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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ(A) DE DIREITO DO V JUIZADO ESPECIAL


CÍVEL DA CAPITAL – BOA VISTA - PE

REFERENTE AO PROCESSO Nº 001.2009.900.664-3

MARROM AUTO PEÇAS LTDA, pessoa jurídica de direito


privado, sob o CNPJ nº 35.389.733/001-44, nos autos da ação supra mencionada que lhe
promove LÚCIA MARIA DE CARLI DE PAULA, já qualificada, vem perante V.
Exa. através dos seus advogados legalmente constituído conforme, outorga voluntária
de poderes em anexo, (doc. 01) vem mui respeitosamente à presença de V.Exa., oferecer
sua CONTESTAÇÃO, pelos seguintes motivos de fato e direito que passa a expor e ao
final requerer:

I - SÍNTESE DO PEDIDO

01. Autora propôs a presente demanda alegando que entre os dias 16 e 19 de


novembro de 2007 teria perdido vários cartões de crédito, bem como documentos
pessoais assaltada por pelo menos quatro pessoas armadas, no interior da empresa
Demandada.

02. Alega ainda a Demandante, que os assaltantes roubaram a chave


do seu automóvel levando-o, bem como tudo o que havia dentro do mesmo. Tendo o
referido veículo sido encontrado no mesmo dia, embora sem os seus pertences, quais
sejam: um Laptop, um HD externo e um MP3 player. Em razão do ocorrido a Autora
teria sofrido também abalos de ordem psicológica, ensejando a imputação de dano
moral contra a Ré.

03. Por fim, requerendo a citação da Ré através de seu representante


legal, para que através da presente ação seja compelida a pagar indenização por danos
materiais e morais em valores de R$ 3.738,43 (Três mil setecentos e trinta e oito reais e
quarenta e três centavos).
II - PRELIMINARMENTE

A ILEGITIMIDADE DE PARTE

04. A Ré é parte ilegítima para ser demandado, eis que não é titular
da obrigação de indenizar a que se refere a Autora.

05. Não existe nenhum vínculo obrigacional entre os aqui litigantes


que reste emergida obrigação de qualquer natureza, muito menos no montante declinado
na inicial.

06. Como se observa na próprio causa de pedir a Autora baseia a


narrativa dos fatos em um boletim de ocorrência policial, por ela mesma prestado. Ou
seja, alega estar no interior da empresa demandada no momento do assalto, quando na
realidade, estava no estacionamento da galeria, quando os ladrões a abordaram e
levaram o seu veículo. Não sendo, portanto, a Ré titular da obrigação de indenizar, não
pode a Ré ser acionada, sendo, isto sim, parte ilegítima neste processo.

07. A Ré não tem qualquer obrigação com a segurança pública, logo,


não pode ser responsabilizada por um assalto ocorrido fora das suas dependências.
08. Propondo a ação contra pessoa errada, a Autora deve ser tida
como carecedora da ação, art. 301, X do CPC, por lhe faltar uma das condições da
ação, e o processo, nessas condições, deve ser extinto sem julgamento do mérito, nos
precisos termos do art. 267, VI do CPC. É o que o réu espera, requerendo, outrossim, a
condenação da Autora na litigância de má-fé.

IV - NO MÉRITO

09. Como sobejamente declinado no arrazoado alhures exposto,


revela-se a presente demanda uma verdadeira aventura jurídica desprovia de
embasamento fático e jurídico, posto não haver, fonte ou causa para a suposta
obrigação.

10. Com efeito, não carece de uma maior análise para se constatar
que o pleito inicial reveste-se de um pedido prejudicado pelo mau direcionamento da
ação, posto POLI SENA LTDA-ME não possuir nenhuma obrigação perante a
Demandante, sequer é solidária.

- DA APLICAÇÃO DO FATO DE TERCEIRO

11. Ao observar a causa pretendi vislumbra-se que os verdadeiros


obrigados são os bandidos que a assaltaram, uma vez que o fato não ocorreu nas
dependências da POLI SENA LTDA-ME, mas sim em espaço público, sendo
responsabilidade do Estado a segurança das pessoas que ali trasitavam.
12. È inequivoco o fato de que quem causou o dano a Autora foram
os assaltantes e não a Ré, pois, estes “terceiros”, coagiram a Autora a entregar a chave
do seu veículo, levaram o referido veículo e furtaram os objetos lá existentes. Não há
que se cogitar em qualquer participação da empresa Ré no resultado danoso, uma vez
que a atuação dos assaltantes rompe por completo o nexo jurídico-causal dando causa
ao fato constitutivo da excludente de responsabilidade civil.
- DA INEXISTÊNCIA DA RELAÇÃO DE CONSUMO ENTRE AUTORA E RÉ

13. Por outro lado, inexistiu qualquer relação jurídica entre a Autora e
a empresa Ré, no momento da ação criminosa perpetrada pelos ladrões. O fato de a
Demandante não estar nas dependências físicas da Demandada naquele momento,
comprova que não houve relação de consumo entre ambas, razão pela qual não há que
se buscar esteio nas normas do Código de Defesa do Consumidor.

