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Metodologia Científica

Professora conteudista: Carolina Lara Kallas


Sumário
Metodologia Científica
Unidade I
1 O QUE É CIÊNCIA? ..............................................................................................................................................1
2 CLASSIFICAÇÃO E DIVISÃO DA CIÊNCIA ...................................................................................................7
3 O QUE É MÉTODO? .............................................................................................................................................8
3.1 Método indutivo ......................................................................................................................................9
3.2 Método dedutivo .....................................................................................................................................9
3.3 Método hipotético-dedutivo ..............................................................................................................9
4 O QUE É METODOLOGIA CIENTÍFICA?.......................................................................................................11
5 O QUE É UM PARADIGMA? ......................................................................................................................... 12
6 UM POUCO MAIS DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA ....................................................................................... 12
7 MOVIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................................................................. 14

Unidade II
8 LEITURA CRÍTICA.............................................................................................................................................. 22
9 ANÁLISE DE TEXTOS ....................................................................................................................................... 26
9.1 Análise textual ....................................................................................................................................... 26
9.2 Análise temática ................................................................................................................................... 26
9.3 Análise interpretativa ......................................................................................................................... 27
9.4 Problematização ................................................................................................................................... 27
9.5 Síntese ...................................................................................................................................................... 27
10 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................................ 28
10.1 Biblioteca............................................................................................................................................... 29
10.2 Arquivos oficiais do estado ou município................................................................................ 31
10.3 Internet .................................................................................................................................................. 32
10.4 Resumo .................................................................................................................................................. 32
11 RESENHA CRÍTICA ......................................................................................................................................... 32
12 FICHAMENTO .................................................................................................................................................. 33
13 O PROCESSO DA ESCRITA ......................................................................................................................... 35
13.1 Invenção ................................................................................................................................................ 35
13.2 Disposição ............................................................................................................................................. 36
13.3 Elocução ................................................................................................................................................ 36
14 ESTRUTURA INTERNA DO TEXTO ACADÊMICO.................................................................................. 37
15 REDAÇÃO ......................................................................................................................................................... 39
Unidade III
16 PROJETO DE PESQUISA ............................................................................................................................... 43
Unidade IV
17 MONOGRAFIA CIENTÍFICA......................................................................................................................... 63
18 ABNT .................................................................................................................................................................. 67
18.1 Apresentação do trabalho .............................................................................................................. 67
18.2 Estrutura do trabalho ....................................................................................................................... 69
18.2.1 Elementos pré-textuais...................................................................................................................... 69
18.2.2 Elementos textuais .............................................................................................................................. 71
18.2.3 Elementos pós-textuais ..................................................................................................................... 72
19 CITAÇÕES ......................................................................................................................................................... 84
19.1 Citação direta ...................................................................................................................................... 84
19.1.1 Citação direta de até 3 linhas ......................................................................................................... 85
19.1.2 Citação direta com mais de 3 linhas ............................................................................................ 85
19.2 Citação indireta .................................................................................................................................. 85
19.3 Informações verbais ......................................................................................................................... 86
19.4 Correspondências, cartas e telegramas .................................................................................... 86
19.5 Notas de rodapé ................................................................................................................................. 87
19.6 Ibid. .......................................................................................................................................................... 87
19.7 Idem ........................................................................................................................................................ 88
20 RELATÓRIO DE PESQUISA .......................................................................................................................... 88
20.1 Projeto de pesquisa ........................................................................................................................... 89
20.1.1 Estrutura do projeto............................................................................................................................ 90
20.2 Relatório de pesquisa ....................................................................................................................... 92
20.2.1 Estrutura do relatório de pesquisa ................................................................................................ 93
20.2.2 Tópicos da estrututa do relatório .................................................................................................. 96
21 PUBLICAÇÕES E TRABALHOS CIENTÍFICOS .......................................................................................100
21.1 Trabalhos de congressos................................................................................................................100
21.2 Artigos científicos ............................................................................................................................100
21.3 Informe científico ............................................................................................................................101
21.4 Resenha crítica..................................................................................................................................101
21.5 Conferência ........................................................................................................................................102
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Unidade I
CIÊNCIA E MÉTODO

1 O QUE É CIÊNCIA?

Existem inúmeras definições para “ciência”. Devido à


dificuldade de encontrarmos uma única explicação para o
termo, começaremos falando sobre a origem etimológica da
palavra.

5 No grego, a palavra ciência — scire — significa conhecer,


portanto, a ciência, para os gregos era todo o saber criticamente
fundamentado, ou seja, todo o resultado da indagação racional
fazia parte integrante de um único saber. Nessa fase, ela não se
distinguia da filosofia.

10 Em latim — scientia — significa “um conhecimento que


inclui, em qualquer modo ou medida, uma garantia da própria
validez”.

Deduzimos que a ciência é filha da Filosofia1 (“amor à


sabedoria”). Observamos que a vontade humana de conhecer e
15 buscar explicações para os fenômenos naturais fez com que os
homens, desde a Antiguidade, buscassem explicações fora dos
conceitos metafísicos2 ou religiosos.

Portanto, para entendermos o que é ciência, precisamos


entender quais os tipos de conhecimentos que permeiam a
20 nossa vida e diferenciá-los.
1
Filosofia (do grego: philos= que ama + sophia = sabedoria), ou seja,
aquele que ama a sabedoria.
2
Metafísica (do grego: meta = além, depois + phisis = física,
natureza).

1
Unidade I

Utilizaremos um texto escrito por Lakatos e Marconi (2008,


p. 70) para exemplificar a diferença entre o senso comum e o
conhecimento científico:

Desde a Antiguidade, até aos nossos dias, um


5 camponês, mesmo sendo letrado e/ou desprovido
de outros conhecimentos, sabe o momento certo da
semeadura, a época da colheita, a necessidade da
utilização de adubos, as providências a serem tomadas
para a defesa das plantações de ervas daninhas e
10 pragas e o tipo de solo adequado para as diferentes
culturas. Tem também conhecimento de que o cultivo
do mesmo tipo, todos os anos, no mesmo local,
exaure o solo. Já no período feudal, o sistema de
cultivo era em faixas: duas cultivadas e uma terceira
15 em “repouso”, alternando-as de ano para ano, nunca
cultivando a mesma planta, dois anos seguidos, numa
única faixa. O início da Revolução Agrícola não se
prende ao aparecimento, no século XVII, de melhores
arados, enxadas ou outros tipos de maquinária, mas
20 à introdução, na segunda metade do século XVII, da
cultura do nabo e do trevo, pois seu plantio evitava o
desperdício de deixar a terra em pousio: seu cultivo
“revitalizava” o solo, permitindo o uso constante. Hoje,
a agricultura utiliza-se de sementes selecionadas,
25 de adubos químicos de defensivos contra as pragas
e tenta-se, até, o controle biológico dos insetos
daninhos.

Ao prestarmos atenção ao texto, percebemos que existem


dois tipos de conhecimentos diferentes que se misturam: (a) a
30 empiria e (b) a teoria. Ou seja, um conhecimento que é adquirido
através da experiência e observação dos fatos e outro que é
adquirido pela sistematização dessa observação.

O conhecimento empírico pode ser comparado ao


conhecimento do camponês, que é transmitido de geração para

2
METODOLOGIA CIENTÍFICA

geração por meio da educação informal e baseado na experiência


pessoal e imitação. Já o conhecimento teórico é fundamentado
na sistematização da observação dos fenômenos da natureza,
ou seja, no pensamento racional, e é transmitido por intermédio
5 de treinamento apropriado e procedimentos científicos. Ele
não só observa os fenômenos, mas tenta explicar “por que” e
“como” eles acontecem, relacionando os fatos numa visão mais
ampliada.

Concluímos que o que diferencia esses dois conhecimentos “é


10 a forma, o modo ou método e os instrumentos do ‘conhecer’”.3

O filósofo grego Platão (c.428-348 a.C.) já afirmava que a


garantia e a validade da ciência eram constituídas pelo fato
de ela se diferenciar das opiniões. Opiniões, segundo Platão
“(...) saem da alma humana e não têm muita utilidade até que
15 alguém consiga ligá-las em um raciocínio causal”. Percebemos
que há muito tempo já se falavam nas diferenças existentes nas
formas de conhecer o mundo.

Segundo Trujillo,4 existem quatro formas de conhecimentos:

Tipos de conhecimento

20 O conhecimento científico se divide em:

Conhecimento popular Conhecimento científico


Valorativo Real (factual)
Reflexivo Contigente
Assistemático Sistemático
Verificável Verificável
Falível Falível
Inexato Aproximadamente exato

Conhecimento filosófico Conhecimento religioso


Valorativo Valorativo
Racional Inspiracional
Sistemático Sistemático
Não verificável Não verificável
Infalível Infalível
Exato Exato

Lakatos; Marconi, 2008, p. 71.


3

Trujillo Ferrari apud Lakatos e Marconi 2008, p. 77-78.


4

3
Unidade I

Falaremos um pouco de cada um:

a. Conhecimento popular

É passado de geração para geração, chamado também de


senso comum. É o conhecimento empírico, comum, baseado nas
5 experiências do ser humano com a própria natureza e com a
sociedade.

Segundo Babini (1957), “(...) é o saber que preenche nossa


vida diária e que se possui sem o haver procurado ou estudado,
sem a aplicação de um método e sem se haver refletido sobre
10 algo”.5

Podemos dizer que esse conhecimento é valorativo, ou seja,


depende dos estados de ânimo e emoções do sujeito que irá
colocar as suas opiniões a respeito dos objetos estudados sem ter
um distanciamento crítico do mesmo. Baseia-se na organização
15 particular das próprias experiências e não de uma sistematização
das ideias. Apesar de verificável, é falível e inexato.

b. Conhecimento filosófico

Sua principal característica, segundo Trujillo (2004), é que as


hipóteses filosóficas são baseadas na experiência e na observação
20 e não na experimentação. Ou seja, suas hipóteses não podem ser
refutadas nem confirmadas apesar de serem sistematizadas e
racionalizadas.

Portanto, o conhecimento filosófico é caracterizado


pelo esforço da razão pura para questionar os
25 problemas humanos e poder discernir entre o certo e
o errado, unicamente recorrendo às luzes da própria
razão humana.6

A razão, vista sobre esse ponto de vista, tende a substituir e


unificar as experiências numa única vertente irrefutável.
5
Babini, 1957, p. 21.
6
Lakatos; Marconi, 2004, p. 79.

4
METODOLOGIA CIENTÍFICA

c. Conhecimento religioso

Tem como principal característica a utilização de doutrinas


que contem proposições sagradas e reveladas pelo sobrenatural,
ou seja, pela inspiração. Portanto, não pode ser contestado.
5 Sua origem é a criação divina, e suas evidências não podem ser
verificadas. O conhecimento teológico ou religioso depende de
um ato de fé, por ser considerado “revelação” de uma divindade
sobrenatural.

d. Conhecimento científico

10 É baseado em fatos (factual), lida com acontecimentos e é


real. Sistematiza as observações em teorias criando hipóteses
que podem ou não ser refutadas. Portanto, é falível, mas
aproximadamente exato. Exige verificação racional mediada
pela observação e pela teorização das experiências e fatos.
15 Forma um sistema de ideias que possuem relações e conexões,
organizando, assim, a experiência e a experimentação.

Hoje em dia, sabemos que todas essas formas de conhecimento,


apesar de estarem metodologicamente separadas, coexistem no
ser humano, e é a partir dessa interação entre valores, culturas,
20 pontos de vista e experiência que podemos refletir e observar a
realidade apreendendo-a de formas diferentes.

Assim, nosso processo de apreensão do mundo se dá


na relação entre teoria e empiria, ou seja, entre a prática e a
teoria.

25 Antes de voltarmos ao conceito de ciência, estabeleceremos


a relação entre teoria e empiria.

Características da teoria

Restringe a amplitude dos fatos a serem estudados; define


os aspectos da investigação e os fatos a serem observados;

5
Unidade I

oferece um sistema de conceitos, classificando e estruturando


fatos; resume o conhecimento; possibilita inter-relações entre
fatos e teorias já conhecidas e explica os fenômenos de forma
mais ampla.

5 Podemos dizer então que entendemos por teoria:

O conhecimento sistemático, fundamentado em


observações empíricas e/ou postulados racionais,
voltado para a formulação de leis e categorias gerais
que permitam a ordenação, a classificação minuciosa
10 e também, a transformação dos fatos e das realidades
da natureza.7

Definimos empiria como “conjunto de dados ou


acontecimentos conhecidos através da experiência, por
intermédio das faculdades sensitivas (e não por meio de qualquer
15 necessidade lógica ou racional)”.8

Teoria e empiria são momentos que fazem parte do processo


de conhecimento; é necessário observarmos os fatos para depois
analisá-los. Não há sentido em uma teoria que não seja aplicada
na prática.

20 Concluímos que é nessa interação que se constitui o que


chamamos de ciência.

Temos, assim, um processo de autoalimentação entre teoria


e empiria, ou entre teoria e prática.

Teoria: Empiria:
Conceitos e conjuntos de Dados coletados,
ideias explicativas da area observações ou experiência
de conhecimento prática

Nova teoria:
Relação da teoria e empiria.
Autoalimentação do processo
pode fortificar ou gerar uma
nova teoria.

7
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, verbete teoria, edição
eletrônica, v. 1.
8
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, verbete empiria, edição
eletrônica, v. 1.

6
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Com base nesses dados, concluímos que a ciência é o

Processo racional usado pelo homem para se relacionar


com a natureza e, assim, obter resultados que lhe sejam
úteis. É o corpo de conhecimentos sistematizados que,
5 adquiridos via observação, identificação, pesquisa e
explicação de determinadas categorias de fenômenos
e fatos, são formulados metódica e racionalmente.9

Segundo Ferrari (apud Lakatos; Marconi, 2008), “A ciência é


todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas
10 ao sistemático conhecimento com objetivo limitado, capaz de
ser submetido à verificação”.10

2 CLASSIFICAÇÃO E DIVISÃO DA CIÊNCIA

A complexidade do universo e a diversidade de


fenômenos que nele se manifestam, aliadas as
necessidades do homem de estudá-los para poder
15 entendê-los e explicá-los, levaram ao surgimento de
diversos ramos de estudo e ciências específicas.11

Temos a seguir um quadro que exemplifica essa classificação


de acordo as suas diferenças, objetos ou temas e metodologias
empregadas.

9
Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, verbete ciência, edição
eletrônica, v. 1.
10
Lakatos; Marconi, 2008, p. 80.
11
Ibid., p. 81.

7
Unidade I

Classificação e divisão da ciência12

Lógica
Formais
Matemática Física
Química
Naturais
Biologia e outros

Ciências Factuais Antropologia


Direito
Sociais Economia
Política
Psicologia S.
Sociologia

3 O QUE É MÉTODO?

Palavra de origem grega - metá (reflexão, raciocínio, verdade)


+ hódos (caminho, direção). Portanto:

Méthodes refere-se ao caminho que permite chegar a um


5 fim.

