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EpistEmologias CrítiCas do dirEito

José riCardo Cunha


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2016
Sumário
Apresentação.............................................................................................. V
O Debate Micro-Macro em Sociologia e a Epistemologia
Crítica no Direito....................................................................................... 1
Ricardo Nery Falbo
A Complexidade como Paradigma Epistemológico ................................. 19
José Ricardo Cunha
Dar ao Direito um Amanhã: Cinco Elementos a Uma
Epistemologia da Injustiça ........................................................................ 39
Bethania Assy
Acumulação Primitiva, Direitos Humanos e Movimentos
Sociais: Esboço de Uma Provocação ao Giro Antiprodutivista ............. 61
Guilherme Leite Gonçalves
Pequeno Ensaio sobre como o Direito Ensina Errado a História
ou Algumas Dicas para Quem Faz Um Trabalho Acadêmico ............... 75
Gustavo S. Siqueira
A Filosofia do Porco-Espinho e a Crítica ao Direito............................... 87
Antonio Augusto Madureira de Pinho
Remoções Biopolíticas no Contexto Olímpico do Rio de Janeiro:
o Caso da Vila Autódromo ....................................................................... 103
Clarissa Naback
Alexandre F. Mendes
Junho de 2013 - O Direito Enunciado Tumultuariamente nas Ruas .... 115
Adriano Pilatti
IX
A Univocidade na Pluralidade: Confluências Epistemológicas Refugiados: o Encontro como Categoria de Análise .............................. 299
e Limites do Conhecimento. Um Estudo a Partir dos Programas Gabriel Gualano de Godoy
de Pós-Graduação em Teoria e Filosofia do Direito no Brasil ............... 135
Autonomia Jurídica: o Problema da Reificação Revisitado .....................313
Cecilia Caballero Lois
César Mortari Barreira
Considerações Propedeuticas para uma Epistemologia do
Ensaio Para “Transver” o Direito: o Conhecimento de Fragmentos do
Direito em Bases Discursivas.................................................................... 155
Real a Partir da Narrativa dos Vencidos ................................................... 343
Antón Lois Fernandez Álvarez
Diogo Justino
Gilvan Luiz Hansen
Fernanda T.F. de Castro
Kelsen Contra Kelsen: a Desnecessária Postulação da
A Teoria da Hegemonia de Ernesto Laclau e a Universalidade
Norma Fundamental ................................................................................. 171
dos Direitos Humanos .................................................................................357
José Renato Gaziero Cella
Felipe Cavaliere Tavares
Poder e Dominação em Franz L. Neumann: os Elementos
Pressupostos Teóricos e Questões Metodológicas Relevantes
da Liberdade Contra as Patologias Sociais .............................................. 191
no Debate Hart-Dworkin ...........................................................................375
José Rodrigo Rodriguez
Leonardo Figueiredo Barbosa
As Inferências Probatórias: Compromissos Epistêmicos,
A Compreensão do Direito nos Estados Federais pela
Normativos e Interpretativos ..................................................................... 209
Formação Política de suas Instituições: Reflexões sobre
Janaina Matida
Uma Possível Teoria do Conhecimento Jurídico para os
Rachel Herdy
Estados Federais .......................................................................................... 397
Análise Crítica de Argumentos no Direito: Contribuição da Leonam Baesso da Silva Liziero
Análise de Conteúdo para o Exame Crítico das Audiências Públicas ..... 239
Mário Cesar Andrade
Margarida Maria Lacombe Camargo
A Emancipação do Sujeito no Direito Através do Discurso
na Pesquisa Empírica...................................................................................251
Ricardo Falbo
Monique Falcão
Caminhos Teórico-Metodológicos para Uma Análise
Histórico-Materialista do Direito nas Políticas Públicas ........................ 279
Carolina Alves Vestena
X XI
Bethania Assy
Rosenzweig, Franz, The Star of Redemption. Part One, Book Two, Reality of the
World. Translated by Barbara E. Galli. Wisconsin: The University of Wisconsin
Acumulação Primitiva, Direitos Humanos
Press, 2005, p.57 [Stern der Erlösung]. e Movimentos Sociais: Esboço de Uma
________. Philosophical and Theological Writings. Translated and Edited, with Provocação ao Giro Antiprodutivista1
Notes and Commentary, by Paul W. Franks and Michael L. Morgan, Indiana-
polis/Cambridge: Hackett Publishing Company, Inc., 2000.