14. Para a efetiva configuração da chamada relação de consumo é


necessária a presença do consumidor e do fornecedor, o que de fato não ocorreu. A Ré
não prestou qualquer serviço a Autora, esta por sua vez sequer colacionou aos autos
qualquer prova de que tenha se utilizado naquele dia dos serviços da Ré.

15. A Demandante, na peça inicial, baseia toda a sua tese acusatória


no frágil argumento de que existia naquele momento relação de consumo entre as
partes. Carecendo a Autora de provas concretas da existência da referida relação
consumerista, põe abaixo todos os demais argumentos, quais sejam:

• Inversão do ônus da prova – Sendo o fato ocorrido, um assalto fora das


dependências da empresa Ré, é alheio à relação de consumo, portanto não há
que se falar em inversão do ônus da prova. Uma eventual consideração desse
benefício de caráter processual à Autora, dificultaria de modo devastador a
defesa da Ré, que por sua vez não se trata de instituição bancária, é uma simples
lotérica e não dispõe do poderio econômico de uma instituição bancária,
consequentemente não pode ser considerada parte mais forte numa relação de
consumo inexistente como a do caso em tela.
Como bem demonstrou a Ré em sua inicial, a inversão do ônus da prova
pressupõe:

“dificuldade invencível de realizar a


prova de suas alegações contra o
fornecedor, mormente em se
considerando ser este o controlador dos
meios de produção, com acesso e
disposição sobre os elementos de provas
que interessam à demanda”.(às fls. 6 da peça
inicial)

,no entanto, com a devida vênia, a Ré não considerou adequadamente “os


elementos de provas que interessam a demanda”, ou seja, as provas a serem
apresentadas não dependem de uma eventual ‘hiperssuficiência’ da parte Ré,
não existe na demanda discussão sobre controvérsias na prestação de um serviço
baseado em uma relação de consumo, os elementos e provas que interessam a
demanda, dizem respeito a um fato externo, ocorrido independentemente de
qualquer relação de consumo, a lógica disso tudo é a de que Ré não detém
qualquer informação ou prova sobre a ocorrência de um assalto no
estacionamento da galeria onde existem vária lojas, portanto, não é cabível, por
questões óbvias a inversão do ônus da prova.
Para arremate da questão, a Ré ainda colacionou em sua inicial, doutrina sobre o
tema onde afirma que:
“...o legislador alterou, para as relações
de consumo, a regra processual do
ônus da prova, atento à circunstância de
que o fornecedor está em melhores
condições de realizar a prova de fato
ligado a sua atividade”. (às fls. 6 da peça
inicial), (grifos nossos).

, a própria Ré afirma que para a concessão do benefício do ônus da prova é


necessário que as provas a serem produzidas devem estar ligadas a atividade
exercida pelo fornecedor, ora, no caso em tela o fato analisado nada tem em
comum com a atividade do fornecedor, qual seja, segurança pública, esta é
responsabilidade inegável do Estado, há de se concluir, portanto, pela
desconsideração do benefício da inversão do ônus da prova em prol da
Autora, por carecer de elementos legais para tal.

• A aplicação da teoria da responsabilidade objetiva e da teoria do risco –


uma vez comprovada a fragilidade da relação de consumo, pois, que a Autora
não se utilizou dos serviços da Demandada, bem como sequer entrou nas
dependências da Ré no momento do assalto, consequentemente a aplicação da
teoria da responsabilidade objetiva não surte qualquer efeito. Ademais, a Ré,
solicitamos a devida vênia, ao trazer os dispositivos do CDC, mais uma vez,
deixa de interpretá-los de modo contextual, aplicado ao caso prático, detendo-se
somente a expressões isoladas do texto, senão vejamos:
- O art. 12 do CDC, grifado pela Autora somente em sua primeira parte, deixa de
analisar que a responsabilidade pela reparação de danos causados aos
consumidores, acontecerão e razão de
“defeitos decorrentes de projeto,
fabricação, construção, montagem,
fórmulas, manipulação, apresentação ou
acondicionamento de seus produtos,
bem como por informações insuficientes
ou inadequadas sobre sua utilização e
riscos”.

