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As recriações históricas em Terra de Santa Maria

Roberto Carlos Pinto dos Reis*

Resumo
O Turismo Cultural não assenta exclusivamente na procura de eventos ou experiencias culturais. Antes circunscrever-se-á numa espécie
de geometria triangular, a qual envolve, para além dos aspectos culturais patrimoniais, a fruição de valores patrimoniais culturais, assim como
um mosaico de actividades ligadas à prática do turismo.
Tal multidimensionalidade reflecte uma ligação mais estreita do que nunca entre o turismo dito cultural, ou seja, o turismo ligado aos
objectos patrimoniais e o turismo dito de eventos, isto é o turismo ligado às recriações históricas.
Este artigo terá como objectivo discutir e aprofundar o conceito de Recriações Históricas, tendo por base a bibliografia, e a reflexão sobre
a habitual tendência de revalorização dos principais locais de recriação sobre a temática medieval e respectivas zonas envolventes, como
reforço da atractividade dos destinos turísticos.
Tendo como pano de fundo as recriações enquanto viagem em busca exclusiva do passado, registam-se dificuldades em identificar
características verdadeiramente diferenciadoras entre recriação histórica, re-enactement e living history, considerando que todos eles têm
como objectivo a recriação do passado.
Quer o turista, quer o participante são atraídos pelo autêntico e pelo tradicional.
Ambos visitam os diversos lugares numa tentativa de satisfazer desejos nostálgicos como forma de consolidar e de ligar à terra um
património cultural secular.
Ambos se fixam numa espécie de alienação romântica, embora conscientes de que o real e o natural são culturalmente construídos. O que
diferencia um e outro são as suas motivações mais profundas.
Por sua vez, a comercialização dos destinos de Recriação Histórica leva os responsáveis dos destinos a valorizar o seu património e a
potenciá-lo com ofertas culturais diversificadas nos espaços envolventes, que extravasam as tradicionais festividades e eventos de recriação
histórica.
Neste sentido, procurar-se-á desenvolver ao longo deste trabalho uma reflexão sobre a realidade actual do produto Turismo de Eventos
/ Recriações Históricas, tendo como foco central o patrimonial, cultural e suportado por três componentes estruturais, designadamente
património, cultural e turística. Esta nova abordagem obriga a uma reflexão mais aprofundada de qual deve ser o posicionamento deste produto
turístico, que parece deter um poder de atracão singular para a competitividade dos destinos turísticos.

*Técnico Superior de História da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.


Historiador. Investigador CEGOT - Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento
do Território - Unidade de Investigação e Desenvolvimento das Universidades de
Coimbra, Porto e Minho. DEA em Turismo, Lazer e Cultura Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra. Doutorando Turismo, Lazer e Cultura Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra. Professor Convidado Universidad Rey Juan Carlos –
Madrid.
roberto.reis34@gmail.com
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Viagem Medieval em Terra de
Santa Maria. Foto Arquivo Viagem
Medieval em Terra de Santa Maria

As Recriações Históricas

As recriações históricas têm conhecido uma grande Histórica” fazem comummente “Living History”, enquanto,
expansão nos últimos anos em Portugal, pelo que se os que recriando apenas um preciso evento histórico, fazem
justifica o debate sobre este fenómeno - quer para melhor aquilo que designamos de “Re-enactment”.
conhecimento intrínseco, quer para divulgação dos
Na perspectiva de Mabel Villagra Romero no seu trabalho
instrumentos a si associados.
Actualidad del Asociacionismo Recreacionista en Europa: el
Neste contexto temos que considerar os seguintes caso italiano, para se poder definir como sendo de Recriação
conceitos dentro da “Recriação Histórica”, a “Living Histórica um grupo, uma associação ou uma pessoa a título
History” que é é a redescoberta do passado em todas individual devem de respeitar os seguintes requisitos:
suas modalidades (civil, tecnológica, científica, artística ou
militar) e numa perspectiva mais ampla, e o conceito “Re- a) reconstruir rigorosamente através dos mais diversos
enactment” que significa a recriação de um determinado aspectos (vida quotidiana, eventos bélicos, religiosos ou civis,
evento histórico sobre o qual colocam em cena os factos e os música, artes de rua, etc.) um período histórico bem definido,
seus desenvolvimentos; nomeadamente os eventos bélicos representando o melhor possível e segundo estudos, textos,
(batalha de Hasting ou a de Aljubarrota), entre outras. documentos da época e investigação arqueológica.

Está claro que, por norma, todos os grupos, associações O que deve de suceder é declarar de modo evidente e
ou simplesmente pessoas empenhadas na “Recriação explícito o período histórico recriado, para por exemplo
84
produzirem adequadamente os seus trajes (civis ou militares), Os responsáveis e representantes eleitos de um povo,
o equipamento e alfaias”. e de um povo com História, ao levarem a cabo iniciativas
culturais para as mais variadas e distintas franjas da nossa
Ao nível do associativismo, muitos destes grupos
sociedade, têm por certo consciência das necessidades
constituem-se local ou regionalmente como associações
primeiras daqueles a quem servem”1.
histórico-culturais, associações desportivo-culturais (“grupos
históricos”), associações histórico-religiosas. Noutros casos, Alexandre Cabrita no mesmo encontro na apresentação
numa situação parecida com a Espanha, temos as Câmaras A Recriação Histórica como factor de desenvolvimento local
Municipais e as entidades locais que se encarregam de sublinhou igualmente que “devemos de aproveitar esta
organizar este tipo de eventos coordenar as associações e “modalidade” cultural, que poderá ter várias valências - na
outros participantes. área turística ou da cidadania - de uma forma sustentável,
nos tempos que correm pode ser importante para ajudar ao
Na perspectiva da mesma autora, podemos então definir
desenvolvimento ou ao “não esquecimento” de certas áreas
as seguintes categorias para os grupos de recriação histórica:
geográficas, ricas em história e património mas sem grande
Grupos locais (ranchos folclóricos) a que se associam grupos
factor produtivo.
culturais dedicados à recriação de eventos de carácter
histórico, religioso ou desportivo (como por exemplo jogos Ao mesmo tempo, compreender a necessidade
de petanca); Grupos históricos de combatentes que na sua do envolvimento da comunidade local, através da
grande maioria integram também praticantes de esgrima consciencialização da importância da sua história e de ao
medieval (numa faceta mais desportiva). torná-la Viva dar corpo a um produto de qualidade, para todos
benéficos, pode ser outro instrumento de desenvolvimento
Também encontramos casos de pessoas que movidas
de vários sectores de uma região.
pela sua paixão pela história decidem integrar-se, aprender
estas técnicas e simultaneamente estabelecer laços Todavia é fundamental distinguir o “principal” do
amizades no seio de um grupo; Grupos de recriação histórica “acessório”, a “ qualidade” do “disfarce”, a “dimensão
enquadrados no “re-enactement” ou na “living history”. Aqui adequada” à “falsa dimensão” são alguns pontos de partida
já estamos a um nível de uma recriação mais científica, muita para quem pretenda planear algo dentro deste contexto.
das vezes assessorados por arqueólogos e professores
Por último, as recriações históricas devem ser encaradas
universitários. Integram os chamados “re-ennactors”, ou
como projectos globais, sempre a médio-longo prazo,
“recriadores”. Dedicam-se à “reconstrução histórica”, quer
independentemente da sua dimensão e contexto de
na forma de vestir, viver e reproduzir fielmente a partir de
realização presentes, pautando sempre pela qualidade
vestígios arqueológicos ou de outro tipo de fontes.
minimamente exigível2.
Como é referido no Relatório do 1.º O 1º Encontro sobre
Recriação Histórica, Cultura, Turismo e Cidadania que Recriação histórica: Antes e Depois de 1978
decorreu no Monte do Alto da Courela da Chaminé, em
Vendas Novas, em 28 de Novembro de 2008, na comunicação As Recriaçãos Históricas podem ser simplesmente
de Catarina Loureiro sob o tema Animação versus Recriação definida como “um papel desempenhado, no qual os
- Incompatibilidade ou Parceria? “Numa época em que as participantes tentam recriar alguns aspectos de um evento
Autarquias se apresentam cada vez mais sensibilizadas, histórico ou período. Pode ser um período estritamente
quer para a divulgação do seu património turístico-cultural,
quer para memória colectiva da região, urge colocar algumas
questões: a imagem dos Municípios, o seu potencial turístico
1
http://www.passadovivo.com/contactos/Relatorio_1_Encontro_281108.pdf (falta a
e respectivo desenvolvimento económico. data de visualização)
2
Idem
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definido, tais como uma guerra específica ou outro evento, capacidades de combate perante o rei Carlos I, e em 1645,
ou pode ter uma definição mais ampla”3. durante a Guerra Civil Inglesa, as tropas parlamentares
escolheram Blackheath para recriarem uma das suas vitórias
Segundo esta definição, a reconstituição pode ser de
recentes, apesar de ainda estarem em guerra”.
qualquer época ou de qualquer acontecimento histórico,
incluindo guerras, que é, sem dúvida, a forma mais conhecida Em 1821, o duque de Buckingham chegou a encenar
de recriação. batalhas navais napoleónicas num lago da sua propriedade.
Em 1840, o jovem Lord Glasgow, governador da Nova
Antes de 1978, a forma mais popular de reconstituição
Zelândia (1892-1897), organizou um torneio medieval em
histórica foi a Guerra Civil Americana, que se impôs no
Kelburn Castle, na Escócia, onde todos os participantes
início dos anos 60, aquando das comemorações do seu
tiveram que estar trajados à época.
centenário. No entanto, esta não foi a primeira reconstituição
histórica que aconteceu. Jenny Thompson, autor do livro War Este episódio poderia ser visto como um precursor de
Games: Inside the World of 20th Century War Reenactors, uma moderna Feira Medieval ou do Renascimento, outra
identificou outras formas de reconstituição que nos levam forma de história ao vivo e de reconstituição histórica.
até ao período do Império Romano4. Em Fevereiro de 1895, cerca de cem membros do grupo
O conceito Re-enactment (recriação ou reconstituição) Gloucestershire Engineer Volunteers recriou a famosa
é tão antigo quanto a própria civilização, no entender de batalha da defesa de Rorkes Drift em Natal. Setenta e cinco
Howard Giles5, que é considerado pelos britânicos como elementos estavam vestidos de “Zulus”, enquanto os outros
um dos maiores especialistas em eventos históricos. Este vinte e cinco estavam trajados como “redcoats” (armada
autor considera que “as lutas de gladiadores organizadas britânica).
em Roma, nas quais se lutava até à morte, pelas vitórias no No entanto, estes tipos de eventos/batalhas não se
Coliseu”, podem ser consideradas reconstituições históricas limitaram às ilhas britânicas. Em 1876, os sobreviventes do
primárias, pois um dos principais objectivos da reconstituição Custer’s Last Stand at Little Big Horn foram encorajados a
é a oferta de uma exibição pública, designada de “história regressar ao campo de batalha e recriar os acontecimentos
viva”. da batalha para os fotógrafos. Durante o século 19 e início do
A História ao Vivo ou Living History, por sua vez, pode ser século 20, membros de diferentes organizações começaram
definida como “uma actividade que incorpora ferramentas a homenagear os pais e os avós que foram soldados e
históricas, actividades e trajes numa apresentação morreram na Guerra Civil Americana.
interactiva, fazendo com que os visitantes e os participantes
tenham uma sensação de recuar no tempo.” Living History – História ao Vivo em Portugal

No século 17 as batalhas de Mock tornaram-se bastante


A “História ao Vivo” (Living History), começou a dar os
populares. Estas consistiam nas recriações de batalhas em
seus primeiros passos em Portugal, a partir da década de
pequena escala para o público em geral ou para a Corte.
80 do século vinte, depois de ser implementado com grande
Em 1635, o grupo London Trained Bands mostrou as suas
sucesso em Inglaterra graças à acção do Departamento
«The Historic Buildings and Monuments Comission for
3
http://en.wikipedia. org/wiki/Historical_reenactment. Acesso em 8 de Julho de
2009
England» em 1979, que promoveu dois programas para as
4
BERENS, Daniel J.; WWII Reenactment in west-central Wisconsin: context of history escolas de Suffolk: o projecto de reconstituição de Havening
and memory from the last world war Eau Claire, Wiscosin MAY 2008. http://minds.
wisconsin.edu/bitstream/handle/1793/28790/BerensSpring08.pdf?sequence=2.
Hall, mansão do século XVIII, da época georgiana (bem
Acesso em 10 de Julho de 2009 conservada), no interior de SuffolK, onde uma multidão de
5
GILES, Howard; Recreating the Past for Live Events, TV, and Film: A Brief History of
Reenactment. http://www.eventplan.co.uk/history_of_reenactment.htm. Acesso em
criados serve o proprietário e a sua família; seguindo-se-lhe
10 de Julho de 2009 o projecto do Castelo de Oxford (quase em ruínas), situado
86
no litoral do mesmo condado, que em 1173 tem à sua volta se efectivamente fosse a sua própria história, também isso é
um enxame de artesãos que o vai «construir». Recriação Histórica7.
Os projectos de Living History, orientados por Patrick E assim desejosos de um regresso ao passado, às etapas
Redsell, tiveram impacto também no Brasil, tendo sido que marcaram a humanidade, os apaixonados da história
esta técnica posta à prova em Massangana – «Um dia no ao vivo encontram-se, produzem os seus próprios trajes e
engenho». sapatos, dormem em tendas sobre fardos de palha, comem
Em Portugal, a Associação Portuguesa de Museologia alimentos cozinhados com estranhos procedimentos,
- APOM, conhecedora destes projectos de Living History, animam acampamentos, praças e cidades.
e apoiada pelo Instituto Britânico em Portugal, convidou
os técnicos ingleses Patrik Redsell (dramaturgo), Stephen O despertar das feiras medievais
Wolfendem (fotógrafo) e Michael Corbishey (pedagogo), e
ainda a conservadora brasileira Lurdes Horta Barreto para As recriações históricas em Portugal, nomeadamente
participarem no Colóquio APOM de 1986, que teve lugar em as feiras medievais, registaram nos últimos anos um
Faro6. “extraordinário crescimento”, que trouxe “óbvias vantagens”
para quem trabalha na área, mas que tem redundado
O estudo, a investigação, o aprofundamento, a
também numa maior falta de rigor histórico.
experimentação prática e a aprendizagem de antigas
técnicas são em suma as palavras de referência de quem
deseja aproximar-se da “Recriação Histórica”.