Taylor, Charles, The Ethics of Authenticity. Cambridge: Harvard University
Guilherme Leite Gonçalves2
Press, 1991.
________. Hegel. (Cambridge: Cambridge University Press), 1975. Não é recente o debate sobre os avanços ou retrocessos das pesquisas em
ciências sociais gerados pelo famoso “giro antiprodutivista”3 do pensamento so-
________. Hegel and Modern Society. (Cambridge: Cambridge University
ciológico desde os anos 1970 (Dörre 1990). Tal giro caracterizou-se pela des-
Press), 1975
tituição do conflito econômico como o centro da análise social e sua substi-
Rasmussen, David (ed.). Universalism vs. Communitarianism: Contemporary tuição por um conceito de sociedade bipartida, no qual tal conflito passou a
Debates on Ethics. Boston: MIT Press, 1995. representar apenas uma ameaça destrutiva a um outro espaço de sociabilidade
caracterizado por interações comunicativas.4 Diagnósticos a respeito de uma
Walzer, Michael, Spheres of Justice – A defense of Pluralism and Equality. New possível crise da sociedade do trabalho e de suas energias utópicas começaram,
York: Basic Books, 1983. gradativamente, a se tornar dominantes no interior das ciências sociais.5 Tais
diagnósticos sustentavam-se em interpretações que atribuíam ao advento do
Estado de Bem-Estar caráter apaziguador da luta de classes (Habermas 1973;
1985) e se desenvolveram com base em leituras sobre a chamada terceira revolu-
ção industrial, que teria induzido à formação de uma massa supérflua por meio
da substituição do trabalho vivo pelo morto.
1 Agradeço a Carolina Vestena pelas sugestões e comentários.
2 Professor de Sociologia do Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi Professor Visitante
do Lateinamerika-Institut da Freie Universität Berlin (2013-2015). Foi Alexander von Humboldt
Post-Doctoral Fellow na Freie Universität Berlin e na Universität Bremen (2011-2013). Doutor em
Sociologia do Direito pela Università del Salento (2006).
3 Todas as expressões e citações em língua estrangeira neste texto foram direta e livremente traduzidas
por mim.
4 Essa ideia está amparada na definição de sociedade proposta por Habermas a partir da distinção
interação/trabalho. Entre outros, ver Habermas 1968, 71ss.
5 A literatura é vasta. Para fazer menção apenas a uma obra fundamental do respectivo debate, ver
Offe 1989.
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Guilherme Leite Gonçalves Acumulação Primitiva, Direitos Humanos e Movimentos Sociais:
Esboço de Uma Provocação ao Giro Antiprodutivista
Esses diagnósticos levaram tanto o pensamento sociológico quanto a teoria histórico-materialista. Com isso, pretendo não apenas revelar as insuficiências
crítica a realizar um progressivo abandono da instância econômico-material das primeiras, mas também indicar o objeto do conhecimento aqui proposto.
como objeto de análise e a concentrar suas atenções naquilo que foi denomi- Não se trata, evidentemente, de uma crítica nova. Ao contrário, a tradição
nado esfera da interação, espaço ocupado por ações comunicativas mediadas marxista já questionou de diferentes maneiras e em diversas oportunidades as
simbolicamente, que se orientam segundo normas compreendidas por mais de teorias dos direitos humanos: crítica à forma jurídica; crítica à alienação políti-
um sujeito agente (Habermas 1968, 77ss; 1985). Isso importou uma guinada das ca; teoria da hegemonia etc. Meu objetivo, no entanto, é reorientar essa crítica
ciências sociais para teorias do discurso e do reconhecimento. para uma elaboração conceitual do marxismo ainda pouco explorada na crítica
O impacto dessa guinada foi enorme nas pesquisas sobre direitos humanos e dos direitos, qual seja, a da acumulação primitiva do capital, particularmente a
movimentos sociais desde os anos 1970. A ruptura com a ideia de primado so- partir de sua releitura por Klaus Dörre (2009; 2010; 2012a; 2012b), em seu teo-
cial da infraestrutura técnico-econômica importou não apenas reinterpretar o rema da espoliação do espaço (Landnahme). Esse objetivo está inserido em uma
fenômeno jurídico a partir de dimensões do discurso, mas, sobretudo, repensar agenda de pesquisa maior, a ser desdobrada posteriormente. Na segunda parte
seu caráter normativo (Habermas 1992). Com isso, o debate sobre cidadania, do presente texto, apresentarei, assim, apenas um pequeno esboço e as linhas
justiça e direitos passou a ocupar um lugar de destaque.6 Nas últimas décadas, gerais de um modelo que possa compreender o lugar dos direitos humanos e dos
o aprofundamento do “giro antiprodutivista” abriu novas frentes com a intro- movimentos sociais na expansão capitalista.
dução de temas como o acesso à justiça (Cappelletti e Garth 1978) e de estudos
sobre gênero e raça (Kymlicka 2007).