Segundo Lakatos e Marconi,

(...) método é o conjunto das atividades sistemáticas


e racionais que, com maior segurança e economia,
permite alcançar o objetivo — conhecimentos validos
10 e verdadeiros —, traçando o caminho a ser seguido,
detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.13

Existem inúmeros métodos que podem usados para elaborar


uma dissertação cientifica; cabe ao aluno escolher aquele que
se aproxima mais de seus interesses e objeto de estudo. Os
15 principais métodos são:

Ibid., p. 81.
12

Ibid., p. 83.
13

8
METODOLOGIA CIENTÍFICA

3.1 Método indutivo

Raciocínio que parte de dados particulares (fatos,


experiências, enunciados empíricos) e, por meio de uma
sequência de operações cognitivas, chega a leis ou conceitos
mais gerais, indo dos efeitos à causa, das consequências ao
5 princípio, da experiência à teoria.

3.2 Método dedutivo

Inferência lógica de um raciocínio; conclusão, ilação. Processo


de raciocínio através do qual é possível, partindo de uma ou
mais premissas aceitas como verdadeiras (por exemplo, A é igual
a B e B é igual a C) a obtenção de uma conclusão necessária e
10 evidente (no exemplo anterior, A é igual a C).

3.3 Método hipotético-dedutivo

Segundo Lakatos e Marconi (2008), além desses, existem o


método dialético e os métodos específicos das ciências sociais.
Dentro dos métodos específicos das ciências sociais, estão:

a. o método e os métodos;
15 b. o método histórico;
c. o método comparativo;
d. o método monográfico;
e. o método estatístico;
f. o método tipológico;
20 g. o método funcionalista;
h. o método estruturalista;
i. o método etnográfico;
j. o método clinico; e
k. os quadros de referência.

9
Unidade I

Para o estudante-pesquisador que está iniciando seu


trabalho agora, é necessário entender outros conceitos antes
de desenvolvermos cada método. Não iremos nos aprofundar
nesse momento nos diversos tipos de métodos, mas ressaltamos
5 novamente o seu significado: “(...) método é uma forma de pensar
para se chegar à natureza de um determinado problema”.14

Interessante notarmos que o método está intimamente ligado


às ideias que o cientista tem sobre o objeto ou o fenômeno que
irá estudar. Ou seja, o método ou a metodologia baseiam-se na
10 “visão de mundo” do cientista. Isso não significa que o cientista
influencie diretamente o resultado da pesquisa.

Realmente, não há ciência totalmente neutra ou isenta de


ideologia.

E o que é ideologia?

15 (...) sistema de ideias (crenças, tradições, princípios


e mitos) interdependentes, sustentadas por um
grupo social de qualquer natureza ou dimensão, as
quais refletem, racionalizam e defendem os próprios
interesses e compromissos institucionais. Sejam eles
20 morais, religiosos, políticos ou econômicos.15

O papel do cientista

O cientista não está isento, enquanto pessoa, de “pré-


conceitos”. Mas ele busca, numa atitude racional, abster-se o
máximo possível. Porém, podemos afirmar que através de um
25 método racional pretende-se conhecer senão a verdade total
dos fenômenos, suas particularidades dentro de determinadas
condições. Não afirmando verdades absolutas, a ciência pode,
em uma constante autocorreção, buscar novos fatos e relações
para os fenômenos. E assim, continuamente, alimentar teorias.
14
Oliveira, 1999, p. 57.
15
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, verbete ideologia,
edição eletrônica, v. 1.

10
METODOLOGIA CIENTÍFICA

4 O QUE É METODOLOGIA CIENTÍFICA?

Refere-se à forma como funciona o conhecimento


científico.

Ao longo do tempo, essa forma de pensar e fazer a ciência se


modificou. Veremos a seguir alguns dos autores e as principais
5 mudanças que ocorreram até os dias de hoje.

A metodologia científica tem sua origem no pensamento de


Descartes, que foi posteriormente desenvolvida empiricamente
pelo físico inglês Isaac Newton.

Descartes propôs chegar à verdade através da dúvida


10 sistemática e da decomposição do problema em pequenas partes,
características que definiram a base da pesquisa científica. O
Círculo de Viena acrescentou a esses princípios a necessidade de
verificação e o método indutivo (positivismo lógico).

Método indutivo é aquele que parte de questões particulares


15 até chegar a conclusões generalizadas.

Karl Popper demonstrou que nem a verificação nem a indução


serviam ao método científico, pois o cientista deve trabalhar
com o falseamento, ou seja, deve fazer uma hipótese e testá-
la procurando não provas de que ela está certa, mas provas de
20 que ela está errada. Se a hipótese não resistir ao teste, diz-se
que ela foi falseada. Popper provou também que a ciência é um
conhecimento provisório, que funciona através de sucessivos
falseamentos.

Thomas Kuhn percebeu que os paradigmas são elementos


25 essenciais do método científico, sendo os momentos de mudança
de paradigmas chamados de revoluções científicas.

Mais recentemente, a metodologia científica tem sido


abalada pela crítica ao pensamento cartesiano elaborada pelo

11
Unidade I

filósofo francês Edgar Morin. Ele propõe, no lugar da divisão do


objeto de pesquisa em partes, uma visão sistêmica, do todo. Esse
novo paradigma é chamado de Teoria da Complexidade.

5 O QUE É UM PARADIGMA?

Paradigma: do grego parádeigma; literalmente, modelo; é a


5 representação de um padrão a ser seguido.

É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria. Métodos


e valores que são concebidos como modelos ou mesmo uma
referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas.

Na filosofia grega, paradigma era considerado a fluência (fluxo)


10 de um pensamento, pois através de vários pensamentos sobre o
mesmo assunto é que se concluía a ideia, seja ela intelectual ou
material. Após a realização dessa ideia, surgiam outras ideias,
até que se chegasse a uma conclusão final — seja da intuição à
representação sensível ou à representação intelectual.

15 Em linguística, Saussure define como paradigma


(paradigmáticas) o conjunto de elementos similares que se
associam na memória formando conjuntos relacionados ao
significado (semântico).

6 UM POUCO MAIS DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA

A partir do Renascimento (século XIV e XVI), surge o


20 conflito entre o teocentrismo16 e antropocentrismo, gerado
pela necessidade do homem de tornar-se o centro do universo.
As novas descobertas exaltam a valorização do ser humano
por meio da razão e da capacidade de transformar a natureza
através da técnica. Há uma “briga” entre a fé e a razão, que
25 culmina no Iluminismo.

A palavra de ordem do teocentrismo e da época medieval


era a Bíblia. Para entendermos melhor o que aconteceu no
Teocentrismo: “Deus como centro do universo”. Antropocentrismo:
16

“Homem como centro do universo”.

12
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Renascimento, é preciso lembrar o desenvolvimento de novas


técnicas que acompanhavam as descobertas científicas sobre
os fenômenos naturais. Exemplos: os estudos matemáticos
auxiliaram na melhoria das técnicas de construção. O avanço no
5 conhecimento da astronomia possibilitou as viagens marítimas
que levaram ao “descobrimento” da América no século XVI.
Cada estudo novo e conquista do homem reforçava a crença na
racionalidade e na ciência.

A partir do Iluminismo (século XVII-XVIII) e da


10 supervalorização de uma “verdade absoluta e objetiva”, a bíblia
do homem moderno passa a ser o jornal, ou seja, a capacidade
crítica de analisar as informações de maneira racional, baseada
em fatos reais e acontecimentos. Portanto, o Renascimento e o
Iluminismo foram processos marcantes para a consolidação do
15 processo e do paradigma científico moderno, tendo como base
do conhecimento o homem e a razão.

Durante o século XVIII-XIX, surge a Era Industrial ou


Industrialização.

Caracterizada por crescente aumento de informações e


20 experimentações, a ciência e suas técnicas auxiliaram o ser humano,
cada vez mais, a dominar a natureza e transformar a sociedade, em
todos os âmbitos. Esse período foi marcante para o surgimento do
chamado progresso científico. A ciência não é, no entanto, isenta
de influência das ideias que prevalecem em cada época. As relações
25 sociais, políticas, econômicas e culturais que prevalecem em cada
período da história provocam impacto na ciência.

A partir dessa retrospectiva histórica, analisaremos como a


ciência se transformou desde a Antiguidade até os dias atuais.

A ciência clássica

30 Pretende, através do raciocínio de causas e efeitos, garantir


a sua validade para a explicação dos fenômenos naturais e do

13
Unidade I

homem. Busca diferenciar-se das opiniões de senso comum,


pois elas não possuem explicações autossuficientes.

A partir desse primeiro conceito, diferentes concepções de


ciência foram criadas conforme a “garantia de validade” que lhe
5 é reconhecida.

A ciência moderna

As transformações geradas após a revolução industrial


abriram caminho para novas tecnologias. O fluxo da informação
passou a não depender exclusivamente do tempo e do espaço,
10 nascendo, assim, a percepção de que não existe uma única
verdade e de que a ciência pode ser construída através de
diferentes pontos de vista e estruturas.

Hoje em dia, a ciência não tem a pretensão de ser absoluta. A


Teoria da Complexidade desenvolvida por Edgar Morin afirma que
15 a ciência não precisa ser necessariamente construída de forma
linear ou apenas por meio da razão. O conhecimento atual é
construído por redes, sejam elas sociais, culturais ou informativas.
É um sistema complexo e mutável, autorregulamentado pela
empiria e teoria.

7 MOVIMENTOS METODOLÓGICOS

20 Deteremo-nos um pouco mais nos movimentos


metodológicos e na história do conhecimento com o objetivo
de explicar a teoria vigente nos dias atuais.

Ao longo do tempo, o papel da ciência se transformou,


assim como a sua utilidade na sociedade. A velocidade
25 das informações, cada vez maior, e as novas descobertas
tecnológicas influenciaram a maneira de pensar e agir do
ser humano como ser social e produtor de significação e
sentido.

14
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Faremos uma retrospectiva a partir das principais correntes


científicas para entendermos o processo:

A. Racionalismo: corrente filosófica que afirma ser o raciocínio


(“razão pura”, sem influência dos sentidos empíricos)
5 uma operação mental, discursiva e lógica utilizada para
uma ou mais proposições. Com ela, é possível extrair
conclusões se uma ou outra proposição é verdadeira, falsa
ou provável. A razão seria, assim, a maior (ou única) fonte
de conhecimento.

10 B. Empirismo: corrente filosófica que considera a experiência


(uso dos sentidos) como critério ou norma da verdade.
Caracteriza-se por: 1. negar o absolutismo da verdade, ou pelo
menos, da verdade acessível ao ser humano; 2. reconhecer
que toda verdade pode e deve ser posta à prova e, para tanto,
15 ocasionalmente modificada, corrigida ou abandonada.

Inicialmente, ressaltamos que a separação entre racionalismo


e empirismo não é recomendada nos dias atuais. Ambas as
correntes — racionalista e empirista — devem dialogar para que
haja um conhecimento científico efetivo na atualidade.

20 Há outros movimentos metodológicos relevantes para a


discussão científica, e é importante observar a existência de
elementos racionalistas e empiristas nos mesmos. São eles:

Positivismo e Neopositivismo

Criado por Auguste Comte (1798-1857), o Positivismo prega


25 a “neutralidade nas ciências”. O cientista não deve se deixar levar
por pressupostos metafísicos ou teológicos. Ele deve utilizar
operações de “mensuração”, ou seja, medição, análise sistemática
e experimentação para os estudos dos fenômenos.

Do final do século XIX até meados do século XX surgiram


30 novos estudos com base fundamentada no positivismo.

15
Unidade I

Vários pesquisadores, entre eles o matemático Wittgenstein,


combinaram as ideias empiristas com a lógica moderna. Para os
neopositivistas, a verificabilidade seria o critério de significação
de um enunciado. Ou seja, a validade de proposição científica
5 só era atribuída após sua verificação empírica. Assim, o uso da
lógica e da matemática alicerçava o conhecimento do real e
separava o que é científico do não científico.

Pragmatismo

Fundado pelo filósofo, matemático e cientista Charles


10 Sanders Peirce (1839-1914), o Pragmatismo recebeu
contribuições de uma série de pesquisadores. Sua origem
filosófica teve ramificações em outras áreas de conhecimento,
como na política, na educação e na literatura. Também como
método científico o Pragmatismo compreende que “(...) a clareza
15 de nossas ideias implica concebermos seus efeitos práticos”. Sua
estrutura metodológica divide-se em:

• identificação de um problema (problematização);

• criação de uma hipótese explanatória (possível solução)


para ser testada;

20 • aferição: testar sua explicação hipotética de “maneira


cuidadosa e repetidamente” (observar e anotar os
resultados buscando os erros). As hipóteses erradas são
eliminadas do conjunto das explicações; aquelas que
sobreviverem serão consideradas “para investigações
25 futuras”.

Marxismo e dialética

Aqui se utiliza o marxismo como método científico sem


considerar as discussões em torno do seu programa social. O
filósofo e economista alemão Karl Marx (1818-1884) desenvolveu
30 seu método de análise da realidade através do viés da dialética

16
METODOLOGIA CIENTÍFICA

(tese/antítese/síntese). Esse processo consiste em fazer uma


proposição afirmativa (tese), em seguida a confrontação dela,
com seu contrário (antítese) e, finalmente, com o embate entre
afirmação e negação, chegar a uma síntese. Esse movimento
5 dar-se-ia continuamente.

A análise marxista é muito importante, por considerar os


aspectos econômicos, jurídico-políticos e ideológicos presentes
no processo de “construção do conhecimento científico” nas
ciências humanas. Para as ciências empíricas, tem-se o estudo
10 “da verdade científica em sua exterioridade, ou seja, não apenas
por meio do desenvolvimento interno das ciências, métodos e
lógicas”, mas levando em consideração os efeitos socioeconômicos
que influenciam todas as esferas da sociedade.

Assim, podemos identificar em Marx uma distinção entre


15 duas esferas:

• infraestrutura: economia, organização da vida produtiva e


do trabalho; e

• superestrutura: elementos ideológicos e culturais


influenciados pela base econômica: religião, arte, ciência,
20 educação, meios de comunicação, etc.

Tal distinção metodológica e a consideração das influências


socioeconômicas recebeu o nome de Materialismo Histórico. A
mudança histórica é percebida em uma relação de contradição
(via dialética) da luta entre as classes sociais, divididas entre os
25 detentores dos meios de produção e aqueles que vendem sua
força de trabalho.

Estruturalismo

Desenvolveu-se na França entre as décadas de 50 e 60


do século XX. Envolveu os campos da psicanálise, psicologia,
30 filosofia, antropologia, linguística, ciências sociais, crítica literária,

17
Unidade I

semiótica, matemática, lógica, física e biologia. Destacam-se:


Claude Lévi-Strauss (antropólogo); Michel Foucault (filósofo);
Jacques Lacan (psicólogo), entre outros. Defendem que a
realidade é composta de estruturas.

