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Antropologia Geral

Atividade Formativa

Tema 2 – Teorias e práticas antropológicas

2.1 – Teorias clássicas e debates contemporâneos

Mercier (1986) denomina o período anterior à institucionalização da antropologia no campo


académico como a sua “pré – história”. Nesta fase as preocupações antropológicas com a
descrição do Outro estão já presentes em obras clássicas de várias civilizações.
Na tradição Ocidental os trabalhos de Heródoto, Platão, Aristóteles entre outros, demonstram
a ambivalência etnocêntrica faca a alteridade. Herdamos dos gregos essa designação do Outro
não grego: os “bárbaros”. Os Romanos, posteriormente, a europa medieval, confrontam as
fronteiras do seu mundo como locais de contato e absorção, porosidades marcadas pelo anseio
e temor face ao outro, fenotipicamente diverso, religiosamente diferente, economicamente
ambicionado (Marco Polo) que se pode conquistar ou que nos pode invadir. Há várias formas
de apresentar a progressão da historia das teorias antropológicas. Tradicionalmente são
referidas quatro grandes perspetivas teóricas clássicas, que marcaram de forma indelével a
progressão da teoria em antropologia até aos anos 50 – 60 do seculo XX: o evolucionismo, o
difusionismo, o funcionalismo e o estruturalismo.

2.1.1 - Evolucionismo

A teoria do evolucionismo cultural esteve fortemente presente em meados do século XIX até
o início do século XX, período em que as relações entre colonizadores e colonizados
estruturou o pensamento antropológico da época. O conhecimento das sociabilidades e grupos
colonizados, de suas crenças, práticas e estilos de vida tornou-se crucial para o êxito de
explorações praticadas por colonizadores em terras estranhas a estes, ou seja , as relações de
poder sobre o “outro” permearam a disciplina desde seu limiar. O evolucionismo na
perspetiva antropológica compreende quatro grandes linhas de pensamento: o evolucionismo
unilinear, o evolucionismo multilinear, evolucionismo universal e o neodarwinismo. Os
autores que suportam o evolucionismo unilinear consideram que a cultura se desenvolve de
uma forma uniforme e progressiva. Nesta aceção, todas as sociedades passariam por um
conjunto de estádios, de desenvolvimento cultural até atingirem a civilização, o mais elevado
grau de cultura (sendo a sociedade Ocidental considerava a mais proeminente). Os principais
temas trabalhados pelos autores evolucionistas foram a família, o contrato social e as questões
de religião, no qual o totemismo assumiu particular relevância. Entre autores que tentaram
apresentar um esquema evolutivo destacam-se :

Henry James Maine (1822 – 1888): analisou a evolução do Estado desde a organização
baseada no parentesco até as estruturas complexas, defendendo que a família patriarcal era a
forma original e universal da vida social.

John Ferguson McLennan (1827 – 1881): advogava a ideia de que o sistema de


descendência matrilinear precedia o sistema de descendia patrilinear.

Lewis Henry Morgan (1818 – 1881): Systems of Consanguinity and Affinity (1871) trabalho
devotado as classificações do parentesco, Morgan aprofunda o campo de estudo comparativo
dos sistemas de parentesco. Nele introduz o conceito de terminologias classificatórias e
descritivas. No sistema classificatório um mesmo termo é empregue para designar um
conjunto variado de parentes, enquanto no sistema descritivo um determinado termo é
específico de uma relação. Ancient Society (1877), o seu livro mais famoso, que delineou a
evolução da sociedade desde o seu princípio até a sua época (a sociedade Vitoriana,
considerada o ponto mais alto da civilização). A proposta comtemplava a divisão do
desenvolvimento cultural da humanidade em três fases: baixa, média e alta. Ele desenvolve
igualmente, na sequência de seu trabalho anterior, os conceitos de parentesco, usando a
terminologia classificatória e a descritiva.

Edward Burnett Tylor (1832 – 1917): seu trabalho mais conhecido foi Primitive Culture
(1871), onde apresenta ideais essenciais que marcaram a teoria evolucionista. O autor, que se
consagrou sobretudo ao estudo da religião, defendeu a ideia de que era possível reconstruir os
estádios da evolução humana através da análise das “sobrevivências”. Tudo que existia na
sociedade contemporânea que não tivesse uma função era uma “sobrevivência” de um período
anterior. Um segundo aspeto da sua teoria, relacionado com a religião, propunha a origem
desta no animismo, que terá evoluído para o politeísmo e finalmente o monoteísmo.