Sem descuidar dos avanços, é de se perguntar, no entanto, sobre quais fo-
1. Para uma crítica materialista ao idealismo dos
ram as perdas analíticas geradas pelo abandono do pensamento “produtivista”. O direitos humanos
principal problema desse abandono consiste no fato de que, desde quando ele se
iniciou, desencadeou um processo gradativo de “esquecimento” do capitalismo A ausência do capitalismo como unidade de análise na literatura sociojurí-
como categoria analítica. Assim, se é verdade que, com o citado “giro”, o debate dica é sentida intensamente nas discussões sobre direitos humanos. A literatura
sociológico sobre direitos humanos e movimentos sociais ampliou seu horizonte dominante agarra-se tão somente ao entusiasmo. Para ela, os direitos humanos
cognitivo, também é verdade que deixou de apreender um aspecto fundamental são considerados condição para a construção de uma ordem cosmopolita, na
dos processos sociais contemporâneos ao negligenciar a relação entre dinâmica medida em que assegurariam liberdades individuais e, com isso, a possibilidade
capitalista e ordem jurídica. Os recentes acontecimentos, principalmente a crise de associações voluntárias que bloqueariam o uso do sistema político por inte-
econômica de 2008, são indicadores da necessidade de mudança desse quadro. A resses privados. Dessa perspectiva, os direitos humanos seriam motores de ex-
abertura desse novo horizonte de pesquisa não significa, evidentemente, retomar pectativas normativas de uma “sociedade civil global”, capaz de conduzir para
velhos reducionismos, mas, a partir dos ganhos analíticos já alcançados pelo res- uma esfera pública transnacional as questões do mundo da vida (Habermas
pectivo campo de conhecimento, repensar, de maneira atualizada, o capitalismo 1992, 430 ss). Vozes destoantes como a de Douzinas (2000) buscam, por sua
como elemento chave da relação entre direitos humanos e movimentos sociais. vez, identificar o caráter ideológico dos direitos humanos por meio de uma aná-
Nesse breve ensaio, pretendo apenas delinear um caminho teórico possível lise de sua dimensão ética como um discurso que se presta apenas a viabilizar
para uma tal retomada. Para isso, na primeira parte, as teorias dos direitos hu- intervenções dos países fortes sobre o resto do mundo a partir do selo das “mis-
manos atualmente hegemônicas no campo crítico serão submetidas à crítica sões civilizatórias”, o que, por sua vez, serviria para reprimir outras sociedade
políticas e reforçar hierarquias globais.
Em ambas as perspectivas, as teses são apresentadas sem qualquer vínculo
6 Para alguns exemplos, ver Baldwin 1997; Chesterman 2001; Davy et al. 2011; Sadek 2000; Przeworski
1995; Vianna, Burgos, e Salles 2007.
com análises sobre as mudanças do capitalismo global e de como essas mudan-
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Guilherme Leite Gonçalves Acumulação Primitiva, Direitos Humanos e Movimentos Sociais:
Esboço de Uma Provocação ao Giro Antiprodutivista
ças podem operar como condições para os processos jurídicos e sua interfa- A partir dessa crítica histórico-materialista, o programa de retomada do
ce com movimentos de protesto e resistência. Para tais teses, o direito parece capitalismo como unidade de análise baseia-se em uma outra abordagem. Ao
surgir espontaneamente, alheio a uma base material ou a uma racionalidade invés de distanciamento, assume o direito como parte integrante do finito e do
objetiva, que, ironicamente, conformam relações sociais da qual ele mesmo faz mundo. Isso significa retornar à tradição inaugurada por Marx e considerar o
parte. Por que pensar a ordem jurídica enquanto algo indiferente aos processos direito como peça da engrenagem capitalista. Não se trata, no entanto, de uma
históricos de seu tempo? Ou, ainda, como supor que a produção, circulação e abordagem filosófica. Ao contrário, pretende-se resgatar a economia política
reprodução do capitalismo não podem desempenhar nenhum papel na forma- para as análises sociojurídicas. A proposta de reintrodução do direito no finito
ção e desenvolvimento dos direitos humanos? Nenhuma das dimensões da atual implica romper com a lógica das teorias normativas e (re)historicizar a ordem
crise econômica, desencadeada em 2008, exerce influência na aplicação e uso jurídica. Dessa perspectiva, o problema de pesquisa em torno dos direitos hu-
desses direitos? Há validade empírica em idealizá-los apenas como um discurso manos refere-se ao fato de que a eclosão de sua influência política e aceitação
contrafactual? O mérito da proposta de Douzinas consiste em sua pretensão social como projeto emancipatório se deu nos últimos trinta anos, isto é, con-
de recontextualizar os direitos humanos em seu universo social. Limita-se, en- comitante a mudanças significativas na ordem capitalista, em especial a trans-
tretanto, à análise dos paradoxos que a estrutura moral deste discurso produz formações nos modelos de produção e de regulação que levaram à estabilização
quando projetada na geopolítica do poder global (Douzinas 2013). O capitalis- da acumulação neoliberal.