5 Assim, podem-se encontrar estruturas em todos os campos


desde o corpo humano até nas línguas. O método para as
ciências humanas e sociais se baseia na identificação de tais
estruturas e explicação da composição e organização de suas
partes para formar uma totalidade conclusiva. A estrutura não é
10 percebida como algo estático, mas como uma totalidade que se
transforma e se autorregula.

Discussões contemporâneas

Thomas Kuhn (1922-1996) escreveu A estrutura das


revoluções científicas. Nele, desenvolveu os conceitos de
15 paradigma e de ciência normal. Por paradigma, Kuhn entende
“(...) um mapa ou roteiro de uma ciência, fornecendo critérios
para a escolha de seus problemas e das propostas para as
soluções desses problemas”. Seria, de maneira simplificada, um
parâmetro geral, base para o desenvolvimento de teorias.

20 Paradigma = (latim) “fazer-se aparecer” ou “representar-


se de maneira exemplar”. Na filosofia grega, paradigma era
considerado a fluência de um pensamento, pois através de
vários pensamentos sobre o mesmo assunto é que se concluía
a ideia — fosse ela intelectual ou material. Após realizada uma
25 ideia, surgiam outras, até chegar a uma conclusão final; pensar
sobre a ideia inicial e o que de fato ocorre abrangendo todos os
diversos fluxos de pensamento. Resumindo, são referências a
serem seguidas.

Paradigma é a representação do padrão de modelos a serem


30 seguidos. É um pressuposto filosófico-matriz, ou seja, uma
teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo
científico; uma realização científica com métodos e valores que

18
METODOLOGIA CIENTÍFICA

são concebidos como modelo; uma referência inicial como base


de modelo para estudos e pesquisas.

A ciência clássica “procuraria solucionar os problemas


científicos com os pressupostos conceituais, metodológicos
5 e instrumentais que são compartilhados pela comunidade
científica e que constituem o paradigma”. Ela amplia e aprofunda
o “aparato conceitual” do paradigma, sem alterá-lo.

Quando, entretanto, o progresso e o desenvolvimento


do conhecimento requerem explicações que o
10 paradigma vigente não pode fornecer, a ciência passa
por uma crise, que pode dar origem a uma revolução
científica. Assim, para Kuhn, os enunciados científicos
são provisórios, e a ciência não opera com verdades
irrefutáveis.17

15 Exemplos: o sistema astronômico de Cláudio Ptolomeu (100-


170 d.C.) — imobilidade da Terra e posição no centro do universo
— dominou o pensamento científico até o século XVI. No entanto,
foi substituído por outro sistema, o de Nicolau Copérnico (1473-
1543), que demonstrou ser o Sol o centro do universo, com a Terra
20 realizando o movimento de rotação em torno dele.

Teoria da Complexidade

(...) é evidente que o conhecimento científico


determinou progressos técnicos inéditos, tais como a
domesticação da energia nuclear e os princípios da
25 engenharia genética. A ciência é, portanto, elucidativa
(resolve enigmas, dissipa mistérios), enriquecedora
(permite satisfazer necessidades sociais e, assim,
desabrochar a civilização); é de fato, e justamente,
conquistadora, triunfante. E, no entanto, (...) apresenta-
30 nos, cada vez mais, problemas graves que se referem
ao conhecimento que a produz, a ação que determina
e a sociedade que transforma. (...) Para conceber e

Mattar in Castells, 1999, p. 76.


17

19
Unidade I

compreender esse problema há que acabar com a tola


alternativa da ciência “boa”, que só traz benefícios, ou
da ciência “má”, que só traz prejuízos. Pelo contrário,
há que, desde partida, dispor de pensamento capaz de
5 compreender a ambivalência, isto é, a complexidade
intrínseca que se encontra no cerne da ciência.18

Morin determinou que o estudo da ciência não pode ser


destinado apenas ao estudo da lógica e da técnica determinada
pela produção; defendeu também a análise do ponto de vista
10 qualitativo e não apenas quantitativo e a vulnerabilidade da
própria ciência moderna, tentando não defini-la com valores
maniqueístas (certo e errado), e sim a partir de redes complexas
que dão significados à vida social e à própria tecnologia.

Quando o autor fala em complexidade, ele se refere à


15 interdisciplinaridade19 existente no processo científico. Ou seja,
nos dias atuais, é muito difícil estudar separadamente cada área
do conhecimento, principalmente dentro das ciências humanas,
pois estas são constituídas por todo o aparato tecnológico,
econômico e político, mas também pelo imaginário cultural
20 existente em cada região. A significação acontece nas relações e
interações existentes na sociedade, portanto, não são estáticas.
São complexas, constituídas por inúmeros tecidos associados
que não seguem um padrão evolutivo formal e positivista, como
pensamos há séculos atrás.

25 O texto de Morin, transcrito abaixo, versa sobre a


complexidade:

À primeira vista, a complexidade é um tecido


(complexus: o que é tecido em conjunto de
constituintes heterogêneos inseparavelmente
30 associados: coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Na
segunda abordagem, a complexidade é efetivamente
o tecido de acontecimentos, ações, interações,
retroações, determinações, acasos, que constituem o
18
Morin, 2007, p. 15-16.
19
Mistura e integração de todas as matérias, visando à compreensão
do todo e não apenas das partes.

20
METODOLOGIA CIENTÍFICA

nosso mundo fenomenal. Mas então a complexidade


apresenta-se com os traços inquietantes da confusão,
do inextricável, da desordem, da ambiguidade, da
incerteza... Daí a necessidade, para o conhecimento,
5 de pôr ordem nos fenômenos ao rejeitar a desordem,
de afastar o incerto, isto é, de selecionar os elementos
de ordem e de certeza, de retirar a ambiguidade, de
clarificar, de distinguir, de hierarquizar... Mas tais
operações, necessárias à inteligibilidade, correm o risco
10 de se tornar cega se eliminarem os outros caracteres
do complexus; e efetivamente, como o indiquei, elas
tornam-nos cegos.20

Ele observa que não é possível retirar o problema ou a


pesquisa do meio em que ela está inserida e a tratar como
15 uma parte isolada do mundo; apesar de haver a necessidade
de “recortar” e definir pontos de vista, não é possível saber o
significado de alguma coisa deixando de lado suas relações com
outras categorias e fenômenos.

Atualmente, o ser humano não está mais tão “encantado” com


20 o progresso, pois descobriu que esses avanços trazem inúmeros
problemas ecológicos e sociais. Morin ressalta a importância da
consciência, ou seja, a necessidade de avaliar as consequências
e transformações trazidas pela modernidade de forma ética
e sustentável, buscando não somente a categorização do
25 progresso, mas também a sua estrutura e prática.

O mesmo objeto deve ser observado por ângulos diferentes,


evitando que uma nova descoberta traga consigo mais problemas
em relação ao ambiente e à sociedade, pois seria um “falso
progresso”. O avanço só é válido quando é percebido por meio dos
30 diversos pontos de vista existentes dentro do tecido complexo em
que se encontra o ser humano, seja na sua parte física e natural
ou na sua produção ou na criação do imaginário humano, que é
constituído também por seres vivos. Mesmo que estes seres, por
exemplo, as ideias, não sejam palpáveis, eles são reais.
Morin, 1991, p. 17-19.
20

21
Unidade II

Unidade II
PRINCÍPIOS DE METODOLOGIA CIENTÍFICA

8 LEITURA CRÍTICA

O processo do conhecimento se dá por meio de várias etapas.


A primeira delas é a necessidade de “estar no mundo”, isto é,
perceber o mundo que nos rodeia através dos nossos sentidos;
percepção que constitui nosso repertório.

5 Um pesquisador necessita estar em constante integração com


o mundo. E a nossa maneira primária de percepção busca novos
repertórios e referências para depois analisarmos o texto no qual
estamos trabalhando. Entende-se por texto todos os tipos de
linguagens existentes na atualidade, sejam elas verbais ou não.

10 Portanto, a leitura e a maneira como entendemos o mundo é


essencial para o trabalho do estudante-pesquisador. É por meio dela
que ampliamos nosso repertório. Ela é a base da pesquisa. Propicia
a ampliação de conhecimentos, a obtenção de informações e a
abertura de novos horizontes, além de contribuir na sistematização
15 do pensamento e enriquecer nosso vocabulário.
A melhor forma de aprender a escrever é ler. Ler significa
conhecer, interpretar, distinguir e decifrar quais são os elementos
principais e secundários dentro de um texto.

Por meio da leitura crítica podemos distinguir o grau de


20 conotação e denotação das mensagens, compreendendo, assim,
a visão de mundo do autor. A partir daí podemos estabelecer
novas estruturas e ideias com referência e base em antigos
estudos, tendo como objetivo a reformulação das ideias e não
apenas a sua repetição.

25 O não entendimento do texto, seja por falta de análise ou de


interpretação, deixa-nos restritos à mera repetição de conceitos

22
METODOLOGIA CIENTÍFICA

que muitas vezes não farão sentido para nós, e ainda menos
para nossos leitores.
No quadro abaixo, podemos observar algumas dicas
importantes para a leitura.1
Bom leitor Mau leitor
O bom leitor lê rapidamente e entende bem o que lê. Tem O mau leitor lê vagarosamente e entende mal o que lê. Tem
habilidades e hábitos como: hábitos como:
1. Ler com objetivo determinado: exemplo: aprender certo 1. Ler sem finalidade: raramente sabe por que lê.
assunto – repassar detalhes – responder a questões.
2. Ler unidades de pensamento: abarca, num relance, o 2. Ler palavra por palavra: pega o sentido da palavra
sentido de um grupo de palavras. Relata rapidamente as ideias isoladamente. Esforça-se para ajuntar os termos para poder
encontradas numa frase ou num parágrafo. entender a frase. Frequentemente, tem de reler as palavras.
3. Tem vários padrões de velocidade: ajusta a velocidade da leitura 3. Só tem um ritmo de leitura: seja qual for o assunto, lê
com o assunto que lê. Se lê uma novela, é rápido. Se é um livro sempre vagarosamente.
científico, para guardar detalhes – lê mais devagar para entender bem.
4. Avalia o que lê: pergunta-se frequentemente: que sentido tem isso 4. Acredita em tudo que lê: para ele, tudo que é impresso é
para mim? Está o autor qualificado para escrever sobre tal assunto? Está verdadeiro. Raramente confronta o que lê com suas próprias
ele apresentando apenas um ponto de vista do problema? Qual é a ideia ideias, experiências ou com outras fontes. Nunca julga
principal deste trecho? Quais seus fundamentos? criticamente o escritor ou seu ponto de vista.
5. Possui bom vocabulário: sabe o que muitas palavras 5. Possui vocabulário limitado: sabe o sentido de poucas
significam. É capaz de perceber o sentido das palavras novas palavras. Nunca relê uma frase para pegar o sentido de uma
pelo contexto. Sabe usar dicionários e o faz frequentemente para palavra difícil ou nova. Raramente consulta o dicionário. Quando
esclarecer o sentido de certos termos, no momento oportuno. o faz, atrapalha-se em achar a palavra. Tem dificuldade em
entender a definição das palavras e em escolher o sentido exato.
6. Tem habilidades para conhecer o valor do livro: sabe que a 6. Não possui nenhum critério técnico para conhecer o
primeira coisa a fazer quando se toma um livro é indagar do que valor do livro: nunca ou raramente lê a página de rosto do livro,
trata, através do título, subtítulos encontrados na página de rosto o índice, o prefácio, a bibliografia, etc., antes de iniciar a leitura.
e não apenas na capa. Em seguida, lê os títulos do autor. Edição do Começa a ler a partir do primeiro capítulo. É comum até ignorar o
livro. Índice. “Orelha do livro”. Prefácio. Bibliografia citada. Só depois autor, mesmo depois de terminada a leitura. Jamais seria capaz de
é que se vê em condições de decidir pela conveniência ou não da decidir entre leitura e simples consulta. Não consegue selecionar o
leitura. Sabe selecionar o que lê. Sabe quando consultar e quando ler. que vai ler. Deixa-se sugestionar pelo aspecto material do livro.
7. Sabe quando deve ler o livro até o fim, quando interromper a 7. Não sabe decidir se é conveniente ou não interromper
leitura definitivamente ou periodicamente: sabe quando e como uma leitura: ou lê todo o livro, ou o interrompe sem critério
retomar a leitura, sem perda de tempo e sem perder a continuidade. objetivo, apenas por questões subjetivas.
9. Adquire livros com frequência e cuida de ter sua 9. Não possui biblioteca particular: às vezes, é capaz de
biblioteca particular: quando é estudante, procura os livros adquirir “metros de livro” para decorar a casa. É frequentemente
de textos indispensáveis e se esforça em possuir os chamados levado a adquirir livros secundários em vez dos fundamentais.
clássicos e fundamentais. Tem interesse em fazer assinaturas Quando estudante, só lê e adquire compêndios de aula. Formado,
de periódicos científicos. Formado, continua alimentando sua não sabe o que representa o hábito das “boas aquisições” de livro.
biblioteca e restringe a aquisição dos chamados “compêndios”.
Tem o hábito de ir direto às fontes; de ir além dos livros de texto.
10. Lê assuntos vários: livros, revistas, jornais. Em áreas 10. Está condicionado a ler sempre a mesma espécie de
diversas: ficção, ciência, história, etc. Habitualmente nas áreas de assunto.
seu interesse ou especialização.
11. Lê muito e gosta de ler: acha que ler traz informações e 11. Lê pouco e não gosta de ler: acha que ler é ao mesmo
causa prazer. Lê sempre que pode. tempo um trabalho e um sofrimento.
12. O bom leitor é aquele que não é só bom na hora da 12. O mau leitor não se revela apenas no ato da leitura, seja
leitura: é bom leitor porque desenvolve uma atitude de vida: é silenciosa ou oral: é constantemente mau leitor, porque se trata
constantemente bom leitor. Não só lê, mas sabe ler. de uma atitude de resistência ao hábito de saber ler.

1
Salomon, 1974, p. 45-48.

23
Unidade II

Outras dicas:2

Identificação do texto

a. Título: estabelece o assunto e, às vezes, até a intenção do


autor.

5 b. A data de publicação: contextualiza o texto e fornece


elementos para certificar-se de sua atualidade e
aceitação.

c. A “orelha” ou contracapa: local que possibilita aferir as


credenciais ou qualificações do autor. Podemos identificar
10 para qual público a obra é destinada.

d. O índice ou sumário: apresenta todos os tópicos abordados


na obra e como ele está dividido.

e. A introdução, prefácio ou nota do autor: indica os


objetivos do autor e muitas vezes a metodologia por ele
15 empregada.

f. A bibliografia: fornece as informações a respeito das obras


consultadas.