James Frazer (1854 – 1941): Estudou a religião, postulando três etapas na evolução de toas
as sociedades: magia, religião e ciência.

2.1.2 - Difusionismo

A ideia do difusionismo é de particular importância, uma vez que permitiu demonstrar as


semelhanças na produção de diferentes culturas separadas por uma distância considerável.

Difusionismo inglês: apresenta duas facetas: por um lado os autores da escola heliocêntrica,
hiperdifusionista ou “de Manchester”1 e, por outro lado, os autores como W. H. R. Rivers
(1864 – 1922) da Universidade de Cambridge. No caso dos dois primeiros, a noção de
criatividade humana era rejeitada, caracterizando-se por um dogmatismo baseado na
especulação. Rivers é um autor muito mais respeitado pelos princípios de estudo que
introduziu e pelo facto de ter sido um formador de muitos dos antropólogos ingleses de escola
funcionalista.

Escola Heliocêntrica:

• E.Smith (1871 – 1937) : Influenciado pelas descobertas arqueológicas que na altura


se realizavam no Egito, atribuiu a esta antiga civilização a origem da cultura, dando
como exemplo costumes egípcios como o culto do sol, a mumificação, as pirâmides,
entre outros, que teriam sido levados por esse povo nas suas digressões pelo mundo.
• William J. Perry (1887 – 1949): The children of Sun (1923).
• William Halse Rivers (1864 – 1922): Ocupa um lugar à parte no difusionismo inglês
e o seu trabalho vai ser mais profícuo no campo da antropologia. “The Todas”, 1906:
investigador eclético, escreve em 1906, um livro que vários aspetos, antecede o
desenvolvimento da moderna antropologia social inglesa.

Difusionismo Alemão- Austríaco

Os autores mais conhecidos desta escola são:

1Não confundir com a Escola de Manchester, designação relativa ao trabalho desenvolvido já no século XX com
o antropólogo Max Glukman.
Friedrich Ratzel (1877 – 1904): fundador da Antropologia geográfica, desenvolveu o
método histórico – cultural. Desenvolvimento da cultura efetuava-se através das migrações e
das conquistas de povos mais fracos por povos mais fortes e culturalmente avançados.

Leo Frobernius, Willi Foy (1873 – 1929) : As ideias de Ratzel, nomeadamente as noções
incipientes e “áreas culturais” vão ser desenvolvidas por Frobernius que trabalha a ideia de
círculos culturais, áreas culturais que se espalham pelo globo e que se sobrepõem a outras
anteriores. Frobernius fica conhecido pela sua preocupação com a educação e a alma de uma
cultura (que esta na base da sua configuração). Africanista; é a divisão que faz entre a visão
do mundo Etiópica e a visão hamítica; cultivo, patriliniaridade, culto aos antepassados, culto
da terra, etc.

Fritz Grabner (1877 – 1934): Ásia Urkultur (centro de cultura) e daí se difundindo através
de migrações para o resto do mundo.

Pe. Wilhelm Schmidt (1868 – 1954): defende a cultura moderna, o resultado de uma série de
esquemas originais que apresentam três fases:

a) primitivas ou arcaicas – representadas pelos pigmeus, esquimós e aborígenes


australianos;
b) primeiras – com os coletores e nómadas pastoris;
c) secundárias – com os agricultores.

Historicismo

Ramo do Difusionismo

Com mentores: Franz Boas (1858 – 1942), Clark Wissler (1870 – 1947) & Alfred L. Kroeber
(1876 – 1960).

Trata- se de uma reação ao evolucionismo baseado na crítica das suposições históricas


especulativas. Os autores defendiam que o inquérito histórico ser limitado a uma cultura
particular (ou área cultural) e que a história dessa cultura devia ser reconstruída com base em
factos tangíveis (incluindo aqui os linguísticos, arqueológicos e etnográficos – esta é uma
abordagem holísticas, característica da perspetiva de Boas, que se refletia igualmente no
trabalho de terreno, usualmente um empreendimento de equipa. A vida é comandada pelo
hábito e costume (e não a razão de Taylor). Toda vez que cada cultura é única há uma enfase
no relativismo, pelo que é impossível proceder os julgamentos de valores de outras pois eles
só podem ser compreendidos no contexto cultural que ocorrem.