mo e seu movimento de expansão continuam os principais esquecidos. Tanto a teoria da regulação (Boyer e Saillard 2005) quanto a das crises
As teorias dos direitos humanos citadas baseiam-se naquilo que De Gior- (Harvey 2005) identificam como motor de tais transformações a necessidade
gi (1998, 152 ss) denominou mecanismos de “distanciamento do mundo e de o capitalismo produzir condições materiais durante um certo período, ca-
do finito”. Para elas, a realidade se apresenta como algo estranho a esses di- pazes de garantir sua expansão e, com isso, assegurar sua conservação como
reitos que, constituídos enquanto um projeto emancipatório, a representam modo de produção. O capitalismo é, assim, uma estrutura dinâmica que de-
como “um produto que se encontra fora de si” (ibid., 154). Da perspectiva pende da pressão constante por crescimento e da superação contínua de auto-
da dimensão temporal, esse processo de alienação implica compreender os limitações produzidas no movimento permanente de acumulação do capital.
direitos humanos como uma estrutura normativa vinculada ao futuro, isto Trata-se, em resumo, de uma engrenagem altamente sensível a seus pontos
é, à transformação da sociedade atual. Com isso, tais teorias sempre operam nevrálgicos que, quando atingidos, acionam processos que o levam a mudar
a partir de uma distância entre os direitos e o mundo: este último é trata- de pele com o fim de gerar um novo ciclo de estabilidade (Dörre 2012a, 41).
do como o outro, um presente desviante a ser negado e superado. Dessa Nesse sentido, a principal pergunta a orientar um programa de retomada do
distância é possível inferir uma pretensão teórica de não contaminação ou capitalismo como unidade de análise é: qual o papel dos direitos humanos no
indiferença do direito em relação ao real, de modo que nem a violação é atual movimento de reação capitalista a mecanismos bloqueadores da acumu-
considerada parte do universo jurídico, nem a observância é pensada à luz lação? Sua premissa é a de que a atual crise do sistema capitalista recolocou a
de processos sociais e assimétricos de produção. Enquanto normativo, esse necessidade de investigar a racionalidade objetiva dos direitos humanos, enten-
tipo de teoria é forçado, de um lado, a desconsiderar o presente ou a finitude didos como uma parte das relações sociais de produção, e que o estado atual do
em si como objeto da reflexão e, de outro, a excluir o discurso jurídico das debate não dispõe de instrumentos analíticos para compreender o movimento
relações objetivas em que se constitui. Neste sentido, as teorias normativas desses direitos à luz desta problemática.