Fazer “história ao vivo” significa dar rosto, forma, realismo


e uma alma a aos personagens cuja vida quotidiana se tenta
recriar; o que só é possível graças a uma séria e documentada
acção de reconstrução que deve, obrigatoriamente, levar
em conta em primeiro lugar a autenticidade: autenticidade
do vestuário em cada caso, autenticidade na preparação de
ambientes e situações que se tentam mostrar ao público,
autenticidade em ressuscitar o espírito de uma época já
passada.

Vestir, actuar, sentir e chegar inclusivamente, se não a


pensar, pelo menos a identificar-se com um mercador do
Ano 1000, um cavaleiro de 1200, uma camponesa do século
XIV, uma mulher nobre do Renascimento, um soldado da
Primeira Guerra Mundial, um partisan da Segunda Guerra
Mundial: todos eles, em conjunto são uma “Recriação
Histórica”.

Dar-se um nome, construir em torno daquele nome um


Arquivo Federação das Colectividades de Cultura e Recreio
personagem com uma história bem definida vivendo-a como de Santa Maria da Feira

6
SOLÉ, Maria Glória Parra Santos, “A técnica de história ao vivo - a realização de
uma feira medieval no Lindoso” (Didácticas e Metodologias de Ensino) Instituto
7
ROMERO, Mabel Villagra. Actualidad del Asociacionismo Recreacionista en
de Estudos da Criança- Universidade do Minho. Comunicação apresentada no Europa: el caso italiano.
IV Encontro Nacional de Didácticas e Metodologias da Educação – “Percursos e 2 º Encuentro de Grupos de Recreación Histórica Medieval de Aragón, Alcañiz
Desafios”, Évora, 26-28 set. 2001. (Teruel). 2006
87
Foto Albino Santos, jornal Correio da Feira

Neste sentido deixamos as seguintes questões para as Calcula-se que em 2010 se tenham realizado em Portugal
quais, procuraremos respostas. mais de 120 Feiras Medievais e Quinhentistas de média ou
grande dimensão, e pelo menos outras tantas recriações de
Quando uma Câmara, uma Junta de Freguesia, uma
outras épocas históricas.
Empresa Municipal organiza um evento com fundamento
e contexto histórico, para além de procurar, com toda
a legitimidade, arrastar multidões e obter rentabilidade
económica, passar testemunhos de vitalidade e de
intervenção, poderá satisfazer-se apenas com a festa
propriamente dita?

Não será por demais redutor o contentamento proveniente


de um convívio, numa espécie de hiato no quotidiano, de
fácil estímulo, com os “comes e bebes” à mistura com sons
e cheiros, e na maior parte das vezes uma feira de “artes
e ofícios de época” - tudo ao serviço de um imaginário de
outros tempos?
Feira Medieval de Silves, Foto Carlos Rocha
88
Mercado Medieval de Óbidos. Arquivo Câmara Municipal de Óbidos Dias Medievais Castro Marim. Arquivo Câmara Municipal de Castro
Marim
Algumas estão firmemente implantadas, e são já ex-líbris Para obtermos uma informação mais completa sobre o
locais. A Feira Medieval de Coimbra (com uma peculiar caso de Santa Maria da Feira, procuramos aferir sobre as
ligação a grupos amadores, associada ao melhor rigor possibilidades de aproveitamento deste evento cultural de
histórico que encontramos em Portugal), a Viagem Medieval Santa Maria da Feira para a construção de novos roteiros
de Santa Maria da Feira (enraizada nas colectividades locais turísticos temáticos, a fim de incrementar a actividade
e que se destaca pela sua dimensão, sendo considerada a turística na cidade. Neste sentido, foram elaboradas
maior que se realiza em Portugal), os Dias Medievais de entrevistas abertas a visitantes (384), a participantes (278) e
Castro Marim, a Feira Medieval de Silves cada vez mais a residentes 383), com a relação da dimensão da população
vocacionada para a recriação da época moura, e o Mercado com a amostra (tabela a 95 %) e o erro aceite em desvio-
Medieval de Óbidos. padrão é de 0, 1).
A estes exemplos acrescentem-se outras recriações e Pela análise dos primeiros elementos, quanto à opinião
de outras épocas. Todavia, tomamos como “case sudy”, o dos residentes, dos visitantes e dos participantes a respeito
evento que se realiza em Santa Maria da Feira, a Viagem do evento, devemos assinalar que se alterou radicalmente
Medieval em Terras de Santa Maria. em comparação ao que aconteceu na primeira edição. O
rotundo sucesso económico ano e o orgulho que a recriação
Recriações Históricas medieval gerou, favoreceram enormemente o crescimento
– O Caso de Santa Maria da Feira da opinião positiva.

O evento Viagem Medieval em Terra de Santa Maria que Os dados recolhidos referentes à opinião dos inquiridos
se organiza em Santa Maria da Feira é um extraordinário sobre os impactos económicos, sociais, culturais e
exemplo de projecto de rentabilização dos recursos ambientais, dizem-nos que em relação aos impactos
patrimoniais através daquilo que Jesús Pena Castro positivos e, considerando o somatório das opiniões positivas
designa no seu trabalho El negocio de la historia en la Feria verifica-se que a maioria dos respondentes concorda que
Medieval de Noia, “como sendo o mercado da história, das o evento atrai mais investimento, promove o comércio e
suas narrativas e dos espaços, bem como os níveis de indústria locais, aumenta os meios recreativos e de lazer,
autenticidade vividos e apreciados na recriação.” recupera o artesanato e incentiva a restauração dos
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edifícios históricos. Em menor percentagem, concorda que “A actividade turística em Portugal, apesar de constituir
o evento cria postos de trabalho. Também concordam que um fenómeno relativamente recente enquanto actividade
o evento aumenta a sensibilização e consciencialização económica organizada apresenta uma já considerável
ambiental da comunidade local e concordam que melhora diversificação e segmentação, ainda que continue a assentar
as infra-estruturas públicas. Quanto aos impactos negativos, fortemente no chamado turismo balnear litoral ou turismo de
destacam-se o aumento do congestionamento e do tráfego, sol e mar. Este é, de facto, o sector mais massificado, aquele
o aumento dos preços e o aumento da poluição ambiental. que mais nacionais faz deslocar dentro do país e que maior
número de estrangeiros atrai, sendo, portanto, o sector
Perante os elementos recolhidos, ainda está por alcançar
de mercado turístico de maior significado económico e de
o obcjectivo turístico da estadia, porque durante a Viagem
maior relevância geográfica, quer pela importância de que
Medieval, a grande maioria dos visitantes não pernoita
se reveste na mobilidade da população, quer pelo papel que
na Feira. Rigor histórico e a escassa qualidade cénica de
desempenha na transformação dos espaços e da paisagem,
algumas recriações são elementos a serem melhorados.
quer, ainda, pelos impactes ambientais e sociais que gera”9.
Consideramos que com este estudo, poderá haver
Ao analisarmos a trajectória de Santa Maria da Feira,
claramente uma reflexão sobre as relações que podem
a partir da segunda metade do século XX, percebe-se
ser estabelecidas entre o Turismo, o Património Cultural,
claramente a mudança de uma economia fortemente assente
o Planeamento, a Preservação e Desenvolvimento
na indústria, para actividades económicas do sector terciário
Económico.
que envolve a prestação de serviços, o comércio, o turismo
Destacaremos então a recriação histórica, a requalificação entre outros.
urbana, os seus impactos em termos económicos e a
possibilidade da estruturação de um parque, uma vez que Na década de 90, a Câmara Municipal de Santa Maria da
o Turismo é uma das actividades que actualmente ajuda Feira procurou estimular a atracção de empresas hoteleiras
à obtenção de resultados relevantes no que concerne à de grande dimensão, que foi mais ou menos bem conseguida,
preservação da memória e identidade, ao apresentar aos nomeadamente devido à construção do Europarque.
turistas e/ou visitantes a essência e os significados do Contudo, neste mesmo período, através da aposta num
património local. Plano para o Turismo, abriram-se novas perspectivas para
Mas, se de facto o turismo gera desenvolvimento, trata- o Município. Tal iniciativa teve como objectivo transformar
se, no entanto, de “uma actividade que depende largamente a cidade num destino turístico regional e nacional, e
das conjunturas económicas o que introduz um carácter consequentemente, gerar receitas e postos de trabalho.
de vulnerabilidade que não pode deixar de ser sempre O Município apostou numa série de acções, visando a
considerado. Da circunstância do sector do turismo interferir mobilização da comunidade, dos empresários, bem como das
e depender de outros subsectores, como a construção civil, escolas e particulares, para torná-los actores conscientes do
o comércio, os transportes, leva a que qualquer oscilação seu papel na implantação da actividade turística.
operada se reflicta, de imediato, em importantes sectores da Ainda neste sentido, fruto da acção da Câmara Municipal,
actividade económica. e da Associação Empresarial de Portugal foi construído o
O seu efeito multiplicador pode, assim, funcionar como primeiro centro de congressos do Concelho, o Europarque,
importante acelerador de desenvolvimento mas pode com objectivo de responder às necessidades do Turismo
também permitir que situações de crise se expandam mais de Eventos e de Negócios da cidade e da região. A
rapidamente a outros sectores produtivos”8. finalidade foi incrementar o fluxo de turistas e aumentar as

8
CRAVIDÃO, Fernanda. Turismo e Desenvolvimento - o distrito de Coimbra, 1980- 9
CUNHA, Lúcio. Turismo e desenvolvimento na Raia Central. Cadernos de Geografia,
1987, separata de Arunce, Lousã.1989 14, Coimbra, FLUC, pp. 129-138. 1995
90
oportunidades de empregos directos e indirectos. Um dos O conceito lugar de memória está mais vinculado às
grandes eventos foi a Presidência da União Europeia em análises sobre a preservação e o património. No turismo a
2000. Foram construídos novos hotéis e outros estavam sua melhor integração seria como “concepção que remete
projectados, exigindo mão-de-obra qualificada para que directamente à afectividade, integridade e identidades
possam assegurar ao turista a excelência de atendimento, locais”10.
apesar do abrandamento do investimento motivado pela
Segundo Huyssen, “a emergência da memória é um
crise económica actual.
dos fenómenos culturais e políticos mais característicos
Em 1999, a Câmara Municipal criou a Sociedade de dos fins do século X., devido à transformação que ocorreu
Turismo de Santa Maria da Feira, S.A, uma entidade de na sociedade, nomeadamente a mudança em relação à
capitais mistos que tem como fundamento conciliar interesses percepção do tempo de futuro-presente para passado-
públicos e privados com o objectivo de rentabilizar esforços presente”11.
em prol do Turismo da região.

A sua missão assentava na definição e promoção de Viagem Medieval em Terra de Santa Maria.
estratégias de desenvolvimento turístico no concelho de
Santa Maria da Feira, bem como a gestão dos recursos
e equipamentos do âmbito turístico, nomeadamente a
exploração da água mineral e da actividade termal das
Termas de S. Jorge e a organização de eventos com
temática medieval, das quais se salienta o produto turístico já
consolidado apesar da conjuntura actual (Ceias Medievais),
vocacionado para a área do Turismo de Negócios e
Incentivos.

Além disto, e fruto da delegação de competências


relacionadas com a actividade cultural da Câmara Municipal
na Empresa Municipal Feira Viva e o estabelecimento
de parcerias com o tecido associativo concelhio e outras
entidades, o Concelho continuou a potenciar os eventos como
a Viagem Medieval em Terras de Santa Maria, o Festival da
Juventude, o Festival de Cinema Luso-Brasileiro, o Festival
para Gente Sentada, o Rock VFR / o Imaginarius – Festival
Internacional de Teatro de Rua, a Semana Santa, , a Festa Viagem Medieval em Terra de Santa Maria. Foto Arquivo Viagem
das Fogaceiras entre outros, tornaram Santa Maria da Feira Medieval em Terra de Santa Maria
um palco de experiências por excelência, aumentando, por
sua vez, a movimentação nos hotéis, bares e restaurantes, Como já verificamos, “a realização de Feiras Medievais
comércio e transportes públicos. é já um hábito em muitas localidades com história que lhes
Pelas transformações que Santa Maria da Feira vive permitem recriar os ambientes da época em causa. No
actualmente e apesar da grave crise económica, que se entanto, umas destacam-se pela qualidade da produção,
traduz no aumento do desemprego e da emigração, é preciso
salientar que não se acredita que a cidade fique parada no 10
GASTAL, Susana. “Lugar de memória: por uma nova aproximação teórica ao
património local”. In: Gastal. S. (org.). Turismo investigação e crítica. São Paulo:
tempo, pois o dinamismo é inerente ao processo histórico, à Contexto, p. 69-81. 2002
memória e à cultura dos locais. 11
HUYSSEN, Andréas. Seduzidos pela memória. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.
91
preocupada com os mais pequenos detalhes, que atraem A Viagem Medieval começou com um pequena feira
cada vez mais interessados num evento de qualidade, dentro das muralhas do castelo, em 1996, sob proposta
enquanto outras realizam-se com padrões de recriação da de licenciadas do Curso de Turismo, Ana Nadais e Cristina
época que deixam muito a desejar e que, por vezes, levam Perestrelo.
a questionar a realização do evento, tão pequena a sua
dimensão e tão rudimentar a produção”12.

No cenário nacional, a Viagem Medieval em Terra de


Santa Maria, realizada em Santa Maria da Feira, é sem
dúvida uma das melhores, se não mesmo a melhor. Uma
visita rápida ao site do evento (http://www.viagemmedieval.
com) permite-nos perceber o que a distingue de todos os
outros eventos semelhantes, como Óbidos, Castro Marim ou
mesmo Silves.