, isso só vem a fortalecer a preliminar de ilegitimidade de parte, pois, a segunda


parte do dispositivo legal elenca responsabilidades sobre obrigações totalmente
divergentes da atividade exercida pela Ré. O mesmo ocorre quando a Autora
ainda se utiliza do art. 14 CDC, ocorrendo no mesmo erro de interpretação, uma
vez que não houve por parte da Ré qualquer defeito relativo à prestação de
serviços, como já observado, sequer houve prestação de serviço a Autora.
Quanto a teoria do risco, esta é totalmente descabível á pessoa jurídica da Ré por
não se tratar de instituição bancária, trabalhando com numerários de pequena
monta, quando comparados com o volume de negócios realizados em uma
institição bancária. A própria Ré sequer discorreu sobre a retrocitada teoria,
restando o mesmo como argumento vazio para dificultar ainda mais a defesa da
Ré.

• Quanto as alegadas infrações ao CDC pela Ré – novamente a Autora


insiste na existência de uma alegada relação de consumo entre as partes, não
houve má prestação de serviço, conforme alegado, uma vez que não houve
prestação de serviço algum. Por questão de bom senso, pode-se até aventar a
hipótese de que a Autora estivesse com a intenção de utilizar os serviços da Ré,
pois, já os utilizou em outras ocasiões, no entanto, quando a caminho da loja da
Ré, ainda no estacionamento, ocorreu o fato criminoso que a vitimou, é fato
notório que no momento do assalto a Autora encontrava-se no estacionamento
da galeria, ou seja, fora da loja da Ré. A alegação de que a demandante
encontrava-se dentro da empresa Ré no momento do assalto, chega ás raias da
má-fé, ensejando a devida condenação, por parte deste R. Juízo.

• Da falta de segurança – quanto à falta de segurança, a Autora não pode


imputar a Ré a responsabilidade de patrulhar as vias públicas próximas a sua
sede, uma vez que este é um dever do Estado, como já dito anteriormente,
ademais, a Lei nº 7.102/83, no seu art. 1º, §1º, define normas para os chamados
estabelecimentos financeiros que são os seguintes:

Art. 1º,§1º - Os estabelecimentos


financeiros referidos neste artigo
compreendem bancos oficiais ou
privados, caixas econômicas, sociedades
de crédito, associações de poupanças,
suas agências, postos de atendimento,
subagências e seções, assim como as
cooperativas singulares de crédito e
suas respectivas dependências.

Como se percebe, não está na lista de estabelecimentos financeiros alcançados


pela referida lei, as lotéricas, como é o caso da Ré. Os estabelecimentos que se
encontram sob a égide da supracitada lei, devem obter, conforme o art. 1º, caput,
parecer favorável elaborado pelo Ministério da Justiça, o que não é o caso da
Demandada, logo, devem ser considerados os argumentos da Autora baseados na Lei nº
7.102/83, uma vez que não são aplicáveis à Ré. Se assim o fosse, as características e
equipamentos de segurança elencados pela lei, e relacionados exaustivamente pela
Autora deveriam ser encontrados em todas as lotéricas do Brasil e não somente a Ré.
Foi omitida pela a Autora a existência de alguma lotérica com as referidas
características exigidas pela lei, aos estabelecimentos financeiros acima declinados.

-DA INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL CAUSADO PELA RÉ

16. A Autora alega ter sofrido danos morais, no entanto, não o


demonstra cabalmente como pressupõe a lei, e a doutrina, conforme ensinamento de
Misael Montenegro Filho, comentando o art. 944 do CC em Ação de Indenização na
Prática, Atlas, São Paulo, - “Cabe ao postulante, portanto, quando redige a inicial,
demonstrar de forma cabal, não apenas que suportou o prejuízo(em qualquer de suas
espécies), mas, sobretudo, que dito prejuízo é de grande porte, a justificar a imposição
de indenização de mesma proporção”. No caso em tela não se pode presumir o dano
moral alegado pela Autora, uma vez que a mesma sequer discorre objetivamente sobre o
eventual dano moral sofrido.

