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Antes de responder essa indagação, aquele que se prepara para um concurso público
deve ser abster de suas convicções pessoais e opiniões mais extremistas. Direitos Humanos é um
tema apaixonante e recomendo que os senhores, se possível, se aprofundem no tema após suas
aprovações, tenho certeza que isso irá torná-los profissionais mais sensíveis as duras realidades
que surgirão em seu cotidiano profissional. Neste material iremos abordar de modo sistemático
e sintático os temas mais abordados em concursos públicos sobre Direitos Humanos de acordo
com o editais do Ministério Público.
É possível identificar marcos distintivos dos Direitos Humanos que os diferenciam dos
demais “direitos” e que demonstram sua essencialidade a promoção e proteção da dignidade
humana. Podemos traçar como principias características dos Direitos Humanos:
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André de Carvalho Ramos (2016, p.25) afirma:
d) Reciprocidade - Os Direitos Humanos não são direitos isolados e pontuais, mas sim
uma teia que congrega todas as pessoas, não só de modo ativo, mas também passivo (Não é
apenas o Estado que deve proteger e promover os DH, todas as pessoas também possuem esse
dever);
j) Inalienabilidade- Afirmar que os DH são inalienáveis, não significa afirmar que seja
impossível atribui uma dimensão pecuniária decorrente da violação desses direitos. Exemplo:
O direito à saúde é um direito fundamental que deve ser protegido e promovido, caso não
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haja o respeito a esse dever caberá a possível reparação pecuniária, se afirmarmos que os DH
não possuem nenhum aspecto pecuniário impossibilitaríamos a indenização (lembre-se da
interpretação pro-homine).
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l) Historicidade- Os DH não foram conquistados de modo homogênio e automático,
são frutos de lutas históricas.
As dimensões dos Direitos Humanos é uma teoria desenvolvida por Karel Vasak e
difundida por Noberto Bobbio que visa explicar a evolução dos Direitos Humanos com esteio
nos lemas da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade).
2ª geração à Igualdade à São direitos de caráter mais social que forma frutos de lutas
que buscaram melhorar as condições de vida pós revolução industrial. Portanto, são direitos
que impõe um dever de atuação do Estado. Exemplos: direitos econômicos, sociais e coletivos.
Marcos históricos: Constituição de Weimar (alemã) e Constituição mexicana.
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Vasak).
A teoria das dimensões dos Direitos Humanos é bastante criticada pela doutrina por
transparecer uma ideia de sucessão temporal ou uma relação hierarquizada entre as gerações,
quando na verdade não há uma substituição de uma geração pela outra ou tampouco qualquer
relação de hierarquia. Os DH são uma universalidade de direitos que interagem entre si de modo
dinâmico, exemplo: o direito à propriedade (direito de 1ª geração) relaciona-se com a função
social (2ª geração) e com o direito ao meio ambiente saudável (3ª geração).
“Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para
justificar o inadimplemento de um tratado.”
A norma interna para o direito internacional nada mais é do que mero fato. Se o texto
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da Constituição Federal violasse as normas de DH, tal fundamento não seria apto a impedir a
responsabilização internacional.
Contudo, por não prever mecanismos de proteção e não detalhar os direitos previstos
foram editados dois importantes pactos complementares a DUDH: Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais (PIDESC).
Como mencionado cabe a ONU monitorar a proteção dos DH no sistema global para
tanto foram criados órgãos de proteção e monitoramento, dentre os principais estão:
a) Alto Comissariado das Nações Unidas Para os Direitos Humanos- órgão não
convencional criado em 1993 que tem como principal objetivo monitorar os Estados e promover
os DH (não recebe denúncias). Compõe a estrutura da Secretaria Geral da ONU;
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iremos tratá-lo com mais profundidade (na última prova do MP/SP 3 questões abordaram o
sistema regional ).
Questão recorrente em prova: a CADH foi ratificada pelo Brasil em 1992 (Decreto nº
698/1992), mas o reconhecimento da competência da Corte Interamericana de DH ocorreu tão
somente em 1998.
A Convenção tem um foco maior nos direitos políticos e civis no mesmo modelo do
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, os direitos sociais foram especificados apenas
no protocolo adicional de São Salvador.