Boas promoveu a cultorologia, o argumento segundo o qual a cultura teria uma vida própria,
desprovido de sentido a interação humana, bem como de evitar as generalizações teóricas.
Wisller formulou o conceito de padrão de cultura: a cultura distribui-se por padrões resultado
do agrupamento de traços e complexos que formam uma organização maior, de configurações
distintas.
Kroeber, primeiro aluno de Boas doutorado em Antropologia, vai aprofundar a temática dos
traços culturais de forma a definir uma área cultural.
Ralph Linton com seu livro “The Study of Man: Na Introduction” de 1936, tomando como
ponto de partida a experiência do cidadão comum.

Configuracionismo: a relação entre cultura e a personalidade


Escola de pensamento que ficou conhecida também como culturalismo americano.
Orientação teórica que emerge da insatisfação de vários de discípulos de Boas com o
particularismo histórico. Sua característica principal reside no facto de, dando continuidade à
abordagem holística de culturas particulares, destacar a integração e singularidade do todo
tendo por base a relação psicológica da cultura com a personalidade dos membros dessa
cultura.
Sigmund Freud (1856- 1939): defende que certos processos psicológicos eram respostas
inatas e universais. Totem and Taboo – Some Points of Agreement Between the Mental Lives
of Savages and Neurotics (1913). As suas ideias eram evolucionistas, nomeadamente a noção
de que os adultos nas sociedades primitivas eram iguais às crianças nas sociedades
desenvolvidas.
Entre outros autores mais importantes desta corrente contam-se:

Ruth Benedict (1887 – 1948): Padrão de cultura (1934). O crisântemo e a Espada (1946).
Na esteira relativista, considerava que não havia culturas superiores ou inferiores, mas apenas
diferentes estilos de vida determinados culturalmente.
Margaret Mead (1891 – 1981): Comming of Age in Samoa (1928) - Confrontou as ideias
prevalecentes sobre os adolescentes, nomeadamente sobre a liberdade sexual que
caracterizava as relações entre jovens antes do casamento, sem stress emocional, pelo que não
haveria rebeldia adolescente, resultando que esta não seria devido a fatores biológicos da
puberdade. Groninga Up in New Guinea (1930) e Sex and Temperament in Three Primitive
Societies (1935). Aluna de Ruth Benedict, vai trabalhar o tema da influência da cultura na
personalidade e no desenvolvimento social humano.

Abram Kardiner (1891 – 1981), psicanalista em colaboração com os antropólogos Cora du


Bois (1903 – 1991), Edward Sapir (1884 - 1939) e Ralph Linton (1893-1953).
Kardiner propôs a ideia de estrutura de personalidade básica, um conjunto de traços
fundamentais da personalidade partilhados pelos membros normais de uma sociedade.
Cora Du Bois propôs o conceito de personalidade modal, o tipo de personalidade que era
estatisticamente mais comum na sociedade. Fez o trabalho de campo com os alorenses,
naturais da Ilha de Alor, de que resultou o seu livro “The people of Alor” (1944). Segundo o
autor na há solidariedade emocional na família, o desenvolvimento do ego e a consciência
social do adulto são muito fracos. A relação dos homens com as mulheres são uma projeção
das suas infâncias, assim como as instituições bélicas e religiosas: desorganizadas, irregulares
e vingativas as primeiras, relutantes face às segundas – dos antepassados irascíveis e
vingativos para com os seus descendentes a quem exigem comida.

A escola sociológica – uma intrusão para falar da irmã da antropologia

No final do século XIX não havia distinção clara entre antropologia e sociologia. Deste modo
alguns autores deste período são considerados como “pais” de ambas as disciplinas e as suas
ideias fortificaram tanto uma como outra. Autores que se destacam:

Émile Durkheim (1858 – 1917): autor fundamental na formação de conceitos básicos da


sociologia e antropologia (no caso da França é considerado o fundador). Sua abordagem do
estudo da sociedade é precursora da abordagem funcionalista, analisando o contributo das
instituições sociais e crenças para a coesão social (um aspeto determinante para Bronislaw
Malinowski e A.R. Radcliffe – Brow). Positivista, considerava que a sociedade humana segue
leis, tais como as leis, tais como as leis da natureza e da física, e que através do estudo
empírico essas leis poderiam ser descobertas. Para Durkheim a consciência coletiva era uma
entidade psicológica, com uma existência superorgânica, pois embora estivesse presente em
cada membro da sociedade deviam-se estudar os factos sociais, as regras sociais e de
comportamento que existem antes do individuo entrar na sociedade e que permanecem após a
sua morte.