Foto da 1:ª Edição da Viagem Medieval em Terra de Santa Maria de


1996. Arquivo Ana Nadais

Prosseguiu em 1997, durante dois dias em Setembro


com a interrupção em 1998. Em 1999 a Federação das
Colectividades de Cultura e Recreio, juntamente com a
Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e a Escola
Fernando Pessoa chamou a si a organização do evento,
realizando-se o primeiro grande cortejo com a participação
de 400 figurantes. Esta edição já decorreu durante 3 dias

Cartaz da Viagem Medieval em Terra de Santa Maria de 1996. 12


CARLOS, Roberto ; DIAS, Francisco de Almeida, 1957-, fotogr. Viagem Medieval
Arquivo Ana Nadais em Terra de Santa Maria. 2002
92
no mês de Junho, também dentro das muralhas do Castelo. edição de 2009 passou a iniciar-se na última quinta-feira do
O salto qualitativo decorreu em 2000, coincidindo com a mesmo mês, decorrendo sempre até ao primeiro domingo
presidência portuguesa da União Europeia cuja cimeira dos de Agosto.
Chefes de estado decorreu no Europarque.
Em 2010 uma das principais inovações foi Campo de
A Câmara Municipal envolveu-se na organização Tendilhas que decorreu na (Quinta do Castelo) dinamizado
da Viagem Medieval, constituindo-se no grande parceiro da pelo Agrupamento 640 do Corpo Nacional de Escutas,
Federação das Colectividades de Cultura e de Recreio de permitindo desde então o alojamento em ambiente
Santa Maria da Feira. O evento alargou-se por toda a cidade medieval.
e o número de dias aumentou para 11, decorrendo entre 10
e 20 de Junho.

Capa do livro Viagem Medieval em Terra


de Santa Maria – The Medieval Journey,
publicado em 2002. Texto de Roberto
Carlos e Fotografia de Francisco de
Almeida Dias

Em termos de números salienta-se que nesta edição


Outra mudança verificou-se no ano de 2003, quando o
a Organização integrou 72 elementos; a Animação 490
evento passou a ser realizado em Agosto, permitindo um
elementos; os grupos de animação circulante foram 36;
grande afluxo de veraneantes, turistas e emigrantes.
envolveram-se 41 associações do concelho; candidataram-
Em 2005, o início da Viagem Medieval em Terra de Santa se 608 Voluntários para serem seleccionados 230 para as
passou a coincidir com última sexta-feira de Julho, porém na diferentes áreas do projecto. Na feira franca participaram
93
248 cidadãos, 180 portugueses e 68 estrangeiros, de-semana – com excepção para os domingos à noite, em
dos quais 101 Artesãos, 16 Artífices, 57 Mercadores e 74 que os pórticos de acesso ao recinto encerraram às 23h45.
Regatões. A animação durante o evento totalizou 135 horas
A entrada no perímetro da viagem medieval implicou
e trabalharam em 2010 na Viagem Medieval 1100 pessoas
a aquisição e a utilização de uma pulseira (pessoal,
num perímetro de 33 hectares, ou seja ao longo de 330 mil
intransmissível e inviolável) com um custo de dois euros,
metros quadrados. O orçamento do evento de 2010 foi de
permitindo o acesso a dez dias do evento. A entrada foi
750 mil Euros, gerando 550 mil Euros de receita. O apoio da
livre no primeiro dia e as crianças até 1,30 m de altura não
Câmara Municipal foi 200 mil Euros.
pagavam.

Registaram-se 229 mil entradas pagas no recinto, e com


esta inovação ficou garantida a auto-sustentabilidade do
evento. A receita das pulseiras cobriu o apoio da Câmara
Municipal, que neste ano já não investiu orçamento próprio
na Viagem, num orçamento global de 900 mil euros.

Em termos estatísticos a primeira edição paga da Viagem


Medieval teve 20 áreas temáticas com actividades, 170
encenações de espectáculos e 1.400 performances de
animação circulante, totalizando 135 horas de animação.
Tudo isto assegurado por 55 grupos, 35 dos quais de Santa
Maria da Feira, onde intervieram 900 pessoas.

Na feira franca, participaram 220 pessoas, distribuídas


por artesãos, artífices, mercadores e regatões. Trabalharam
diariamente mais de 2000 pessoas no evento, coordenadas
por 75 elementos da Organização, destacando-se também a
imprescindível colaboração de 400 voluntários.

O orçamento de 2011 foi 900 mil euros, sendo que 150 mil
foram de investimento (pórticos, acessibilidades ao recinto, e
estruturas dos restaurantes).

Em 2012, a 16.ª edição da Viagem Medieval realizar-se-á


de 26 de Julho a 05 de Agosto e vai abordar novamente o
século XII, dedicada ao reinado de D. Sancho I. Em 2012
haverá um bilhete de um dia e a pulseira será para quem
quiser vir ao recinto todos os dias.

Cartaz da Viagem Medieval em Terra de Santa Maria de 2003. Como temos vindo a verificar a Viagem Medieval
Arquivo Viagem Medieval em Terra de Santa Maria em Terra de Santa Maria é um dos maiores eventos de
recriação medieval da Europa e realiza-se anualmente, no
centro histórico da cidade de Santa Maria da Feira, atraindo
Em 2011, houve uma outra alteração profunda visando a
diariamente cerca de 50 mil visitantes.
sustentabilidade do projecto, ou seja a 15.ª edição do evento
teve entrada paga em determinados horários das 17h00 às O projecto apresenta características únicas no país,
01h00 nos dias úteis e das 12h00 até à mesma hora aos fins- porque se diferencia pelo rigor histórico, dimensão (espacial
94
e temporal), envolvimento da população e associativismo cumpre a dupla função de demonstrar as possibilidades
local, reforçando a sua identidade e sentimento de pertença. e a rentabilidade económica dos bens patrimoniais, ao
É centrada na recriação de episódios e acontecimentos que mesmo tempo em que é apresentada como um instrumento
marcaram a história local e nacional na Idade Média. de consciencialização sobre a identidade histórica e a
importância de se recuperar e conservar os legados da
Devido aos momentos de recriação histórica, da
história.
diversidade de áreas temáticas e da qualidade da animação
permanente, a Viagem Medieval é um evento de grande Tem um claro objectivo económico, enquanto se procura
envergadura, constituindo uma oferta turística única que multiplicar o número de visitantes e potenciar o comércio, a
potencia a promoção do Município e de toda a Grande Área economia e a hotelaria local mediante a celebração de uma
Metropolitana do Porto. importante atracção turística, sendo ao mesmo tempo um
A Viagem Medieval já foi distinguida com uma menção instrumento para consciencialização da população sobre as
honrosa na terceira edição dos Prémios Turismo de Portugal virtudes do património urbano, bem como para fortalecer
(categoria Animação) e arrecadou o prémio Melhor Evento as raízes de identidade da comunidade nas suas origens
Cultural 2009, na terceira edição da Gala dos Eventos. históricas.

Analisando a Viagem Medieval realizada em Santa


Outros Impactos da Viagem Medieval:
Maria da Feira, facilmente se percebe que este tipo de
Requalificação do Centro Histórico de Santa Maria
eventos atrai não apenas visitantes, mas também parceiros
da Feira
estratégicos importantes. Este evento realiza-se no centro
Histórico de Santa Maria da Feira e no Vale do Cáster, que Como já referirmos noutro ponto, as crescentes
foram requalificados na sequência da realização de eventos preocupações no sentido da recuperação, reabilitação e
de recriação histórica bem como de outras realizações requalificação urbanas alargam os conceitos de património,
marcantes. fomentando o aparecimento duma consciência de
“recuperação” em detrimento de “construção nova”.
Impactos Económicos
Cada comunidade, tendo em conta a sua memória
colectiva e consciente do seu passado, é responsável pela
Pela análise das entrevistas efectuadas, bem como
identificação e pela gestão do seu património, pelo que
da realização de entrevistas directas com comerciantes,
deverá possuir um conhecimento e uma necessidade de
moradores e participantes, no que diz respeito à rentabilidade
cuidar dos seus valores.
económica, a Viagem Medieval constituiu-se num notável
sucesso em todas as edições que se celebraram até à data. De facto, em Santa Maria da Feira existiam recomendações
Durante o período em que a mesma decorre, o Concelho no Plano Director Municipal que, ao serem generalistas,
recebe segundo a organização mais de 500 mil visitantes, não se compatibilizavam com as intervenções necessárias,
que gastam uma considerável quantidade de dinheiro e muito menos tinham em conta que o centro histórico é
nas tendas, nas lojas comerciais e nos estabelecimentos realmente “património construído” e que a sua qualidade
hoteleiros. Aparte desta rentabilidade imediata, a notória reside na autenticidade e verdade construtiva da sua
afluência de visitantes supõe uma excelente divulgação do realização. Nele é já possível observar algumas intervenções
potencial turístico do concelho. ou alterações de projecto, pouco cuidadas, que não
respeitam o traçado arquitectónico das ruas, originando o
Este evento converteu-se então numa actividade turística
aparecimento de elementos díspares e descaracterizadores,
lucrativa dentro do programa de promoção do concelho.
que nada enriquecem o Centro Histórico.
Paralelamente, ao utilizar como recurso publicitário o
passado histórico e os seus vestígios materiais, o evento
95
Considerando o enquadramento urbanístico e
arquitectónico do Centro Histórico, em que sobressai o
equilíbrio do conjunto edificado que compõe toda a sua
área urbana, bem como as obras de requalificação urbana,
no âmbito do PROCOM, levadas a efeito pela Autarquia,
tornou-se necessária a definição de princípios orientadores
e de estratégias de intervenção que qualifiquem de forma
integrada as próximas intervenções.

Projecto de “Ordenamento, Valorização e


Requalificação das Margens do Rio Cáster”

Este projecto surgiu para implementar uma nova


filosofia de fruição do espaço público, que assentasse num
novo conceito de rua bem como mudar hábitos, fluxos,
Rua António Castro Corte Real. Foto Arquivo Câmara Municipal de
movimentos, bem como de palco natural para a realização Santa Maria da Feira
de diversos projectos

O que foi proposto foi a diminuição da rodovia, bem


como os passeios de maior dimensão. O estacionamento
manteve-se, mas de forma regulada através de baías
perfeitamente definidas. Existe a consciência dos lugares
de estacionamento que se perderam, mas pensa-se que os
ganhos serão maiores que as perdas ou seja o automóvel
perde, mas o peão ganha.

Rebaixaram-se as guias entre o passeio e a rodovia para


o mesmo nível, eliminando as barreiras arquitectónicas,
permitindo assim o acesso livre a todos, numa zona que
concentra a grande parte dos serviços da cidade. Ainda com
o objectivo da fácil mobilidade, caracteriza-se através de
diferentes cores e texturas os espaços.

Plano de Urbanização do Parque das Guimbras – Vale Rossio. Foto Arquivo Câmara Municipal de Santa Maria da Feira
do Cáster13
suas confeitarias de fogaças, o Rossio ou lugar da Feira,
O Rio Cáster encaixa-se entre o Castelo de Santa Maria o Mercado Municipal, da autoria do Arquitecto Fernando
da Feira, com o seu parque de árvores frondosas, e a Távora, o “Orfeon”, as piscinas, antigos moinhos e um tanque
Baixa da Cidade, onde se destacam os largos da Câmara de 1888. Trata-se, enfim, da zona de lazer potencialmente
Municipal, da Igreja dos Lóios, a antiga Rua Direita com as mais notável do centro da Cidade, para a valorização
ambiental do espaço urbano.

13
Entrevista a Manuel da Costa Lobo, na qual o Responsável pelo Projecto foi
Analisadas algumas alternativas, a Câmara Municipal
explanando as suas ideias de recuperação do Vale do Cáster. de Santa Maria da Feira optou pela construção de um
96
encadeamento de continências. Não se constrói um público
num vazio comunicacional ou por mera intencionalidade
política. Não existem, ademais, receitas ou cartilhas
sociológicas”.

Porém nem sempre foi fácil a sua implementação devido


a um conjunto de factores, factores que não foram muito bem
aceites por exemplo pelos comerciantes, numa fase inicial.

Todavia a maioria dos visitantes, reconhece, que este


conjunto de obras fez com que a zona do Rossio, o Vale
do Cáster em conjunto com o Centro Histórico, se tornasse
num espaço de actividade cultura permanente, captando
visitantes.

Santa Maria da Feira é efectivamente uma cidade


histórica, demarcando-se claramente dos outros Municípios
Rio Cáster. Foto Roberto Carlos
das Terras de Santa Maria.
espaço muito qualificado para usufruto da população no
Vale do Cáster, ficando também preparado para utilizações A Terra de Santa Maria e as recriações históricas
temporárias e feiras, como é tradicional.
Para que o leitor perceba a dimensão do território da Terra
No edificado em frente ao Rossio, foi efectuada a sua de Santa Maria15 devemos de sublinhar que inicialmente,
recuperação e a alteração do seu uso, passando a restauração, estendia-se entre os Rios Douro e Vouga, tendo a leste as
o mesmo acontecendo ao edifício onde, actualmente, o Rio serranias de Paiva, Arouca, Cambra e Sever do Vouga e a
Cáster se encerra canalizado, localizando-se aí um espaço oeste, o Oceano Atlântico.
cultural, designado Casa do Moinho. Na área do Rossio (16
700m2) há a possibilidade de usos múltiplos, como a Viagem Nos princípios do séc. XII, á área da região foi reduzida do
Medieval e outros acontecimentos. lado Sul devido a uma disputa entre os Bispos de Porto e de
Coimbra. A parte destacada desintegrou-se ao ser absorvida
O Rio Cáster foi sujeito a tratamento, efectuando-se a pelos territórios anexos, ficando a pertencer à diocese de
abertura e limpeza de canal do rio, sendo atravessado com Coimbra.
várias pontes de madeira, procurando-se dar unidade ao
conjunto. A parte centro e norte, manteve-se como um núcleo
central. E embora ficando a pertencer à diocese do Porto
Pretendeu-se que seja possível encontrar um local de continuou, administrativamente, sujeita ao governo de
repouso, contemplação e informação, através da colocação Coimbra. De então para cá, aquele núcleo central com aquele
de bancos, bebedouros, cestos de papéis e mapa de nome, manteve-se até meados do séc. XIX, ao contrário
indicação da localização e orientação. do que sucedeu com outras regiões medievais, entretanto
Embora estas obras de requalificação venham de desaparecidas.
encontro ao pensamento exposto no trabalho “Os públicos
da cultura de Santa Maria da Feira - Resultados preliminares
de uma pesquisa14 da autoria de João Teixeira Lopes Bárbara
14
Comunicação apresentada ao V Congresso Português de Sociologia no Atelier
Aibéo, que diz que a “estruturação dos públicos da cultura Artes e Culturas. Universidade do Minho. 2004
de Santa Maria da Feira é um processo que assenta num 15
http://www.castelodafeira.com/TerraStaMaria.asp (falta a data de consulta)
97
Deste “núcleo central” faziam parte territórios que hoje se Os pólos aglutinadores do povoamento na Terra de
distribuem por 14 concelhos do Distrito de Aveiro: Albergaria- Santa Maria
a-Velha (parte), Arouca (parte), Castelo de Paiva (parte),
Espinho, Estarreja, Gondomar (parte), Murtosa, Oliveira de Após a reconquista, com base na antiga divisão
Azeméis, Ovar, S. João da Madeira, Santa Maria da Feira, administrativa dos conventos, 3 pólos de desenvolvimento se
Sever do Vouga (parte), Vale de Cambra (parte) e Vila Nova evidenciaram na região: O Mosteiro de Cucujães, o Mosteiro
de Gaia. de Arouca e o Castelo da Feira.

