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EXPERIMENTOS EM GESTALT TERAPIA

Olá! Sentiram minha falta? Eu senti falta de vocês, mas organizar um


encontro de GT não foi tarefa fácil, embora muito gratificante.

Vamos conversar hoje a respeito dos experimentos em GT.

Para mim esse sempre foi um terreno árido e durante muito tempo nada
familiar (hoje tenho menos expectativas e sigo o fluxo). Eu imagino que
não tenha sido só comigo, e a pergunta é: você sabe conduzir um
experimento em Gestalt terapia?

O terapeuta Gestáltico tem uma ampla gama de intervenções ativas a


sua disposição e pode utilizar estas para aumentar a conscientização de
partes da personalidade ou de sentimentos que estão submersos no
inconsciente de seus clientes.

Estas técnicas devem ser aplicadas dentro de parâmetros éticos, sempre


respeitando o tempo do cliente e a disponibilidade dele em fazê-los. Por
isso vai aqui um alerta importante, mais é menos, ou seja, não vá com
sede ao pote toda vez que sentir-se seguro para aplicar algum
experimento, tão importante quanto sua segurança é não perder o foco
do cliente.

Outro alerta: é necessário primeiro estabelecer um vínculo entre


vocês, sem isso à adesão e confiança do cliente para envolver-se
nos experimentos será prejudicada.

E ainda: considerar o seu preparo para o fechamento de um


experimento; precisamos ser bons em improvisos e estar abertos a eles,
sendo que não existe uma receita de antes, durante e depois destas
vivências, por tratar-se de um fluxo às vezes incontínuo do cliente com
tais vivências.

Vai aqui aquela mesma premissa que eu não canso de escrever: o


terapeuta precisa ter um suporte psicológico (ou seja, ser terapeutizado)
e fazer supervisão de seus atendimentos (independente do tempo de
atuação).

Ferramentas que o GT pode usar nas intervenções

Quando falamos em ferramentas nos referimos à exercícios e


experimentos que aumentam a consciência de partes psíquicas (ou que
evoquem emoções) negadas ou desconhecidas dos clientes, com a
intenção de que isso o ajude a ampliar e a experienciar novas formas de
se expressar (não estamos preocupados em alcançar um resultado,
apenas fazê-lo entrar em contato com essas partes).

Para você ver o mestre Perls atuando veja este vídeo de Perls
atendendo a cliente Glória e esta demonstração de atendimento.

Nestes vídeos vemos experimentos que demonstram o quanto Perls


seguia o fluxo da fala do cliente ao mesmo tempo em que desconstruía
as histórias prontas, trazendo a fala para o aqui e agora e na primeira
pessoa do singular (“eu sou um” “eu penso” “eu estou”… no lugar de
outro objeto ou de outra pessoa).

Quando utilizar um experimento?

 Na minha experiência clínica utilizo um experimento quando percebo


uma alienação de partes importantes das emoções (choro, raiva, alegria,
tristeza);
 Quando quero ampliar a visão de um determinado evento doloroso na
vida desta pessoa;
 Ou ainda promover uma conversa que não pôde ser feita com alguém
importante (estabelecer um dialogo imaginário entre o cliente e essa
pessoa) da qual às vezes teve muitos fragmentos perdidos de dor, de
reconciliação, de raiva, etc;
 Às vezes também peço para que ele observe sua postura ou sinais não
verbais, afim de que ele perceba e me fale o que isso diz a respeito dele;
 Ou também peço que encene um evento futuro no qual a pessoa se
sente ameaçada ou incapaz de vivenciá-la ou realizá-la.

Os exemplos que serão citados foram utilizados por mim em


experimentos reais de situações singulares de cada cliente.
Ou seja, é importante salientar que são experimentos adaptado a cada
cliente de forma individual e usado em tempo hábil, dentro de um
contexto que ofereça segurança e suporte.

Existem infinitas possibilidades de se trabalhar com isso… Vamos ver


algumas?

Experimentos na prática

Uso de afirmações e perguntas para focar no que está acontecendo


naquele momento.

Podemos perguntar: “O que você está pensando agora?”;“Quando


falamos sobre este tema o que você sente?”; “Veja se combina dizer…”
depois de algo que ele me contou em que apareceu algo sobre si
mesmo. Exemplo: “Eu sou exigente, eu sou chato com as pessoas. Etc.”.

Pedir para que o cliente diga: “Quando eu não sei o que fazer eu faço
isso ou aquilo”, depois também que ele me conta algo de seu
comportamento. Exemplo: “Quando eu não sei o que fazer ou o que dizer
eu me torno estúpido com as pessoas.”; “Quando eu não dou conta de
algo eu responsabilizo o outro.” Etc. “Eu estou consciente que eu não
dou conta disso ou daquilo”… “que eu não quero mais” “que eu estou
sofrendo”, “que é difícil assumir isso”, etc…

Expressões Verbais

A consciência pode ser ampliada, por meio da linguagem verbal,


entendendo que os padrões de fala de todas as pessoas são
considerados a forma de expressar seus sentimentos, pensamentos e
atitudes.