Leitura proveitosa

Muitas vezes, lemos inúmeros textos e não aproveitamos


20 devidamente suas informações. Além de fazer o fichamento3 é
importante:

a. Ter atenção: é necessário concentração para buscar o


entendimento, a assimilação e a apreensão dos conteúdos
básicos do texto.

25 b. Intenção: propósito de conseguir um aproveitamento


intelectual por meio da leitura.
2
Lakatos; Marconi , 2008, p. 19.
3
Fichamento: retirar do texto informações essenciais utilizando
marcações, o fichamento é o resumo das referências que serão consultadas
ao longo do trabalho.

24
METODOLOGIA CIENTÍFICA

c. Reflexão: observar todos os ângulos e ponderar as


informações, descobrir novas perspectivas e pontos de
vista. A reflexão favorece o entendimento e a assimilação
das ideias do autor, aprofundando, assim, nosso
5 conhecimento.

d. Espírito crítico: implica julgamento, comparação,


aprovação ou não do texto. É a avaliação do texto.

Ler com espírito critico significa fazê-lo com reflexão,


não admitindo ideias sem analisar ou ponderar,
10 proposições sem discutir, nem raciocínio sem examinar;
consiste em emitir juízo de valor, percebendo no texto
o bom e o verdadeiro, da mesma forma que o fraco, o
medíocre ou o falso.4

e. Análise: (a) divisão do tema em partes e (b) determinações


15 das relações existentes entre elas.

f. Síntese: tem como objetivo não perder a sequência lógica


do pensamento. É a reconstituição das partes decompostas
pela análise.

Para o estudante-pesquisador o que mais interessa é a


20 chamada leitura de estudo ou informativa. Seu objetivo é a
coleta de informações para determinado propósito. Segundo
Lakatos e Marconi,5 apresenta três objetivos essenciais:

1. certificar-se do conteúdo do texto, constatando o que o


autor afirma — os dados que apresenta e as informações
25 que oferece;

2. correlacionar os dados coletados a partir das informações


do autor com o problema em pauta;

3. verificar a validade dessas informações.

Lakatos; Marconi, 2008, p. 21.


4

Ibid., 2008, p. 22.


5

25
Unidade II

O professor Antonio Joaquim Severino6 sugere uma sequência


de tarefas a serem cumpridas para a análise completa do texto.

9 ANÁLISE DE TEXTOS

9.1 Análise textual

Preparação do texto: divida o texto em unidades de leitura,


em capítulos ou subtítulos.

5 Leia uma primeira vez na íntegra para ter uma visão de


conjunto do texto.

Ao se deparar com palavras ou conceitos desconhecidos, é


preciso buscar esclarecimento de vocabulário, doutrinas, fatos e
autores.

10 Em seguida, procure criar uma esquematização do texto.


Isso pode ser feito dividindo os parágrafos e anotando sobre o
que cada um trata.

9.2 Análise temática

O objetivo da análise temática é a compreensão da mensagem


do autor. Para isso, é preciso distinguir dentro do texto:

15 • tema: do que fala o texto, qual o seu assunto central;

• problema: qual problema o texto procura discutir. O


problema é específico dentro do tema central;

• tese: é a ideia central que o autor defende. É a resposta


que ele deu para o problema levantado no tema;

20 • raciocínio: é o processo lógico utilizado pelo autor; de


onde ele partiu, as etapas, até a conclusão;
6
Severino, 2005, p. 61.

26
METODOLOGIA CIENTÍFICA

• ideias secundárias: são ideias apresentadas pelo autor, mas


não aprofundadas. Também aparecem como exemplos
para argumentação.

9.3 Análise interpretativa

Após compreender a mensagem do texto, é possível fazer a


5 interpretação.

A pesquisa inicial sobre os conceitos utilizados pelo autor


auxilia a identificar sua situação filosófica e influências. Assim,
aparecem os pressupostos do autor e a associação de ideias.

Conhecendo esses dados, é possível fazer a crítica, identificar


10 a coerência interna do texto, a validade dos argumentos, a
originalidade, a profundidade da análise do autor, seu alcance e
a apreciação e juízo pessoal das ideias defendidas.

9.4 Problematização

Levantamento e discussões de problemas relacionados com


a mensagem do autor.

15 Nessa etapa, faz-se a discussão dos problemas que o texto


sugere.

A solução apresentada pelo autor poder ser problemática. O


leitor faz novos questionamentos.

Podem também surgir questões implícitas no texto.

9.5 Síntese

20 Reelaboração da mensagem com base na reflexão pessoal.

Este é o momento em que o estudante retoma com as suas


palavras o que foi abordado no texto e inclui a sua própria
análise e seu próprio texto.

27
Unidade II

A leitura crítica é a base de um bom trabalho acadêmico. Ao


longo do tempo, ficará mais fácil para o estudante-pesquisador
analisar e entender um texto. É apenas uma questão de treino.

Portanto, nunca se deixe intimidar por um texto


5 complexo, tenha sempre à mão um bom dicionário e procure
decifrar as palavras-chave do texto. Esse processo logo será
automatizado.

Existem outros processos importantes — o resumo e o fichamento


de um texto —, que estudaremos mais tarde. Esses dois processos
10 são tarefas muito solicitadas pelos professores nas universidades.
Falaremos primeiramente sobre a pesquisa bibliográfica.

10 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

A pesquisa bibliografia atual conta com uma série de


recursos que não existiam tempos atrás. Por exemplo: hoje não
precisamos consultar apenas os livros. Há várias informações
15 e referências na rede. Além dos livros, usamos a Internet e os
programas audiovisuais. É extremamente importante citar as
fontes utilizadas para obter o conhecimento. Na Unidade III
destacaremos as normas utilizadas pela ABNT a serem seguidas.

A principal base da pesquisa bibliográfica consiste em análise


20 e leitura de texto. Essas fontes de informação devem ser bem
utilizadas, e o trabalho acadêmico deve ser construído, e não
copiado. A Internet pode ser utilizada, desde que sejam feitas
as corretas referências, de acordo com suas especificidades
(aprofundaremos esse assunto na próxima unidade).

25 Os livros ainda são as fontes mais confiáveis, mas isso não


significa que os mesmos devam ser lidos de qualquer maneira; a
leitura crítica é essencial para o bom aproveitamento dos dados.

Lembre-se sempre: a cópia de trabalhos (plágios), além de


ser uma prática desonesta, é ilegal.

28
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Ao fazermos um trabalho científico, devemos estabelecer,


em primeiro lugar, o tema, ou seja, aquilo que queremos
pesquisar. A partir desse ponto, podemos buscar fontes amplas
sobre o assunto, para depois delimitá-lo. Uma dica é pesquisar
5 na biblioteca e na Internet autores que já escreveram artigos
sobre o assunto que escolhemos. Isso é muito importante para
conhecermos melhor o que iremos pesquisar.

Quando se inicia a pesquisa é importante identificar:

O que vou pesquisar, qual é o meu tema? E onde encontrarei


10 as fontes a respeito desse assunto?

Delimitar o assunto também é igualmente importante.

Para começarmos a definir nosso projeto de pesquisa, que


será desenvolvido com mais propriedade na Unidade III, devemos
responder a seguinte pergunta:

15 Eu estudando ______________ (tema), pois quero descobrir


(como, por que, onde...) ____________________________.

Nessa primeira pesquisa, é importante que o estudante


consiga saber até que ponto aquele assunto foi estudado.
Portanto, ele deve pesquisar em primeiro lugar temas mais
20 gerais sobre o assunto e, aos poucos, aprofundar-se. Após ter
conhecimento dos diversos pontos de vista sobre o seu tema, ele
deve selecionar aquele que melhor atenda seus objetivos.

Como encontrar as fontes?

10.1 Biblioteca

Pode ser a biblioteca da faculdade, do bairro ou da cidade.


25 Podemos acessar vários desses acervos através da Internet e
consultar quais são os livros disponíveis naquela instituição que
poderão favorecer nosso trabalho.

29
Unidade II

Abaixo, sugerimos uma relação de bons links para pesquisa


bibliográfica.

Dédalus, da USP
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
Banco de Teses da CAPES
Acesso Livre — Portal de Periódicos da CAPES
Biblioteca Virtual de Estudos Culturais
Biblioteca Virtual de Inovação Tecnológica
SciELO — Scientific Eletronic Library Online

Pesquisa de artigos

Livre — Periódicos on-line


Relação de base de dados da UNIP
Google acadêmico

As bibliotecas seguem uma categorização na catalogação


de livros. A melhor maneira de utilizarmos as informações é
5 conhecer o catálogo ou fichário. Neles constam as informações
essenciais que sempre serão citadas nas notas de rodapé e na
bibliografia.

Quais são essas informações essenciais?

Autor, Título, Editora, Local e Data.

As bibliotecas têm sistemas diferentes de catalogação.


10 Há varias pessoas que podem ajudar o estudante a encontrar
o livro, como também auxiliá-lo na boa utilização do
mesmo.

É importante lembrarmos que os livros são de uso coletivo.


Devemos cuidar para não sujar, estragar ou rabiscar, pois eles
15 serão utilizados por outros alunos.

30
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Valorize sempre esse acervo, pois as bibliotecas são “a mina


de ouro” dos estudantes.

Muitas vezes, estudamos muito, mas esquecemos de fazer


anotações sobre o livro. Em um trabalho cientifico, isso é
5 considerado erro, pois dificultará a otimização do seu tempo.
Portanto, sempre faça um resumo, um fichamento e uma ficha
bibliográfica do livro.

Ficha bibliográfica

Ela deve conter as informações técnicas do livro:

10 • localização;

• autor;

• título completo;

• editora;

• ano;

15 • quantidade de páginas que foram lidas.

É necessário anotar todas essas informações, pois elas serão


cobradas na bibliografia e nas notas de rodapé utilizadas no
trabalho científico.

Outras fontes utilizadas

10.2 Arquivos oficiais do estado ou município

20 São arquivos importantes que guardam uma enorme


quantidade de diversos materiais, como jornais, revistas, atas e
documentos oficiais. Cada instituição tem suas regras; muitas
vezes é necessário apresentar uma carta formal da faculdade ou
da escola para ter acesso a esses documentos.

31
Unidade II

10.3 Internet

Possui inúmeros acervos eletrônicos das grandes


universidades e sites de pesquisa (relacionados acima) além
de uma grande variedade de sites de busca. É de extrema
importância fazer as citações corretas nas referências, para
5 evitar o plágio. Devemos citar nas notas de rodapé o link (site)
utilizado para adquirir a informação e a data de acesso.

10.4 Resumo

Tem como objetivo retirar do texto as informações essenciais


e reescrevê-las, mantendo a lógica do autor.

Pode ser dividido nas seguintes etapas:

10 • ler o texto na íntegra;


• reler parágrafo por parágrafo;
• retirar de cada parágrafo as informações essenciais;
• reescrever (reelaboração da mensagem baseada na
reflexão pessoal).

15 Jamais devemos colar as frases. O texto é escrito no discurso


indireto, deixando claro que as informações são do autor (para
destacá-las, podemos usar o negrito, itálico ou sublinhá-las).

O objetivo é deixar claro quais são as ideias do autor e quais


são as ideias do aluno.

11 RESENHA CRÍTICA

20 Para fazer uma resenha critica, o primeiro passo é


contextualizar a obra e apresentar seu autor. Devemos fazer
uma análise mais apurada sobre: (a) o contexto histórico e social
em que a obra foi escrita; e (b) a visão de mundo do autor.

32
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Ela é a apresentação de um texto ao leitor, com comentários


sobre seu enredo. Portanto, é uma junção entre o resumo e as
análises do aluno.

Quando um professor nos pede um resumo, ele não


5 precisa necessariamente ter uma opinião crítica do estudante.
Já a resenha crítica tem sempre essa característica. Daí a
necessidade de aprofundar no texto, buscar a contextualização
no tempo e espaço e conhecer as influências e a biografia do
autor.

10 É a partir dessas influências que o autor constrói a sua


visão de mundo e suas ideologias. O aluno pode concordar
com essas ideias ou não, mas, para argumentar a sua posição,
ele deve ter um conhecimento mais amplo adquirido pela
análise da obra.

12 FICHAMENTO

15 Utilizamos a ficha bibliográfica citada anteriormente.

O fichamento administra melhor o tempo do aluno. O


tempo utilizado para escrever uma dissertação de mestrado, ou
mesmo um trabalho acadêmico não é longo, portanto, devemos
otimizá-lo para ter melhores resultados.

20 O objetivo do fichamento é retirar do texto os elementos


essenciais, que retomem a lógica interna do texto. Para fazê-lo,
devemos utilizar marcações com os números das páginas de
onde as informações foram retiradas.

Exemplo:

25 800.42

S54c
_____________________________________________

33
Unidade II

Luis Suárez — cap.1 da obra Las grandes interpretaciones


de la Historia. Vol.13 — Biblioteca de Divulgación Cultural. Ed.
Moretón, Bilbao. España, 1968.
_____________________________________________

O conceito de História
5 História sucedido e História conhecimento
_____________________________________________

A palavra “História” expressa dois conceitos diferentes: (a) a


plenitude do suceder; (b) o conhecimento deste suceder.

Vem do grego historien, que significa “curiosear”, “inquirir”


ou “investigar”. Em alemão: Historie = a realidade do suceder;
10 Geschichte = a ciência.

O autor se ocupa das interpretações do suceder histórico


no ocidente. A cultura ocidental busca uma explicação total do
passado, o que se mostra impossível. Alguns motivos:

• o historiador se ocupa não de todos os acontecimentos


15 passados, mas de certa classe deles, aos quais chama
“fatos históricos” (p. 14);

• dos fatos históricos, o pesquisador elege somente


aqueles que tem a ver com seu trabalho. O historiador
é filho do seu tempo, sua tarefa não é o estudo objetivo
20 do passado, mas o conhecimento do presente através
do passado. Exemplo: a tendência atual aos estudos
de história econômica e social; não é moda, mas
necessidade.

Importante: nenhum fato pode ser apreendido sem


25 que ao mesmo tempo seja compreendido, isso vai contra o
positivismo. Nenhum historiador contempla a historia de fora
(p. 15).

34
METODOLOGIA CIENTÍFICA

800.42

S54c

Estes números e letras se encontram nas lombadas dos livros


quando os mesmos pertencem a uma biblioteca, e é através
5 deles que nos localizamos nas diversas estantes existentes na
biblioteca. É importante anotarmos esses números, porque
muitas vezes durante os estudos termos que utilizar novamente
um livro. A anotação dessas referências otimiza nosso tempo.

No início desta aula, salientamos:

10 • a importância de ler para escrever melhor;


• como coletar e registrar essas informações de maneira
organizada.