A Terra de Santa Maria, está assim situada no contexto O Castelo da Feira, sendo um local de pagamento de
do centro litoral norte do país é, do ponto de vista da sua tributo era local privilegiado de comércio de produtos vários,
geomorfologia, uma região de transição entre os relevos pelo que em seu redor se foi instalando a população, dando
acentuados e muito antigos do extremo ocidental da meseta origem à actual cidade de Santa Maria da Feira.
ibérica e os solos recentes, ternários e quarternários, que
O povoamento da Terra de Santa Maria é já muito
confinam com a orla marítima, constituindo-se em anfiteatro
antigo, como o atestam a presença de vários monumentos
fronteiro ao Oceano Atlântico.
funerários (mamoas), que remontam ao IV-V milénio antes
É de realçar aqui a amenidade do clima e a influência de Cristo, bem como castros (povoações fortificadas) pré-
marítima decrescente a medida que se avança para o interior, romanos ou romanizados. O império trouxe as vias romanas,
possibilitando, sobretudo nos vales e encostas viradas a sul, por necessidades militares ou comerciais e são ainda visíveis
a existência de uma vegetação extremamente diversificada. vários troços de vias e pontes dessa época, muitos dos quais
Por sua vez os vales cavados pelos cursos de água ainda bem conservados.
constituíram, desde os tempos remotos, rotas privilegiadas Da Idade Média ficaram-nos testemunhos da arquitectura
de penetração e comunicação com o interior. militar, de que o castelo da feira será o mais imponente
As zonas montanhosas constituídas maioritariamente por e representativo. Mas é na arquitectura religiosa que
xistos e granitos, vêem sofrendo de há milénios uma erosão a monumentalidade atinge a sua máxima expressão:
acentuada a que não foi estranho o pastoreio intensivo. conventos, igrejas, cruzeiros, do românico ao barroco, são
muitas vezes o espelho do passar do tempo, através de
Os terrenos de cultivo nas áreas de montanha, inicialmente intervenções sofridas em épocas variadas.
circunscritos aos vales de aluvião, devido ao crescimento
populacional foram progressivamente ocupando algumas A Civitas Sanctae Mariae, está documentada desde ano
encostas, através de um trabalho árduo de construção de 977 e mais tarde (1117), num documento de D. Teresa,
terraços e fertilização do solo com o estrume dos animais o local é designado por “Terra de Santa Maria”. A 10 de
e os matos retirados das florestas adjacentes, moldando e Fevereiro de 1514, D. Manuel I concede o foral à “Vila da
alterando lentamente a paisagem. Feira e Terra de Santa Maria”.

A Terra de Santa Maria, situada no cruzamento A origem mais provável do nome será a feira que se
dos eixos Norte - Sul e Litoral - Beira Interior dispõe de um realizava às portas do castelo e a partir da qual se terá
posicionamento geográfico que, desde épocas remotas fez, criado e desenvolvido uma povoação. Essa feira tornou-se
desta região, local de encontro e de passagem de muitos tão importante que a aglomeração e posteriormente a vila
tomaram o seu nome.
povos. Comprovam-no a existência das vias romanas que
ligavam Lisboa a Braga (marco milenário encontrado em Todavia, fruto desta enorme riqueza histórica de uma
Ul) e o Porto Viseu (Por Batalha - Cepelos). Estas vias de vasta região, e uma vez que nos Concelhos da Terra de
comunicação continuaram a ser utilizadas durante toda a Santa Maria da Feira são já realizados outros eventos
Idade Media e até ao nosso século. de recriação histórica (Arouca, Uma Recriação Histórica
98
Espinho - Vir a Banhos. Recriação de uma praia do início do XIII, o Mosteiro de Arouca passou para a posse da Coroa e
século XX; Gondomar - A recriação histórica da Assinatura D. Sancho I deixou-o em testamento a sua filha D. Mafalda.
da Convenção de Gramido; Murtosa – Reconstituição do O seu ingresso na comunidade religiosa de Arouca deu-se
Ciclo do Milho; Oliveira de Azeméis. Era Uma vez, Mercado à entre 1217 e 1220.
Moda à Antiga; Santa Maria da Feira: Viagem Medieval, Festa
D. Mafalda levou o Mosteiro a uma época de esplendor,
das Fogaceiras, Via-Sacra, Invasões Francesas, Centenário
que o marcou para sempre, não só pela honra de nele se
Vale do Vouga, Centenário da República; Vila Nova de
ter recolhido, como pelos benefícios materiais que consigo
Gaia – Feira Medieval de Vilar de Andorinho e Invasões
trouxe e lhe atribuiu. O Mosteiro, já apenas feminino, era
Francesas e Ovar – com um trabalho notável na Recriação
o principal pólo de dinamização económica do vale de
Histórica da Visita de D. Maria II a Ovar e o Desfile de Trajes
Arouca.
do Concelho de Ovar “O Trabalho e as Artes”), gostaria de
partilhar convosco estes eventos e deixa a sugestão de que Após a morte de D. Mafalda, em 1256, o prestígio do
os mesmo poderiam dar origem a um Parque temático da mosteiro continuou, evocando a sua passada protecção,
Terra de Santa Maria. a sua memória, a sua fama de santa e o seu culto. Foi
beatificada em 1792. O seu corpo repousa numa urna,
Arouca16 executada em ébano, cristal, prata e bronze, numa das alas
da Igreja do Mosteiro, para onde foi trasladada em 1793.
O actual concelho de Arouca é composto por vinte
freguesias e resultou de uma evolução que se processou Arouca, uma recriação história17
ao longo de alguns séculos. Arouca herdou freguesias de
concelhos suprimidos no século XIX e até concelhos na Em 2004 O Mosteiro de Arouca transformou-se, num
sua globalidade. Actualmente o concelho de Arouca integra cenário do século XIX, para recriar nos seus diversos
as seguintes freguesias: Albergaria da Serra, Alvarenga, espaços o ambiente em que viviam as monjas da Ordem
Arouca , Burgo , Cabreiros, Canelas, Chave, Covêlo de Paivó, de Cister.
Escariz, Espiunca, Fermêdo, Janarde, Mansores, Moldes,
Rossas, Santa Eulália , São Miguel do Mato, Tropêço, Urrô Em 2009, este evento atingiu o seu apogeu uma vez que
e Várzea ao longo de três dias, cerca de 200 actores e figurantes
participaram no evento “Arouca, uma recriação histórica”,
A história de Arouca só ganha destaque entre outras que encenava situações do antigo quotidiano das monjas
terras, a partir da fundação e posterior crescimento do seu no interior do mosteiro, assim como no terreiro de Santa
Mosteiro e, sobretudo, após o ingresso, na sua comunidade Mafalda e nos jardins em redor.
de religiosas, de D. Mafalda, filha do nosso segundo rei, D.
Sancho I. Nesta quinta edição da iniciativa o programa do evento
apostou na recriação do incêndio que destruiu parte do
Todavia a história de Arouca não pode, por isso, dissociar-
mosteiro e na encenação de dois momentos relativos à
se da história do seu Mosteiro. Foi à sua sombra e à sua
intervenção de Frei Simão de Vasconcelos no Cerco do Porto
volta que, durante muitos séculos, grande parte do povo
e na guerra civil entre tropas liberais e forças realistas.
arouquense viveu, trabalhou, rezou e gozou alguns dos seus
poucos tempos livres. Houve lugar ainda para o “Jantar das Monjas”, um concerto
de órgão de tubos ibérico no cadeiral do mosteiro, cânticos
O Mosteiro de Arouca foi erigido no século X e o seu
nos claustros, confecção de tisanas na botica, recepção de
primeiro padroeiro foi S. Pedro. Nos primeiros anos do século
visitas no locutório, ceias silenciosas no refeitório, reuniões de

http://www.cm-arouca.pt/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=19
16

&Itemid=139
17
Alexandra Couto, Agência Lusa 2 de Julho de 2009
99
capítulo e comércio por taberneiros, artesãos e vendedeiras Frei Simão, por exemplo, era um descendente indirecto do
são algumas das outras actividades previstas com recurso a Frei Simão verdadeiro. Só isso já dá ideia de como estas
voluntários de 20 colectividades do município. coisas ainda estão vivas para algumas destas pessoas. De
certa forma, elas estão a representar os seus antepassados
e a transmitir a outras gerações a imagem que ainda têm
das freiras.

Ocultas as linhas do corpo e os cabelos tentadores sob


vestes pretas e brancas, largas e pesadas, as Senhoras
Damas - que podiam chamar-se Auta ou Briolanja e eram
muitas vezes Vaz Pinto ou Vasconcelos - circulavam sem
pressa pelos claustros do mosteiro em sapatinhos elegantes
que contrastam com a restante austeridade do traje.

A coordenação de todo o projecto esteve a cargo de José Só podiam entrar senhoras de comprovada ascendência
Carretas, da associação cultural Panmixia, que também dá o nobre - nada de sangue judeu, nem sangue negro. Em alguns
seu contributo a outras recriações, e que ao longo de quatro casos, as freiras eram realmente devotas - chamavam-se
“religiosas professas” - e seguiam a Regra de S. Bento, que
anos dirigiu todos os actores e figurantes envolvidos na
determina que: “Sete vezes ao dia rezarás ao Senhor teu
recriação, oriundos das associações de Arouca, produzindo
Deus”.
uma pequena novela velada, em que até os padres
confessores, que viviam em frente ao mosteiro, podem A maioria das monjas que frequentavam o mosteiro era,
revelar-se suspeitos”. no entanto, secular. Iam para o mosteiro devido a desgostos
de amor, porque tinham enviuvado ou porque não havia quem
Curiosamente a maioria dos arouquenses é descendente
casasse com elas e não tinham que seguir regras rígidas.
de pessoas que viveram no tempo das monjas. Eram as
famílias de Arouca que forneciam as criadas e as damas de Tanto para as professas como para as seculares, o
companhia às freiras, e, à custa disso, as monjas ficaram mosteiro era sempre prestigiante, um espaço de reserva
para sempre na memória desta gente. O actor que fez de para onde as famílias nobres podiam mandar os seus
100
«excedentes familiares»”, mas “ter uma filha no mosteiro de Portuguesas pode ler-se (citado da Monografia de Álvaro
Arouca era um prestígio muito grande”. Pereira): “(….) Espinho deve o seu nome a uma penedia
espiniforme, a qualquer espinhaço da praia: há ali um lugar
O pagamento para a entrada era, por isso, um dote
chamado Espinho de Terra, indicando um espinho de mar”.
riquíssimo. Além de uma criada e uma dama de companhia,
as noviças - termo para as freiras ainda em avaliação - Por outro lado, há quem entenda que Espinho deve o
levavam para o mosteiro tudo de que pudessem precisar, nome a um lugar que pertence, hoje como há mais de 200
desde a mobília do quarto até aos seus utensílios de cozinha, anos, à freguesia de S. Félix da Marinha-Villa de Spino.
passando pelos próprios vidros da janela. A Abadessa podia As actuais Freguesias de Espinho são Anta, Espinho,
exigir ainda mais. Eleita na sala do capítulo por períodos Guetim, Paramos e Silvalde.
de três anos e figura máxima do governo administrativo e
político de todo o couto de Arouca, essa religiosa chegava a Vir a Banhos. Recriação de uma praia do início do
requerer que o dote das noviças também incluísse dinheiro século XX19
ou terrenos.

“Os pais das freiras não se importavam”. Para eles, era A Praia da Baía recebe em Julho, vilões e fidalgos em
um descanso: as filhas ficavam perto de Deus e não podiam fatos de banho dos anos 20, na iniciativa “Vir a Banhos”
arranjar escândalos que envergonhassem a família”. que recorda a época áurea de Espinho, quando “vilões e
fidalgos” faziam praia durante a manhã, mediante prescrição
médica, e ocupavam as tardes no convívio social da então
Espinho18
chamada “Cascais do Norte”.

Em tempos muito recuados, uma pequena embarcação Este evento “Vir a Banhos” organizado pela Câmara de
que navegava junto à costa foi apanhada em muito mar Espinho em parceria com nove entidades locais, só não é
(mar mau, encapelado, furioso) e naufragou. Dois homens, uma recriação rigorosa em termos históricos porque juntam-
espanhóis da Galiza, sobreviveram à tragédia, diz a lenda se na mesma tarde os camponeses e os fidalgos, que, na
que mercê de uma promessa feita a Nossa Senhora de realidade, nunca se misturavam. No início do século XX, a
construírem uma Capelinha em Sua honra se Ela lhes prática era que fidalgos e nobres fizessem praia entre Abril e
possibilitasse a salvação. Quando sentiram chão firme Outubro, durante toda a semana, enquanto os “vilões” iam ao
debaixo dos pés, os dois homens – Eugénio e Márcio mar ao sábado e domingo, sobretudo depois de terminada a
Esteves, segundo a Monografia de Álvaro Pereira - tomaram época das vindimas.
o facto por milagre e construíram à beira praia uma pequena
Sem dinheiro para comprar fatos de fato, as classes mais
igreja (Capela dos Galegos).
baixas usavam a roupa do quotidiano e para entrar na água
Mas o que da lenda interessa fundamentalmente reter é limitavam-se a “arregaçar as calças ou as saias”.
o diálogo que os dois galegos tiveram quando, ainda mal
Veraneantes de posição mais elevada usavam fatos de
refeitos do susto, detiveram a sua atenção na prancha de
banho completos, quase sempre às riscas brancas com
madeira em que se tinham posto a salvo: dizia um que ela
azul ou preto, gorro ou chapéu de palha para os homens
era feita de castanho, mas o outro, perentório no seu falar
e touquinha aos folhos para as senhoras. Elas só tinham
galego, garantia: “No! És Piño!” E daqui terá havido nome
a descoberto as mãos, os pés e o rosto; eles, às vezes,
de Espinho. Há, evidentemente, hipóteses mais credíveis
deixavam de fora o braço inteiro.
do que esta. Nas memórias sobre os Forais das Terras

18
http://portal.cm-espinho.pt/pt/turismo/conhecer-e-como-chegar/resenha-historica/
(falta a data de consulta) 19
http://www.destak.pt/artigo/35083 - 11 | 07 | 2009 16.16H
101
Entravam na água com essa roupa toda mas, como na
altura quase ninguém sabia nadar, o banheiro ajudava-os a
mergulhar, tantas vezes quantas as que o médico receitara.