dos direitos humanos são instrumentos de alienação do direito, pois o opõe Isso não implica reivindicar nem determinismo nem utilitarismo, como um
ao mundo, escondendo o processo real do qual ele faz parte. Executam, olhar antiprodutivista poderia sugerir. Tal olhar abrange tanto a crítica haberma-
assim, para se utilizar de uma outra expressão de De Giorgi (ibid., 23), o siana ao marxismo quanto a parsoniana às teorias consequencialistas (Therborn
esquecimento e a repressão da instância material. 1974, 255 ss). Enquanto a primeira considera o emprego da noção de trabalho
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Guilherme Leite Gonçalves Acumulação Primitiva, Direitos Humanos e Movimentos Sociais:
Esboço de Uma Provocação ao Giro Antiprodutivista
como um reducionismo do processo de formação do gênero humano à ação ex- trabalhos de Dörre (2009; 2010; 2012a; 2012b). O contexto contemporâneo
clusivamente instrumental (Habermas 1968, 58), a segunda sustenta a impossi- encontra-se profundamente marcado pelo debate em torno da expressão land
bilidade de constituição de uma teoria da sociedade baseada apenas em compor- grabbing, que se refere à aquisição ilegal de grandes porções de terras por com-
tamentos orientados pela satisfação das necessidades individuais (Parsons 1967). panhias transnacionais, governos estrangeiros ou pessoas privadas para produ-
Ambas reivindicam a consideração de um espaço referencial para normas e valo- zir alimentos ou biocombustíveis em alta escala (Zoomers 2010). Dörre, por sua
res sociais. O programa materialista aqui levantado fundamenta-se, ao contrário, vez, confere a esse fenômeno caráter conceitual e o transforma em uma teoria
em uma releitura do sentido da dimensão do trabalho. Seu ponto de partida é do desenvolvimento capitalista.
o de que a justaposição das duas críticas levou a um rebaixamento equivocado Para ele, a espoliação do espaço significa a formação do capitalismo em espa-
do conceito marxista de trabalho ao utilitarismo. Para Marx (1983, 402), toda- ços (áreas, terrenos ou ambientes) não-capitalistas (Dörre 2009, 36). Essa ideia
via, trabalho indica algo muito mais amplo, um produto histórico que, como tal, é influenciada pela noção de repetição da acumulação primitiva, formulada por
abrange não apenas “o próprio ato de produção” que “muda as condições objeti- Luxemburgo (1975) e desenvolvida por Harvey (2005). Ao identificar que ape-
vas”, mas também a cooperação social entre os homens, “criando novas forças e nas um valor relativo e limitado da mercadoria pode ser apropriado no local
representações, novos modos de comunicação e nova linguagem”. de sua produção (na fábrica, no comércio, na agricultura capitalista), o sistema
Fica claro, portanto, que o programa de retomada do capitalismo como uni- sempre necessita recorrer a um “fora” não-capitalista para realizar a mais-valia
dade de análise não abandona a dimensão de transformação social presente nas por completo (Luxemburgo 1975, 305 ss). Esse “fora” não-capitalista pode ser a
teorias dos direitos humanos correntes. A transformação, todavia, deixa de ser tomada de um ambiente já existente ou a produção de um espaço novo (Dörre
tratada como resultado de um horizonte normativo e se torna o efeito dos mo- 2009, 42; Harvey 2005). Com isso, o modelo de Dörre abre um leque explicativo
vimentos contraditórios, antagônicos e conflituosos da realidade material. Em para diversos fenômenos contemporâneos. Por exemplo, a mercantilização dos
comum, compartilha-se a ideia de que o presente é distorcido. Por outro lado, serviços públicos, os processos de privatização, a regulação da internet, os cer-
diferentemente das teorias normativas, essa distorção não é investigada a partir camentos de terras das comunidades indígenas, a desocupação de favelas com a
dos desajustes com a norma, e sim dos lugares e focos da produção dos atos ex- respectiva especulação imobiliária em seus terrenos etc.
propriadores, isto é, a partir da compreensão do processo de formação do trabalho Conforme o conceito de acumulação primitiva em Marx (2013, 1:742), essa
abstrato e da origem das formas de reificação (Eagleton 2012, 83 ss). Com isso, a necessidade de expansão significa expropriação dos grupos sociais dos espaços
emancipação deixa de ser reduzida, como faz Habermas (1968, 342 ss), à restaura- não-capitalistas, apropriação dos meios de produção por uma elite e o “divórcio
ção de processos comunicativos interrompidos. Depende, ao contrário, das con- entre os trabalhadores e a propriedade das condições de desenvolvimento do
tradições que a crise do próprio sistema produz (Marx e Engels 1969, 467–468). trabalho”, o que leva à formação de uma massa assalariada precarizada. Para
além de Marx, a teoria da espoliação do espaço não se limita a ver esse fenôme-
no como parte da “pré-história do capital”, isto é, como causa da superação da
2. Espoliação do espaço, direitos humanos e movimentos sociedade feudal, mas sim como fator determinante da dinâmica do desenvolvi-
sociais: articulações em torno da repetição da mento do próprio capitalismo (Dörre 2009, 36). Essa releitura preserva, porém,
de maneira intacta a principal contribuição do conceito originário de acumu-
acumulação primitiva
lação primitiva, qual seja, a espoliação é uma violência social, na medida em
A primeira etapa de um programa de retomada do capitalismo como unida- que implica conquista, subjugação e colonização, que depende de intervenção
de de análise consiste em resgatar o conceito marxista de acumulação primitiva política e regulação jurídica para se realizar (Marx 2013, 1:741–742). Na linha
do capital, o qual, da perspectiva da teoria sociológica, vem sendo desenvol- de Arendt (2011, 326), Dörre (2012a) conclui, assim, que a acumulação econô-
vido a partir da teoria do espoliação do espaço, cuja principal referência são os mica se dá permanentemente ao lado de uma acumulação de poder político.
