está completa e serve apenas
corno um ponto de partida para ajudar a determinar as opções mais
eficazes para o problema específico em questão.
A maioria das estratégias de prevenção de trauma são ativas ou
passivas. A estratégias passivas exigem pouca ou nenhuma ação
por parte do indivíduo; sistemas de aspersão contra incêndio e air
bags para automóveis são exemplos. Estratégias ativas exigem
a cooperação da pessoa a ser protegida; exemplos incluem cintos
de segurança manuais e a opção por usar um capacete de moto ou
bicicleta. As medidas passivas são geralmente mais eficazes porque
as pessoas não precisam fazer conscientemente nada para serem
beneficiadas pela proteção. No entanto, as estratégias passivas são
geralmente mais difíceis de se implementar, pois podem ser caras ou
exigir ação legislativa ou regulatória. Às vezes, uma combinação de
estratégias ativas e passivas é a melhor opção.
24 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMA, OITAVA EDIÇÃO

Estratégia Possível medida preventiva

Impedir o surgimento Não produzir fogos de artifício, veículos de três rodas com capacidade para diferentes terrenos ou
inicial do perigo. diversos venenos.
Acabar com o spearing no futebol americano do ensino médio.

Reduzir a quantidade Diminuir a potência dos motores dos veículos.

de energia contida na Embalar drogas tóxicas em quantidades menores e mais seguras.
atividade perigosa. Obedecer ou reduzir limites de velocidade.
Delegar ao transporte público a redução do número de veículos na estrada.
Incentivar a redução da temperatura de aquecedores de água residenciais.
Limitar a velocidade de armas de fogo.
Limitar a quantidade de pólvora nos fogos de artificio.
Evitar a liberação de um Guardar armas de fogo em recipientes trancados ou usar travas de armas.
perigo que já existe. Fechar piscinas e praias quando não houver salva-vidas de plantão.
Incentivar a utilização de superfícies antiderrapantes em banheiros e chuveiros.
Usar travas recipients para todos os medicamentos e produtos químicos perigosos de uso
doméstico, para evitar acidentes pediátricos.
Limitar o uso de telefone celular em veículos, ou usar viva-voz sem as mãos.
Exigir escudos de proteção em equipamentos giratórios de uso no campo.
Melhorar a condução do veículo.

Modificar a frequência ou Obrigar o uso de cinto de segurança e assento de segurança infantil.

distribuição espacial do Fornecer freios ABS.
perigo. Incentivar o uso de travas curtas em chuteiras de futebol, de modo que os pés girem em vez de
transmitir uma força súbita para os joelhos.
Exigir air bags nos veículos.
Providenciar amortecedores hidráulicos em veículos.
Providenciar redes de segurança para proteger trabalhadores contra quedas.
Incentivar o uso de roupas antichamas.

Separar, no tempo ou Instalar passarelas para pedestres em cruzamentos com alto volume de trânsito.
no espaço, o perigo Manter os acostamentos livres de postes e árvores.
daquilo que deve ser Não deixar áreas de lazer perto de regiões com água sem vigilância
protegido. Construir ciclovias.
Pulverizar pesticidas somente quando pessoas não estiverem presentes.
Construir calçadas.
Limitar o acesso de caminhões transportando material perigoso por vias de pouco trânsito.
Incentivar a utilização de detectores de fumaça em casa.

Separar o perigo daquilo Instalar cercas ao redor e em todos os lados da piscina.

que deve ser protegido Incentivar o uso de óculos de proteção para esportes e riscos de trabalho.
por um material de Construir muretas centrais entre pistas de mãos diferentes.
barreira. Construir escudos de proteção em torno de máquinas perigosas.
Instalar grades de proteção entre calçadas e ruas.
Instalar painéis de reforço nas portas dos veículos.
Exigir que a equipe de emergência médica coloque as agulhas utilizadas diretamente em um
recipiente de descarte apropriado.
Obrigar o uso de capacetes para motociclistas, ciclistas e atividades esportivas de alto risco.

Modificar a natureza Instalar air bags em veículos.

básica do perigo. Providenciar colunas de direção articuladas.
Providenciar postes facilmente quebráveis.
Fazer com que as barras nas laterais dos berços não sejam tão próximas para não estrangular o bebê.
Utilizar bases de beisebol facilmente quebráveis.
Retirar tapetes das casas de idosos.