2.1.4 – Funcionalismo (estruturo – funcionalismo)

Nos finais do século XIX a antropologia na Inglaterra desenvolve-se com a expedição ao


Estreito de Torres, liderada por Alfred Haddon (1855-1940) e constituída por uma equipa
pluridisciplinar que inclui William Rivers (1864- 1940) e Charles Seligman (1973 – 1940)
entre outros. O seu objetivo principal consistiu em estudar as características materiais, sociais,
psicológicas e fisiológicas dos povos mais do que em determinar o curso da sua evolução
social. Característica principal dos evolucionistas.
O funcionalismo em antropologia é associado a duas escolas de pensamento: o funcionalismo
de Bronislaw Malinowski (1884 – 1942) e o funcionalismo estrutural de Alfred R. Radcliffe-
Brown (1881 – 1955). Para os funcionalistas estruturais o propósito era compreender como as
instituições mantinham o equilíbrio e coesão da sociedade (influencia de Durkheim). A escola
de Manchester, associada com Max Glukman (1911- 1975), descende da sua influência. O
funcionalismo psicológico enfatizava o facto de as instituições culturais terem por função
resolver as necessidades físicas e psicológicas das pessoas em sociedade.

2.1.5 - Estruturalismo

O estruturalismo, enquanto campo de teorização antropológico, é associado sobretudo a


Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009). No entanto, esta imagem, na perspetiva temporal não é
correta. O estruturo-funcionalismo de Radcliffe-Brown, herdeiro da escola sociológica
francesa e Durkheim em particular, é concomitante, embora a abordagem seja diferente.
Viveiros de Castro (1996 a) nos lembra que "Lévi-Strauss insiste que o estruturalismo não é
um método para a análise de sociedades globais". Sem discordar, e sem pretender aqui uma
análise da epistemologia estruturalista, permito-me sugerir haver, ao menos em Tristes
trópicos, uma proposição metodológica, segundo a qual o conhecimento do outro inicia-se
pela recusa de nossa própria sociedade e "nos distancia de nós mesmos" (Lévi-Strauss, 1955:
353). O próprio Lévi-Strauss fala em um "segundo passo", que consistiria em, "sem conservar
nada de qualquer sociedade, usar todas elas para um entendimento dos princípios da vida
social" (Lévi-Strauss, 1955: 353). Isto nos permitiria reconciliarmo-nos com nossa sociedade,
"a única em relação a qual estamos na posição de mudar sem o risco de destruí-la, porque as
mudanças que introduzimos vem de dentro dela mesma" (ibidem).
Outros cientistas, por sua vez, parecem ainda confiantes na ideia de uma evolução unilinear
do gênero humano. Lévi-Strauss (1976:61) menciona o fato de economistas e sociólogos
terem sido muitas vezes mais bem recebidos do que os antropólogos "em certos países da
África e da Ásia", e isso exatamente por representarem a civilização ocidental. Muitos nativos
prefeririam a condição de "provisoriamente atrasados" do que a de "permanentemente
diferentes" (ibidem), temendo que a ênfase numa "diversidade desejável" fosse fazer passar
como "aceitável (...) o que lhes parece uma insuportável desigualdade" (Lévi-Strauss, 1962:
24).
O estruturalismo de Lévi-Strauss vai influenciar em França um conjunto de autores, mesmo
que por reação, como é o caso do estruturalismo marxista (que será falado mais a frente com o
autor Maurice Godelier) e Louis Dumont (que, todavia, nunca abandona as realidades
empíricas, nomeadamente a Índia). No campo anglo-saxónico Rodney Needham em Oxford e
Edmund Leach em Cambridge). Victor Turner e Mary Douglas.
2.1.6 - Sinopse de “neo” abordagens e “pós- perspetivas”: reinvenção, críticas e reações