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Guilherme Leite Gonçalves Acumulação Primitiva, Direitos Humanos e Movimentos Sociais:
Esboço de Uma Provocação ao Giro Antiprodutivista
*** Conforme o modelo da espoliação do espaço, pode-se afirmar que os direitos
humanos são o elo que viabiliza a expansão do capitalismo para as áreas não-ca-
Uma vez que as relações entre os espaços capitalista e não-capitalista são pitalistas. São, nesse sentido, o fator decisivo que torna possível a regeneração
construídas primariamente pela acumulação do capital global (multinacionais constante da acumulação primitiva do capital. Para tanto, funcionam como um
e governos estrangeiros), elas exigem mecanismos jurídico-políticos transnacio- aparelho ideológico, em que sua dimensão social é uma “distorção imaginária”,
nais. Nesse âmbito, insere-se a segunda etapa de um programa de retomada nos termos de Althusser (2010, 78), que, ao viabilizar sua aceitação pelos grupos
do capitalismo como unidade de análise: discutir o papel dos direitos humanos subalternos dos terrenos de “fora”, é a condição para expropriá-los por meio da
no processo de espoliação do espaço. Desde os anos 1970, costura-se uma nova introdução do direito de propriedade. Trata-se, nesse sentido, da “acumulação
formação capitalista – o capitalismo financeiro – caracterizado pelas políticas do poder político” necessária para a expansão do mercado (Arendt 2011, 326).
neoliberais de austeridade e por uma orientação ao mercado global. Concomi- Em pesquisa anterior, foi visto teoricamente como esse processo se presta
tante a essa nova formação nunca se viu uma expansão tão grande dos direitos a ampliar as posições de poder dos países do Norte em relação ao Sul global
humanos. Como explicar esse duplo movimento? (Gonçalves 2010; 2012). De uma perspectiva empírica, foi, também, analisado
Desde as considerações do jovem Marx (2006, 362 ss), é possível identificar a partir de um caso concreto – os direitos dos afrodescendentes na Corte In-
que os direitos humanos são um corpo unitário, dividido, no entanto, por dois teramericana de Direitos Humanos – como os direitos culturais serviram para
padrões de direitos: direitos que reforçam ou negam a essência associativa da considerar comunidades quilombolas como grupos fragilizados que são equipa-
vida humana. De uma lado, os droits du citoyen, que pressupõem a vinculação rados economicamente a trabalhadores da construção civil para receber indeni-
do homem em comunidade; de outro, os droits de l’homme, o direito de pro- zações a serem administradas por sectores “esclarecidos” da sociedade (Costa e
priedade e do homem egoísta, que se baseia no divórcio da vida associativa e Gonçalves 2011). Essas investigações confirmam o potencial analítico da tríade
no confinamento do social ao indivíduo (ibid., 362–364). Independentemente espaços capitalistas/direitos humanos/espaços não-capitalistas para explicar di-
do caráter humanista da formulação do jovem Marx, tem-se uma descrição do versos processos de ocupação e de precarização promovidos pelo capitalismo
sistema de direitos humanos como corpo uniforme que não pode prescindir das financeiro. Esse potencial se expressa, inclusive, em sua capacidade de variar
duas partes. Isso significa que a expansão dos direitos humanos implica amplia- a escala de análise de observação que pode apreender tanto fenômenos macro,
ção da cidadania e, também, da propriedade privada. como o regime europeu de austeridade, quanto intervenções locais, como as
Chimni (2006) oferece indícios para uma compreensão materialista das formas políticas de regularização fundiária, desocupação e especulação imobiliária nas
como esse processo opera no capitalismo financeiro. Para ele, o caráter político e favelas do Rio de Janeiro.