(continua na próxima página)

 CAPITULO 2 Prevenção de Trauma 25

Figura 2-8 ias básicas •_ara medidas preventivas de lesões (continuação)

Estratégia
Tornar aquilo que deve
ser protegido mais
resistente ao perigo.
Possível medida preventiva
Estimular o consumo de cálcio para reduzir osteoporose.
Incentivar o condicionamento musculoesquelético em atletas.
Proibir a venda e o consumo de álcool perto de áreas de lazer com água.
Tratar condições médicas, como epilepsia, para evitar episódios que possam resultar em queimaduras,
afogamentos e quedas.
Verificar os códigos de construção antissísmica em zonas suscetíveis.

Combater os danos já Providenciar atendimento médico de emergência.

causados pelo perigo. Utilizar sistemas que encaminhem feridos para socorristas com formação adequada.
Desenvolver protocolos nas escolas para atender às emergências traumáticas.
Fornecer treinamento em primeiros socorros aos residentes.
Instalar sistemas de aspersão automáticos.
Estabilizar, reparar e Desenvolver planos de reabilitação numa fase precoce do tratamento do trauma.
recuperar o que foi Fazer uso de reabilitação ocupacional para pacientes paraplégicos.
objeto de dano.
* Os exemplos listados são apenas para fins ilustrativos e não necessariamente são as recomendações oficiais do PHTLS, a Associação Nacional dos paramédicos ou do
Comitê de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões.
Em negrito = oportunidades para a equipe de emergência médica fornecer educação e liderança.
1

Implementação de Estratégias 2. Ensinar sobre certos tipos e causas de traumas para