O rol dos DH previstos na CADH está elencado em apenas 32 artigos, é uma leitura
rápida e fácil que certamente renderá vários pontos preciosos na sua prova. Irei abordar apenas
os artigos com maior relevância ou que necessitam de algum esclarecimento, mas ressalto
novamente que é imprescindível que o aluno leia toda a convenção.
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1. Os Estados-partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar
os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e
pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem
discriminação alguma, por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião,
opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou
social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição
social.
2. Para efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.
O artigo 1º reforça a universalidade e a inerência dos DH, vedando que seja realizada
qualquer discriminação que impossibilite o reconhecimento dos DH. Bem como impõe aos
Estados o dever não só de respeito aos DH, mas também de promoção e garantia dos DH.
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concepção. Contudo, todas as normas devem ser interpretadas de acordo com o princípio pro
homine e de modo progressista. Nesse sentido André de Carvalho Ramos (2015, p.241):
No tocante a pena de morte, a CADH não a veda. Porém, impossibilita que ela seja
restabelecida nos países em que tenha sido abolida (aplicação prática do efeito cliquet) e a veda
para delitos políticos e delitos comuns conexos com políticos. Lembre-se que o Brasil ainda
não aboliu a pena de morte, posto que a admite como pena em crimes de guerra previstos no
Código Penal Militar.
1º fase - Convivência Tutelada- A pena de morte é tolerada como pena para alguns
delitos tidos como os graves. Delitos graves para fins de punição com morte são
aqueles que envolvem a vida, portanto a previsão de pena de morte para os crimes
relacionados ao tráfico de drogas viola as normas de DH;
2ª fase - Banimento com exceção- A pena de morte é vedada para crimes comuns,
sendo permitida apenas em situações de exceção, a exemplo de guerras. É o estágio
no qual o Brasil se encontra;
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autoridade judiciária competente. Tais trabalhos ou serviços devem ser
executados sob a vigilância e controle das autoridades públicas, e os
indivíduos que os executarem não devem ser postos à disposição de
particulares, companhias ou pessoas jurídicas de caráter privado;
b) serviço militar e, nos países em que se admite a isenção por motivo
de consciência, qualquer serviço nacional que a lei estabelecer em lugar
daquele;
c) o serviço exigido em casos de perigo ou de calamidade que ameacem
a existência ou o bem-estar da comunidade;
d) o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.
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pessoa ou por outra pessoa.
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os
mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude
de inadimplemento de obrigação alimentar.
O artigo 7.5 afirma que a condução perante o juiz deve ocorrer “sem demora”, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos afirma que deve ser analisado o caso concreto para que se
possa estabelecer um parâmetro temporal para a apresentação. No Brasil o CNJ determina que
a audiência deve ocorrer em 24 horas, com lastro no prazo previsto no parágrafo 1º do artigo
306 do CPP.
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assegurar:
a) o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;
b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou
da moral públicas.
3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias e meios
indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de
papel de imprensa, de frequências radioelétricas ou de equipamentos e
aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros
meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de idéias e
opiniões.
4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia, com
o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da
infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2.
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda
apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento
à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência.
O artigo 13.3 foi utilizado como fundamento pelo STJ para declaração de
inconvencionalidade do crime de desacato, previsto no artigo 331 do CP (REsp 1640084/SP). O
crime de desacato acarreta o resfriamento (chilling effect) do direito à liberdade de expressão
porque ameaça com prisão e multa aqueles que manifestam criticas aos funcionários públicos.
A prisão é medida extrema que não deve ser adotada como meio de inibir possíveis
ofensas extremadas e infundadas, para tanto cabem medidas repertorias cíveis.
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3. Todo Estado-parte no presente Pacto que fizer uso do direito de
suspensão deverá comunicar imediatamente aos outros Estados-
partes na presente Convenção, por intermédio do Secretário Geral da
Organização dos Estados Americanos, as disposições cuja aplicação
haja suspendido, os motivos determinantes da suspensão e a data em
que haja dado por terminada tal suspensão.
Esse artigo é sem dúvidas o mais cobrado em provas, especialmente o item 2. Não
podem ser suspensos em nenhuma hipótese os seguintes direitos:
A Convenção pode ser denunciada, porém isto somente pode ocorrer após 5 anos de
sua entrada em vigor no âmbito interno do país denunciante e deverá ser observado o lapso
temporal mínimo de 1 ano após a notificação da Secretária Geral da OEA para que a denúncia
seja apta a produzir efeitos jurídicos. Segundo a jurisprudência da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, a denúncia da Convenção não isenta da responsabilidade internacional
pela violação aos DH ocorridas anteriormente a denúncia. Assim mesmo que um país tenha
denunciado a CADH ele poderá ser investigado e processado pelos órgãos que compõe o
Sistema Interamericano de Proteção e Promoção dos DH.
