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Capítulo 4
Estudo Teórico e Experimental sobre o Alcance
4.1. Introdução
Neste capítulo são reportadas uma estimativa teórica e uma estimativa experimental do
alcance que seria obtido caso os transceptores projetados operassem em condições
atmosféricas ideais, empregando a lente de colimação apresentada na seção 3.8.1 do Cap. 3 no
transmissor e a lente convergente descrita na seção 4.2 no receptor. Medidas experimentais
foram realizadas empregando um emissor e um detector, ambos operando em modo contínuo,
com o objetivo de se medir a queda da potência coletada pelo fotodiodo com a distância. A
curva teórica prevista demonstrou boa proximidade com as medidas experimentais obtidas.
1 1 1
= + (16)
f so si
onde:
f: distância focal da lente;
so: distância entre o objeto e a abertura do receptor;
si: distância entre a imagem e a abertura do receptor.
81
rr ⋅ L
s o = ΔL + L = (17)
rr − rt
onde:
rt: raio da abertura do transmissor;
rr: raio da abertura do receptor;
ΔL: distância do objeto à abertura do transmissor.
θD Abertura do
Abertura do
2 receptor
transmissor
rt
Fotodiodo
rr
Superfície ativa
ΔL L
so si
f
d A = 2,44 ⋅ λ ⋅ (18)
dr
onde:
λ: comprimento de onda da onda plana;
f: distância focal da lente;
dr: diâmetro da abertura da lente.
Para a lente convergente empregada neste trabalho, tem-se, em λ = 850 nm, dA = 6,52
µm. Isto significa que, teoricamente, a imagem do emissor no plano focal é muitas vezes
menor do que o diâmetro da área ativa do fotodiodo (343 µm) e, portanto, toda a potência
incidente na abertura do receptor poderia ser coletada pelo fotodetector.
O ângulo de visada (ou ângulo de aceitação) de um receptor cujo padrão de difração é
o disco Airy é dado por [85]:
dd
θr = (19)
f
máxima, mediu-se a variação angular do detector para a qual a fotocorrente caia à metade do
valor máximo. As medidas foram realizadas para variações angulares na direção vertical
(elevação) e direção horizontal (azimute). A Tabela 13 resume os valores obtidos. Pela tabela,
vê-se que o ângulo de visada situa-se em torno de 8,6 mrad. O motivo da discrepância deste
valor com o valor teórico (5,22 mrad) pode ser imputado a diversos fatores: a qualidade da
lente não era próxima da ideal, a onda incidente sobre a abertura da lente não era plana e
certamente a distância da superfície ativa do fotodiodo à lente não era precisamente a
distância na qual se formava a imagem. Conclui-se que estes fatores contribuíram para a
formação de uma imagem de diâmetro maior do que o disco Airy.
onde:
Pr: potência óptica média coletada pelo receptor;
Pt: potência óptica média emitida pela abertura do transmissor;
dr: diâmetro da abertura do receptor;
dt: diâmetro da abertura do transmissor;
θD: ângulo de divergência do feixe, em radianos;
84
L: comprimento do enlace;
Dopt: perda de potência introduzida pelos elementos ópticos.
d r2
S = Pt ⋅ Dopt (21)
[d t + (θ D ⋅ Lmax )] 2
De acordo com a Eq. 21, para se fazer uma estimativa teórica do alcance do enlace,
deve ser conhecida a sensibilidade do receptor. Esta, por sua vez, é função do ruído presente
no sinal no momento em que passa pelo circuito de decisão e da máxima taxa de erro de bit
tolerável. Definindo V1’ e V0’ como sendo as tensões na saída do pré-amplificador
correspondentes aos níveis lógicos ‘1’ e ‘0’, respectivamente, para os quais tem-se a máxima
taxa de erro de bit tolerável, a sensibilidade é dada por [82]:
V1 '+V0 '
S= (22)
2⋅ R ⋅ Rf
onde:
R: responsividade do fotodiodo;
Rf: resistência de realimentação do pré-amplificador.
ópticos e o cálculo da sensibilidade serve essencialmente para permitir uma estimativa teórica
do alcance, foi suposto que o ruído da radiação de fundo é desprezível frente às demais
parcelas de ruído.