Três abordagens comuns para a implementação de estratégias
de prevenção de lesões ficaram conhecidas como os três "Es" da
prevenção de trauma — Educação, Execução e Engenharia. Cada um
dos elementos é descrito a seguir:
Educação
Estratégias educativas visam transmitir informações. O público-alvo
pode ser indivíduos envolvidos em atividades de alto risco, pessoas
públicas que têm a autoridade para promulgar nova legislação ou
regulação de prevenção e socorristas em treinamento para que se
tornem participantes ativos na prevenção de trauma.
Educação já foi o principal meio de implementar programas
de prevenção, porque a sociedade acreditava que a maioria dos
traumas eram simplesmente resultado de erro humano. Embora
esta sup osição seja verda de até certo ponto, muitas pessoas
não conseguiram reconhecer o papel que a energia e o ambiente
exercem em causar a lesão. No entanto, a educação é ainda utilizada
muitas vezes e é provavelmente a mais fácil das três estratégias de
se implementar.
A experiência tem demonstrado que as estratégias educacionais
não tiveram êxito incontestável por vários motivos. Para começar, o
público-alvo pode nunca ouvir a mensagem. Caso a mensagem seja
ouvida, alguns podem refutá-la imediatamente ou não endossá-la
o suficiente a ponto de mudar o comportamento. Aqueles que a
endossam podem fazê-lo esporadicamente ou com entusiasmo cada
vez menor ao longo do tempo? No entanto, a educação ainda pode ser
particularmente útil na redução de trauma nas quatro seguintes áreas:
1. Ensinar às crianças pequenas comportamentos de
segurança e habilidades básicas que farão parte de
suas vidas para sempre. Exemplos incluem reagir
adequadamente quando um detector de fluriaça toca um
alarme, ligar para 9-1-1 (190, no Brasil) para obter ajuda em
caso de emergência ou usar o cinto de segurança.
faixas etárias específicas. A educação pode ser a única
estratégia disponível para estes grupos.
3. Alterar a percepção de risco do público e o risco
aceitável para mudar as normas e atitudes sociais.
Esta abordagem já foi usada na relação de ingerir alcool
e dirigir e se aplica agora na relação de usar capacete ao
andar de bicicleta, patinete, skate ou patins.
4. Promover a mudança política e educar os consumidores
a exigir produtos mais seguros."
Utilizada como abordagem isolada para a prevenção de trauma,
programas educacionais tiveram resultados decepcionantes.
Como muitos medicamentos, a educação precisa ser "redosada"
após um período de tempo para que tenha um efeito permanente.
No entanto, quando combinada com outras formas e estratégias
de implementação, a educação pode ser urna ferramenta valiosa.
A educação muitas vezes serve como um ponto de partida para
pavimentar o caminho para estratégias de execução e engenharia.
Execução
A execução visa explorar o poder persuasivo de lei para obrigar
a adesão a estratégias simples mas eficazes de prevenção. Os
dispositivos legais podem tanto exigir quanto proibir, e podem
ser direcionados para o comportamento individual (pessoas), de
produtos (coisas), ou condições ambientais (locais), da seguinte
forma:
■ As exigências legais que se aplicam a pessoas são cintos de
segurança obrigatório, cadeirinha para crianças e as leis
de uso de capacete.
26 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMA, OITAVA EDIÇÃO
 As proibições que se aplicam às pessoas são leis sobre
dirigir alcoolizado, limites de velocidade e leis que
estipulam crimes de trânsito.
 As exigências legais que se aplicam aos produtos incluem
normas de projeto e desempenho, corno os Padrões de
Segurança de Veículos Motorizados.
 As proibições que se aplicam aos produtos incluem
restrições quanto a animais perigosos e tecidos inflamáveis.
 As exigências legais que se aplicam aos lugares incluem a
instalação de placas de sinalização ao longo das estradas e
cercas ao redor de piscinas.
 As proibições que se aplicam a lugares incluem o veto a
estruturas rígidas ao longo de rodovias e a armas de fogo
em terminais de aeroporto.
 As exigências legais que se aplicam a grupos e locais
específicos incluem os requisitos federais que agentes de
segurança pública e de emergência usem roupas de alta
visibilidade em locais de incidentes com tráfego intenso."
A aplicação das leis também é uma medida preventiva ativa,
porque as pessoas devem obedecer à lei para se beneficiarem dela.
O público-alvo pode ser menos propenso a cumpri-la, se acreditar
que a norma viola a liberdade individual, ou se acreditar que tem
pouca chance de ser pego ou que não sofrerá as consequências de
violar a lei.
Corno a sociedade como um todo tende a obedecer às leis ou
pelo menos a ficar dentro de limites próximos a elas, a execução
é, muitas vezes, mais eficaz do que a educação. A execução em
conjunto com a educação parece produzir melhores resultados do
que apenas uma única iniciativa. As leis de capacete para moto
são um interessante estudo de caso do papel da execução na
prevenção de lesões. Nos estados em que as leis do capacete foram
revogadas para motociclistas, a taxa de traumas graves e mortes
aumentaram.26-28
Engenharia
Muitas vezes, os meios mais eficazes de prevenção de trauma
sã o aq uel es em q ue a lib eraçã o de ener gia dest r uti va fica
permanentemente separada do hospedeiro. Medidas preventivas
passivas cumprem esse objetivo com pouca ou nenhuma dificuldade
por parte do indivíduo. Estratégias de engenharia visam estabelecer
uma prevenção de traumas por meio de produtos ou alterações
ambientais p ara que o hospedeiro não tenha que agir de forma diferente
para ser protegido. Estratégias de engenharia ajudam as pessoas que
realmente precisam delas, e é durante o tempo todo. Medidas como
sistemas automáticos de aspersão contra incêndio em edifícios,
cascos flutuantes em barcos e alarmes reservas em ambulância s
comprovaram salvar vidas com p ouco ou nenhum esforç o p or parte do
hospedeiro.
A engenharia parece ser a resposta perfeita para a prevenção
de trauma. É passiva, eficaz e geralmente a menos perturbadora dos
três Es. Infelizmente, geralmente é a mais cara de ser implementada.
Projetar segurança em um produto geralmente o torna mais caro e
pode envolver questões legislativas ou regulatórias. O preço pode
ser maior do que o fabricante está disposto a absorver ou do que o
cliente está disposto a pagar. A sociedade dita o quanto de segurança
ela quer inclusa em um produto e o quanto está disposta a apoiar
este esforço financeiramente.
Iniciativas de educação devem anteceder as estratégias de
execução e engenharia. Em última análise, as medidas preventivas
mais eficazes podem ser aquelas que incorporam todas as três
estratégias de implementação.
Abordagem em Saúde Pública
Muito se aprendeu s obre trauma e prevenção de traumas. Infelizmente,
existe urna grande discrepância entre o que se sabe sobre trauma e o
que está sendo feito sobre ele." O trauma é um problema complexo
em todas as sociedades do mundo. Infelizmente, uma única pessoa
ou agente isolado, por si só, geralmente apresenta pouco impacto. A
abordagem em saúde pública alcançou sucesso em lidar com outras
doenças e está evoluindo na prevenção do trauma também. Órgãos
de serviços de emergência médica que uniram forças com outras
organizações públicas e privadas são capazes de obter resultados
sememlhantes ou maiores do que seriam capazes por conta própria.
Parcerias unem conhecimentos de uma comunidade para resolver
uma questão complexa e intrigante.
A abordagem em saúde pública cria uma união na base
comunitária para combater uma doença comunitária através de um
processo de quatro etapas, conforme segue:
1. Vigilância
2. Identificação de fator es de ri sco
3. A va l i a ç ã o da i nt er ve n ç ã o
4. Implementação
A união é formada por especialistas de diversas áreas, como
epidemiologia, a comunidade médica, escolas de saúde pública, as
agências de saúde pública, programas de defesa da comunidade,
economia, sociologia e justiça criminal. Sistemas de emergência
médica ocupam um lugar importante em uma abordagem em saúde
pública para a prevenção de trauma. Participar de uma união para
melhorar a segurança do parque infantil pode não ter o efeito
imediato da prestação de atendimento na cena de uma colisão
automobilística de grande porte, mas os resultados serão muito mais
difundidos.
Vigilância
Vigilância é o processo de coleta de dados dentro de uma
comunidade. A coleta de dados em base populacional ajuda na
descoberta da verdadeira magnitude de um tipo de trauma e o efeito
sobre a comunidade. Uma comunidade pode ser um ba irro, urna
cidade, um município, um estado, ou até mesmo o próprio serviço de
ambulância. Apoio para o programa, alocação adequada de recursos
e mesmo saber quem incluir na equipe interdisciplinar depende de
compreender a dimensão do problema.
Fontes de informação disponíveis dentro de uma comunidade
incluem:
 D a do s d e mor t a l i da d e
 Estatísticas de internação e alta hospitalar
 Prontuários médicos
 R e g i s t r os d e t r a u ma s
 R e l a t ó r i os p ol i c i a i s
a Roteiros de emergência médica
 R e l a t ó r i os d e s e g ur os