Raquitismo, escrofulose, reumatismo, dores musculares


ou falta de apetite eram os males a curar, numa “novidade
do século XX, considerando que, até aí, só se tomava
banho uma vez por outra e não havia esta noção de banho
terapêutico.

Esta recriação demonstrou também que a praia tinha


ainda outras atracções: teatro de robertos, músicos e
contorcionistas, vendedores de tremoços e peixe, papagaios
de vento em papel de jornal, fotografias «à la minute»,
construções de areia com formas de bolo caseiras e jogos
do eixo, da cabra-cega, com tétulas e com bolas de trapos.

Todavia o “Vir a banhos”, não consegue recriar o


cosmopolitismo de Espinho no início do século XX, quando
a cidade era capaz de atrair condessas como aquela que,
para fazer um mês de banhos, alugava quatro carruagens de
comboio para trazer a criadagem toda e a mobília.

Pablo Casals estava muitas vezes no «Café Chinez», e o


Ramalho Ortigão também vinha muitas vezs, como se vê por Em Abril vinham os vilões, que eram as pessoas mais
“As Farpas”, em que ele faz descrições deliciosas de quem pobres, das aldeias, que traziam merendas para a praia,
vinha a Espinho nessa época. ficavam um dia e iam dormir a casa outra vez , revela a
O ambiente dos cafés era o que mais justificava essa responsável da autarquia. Em Agosto vinham os fidalgos, a
procura: tinham animatógrafo, salão de jogos, tertúlias e burguesia mais abastada e os espanhóis, e depois, lá para
orquestra, e eram semelhantes aos cafés ingleses, com uma Outubro, os lavradores mais ricos, depois das colheitas .
particularidade de que nos orgulhamos muito, que é o facto Para a grande procura que a praia de Espinho registava
de permitirem a entrada às senhoras. contribuía também a dinâmica sociocultural da cidade.
Neste contexto a iniciativa “Vir a Banhos” é uma aula viva Por um lado, tinha muitos hotéis, pensões e casas para
de história, que demonstra que as origens de Espinho estão alugar, e as pessoas ficavam cá temporadas grandes, de
muito ligadas ao mar do trabalho, da pesca e da conserveira um a dois meses, por outro lado, havia uma oferta cultural
Brandão Gomes, mas também ao mar do veraneio, das elites muito atractiva, porque a cidade tinha cafés requintados
e do culto do corpo”. com orquestras residentes, salas de jogos, tertúlias em que
O evento termina sempre com um banho colectivo pelos participavam intelectuais conhecidos e, a certa altura, teve
cerca de 100 figurantes que participam na iniciativa. mesmo três animatógrafos a funcionar ao mesmo tempo.

A recriação reune, numa só tarde, todas as classes Um dos aspectos mais marcantes da prática balnear do
sociais que, embora ocupando a mesma praia, o faziam em início do século XX seria também o deslumbramento do mar
diferentes períodos do ano e nunca se misturavam . . A maioria da população só se deslocava à praia por razões
medicinais, muitos adultos viam-se obrigados a uma viagem
102
longa para ter essa primeira experiência e a visão do mar, Cova, Jovim, Foz do Sousa, Covelo, Medas, Melres e Lomba.
a chegada, revelava-se uma coisa imensa, enorme, que Formalmente só em 1927 a sede do concelho - São Cosme
impressionava e assustava. - foi confirmada como Vila de Gondomar, mediante pedido à
Presidência da República.

Em 1985 foi promulgada a lei de criação da Freguesia


de Baguim do Monte. Em 1991 Gondomar ascendeu a
cidade, o mesmo acontecendo com Rio Tinto, em 1995. Mais
recentemente (janeiro de 2005), Valbom também ascendeu
à categoria de cidade.

Gondomar - A recriação histórica da Assinatura


da Convenção de Gramido20

A Câmara de Gondomar inaugurou em 31 de Maio de


2008 a Casa Branca de Gramido, numa cerimónia em que
foi recriado o ambiente em que foi assinada a Convenção
Gondomar de Gramido, que marcou o final da denominada Guerra da
Patuleia, em 1847.
Gondomar, tem o seu nome com ressonâncias históricas.
Vários achados revelam as velhas raízes da vivência
humana neste local desde a pré-história. A exploração das
minas de ouro nas regiões próximas e a posição estratégica
do “Crasto” comprovam a permanência dos Romanos nestas
terras.

Apesar de não haver vestígios dos cavaleiros visigóticos,


Gondomar recebeu o primeiro foral em 1193, de D. Sancho
I, que, mais tarde, foi confirmado pelo rei D. Afonso II,
através das Inquirições. Nos séculos seguintes, o “julgado
de Gondomar” não enquadrou sempre as actuais freguesias.
Ao longo dos anos diversas modificações do estatuto e
demarcações de algumas localidades - Melres Rio Tinto,
Lomba e São Pedro da Cova - fizeram variar a forma do
concelho. Se bem que fossem integradas as referidas A recuperação deste imóvel, que envolveu um investimento
freguesias com todas as suas potencialidades, ao concelho de 800 mil euros, foi feita no quadro do programa Polis
já pertenceram Avintes (hoje ligada à cidade de Vila Nova de Gondomar, que prevê um investimento global de cerca de 15
Gaia) e Campanhã (freguesia do Porto, fronteiriça com os milhões de euros no concelho.
limites de Gondomar).

Data de 1868 a incorporação no concelho das freguesias


http://aeiou.expresso.pt/gondomar-recriacao-historica-assinala-inauguracao-da-
20

de São Cosme, Valbom, Rio Tinto, Fânzeres, São Pedro da casa-branca-do-gramido=f334508#ixzz1msA7K4GN - 31 de Maio de 2008
103
A recriação histórica da Assinatura da Convenção de Reconstituição do Ciclo do Milho
Gramido21 esteve a cargo da Associação Napoleónica
Portuguesa e do Grupo de Recriação Histórica do Município
de Almeida, culminando com uma demonstração militar.

Murtosa22

Situado na Costa Atlântica da Região Centro de


Portugal, integrado no Distrito de Aveiro e na Comunidade
Intermunicipal da Região de Aveiro, o Município da Murtosa
é constituído por 4 Freguesias – Bunheiro, Monte, Murtosa
e Torreira – que se estendem por uma área de cerca de 74
Km2.

De acordo com os Censos 2011 a população actual é


de 10575 indivíduos, tendo a Murtosa sido o Concelho que
mais cresceu no Distrito de Aveiro, em comparação com os
resultados de 2001. As Freguesias da Murtosa são Bunheiro, A Béstida, na Freguesia do Bunheiro, acolheu, no
Monte, Murtosa e Torreira dia 17 de Setembro de 2011, a 2ª etapa da recriação do
Ciclo do Milho, das décadas de 50, 60 e 70 do século XX,

21
Realizada a 29 de junho de 1847, a Convenção do Gramido (Valbom, Gondomar) Reino), o tenente general D. Manuel de la Concha, conde de Cancellada e o coronel
foi imposta por forças militares estrangeiras - espanholas e inglesas -, para que Buenaga (Espanha) e o coronel Wilde (Inglaterra). D. Manuel de la Concha, general
os princípios de manutenção da monarquia defendidos pela Quádrupla Aliança de das forças espanholas, tinha sido obrigado a defrontar o exército popular dirigido
1834 se mantivessem em Portugal. Assim, esta convenção entre os estrangeiros pelo conde das Antas para conseguir entrar no Porto e levar a cabo a pacificação
da Quádrupla Aliança e a Junta do Porto teve como objetivo a finalização da guerra materializada na Convenção de Gramido. As ações convencionadas foram as de
civil ou revolta da Maria da Fonte e da Patuleia que em Portugal tinha oposto os ocupação da cidade do Porto e de Vila Nova de Gaia a partir do dia 30 de junho
Cartistas (defensores da Carta Constitucional outorgada em 1826 por D. Pedro IV) desse ano pelas forças armadas espanholas - que tinham entrado pelo Alentejo e
aos Setembristas (liberais radicais) entre 1846 e 1847. por Trás-os-Montes - para pacificar o território, a rendição e entrega pacífica das
Como reação da parte vencida às perseguições subsequentes à Convenção do armas por parte do exército da Junta do Porto sem exercício de represálias, com
Gramido surgiram em 1848 jornais contestatários ao regime cabralista e a Carbonária direito a conservarem os seus pertences e de circulação livre, o compromisso por
Portuguesa, situação que culminaria com a insurreição militar da Regeneração, em parte das forças de intervenção em reforçar a condição dos oficiais do antigo exército
1851. Os representantes das diferentes partes na Convenção do Gramido foram Real e o zelar pela segurança dos habitantes portuenses e da sua propriedade por
o general César de Vasconcelos (Junta do Porto), o marquês de Loulé (par do parte das forças Aliadas. http://www.infopedia.pt
104

falta a nota 22
levada a cabo, em parceria, pelos Ranchos Folclóricos “Os transportado para as imediações do Cais da Béstida, onde,
Camponeses da Beira - Ria” e “As Andorinhas de S.Silvestre”, ficou a aguardar a cascadela.
Associação Desportiva e Recreativa das Quintas”, Confraria
À noite, num cenário que procurou, continuamente,
Gastronómica “O Moliceiro” e “Fraternidade de Nuno
lembrar aos mais velhos os tempos de outrora e transmitir
Álvares23.
aos mais novos uma imagem/retrato de uma parte da vida
no campo vividos há 40 e mais anos atrás, centenas de
pessoas assistiram, no Cais da Béstida, à cascadela à moda
antiga. Não faltaram os cantares tradicionais e os “moços”
que, disfarçados com colchas ou gabões, se foram abeirando
das raparigas casadoiras.

No dia 1 de Outubro, na Casa - Museu Custódio


Prato, na Freguesia do Bunheiro, teve lugar a última
cascadela (com transporte dos gigos de espigas para a eira,
transporte e colocação da palha no cabanal e animação
com os “moços”), no quinteiro e distribuição das papas (de
abóbora e farinha de milho) pelos trabalhadores, malhada
das espigas na eira (com 8 “moais”), chegada do moleiro
com a farinha de milho, amassar e cozer bolo (pão de
milho) no forno da casa (e posterior distribuição pelo público
presente). A recriação terminou com umas danças de roda
executadas na eira, às quais aderiu o público presente.
Aliás, essa participação do público registou-se também na
cascadela e no malhar das espigas.

Depois de, em Maio, o Ciclo se ter iniciado com o lavrar, Esta recriação pretendeu criar um registo fiel do que
gradar e semear do milho, na tarde do dia 17, o milho foi era o ciclo do milho, há mais de 50 anos e assim permitir
cortado, com foicinhas, carregado para os carros de vacas e aos mais novos ficarem a conhecer as técnicas manuais
dos nossos antepassados. Tudo foi pensado ao pormenor,
www.cm-murtosa.pt
23
tendo os figurantes estado soberbos na interpretação das
105
sua personagens e levado assim, a uns, a recordação de Desta forma, para além de proporcionar um momento de
tempos já idos e a outros o conhecimento das técnicas dos lazer, o “Mercado à Moda Antiga” é já uma referência no que
nossos avós. diz respeito ao envolvimento dos usos e costumes do final
do Séc. XIX, início do Séc. XX, recriados nos dias de hoje
Oliveira de Azeméis24 como uma verdadeira partilha de saberes por novos e mais
velhos das 19 freguesias do concelho.
São vários os símbolos deste município destacando-se
não só o património construído, dos quais são exemplo
os castros de Ul e de Ossela, os moinhos usados para a
moagem de cereais e o descasque do arroz, o Parque e
a Capela de La Salette, as casas de brasileiro construídas
por alguns emigrantes regressados do Brasil, os centros
históricos de Oliveira de Azeméis e da Bemposta e alguns
edifícios cujos projectos de construção foram elaborado pelo
conhecido arquitecto Siza Vieira; mas é também valioso o
património natural englobando os rios Antuã, Caima e Ul,
para além das paisagens existentes em redor dos mesmos.

O Concelho integra as seguintes Freguesias: Carregosa


, Cesar , Fajões , Loureiro, Macieira de Sarnes, Macinhata
da Seixa, Madail, Nogueira do Cravo, Oliveira de Azeméis ,
Ossela, Palmaz, Pindelo, Pinheiro da Bemposta, S. Martinho
da Gândara, Santiago de Riba Ul, Travanca, Ul, S. Roque e
Cucujães .

