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Novas e “reformuladas” terapias

Psicoterapia Interpessoal

Introdução às Psicoterapias

Matheus Fernandes Corsete (nº 47484)

2014/2015
A Psicoterapia Interpessoal é um tratamento breve, estruturado e focal que busca
incentivar o cliente a recuperar o controlo do seu humor e funcionamento. É uma terapia
baseada no princípio de que existe uma relação entre a forma como as pessoas
comunicam e interagem entre si e a sua saúde mental. As questões interpessoais aqui
são entendidas como um fator na origem e manutenção do sofrimento psíquico. Sendo
assim, esta psicoterapia tem por objetivo a resolução dos sintomas apresentados pelo
cliente através da melhoria das suas capacidades interpessoais e o aumento de apoio
social.

O surgimento deste modelo psicoterapêutico deu-se no início da década de 70,


sendo desenvolvido por Klerman, Weissman e colaboradores da Universidade de Yale
como um tratamento breve para a depressão maior em adultos, estruturado em mais ou
menos 12 sessões semanais. Com o decorrer dos anos, a Terapia Interpessoal foi
intensamente avaliada por inúmeras investigações e ensaios clínicos em relação à sua
eficácia em termos da diminuição dos sintomas depressivos. Atualmente, existem cerca
de 250 estudos empíricos que suportam a eficácia e a efetividade da Psicoterapia
Interpessoal, apresentando resultados favoráveis não só no tratamento da depressão, mas
também no tratamento de outros transtornos, incluindo a distimia; perturbação da
ansiedade; bipolaridade; dependência de substâncias psicoativas; transtornos
alimentares; perturbação do stress pós-traumático; e em grupos especiais de clientes,
como adolescentes e idosos.

No que diz respeito às bases teóricas, a Psicoterapia Interpessoal fundamenta-se


no modelo biopsicossocial de explicação para os transtornos mentais, pressupondo que
a psicopatologia é o resultado da interação de fatores biológicos e interpessoais.
Indivíduos com maior predisposição genética para o desenvolvimento de uma doença
mental apresentam maior probabilidade de desenvolvê-la se experimentarem uma
situação de stress interpessoal. Esta terapia também apresenta como referenciais a
Teoria da Vinculação de Bowlby (afirma que o estilo de apego formado, seguro ou
inseguro, determina o comportamento da pessoa nos seus relacionamentos com os
outros), a Teoria da Comunicação de Kiesler & Benjamin (intimamente ligada à Teoria
da Vinculação, lida com a forma com que o indivíduo comunica suas necessidades de
apego), a Teoria Social de Henderson (refere o baixo suporte social como um fator
causal para problemas psicológicos), e a Teoria Interpessoal Psicodinâmica de Sullivan
(que contribui para o conteúdo do modelo em questão). Sendo assim, indivíduos que

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apresentam um estilo de apego inseguro, ao enfrentarem uma situação de stress, tendem
a comunicar mal e não procurar ajuda no seu meio social. Por fim, não têm as
necessidades de apego satisfeitas, sentem-se frustrados e isolados e apresentam maior
propensão a desenvolver algum transtorno mental.

Conforme anteriormente referido, a Psicoterapia Interpessoal é um tratamento de


curto prazo, focal, centrado no “aqui e no agora”. Baseia-se na premissa de que os
problemas interpessoais atuais do cliente estão ligados aos sintomas psicológicos
apresentados - as problemáticas interpessoais podem agir como desencadeadores ou
mantenedores destes sintomas. Lida mais com estes relacionamentos interpessoais do
que os passados, focalizando o contexto social imediato do indivíduo, e visando uma
melhora na capacidade de comunicação e funcionamento interpessoal do cliente de
modo a aliviar o sofrimento. Busca intervir mais na formação dos sintomas e na
disfunção social associada com o transtorno em questão do que propriamente em
aspectos da personalidade - a Psicoterapia Interpessoal não almeja ser uma forma de
terapia abrangente, mas sim manter o seu caráter focal e ligado à melhora dos sintomas
da doença, não pretendendo tratar a personalidade do cliente.

Este modelo psicoterapêutico contextualiza os problemas interpessoais em 4


áreas problemáticas, que são consideradas focos de atenção e serão trabalhadas ao longo
da terapia, conforme cada caso: o luto (área na qual o terapeuta busca trabalhar a relação
do cliente com a pessoa falecida, como também a perda), disputa de papéis interpessoais
(área que envolve o conflito em uma relação significativa, afetiva ou profissional),
transição de papéis (área na qual o terapeuta trabalha as dificuldades do cliente em
enfrentar e lidar com as mudanças e novos papéis da vida, auxiliando o cliente a encarar
o novo papel de forma mais positiva), e déficits interpessoais (caracterizados pela
dificuldade do cliente em se relacionar com os outros devido à sua forma de ser, o que
pode ser um fator importante no desenvolvimento de alguma psicopatologia).

Em relação às práticas terapêuticas, o terapeuta interpessoal apresenta uma


postura descontraída e de suporte. Tem por objetivo ser aliado do cliente, sempre
reforçando habilidades interpessoais saudáveis no indivíduo. Quanto às técnicas
utilizadas, destacam-se as exploratórias (uso de questões abertas, silêncio receptivo,
entre outros), o encorajamento da expressão de afetos pelo cliente, a clarificação (que
tem a intenção de tornar o cliente consciente do que realmente foi comunicado), a

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análise da comunicação (usada para examinar e identificar falhas comunicacionais, para
ajudar o cliente a aprender a se comunicar melhor), a modificação comportamental
(através da modelagem e educação do cliente) e o role-playing (no qual o terapeuta
toma o papel de algum relacionamento da vida do cliente, de modo a explorar os
sentimentos e estilo do mesmo na comunicação com outros e para criar novas maneiras
de relacionamento com outras pessoas).

A Psicoterapia Interpessoal realmente apresenta algumas vantagens. Após esta


breve análise, concluo que a brevidade desta terapia constitui-se numa mais-valia para o
cliente, pois, por ser breve, espera-se que apresente resultados logo de início. Livra o
cliente da possibilidade de desânimo com o processo terapêutico, é menos dispendiosa e
tem início, meio e fim bem definidos. A sua comprovada eficácia, validada
empiricamente, transmite segurança ao cliente, pois o seu tratamento não será “mais um
teste”, mas sim um procedimento baseado cientificamente. Outro ponto positivo desta
psicoterapia é a sua aplicação aos adolescentes, em especial. Num mundo
contemporâneo no qual esta faixa etária experimenta contatos interpessoais em
crescente quantidade, o relacionamento passa a constituir uma preocupação primordial,
sendo que esta terapia passa a constituir uma ferramenta muito importante. Mesmo
carecendo de vasta experiência do terapeuta, ela se apresenta como uma ótima aliada no
tratamento especialmente da depressão, atuando conjuntamente com a farmacoterapia
utilizada, potencializando assim os resultados positivos.

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