■ Dados de vigilância exclusivos coletados apenas para o
estudo em questão
Identificação de fatores de risco
Após um problema ser identificado e pesquisado, é necessário
sab er q uem est á em risc o para or i enta r uma estra té gia de
pr evenç ã o pa ra a p op ul açã o c er ta. Ab or da gens q ue "a tiram
pra todos os lados" quanto à prevenção de trauma são menos
bem-sucedidos do que os direcionados. A identificação das causas
e fatores de risco determina quem sofre o trauma; quais tipos
de lesões ocorrem; e onde, quando e por que elas ocorrem. 29 Às
vezes, um fator de risco é óbvio, corno o consumo de álcool em
colisões automobilísticas fatais. Em outras ocasiões, é necessário
investigação para descobrir os verdadeiros fatores de risco
envolvidos em alguns traumas. Sistemas de emergência médica
podem servir como os "olhos e ouvidos" da saúde pública no local
dos traumas para identificar fatores de risco que ninguém seria
capaz de descobrir. Os fatores de risco podem, então, ser mapeados
em urna Matriz de Haddon à medida que forem corretamente
identificados.
Avaliação da Intervenção
À medida que os fatores de risco tornam-se claros, as estratégias
de intervenção começam a surgir. A lista de Haddon com 10
estratégias de prevenção de trauma serve como um ponto de
partida (ver Figura 2-8). Mesmo que as comunidades tenham
características diferentes, uma iniciativa de prevenção de trauma
em urna comunidade, com adaptações, pode funcionar em outra.
Urna vez que unia possível intervenção tenha sido selecionada, um
programa-piloto usando um ou mais dos três Es pode dar indicações
do sucesso da implementação em grande escala.
Implementação
O passo final na abordagem em saúde pública é a implementação e a
avaliação da intervenção. Os procedimentos de execução detalhados
são preparados para que outros interessados na implementação de
programas similares tenham um guia para seguir. A coleta de dados
de avaliação mede a efetividade de um programa. Responder às
três perguntas seguintes pode ajudar a identificar o sucesso de um
programa:
1.
2.
As atitudes, habilidades ou julgamento mudaram?
O comportamento mudou?
3. Será que a mudança de comportamento levou a um
resultado favorável? 8
A abordagem em saúde pública é uni meio comprovado
para combater doenças como o trauma. Através de um esforço
comunitário e multidisciplinar, é possível identificar "quem, o quê,
onde, quando e por quê" de um problema relacionado ao trauma
e desenvolver uni plano de ação. Sistemas de emergência médica
precisam desempenhar um papel muito mais substancial para ajudar
a fechar a lacuna entre o que se sabe sobre trauma e o que está sendo
feito a respeito. Esta abordagem pode ser pensada como um ciclo
contínuo. A supervisão contínua ocorre após a implementação
de unia estratégia de controle de trauma. Estes dados são então
utilizados para modificar ou alterar a estratégia. Os sucessos na
CAPÍTULO 2 Prevenção de Trauma 27
prevenção de trauma podem ser estendidos para populações mais
amplas em risco.
O Papel Crescente
dos Serviços de
Emergências Médica
na Prevenção do
Trauma
Tradicional mente, o papel do s ocorrista se concent ra
quase exclusivamente no pós -evento, no tratamento face
a face de uni indivíduo. Pouca ênfase é colocada na compreensão
das causas do trauma ou no que um socorrista poderia fazer para
impedi-los. Corno resultado, os pacientes podem voltar para o mesmo
ambiente e serem novamente vítimas de traumas. Outro aspect é
que informações que poderiam ajudar no desenvolvimento de um
programa de prevenção na comunidade para evitar, antes de mais
nada, que outros sofram traumas podem não ser documentadas e,
portanto, ficam indisponíveis para outros setores da saúde pública.
A abordagem do trauma em saúde pública é mais pró -ativa.
Ela trabalha para determinar corno mudar o hospedeiro, o agente
e o ambiente, para evitar traumas. Por meio de uniões que fazem
a vigilância e implementam intervenções, a saúde pública trabalha
para desenvolver programas de prevenção em toda a comunidade.
A Ernergency Medical Services Agenda for the Future prevê laços
mais estreitos entre os sistemas de serviços de emergência médica
e a saúde pública, o que tomaria ambos os setores de cuidados de
saúde mais eficazes.'
Os socorristas podem assumir um papel mais ativo no
desenvolvimento de programas de prevenção de trauma em toda
a comunidade. Sistemas de emergência médica desfrutam de
urna posição privilegiada na comunidade. Com aproximadamente
840.000 profissionais apenas nos Estados Unidos, socorristas de
atendimento básico e avançado estão amplamente distribuídos
em nível conumitário. Os socorristas desfrutam de uma reputação
de credibilidade na comunidade, tornando-os bons exemplos a
serem seguidos. Além disso, eles são prontamente bem-vindos em
residências e comércios. Todas as fases da abordagem em saúde
pública para a prevenção de trauma são beneficiadas pela presença
dos serviços de emergência médica.
Intervenções individuais
Os sistemas de emergência médica não devem abrir mão de sua
abordagem face a face de atendimento ao paciente para realizar
valiosas intervenções de prevenção de trauma. A abordagem face
a face proporciona aos sistemas de serviços de emergência médica
urna capacidade singular de conduzir iniciativas de prevenção
de trauma. Socorristas podem levar mensagens de prevenção de
trauma diretamente para indivíduos de alto risco. Um indicador
de uni programa educacional bem-sucedido é que a informação
seja recebida com entusiasmo suficiente para que se mude o
comportamento. Socorristas podem usar seu status de modelo
a ser seguido para passar mensagens importantes de prevenção.
Implicitamente, as pessoas observam esses modelos, ouvem o que
eles dizem e imitam o que fazem.
28 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMA, OITAVA EDIÇÃO
O aconselhamento preventivo na cena tira proveito de um
"momento de aprendizado". Um momento de aprendizado é o
momento em que um paciente que não precisa de intervenções
médicas críticas ou que seus familiares estão em um estado clínico
que os torna mais receptivos ao que o profissional que serviria corno
modelo diz. O socorrista pode pensar no tempo gasto em cena como