- DOS REQUISITOS DA TEORIA DA RESPONSABILIDADE CIVIL

17. Por respeito a prestação jurisdicional desse R. Juízo, na pessoa de


V. Exª, deve-se considerar questões legais e doutrinárias de forma objetiva para que seja
feita a verdadeira justiça, em confronto ao uso inoportuno da justiça para a obtenção de
vantagens pecuniárias, como se tem presenciado não raramente em várias ações de
indenização pelo país. Como se sabe, a teoria da responsabilidade civil apresenta três
pilares, assim definidos: a) o dano, em qualquer de suas espécies; b) o ato omissivo ou
comissivo do agente; e c) o nexo de causalidade, unindo os dois primeiros elementos.
Analisando os elementos essenciais da teoria da responsabilidade neste caso concreto
temos que:
A Autora refere-se ao dano como a perda de vários objetos, bem como, alega ter sofrido
dano moral em razão do assalto. Quanto ao ato comissivo ou omissivo do agente, a
Autora em sua narrativa não imputa qualquer ato a Ré, no fato causador do dano, qual
seja o assalto. Por fim a Autora omite qualquer informação sobre o nexo de
causalidade ligando o dano ao ato do agente. Como se percebe a Teoria da
Responsabilidade, neste caso, não possui os pilares básicos necessários a sua
sustentação.
A correta interpretação dos fatos junto a tais requisitos resulta na seguinte decorrência
lógica: O roubo foi inequivocamente perpetrado pelos bandidos, alheia a vontade da
Ré e da Autora, tal ato causou danos a Autora. Não houve qualquer participação da
Ré, inexistindotambém qualquer liame jurídico entre a Ré e a Autora.

18. Por fim, não tem amparo legal a pretensão material postulada pela
Autora quando da formulação da presente ação, não apresenta sequer uma prova daquilo
que alega, pois, na realidade, trata-se de litigância de má-fé, onde, usando de
argumentos desprovidos embasamento fático, tenta induzir esse ínclito julgador ao erro,
para enriquecê-la ilicitamente.
V - O PEDIDO

14. Requer a TOTAL IMPROCEDÊNCIA do pedido inicial formulado pela Autora e


que seja a mesma condenada por LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ, nos termos dos arts.
17 e 18 do CPC. Requer desde já a produção de provas documental e testemunhal
inclusive depoimento pessoal do autor, sob pena de confesso.

Nestes termos,
Respeitosamente,
Pede deferimento.

Jaboatão dos Guararapes, 22 de outubro de 2009.

__________________________
Rodolfo Almeida Oliveira
OAB - PE 21.250

RESPONSABILIDADE CIVIL. CARTÃO DE CRÉDITO. EXTRAVIO. SAQUE EFETIVADO POR


TERCEIRO. COMUNICAÇÃO TARDIA À ADMINISTRADORA. COBERTURA DO PREJUÍZO
HAVIDO INEXISTENTE. OBRIGAÇÃO DA CONSUMIDORA. A GUARDA DO CARTÃO DE
CRÉDITO É ÔNUS DEBITADO À CONSUMIDORA, COMPETINDO-LHE VELAR POR SUA
PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO, COIBINDO SUA UTILIZAÇÃO POR TERCEIROS, O QUE
TRANSMUDA-A EM ÚNICA RESPONSÁVEL PELAS OPERAÇÕES EFETUADAS MEDIANTE
SEU USO. EM SE VERIFICANDO O EXTRAVIO OU PERDA DO CARTÃO, A CONSUMIDORA,
ATÉ QUE COMUNIQUE O FATO À ADMINISTRADORA E SOLICITE O SEU BLOQUEIO OU
CANCELAMENTO, É A ÚNICA RESPONSÁVEL PELAS OBRIGAÇÕES DERIVADAS DAS
OPERAÇÕES EFETIVADAS MEDIANTE SEU USO, PRINCIPALMENTE SE CONSUMADAS
MEDIANTE UTILIZAÇÃO DA SUA SENHA PESSOAL. SE A COBERTURA OFERECIDA PELA
ADMINISTRADORA, MEDIANTE O PAGAMENTO DE TARIFA MENSAL, ÀS OBRIGAÇÕES
GERADAS ATRAVÉS DO USO INDEVIDO DO CARTÃO POR TERCEIRO EM CASOS DE
ROUBO, FURTO OU PERDA NÃO ALCANÇA OS SAQUES PROMOVIDOS, SENÃO EM CASO
DE ROUBO, NÃO APROVEITA A CONSUMIDORA QUE PERDERA SEU CARTÃO E, NÃO
TENDO SOLICITADO SEU IMEDIATO BLOQUEIO, PERMITIRA QUE FOSSE REALIZADA UMA
RETIRADA MEDIANTE SUA UTILIZAÇÃO. REJEITADA A PRETENSÃO REFORMATÓRIA,
SUJEITA-SE A RECORRENTE AOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. UNÂNIME.(TJDF - AC nº 20010111076732 - 2ª T - Rel. Des. Teófilo Rodrigues Caetano
Neto - DJU 02.10.2002)

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