Era uma vez... Mercado à Moda Antiga25

“Era uma vez... Mercado à Moda Antiga” é um projecto


cultural de Oliveira de Azeméis nascido em 1997 pela
iniciativa do Grupo Recreativo, Associativo e Cultural de
Cidacos, colectividade fundada em 1972 naquela cidade.
Desde a primeira edição, conta com a parceria da Câmara
Municipal de Oliveira de Azeméis. O evento pretende reviver
o mercado que se realizava, há 100 anos, na então “Praça
dos Vales”: Gentes de todas as freguesias do concelho, e
limítrofes, deslocavam-se para o centro da então “Vila” de Tendas à moda antiga, artesãos, padeiras de Ul, produtos
Oliveira de Azeméis para venderem os produtos da terra, agrícolas, utensílios e trajes antigos são alguns dos elementos
sobretudo produtos agrícolas. que constituem o cenário do Mercado. A Feira do Pão, uma
mostra de artesanato e a actuação de grupos de danças e
cantares tradicionais, acontece paralelamente, todos os anos,
24
http://www.cm-oaz.pt/oliveira_de_azemeis.1/historia.40/historia.a55.html (falta de forma ininterrupta, desde 1997.”Era uma vez... Mercado
data de consulta)
à Moda Antiga” tem a particularidade de ser organizada
25
http://mercadomodaantiga.cm-oaz.pt/?op=artigo&mn=145&id=304 (falta a data de
consulta) por uma colectividade sem fins lucrativos que, por sua
106
vez, convida diversas outras a participarem também, numa Recriação Histórica da Visita de D. Maria II a Ovar
alegre partilha de saberes e experiências inter-geracionais.
É desta forma que em 2011 participam activamente cerca Em 19 de Setembro de 2009 a Câmara Municipal de Ovar
de cinco dezenas de Associações Recreativas, Culturais e recriou a visita que ocorreu em 23 de Maio de 1852 quando a
Humanitárias e mais de 1000 figurantes, oriundos de 104 Rainha D. Maria II chegou a Ovar , no regresso de uma visita
associações. a terras do Norte de Portugal. Ainda não havia comboio – foi
preciso esperar dez anos para que isso acontecesse –, pelo
Ovar26 que o séquito usava carruagens e animais de carga.

Ovar é uma cidade do Distrito de Aveiro, região Centro e


sub-região do Baixo Vouga, com cerca de 16 849 habitantes.
É sede de um município com 147,52 km² de área e 55
377 habitantes (2011), correspondendo a uma densidade
populacional de 375 habitantes/km², estando subdividido em
8 freguesias. O município é limitado a norte pelo município
de Espinho, a nordeste pelo de Santa Maria da Feira, a leste
pelo de Oliveira de Azeméis, a sul pelo de Estarreja e pelo da
Murtosa e a oeste pelo Oceano Atlântico, que banha perto
de 15 km da sua costa, contribuindo para um clima ameno e
praias agradáveis.

As freguesias de Ovar são as seguintes: Arada, Cortegaça,


Esmoriz, Maceda, Ovar, São João de Ovar, São Vicente de
Pereira Jusã e Válega.
Aqui chegados pela estrada da Feira, e após breve
descanso, foi cantado na Igreja Matriz um solene Te Deum,
recolhendo-se a Rainha na Casa da Câmara, que serviu de
www.cm-ovar.pt
26
Paço Real.
107
Na manhã seguinte, após assistir à Missa na Capela de
Santo António, a comitiva partiu para o cais da Ribeira, onde
embarcou, seguindo, pela Ria, até Aveiro, onde foi recebida
festivamente.

A 19 de Setembro de 2009, fez-se a Recriação Histórica


dessa passagem da rainha por Ovar, numa iniciativa da
Câmara Municipal, que contou com a colaboração de mais
de 20 colectividades do Concelho e a participação da
Real Associação de Aveiro e da Associação de Recriação
Histórica de Santa Maria da Feira.

A Recriação Histórica da Visita da Rainha D. Maria II a


Ovar foi uma iniciativa inédita, que contou com o apoio do
Ministério da Cultura, do Instituto de Gestão do Património
Arquitectónico e Arqueológico - IGESPAR e com o
envolvimento das seguintes instituições: Rede Museológica
Vila Nova de Gaia
de Ovar, Associação dos Amigos d’Avenida (Aveiro), Real
Associação de Aveiro, Associação de Recriação Histórica
Vila Nova de Gaia é um município do Distrito do Porto, e
de Santa Maria da Feira, Grupo de Reflexão Pró-Ovar,
pertence ainda à Grande Área Metropolitana do Porto.
Grupos Folclóricos, Grupos de Teatro, Grupos Corais e
Bandas Filarmónicas e do Concelho. A cidade está localizada na margem sul da foz do rio
Douro. As caves do famoso vinho do Porto ficam localizadas
Fruto das dinâmicas entretanto criadas, O Concelho de
neste concelho. Recentemente é o terceiro município mais
Ovar tem vindo a recriar outros episódios da história local,
populoso de Portugal, e o mais populoso na região Norte,
nomeadamente o Centenário da República e os 100 anos da
com 302.296 habitantes (2011),dos quais aproximadamente
Escola Oliveira Lopes.
180.000 são residentes urbanos, distribuídos essencialmente
em Mafamude, Santa Marinha, Oliveira do Douro e
Canidelo.
108
As freguesias que formam o Concelho de Vila Nova de Gaia estiveram presentes cerca de duas mil pessoas, numa área
são: Arcozelo, Avintes, Canelas, Canidelo, Crestuma, Grijó, de pequenas dimensões, apenas a área externa do recinto
Gulpilhares, Lever, Madalena, Mafamude, Olival, Oliveira escolar.
do Douro, Pedroso, Perosinho, Sandim, Santa Marinha,
A Junta de Vilar de Andorinho esteve presente dado o
São Félix da Marinha, São Pedro da Afurada, Seixezelo,
grande êxito das duas edições anteriores decidiu em 2009
Sermonde, Serzedo, Valadares, Vilar de Andorinho e Vilar
ano lançar o desafio à Associação de Pais da Escola E.B.1 de
do Paraíso.
Balteiro, para ser a entidade organizadora em parceria com
o executivo da Junta de Freguesia, da III Feira Medieval em
Feira Medieval de Vilar de Andorinho27 Terras de Vilar de Andorinho, recriando a história da freguesia
cuja temática este ano é o topónimo da Freguesia.
A ideia nasceu em 2005, na Escola Básica de Balteiro
A Feira tem quatro objectivos fundamentais: Pedagógico
1, no decorrer do planeamento das actividades para o ano
– Recriar um ambiente medieval; Lúdico – Proporcionar
lectivo, partindo de uma professora e com a colaboração da
momentos de lazer; Cultural – Contactar com traços de
cultura medieval; Gastronómico – Conhecer a gastronomia
Medieval. Associa a participação de escolas, associações
e comunidade envolvente sendo realizada numa área de
grandes dimensões, a Quinta dos Condes Paço Vitorino.

São várias as razões para a realização da feira medieval,


neste local, talvez o mais importante, dar a conhecer este

Associação de Pais, todos trabalharam para a tornar uma património da freguesia, sensibilizar proprietários e a
realidade “Brincar com a história a pensar no futuro”. câmara, no sentido, de preservar este espaço magnífico,
para um projecto de cariz cultural ou turístico. Uma quinta
Havia de tudo pessoas trajadas à época medieval, venda
datada de meados do século XVIII, composto de Casa de
de artesanato, jogos tradicionais, música e danças medievais,
Quinta e Capela, edifício barroco, em forma de U, sendo o
venda de produtos hortícolas, doces da época e sem faltar
acesso ao edifício nobre feito por escada interior, esta quinta
também lá estava a taberna dos “comes e bebes”.
fica situada no gaveto das ruas de Mariz com a de S. João
A primeira Feira Medieval de apenas um dia foi um Baptista.
sucesso, passando no ano seguinte a dois dias, já com
O slogan da Feira é “vem recriar a história” constituindo-
almoço medieval. A adesão da população foi grande e
se numa espécie de aula de história ao vivo, em que a
juventude poderá vir a assistir, sendo recriada uma fase da
JORNAL AUDÊNCIA. Quarta-feira, 10 de Junho de 2009
27 Idade Média, o século XIV. A História é uma disciplina que se
109
ministra nas escolas e, às vezes, é tida como uma disciplina Concertos, cortejos, danças do ventre, exibição de aves
“chata” por parte de muitos alunos, porque os professores de rapina, adestramento de cavaleiros, manifestações
desbobinam matéria, os alunos não têm, muita das vezes, circenses, ceia, teatro, fantoches, espectáculos de fogo,
a capacidade para recuar no tempo a esta época, e assim, torneios a cavalo, assalto ao acampamento e missa na Igreja
aqui, podem visualizar aquilo que aconteceu há 600 anos Matriz foram as notas de principal destaque que se dividiram
atrás. Repetindo o ditado chinês “uma imagem vale mais do pelos espaços da Liça, Animais, Paço, Pelourinho, Tenda do
que mil palavras”, visualizar uma feira medieval é descer no Rei e Mouraria.
tempo à época medieval e aprender melhor. Com o século
XIII como pano de fundo, cerca de 25 mil pessoas passam
pela Quinta dos Condes Paço Vitorino e participam na Feira
Medieval. Organizado pela junta local, o evento já passou as
fronteiras do concelho29.

28
http://ruinarte.blogspot.pt/ (FALTA NO TEXTO)
29
Notícias de Gaia | 23.junho.11 |
110
Outras Recriações Históriacas que se realizam em Sabe-se que os Senhores da Feira e o povo da Terra
Santa Maria Feira de Santa Maria, duramente castigados por uma daquelas
pestes tristemente célebres da Idade Média, recorreram
O Município de Santa Maria da Feira, que para além ao patrocínio do Mártir S. Sebastião e dele alcançaram
da Viagem Medieval, tem fortemente enraizados outros miraculoso acolhimento.
eventos como por exemplo a Festa da Fogaceiras, que se
No tempo dos condes, segundo a tradição uma epidemia
realiza anualmente em 20 de Janeiro, em honra do Mártir S.
devastou implacavelmente a vila; e eles valendo-se da
Sebastião.
protecção de S. Sebastião, prometeram festejá-lo todos
os anos com missa cantada, Santíssimo exposto, sermão,
A Festa das Fogaceiras procissão, e com a oferenda de três broas de pão doce,
chamadas fogaças benzidas no acto da festa.
Até hoje são problemáticas todas a datas de origem que
se alegam para a Festa das Fogaceiras. Com efeito a epidemia desapareceu e os condes
cumpriram religiosamente o voto até ao ano de 1700, em
O voto cuja origem é tão remota não tem uma data que a casa dos condes, pela extinção dos mesmos, passou
assinalada, porém foi referido por D. Marcos da Cruz, que no tempo de D. João V para a Casa do Infantado.
ao falar desta terra na “Crónica dos Crúzios”, em 1640, e
referindo-se aos tempos de D. Sancho I (1184 a 1211) como Depois deste acontecimento as pessoas mais nobres
estando relacionada com com o célebre e calamitoso ano, e abastadas da vila encarregaram-se desta festividade e
chamado “annus malus” que assinalou a era de 1160 (César) cumpriram o voto dos condes por espaço de alguns anos, até
ou fosse o ano de Cristo de 1122. que afrouxando a devoção, deixaram de festejar o santo.

Esta tese indicaria que a Festa teria 890 anos, contudo Decorridos anos, reapareceu na vila a epidemia e com
e como sempre as teses historiográficas devem de ser tal força que apavorou toda a população. Depressa a viuvez
colocadas à discussão e quantos mais documentos surgirem, e a orfandade invadiu o palácio do rico e a choupana do
melhor, porque assim nós os historiadores conseguirão pobre. O povo atribuiu o reaparecimento do flagelo à
chegar a uma data mais próxima quanto à sua origem. relaxação do voto e pediu à Câmara Municipal, para que
esta, continuando o exemplo dos nobres condes da Feira,
se encarregasse de fazer a mesma festividade a expensas
suas; a Câmara acedeu de bom grado à vontade do povo e
obteve do infante D. Pedro III uma provisão para celebrar a
festa anualmente e com a mesma oferenda de três fogaças
benzidas, que seriam conduzidas na procissão por três
homens e repartidas depois por todos os habitantes da
vila. E para mais brilhantismo da festa estatuiu que seriam
obrigados a comparecer na procissão as cruzes paroquiais
das freguesias mais próximas, toda a polícia da vila e
concelho e que a mesma câmara assistisse à festividade e
se incorporasse na procissão com o seu estandarte.

À medida que a população cresceu, cresceu também o


número de fogaças, que eram já conduzidas por donzelas
de cinte e cinco anos e pouco tempo depois por meninas de
nove a doze anos, preferidas as expostas, recebendo todas
111
da Câmara uma pequena gratificação. Desde então a festa das 31 freguesias do concelho, numa curiosa mistura entre
em hora do Mártir, tem sido feita com todo o esplendor na o civil e o religioso.
igreja paroquial do mosteiro, concorrendo muito para o seu
No cortejo e procissão as atenções recaem, naturalmente,
luzimento a assistência das Fogaceiras, toucadas de flores e
sobre as fogaceiras, segundo a tradição “crianças impúberes”,
vestidas elegantemente de branco.
provenientes de todo o concelho, vestidas e calçadas de
Com a proclamação da República, acrescentou-se um branco, cintadas com faixas coloridas, que levam à cabeça
novo ritual: a formação de um cortejo cívico, a partir dos as fogaças do voto, coroadas de papel de prata de diferentes
Paços do Concelho rumo à Igreja Matriz, antes da missa cores, recortado com perfis do castelo.
solene, que integra as meninas “fogaceiras”, que levam
Inicialmente, as “fogaças do voto” eram distribuídas pela
as fogaças à cabeça, bem como as autoridades políticas,
população em geral, depois pelos pobres e mais tarde pelos
administrativas, judiciais e militares e personalidades de
presos, pobres e personalidades concelhias, em fatias
relevo na vida municipal.
chamadas “mandados”. Actualmente, são entregues às
A procissão festiva realiza-se a meio da tarde e autoridades religiosas, políticas e militares que têm jurisdição
congrega símbolos religiosos, com destaque para o mártir S. sobre o município de Santa Maria da Feira.
Sebastião, bem como uma representação civil, com símbolos
autárquicos, económicos, sociais e culturais de cada uma
112
Semana Santa Quando “a mesa da confraria do S.S. Sacramento realizou
este ano as cerimónias de quinta-feira Santa com um
brilho desusado e uma imponência poucas vezes vista. Os
sacrifícios não se pouparam os irmãos da referida confraria
que procuraram por todos os meios realçar e fazer fulgir em
todo o esplendor esta solenidade, na quinta-feira e sexta-
feira Santa, num período extraordinariamente complicado
para a Igreja Católica.