um desperdício, ao se tornar evidente que as intervenções médicas
eram pouco ou nada necessárias. No entanto, este pode ser o melhor
momento para fazer a prevenção primária. 3°
Nem todos os chamados permitem um aconselhamento
preventivo de trauma. Ocorrências graves e com risco de morte
podem exigir concentração no tratamento do paciente. No entanto,
95% dos chamados de ambulância não envolvem risco de morte.
Uma parcela significativa dos chamados de serviços de emergência
médica precisam de pouco, ou talvez nenhum atendimento. O
aconselhamento preventivo face a face pode ser apropriado durante
estes chamados não críticos.
Interações com o paciente são geralmente encontros rápidos,
especialmente os que exigem pouco ou nenhum tratamento. No
entanto, oferecem tempo suficiente para discutir e demonstrar aos
pacientes e familiares as práticas que podem impedir um trauma
no futuro. O socorrista está em uma posição singular, por ser o
único profissional de saúde que entra no ambiente do paciente,
visualizando, dessa forma, as situações que p o dem pre disp or traumas.
Um profissional-modelo que discute a importância de substituir
uma lâmpada queimada ou de retirar um tapete escorregadio de um
corredor mal iluminado pode impedir uma queda de um idoso. Os
socorristas têm um público atento durante o deslocamento até um
hospital. A prevenção é um assunto mais importante para discutir
do que como está o tempo ou falar sobre o time de futebol local.
Os momentos de aprendizagem levam dois minutos para serem
concluídos e não interferem no tratamento ou transporte.
Programas educativos foram desenvolvidos para treinar os
socorristas para que façam aconselhamento preventivo nas cenas de
trauma. 3 ' Esses tipos de programas devem ser mais desenvolvidos
e avaliados para descobrir quais são os mais valiosos e, portanto,
dignos de inclusão na formação básica de um socorrista.
Intervenções na Comunidade
A abordagem em saúde pública para a prevenção de trauma é
baseada na comunidade e envolve uma equipe multidisciplinar.
Socorristas apresentam o conhecimento e experiência para serem
membros importantes desta equipe. Estratégias de prevenção em
nível comunitário dependem de dados para tratar adequadamente
o "quem, o quê, quando, onde e porquê" de um trauma. Diversas
fontes de informação, conforme descrito anteriormente, fornecem
os dados necessários. Socorristas, talvez mais do que qualquer
outro membro da equipe, possuem a oportunidade de examinar a
interação do paciente com o ambiente no momento do trauma. Isto
pode permitir a identificação de um indivíduo com alto risco, uma
atitude de alto risco ou um comportamento de alto risco, que não
estão mais presentes no momento em que o paciente chega ao PS.
Os socorristas podem utilizar a documentação adquirida no
deslocamento para o centro médico nas seguintes formas:
1. Os dados podem ser util izados imediatamente pel o
pessoal de emergência que recebe o paciente. Médicos e
enfermeiros de emergência também são chamados para
melhorar e aumentar os seus papéis na prevenção de
traumas. Esses "momentos de aprendizado" podem reforçar
e complementar o aconselhamento na cena do socorrista,
se eles já souberem o que foi discutido ou demonstrado.
2. Outros profissionais de saúde pública podem usar dados
sobre trauma fornecidos pelos socorristas de forma
retrospectiva para ajudar a desenvolver um programa de
prevenção de trauma que envolva toda a comunidade.
Os socorristas normalmente não trabalham com documentação
para ajudar a dar apoio a um programa de prevenção que abranja
toda a comunidade. Saber o que coletar e quando documentar
informações benéficas para o desenvolvimento de programas de
prevenção em toda a comunidade exige a abertura de um diálogo
com outros membros da equipe de saúde pública. Líderes do sistema
de serviços de emergência médica precisam se unir com outros
lideres da saúde pública para elaborar políticas que promovam a
documentação completa dos traumas.
A emergência médica pode ser a ponta de lança para programas
de prevenção de trauma eficazes e viáveis que causem uni impacto
profundo em uma comunidade. Programas foram criados a partir
do desejo de um pequeno grupo de profissionais de serviços de
emergência médica para evitar mortes infantis.na' Serviços na
Louisiana, Flórida, Washington, Oregon e Havaí foram reconhecidos
por seus esforços na concepção, coordenação e realização de
programas de prevenção de lesões através do Prêmio Nicholas
Rosecrans, para as melhores práticas em prevenção de trauma em
serviços de emergência médica. 34,3'
Apesar de existirem oportunidades para os socorristas
educarem os pacientes, um estudo realizado pelo Dr. David Jaslow
e seus colegas sugere que apenas uma minoria dos socorristas
utilizam de fato o momento de aprendizado. Eles descobriram que
apenas 33% orientam rotineiramente seus pacientes sobre como
modificar comportamentos de risco de trauma, e apenas 19% dão
rotineiramente instruções sobre o uso correto de dispositivos de
proteção.
Prevenção de Trauma para
Socorristas
"Quem é a pessoa mais importante na cena de um incidente?"
Os estudantes dos serviços de emergência médica são sempre
recebidos com essa pergunta no início do treinamento para fazê-los
pensar sobre sua própria segurança. Invariavelmente, um ou dois
alunos irão dizer "o paciente", que é o que o instrutor quer ouvir. Esta
resposta incorreta proporciona um momento de aprendizado para
que o instrutor comece a orientação ao longo do curso para reforçar
que a prevenção de traumas em serviço é o serviço mais valioso que
um socorrista pode proporcionar.
Ambientes hostis em função de atividade terrorista ou
vazamento de materiais perigosos infelizmente é aquilo que se
noticia frequentemente. No entanto, as atividades do dia a dia dos
socorristas de oferecem risco suficiente para traumas que poderiam
acabar com uma carreira ou com a vida. O Bureau of Labor Statistics
traça um panorama preciso dos perigos "normais" dos serviços de
emergência médica:
Socorristas e paramédicos trabalham tanto em ambientes
internos quanto ao ar livre, em todos os tipos de clima. Eles
são obrigados a se ajoelhar, a flexionar-se e a levantar bastante