As quatros escolas identificadas foram estruturantes do pensamento antropológico. A


redescoberta das ideias evolucionistas, agora matizadas por analises sustentadas, são
observáveis nos denominados neo-evolucionistas.
• Anos 40 e 50 do século XX – o evolucionismo ressurge e o método comparativo, como
princípio de pesquisas, ganha novos adeptos.
• Renascimento nos E.U.A – Julien Steward (1902 – 1972) e Leslie White (1900 – 1975).
Desenvolvem uma abordagem técnico – ambiental à mudança cultural inspirada no
pensamento de Karl Marx. Steward elaborou uma abordagem ecológica enfatizando a
forma como cada cultura se adapta às circunstâncias ambientais, ideia que ficou conhecida
como evolucionismo multilinear. White, numa perspetiva unilinear, concebeu uma teoria
geral da evolução da cultura baseada no controlo de energia.

O neofuncionalismo

Roy Rappaport (1926- 1996) – representa uma tendência mais ecológica, pelo que o seu
trabalho também é inserido na denominada ecologia cultural. O antropólogo defende que
as leis da biologia ecológica podem aplicar-se ao estudo das populações humanas.

Marvin Harris (1927-2001) – um dos autores mais profícuos da Antropologia. Um de


seus primeiros estudos de terreno foi em Moçambique, na altura colónia portuguesa.
Marvin Harris seria expulso de Moçambique pelas autoridades portuguesas. E foi essa
experiência que o levou a valorizar a perspetiva materialista, nomeadamente o facto de o
controlo sobre os sistemas de produção ser essencial para compreender a cultura. The Rise
of Anthropological Theory (1968), Cows Pigs, Wars and Wiches (1974) e Cannibals and
Kings : The Origins of Culture (1977).

Outra neo-corrente é o neomarxismo que é, na origem, eminentemente europeia, e


sobretudo de ascendência francesa.

Anos 60

Maurice Godelier (1925 -) – Definido como estruturalista marxista. Trabalho de campo


com os Baruya da Nova Guiné: La production des Grands Hommes (1982). A perspetiva
do autor que incorpora a análise marxista no seu trabalho, é de que, ao contrário da ideia
defendida da teoria clássica marxista e pelos neo-evolucionistas, a superestrutura é
fundamental. Privilegiava as relações de produção (as relações sociais) sobre a ecnologia e
atividades individuais.

Claude Meillassoux (1925 – 2005) - Autor essencial. Não partilhava totalmente da


admiração estruturalista de Godelier, era aliás crítico do estruturalismo pelo facto de este
não analisar a questão da exploração e das causas materiais da transformação dos sistemas
de parentesco.

Anos 70

As ideias de Darwin são retomadas pela sociobiologia. Esta não é uma abordagem
exclusiva da antropologia, mas biológica. Trata-se de uma explicação do comportamento
humano com base na teoria evolucionista de Darwin, razão porque também que é
denominada neodarwinista. Esta corrente diz que os diferentes sucessos reprodutivos
moldam a evolução do comportamento de todos os organismos, incluindo o humano.
A sociobiologia é influenciada pelos estudos de comportamento animal que se difundiram
nos anos 50 e 60 com investigadores, como Konrad Lorenz. O autor divulgado desta
corrente é Edward O. Wilson (1929 -) com a publicação em 1975: Sociobiology: The
New Syntesis e de Richard Dawkins (1941 -) com The Selfish Gene de 1976.

Pós- estruturalismo

Como refere Barnard (2004) o pós-estruturalismo ocupa uma posição ambígua na


antropologia. Por um lado, é uma crítica do estruturalismo, feita por estruturalistas (nem
todos antropólogos), por outro apresenta um conjunto de propostas que visam explicitar a
ação social, o papel do poder e a desconstrução do autor como um criador de discursos.
Os filósofos hermenêuticos:

Jacques Derrida (1930 – 2004) - sobretudo reconhecido pela sua abordagem


desconstrutivista. Defende que todas as culturas constroem mundos de significados
estanques e que a descrição etnográfica distorce a visão nativa através da imposição das
formas de conceptualização do mundo observador, assim, o significado nunca pode ser
traduzido.

Michel Foucault (1926 – 1984) – trabalhou a ideologia, nomeadamente no seu discurso de


poder. As relações sociais entre os povos são assinaladas pela dominação e subjugação. Os
povos ou classes dominantes controlam as condições ideológicas em que a verdade e a
realidade são definidas.