Segundo os jornais da época à Igreja Matriz de Santa


Maria da Feira, a concorrência de fiéis foi extraordinária,
calculando-se que fosse superior a 4000 pessoas. A
Confraria do S.S .Sacramento na pessoa do seu muito digno
Juiz e à Santa Casa da Misericórdia na do seu provedor
digníssimo firmamos o nosso respeitoso e merecido preito de
reconhecimento pela sua obra de levar a cabo a realização
de tão importante festividade31.

Todavia A Semana Santa em Santa Maria da Feira nos


moldes em que se conhece, foi criada em 1997, por iniciativa
A Semana Santa antecede a Páscoa, a quem os judeus
do Grupo Gólgota, em colaboração com a Paróquia e a Santa
chamam PÉSAH. A esta palavra dá-se o significado de “saltar
Casa da Misericórdia da cidade e apoiada pelo Município,
a pé coxinho”, lembrando a passagem do Anjo exterminador
assim como por outras forças vivas, civis ou religiosas,
que, no Egipto, saltava a casa dos judeus para só ferir as
congrega vários eventos, que valorizam o rico património
casas dos egípcios; daí o sentido derivado de “golpe”, infligido
espiritual e cultural que envolve este importantíssimo ciclo
aos egípcios pelo Anjo exterminador, quando os judeus eram
litúrgico de todos os cristãos: a ‘Procissão dos Lírios ou do
por eles escravizados30. Passou depois a designar a festa,
Encontro’, a ‘Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém – na
que celebrava este acontecimento histórico.
cidade humana’, a ‘Via-Sacra’, Vigília Pascal e Compasso.
O ponto culminante do ano litúrgico cristão é a Semana
A cidade prepara-se logo no início da Quaresma, com
Santa, onde celebramos o Mistério da Paixão, Morte e
a colocação das Cruzes e pendões nas fachadas criando
Ressureição de Jesus Cristo. É a ‘semana maior’ para os
assim um cenário de maior envolvimento da população
cristãos: inicia-se com a celebração da Entrada Triunfal de
nestas celebrações. “A cruz é a bandeira do crente. O crente
Jesus em Jerusalém, que ocorre no Domingo de Ramos, e
tem orgulho na cruz.
tem o seu epicentro na Vigília Pascal, na noite de Sábado
Santo para Domingo de Páscoa. A semana Santa de As cruzes são revestidas com panos roxos, seguindo-se
Santa Maria da Feira, constitui-se nesta altura numas das na decoração com ramos verdes no Domingo de Ramos,
referências do chamado Turismo Religioso em Portugal. e no, Sábado Santo, são decorada com flores, dia em que
também são retirados o pendão roxo.
Tudo terá começado em 1911, logo após a implantação
da Republica, uma vez que há quinze anos que nesta vila Fortemente enraizada Santa Maria da Feira celebra a
se não realizavam as tocantes e soleníssimas cerimónias da Semana Santa com a realização de diversas encenações
Semana Santa. que recriam os últimos dias da vida de Jesus, envolvendo

Ex.12,13,23,27
30 31
Notícias da Feira, 24 de Março de 1911, pág. 2
113
No Dia de Ramos, as atenções estão viradas para os
mais novos. A par de dezenas de actores do grupo Gólgota,
centenas de crianças e jovens animam o percurso, desde a
Igreja Matriz até ao Seminário dos Passionistas, recriando os
vários quadros da Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém
e na Cidade Humana, sempre acompanhados por uma
multidão que acena a Jesus. Aqui são encenados cinco
quadros, de uma forma muito realista e interventiva em
termos culturais, sociais e religiosos.

Na Quinta-feira Santa celebra-se a Última Ceia de Jesus


e o Lava-pés. Vivendo em clima de Paixão, a Igreja, em
vigília ao Santíssimo, recorda os sofrimentos de Jesus, por
isso, com a Celebração da Instituição da Eucaristia.
a participação de dezenas de actores do grupo Gólgota e
centenas de figurantes. Com a participação de cerca de A Procissão do Triunfo das Endoenças ou Ecce Homo
70 elementos do grupo Gólgota, a Procissão dos Lírios ou decorre da Igreja da Misericórdia/Igreja Matriz. Aqui o
do Encontro e o primeiro dos eventos, sai da Capela de Coro do Centro de Cultura e Recreio do Orfeão da Feira,
Campos rumo à Igreja Matriz e recria o momento em que interpretaa como vem sendo habitual há dezenas de anos,
Jesus cruzou o olhar com a sua mãe quando carregava a músicas adequadas à Paixão de Cristo. A Procissão regressa
cruz a caminho do Calvário. de novo a Igreja da Misericórdia ao som da marcha lenta da
banda de música.

114
A Sexta-Feira Santa é marcada pela realização da Via-
Sacra ao Vivo, desde o Palácio da Justiça até ao Castelo.
Nesta encenação, o povo acompanha os diversos quadros,
mostrando-se sensível aos valores e princípios evidenciados,
sentindo e vivendo os acontecimentos importantíssimos
da vida de Jesus, relacionados com a sua condenação
injusta, com a sua morte dolorosíssima na cruz e com a sua
ressurreição.

No Sábado Santo, a Igreja celebra em júbilo a Vigília


Pascal, ‘a mãe de todas as vigílias’, a noite da Ressurreição
de Cristo, abrindo assim as portas da alegria da Páscoa que
se prolongará por cinquenta dias, com as Vigílias Pascais
na Igreja Paroquial e na Igreja dos Passionistas.

Queima do Judas.

Em Santa Maria da Feira também no Sábado de Aleluia,


temos um acontecimento profano fortemente enraizado, em
que de uma forma burlesca e recreativa de se vingar daquele
que foi o traidor. No lugar da Velha, constituía um motivo de
descontracção na tarde do Sábado de Aleluia, servindo para
alegrar o povo e reconstituir a morte trágica do enforcamento
de Judas que e claramente o símbolo perpétuo da traição
e renegação. A Queima do Judas era, pois, uma maneira
absurda e farsante de se vingar do traidor de Jesus.

No domingo e segunda-feira de Pascoa decorre a Visita


Pascal ou Compasso

115
Aqui temos a recriação de uma tradição que está muito importância do cargo de Juiz da Cruz nas nossas paróquias,
arreigada no Norte de Portugal, mas cujo significado, na que deu origem à Confraria do Subsino (a Cruz e não o sino
prática, ninguém consegue apurar. Todavia, esta tradição de tocar), aquela que tomava o encargo de velar pela Igreja e
está basicamente ligada à celebração da Páscoa. pelo enterro dos cristãos. Foi a partir dela que no Liberalismo
se formou a Junta de Paróquia e, na República, a Junta de
Como afirma Geraldo Coelho Dias “a sua origem,
Freguesia, que, com as leis higiénicas dos enterros fora das
devemos procurá-la na benção das casas, que, na Idade
igrejas, herdou o encargo de zelar pelo cemitério”33.
Média, o pároco fazia às casas dos seus paroquianos, em
recordação das casas dos hebreus ou judeus benzidas no
Egipto e defendidas pela protecção do anjo exterminador,
que marcou com sangue a soleira ou dintel das suas casas
(Ex. 12,21-23). Daqui nasceu a prática da benção das
casas entre os judeus pela Páscoa, costume que, depois,
passou aos cristãos, originando o solene rito da Visita
Pascal ou Compasso, isto é, a benção feita pelo pároco
com o acompanhamento da Cruz, em que o Senhor tinha 33
DIAS, Geraldo J. A. Coelho As Religiões da nossa vizinhança: História, Crença e
padecido (Crux cum passo Domino). Deriva desta prática a Espiritualidade
116
Visita do Rei D. Manuel II e inauguração da Linha
do Vale do Vouga.

Em 23 de Novembro de 2008, aquando do centenário da


Linha do Vale do Vouga 23 de Novembro de 2008, foi recriada
a Visita do rei de Portugal de acordo com o que aconteceu
no dia 23 de Novembro de 1908, que teve como base os
relatos da época: Embarque de convidados na estação de
S. Paio de Oleiros (1.ª Estação do Concelho de Santa Maria
da Feira), seguindo-se as paragens em Paços de Brandão
Rio Meão e São João de Ver. Em todas elas tocavam bandas
de música, sendo queimados muitos foguetes, e o povo das
respectivas localidades aclamava o Soberano.

À medida que o comboio a ansiedade pela chegada


de el-Rei, tal como em 1908 , aumentava. E ao meio-dia,
a enorme massa o povo que aguardava a chegada de el-
Rei, começou a manifestar a ansiedade, que até ali jazera
latente, e que foi de súbito aumentada pelo queimar de
uma girândola na estação de Paços de Brandão. Alguns
minutos mais, novo estrondear de foguetes de estação de
S. João de Ver, indicava a aproximação do comboio real,
cuja locomotiva, em breves momentos, rompia os ares com
um silvo. Irromperam então daquela vasta multidão as mais
calorosas aclamações, por entre o estrondear dos foguetes
e os acordes do hino nacional entregando a Sua Majestade
os célebres malápios. A carruagem real seguiu em direcção
a estacão da Piedade.

Aqui deixava Sua Majestade a carruagem e era recebido


no estrado, posto junto da linha, pela Câmara Municipal,
que, com a saudação de boas-vindas, passou a aclamá-lo
Após uma rápida vista ao edifício da estação da Piedade.
com todos os circunstantes, delirantemente.
E por entre uma ovação geral, troar das notas festivas do hino
nacional, pôs-se o comboio real em marcha desaparecendo
34
CORREIO DA FEIRA - Orgão do partido regenerador e dos interesses do concelho
da Feira - Sábado 28 de Novembro de 1908 na curva da trincheira do Farinheiro.
117
Os “quintados” (assim ficaram conhecidos) foram de
Bicentenário das Invasões Francesas em Arrifana seguida fuzilados pelos invasores. Quando estes partiram
“Massacre dos Quintados deixaram atrás de si a povoação em chamas e, empilhados
no local do massacre, dispersos por campos e caminhos de
Entre 14 e 19 de Abril de 2009 as Invasões Francesas tentativa de fuga e pendurados de cabeça para baixo em
ocorridas a 17 de Abril de 1809 em Arrifana foram assinaladas várias árvores, cerca de 70 mortos.
ao longo de seis dias com recriações históricas, lançamento
de publicações e de medalha comemorativa, exposições,
concertos, actividades escolares, cerimónias religiosas e
militares e sessão solene. A vila de Arrifana assinalou assim
o Bicentenários das Invasões Francesas com um preenchido
e diversificado programa evocativo, promovido pela Câmara
Municipal de Santa Maria da Feira e junta de freguesia
local. Duas dezenas de colectividades do concelho, num
total de cerca de 600 participantes, prepararam a recriação
do Massacre de Arrifana, ocorrido na madrugada de 17 de
Abril de 180935 quando o exército francês cercou e tomou
de assalto a pacata povoação de Arrifana. Neste dia quem
ofereceu resistência ou ensaiou a fuga foi morto a tiro, à
coronhada ou trespassado pelos sabres e baionetas dos
soldados de Napoleão. Grande parte da população procurou
refúgio no interior da igreja que, no entanto, acabou por se
revelar uma verdadeira ratoeira: os franceses obrigaram
todos os homens válidos a saírem do templo, seleccionando
em seguida um em cada cinco.

35
CLETO, Joel e FARO, Suzana - Massacre em Arrifana, Feira. Mortos de repente
pelos franceses. O Comércio do Porto. Revista Domingo, Porto, 23 de Janeiro 2000,
p.21-22.
118
Implantação da República.36

Na então Vila da Feira a implantação da República, deu-se


de forma serena, uma vez que desde 1907 que sabíamos da
existência do partido republicano presidido por aquele que
viria a ser o primeiro presidente de Câmara Republicano,
Elísio de Castro, que apesar de ser republicano disputava
grandes torneio de caça com o Rei D. Carlos, que viria a ser
assassinado no dia 1 de Fevereiro de 1908, juntamente com
o seu filho D. Luís Filipe no Terreiro de Paço. O sucessor do
trono seria D. Manuel, que em 23 de Novembro do mesmo
ano, na Vila da Feira foi recebido em apoteose, para a
inauguração da Linha do Vale do Vouga.

Para assinalar o centenário da Implantação da República,


a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira organizou uma figurantes de 25 associações do Concelho. Esta iniciativa,
recriação de episódios ocorridos a 5 de Outubro de 1910, integrada no programa municipal “Passeios na Minha Terra”
que contou com a participação de cerca de 500 actores e – passeios culturais destinados aos seniores do Concelho
, foi coordenada pelo Grupo de Expressão Dramática de
REIS, Roberto Carlos. Correio da Feira (Está incompleto)
36
Escapães e contou com a colaboração do Centro de Cultura
119
e Recreio do Orfeão da Feira, da Universidade Sénior de
Santa Maria da Feira e do Grupo Cénico de Lourosa. Várias
colectividades locais participaram neste evento. Os custos
associados a este projecto foram, por isso, residuais.

Esta recriação foi preparada com base num rigoroso


levantamento, que teve como fontes as actas das reuniões
de Câmara Municipal que estão no Arquivo Histórico de
Santa Maria da Feira e também nos quatro jornais que se
publicavam no Concelho. De resto, o público presente teve
oportunidade de contactar com os relatos da imprensa da
época, uma vez que durante o evento foram distribuídas
fac-simile dos jornais de 8 de Fevereiro de 1908 e de 8
de Outubro de 1910, que anunciavam, respectivamente, o
assassinato do rei D. Carlos e do seu filho, e a proclamação
presidente republicano do Tribunal da Relação do Porto;
da República.
Ângelo Sampaio Maia, deputado, Ministro do Trabalho que
Este levantamento histórico permitiu a “descoberta” de instituiu as 40 horas semanais e foi também presidente da
personalidades concelhias que se destacaram na política Câmara Municipal de Lisboa; e Elísio de Castro, que presidiu
nacional, tais como Francisco Sousa Brandão, fundador do à Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e foi um dos
Partido Republicano Português; Abel de Pinho, o primeiro autores da Constituição de 1911 entre outros.