Agora vamos sugerir sobre a escrita

13 O PROCESSO DA ESCRITA

O autor Whitaker Penteado7 apresenta um processo para


15 ajudar o estudante no processo da escrita. Segundo ele, a escrita
está dividida em três fases:

13.1 Invenção

É o esforço do “espírito”; operação por meio da qual


assimilamos o assunto da exposição e adquirimos sobre ele o
mais completo domínio. Ou seja:

20 • caracterização da evidência: nada aceitar por verdadeiro


que não seja evidente;
• regra da análise: dividir cada dificuldade em tantas partes
quantas sejam necessárias; conhecer cada elemento
isolado do texto que você quer escrever;

Whitaker Penteado, “A exposição da escrita”, 1977, p. 242.


7

35
Unidade II

• regra da análise e da síntese: fazer pesquisas e revisões


minuciosas, não omitir nada.

13.2 Disposição

Arte de bem dispor o que vai escrever; organização dos


materiais reunidos durante a invenção.

5 a. Exórdio: captar as graças de quem lê. Uma introdução


atraente para o leitor.

b. Proposição: sumário do assunto. Um resumo do que será


tratado no texto.

c. Narração: dar a conhecer os fatos indispensáveis à


10 compreensão da causa que quer sustentar.

d. Demonstração: provar que a nossa opinião é incontestável;


usar raciocínios dos quais se extraem consequências.

e. Confirmação: desenvolvimento das provas em apoio à


tese;

15 f. Refutação: destruir antecipadamente as provas em


contrário.

g. Peroração: coroamento da disposição; deve ser oportuna


e pode compreender uma recapitulação geral, com
encerramento persuasivo.

13.3 Elocução

20 Procura da forma, execução técnica do estilo, a transposição


do pensamento em palavras.

Essas três etapas compreendem uma lógica interna no texto,


com começo, meio e fim. Um bom texto terá essas etapas
postas de forma clara.

36
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Whitaker Penteado (1977) deixa algumas dicas para o


estudante escrever melhor:

• escreva com naturalidade;

• conheça a língua;

5 • aprenda a pensar;

• escreva para o leitor;

• escreva legivelmente;

• use a sua capacidade de observação;

• seja conciso e preciso — não escrever nem mais nem


10 menos do que o indispensável à compreensão;

• leia em voz alta; isso ajuda a pegar os erros de concordância


verbal e nominal.

A maneira como escrevemos reflete nossa leitura. Insisto,


uma vez mais, que a melhor maneira de aprender a escrever é
15 ler.

14 ESTRUTURA INTERNA DO TEXTO


ACADÊMICO

O tipo de texto utilizado como padrão pela academia é a


dissertação.8

A dissertação consiste em organizar todo o material obtido


em três partes:

Dissertar é, através da organização de palavras, frases e textos,


8

apresentar ideias, desenvolver raciocínio, analisar contextos, dados e fatos.


Neste momento, temos a oportunidade de discutir, argumentar e defender
o que pensamos através de fundamentação, justificação, explicação,
persuasão e de provas. A elaboração de textos dissertativos requer domínio
da modalidade escrita da língua, desde a questão ortográfica ao uso de
um vocabulário preciso e de construções sintáticas organizadas, além de
conhecimento sobre o assunto que se vai abordar e posição crítica (pessoal)
diante desse assunto.

37
Unidade II

A. Introdução

Deve apresentar de maneira clara o assunto que será tratado


e delimitar as questões referentes ao assunto a ser abordado.

Neste momento, pode-se formular uma tese, que deverá


5 ser discutida e provada no texto, propor uma pergunta, cuja
resposta deverá constar no desenvolvimento e explicitada na
conclusão.

B. Desenvolvimento

É a parte do texto em que as ideias, pontos de vista, conceitos,


10 informações de que dispõe serão desenvolvidas, desenroladas e
avaliadas progressivamente.

C. Conclusão

É o momento final do texto; este deverá apresentar um


resumo forte de tudo o que já foi dito. A conclusão deve expor
15 uma avaliação final do assunto discutido.

Essas partes são interdependentes, ou seja, relacionam-se


umas com as outras. A produção de textos dissertativos está
intrinsecamente ligada à capacidade argumentativa do aluno.

Dicas importantes para a construção do texto acadêmico

20 Organize os dados colhidos em pastas; separe por conteúdo,


anotando sempre a referência (de onde foi retirada a informação).
As fichas de leitura podem ser organizadas da mesma forma.

Escolha os argumentos que serão utilizados; enumere-os


por ordem de importância mentalmente. Encontrar argumentos
25 contrários ao que se quer afirmar no texto também é importante.
Pode-se apresentar tais argumentos e em seguida, refutá-los. O
importante é dar ênfase aos argumentos favoráveis a sua tese.

38
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Incremente o argumento com apresentação de dados,


tabelas, gráficos, estatísticas, etc. Esses elementos devem ser
bem-utilizados; não devem ser jogados no meio do texto sem a
devida argumentação em torno da sua importância. Devem ser
5 comentados e apresentar também a devida referência.

Deve-se seguir sempre a estrutura introdução,


desenvolvimento e conclusão. Esse tipo de estrutura permite o
acompanhamento lógico do texto, evitando que o pesquisador
se perca na argumentação.

10 Use sempre o verbo na forma passiva. Em vez de utilizar a


terceira pessoa do plural, por exemplo, pensamos, queremos,
veremos, etc., utilizar pensa-se, quer-se, ver-se-á, etc. Essa forma
verbal é a mais indicada em trabalhos científicos, permite ao
estudante um distanciamento maior da pesquisa e do seu objeto.
15 Pressupõe-se que o trabalho acadêmico deve ser o mais isento
possível de preconceitos e se basear sempre em argumentação.

Ao fazer uma afirmação própria, utiliza-se a primeira pessoa,


sem o pronome; em vez de “Eu penso...”, utilizar: “Penso que tal
análise...”.

15 REDAÇÃO

20 Os dez mandamentos de uma boa redação, segundo Withaker


(1977):9

• use palavras e frases simples;


• use palavras e frases coloquiais;
• use pronomes pessoais;
• use ilustrações e exemplos gráficos;
• use preferivelmente parágrafos e sentenças curtas;
• use verbos ativos;

9
Whitaker Penteado, “A exposição da escrita”, 1977, p. 242.

39
Unidade II

• economize adjetivos e floreados;


• evite rodeios;
• faça com que cada palavra tenha a sua função no
texto;
• atenha-se ao essencial.

Quando escrevemos um texto, precisamos pensar no nosso


leitor, ou seja, no nosso público-alvo; devemos escrever um
texto dirigido a especialistas, mas que também o público leigo
possa entender.

5 Para tanto, é necessário escrever de maneira clara e


compreensiva, valorizando a precisão. Há de se desenvolver a
coesão e coerência.

Coesão: auxilia na clareza do texto. Vários manuais de


redação trazem exercícios para auxiliar na coesão textual. O
10 estudante-pesquisador deve conhecer e aperfeiçoar a coesão
textual. O autor Antonio Suárez Abreu (2005) apresenta algumas
observações a respeito da coesão:

“Exemplo: Pegue três maçãs, coloque-as sobre a mesa. O as


se refere às maças. Ou seja, não é preciso repetir na mesma frase
15 o sujeito”.

Coerência: Abreu (2005) apresenta quatro princípios


fundamentais ou metarregras de coerência textual. Elas auxiliam
na composição e evitam erros absurdos.

a. Meta-regra da repetição: um texto coerente deve ter


20 elementos repetidos (coesão textual).
b. Meta-regra de progressão: um texto coerente deve
apresentar renovação do suporte semântico. (informações
novas à medida que vai avançando).

40
METODOLOGIA CIENTÍFICA

c. Meta-regra da não-contradição: em um texto coerente,


o que se diz depois não pode contradizer o que se disse
antes ou o que ficou pressuposto (fazer sentido).
d. Meta-regra da relação: em um texto coerente, seu
5 conteúdo deve estar adequado a um estado de coisas no
mundo real ou em mundos possíveis.

Mais algumas dicas importantes destacadas pelo autor


Umberto Eco10:

A. Não escreva períodos (frases) longas:

10 Evite repetir o sujeito e elimine os excessos de pronomes


e adjetivos e frases subordinadas.

B. Abra parágrafos com frequência.

Quando mudar o tema tratado, quando incluir uma


análise ou explicação para um conceito. Ao exemplificar
15 de maneira mais detalhada.

Nunca faça de uma frase um parágrafo.

C. Como exercício, escreva tudo que lhe vier à cabeça.

Depois vá limpando os excessos; se houver informações


a mais que não tem o tema de seu estudo como foco,
20 deixa-as na nota de rodapé ou escreva um textinho extra
para ir ao apêndice.

D. Mostre o texto com antecedência para o(a) professor(a).

Peça que o auxilie na correção e comentários sobre as ideias.

E. Defina sempre um termo ao introduzi-lo no texto pela


25 primeira vez.

Eco, 2005, p. 117-123.


10

41
Unidade II

Não o use se não souber do que se está falando.

Em cada área há termos técnicos que são imprescindíveis,


procure conhecê-los e dominar seus significados.

Uma pessoa da área de tecnologia, por exemplo, não


5 poderia escrever um texto sem saber corretamente a
definição para software, internet, etc.

F. Não use artigo diante de nome próprio. Nunca escreva “o


Marx”, “o Weber”, etc.

G. Não aportuguesar demais os nomes dos autores


10 consagrados.

Não transforme Jean-Paul Sartre em João Paulo Sartre,


Karl Marx em Carlos Marx, etc.

Ressaltamos a importância da estrutura interna de um texto


científico: ele deve ser bem argumentado, ter começo, meio e
15 fim. Deve, ainda, adotar uma linguagem com a qual o leitor
consiga entender as ideias do autor de forma ampla e rápida.

Escrever é um trabalho difícil, que exige muita prática. Não


desanime e deixe sempre o texto “decantar”, isto é, escreva
bastante e descanse um pouco antes de reler o texto. Muitas
20 vezes, é necessário nos distanciarmos um pouco da produção
para podermos retomá-la com mais eficiência. Não deixe tudo
para a última hora; quando fazemos isso, percebemos, depois do
trabalho corrigido, que poderíamos ter feito muito melhor.

42
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Unidade III
16 PROJETO DE PESQUISA

Segundo Booth (2000, p.19), “Pesquisar é reunir informações


necessárias para encontrar uma resposta a uma pergunta e assim
chegar à solução de um problema”.

Para elaborarmos um projeto de pesquisa, precisamos escolher


5 um assunto, ler o que outras pessoas escreveram sobre ele, coletar
dados e, a partir daí, formular uma pergunta (problematização).
Toda pesquisa tem como objetivo dar a resposta a essa pergunta
– seja pela refutação ou pelo reforço das hipóteses.

Com base no roteiro elaborado pelo professor José J. Queiroz,1


10 apresentaremos alguns passos para a construção de um projeto
de pesquisa:

1º passo: o tema

Primeiramente, o tema deve nascer de um interesse do


aluno. Algum assunto no qual ele gostaria de trabalhar por dois
15 anos discutindo e estudando. A empatia pelo objeto de estudo
é fundamental.

A melhor maneira de descobri-lo é olhar para dentro de


si mesmo e entender a natureza dos seus interesses. Quais
aulas mais despertam sua curiosidade e simpatia? Qual tema
20 acadêmico o faz sentir motivado e livre para defendê-lo?

Uma boa forma de escolher o tema é delimitá-lo e fazer


uma pesquisa ampla sobre o assunto, como já salientamos.
Disponível em <http://www4.uninove.br/mkt//downloads/decalogo_
1

da_pesquisa.pdf>. Acesso em: 20 maio 2009.

43
Unidade III

É também interessante pesquisar sites de pós-graduação e


conferir as linhas de pesquisas de cada professor, especialmente
os que defendem o tema de seu interesse. Investigue as linhas
de pesquisa existentes nas instituições. Você necessitará de um
5 orientador. Tomadas essas medidas, o seu processo seletivo
estará facilitado.

Outro cuidado importante é observar a relevância do tema


na atualidade. Você precisará justificar a funcionalidade e a
importância do tema escolhido. Qual é a relevância do assunto e
10 como ele pode contribuir para a sociedade? Quais os problemas
que poderá resolver? Qual a sua significância? Por que ele é
importante para a coletividade?

O projeto nasce de uma paixão individual, mas ele deve


atender o coletivo e responder às demandas da sociedade.

15 Quando você iniciar a pesquisa geral, perceberá se o tema


escolhido pode ou não ser estudado, se há dados e referências
a serem analisadas e se o tempo de dois anos é suficiente para
a pesquisa. Por isso é necessário delimitar o tema. Evitar temas
panorâmicos.

20 O título do trabalho/tema muda conforme o projeto, mas é


bom desde o início “dar nome aos bois”. Para organizar sugerimos
dividir o enunciado:

Título geral: deve ser amplo e chamativo.

Subtítulo (específico ou técnico): a delimitação do objeto de


25 estudo. O subtítulo deve enunciar com clareza o objeto e seus
limites (passo 3).

2º passo: apresentação do tema

É a ideia inicial. Ela deve ter um texto claro e sucinto


explicando a importância do tema e a motivação do autor. É

44
METODOLOGIA CIENTÍFICA

recomendado observar qual modelo de projeto será pedido


na instituição escolhida. Por vezes, alguns desses passos não
constam no projeto.

3º passo: delimitação do tema e do objeto

5 Ressaltamos que objeto é diferente de objetivo. Objeto é


aquilo que você irá estudar. É seu objeto de estudo. Objetivo é o
que você pretende com a análise daquele objeto.

Ele deve ser enunciado com clareza, e seus limites devem ser
estabelecidos com precisão.

10 Como delimitar um tema?

Existem alguns critérios que facilitam a delimitação. São eles:

Onde? Quando? Quem e como?

Onde. Espacialidade: local onde o objeto está localizado.


Por exemplo: a cidade, bairro, instituição ou marca que será
analisada. Ou, no caso de uma análise audiovisual, onde o
15 produto foi filmado.

Quando. Temporalização: período ou época em que o objeto


será estudado. Período ou época no qual a obra analisada foi
feita (contextualização).

Quem. Pessoas ou segmentos sociais que serão analisados


20 (público-alvo).

Como. Ponto de vista: prisma ou enfoque da abordagem.


Como observamos anteriormente, existem inúmeras vertentes
cientificas e métodos — é necessário defini-los. Para definirmos
esse item, é necessário também definir os autores que sustentarão
25 nossas proposições científicas.

45
Unidade III

Outra sugestão interessante é responder às seguintes


perguntas:

Passo A — Especificação do tópico:

Estou aprendendo sobre/ trabalhando em/ estudando _____


5 _______________________________________________.

Passo B — Sugira uma pergunta:

Estou estudando X porque quero descobrir quem/ onde/


quando/ se/ por que/ como____________________________
_______________________________________________.