O valor quadrático médio (variância) do ruído shot na saída do pré-amplificador é
dado por [82]:
onde:
q: carga do elétron = 1,6x10-19C;
I: fotocorrente;
Id: corrente de escuro do fotodiodo;
Δf: banda passante equivalente de ruído.
Para o sistema em questão, a banda passante equivalente de ruído, dada pela integral
da curva de ganho de potência do pré-amplificador normalizada por Rf2 [75], é Δf = 159
MHz. Como pode ser visto pela Eq. 23, o valor quadrático médio do ruído shot depende
diretamente da fotocorrente que, por sua vez, é proporcional à potência óptica coletada.
Portanto, de acordo com a Eq. 20, o valor quadrático médio do ruído shot diminui
proporcionalmente ao inverso do quadrado da distância entre transmissor e receptor, enquanto
a fotocorrente for maior do que a corrente de escuro. O valor quadrático médio do ruído
gerado pelo pré-amplificador, por sua vez, independe da distância, e, conforme calculado na
seção 3.7.2, vale σT2 = 4,06x10-8 V2. A Figura 47 mostra as curvas de valor quadrático médio
de ruído em função da distância, para o caso da transmissão do pulso de valor lógico ‘1’. Os
parâmetros utilizados para a obtenção das curvas estão mostrados na figura e correspondem
aos utilizados na prática para a análise apresentada neste capítulo. Fica evidente que, para
distâncias acima de 20 m, o ruído do pré-amplificador é a parcela mais representativa do ruído
total. Portanto, para se calcular a sensibilidade, foi considerado apenas o ruído do pré-
amplificador.
O presente trabalho não apresentava um compromisso com um valor específico de
taxa de erro de bit (BER) e, portanto, com a finalidade de se calcular a sensibilidade, foi
adotada, arbitrariamente, BER = 10-9 (ver discussão sobre BER na seção 2.4.1).
86
2
variância do ruído shot, σsh
-6 P1 = 4,94 mW
10 2
variância do ruído do pré-amplificador, σT
Valor quadrático médio (V ) dr = 20,9 mm
2 2
variância total, σsh +σT
2
dt = 5,1 mm
θD = 26 mrad
Dopt = 0,736
-7 Δf = 159 MHz
10 Id = 1 nA
-8
10
-9
10
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Distância (m)
Figura 47 - Curvas de valor quadrático médio de ruído em
função da distância entre transmissor e receptor.
1⎡ ⎛ V − VD1 ⎞ ⎛ V − V0 ⎞⎤
⎟ + erfc⎜ D 0 ⎟
BER = ⎢erfc⎜⎜ 1 ⎟ ⎜ σ 2 ⎟⎥ (24)
4 ⎢⎣ ⎝ 1σ 2 ⎠ ⎝ 0 ⎠⎥⎦
onde:
V1: tensão correspondente ao bit ‘1’ na entrada do amplificador limitador;
V0: tensão correspondente ao bit ‘0’ na entrada do amplificador limitador;
VD1: limiar de decisão do bit ‘1’;
VD0: limiar de decisão do bit ‘0’;
σ1: valor RMS do ruído correspondente ao nível de sinal V1;
σ0: valor RMS do ruído correspondente ao nível de sinal V0.
2 ∞
erfc( x) =
π
∫x
exp(− y 2 )dy (25)
87
Na Eq. 24, os limiares de decisão VD1 e VD0 são definidos pela tensão de limiar do
amplificador limitador, Vth [86]. Devido ao acoplamento AC da saída do pré-amplificador
com a entrada do amplificador limitador, tem-se que, na entrada deste último:
V1 = -V0 (26)
O amplificador limitador é ativado pelo bit ‘1’ quando V1 > Vth/2 e pelo bit ‘0’
quando V0 < -Vth/2. Logo,
VD0 = -Vth/2
σ 0 = σ1 = σ T (28)
em que σT é o valor RMS do ruído gerado pelo pré-amplificador, cujo valor foi
calculado na seção 3.7.2.
