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1Entre as principais obras de Lipovetsky encontram-se: “Do Luxo Sagrado ao Luxo Democrático”; “A
Era do Vazio”, “Ensaios Sobre o Individualismo Contemporâneo”; “A Felicidade Paradoxal: Ensaio
sobre a sociedade do hiperconsumo”; “O Império do Efêmero: a Moda e Seu Destino nas Sociedades
Modernas”; “A Inquietude do Futuro: o tempo hiper-moderno”; “O Luxo Eterno: da Idade do Sagrado ao
Tempo das Marcas”; “Metamorfoses da Cultura Liberal”; “A Sociedade da Decepção”; “A Sociedade
Pós-Moralista”; “Os Tempos Hipermodernos”; “A Terceira Mulher”; “A cultura-mundo: resposta a uma
sociedade desorientada”.
estar, no qual o acesso ao conforto, satisfação dos prazeres passa a ser a principal
motivação para a felicidade.
O consumo emocional, diferente do marketing tradicional, passa a mostrar para
o consumidor a importância da experiência e das memórias afetivas ligadas à marca.
A partir de experiências sonoras, odores de lojas e ambientes diferenciados,
estimulam os sentidos, envolvendo o consumidor que compra não mais pela qualidade
do produto, mas pelo seu conceito e visão de vida. É o imperativo da imagem a partir
do imaginário da marca.
Na sociedade do hiperconsumo, não se reprimem mais os “abusos” do
consumo. Pelo contrário, neste momento, os indivíduos não compram mais tão
motivados pela pressão social, mas motivados pela vontade, para a satisfação do
próprio prazer. Vivemos num momento de hedonismo, onde o indivíduo necessita para
a visibilidade social se apresentar como pleno, satisfeito e feliz.
“Sofro, logo compro”, representa a ideia central do que Lipovetsky analisa como
sendo as compras o ópio da sociedade que, quanto mais isolada e frustrada com a
solidão, tédio do trabalho, fragmentação da mobilidade social, segue buscando o
consolo na felicidade imediata proporcionada pelas mercadorias. A carência suprida
pela compra, pelas vivências extraordinárias proporcionadas pela indústria de
experiências e dos shoppings centers, apresentados como espaços de abstração e
divertimento para todos a qualquer hora. O consumo como forma de fazer
transparecer a condição de felicidade propiciada pelas novas experiências.
Na segunda parte do livro, Prazeres privados, felicidade ferida, são
apresentadas reflexões sobre como questões referentes aos desejos e frustrações
provocados a partir do impacto dos valores da publicidade e do individualismo são
processados pelos indivíduos. Nesta fase, a sociedade caracterizada como livre
defronta-se com mais paradoxos: é livre pelo direito conquistado pelas escolhas e
diversidade de opções, e ao mesmo tempo está presa pelas condições impostas pelo
mercado, pelas amarras da publicidade, valores culturais e pelas frustrações que não
consegue superar.
O autor aponta então o uso das “pílulas da felicidade” como sendo a
medicalização a saída encontrada para resolver as síndromes, pânicos e depressões
decorrentes não apenas do não saber lidar com situações de fracasso, mas também
como uma forma de fuga de enfrentamento de problemas reais e aceitação social.
O autor observa que a sociedade do hiperconsumo, assim como as fases
anteriores, também tem um “prazo de validade” corrente. E que sua exaustão se dará,
principalmente, a partir, da inversão dos valores atuais. Onde não mais será exaltado
o “super-homem”, perfeito e sem fraquezas; e o hedonismo já não constituirá o
princípio estruturante da vida. Comprar, adquirir e renovar não mais serão atos ligados
diretamente ao alcance da felicidade.
Com uma importante contribuição para a compreensão do sentido da felicidade
e do bem-estar nas sociedades modernas, o autor traz em seu trabalho reflexões
sobre o futuro da era do pós-hiperconsumo, a produção de sentidos na
contemporaneidade, sobre a sociedade da hipervalorização do “eu”. Faz-se
necessário o entendimento que, embora a felicidade ainda seja o principal motivador
das conquistas individuais, nem sempre poderá estar aguardando como um “fabuloso
destino”. Homens e mulheres precisam aprender a sustentar e trabalhar com suas
frustrações sem a necessidade imediata do ópio da mercadoria efêmera.