Podemos pedir para que o cliente altere um pergunta para uma


declaração direta. Exemplo: “Será que eu gosto dele?” Experimente dizer
“eu gosto dele”. Pedimos isso para que ele comece a assumir
responsabilidades por aquilo que ele quer que o “outro” responda. Ou
podemos pedir para que mude termos como “talvez” ou “eu acho” a fim
de mudar declarações ambivalentes e fracas por declarações mais claras
e diretas.

Expressões não verbais

Podemos melhorar a consciência do cliente por meio da linguagem do


seu próprio corpo, que pode variar desde técnicas de respiração, até
movimentos corporais. Eu costumo pedir para intensificar movimentos
corporais (posso pedir para relaxar uma parte do corpo e depois
tencionar).

Exemplo: “percebi que ao falar de tal situação você franziu o cenho, você
pode intensificar esta ação?”. Ou seja, exercícios que possam ajudá-lo a
expandir sua consciência corporal.

Auto diálogo

Na minha experiência clínica eu acredito que praticamente todo adulto


tem uma criança ferida dentro de si (proponho que conheçam a obra de
Alice Miller – O drama da criança bem dotada). Com este experimento
proponho que o cliente entre em contato com essa criança, para
enxergá-la e promover o diálogo entre ela e agora o seu adulto pode ser
muito curativo.

Não só o diálogo com a criança, posso também promover uma conversa


com outras partes alienadas do cliente (posso utilizar a técnica da
cadeira vazia fazendo com que ele converse com suas partes). Exemplo:
Sua parte que quer fazer tal coisa com a parte que o censura.

Dramatização

A intenção aqui é aumentar a consciência de seus sentimentos ou de


alguma parte da existência do cliente, por meio da dramatização. Pode-
se pedir para que ele exagere um sentimento, pensamento ou
movimento. Às vezes peço para que ele fale como ou represente tal
pessoa que o deixa nervoso, etc.

Fantasia Guiada
Eu costumo utilizar as técnicas da hipnose de Milton Erickson. O livro
“Sapos em Príncipes”, de Richard Bandler e John Grinder, também me
ajudou bastante. Eu inicio pedindo para que o cliente feche seus olhos e
vou guiando seus pensamentos a um local específico, uma cena, etc, e
aos poucos vou incentivando-o a entrar dentro dela.

Vou explorando os sentimentos e a elaboração que o próprio cliente faz


(peço para que de olhos fechados ele me diga o que está vendo, onde
ele está, ou até onde ele conseguiu ir, o que está sentindo, etc).

Outros livros importantes para que você se solte neste experimento e


tenha um vasto caminho de possibilidades de fantasias guiadas são:
“Descobrindo crianças”, de Violet Oaklander, “Torna-se presente:
Experimentos em Gestalt Terapia”, de Jonh O. Stevens. E, praticamente
todas as obras em GT você pode encontrar neste link.

Trabalhando com sonhos

Trazemos o sonho ou um pedaço dele, para o aqui e agora, pedimos


para que o cliente narre à cena no presente e na primeira pessoa. É
necessário escutar primeiro o sonho com todos os seus detalhes.
Sabemos que cada parte dele representa os lados contraditórios e
inconscientes do cliente.

O diálogo entre estas partes o leva a uma consciência progressiva de


seus sentimentos e temas importantes de sua vida.

Existem vários livros que abordam os trabalhos com sonhos, ou seja, não
faltará bibliografia para você avançar neste tema. Existe um livro que
trata exclusivamente dele: “Gestalt e sonhos”, de Alberto Pereira Lima
filho. Alguns teóricos da GT chegam a afirmar que se você não recorda
seus sonhos não tem como ser atendido por um GT, de tão importante
que são para eles trabalhar com esta temática.

É isso por hoje, espero que de alguma forma eu tenha ajudado a ampliar
as vastas possibilidades de experimentos em GT. Não tenha
compromisso com o sucesso, tenha compromisso com seu cliente. Até
hoje (que eu saiba) ninguém morreu (nem cliente, nem terapeuta) ao
propor e realizar um experimento em GT.
E já vou avisando, no começo nunca achamos que fizemos o melhor
ou que a experiência foi boa suficiente, é normal isso acontecer,
minha dica é só aprendemos fazendo.

Algumas das minhas únicas considerações estão no começo deste texto.

Agora é com vocês… Depois me digam como foi!

Um grande Abraço!

AUTOR
SIMONE DREHER
simonedreher@yahoo.com.br

Psicóloga, Mestra em educação com 21 anos de atuação em clínica e


desenvolvimento de pessoas. Palestrante e Professora. Idealizadora da
fanpage: Mulher de potencial. Duas formações em Gestalt terapia e
neste canal ela vai contar o que aprendeu e como a Gestalt transformou
sua atuação no consultório e o seu jeito de ver e viver a vida.

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