Substituindo as Eqs. 26, 27 e 28 na Eq. 24, esta pode ser reescrita como:
1⎡ ⎛ V − Vth / 2 ⎞ ⎛ V − Vth / 2 ⎞⎤ 1
⎟⎥ = erfc⎛⎜ Q ⎞⎟
BER = ⎢erfc⎜⎜ 1 ⎟ + erfc⎜ 1
⎟ ⎜ ⎟ (29)
4 ⎣⎢ ⎝ σT 2 ⎠ ⎝ σ T 2 ⎠⎦⎥ 2 ⎝ 2⎠
V1 − Vth / 2
Q= (30)
σT
De acordo com a Eq. 29, para se ter BER = 10-9, deve-se ter Q = 6. Partindo-se da Eq.
22, pode ser demonstrado que a sensibilidade se relaciona ao fator Q pela seguinte expressão
[82]:
1 ⎛ 1 + rex ⎞
S= ⎜⎜ ⎟⎟ ⋅ (2 ⋅ Q ⋅ σ T + Vth ) (31)
2⋅ R ⋅ Rf ⎝ 1 − rex ⎠
P0
rex = (32)
P1
88
sendo:
A este valor de sensibilidade corresponde uma fotocorrente média Imin = 0,58 μA.
Lmax = 35 m.
89
Abertura do emissor
Anteparo
Como pode ser visto pela figura, foi colocado um anteparo junto ao emissor, que
servia para permitir a visualização de um ponto de luz vermelha produzido por um diodo laser
existente no detector. Isto possibilitava que um alinhamento grosseiro do eixo do detector
com o eixo do emissor fosse feito antes de se realizar um ajuste fino, conforme será detalhado
mais adiante.
Para se determinar o ângulo de divergência do feixe, este foi projetado
perpendicularmente contra um anteparo, conforme ilustra a Figura 49, e o diâmetro da
projeção circular foi medido. O ângulo de divergência foi calculado através da seguinte
expressão:
rp − rt
θ D = 2 ⋅ arctg (33)
d
90
em que:
rp: raio da projeção do feixe no anteparo;
rt: raio da abertura do emissor;
d: distância entre a abertura do emissor e o anteparo.
Abertura do emissor
θD
2
θD rt
rp
VCSEL
v d
Figura 49 - Ilustração da montagem realizada para a determinação do ângulo de
divergência do feixe.
Mesa móvel
Microposicionador
Para cada distância entre emissor e detector, foi ajustada a distância do fotodiodo à
lente convergente conforme as Eqs. 16 e 17, e a posição do detector foi ajustada com auxílio
do microposicionador até que fosse encontrada a maior fotocorrente possível.
300
Medida experimental
Curva teórica
250
200
Fotocorrente (μA)
150
100
0 5 10 15 20 25 30 35
Distância (m)
A curva teórica mostrada na Figura 51 foi obtida pela Eq. 20. A Tabela 16 resume os
valores dos parâmetros utilizados para a realização experimental e para o cálculo da curva
teórica.
92
Como pode ser visto pela Figura 51, há uma razoável concordância entre a previsão
teórica e as medidas experimentais da potência óptica coletada. A Figura 52 apresenta um
detalhamento da curva da Figura 51 para distâncias acima de 14 m.
5.26
Medida experimental
4.74 Curva teórica
4.22
Fotocorrente (μA)
3.70
3.18
2.66
2.14
1.62
1.10
0.58
15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35
Distância (m)
Como pode ser visto, a fotocorrente medida ora fica acima ora abaixo da curva teórica.
Estas variações se explicam pelo fato de que a distribuição de potência sobre a frente de onda
produzida pelo emissor não era uniforme, mas, pelo contrário, apresentava distribuição de
potência que obedece à formação dos modos transversais de um VCSEL [87]. Portanto, há
regiões no plano de incidência de maior potência e outras regiões de menor potência. Por
outro lado, a equação que descreve a curva teórica (Eq. 20) foi deduzida para frentes de onda
esféricas, nas quais a potência está uniformemente distribuída. A Figura 53 fornece uma idéia
qualitativa da distribuição da potência óptica produzida pelo VCSEL, medida em um plano (x,
y) perpendicular à incidência do feixe e distante 28 cm do laser, para uma corrente de
93
-6
x 10
) 1.5
W
μ(
ai 1
c
n
êt
o
P 0.5
10
5 -5
0 0
x (mm)
5 y (mm)
-5
10