A CADH prevê dois órgãos com competência para conhecer assuntos relacionados
com a Convenção: Comissão Interamericana dos Direitos Humanos e Corte Interamericana de
Direitos Humanos.
A Comissão é composta por 7 membros eleitos pela OEA que gozem de alta autoridade
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moral e de reconhecido saber acerca dos DH para mandato de 4 anos, sendo possível uma única
recondução. Não é admitido dois membros da mesma nacionalidade propiciando que haja uma
maior representatividade da Comissão.
A Comissão, como órgão da CADH, pode receber tanto petições individuais quanto
denúncias interestatais sobre violações aos DH. Para que a Comissão possua receber petições
individuais contra determinado Estado é necessário que ele não tenha ressalvado essa
possibilidade quando da ratificação da Convenção. Portanto, o processamento individual sobre
violações aos DH é facultativo, sendo obrigatórios apenas os resultantes de comunicações
interestatais.
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a) não preencher algum dos requisitos estabelecidos no artigo 46;
b) não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos garantidos
por esta Convenção;
c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for
manifestamente infundada a petição ou comunicação ou for evidente
sua total improcedência; ou
d) for substancialmente reprodução de petição ou comunicação anterior,
já examinada pela Comissão ou por outro organismo internacional.
A denúncia pode ser formulada por qualquer pessoa ou entidade, ou seja, não só a
vitima da violação dos DH possui legitimidade para acionar a Comissão, não sendo necessário
sequer sua aquiescência da denúncia.
Tanto no caso de uma solução amistosa ou não enviará relatório a OEA para que
esta tome conhecimento do ocorrido. Se não houver acordo será emitido um primeiro relatório
que estabelecerá um prazo de 3 meses para que o Estado solucione o caso, caso isto não
ocorra se o Estado estiver sob competência da Corte a Comissão poderá remeter o caso para
que seja apreciado. Se o Estado não tiver reconhecido a competência da Corte (exemplo: EUA),
será elaborado um segundo relatório com novas recomendações que deverão se observadas
em prazo estipulado e caso não o sejam será o caso encaminhado para Assembleia Geral da
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OEA para que adote as medidas que julgar cabíveis (normalmente admoestações ou sanções
econômicas).
Esquematizando:
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A Corte é composta por 7 membros, com alta autoridade moral e reconhecida
experiência em DH e que reúnam condições para o exercício da mais elevada função judicial de
açodo com as suas leis nacionais, para mandatos de 6 anos com uma possível recondução. Não
confunda!!! O mandato do membro da Comissão é de 4 anos, já o mandato na Corte é de 6 anos.
Outro ponto que merece destaque é a garantia que a CADH oferece que o Estado ao
ser julgado pelo Corte contará com ao menos um juiz nacional do país a ser julgado. Caso não
haja juízes do país que está sendo processado por violações ao DH deverá ser nomeado um juiz
ad hoc para o caso. Contudo, a jurisprudência da Corte ao interpretar essa disposição da CADH
restringiu a obrigatoriedade do juiz ad hoc no caso de inexistência de juiz nacional do Estado
denunciado nos casos de denúncias interestatais. Portanto, nos casos remetidos pela Comissão
oriundos de denúncias individuais não é cabível a designação do juiz ad hoc.
A Corte somente poderá julgar casos que envolvam ameaças ou violações aos DH
que tenham ocorrido após a aceitação da sua jurisdição (cláusula ratione temporis). Contudo,
no caso Gomes Lund x Brasil (denúncia contra tortura, morte, ocultamento dos cadáveres e
desaparecimento forçados dos membros da chamada guerrilha do Araguaia durante a ditadura
militar) a Corte entendeu que possui competência para o caso apesar do Brasil somente ter
reconhecido sua jurisdição em 1998 por se tratarem de delitos permanentes.
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Durante o trâmite do processo a Corte pode impor medidas provisórias em casos de
extrema urgência e com o fito de evitar danos irreparáveis a pessoas. As medidas provisórias
podem ser concedidas de ofício ou em razão de requerimento das partes.