peso. Estes trabalhadores estão sob risco de perda auditiva
induzida por barulho de sirenes e de lesão nas costas por
elevação de pacientes. Além disso, socorristas e paramédicos
podem ser expostos a doenças como hepatite B e AIDS, assim
corno violência de vítimas de overdose de drogas ou pacientes
mentalmente instáveis. O trabalho não é só fisicamente
cansativo, mas também mentalmente estressante por envolver
situações de vida e morte e por lidar com pacientes que estão
sofrendo."
Socorristas estão em risco significativo de trauma ou morte
durante o atendimento, manejo e remoção de uni chamado de
emergência médica. Os riscos associados a traumas tanto no local
quanto na ambulância em movimento podem ser minimizados
através de medidas preventivas adequadas, como uso de cintos de
segurança ou de roupas com faixas refletivas.
Socorristas podem se tornar complacentes em relação aos perigos
diários do trabalho. A complacência é uma sensação de segurança ou
confiança diante de um p erigo potencial desconhecido. Os componentes
da situação são o idealismo e a invencibilidade da juventude que são
típicos de alguns socorristasY É necessário uma gestão que crie urna
cultura de prevenção de trauma, ou melhor, uma cultura de segurança,
instituindo políticas de prevenção, mantendo a adesão ao processo e
desempenho positivo gratificante. É preciso que os próprios socorristas
estejam igualmente comprometidos com os princípios da prevenção de
trauma. O insucesso desta iniciativa pela gestão ou pelos socorristas
pode ter efeitos potencialmente devastadores.
Outros fatores a se considerar são o nível de experiência
da equipe e seu grau de cansaço. Os motoristas devem estar
adequadamente preparados e treinados para conduzirem os
veículos com segurança e a equipe de emergência médica deve
ser monitorada para garantir que eles tenham tm - i sono adequado
a segurança durante as operações seja mantida. Em um estudo que
analisou fatores comuns em profissionais de serviços de emergência
médica envolvidos em acidentes de ambulância, a probabilidade
aumentava quando os condutores envolvidos em acidentes com
veículos de emergência fossem as pessoas mais jovens da equipe de
emergência médica, além daqueles relatando problemas de sono. 38
O Dr. Neil Stanley, da Sociedade Britânica do Sono, observou:
"Ninguém deve faze algo importante nos primeiros 15 a 30 minutos
depois de acordar". Isto tem sérias implicações para a emergência
médica, considerando que a equipe deve responder imediatamente,
não importa a que hora da noite, se acordado ou dormindo, e é
esperado que trabalhem "normalmente".
 O trauma é a epidemia atual mais negligenciada. O setor de saúde não foi capaz de diminuir de forma mensurável
a incidência de trauma.
CAPÍTULO 2 Prevenção de Trauma 29
Em um serviço pré-hospitalar, os funcionários não são apenas
o bem mais valioso, mas também o mais dispendioso. O serviço,
a comunidade e, mais importante, o socorrista se beneficiam
quando este permanece ileso. Um programa de prevenção dentro
da própria instituição vale a pena por seus próprios méritos.
Quando realizada por meio de uma abordagem de saúde pública, no
entanto, ele fornece uma experiência valiosa para o envolvimento
em iniciativas de prevenção de trauma na comunidade também. A
comunidade (por exemplo, o serviço de ambulância) é pequena, há
100% de acesso a ela, e a vigilância é mais fácil porque o serviço
de ambulância tem acesso a muitas das fontes de dados que pode
precisar. A identificação dos fatores de risco é mais simples porque
o público-alvo é composto por colegas de trabalho. A obtenção de
informações de avaliação deve ser quase imediata. A coleta de dados
de resultados deve estar prontamente disponível também.
O Dr. Janet ~me e colegas mencionam programas internos
de prevenção que utilizam educação, fiscalização e estratégias
de implementação de engenharia. 20 A grande variabilidade dos
programas demonstra os perigos envolvidos em sistemas de
emergência médica e a necessidade de iniciativas de prevenção.
Demonstra também a variabilidade entre as comunidades de
emergência médica. Mesmo que todos os sistemas de emergência
médica sejam semelhantes, serviços individuais (comunidades) têm
diferentes fatores de risco e diferentes prioridades de prevenção.
Conforme descrito anteriormente, os programas de educação
melhoram o bem-estar, previnem lesões nas costas e aumentam a
percepção potencial de pacientes violentos. Programas de execução
tornam programas de fitriess obrigatórios e estabelecem protocolos
para lidar com pacientes violentos. Iniciativas de engenharia visam
urna utilização cada vez maior do cinto de segurança na parte de
trás da ambulância, avaliando o posicionamento do equipa mento e
a localização do assento. Triagens pré-admissionais e fortalecimento
físico ajudam a reduzir lesões nas costas.
Um programa interno de prevenção de trauma em pequena
escala pode colher recompensas para além do resultado mais
importante da melhora da saúde do funcionário. Pequenos sucessos
lançam as bases para a participação em empreendimentos maiores
e mais complicados. Eles fornecem urna valiosa ferramenta de
aprendizagem durante o trabalho sobre prevenção de trauma para
todos os funcionários. Além disso, programas internos de prevenção
fornecem uma introdução ao sistema de emergência médica para
outras agências de saúde pública na comunidade que auxiliam na
implementação e avaliação internas do programa.
 Socorristas estão em uma posição privilegiada para influenciar as taxas de morb idade e mortalidade de trauma,
por meio de ações preventivas. Existem diversas oportunidades para a equipe de emergência médica promover a
educação e liderança na comunidade.
 O avanço dos sistemas de emergência médica na prevenção de trauma depende da adoç ão desse novo papel por
cada socorrista individualmente.
 Ao se comprometer com os esforços de prevenção de trauma e ao reconhecer os fatores de risco de trauma, os
socorristas podem ajudar a prevenir mortes e casos de invalidez em sua comunidade.
 30 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMA, OITAVA EDIÇÃO