social dos direitos humanos é utilizado como meio de legitimidade para expansão
do sistema, o que, por sua vez, tem como consequência a difusão global e a trans- ***
nacionalização do direito de propriedade (ibid., 11). Na linguagem do jovem Marx
(2006, 366), a natureza comum do cidadão serve ao homem egoísta, à manutenção A terceira etapa de um programa de retomada do capitalismo como unida-
dos droits de l’homme. Tem-se, assim, um processo de permanente tensão, qual seja, de de análise consiste em identificar as contradições que são geradas no inte-
o caráter social dos direitos humanos é conclamado a viabilizar sua expansão, mas rior do movimento das áreas capitalistas para os terrenos não-capitalistas por
é limitado pelo fator originador da expansão (que também é parte integrante do meio dos direitos humanos. Conforme Chimni (2006, 26), é preciso repensar as
discurso de direitos humanos): a internacionalização dos direitos de propriedade potencialidades transformadoras a partir da relação inversa dos direitos huma-
(Chimni 2006, 11). Por esse motivo, as principais reconfigurações do capitalismo nos: para legitimar a propriedade, também se expandem direitos econômicos,
financeiro são, aos mesmo tempo, internacionalização dos direitos humanos, desre- sociais e políticos. Nesse ponto, a investigação do papel dos movimentos sociais
gulação do mercado de trabalho e ampliação da propriedade privada. é fundamental. Significa analisar, nos termos de Bringel e Falero (2008, 272),
68 69
Guilherme Leite Gonçalves Acumulação Primitiva, Direitos Humanos e Movimentos Sociais:
Esboço de Uma Provocação ao Giro Antiprodutivista
a capacidade de tais movimentos em afirmar a “desmercantilização de uma tado à teoria da espoliação do espaço, esse desafio implica abandonar a noção
necessidade”, isto é, subtraí-la da “atividade privada” e da “lógica do mercado” de Estado-Nação como unidade de análise, em razão da perda de importância
para construí-la “socialmente como direito coletivo”. do limite territorial nacional para a acumulação primitiva. Além disso, como os
Esse empreendimento depende da abordagem crítica de uma das principais movimentos sociais direcionam-se fortemente a uma disputa pelo espaço (mo-
discussões presentes nos estudos de ação coletiva: a relação entre movimentos radia, terra etc.) faz-se necessário observar em que medida a aquisição desses
sociais e instituições políticas (McAdam, Tarrow, e Tilly 1996). Se, na linha de direitos estão conectados à construção de uma nova territorialidade (ibid., 277).
Althusser (2010, 58–59), partirmos da interpretação de que um aparelho ide- Por fim, o terceiro desafio refere-se à construção de critérios para se identificar
ológico não é “alvo”, mas “lugar” de conflitos sociais, e que, em tais aparelhos, a existência de uma subjetividade coletiva entre as práticas sociais e os direitos
“a resistência das classes dominadas pode encontrar os meios e oportunidades (ibid., 273). Por tal subjetividade, entende-se uma “gama de percepções, represen-
para se expressar, utilizando as contradições que eles possuem e conquistando tações, ideias, sentimentos, expectativas e desejos” (ibid.). Para uma pesquisa so-
para si posições na luta social”, então a relação entre direitos humanos e espo- bre direitos humanos e movimentos sociais, é decisivo apreender em que medida
liação do espaço pode ser observada como processos regressivos que ativam, o avanço das elaborações jurídicas expandem ou limitam tal subjetividade (ibid.).
contraditoriamente, forças contra-hegemônicas.
Para compreender essa dinâmica, é preciso enfrentar um obstáculo concei- ***
tual e metodológico central: desenvolver critérios e conceitos que sejam capazes
de compreender em que medida os mecanismos de institucionalização e for- Em resumo, o desenvolvimento combinado de cada uma das etapas descritas
malização da estrutura discursiva dos direitos humanos são subvertidos pelos permitirá construir um sensor para coordenar pesquisas que busquem captar as
movimentos sociais. Isso significa construir instrumentos teóricos destinados a múltiplas dinâmicas e dimensões do entrelaçamento funcional entre direitos
testar a capacidade de resistência da ação coletiva ao caráter institucionalizan- humanos e expansão do capitalismo, bem como medir a capacidade de resis-
te dos direitos humanos que bloqueia a desmercantilização da necessidade. A tência e liberação de novas sociabilidades e práticas por parte dos movimentos
superação desse obstáculo epistemológico depende, como apontado por Bringel sociais. A consolidação desse modelo depende, no entanto, de um exame minu-
e Falero (2008, 269), da reatualização das variáveis analíticas dominantes na cioso. Aqui o objetivo foi apenas o de levantar algumas hipóteses e horizontes
agenda de pesquisa sobre movimentos sociais. Dentre as premissas levantadas metodológicos, deixando-os abertos para posteriores reflexões. Evidentemente
pelos autores, três são fundamentais, especialmente para se renovar as pesquisas que eles podem não ser confirmados no curso das investigações. Isto, no entan-
sobre direitos humanos e movimentos sociais. to, não invalida a necessidade premente (aberta com as crises contemporâneas
Em primeiro lugar, é necessário abandonar o conceito de sociedade civil e subs- e com a crítica histórico-materialista às teorias dos direitos humanos) de desa-
tituí-lo pelo de hegemonia (ibid., 271). Conforme Chatterjee (1990, 129 ss), a ideia fiar a ortodoxia e o dogmatismo do pensamento antiprodutivista.
