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NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808).

São Paulo: Hucitec, 1979, p. 32-56 (“Concorrência colonial e tensões internacionais”)

Trabalho de conclusão da disciplina de História das Relações Internacionais I – História


Moderna, do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo, elaborado
durante o primeiro semestre de 2018 sob orientação do Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni.

Natália Leal Giardini1

A Época moderna é caracterizada por um período de conflitos internacionais e formação


política europeia baseada nos estados modernos. A disputa colonial é de extrema relevância
para o processo de construção do alicerce econômico europeu mercantilista, constituída por três
elementos primordiais: colônias de civilizações tradicionais, zonas de povoamento e exploração
e área de fornecimento de força de trabalho escrava. Destaca-se o pioneirismo ibérico na
constituição do primeiro sistema de colonização. Assim, a Europa é preconizada como “centro
dinâmico de todo o sistema”2, considerada mais do que uma unidade política e sim,
civilizacional.
Num segundo momento, a concorrência mercantilista torna-se comerciaria e tem como
foco o Mundo indiano e o Extremo Oriente. Nesse mesmo sentido, Inglaterra e França entram
na corrida mercantil e a constituição europeia mostra-se repleta de conflitos dinásticos e
hegemônicos entre as nações.

A concorrência colonial se entrelaçava com as questões


europeias e esse entrelaçamento foi se acentuando no correr da
segunda metade do século XVII, engendrando tensões que se
generalizaram nos conflitos da guerra de Sucessão da Espanha. 3

Dessa forma, com a ocorrência do Tratado de Utrecht as relações internacionais recebem


numa nova definição e um novo equilíbrio de forças4. Os ingleses foram prevalecendo como
vitoriosos, o equilíbrio europeu estava sob sua égide e as sucessões dinásticas limitavam-se por
convenções internacionais. Portugal colhia vantagens da aliança com os ingleses, que era do

1
Aluna do primeiro termo do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo.
2
NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec,
1979, p. 34.
3
Ibidem p. 39.
4
CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, parte I. Rio de Janeiro: 1952, p. 19.
interesse de tais para impedir a expansão francesa de sua área colonial, o que fez a hegemonia
da França ser lesada.
Era, pois, uma nova configuração que se despontava no
quadro das relações internacionais, e nesse contexto é que se
consolidam as alianças de Portugal e Inglaterra... Em troca de
vantagens comerciais ultramarinas, os reinos ibéricos conseguiam
conservar a posse de seus domínios coloniais.5

Por um lado, a Inglaterra levava vantagens econômicas, por outro as tensões colônias
marcavam a posição de Portugal e Brasil, com a intensificação desta concorrência mercantilista.
As metrópoles incitavam sua disputa pela produção de açúcar e do tráfico negreiro, além de
garantir uma dominação política e comercial nas regiões exploradas. O autor destaca a
diplomacia portuguesa como minimizadora e eficaz nas diminuições de prejuízos a Portugal,
que atravessava um período de tensões sem perder seu domínio sobre a América, além de
destacar os conflitos globais europeus como preservadores dessas colônias.
Ademais, as nações europeias atuavam na América do Norte em termos de ocupação
populacional e levaram em conta a resistência da colônia inglesa com a guerra de Independência
(1776), como cerne de rompimento do antigo sistema colonial. Apesar disso, a competição
ultramarina acabou evidenciando a luta hegemônica europeia e suas preponderâncias.
O autor, ao abordar aspectos gerais do sistema de colonização, sua tensões e conflitos,
deixa de lado o descontentamento da população das colônias ibero-americanas e suas lutas de
resistência, conhecidas entre nativistas e separatistas. Os aspectos levantados sobre essas
regiões são de dominadas e não-civilizadas, demonstrando o contrário do que seria o mundo
europeu e a carência de uma “ajuda civilizatória europeia”.
Desse modo, a Revolta dos Beckman (1684), que reivindicava melhorias na
administração colonial e Guerra dos Emboabas (1708-1709), pela exclusividade bandeirante e
seu protagonismo na expansão dos limites territoriais do Brasil Colônia, simplesmente são
esquecidas como ponto de tensões primordiais para crise do sistema colonial. As Américas são
destacadas no texto como “inferno tropical” e suas sociedades constitutivas lembradas como
“curiosas”.6
Fernando Novaes analisa sobre um pensamento eurocêntrico ao colocar revoltas
internacionais centradas exclusivamente como as lutas de sucessão monárquica europeias,
como se estas comandassem a totalidade das relações globais da época, considerando as

5
NOVAIS, Fernando. Op. Cit. p. 42.
6
Ibidem p. 37.
colônias apenas como exploradas e reprimidas, incapazes de causar danos a então civilizada e
politicamente dominante Europa.
A posição brasileira é unicamente atribuída a Portugal, e seus desdobramentos decorrem
da eclosão da Revolução Francesa, qual é designada como revolução modelo aos padrões
mundiais.
Isto posto, reduzidas a possessões neutras, o Brasil passa a ser centro da exploração e
lucro português nas competições hegemônicas, mesmo Portugal sendo diminuído,
posteriormente, à nação de segunda grandeza, devido a dominação inglesa:

...exatamente por causa da competição entre as potências que


ascendiam econômica e politicamente, Inglaterra e França. Vinculado
à Inglaterra, que enfim sai vencedora da longa disputa, Portugal pôde
mais que Espanha, aliada a França, atravessar a longa sucessão de
tensões preservando seus domínios, entre os quais o Brasil é o núcleo
essencial.7

Assim, o tráfico negreiro, também acentuado no texto, é analisado apenas como uma
condição existente para a manutenção do sistema mercantil, sem evidenciar a constituições de
novas sociedades ultramar sobre a influencia africana e sua posição crucial para a solidificação
dos ganhos europeus ao explorá-la avidamente.
Em suma, as revoltas brasileiras não são levadas em consideração como contribuintes
das tensões da metrópole portuguesa, como se tais fossem reprimidas sem dificuldades, ou
mesmo, nem existissem; o que vai de encontro com sucessivos movimentos separatistas como
a Conjuração Baiana, que conta com a participação da sociedade africana nos aspectos
essenciais do movimento, revelando a dominação de um pensamento focalizado nos preceitos
europeus como de únicas nações com bases e constituições eficientes.

7
NOVAES, Fernando. Op. Cit. p. 54.

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