Antropologia Feminina (Antropologia feminista)

Jacques Lacan (1901 – 1981) – psicanalista chama a atenção para a linguagem na


definição de identidade e a complexidade da identidade sexual. Althusser através de uma
perspetiva marxista e estruturalista procura reler os textos marxistas e aprofundar a sua
aplicabilidade à antropologia. Para ele o discurso e poder sustentam a reprodução através
de gerações dos modos de produção (e o seu controlo). De certa forma a antropologia não
escapou dessa problemática, dando primazia a um discurso e imagem predominante
masculino, apesar de, como analisamos, ter havido mulheres a praticarem a antropologia.

Dina Lévi-Strauss, a primeira mulher de Lévi-Strauss, teve seu trabalho como


desconhecido. No entanto como refere Mariza Corrêa, o papel de Dina foi essencial no
desenvolvimento da antropologia brasileira, nomeadamente através de sua obra Instruções
praticas para pesquisas de antropologia física e cultural (Corrêa, 2003).

Anos 70

A antropologia feminista concentrava-se em documentar a vida e o papel das mulheres em


todo o mundo – postura assimétrica – isto é, a subordinação mundial da mulher – e
procuravam explicar esta questão de várias perspetivas teóricas.

Anos 80

Começou a afastar-se da temática da assimetria entre géneros e passou a explicação de das


diferenças do estatuto, papel e poder da mulher com base em abordagens materialistas e a
especificidade da identidade da mulher.
As teorias femininas colocaram as noções antropológicas em causa; levaram a disciplina a
enfatizar a multivocalidade, dando uma variedade de pontos de vista à escrita etnográfica
e enfatizando a experimentação com formas não convencionais de escrita antropológica,
como a poesia e ficção, reclamando que todas as formas de saber são subjetivas,
promovendo uma maior enfase na auto-etnografia – autobiográfica.

No entanto no pós-modernismo, o pensamento que não se confine no campo


antropológico, ele emerge do estudo da literatura e arte, e vem colocar em causa o
princípio da objetividade e da ciência em antropologia: de forma sucinta os pós-
modernistas afirmam que a antropologia não é uma ciência social.
Em antropologia as perspetivas hermenêuticas e desconstrutivista (herança de Derrida e
Foucault) levaram alguns antropólogos a questionar a sua prática, nomeadamente sobre a
forma como o trabalho d campo é efetuado (questões de legitimidade e validade das vozes
em presença), nas técnicas literárias para escrever monografias e a validade das
interpretações de um autor sobre outras análises. O pós-modernismo é uma critica do
modernismo, a rejeição da possibilidade de grandes teorias e da ideia da completude da
descrição etnográfica, enfatizando a reflexibilidade. De certa forma a abordagem é o
resultado do relativismo e do interpretativismo (o relativismo pode ser traçado a Boas, o
interpretativismo aos autores do simbolismo antropológico e a Geertz, considerado por
muitos como um dos primeiros pós-modernistas). Uma das controvérsias dos pós-
modernistas com outros autores prende-se com o facto de no extremo o proselitismo
desconstrutivista levar ao niilismo e assim, se todas as vozes devem ser ouvidas, como
articular as vozes daqueles que são oprimidos com aqueles que oprimem, como defender
os direitos humanos e ao mesmo tempo desconstruir a noção da humanidade? Não será o
pós-modernismo o reflexo do modernismo, no meu melhor e no pior? Não criará as
condições para legitimar o discurso daqueles que mais oprimem? 2

Bibliografia

Garza Usabiaga, D. (2011). Anthropology as Science, Anthropology as Politics: The Lessons


of Franz Boas in Wolfgang Paalen’s Amerindian Number of DYN / Antropología como
ciencia, antropología como política: las lecciones de Franz Boas en el Amerindian Number de
DYN de Wolfgang Paalen. Anales Del Instituto de Investigaciones Estéticas, (98), 175.

Lanna, M. (1999). Sobre a comunicação entre diferentes antropologias. Revista de


Antropologia, (1–2), 239. https://doi.org/10.1590/S0034-77011999000100013

Sousa, L. 2018/2019. Textos de Antropologia Geral. Lisboa: Universidade Aberta.

2 Como compreender que Heidegger fosse um apologista dos Nazis durante a II Grande Guerra.

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