2 PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. Entrevista com Zigmunt Bauman. Tempo soc. [online]. 2004,
vol.16, n.1, pp. 301-325. ISSN 0103-2070. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-20702004000100015.
também está sob o signo da transitoriedade. Copiando o fast food, surge o instant
sex: adolescentes e jovens “transam” em encontros casuais, com uma multiplicidade
de parceiros. A instabilidade penetra nas relações de trabalho. A obsolescência da
mão-de-obra debilita o vínculo laborativo. Heróis nascem, têm vida efêmera e são
sepultados para sempre. Como sentenciou Marshall Berman:
3 O Globo. Para a classe média, o que prevalece é o capital cultural. Entrevista Jessé Souza Professor
da Universidade Federal de Juiz de Fora. Disponível em: http://oglobo.globo.com/economia/para-
classe-media-que-prevalece-o-capital-cultural-7914177. Acesso em 10.07.2016.
brasileiros, quatro foram ainda mais longe – disseram ter grande interesse pelo
assunto. O resultado da pesquisa, que tomou como base um trabalho da Organização
das Nações Unidas (ONU) chamado Is the Future Yours? 4 (O Futuro É Seu?), foi
significativo: os brasileiros ficaram em primeiríssimo lugar no ranking desse quesito,
deixando para trás franceses, japoneses, argentinos, australianos, italianos, indianos,
americanos e mexicanos. Ou seja, vai gostar de consumir assim lá no shopping center.
Outra pesquisa, feita pelo Instituto Ipsos-Marplan, constatou que 37% dos
jovens fazem compras em shoppings, contra 33% dos adultos. Nem sempre os mais
novos adquirem produtos mais caros, mas, proporcionalmente, têm maior afinidade
com as vitrines. A lista de vantagens dos adolescentes sobre outros públicos é de tirar
o fôlego: eles vão mais vezes ao cinema, viajam com maior frequência, compram mais
tênis, gostam mais de roupas de grife – mais caras que as similares sem marca
famosa –, consomem mais produtos diet, têm mais computadores, assistem a mais
DVDs e vídeos e, só para terminar, são mais vorazes na hora de abocanhar balas,
chicletes e lanches. Não é à toa que a falência antes do fim do mês é maior entre os
jovens: invariavelmente atinge quase a metade deles, que estoura a mesada ou o
salário.
Religião do Consumo
A maioria das igrejas cristãs (católicas e evangélicas) nos últimos anos, tem
buscado se adaptar às mudanças da sociedade, decorrentes do deslocamento do
4 UNEP/UNESCO. Is The Future Yours? Research Project on Youth and Sustainable Consumption
http://www.unep.fr/shared/publications/pdf/2884-IsFutureYours.pdf. Acesso em 10/07/2016.
5 Revista Cult. A vocação literária de Frei Betto. http://revistacult.uol.com.br/home/2015/05/a-vocacao-
6A palavra religare é formada pelo prefixo re (outra vez, de novo) e o verbo ligare (ligar, unir, vincular).
O religare, nesse sentido, é a forma primeira de vínculo, concebida não só como vínculo entre homens
e seus deuses, mas especialmente entre os próprios homens. Embora a religião ambicione ligar, unir
os homens, ela foi e é, muitas vezes, motivo de separação e guerras entre eles. A religião une os iguais
e é pretexto para separar os diferentes (MIKLOS, 2012, p. 18).
Nesse cenário, emerge a "religião a la carte" em que a questão religiosa passa
a ser opcional, de acordo com a preferência do indivíduo, uma vez que assistimos ao
desaparecimento das verdades de fé e ao crescimento da emergência da
subjetividade para normatizar a experiência religiosa, que passa a ser privatizada
oferecendo ao fiel-consumidor no mercado religioso bens como: cura de doenças,
realização no amor, sucesso dos negócios, cotidiano sem angústias, superação de
problemas e o sentido da vida. Trata-se da Religião do consumo conforme a reflexão
de Frei Betto:
Referências
_____. 44 cartas para um mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2012.