Cuidado!!! Medida cautelar é proferida pela Comissão e medida provisória pela Corte.
Outra grande diferença entre elas é que a medida cautelar não é vinculante porque não está
prevista no texto da CADH, mas sim no regulamento da Comissão, já a medida provisória é
vinculante por que está expressamente prevista no texto da Convenção.
Caso o Estado condenado não cumpra a sentença ele estará cometendo uma nova
infração aos DH pela qual poderá novamente ser responsabilizado.
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No tocante a incorporação dos tratados internacionais o Brasil adotou a Teoria da
Junção de Vontade, ou seja, para que seja cumprido todo o trâmite necessário a incorporação
do tratado no ordenamento interno é necessário a participação do executivo e do legislativo.
O Brasil não adota a teoria monista, segundo a qual a partir da ratificação o tratado
já é norma de direito interno.
Após a Constituição de 1988 havia certa celeuma acerca da hierarquia dos tratados
de DH na ordem jurídica interna, ou seja, se possuiriam status de norma ordinária, supralegal
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ou de matéria constitucional.
Ao afirmar que os tratados de DH, mesmo que não aprovados pelo rito previsto na EC
45, possuem natureza jurídica supralegal o STF os exclui dos critérios tradicionais de resolução de
antinomia. Portanto, independentemente de serem posteriores ou mais especificas as normas
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internas devem ser compatíveis com os tratados de DH. O voto do Ministro Gilmar Mendes no
caso da prisão do depositário infiel ilustra bem o exposto acima:
A Convenção da ONU para pessoas com deficiência e seu protocolo adicional foram
aprovados possuem status de emenda constitucional (Decreto nº 6.949/2009). Cumpre destacar
quem novembro de 2016 entrou em vigor o tratado de Marraqueche que dispõe sobre os
direitos humanos das pessoas cegas, porém apesar de aprovado pelo Congresso Nacional sob
o rito da EC 45/2005 e do tratado já está em vigor ainda não houve a promulgação do decreto
executivo do Presidente da República
Por fim, é válido mencionar a Teoria do Trapézio desenvolvida pela professora Flávia
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Piovesan. Segundo a ilustração piramidal de Kelsen a Constituição Federal se situa no ápice
do sistema jurídico. Tal disposição organizacional expõe um ordenamento jurídico endógeno
e autorreferencial, sem uma maior influência do direito externo. Em contraproposta ao modelo
tradicional Flávia Piovesan afirma que devemos entender o sistema jurídico como um trapézio,
o ápice do ordenamento é alargado para que seja ocupado tanto pela Constituição Federal
quanto pelos tratados de DH.
CF CF Tratados de DH
6. Controle de Convencionalidade
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a) Controle de convencionalidade de matriz internacional/ controle definitivo/
controle autêntico - é de competência dos órgãos internacionais compostos por julgadores de
várias nacionalidades, eleitos especificamente e previamente para tanto. A grande vantagem do
controle de convencionalidade autêntico é o impedimento de que os Estados sejam ao mesmo
tempo fiscais e fiscalizados. No controle de convencionalidade definitivo os parâmetros são os
tratados internacionais e o objeto são as normas internas, até mesmo a Constituição Federal.
Exemplos: Corte Europeia de DH, Corte Interamericana de DH.
Contextualizando: Em abril de 2010 no bojo da ADPF 153 o STF decidiu que a anistia
concedida aos crimes políticos e conexos cometidos durante o período da ditadura militar
é constitucional porque tratou-se de uma anistia ampla que contemplou tanto os agentes
públicos quanto os civis. Em novembro do mesmo ano a Corte Interamericana de DH condenou
o Brasil no Caso Gomes Lund em razão da incompatibilidade da lei de anistia com a CADH e
determinou a investigação e punição dos agentes da repressão política responsáveis pela mortes
e desaparecimentos forçados de integrantes da guerrilha do Araguaia ( apesar das violações aos
DH terem ocorrido na década de 70, muito antes da ratificação da CADH pelo Brasil, a Corte se
julgou competente por entender que tais crimes são de efeitos permanentes).
7. Igualdade Racial
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odiosa que assegure uma fruição satisfatória de uma vida digna.
A igualdade material não deve excluir a formal, elas se complementam, e somente por
meio da junção de ambas é possível o pleno respeito dos DH. Se todas as pessoas são titulares
dos DH (universalismo) consequentemente todas devem ter acesso a fruição destes direitos. Só
há universalidade com igualdade.
