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A RELAÇÃO ENTRE AGÊNCIA E PODER EM SHERRY ORTNER

Por Victor Marcell Gomes Barbosa1

Sherry Beth Ortner é uma antropóloga cultural americana nascida em 1941,


e professora da UCLA desde 2004. A obra tomada por base para o presente
ensaio se intitula “Poder e Projetos: Reflexões sobre a agência” e está presente
no livro “Conferências E Diálogos: Saberes E Práticas Antropológicas”, de 2006.
Nosso objetivo principal é o de demonstrar, através do que foi apresentado pela
autora, a relação entre agência e poder. Para tanto, dividiremos esse trabalho
em partes. Numa primeira, definiremos a categoria agência; em seguida,
demonstraremos como agência e poder estão ligadas na teoria de Ortner para,
por fim, explicitarmos sua relação. A terceira e última parte é uma conclusão.

UMA DEFINIÇÃO DA CATEGORIA AGÊNCIA


O trabalho de Ortner começa com um levantamento histórico da relação
entre os estudiosos e a agência que não nos interessa, num primeiro momento,
abordar. Nos é necessário apenas definir que a agência é “todas as maneiras
como a ação aponta, cognitiva e emocionalmente, para algum propósito”
(ORTNER, 2006), ou seja, agência é a capacidade de agir em direção a um
propósito. Capacidade esta que, segundo Ortner, é universal, ou seja, todos os
indivíduos na sociedade a possuem. Usando o exemplo de Sewell presente em
seu texto, fica claro que:

“Assim como todos os humanos têm capacidade de linguagem, mas


precisam aprender a falar um idioma em particular, todos os humanos têm
também capacidade de agência, mas as formas específicas que esta assume
variam nos diferentes tempos e lugares” (SEWELL apud ORTNER, 2006)

Sendo assim, temos que a agência é a capacidade do indivíduo de agir,


mas que essa capacidade está ligada a maneiras de agir e a forças para
concretizar a ação, daí entender que a agência tem um caráter cultural (pois o
saber-fazer é aprendido em sociedade) e uma relação com o poder (pois a
capacidade de ação está ligada à posição que o indivíduo ocupa na sociedade).

1 Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS)


Definida a agência, nos sentimos na obrigação de retomar aqui a
observação da autora de que o enfoque dado a esta, quando excessivo ou
quando insuficiente, abarca em teorias que costumam dotar o indivíduo de maior
ou menos capacidade de intervir e transformar a sociedade na qual ele vive. Ou
seja, ao compreender o indivíduo como aquele com poder de transformação
social superior a uma estrutura social, temos indivíduos potentes o suficiente a
ponto de vencerem as desigualdades econômicas, de gênero, de etnia, enfim,
de poder; na via contrária, perceber a estrutura como superior em potência que
o indivíduo seria recair em teorias que sufocam o indivíduo como aquele que é
dominado e não tem como reagir e transformar a sociedade em que vive. Ambas
as teses atestam o contrário do que Ortner pretende com seu trabalho.
Explicaremos melhor a seguir, ao tratar a relação entre agência e poder.

A RELAÇÃO ENTRE AGÊNCIA E PODER

“Mas o que pretendo não é tanto ressaltar o contraste (embora este


exercício pudesse ser interessante), mas simplesmente concordar [...]
que uma teoria forte da agência (e, mais amplamente, uma teoria da
prática transformada) deve ser estreitamente ligada a questões de
poder e de desigualdade.” (ORTNER, 2006)

Para entender a relação entre agência e poder, Ortner começa seu tópico
“Três Mini-Ensaios Sobre Agência e Poder” explicitando que a agência está
inserida em dois campos de significado, a saber, tendo ligação ou com a
intencionalidade e a busca pela realização de projetos ou o campo que nos toca
nesse trabalho que é o do poder, onde o indivíduo age dentre relações de
desigualdade, assimetria e forças sociais. A autora chama a atenção para fato
da agência nunca ser “meramente um ou outro [pois] suas duas “faces” [...] ou
se misturam/transfundem um no outro, ou mantêm sua distinção, mas se
entrelaçam”. Como nos focaremos entre a relação agência e poder, não nos
deteremos nesse aspecto.

AGÊNCIA E PODER COMO UM CAMPO DE SIGNIFICADO


Tratemos aqui algumas afirmações da autora para, a partir delas,
discorremos sobre essa relação. A primeira afirma que a agência:

“pode ser praticamente sinônimo das formas de poder que as pessoas


têm à sua disposição, de sua capacidade de agir em seu próprio nome,
de influenciar outras pessoas e acontecimentos e de manter algum tipo
de controle sobre suas próprias vidas” (ORTNER, 2006)
Posteriormente, temos que, nesse sentido, a agência é possível tanto
dentre aqueles em posição de poder quanto naqueles em posição de subjugação
(o que reforça o caráter universal da agência que apresentamos anteriormente).
Sendo assim: “

“As pessoas em posições de poder “têm” [...] o que poderia ser


considerado “muita agência”, mas também os dominados sempre têm
certa capacidade [...] de exercer algum tipo de influência sobre a
maneira como os acontecimentos se desenrolam.” (ORTNER, 2006)

No presente trabalho, a autora encontra um ponto de equilíbrio, então,


dentre as teorias que dão excessivo ou nenhum poder ao ator social, visto que
ela aborda a questão da agência através da capacidade de agir, ou seja, das
ferramentas que o indivíduo dispõe para transformar a sociedade. Como
demonstrado na citação acima, todos os indivíduos possuem agência, ou seja,
capacidade de agir, que é influenciada pela posição que os indivíduos ocupam
na sociedade e também inclui em uma forma de agir valores culturais.

CONCLUSÃO
Algumas constatações se fazem necessárias, depois de explicitarmos o
significado e a dimensão da agência para Ortner. A primeira diz respeito à
importância de seu trabalho e à superação de teorias que, concordamos, não
davam conta de todos os problemas relativos a uma análise social; para além
disso, o logro de ter reunido em um artigo de relativamente poucas páginas um
levantamento sobre o pensamento social de diferentes autores em diferentes
momentos da história e articular esses pensamentos em uma direção específica;
por fim, ter chamado atenção por expor de forma clara, objetiva e coesa (como
se espera de todo trabalho científico) suas inovações e articulações.

Em resumo, Ortner traz um levante histórico e teórico-metodológico do


pensamento social voltado para a compreensão da relação indivíduo-estrutura,
deixando clara a sua contribuição com uma teoria da agência (capacidade de
agir) que leva em conta fatores culturais sem excluir relações de poder, que não
dota o ator social de onipotência, mas também não o subjuga a um lugar de
coadjuvante nas transformações sociais: o ator social ortiniano é, antes de mais
nada, um ser com capacidade de agir ilimitada em questão de modos de ação,
mas também limitado pelas relações de força dentro da sociedade.

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