10 A partir dessa pergunta, podemos partir para o problema.

4º passo: problematização

A problematização é o conjunto de dúvidas ou questões


que se quer resolver ou descobrir dentro de um tema. Ela
surge a partir do contato com a bibliografia existente ou dados
15 coletados sobre o tema. As dúvidas expressas no problema da
pesquisa comandam todo o trabalho de investigação: da busca
de teorias e conceitos relevantes à observação da realidade
(coleta de dados), ao tratamento desses dados e às conclusões
e conhecimento desenvolvido a partir do problema que nos
20 moveu a investigar.

Problema de pesquisa

O que será que...? Como tal coisa se caracteriza? Que sentido


tem? Por que tal processo acontece? Que diferenças existem
entre...? Quais as formas diversificadas e variações de tal processo
25 comunicacional?

46
METODOLOGIA CIENTÍFICA

O que não é problema de pesquisa

a. Aqueles que, para serem supridos, basta uma ida à


biblioteca. Essas dúvidas não levam à pesquisa, mas ao
estudo. Na pesquisa, essas dúvidas também aparecem,
5 mas serão logo supridas na biblioteca ou consultando
especialistas. Elas não são o “eixo” da sua pesquisa.

b. Questões que decorrem de falta de prática. Se você não


sabe como redigir uma peça publicitária, você resolve
essa curiosidade, praticando, e não pesquisando para
10 aprofundar o conhecimento das regras. “Como obter uma
solução para organizar a melhor comunicação em nosso
ambiente de trabalho?” é um problema prático, concreto,
empírico, e não teórico.

É relevante para a comunicação conhecer quais cores atingem


15 melhor determinas pessoas? Ou os efeitos sociais da violência
ficcional televisiva? Porém, não é possível coletar dados tão
complexos com validade em tão poucos anos. Isso pode gerar
um ensaio com boas “sacações”, mas não uma pesquisa.

Problemas de conhecimento

20 Problemas práticos pedem uma solução geralmente


desenvolvida por meio de interferência no ambiente. Até mesmo
os tipicamente profissionais (O que fazer para que...? Como
obter mais qualidade em tal processo? Como evitar equívocos
de tal tipo? Como resolver com mais eficiência tal processo?).

25 O que é preciso saber sobre tal situação? O que devermos


descobrir sobre ela para que nosso conhecimento da
realidade em foco seja ampliada? Um problema de pesquisa
pode ser derivado de um problema prático. Se o problema
prático é suficientemente complexo, torna-se necessário o
30 aprofundamento do conhecimento sobre a situação, antes
mesmo de buscarmos as soluções práticas.

47
Unidade III

A pesquisa acadêmica é o trabalho que prioriza o


conhecimento em suas bases mais profundas. O mestrado é uma
delas, e tem como instrumento a dissertação.

Expressando um problema de pesquisa

5 a. Não há regras. Inicia-se com aquele documento


preparatório respondido anteriormente.

b. Comece a escrever perguntas, tudo o que você consiga


perguntar (brainstorming). O prêmio aqui não é para as
boas perguntas, mas para a maior diversidade possível.

10 c. Crítica às perguntas. Distinga as perguntas que expressam


apenas falta de informação e de maiores estudos (é aquele
conhecimento que você desconfia que já existe em algum
lugar, mas que precisará dele mais tarde).

d. Descarte as perguntas práticas que pedem soluções


15 concretas, ações, propostas diretas sobre “o que fazer
para”... Verifique se não é possível derivar delas problemas
de conhecimento.

e. Separe as questões amplas demais ou muito genéricas.


Exemplo: “Como a comunicação modifica os processos
20 de aprendizagem tradicionalmente ancorados no
livro?”. Pode ser feito um ensaio sobre eles em dois
meses de trabalho... Mas uma pesquisa, nem mesmo
em dez anos.

f. Perguntas que requerem respostas binárias (sim/não).


25 Procure derivar delas perguntas mais sutis ou complexas,
do tipo “Como?” “Quais?”. Exemplo: “Há diferenças
internas na situação dada como monolítica?” (sim ou
não). Mudando: “Que diferenças podem ser percebidas
(em alguma coisa que parece em geral monolítica)?” ou
30 “Que semelhanças podemos encontrar (em coisas que

48
METODOLOGIA CIENTÍFICA

parecem diferentes ou isoladas entre si)?”. Essas perguntas


estão abertas à descoberta!

Tente uma segunda rodada de geração de perguntas.

Sistematizando as perguntas

5 O melhor é que sejam poucas perguntas na construção de um


problema no projeto de pesquisa. O importante é a consistência
do conjunto, sua relevância e sua possibilidade de demarcar um
território sobre o assunto.

Organize as perguntas mais relevantes e as secundárias.


10 Mais amplas e mais específicas. Independentes entre si ou
relacionadas; relacionadas em paralelo ou por subordinação.
Mais teóricas ou mais voltadas à busca de dados... etc.

O objetivo é buscar um conjunto integrado, internamente


relacionado de perguntas. Não fique satisfeito cedo demais.
15 Brinque com as possibilidades como se fosse um jogo de armar.
Durante esse processo, é comum reformular perguntas, criar
outras, substituir...

5º passo: hipóteses

As possíveis soluções do problema. É uma opção do autor


20 frente ao(s) problema(s) levantado(s). Constitui a ideia central
do trabalho e será objeto de demonstração.

Uma pesquisa é um trabalho de investigação para confirmar


ou informar uma hipótese. Mas...

a. Hipóteses relevantes aparecem em estágios avançados de


25 reflexão.

b. As hipóteses avançadas derivam de problemas de pesquisa


longamente elaborados.

49
Unidade III

O que não é hipótese

Proposições, premissas = ideias, impressões, propostas que


temos simplesmente por nos envolvermos continuadamente
com um tema, por experiência prática ou leituras. Hipóteses
5 de solução de um problema, não são hipóteses de pesquisa.
Por exemplo, propor táticas de comunicação comunitária para
produzir uma TV educativa. A proposta não é “hipótese de
pesquisa” (ponto final pretendido da pesquisa), e sim uma ação
prática (ou ponto de partida, ou meta posterior à pesquisa) para
10 só então gerar conhecimento.

“Sacação”, lampejo: trabalhamos com um assunto qualquer,


observamos o que as pessoas fazem e dizem, lemos a respeito, de
repente percebemos perspectivas que aparentemente ninguém
parece ter — é a nossa “intuição”.

15 Porém, tudo isso nem sempre são hipóteses de pesquisa, mas


um ponto de partida. Jamais provaríamos aquelas “hipóteses”
como não verdadeiras porque estaríamos dirigidos a provar o que
pensamos ser verdadeiro, gerando uma cegueira involuntária.
Mas normalmente uma ideia gerada por forte envolvimento com
20 a coisa é mesmo “verdadeira” (válida para o espaço e contexto
em que foi proposta) e se sustenta pela constatação ao vivo,
sem precisar de pesquisa para demonstrá-lo.

Não é necessário jogar fora a ideia brilhante. Elas serão


usadas mais tarde.

25 O que é relevante: evite achar que ideias ou premissas são


hipóteses de pesquisa. Considere-a como um “pressuposto”.2

Mas isso não é uma “hipótese de pesquisa” que vá gerar


investigação para confirmar ou infirmar a afirmação. Isso é
uma hipótese de trabalho, usada como base para organizar a
30 observação: se essa hipótese é verdadeira, o que poderia descobrir
sobre esses processos, já que possuo essas afirmações?
2
Hipo-tese = menos que tese (uma afirmação sobre a qual não
estamos muito convictos).

50
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Não vamos estudar as hipóteses, mas tomá-las como


verdadeira e usá-las como modo ou instrumento para direcionar
as observações.

As hipóteses de pesquisa não são as ideias dos passos iniciais


5 com os quais damos encaminhamento à investigação, mas a
prefiguração do ponto de chegada. Portanto, é melhor pensar
na formulação do problema primeiro.

6º passo: objetivos do trabalho

Importante: objeto é diferente de objetivo!!!

Objeto: é o núcleo central do trabalho, seu alvo exatamente


10 demarcado.

Objetivos: são os resultados que o autor pretende alcançar


com o projeto.

Vamos inserir mais uma pergunta a ser respondida aqui.

Motive sua pergunta: a fim de entender como, por que ou se.

15 Estou estudando _________________ porque estou


tentando descobrir (como/ porque/se/onde ____________
______________________________________ a fim de
entender_________________________________________.

Seu objetivo final é explicar:

20 • o que você está escrevendo — seu tópico;

• o que você não sabe sobre ele — sua pergunta;

• por que você quer saber sobre ele — seu fundamento


lógico.

51
Unidade III

Objetivo geral

É o objetivo maior e o mais amplo de sua pesquisa. Inclui as


variáveis a serem pesquisadas. Começa com um verbo de ação:
identificar, analisar, descrever, etc.

5 Objetivos específicos

Definem ou descrevem as etapas a serem cumpridas para


alcançar o objetivo geral. Começam com um verbo (ação).

Cada objetivo, além de ser claro, expressa apenas uma ideia


ou ação.

10 Verbos de ação

Conhecer
• Apontar
• Enumerar
• Identificar
15 • Relacionar
• Descrever
• Definir
• Ordenar
• Classificar
20 • Distinguir
• Demonstrar
• Revisar

Analisar
• Analisar

52
METODOLOGIA CIENTÍFICA

• Comparar
• Calcular
• Relacionar
• Distinguir

5 Aplicar
• Propor
• Esquematizar
• Construir
• Selecionar
10 • Empregar
• Organizar
• Interpretar
• Traçar
• Estruturar
15 • Criar
• Desenvolver

7º passo: referencial teórico

Constrói um conjunto de princípios sistemáticos, lógicos


e coerentes. O referencial teórico não é citação de obras; é
20 extremamente importante que o aluno comece a separar esse
material desde a primeira pesquisa bibliográfica. Como fazer?
Devemos anotar aqueles autores que consideramos importantes
para nos dar a base da teoria. A escolha desses autores determina
todo o caminho teórico que o pesquisador irá traçar.

25 Concluímos que os referenciais teóricos são categorias de


análise pelas quais o autor opta. Tem o objetivo de clarear os

53
Unidade III

conceitos fundamentais, fundamentar e desenvolver hipóteses,


iluminar o objeto e sustentar o trabalho.

Esse quadro teórico não deve ser sincrético; a mistura de


diversos dados empíricos e teorias podem confundir o objeto.
5 Isso não quer dizer que sincretismo seja proibido, apenas
devemos ter muito cuidado para não sermos contraditórios.

Podemos desenvolver um capítulo inteiro falando apenas da


teoria ou podemos diluí-la ao longo das análises (principalmente
no capítulo reservado às hipóteses).

10 É interessante que a escolha do estudante a respeito


dos autores que compõem o quadro teórico do projeto seja
semelhante aos autores adotados pelo orientador. Por isso a
importância de conhecermos as linhas de pesquisa e trabalhos
desenvolvidos pelos professores da pós-graduação que
15 escolhermos. Assim será mais fácil encontrar um orientador que
“fale a mesma língua do estudante”.

8º passo: procedimentos metodológicos

Segundo Lakatos e Marconi (2008, p. 83):

(...) o método é o conjunto de atividades sistemáticas


20 e racionais que, com maior segurança e economia,
permite alcançar o objetivo — conhecimentos
válidos e verdadeiros —, traçando o caminho a ser
seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do
cientista.

25 Ele é o processo geral do raciocínio. Seu objetivo é enunciar


os caminhos probatórios, as ferramentas de coleta do material
para trabalhar o objeto e provar as hipóteses.

Concluímos que o método científico é a teoria da investigação.


E necessitamos cumprir as seguintes etapas:

54
METODOLOGIA CIENTÍFICA

a. descobrimento do problema ou lacuna num conjunto


de conhecimentos. Se o problema não estiver enunciado
com clareza, passa-se à etapa seguinte; se o estiver, passa-
se à subsequente;

5 b. colocação precisa do problema, ou ainda recolocação


de um velho problema, à luz de novos conhecimentos
(empíricos ou teóricos, substantivos ou metodológicos);

c. procura de conhecimentos instrumentos relevantes ao


problema (por exemplo, dados empíricos, teorias, aparelhos
10 de medição, técnicas de calculo ou de mediação). Ou seja,
exame do conhecimento para tentar resolver o problema;

d. tentativa de solução do problema com auxílio dos


meios identificados. Se a tentativa resultar inútil, passa-se
para a etapa seguinte; em caso contrário, à subsequente;

15 e. invenção de novas ideias (hipóteses, teorias ou técnicas)


ou produção de novos dados empíricos que prometam
resolver o problema;

f. obtenção de uma solução (exata ou aproximada) do


problema com auxílio do instrumental conceitual ou
20 empírico disponível;

g. investigação das consequências da solução obtida.


Em se tratando de uma teoria, é a busca de prognósticos
que possam ser feitos com seu auxílio. Em se tratando de
novos dados, é o exame das consequências que possam
25 ter as teorias relevantes;

h. prova (comprovação) da solução: confronto da solução


com a totalidade das teorias e da informação empírica
pertinente. Se o resultado é satisfatório, a pesquisa é dada
como concluída, até novo aviso. Do contrario, passa-se
30 para a etapa seguinte;

55
Unidade III

i. correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou


dados empregados na obtenção da solução incorreta.
Esse é, naturalmente, o começo de um novo ciclo de
investigação.3

5 Resumindo...

O método científico, segundo Bunge, é cíclico e recursivo.


Divide-se em:

• descobrimento do problema;

• colocação precisa do problema;

10 • procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes do


problema;

• tentativa de solução do problema com auxílio dos meios


identificados;

• invenção de novas ideias (hipóteses) ou produção de novos


15 dados empíricos que resolvam o problema; obtenção de
uma solução;

• investigação das consequências da solução obtida;

• prova (comprovação) da solução;

• correção das hipóteses (feedback) = início de novo ciclo.

20 Na Unidade I, falamos da existência de diversos métodos;


vamos nos aprofundar em alguns deles:

Método indutivo: “(...) é um processo mental por intermédio


do qual, partindo de dados particulares, suficientemente
constatados, infere-se uma verdade geral ou universal”.4
3
Bunge, 1980, p. 25.
4
Lakatos; Marconi, 2008, p. 86.

56
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Exemplo:

O corvo 1 é negro.

O corvo 2 é negro.

O corvo 3 é negro.

5 Então todo corvo é negro.

Esse método “(...) vai do especial ao mais geral, dos indivíduos


as espécies, das espécies aos gêneros, dos fatos às leis ou das leis
especiais as leis mais gerais”.5

Fases do processo indutivo:

10 a. observação dos fenômenos;


b. descoberta da relação entre eles;
c. generalização da relação.

Método dedutivo

Iremos exemplificar o método dedutivo, comparando-o com


15 o indutivo.

Dedutivo:

Todo mamífero tem um coração.

Ora, todos os cães são mamíferos.

Logo, todos os cães têm coração.

20 Indutivo:

Todos os cães que foram observados tinham um coração.


Ibid., p. 86.
5

57
Unidade III

Logo, todos os cães têm um coração.