REVISÃO DO CENÁRIO
Você e seu parceiro estão na cena de uma colisão de automóveis e estão trabalhando para retirar rapidamente um paciente pesado do
banco do motorista de seu veículo. Ele não usava cinto de segurança durante a batida. Você e seu parceiro estão ambos usando coletes de
segurança aprovados sobre o seu uniforme de trabalho uma vez que vocês estão perto da estrada. Policiais estão no local para controlar o
tráfego, e a ambulância está estacionada para maximizar a proteção de veículos no sentido contrário. O paciente está devidamente
acomodado e protegido na maca elétrica, utilizada devido ao peso do paciente. A maca elétrica permite que você e seu parceiro levantem o
paciente com segurança até a ambulância, sem colocar o excesso de peso sobre seus corpos.
Uma vez dentro da ambulância, você coloca seu cinto de segurança na cadeira voltada para trás e continua a cuidar do paciente
enquanto seu parceiro opera a sirene e as luzes estroboscópicas intermitentes da ambulância para chamar a atenção dos outros motoristas.
Ele manobra com segurança até a pista e segue para o hospital. A ambulância chega com segurança ao hospital, e você transfere o paciente
para os cuidados da equipe do pronto socorro.
Enquanto preenche a papelada após o chamado, você pensa nas estatísticas de lesões e mortes nacionais gerais dos socorristas de
atendimento pré-hospitalar. Você percebe que, graças à cuidadosa atenção a todos os aspectos da prevenção de lesões que você e seu parceiro
demonstraram, o chamado foi concluído com segurança para todos os envolvidos.

