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A PESSOA JURÍDICA E O ENTE FORMAL COMO AUTOR NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

Marcelo Angeli*

A Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que instituiu o Juizado Especial Cível e Criminal, tem, dentre seus objetivos, a
facilitação do acesso à Justiça, não só para as causas de menor complexidade jurídica, mas, também, para os
hipossuficientes, e aos ramos da economia que necessitem de uma maior celeridade na solução de litígios.

Nos termos do § 1º do artigo 8º da Lei 9.099/95 [1] , “somente as pessoas físicas serão admitidas a propor ação perante o
Juizado Especial”. Assim, as pessoas jurídicas estão excluídas da possibilidade de figurarem no pólo ativo das demandas
ajuizadas nessa Justiça especializada.

Não obstante a restrição contida no artigo citado, a microempresa e a empresa de pequeno porte poderão figurar no pólo ativo
sob o rito da Lei nº 9.099/95.

A Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, que revogou a Lei nº 9.841/99, que instituiu o Estatuto da
Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, dispondo sobre o tratamento jurídico diferenciado, simplificado e favorecido,
previsto nos artigos 170 [2] e 179 [3] da Constituição Federal, autorizou essas empresas demandarem nos Juizados Especiais,
nos termos de seu artigo 74 [4] .

Apesar dessa possibilidade, a microempresa somente poderá demandar no Juizado Especial Cível se fizer prova de sua
condição, conforme Enunciado 47 do FONAJE: “A microempresa para propor ação no âmbito dos juizados especiais deverá
instruir o pedido com documento de sua condição”. Por analogia, o mesmo aplica-se à empresa de pequeno porte.

Esse documento, obviamente, deverá ser oficial, e capaz de demonstrar que a receita bruta anual da empresa esteja nos
parâmetros estabelecidos pelos incisos I e II do artigo 3º da Lei Complementar nº 123/2006 [5] . E, esse documento, deverá se
os livros fiscais, o balanço anual do último exercício fiscal, o imposto de renda, além do contrato social.

Da mesma forma a microempresa e a empresa de pequeno porte poderão valer-se dos benefícios do parágrafo 1º do artigo 9º
da Lei 9.099/95 [6] , ou seja, é facultada a assistência de advogado, conforme já decidiu o Enunciado 48 do FONAJE [7] .

No que tange às empresas de pequeno porte, vale lembrar que o Enunciado 49 do FONAJE [8] que não autoriza tais empresa
a demandar no pólo ativo dos Juizados Especiais, encontra-se sem efeito, ante o novo Estatuo da Microempresa e Empresa de
Pequeno Porte (Lei Complementar nº 123/2006).

Outro ponto interessante, refere-se à possibilidade do espólio figurar no pólo ativo da ação no Juizado Especial Cível. Apesar
de ente formal, v.g., massa falida, não há óbice em figurar no pólo ativo, conforme posicionamento do FONAJE em seu
Enunciado 72: “Inexistindo interesse de incapazes, o Espólio pode ser autor nos Juizados Especiais Cíveis”.

Questão controversa nos Juizados Especiais Cíveis da Federação, diz respeito à possibilidade do condomínio figurar no pólo
ativo da ação, pois embora não seja pessoa jurídica, é ente formal.
A mera aplicação do entendimento formal conferido no artigo § 1º do artigo 8º da Lei 9.099/95 – o que ocorre com a maioria
dos Juizados Cíveis –, levará à conclusão de que o condomínio não pode ser autor em nenhuma hipótese, na medida em que
não é pessoa física.

Destaque-se, porém, o disposto no inciso II do artigo 3º da Lei nº 9.099/95: “Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência
para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas: [...] II - as
enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;” [9] .

Pois bem. Se referido dispositivo elencou na competência do Juizado Especial Cível a ação do condomínio para cobrança das
verbas condominiais, não há como afastar essa competência.

Nesse sentido, o Enunciado 9 do FONAJE [10] é expresso ao admitir a legitimidade do condomínio no pólo passivo, desde que
seja para cobrança das verbas condominiais.

Por fim, importante lembrar que o Enunciado 31 do FONAJE [11] autoriza o pedido contraposto pelas pessoas jurídicas.

Na contramão desse entendimento, no Estado de São Paulo, foi aprovado, por maioria, o Enunciado 12 [12] , do I Encontro de
juízes de Juizados Especiais Cíveis da Capital e da Grande São Paulo, não reconhecendo essa possibilidade. No Estado do
Rio de Janeiro, aprovou-se o Enunciado 4.2.1. [13] , não reconhecendo o cabimento do pedido contraposto por réu pessoa
jurídica ou formal, salvo quando microempresa ou empresa de pequeno porte.

[1] Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito
público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.
§ 1º Somente as pessoas físicas capazes serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial, excluídos os cessionários
de direito de pessoas jurídicas

[2] Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e
administração no País.

[3] Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno
porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações
administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei.

[4] Art. 74. Aplica-se às microempresas e às empresas de pequeno porte de que trata esta Lei Complementar o disposto no §
1º do art. 8º da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, e no inciso I do caput do art. 6º da Lei nº 10.259, de 12 de julho de
2001, as quais, assim como as pessoas físicas capazes, passam a ser admitidas como proponentes de ação perante o Juizado
Especial, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas.

[5] Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade
empresária, a sociedade simples e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002,
devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso,
desde que:
I – no caso das microempresas, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita
bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais);
II – no caso das empresas de pequeno porte, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-
calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois
milhões e quatrocentos mil reais).

[6] Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão pessoalmente, podendo ser assistidas por
advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória.
§ 1º Sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou
firma individual, terá a outra parte, se quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na
forma da lei local.

[7] Enunciado 48 do FONAJE: “O disposto no parágrafo 1º do art. 9º, da Lei nº 9.099/95, é aplicável às microempresas”.

[8] Enunciado 49 do FONAJE: “As empresas de pequeno porte não poderão ser autoras nos Juizados Especiais”.

[9] Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário:


[...]
II - nas causas, qualquer que seja o valor:
[...]
b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;

[10] Enunciado 9 do FONAJE: “O condomínio residencial poderá propor ação no Juizado Especial, nas hipóteses do art. 275,
inc. II, item b, do Código de Processo Civil”.

[11] Enunciado 31 do FONAJE: “É admissível pedido contraposto no caso de ser a parte ré pessoa jurídica”.

[12] Enunciado 12 SP: “Pessoa Jurídica não pode formular pedido contraposto”.

[13] 4.2.1 - PESSOA JURÍDICA OU FORMAL


Não cabe pedido contraposto no caso de ser o réu pessoa jurídica ou formal; salvo a microempresa ou a empresa de pequeno
porte.

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