Segundo Salmon (1978),6 existem duas características básicas


que distinguem os argumentos indutivos e dedutivos:7

Indutivo Dedutivo

I - Se todas as premissas são I – Se todas as premissas são


verdadeiras, a conclusão é verdadeiras, a conclusão deve ser
provavelmente verdadeira, mas não verdadeira.
necessariamente verdadeira.

II – Toda a informação ou conteúdo


II – A conclusão encerra informação fatual da conclusão já estava
que não estava, nem implicitamente, pelo menos implicitamente, nas
nas premissas. premissas.

Método hipotético dedutivo

5 Cria-se uma solução provisória, uma tentativa de teoria,


a qual passa a ser criticada, pelo próprio autor, com vistas a
eliminar o erro.

Expectativa ou
conhecimento
prévio Nova
teoria

Conjeturas
Problema (solução provisória) Falseamento

Definição desses momentos no processo investigatório,


segundo Poper (1975, p. 95):

10 I. Problema: surge, em geral, de conflitos ante


expectativas e teorias existentes.

6
Salmon, 1978, p. 30.
7
Lakatos; Marconi, 2008, p. 92.

58
METODOLOGIA CIENTÍFICA

II. Solução: proposta consistindo numa conjectura


(nova teoria); dedução de consequências na forma de
proposições passíveis de teste.

III. Falseamento: testes, tentativas de refutação, entre


5 outros meios, pela observação e experimentação.

Para Bunge8 as etapas desse método são:

1. Colocação do problema: (a) reconhecimentos dos fatos;


(b) descoberta do problema; (c) formulação do problema.

2. Construção de um modelo teórico: (a) seleção dos fatores


10 pertinentes; (b) invenção das hipóteses centrais e das
suposições auxiliares.

3. Dedução de consequências particulares: (a) procura de


suportes racionais; (b) procura de suportes empíricos.

4. Teste das hipóteses: (a) esboço de prova; (b) execução


15 da prova; (c) elaboração de dados; (d) inferência da
conclusão.

5. Adição ou introdução das conclusões na teoria:


(a) comparação das conclusões com as predições e
retrodições; (b) reajuste do modelo; (c) sugestões para
20 trabalhos posteriores.

Método dialético

Segundo Lakatos e Marconi,9 existem quatro leis fundamentais


da dialética; são elas:

1. “Tudo se relaciona”. Ação recíproca, unidade polar.

25 2. “Tudo se transforma”. Mudança dialética, negação da


negação.
8
1974, p. 70.
9
Lakatos; Marconi, 2008, p. 100.

59
Unidade III

3. Mudança qualitativa. Passagem da quantidade à


qualidade.

4. Contradição. Interpelação dos contrários, ou luta dos


contrários.

Tese Antítese Síntese

5 O método dialético é o desenvolvimento pela oposição dos


contrários e contém três etapas:

• tese: uma afirmação;


• antítese: uma oposição a tese. Desse conflito, nasce a:
• síntese: que é uma nova tese.

10 E assim sucessivamente.

Existem outros métodos citados na Unidade I; são eles:

1. histórico;

2. comparativo;

3. monográfico;

15 4. estatístico;

5. tipológico;

6. funcionalista;

7. estruturalista;

8. etnográfico;

20 9. clínico.

60
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Mas não é nosso interesse desenvolvê-los nesse momento.

Procedimentos técnicos

O procedimento técnico é constituído pelos instrumentos a


serem utilizados para colher dados do campo empírico. São eles:

5 1. observação de campo;

2. pesquisa participante;

3. entrevistas (abertas, em profundidade ou fechadas);

4. questionários (quais, quantos e com quais questões;

5. coleta de documentos;

10 6. consulta de arquivos (quais, onde e como), etc.

9º passo: plano e cronograma

Plano provisório

É um roteiro preliminar do trabalho, um esqueleto, em que


iremos dividir os capítulos e colunas do trabalho. Uma boa dica
15 é selecionar as bases-mestras da dissertação, as palavras-chave
e, a partir delas, construir capítulos. Dentro de cada capítulo
devemos separar as etapas necessárias para a conclusão. É
importante que cada capítulo tenha começo, meio e fim. O
enunciado de cada capítulo deve ter como maior preocupação
20 responder às indagações do autor e provar as hipóteses.

Esse plano pode ser alterado no decorrer do trabalho.

Cronograma

É onde você vai programar o tempo de cada parte do seu


estudo.

61
Unidade III

Num programa stricto sensu (mestrado), normalmente os


alunos cumprem os créditos relativos às disciplinas. Já o terceiro
semestre é dedicado à qualificação do projeto, ou seja, o foco é
escrever. No quarto semestre, precisamos terminar o projeto e
5 fazer as devidas alterações, preparando a defesa.

Genericamente, os prazos gerais para a conclusão do mestrado


ou doutorado, segundo a CAPES, são dois anos. Um tempo curto
que deve estar bem organizado, para evitar problemas.

O cronograma também pode ser baseado nas tarefas que


10 devemos cumprir para elaborar a dissertação. Por exemplo: três
meses para leitura geral e procura das referências bibliográficas,
três meses para transformar o pré-projeto num projeto alinhado
ao do orientador, seis meses para fazer a pesquisa de campo e
coleta definitiva do material teórico, nove meses para fazer a
15 redação definitiva do texto e três meses para revisão. Total: 24
meses.

10º passo: bibliografia

Aprender como citar toda a bibliografia utilizada, seja ela de


obras, artigos, documentos publicados ou inéditos, reportagens,
20 filmes, vídeos, Internet, aulas, congressos, etc.

62
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Unidade IV
ABNT / REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS /
RELATÓRIOS DE PESQUISA E TRABALHOS
CIENTÍFICOS

As normas da ABNT estão disponíveis no site da UNIP:1

17 MONOGRAFIA CIENTÍFICA

É a apresentação escrita dos resultados de pesquisa, ou


seja, é o projeto de pesquisa concluído. A sua estrutura segue
um padrão lógico e formal; fazem parte dela os seguintes
5 elementos:

1. capa;

2. contracapa ou folha de rosto;

3. dedicatória;

4. agradecimentos;

10 5. página de aprovação;

6. sumário;

7. índice;

8. resumo/abstract/palavras-chave;

1
Disponível em <http://www2.unip.br/servicos/biblioteca/download/
manual_de_normalizacao.pdf>. Acesso em: 20 maio 2009.

63
Unidade IV

9. introdução;

10. capítulo I, II, etc.;

11. conclusão;

12. bibliografia;

5 13. anexos;

14. apêndice.

Seguem as especificações de cada item:

1. Capa: contém as informações de referência sobre o tipo de


trabalho, nome da instituição, do curso, do(a) professor(a)
10 orientador(a), do(a) aluno(a), cidade e ano.

2. Contracapa ou folha de rosto: as mesmas informações


da capa; caso a especificação do trabalho for feita na capa,
torna-se desnecessário repeti-la na página de rosto.

3. Dedicatória: de cunho pessoal, pode ser suprimida de


15 acordo com a natureza do trabalho.

4. Agradecimento: é de praxe nas dissertações e teses


acadêmicas agradecer o apoio institucional, ao orientador
e às pessoas que auxiliaram na pesquisa. Recomenda-se
evitar qualquer tipo de exagero.

20 5. Página de aprovação: aparece nas dissertações e teses


com espaço para os membros da banca examinadora
assinarem, após a defesa do trabalho. É desnecessária em
trabalhos comuns de aproveitamento das disciplinas.

6. Sumário: consiste em uma lista com a numeração das


25 páginas de todos os itens do trabalho, incluindo tabelas,
gráficos, figuras, etc.

64
METODOLOGIA CIENTÍFICA

7. Índice: o índice também é uma lista com a numeração das


páginas; no entanto, concentra-se no conteúdo interno da
monografia, com cada título de capítulo e seus subtítulos.

8. Resumo/abstract/palavras-chave: o resumo é uma


5 apresentação concisa do tema tratado na monografia,
tal como visto no projeto de pesquisa. Necessita passar
ao leitor uma ideia correta de todo o conteúdo do
trabalho. O abstract é o mesmo texto do resumo em
língua estrangeira, em inglês na maioria dos casos, mas,
10 dependendo da área, pode ser apresentado em espanhol,
ou francês, etc. Costuma-se colocar os dois (resumo e
abstract) na mesma página. As palavras-chave vêm em
seguida na mesma página; em dissertações e teses, em
número de cinco, servem para identificar os temas mais
15 importantes do trabalho.

9. Introdução: é o último texto a ser escrito em uma


monografia. Neste item, insere-se o histórico da
pesquisa e do tema. Podem-se comentar as teorias mais
importantes da área e apresentar o que será tratado em
20 cada capítulo da monografia. Uma regra básica: não
precisa necessariamente resumir os capítulos; escrevendo
a introdução por último, evita-se prometer no texto algo
que não foi realizado no decorrer da monografia.

10. Capítulo I, II, etc.: a quantidade de capítulos de uma


25 monografia varia de acordo com a complexidade do
tema. A melhor distribuição a ser feita deve-se basear na
problematização do projeto. Cada problema apresentado
pode se tornar um capítulo analítico. O mais importante
é que os capítulos componham a lógica interna de toda
30 a monografia, desde que do primeiro ao último capítulo
possa-se perceber o começo, o meio e o fim da pesquisa.
Em cada capítulo em particular, a mesma lógica deve
ser obedecida; ou seja, tem-se em cada um: introdução,
desenvolvimento e conclusão.

65
Unidade IV

Algumas dicas importantes para composição de capítulo:

A primeira resolução a ser feita é sobre a quantidade de


páginas a serem escritas. Para um trabalho acadêmico simples,
haverá somente 1 (um) a 2 (dois) capítulos, dependendo das
5 exigências da disciplina. Neste caso, 10 (dez) páginas para 1 (um)
capítulo. Essas dez páginas podem ser divididas em sessões. Se o
estudante programar primeiro a quantidade de páginas a serem
escritas, irá selecionar de forma adequada as informações, sem
correr o risco de escrever a menos ou a mais. O padrão acadêmico
10 utilizado é de acordo com as normas da ABNT.

11. Conclusão: deve retomar as conclusões de todos os


capítulos. Procura-se escrever em forma de perguntas
e respostas para cada problema abordado; assim, o
leitor poderá relembrar os pontos mais importantes do
15 trabalho. Em seguida, faz-se a conclusão geral sobre o
tema, com o reforço da tese defendida. Dependendo do
tamanho do trabalho, a conclusão não deve ter menos
de duas páginas. Em trabalhos acadêmicos comuns, uma
página bem escrita é suficiente; de acordo, é claro, com as
20 exigências da disciplina.

12. Bibliografia: listagem com os títulos utilizados na


pesquisa ou consultados. As normas de bibliografia são
aquelas formuladas pela ABNT. Deve ser composta por
ordem alfabética pelo sobrenome do autor. O que se
25 sugere é que na monografia os tipos de material sejam
separados: livros, artigos, teses, sites consultados, etc.

13. Anexos: neste item, podem-se colocar amostras dos


dados colhidos na pesquisa, entrevistas, imagens extras
ou documentos.

30 14. Apêndices: são textos que aprofundam algum aspecto


da pesquisa; pela sua extensão, ocuparia muito espaço no
corpo da monografia; assim, sua supressão não atrapalha

66
METODOLOGIA CIENTÍFICA

o encaminhamento do texto. Opcional em todos os tipos


de trabalho.

18 ABNT

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) foi


fundada em 1940, sendo o órgão responsável pela normalização
5 técnica no Brasil. Possui uma série de regulamentações para
diferentes áreas na sociedade. O intuito é desenvolver requisitos
gerais que possam melhorar as ações específicas e fornecer base
para “o desenvolvimento tecnológico do país”.

Para a área acadêmica, as normas são utilizadas na confecção


10 das teses, dissertações, monografias, relatórios, etc. Padronizar
os resultados das pesquisas facilita na consulta dos dados e dá
base para orientação e utilização científica dos mesmos.

Citaremos as normas obrigatórias, os exemplos visuais, e


as normas opcionais podem ser consultadas pelo site da UNIP
15 citado no início da Unidade.

18.1 Apresentação do trabalho

Formato:

• papel em branco, formato A4 (21 X 29,7cm);


• fonte Arial e tamanho 12 para todo o texto;
• fonte Arial e tamanho 10 para citações com mais de
20 três linhas, notas de roda pé, paginação e legenda das
ilustrações;
• fonte Arial tamanho 12 para TÍTULO DE SEÇÃO (em
maiúsculo e negrito);
• fonte Arial tamanho 12 para Subtítulo (em minúsculo e
25 negrito).

67
Unidade IV

Margem:

• margem esquerda e superior de 3 cm; direita e inferior 2


cm;

• recuo de primeira linha do parágrafo: 1,25 cm (1 tab), a


5 partir da margem esquerda;

• recuo de parágrafo para citação com mais de três linhas:


4 cm da margem esquerda;

• alinhamento do texto: utilizar a opção “Justificado” do


programa Word;

10 • alinhamento de título e seções: utilizar a opção “Alinhar à


Esquerda” do programa Word;

• alinhamento de título sem indicação numérica (Resumo,


Abstract, Listas, Sumário, Referências): utilizar a opção
“Centralizado” do programa Word.

15 Espacejamento:

• espaço “Entrelinhas” do texto: 1,5 cm;

• o espaço simples é usado em: citações de mais de três


linhas, notas de rodapé, referências, resumos, legendas,
ficha catalográfica;

20 • os títulos das seções e subtítulos devem começar na parte


superior da margem esquerda da folha e ser separados do
texto por dois espaços de 1,5 cm entrelinhas.

A natureza do trabalho, o objetivo, o nome da instituição a


que é submetido e a área de concentração devem ser alinhados
25 do meio da folha para a direita em espaço simples e fonte Arial
tamanho 10.

68
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Paginação:

As folhas do trabalho devem ser contadas sequencialmente


a partir da folha de rosto e numeradas a partir da Introdução. Os
números devem ser escritos em algarismos arábicos e alinhados
5 a 2 cm da margem direita e da margem superior.

18.2 Estrutura do trabalho

A estrutura de tese, dissertação ou de um trabalho acadêmico


compreende:

• elementos pré-textuais: capa, lombada, folha de rosto,


errata, folha de aprovação, dedicatória, agradecimento,
10 epígrafe, resumo na língua vernácula, resumo na língua
estrangeira, listas de ilustrações, tabelas, abreviaturas,
siglas e símbolos, sumário;
• elementos textuais: introdução, desenvolvimento, conclusão;
• elementos pós-textuais: referências, glossários, apêndices,
15 anexos, etc.

18.2.1 Elementos pré-textuais

Capa (obrigatório): proteção externa do trabalho e sobre


a qual se imprimem as informações indispensáveis à sua
identificação.