120
Turno da Noite no Museu do Papel

Integrado no projecto Europeu “La Nuit des Musées”, merendas que incluíam broa, chouriço, marmelada, queijo
comemorado em toda a Europa, realiza-se desde 2004 a e eram acompanhadas de uma bebida “a receita” feita com
recriação de um “Turno da Noite”, no Museu do Papel Terras vinho tinto, água gaseificada e açúcar”.
de Santa Maria, em Paços de Brandão.

Entre sons e ritmos, os visitantes vão descobrir os


diferentes espaços do museu com a sua própria candeia de
luz. Estes antigos espaços, dedicados à produção de papel,
irão surpreender com novas sensações e movimentos. O
trabalho nocturno, cheio de ruídos mecânicos e repetitivos,
é reinventado com outros sons e movimentos, constituindo-
se num convite à descoberta de uma outra noite no Museu
do Papel.

Nessa noite, os espaços do museu deixam de ser


ocupados somente pelas memórias de um trabalho passado,
para serem vividos de uma forma única por um público que
partilha uma nova memória, e que deseja voltar.

Para além desta recriação o Museu leva a efeito a


recriação da Merenda à Papeleiro lembrando os turnos quje
eram longos e para os quais os papeleiros faziam umas
121
Considerações finais e para o desenvolvimento cultural e turístico do território, e
consequente projecção do seu tecido empresarial.
Perante todo o potencial das diversas recriações históricas A criação deste Parque Temático procuraria oferecer ao
da Terra de Santa Maria, será pertinente a criação de um visitante um conjunto de actividades e de equipamentos que
Parque Temático em Santa Maria da Feira, sob a temática lhe permitam, aliar à componente de diversão da visita, uma
da História, uma vez que a Recriação Histórica como temos componente educativa, conhecer as diferentes personagens
vindo a observar é uma área recorrente na dinamização e os tipos de actividades de outros tempos, participando
de espaços, além de dar um substancial contributo para o directamente na recriação do “modus vivendi” da época.
desenvolvimento da iniciativa local, da importância do turismo
Verificamos que no caso particular de Santa Maria da
cultural e da valorização do património monumental.
Feira, foram diversos factores que contribuíram para a
São várias as tendências identificadas no turismo em consolidação de projectos de recriação histórica, de “Living
todo o mundo, neste caso falamos da tematização do History” ou de “Reenactment”. Por sua vez as dinâmicas
turismo. Porém, quando se fala em tendências, temos que obtidas permitiram a recuperação do Centro Histórico e do
nos lembrar que até a mais dinâmica das economias como Vale do Cáster. Estas duas prerrogativas juntas permitem
a americana, pode ter problemas. Portanto, quaisquer das sonhar com um Parque Temático que englobe as diferentes
projecções feitas pela Organização Mundial do Turismo épocas recriadas
(OMT/UNWTO ou por qualquer outro organismo é passível
A tematização é sem dúvida uma das tendências a que
de mudanças drásticas. As projecções são indicadores
o turismo tem aderido. Mas não vem dissociada de outros
de tendências, nem sempre concretizadas na prática e
factores e tendências que a cada dia surgem em todo o
descrevem caminhos para o longo prazo, que poderão ser
mundo. O turismo passa por transformações na mesma
interrompidos em curto prazo.
velocidade em que sociedades também se transformam.
Por tematização, entende-se o uso de um ou mais temas
Aparentemente, esta fuga da realidade, mesmo que por
específicos em negócios ou empreendimentos, aliados à
algumas horas, tem levado milhares de pessoas a usufruir
fantasia. Num empreendimento temático, tudo deve fazer
destes hotéis, bares, restaurantes e parques temáticos.
alusão ao tema ou temas adoptados, desde a decoração até
Ressaltamos ainda, que os empreendimentos temáticos,
ao fardamento dos funcionários, os menus, as atracções,
principalmente os parques, estimulam o desenvolvimento
enfim, o objectivo principal é transmitir a sensação que se
das regiões onde estão inseridos.
está num mundo diferente do quotidiano normal.
No entanto, é necessário que se realizem pesquisas, de
O turismo apropriou-se da tematização em vários de seus
modo a oferecer subsídios ao segmento que carece ainda de
segmentos. Temos em todo o mundo, dezenas de exemplos
maior atenção. O turismo só tem ganhar com o fortalecimento
de negócios bem-sucedidos baseados em temas, que
destes empreendimentos.
anualmente recebem milhares de turistas ou visitantes, e que
levaram crescimento e desenvolvimento a muitas regiões. As Terras de Santa Maria, pelo seu património, pela sua
Entre os segmentos que mais se utilizam da tematização tradição histórica e pelos inúmeros eventos que organiza
podemos citar os bares, restaurantes, hotelaria e parques. em volta das recriações históricas, e após as diversas
obras de requalificação urbana dinamizadas pelos eventos,
Com efeito, a realização destes eventos constitui hoje um
assumem-se como um lugar privilegiado para uma possível
factor de dinamização, valorização dos concelhos sendo este
implementação de um parque temático.
o conceito que se poderia incutir no Parque. Em conjunto
com outros eventos, espera-se que este Parque poderia Para que funcione da melhor forma, o parque deve
tornar-se numa acção estratégica prioritária para a promoção procurar integrar-se da melhor maneira possível na rede
122
de equipamentos existentes e contribuir para uma maior Os parques temáticos constituem um elemento importante
diversificação das actividades turísticas das Terras de Santa para o turismo pois transforma-se em verdadeiros recursos
Maria, tentando, simultaneamente, assegurar qualidade dos que permite construir a vocação turística de uma zona
serviços com a promoção de um turismo que respeite o meio ou região, regenerar os destinos turísticos tradicionais e
ambiente. melhorar a sua competitividade.

Em género de conclusão, podemos dizer que, hoje em dia, Esta estrutura, para além de vir a constituir uma atracção
a aposta em parques temáticos é uma aposta válida, uma turística para a cidade, teria igualmente como função ser um
vez que, aliados ao turismo temático, criam em geral, novas espaço de formação aberto à comunidade e de um modo
sinergias nas regiões ou localidades em que se instalam e especial à comunidade educativa.
podem ser utilizados para rejuvenescer os destinos turísticos
Em Portugal, esta indústria ainda não se encontra muito
tradicionais, porque atraem novos segmentos de mercado,
desenvolvida, pelo que se propõe uma pequena reflexão
melhoram a imagem desses destinos e diversificam a sua
tendo em vista a criação de um Parque de natureza histórica
oferta.
na cidade de Santa Maria da Feira, tomando como exemplo
Como refere Mary Ashton37, “os parques temáticos o Parque Puy du Fou.
representam, hoje, uma proposta de pesquisa multifacetada,
ligada ao turismo, à economia, sociologia, história, geografia, Parque temático Le Puy-du-Fou, análise de um
e tantas outras áreas”, permitindo a melhoria das sinergias caso de sucesso
interdisciplinares.

“Os parques temáticos históricos são os fiéis depositários Puy du Fou, é um parque temático que celebra a história
do património imaterial porque apelam ao sentido de memória da França e que em 2009 comemorou o seu 20° aniversário,
colectiva e exaltam os valores históricos. Neles, apesar da localizando-se na cidade de Epesses, Vendée, departamento
componente economicista, estão implícitas temáticas que de região de Pays de la Loire, Baía de Biscaia.
fazem parte do património endógeno de uma determinada A história do parque começou no final da década de 70,
região. Os conteúdos temáticos dos parques, apesar da sua a partir de um espectáculo criado por Philippe de Villiers e
vertente de lazer, fazem referência a um passado, a uma batizado de “Cinéscénie”, no qual era retratado a história
tradição ou a uma memória que poderia ser esquecido se não da França. Em 89 nasceu o “Grand Parc”, em 95, a Cidade
existisse esta vertente”38. Medieval, em 2001, foi inaugurado a arena Gallo-Romano e
Em Portugal existem apenas 5 parques temáticos históricos: o primeiro hotel, a Villa Gallo-Romaine, em 2007. A oferta
O Portugal dos Pequenitos; a Fábrica do Inglês; o Parque cresceu com dois novos espectáculos: “Les Grandes Eaux”
Mineiro Cova dos Mouros; Parque Temático da Madeira e o e “Les Orgues de Feu”; com novos efeitos especiais e
Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota. espectaculares. O Puy du Fou inaugurou o primeiro hotel de
luxo, o Le Logis de Lescure, com uma ligação directa com a
Os quatros primeiros não têm características totalmente
estação do TGV de Angers e com um serviço de transfer.
históricas. Todos eles são transversais a outras tipologias.
Mas isso também é uma característica dos parques temáticos É o quarto parque mais visitado em França após a
históricos que tem o património imaterial na sua génese. Disneylândia, o Parc Asterix e Futuroscope, com mais de
1.450.000 visitantes em 2009, entre Abril e Setembro.
Os visitantes fazem uma viagem no tempo com grandes
espectáculos quer de dia quer de noite dezenas de jogos
37
ASHTON, Mary Sandra G. Parques temáticos: espaços e imaginários. In: GASTAL, e animações, vilas antigas, hotéis o famoso espectáculo
Suzana; GASTOGIOVANNI, Antonio Carlos (org.). Turismo na pós-modernidade
(des) inquietações. Porto Alegre: Edipucrs, 2003. Cinéscénie.
38
http://www.quintacidade.com/?p=1625. Acesso em 12 de Junho de 2009
123

Actos dos Apóstolos 1,18


O Puy du Fou é um destino turístico com três hotéis: As Guédelon - Um castelo em Construção
Ilhas de Clovis (quartos construídos sobre palafitas, ), a Vila
Gallo-romano (inspirado no Fórum Romano) e As Vivendas de Em Guédelon, coração da Puisaye em Yonne, na
Lescure ( 4 suites tema: “A sala dos espelhos”, “Planetário”, Borgonha, 50 trabalhadores enfrentam um extraordinário
“O gabinete de curiosidades”, “A Sala de Música”). O parque desafio: construir um castelo usando com as técnicas e
também possui 25 restaurantes temáticos: para cada época materiais utilizados na Idade Média.
uma gastronomia diferente. O Puy du Fou está localizado a
A ideia de construção de um castelo surgiu com os
2h30 de Paris.
irmãos Guyot, que nos anos 70 compraram uma propriedade
Pode-se considerar o Puy du Fou está situado na que integravam um castelo do século 13 em ruínas. Eles
encruzilhada entre dois sectores: o turismo histórico (Puy du efectuaram um elevado investimento para recuperar a
Fou interpreta e promove a cultura histórica de uma região, propriedade e isso deu-lhes também o conhecimento técnico
a Vendée, com um objectivo cultural e de desenvolvimento) necessário para construir de raiz um castelo.
e os parques temáticos.
O objectivo principal deste projeto passa pela compreensão
No entanto, o Puy du Fou é destaca-se no sector do dos detalhes e das tecnologias da época. Os construtores
turismo histórico devido ao seu tamanho e à diversidade das usam somente técnicas, ferramentas, vestimentas da época,
suas actividades, que estão a entrar na área dos parques além de pedras, argila, metal e madeira retirados do próprio
temáticos. Pode-se, no entanto, discutir o valor do sector, da local, sem depender da tecnologia moderna.
histórica como nicho estratégico (pela originalidade, riqueza
e força da identidade do tema).

Recursos Competências

Obrigatórios Castelo e zona envolvente - atracõese espectáculos


Mão de obra disponível

Únicos / Originalidade do Tema Saber fazer original


fundamentais Associativismo
Desenvolvimento tecnológico
Animais bem trienados para Escolas de formação
participarem nos espectáculos Capacidade de inovação
Cultura do voluntariado

124
Em Guédelon são recebidos também estudantes e
turistas de todo o mundo, que recebem instruções e têm
aulas sobre a cultura e os métodos construtivos daquele
tempo, participando activamente no projecto.

Trata-se de facto uma tarefa hercúlea (iniciada em 1997 e


cujo términus da construção do castelo deverá ser em 2025)
não obstante que sensação que se tem ao visitar Guédelon
é ter-se viajado no tempo.

125
Guédelon - Um castelo em Construção 2010

1997

2001

2025

126
Deixamos assim algumas sugestões para o futuro da Gran Canaria, Madrid, Palma de Maiorca, Málaga, Valencia,
Viagem Medieval e de outras recriações: elaboração de Alicante, Bilbao, Tenerife e Valência entre outros ), para o
protocolos com as universidades para investigação científica nosso território; Animação ao longo do ano nos espaços do
promovendo o Rigor histórico; o Envolvimento de todos os património construído (artes performativas), promoção de
concelhos da Terra de Santa Maria (artesãos, grupos de roteiros teatralizados e dinamização do turismo religioso
animação e associações); Avaliar a possibilidade de replicar e Valorização do trabalho social dos beneficiários do
o Parque temático Le Puydu-Fou, ou numa outra perspectiva Rendimento Social de Inserção.
o projecto Guédelon - Um castelo em Construção; A
Ao pretendermos promover as recriações históricas como
Dinamizção de uma Escola de Artes vocacionada para
um produto turístico cultural atractivo, há a necessidade de
cursos de teatro medieval, escola de música medieval,
se elaborar um mapa pormenorizado com as datas e os
festival de música medieval, gastronomia medieval);
locais dos eventos, com uma catalogação que permita ao
Dinamização de algumas das Indústrias criativas (Artes
visitante interessado neste tipo de eventos, saber quando
Performativas; Artes Visuais e Antiguidades; Artesanato e
e onde poderá assistir e participar. Também se constata
Joalharia; Cinema, Vídeo e Audiovisual; Design; Design de
uma falta de coordenação entre as entidades promotoras,
Moda; Edição; Música; Publicidade; Software e Serviços
já que cada localidade luta por manter a sua própria
de Informática; Software Educacional e de Entretenimento;
história, fazendo em cada ano que passa o que pode, em
Televisão e Rádio) , nas Secundárias, Institutos Superiores
função dos orçamentos, do maior ou menor entusiasmo
e outras entidades; Animação ao longo do ano nos espaços
dos organizadores e dos residentes, e que poderia passar
do património construído (artes performativas), promoção
pela criação de uma espécie de Federação Portuguesa das
de roteiros teatralizados e dinamização do turismo religioso;
Organizações de Recriações Históricas.
Apostar na atractividade do público espanhol de outras
regiões, aproveitando as viagens low coast (Barcelona,
127
Bibliografia GILES, Howard, “Recreating the Past for Live Events,
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