 A prevenção de acidentes é uma abordagem realista para prevenir trauma e mortes em colisões automobilísticas e outras causas de lesão
traumática?
 Existem evidências de que a conformidade com o uso de assentos e cintos de segurança apresentam impacto na prevenção de lesões
e mortes?
 Como socorristas, o que podemos fazer para evitar mortes e lesões causadas por colisões automobilísticas?
.0~~freea,
Você e seu parceiro se mantiveram seguros na cena da colisão automonilística porque vocês se lembraram e seguiram os protocolos de segurança do seu
departamento. Vocês estavam cientes de que as luzes piscantes ou estroboscópicas nem sempre são suficientes para chamar a atenção dos motoristas,

então vocês usaram seus coletes refletivos aprovados para ficarem mais visíveis para os outros motoristas durante a operação no local.
Vocês também se lembraram e seguiram técnicas adequadas de remoção e procedimentos de segurança, e garantiram a segurança de
vocês, usando cinto de segurança na área de tratamento da ambulância.
Além disso, seu departamento recentemente atualizou o desenho do refletivo chevron na parte traseira da ambulância para aumentar a
visibilidade à distância da ambulância. Para melhorar a visibilidade à noite, as luzes vermelhas e brancas no exterior da ambulância foram substituídos
por luzes azuis adicionais. Todas estas medidas se revelam como muito úteis para reduzir problemas de visibilidade no local e garantir a segurança
dos membros da equipe.

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