de sociedade civil contém em si o fator de esgotamento dos projetos emancipatórios:
enquanto forma de homogeneização, tal ideia transforma demandas cotidianas em
ação institucionalizada e direcionada ao Estado, que a absorve por meio de catego-
Bibliografia
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gemonia, por outro lado, “formula o âmbito onde se configuram as práticas – clas- burg: VSA.
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Em segundo lugar, Bringel e Falero (ibid., 275) atentam para o desafio de semitismus, Imperialismus, Totalitarismus. München [u.a.]: Piper.
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Introdução
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que pesquisam e trabalham com história do direito. Estudiosos que já tiveram
McAdam, Doug, Sidney Tarrow, e Charles Tilly. 1996. “To Map Contentious contato com as obras de Arno Wehling, Gilberto Bercovici, Samuel Barbosa,
Politics”. Mobilization: An International Quarterly 1 (1): 17–34. Ricardo Marcelo Fonseca ou Airton Seelaender já conhecem grande parte dos
Offe, Claus. 1989. Arbeitsgesellschaft. Strukturprobleme und Zukunftsperspektiven. argumentos apresentados aqui.
Frankfurt a.M./New York: Campus. Esse ensaio é destinado àqueles que nunca tiveram contato com a obra des-
ses autores, que desconhecem o que é história do direito, ou àqueles que estu-
Parsons, Talcott. 1967. The Structure of Social Action: Marshall, Pareto, Durkheim. daram a história “do direito de romano, do Código de Hamurabi ou dos Gregos,
2 edition. Vol. 1. New York: Free Press. até a Constituição de 1988 ou o Código Civil de 2002.”
O que proponho aqui é um exercício de epistemologia da história do direito
Przeworski, Adam. 1995. Sustainable Democracy. Cambridge: Cambridge Uni-
versity Press. diferente daquela feita (ou não) pelos manuais de direito.
Esse ensaio é baseado em experiências docentes nas Faculdades de Direi-
Sadek, Maria T. 2000. Justiça e cidadania no Brasil. São Paulo: Editora Sumaré. to em que trabalhei, nas dezenas de bancas graduação, mestrado e doutorado
que participei e no material de pesquisa ao qual tive acesso em conjunto com
Santos, Boaventura de Sousa. 1977. “The Law of the Oppressed: The Construction
estudantes. Como professor de história do direito, acabo “passando” por vários
and Reproduction of Legality in Pasargada”. Law & Society Review 12 (1): 5–126.
ramos do direito: constitucional, trabalho, penal, civil etc. E alguma vezes, as
Therborn, Göran. 1974. “Jürgen Habermas: Ein neuer Eklektiker”. In Materialen atividades didáticas me obrigam à leitura de manuais e trabalhos dessas áreas.
zu Habermas’ >Erkenntnis und Interesse<, 244–67. Frankfurt a.M.: Suhrkamp. A ideia não é dizer que os manuais são instrumentos ruins para o aprendi-
zado do direito, pelo contrário. Os manuais têm uma função muito importante:
Vianna, Luiz Werneck, Marcelo Baumann Burgos, e Paula Martins Salles. são eles, em geral, que introduzem as temáticas aos pesquisadores e aos alunos
2007. “Dezessete anos de judicialização da política”. Tempo Social 19 (2): 39–85.
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seven processes driving the current global land grab”. Journal of Peasant Stu- 2 Professor de História do Direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Bolsista de
dies 37 (2): 429–447. Produtividade do CNPq e Pesquisador da FAPERJ. E-mail: gustavosiqueira@uerj.br
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