• Igualdade perante a lei- nada mais é do que a igualdade formal, de direito, pleiteada
nas revoluções liberais do século XVIII. Afirma-se que a igualdade perante a lei é
destinada aos poderes executivos e judiciário que devem buscar a proporcionalidade
na aplicação indistinta das normas.
• Igualdade na lei- é igualdade socioeconômica por meio da justiça social. Deve ser
observada pelo legislador no momento da elaboração das normas.
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a discriminação injusta indireta/ invisível é muito mais sutil e por isso mais difícil de
ser combatida, consubstancia-se na adoção de critérios aparentemente neutros, mas
que, no caso concreto, geram impactos desproporcionais em um grupo.
Nos concursos do MP/SP ocorridos em 2015, 2013 e 2012 foram cobrados sempre
uma questão acerca do Estatuto da Igualdade Racial, lei nº 12.288/2010. Há um histórico de
cobrança do estatuto por isso não deixem de ler, uma questão pode ser o fio da balança para
aprovação para a fase subjetiva. O estatuto possui 65 artigos irei transcrever abaixo os mais
cobrados (mas não deixem de ler a lei na integra).
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pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam
autodefinição análoga;
V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo
Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais;
VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados
pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades
raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades.
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beneficiarão de todas as iniciativas previstas nesta e em outras leis para
a promoção da igualdade étnica.
Outros artigos que julgo interessantes e que possuem alta probabilidade de cair em
prova são os seguintes:
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Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações socioeducacionais
realizadas por entidades do movimento negro que desenvolvam
atividades voltadas para a inclusão social, mediante cooperação técnica,
intercâmbios, convênios e incentivos, entre outros mecanismos.
Art. 15. O poder público adotará programas de ação afirmativa.
Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos responsáveis
pelas políticas de promoção da igualdade e de educação, acompanhará
e avaliará os programas de que trata esta Seção.
Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das sociedades
negras, clubes e outras formas de manifestação coletiva da população
negra, com trajetória histórica comprovada, como patrimônio histórico
e cultural, nos termos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal.
Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades dos
quilombos o direito à preservação de seus usos, costumes, tradições e
manifestos religiosos, sob a proteção do Estado.
Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos sítios detentores
de reminiscências históricas dos antigos quilombos, tombados nos
termos do § 5o do art. 216 da Constituição Federal, receberá especial
atenção do poder público.
Art. 19. O poder público incentivará a celebração das personalidades e
das datas comemorativas relacionadas à trajetória do samba e de outras
manifestações culturais de matriz africana, bem como sua comemoração
nas instituições de ensino públicas e privadas.
Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da capoeira,
em todas as suas modalidades, como bem de natureza imaterial e de
formação da identidade cultural brasileira, nos termos do art. 216 da
Constituição Federal.
Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio dos atos
normativos necessários, a preservação dos elementos formadores
tradicionais da capoeira nas suas relações internacionais.
Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da população negra
às práticas desportivas, consolidando o esporte e o lazer como direitos
sociais.
Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação nacional,
nos termos do art. 217 da Constituição Federal.
Art. 25. É assegurada a assistência religiosa aos praticantes de religiões
de matrizes africanas internados em hospitais ou em outras instituições
de internação coletiva, inclusive àqueles submetidos a pena privativa
de liberdade.
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discriminações injustificáveis, vedando o tratamento desigual ao que estejam numa mesma
situação e determinando que sejam promovidas distinções justificáveis para aqueles que se
encontram em uma situação vulnerável.
O presente material visa dar um norte para os estudos de vocês, mas não tem a
finalidade de exaurir a matéria. Os Direitos Humanos são uma fonte inesgotável de estudo e
sugiro a vocês que, se possível, se aprofundem na matéria, internalizem seus princípios e os
coloquem em prática no momento em que estiverem atuando. Em breve vocês serão promotores
de justiça e se depararão com uma realidade muito dura que por mais que nos sabemos que
ela existir ao se defrontar com a face de uma criança que não come a dias, que foi estuprada,
com uma mãe que clama pela internação de seu filho drogado que a ameaçou de morte, com
adolescentes usados como engrenagem do tráfico, nos chocará e acenderá o desejo pela luta
da igualdade social e pelo respeito aos direitos humanos.
Por fim, os deixo com o preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
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