Elementos essenciais:

20 • nome da instituição (opcional);


• nome do autor;
• título e subtítulo se houver, precedido de dois pontos (:);
• local (cidade) da instituição;
• ano de entrega (depósito).

69
Unidade IV

Folha de rosto (obrigatório): folha que contém os elementos


essenciais à identificação do trabalho.

Elementos essenciais:

• nome do autor;
5 • título principal do trabalho e subtítulo se houver;
• natureza (tese, dissertação, trabalho de conclusão de
curso e outros);
• objetivo (aprovação em disciplina);
• nome da instituição a que é submetida;
10 • área de concentração (em caso de pós-graduação);
• nome do orientador e coorientador se houver;
• local (cidade) da instituição;
• ano de entrega.

Verso da folha de rosto (obrigatório): no verso da folha de


15 rosto deverá constar a ficha catalográfica, conforme o Código
de Catalogação Anglo-Americano vigente. A Biblioteca da UNIP
elabora a ficha mediante o preenchimento dos dados da obra
em formulário próprio.

Folha de aprovação (obrigatório): folha que contém os


20 elementos essenciais à aprovação do trabalho.

Elementos essenciais:

• nome do autor;
• título principal do trabalho e subtítulo se houver;
• natureza (tese, dissertação, trabalho de conclusão de
25 curso e outros);
• objetivo (aprovação em disciplina);

70
METODOLOGIA CIENTÍFICA

• nome da instituição a que é submetida;


• área de concentração (em caso de pós-graduação);
• data de aprovação;
• identificação dos componentes da banca examinadora
5 (nome, titulação, instituição a que pertence e
assinatura).

Resumo na língua vernácula (português) (obrigatório):

Apresenta os pontos relevantes de um texto, fornecendo uma


visão rápida e clara do conteúdo e das conclusões do trabalho,
10 seguido das palavras-chave, não ultrapassando quinhentas
palavras.

Resumo em língua estrangeira (obrigatório):

Versão do resumo para idioma de divulgação internacional:

• inglês: abstract;

15 • espanhol: resumen;

• francês: résumé.

Sumário (obrigatório): enumeração das principais divisões,


seções e outras partes do trabalho, na mesma ordem e grafia em
que aparece no texto, acompanhados dos respectivos números
20 das páginas

18.2.2 Elementos textuais

18.2.2.1 Introdução

Introdução é a parte inicial do texto em que deve constar a


delimitação do assunto tratado, de forma breve e objetiva.

71
Unidade IV

18.2.2.2 Desenvolvimento

A partir do levantamento bibliográfico, desenvolve-se o corpo


do trabalho, no qual se analisa a ideia principal, destacando,
formulando e discutindo hipóteses.

Divide-se em seções ou capítulos e concentra a maior parte


5 do total de páginas da monografia.

18.2.2.3 Conclusão

Parte final do texto na qual são apresentados os resultados


finais da pesquisa, correspondentes aos objetivos ou
hipóteses.

É importante apresentar novas ideias, abrindo caminho a


10 outros pesquisadores que poderão trabalhar no assunto.

18.2.3 Elementos pós-textuais

18.2.3.1 Referências (obrigatório)

Monografia no todo (livro, manual enciclopédia, dicionário,


tese, dissertação, trabalho acadêmico, etc.)

Elementos essenciais: autor(es), título, edição, local,


editora e data de publicação.

15 Exemplos:

→ Um autor:

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed.


São Paulo: Atlas, 2002.

72
METODOLOGIA CIENTÍFICA

→ Dois autores:

DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de


direito jurídico. São Paulo: Atlas, 1995.

→ Três autores:

5 PASSOS, L. M. M.; FONSECA, A.; CHAVES, M. Alegria de


saber: matemática, segunda série, 2, primeiro grau: livro
do professor. São Paulo: Scipione, 1995. 136 p.

→ Mais de três autores:

Indica-se apenas o primeiro, acrescentando-se a expressão


10 et al.

URANI, A. et al. Constituição de uma matriz de


contabilidade social para o Brasil. Brasília: IPEA, 1994.

→ Autor desconhecido:

Quando não existir autor, a entrada é feita pelo título com


15 a primeira palavra em maiúscula.

DIAGNÓSTICO do setor editorial brasileiro. São Paulo:


Câmara Brasileira do Livro, 1993.

→ Pseudônimo:

Deve-se considerar o pseudônimo para entrada, desde


20 que seja a forma adotada pelo autor.

DINIZ, Julio. As pupilas do senhor reitor. 15. ed. São


Paulo: Ática, 1994. 263 p. (Série Bom Livro).

Parte de monografia (capítulo, volume, fragmento e outras


partes de uma obra):

73
Unidade IV

Elementos essenciais: autor(es), título da parte, seguidos


da expressão “In:”, e da referência completa da monografia no
todo. Deve-se informar a paginação da parte.

Exemplos

5 ROMANO, Giovanni. Imagens da juventude na era moderna.


In: LEVI, G; SCHMIDT, J. (Org.). História dos jovens 2. São
Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 7-16.

Quando o autor do capítulo for o mesmo que o autor da


obra, substituir o nome por travessão.

10 SANTOS, F. R. dos. A colonização da terra do Tucujús.


In:______. História do Amapá, 1º grau. 2. ed. Macapá:
Valcan, 1994. cap. 3.

Monografias em meio eletrônico (disquetes, CD-ROM,


on-line etc.):

15 As referências devem obedecer aos padrões já indicados para


as monografias no todo e em parte, acrescidas das informações
relativas à descrição física do meio eletrônico.

Exemplo: monografia no todo

ALVES, Castro. Navio negreiro. [S.l.]: Virtual Books,


20 2000. Disponível em <http:// www.terra.com.br/virtual/
freebook/port/Lport2/navionegreiro.htm>. Acesso em:
10 jan. 2002.

Exemplo: parte de monografia

MORFOLOGIA dos antrópodes. In: ENCICLOPÉDIA


25 multimídia dos seres vivos. [S.I.]: Planeta DeAgostini, 1998.
CD-ROM 9.

74
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Publicação periódica no todo (revista cientifica, revista


semanal, jornal):

Elementos essenciais: título, local de publicação, editoração,


data de inicio e de encerramento da publicação, se houver.

5 Exemplo

REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA. Rio de Janeiro: IBGE,


1939.

Parte de revista, boletim etc. (volume, fascículo, números


especiais e suplementos, entre outros, sem título próprio):

10 Elementos essenciais: título da publicação, local de publicação,


editora, numeração do ano e/ou volume, numeração do fascículo,
informações de períodos e datas de sua publicação.

Exemplos

DINHEIRO. São Paulo: Ed. Três, n. 148, 28 jun. 2000.

15 EXAME. São Paulo: Ed. Abril, v. 41, n. 7, 2007.

Artigos de revista, boletim, etc. (volume, fascículo,


números especiais e suplementos, com título próprio):

Elementos essenciais: autores, título da parte (artigo ou


matéria), título da publicação, local de publicação, volume ou
20 ano, fascículo ou número, paginação inicial e final, data de
publicação.

Exemplos

AS 500 maiores empresas do Brasil. Conjuntura


Econômica, Rio de Janeiro, v. 38, n. 9, set. 1984. Edição
25 especial.

75
Unidade IV

COSTA, V. R. À margem da lei. Em Pauta, Rio de Janeiro,


n.12, p. 131-148, 1998.

TOURINHO NETO, F. C. Dano ambiental. Consulex, Brasília,


DF, ano1, n.1, p. 18-23, fev. 1997.

5 Artigo de revista, boletim etc. em meio eletrônico


(disquete, CD-ROM, on-line etc.):

As referências devem obedecer aos padrões indicados para


artigo e/ou matéria de revista, boletim etc., acrescidas das
informações relativas à descrição física do meio eletrônico.

10 Exemplos

VIEIRA, Cássio Leite; LOPES, Marcelo. A queda do cometa. Neo


Interativa, Rio de Janeiro, n. 2, inverno 1994. 1 CD-ROM.

RIBEIRO, P. S. G. Adoção à brasileira: uma análise


sociojurídica. Datavenia, São Paulo, ano 3, n. 18, ago.
15 1998. Disponível em <http://www.datavenia.inf.br/frame.
artig.html>. Acesso em: 10 set. 1998.

Artigo e/ou matéria de jornal (comunicações, editorial,


entrevistas, recensões, reportagens, resenhas etc.):

Elementos essenciais: autores (se houver), título do artigo ou


20 matéria, título do jornal, local de publicação, data de publicação,
seção, caderno ou parte do jornal e a paginação correspondente.
Quando não houver seção, caderno ou parte, a paginação do
artigo ou matéria precede a data.

Exemplos

25 NAVES, P. Lagos andinos dão banho de beleza. Folha de


S. Paulo, São Paulo, 28 jun. 1999. Folha Turismo, Caderno
8, p.13.

76
METODOLOGIA CIENTÍFICA

LEA, L. N. MP fiscaliza com autonomia total. Jornal do


Brasil, Rio de Janeiro, p. 3, 25 abr. 1999.

Artigo e/ou matéria de jornal em meio eletrônico


(disquete, CD-ROM, on-line etc.):

5 As referências devem obedecer aos padrões indicados para


artigos e/ou matéria de jornal, acrescidas das informações
relativas à descrição física em meio eletrônico.

Exemplos

SILVA, Ives Gandra da. Pena de morte para o nascituro. O


10 Estado de S. Paulo, São Paulo, 19 set. 1998. Disponível em
<http://www.providafamilia.org/pena_morte_nascituro.
htm>. Acesso em: 19 set. 1998.

ARRANJO tributário. Diário do Nordeste On-line,


fortaleza, 27 nov. 1998. Disponível em <http://www.
15 diariodonordeste.com.br>. Acesso em: 28 nov. 1998.

Eventos no todo (atas, anais, resultados, proceedings, etc.):

Elementos essenciais: nome do evento, numeração (se


houver), ano, local (cidade de realização do evento), título do
documento (anais, atas...), editora e data da publicação.

20 Exemplo

REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA,


20., 1997, Poços de Caldas. Resumos... São Paulo:
Sociedade Brasileira de Química, 1997.

Eventos no todo em meio eletrônico (disquete, CD-ROM,


25 on-line etc.):

77
Unidade IV

As referências devem obedecer aos padrões indicados para


evento no todo, acrescidas das informações relativas à descrição
física do meio eletrônico.

Exemplo

5 CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E


DOCUMENTAÇÃO, 19., 2000, Porto Alegre. Anais eletrônicos...
Porto Alegre: PUCRS, 2000. Disponível em <http://embauba.
ibict.br/cbbd2000/Default_en.html>. Acesso em: 18 out. 2002.

Trabalho apresentado em evento (parte do evento):

10 Elementos essenciais: autor, título do trabalho apresentado,


seguido da expressão “In”, nome do evento, numeração do
evento (se houver), ano e local (cidade de realização), título
do documento (anais, atas, tópicos...), local de publicação,
editora, data de publicação e página inicial e final da parte
15 referenciada.

Exemplo

URSI, W. J. S et al. Faceta estética de porcelana. In:


JORNADA ODONTOLÓGICA DE LONDRINA, Londrina.
Anais... Londrina: UEL, 1995. p. 45-46.

20 Trabalho apresentado em evento em meio eletrônico


(disquete, CD-ROM, on-line etc.)

As referências devem obedecer aos padrões indicados para


evento no todo, acrescidas das informações relativas à descrição
física do meio eletrônico.

25 Exemplo

GUNCHO, M. R. A educação à distância e a biblioteca


universitária. In: SEMINÁRIO DE BIBLIOTECAS

78
METODOLOGIA CIENTÍFICA

UNIVERSITÁRIAS, 10., 1998, Fortaleza. Anais... Fortaleza:


TEC Treina, 1998. 1 CD-ROM.

Documentação jurídica (legislação, jurisprudência e


doutrina):

5 • Legislação (Constituição, emendas constitucionais,


normas emanadas):

Elementos essenciais: jurisdição, título, numeração, data da


publicação, (no caso de Constituições e suas emendas, acrescenta-
se a palavra, “Constituição”, entre o nome da jurisprudência e o
10 título seguido do ano de promulgação, entre parênteses).

Exemplos

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 42.822, de 20 de janeiro


de 1998. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência,
São Paulo, v. 62, n. 3, p. 217-220, 1998.

15 BRASIL. Código civil. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

BRASIL. Constituição (1988). Emenda constitucional nº


9, de 9 de novembro de 1995. Lex: legislação federal e
marginalia, São Paulo, v. 59, p. 1966, out./dez. 1995.

• Jurisprudência (decisões judiciais):

20 Elementos essenciais: jurisdição e órgão judiciário


competente, título, número, partes envolvidas, relator, local,
data e dados da publicação.

Exemplos

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 14.


25 In:_______. Súmulas. São Paulo: Associação dos
advogados do Brasil, 1994, p. 16.

79
Unidade IV

BRASIL. Tribunal Regional Federal (5. região). Apelação


cível nº 42.441-PE (94.05.01629-6). Apelante: Edilemos
Mamede dos Santos e outros. Apelada: Escola Técnica
Federal de Pernambuco. Relator: Juiz Nereu Santos. Recife,
5 4 de março de 1997. Lex: jurisprudência do STJ e Tribunais
Regionais Federais, São Paulo, v. 10, n. 103, p. 558-562,
mar. 1998.

• Doutrina: Interpretação dos textos legais (monografias,


artigos de periódicos, paper, etc.

10 As referências devem obedecer aos padrões indicados para


cada tipo de documento.

Exemplos

BARROS, Raimundo Gomes de. Ministério Público: sua


legitimação frente ao Código do Consumidor. Revista
15 Trimestral de Jurisprudência dos Estados, São Paulo,
São Paulo, v. 19, n. 139, p. 53-72, ago.

Documento jurídico em meio eletrônico (disquetes, CD-


ROM, on-line etc.):

As referências devem obedecer aos padrões indicados para


20 documento jurídico, acrescidas das informações relativas à
descrição física do meio eletrônico.

Exemplos

BRASIL. Regulamento dos benefícios da previdência


social. In: SISLEX: Sistema de Legislação, Jurisprudência
25 e Pareceres da Previdência e Assistência Social. [S.l.]:
DATAPREV, 1999. 1 CD-ROM.

BRASIL. Lei nº 9.889, de 7 de dezembro de 1999. Altera


a legislação tributária federal. Diário Oficial [da]

80
METODOLOGIA CIENTÍFICA

República Federativa do Brasil, Brasília, 8 dez. 1999.


Disponível em <http://www.in.gov.br/mp_leis/leis_texto.
asp?ld=lLEI%209887>. Acesso em: 22 dez.1999.

Imagens em movimento (filmes, videocassetes, DVD etc.):

5 Elementos essenciais: título, diretor, produtor, local, produtora,


data e especificação do suporte (em unidades físicas).

Exemplos

OS PERIGOS do uso de tóxicos. Produção de Jorge Ramos


de Andrade. Coordenação de Maria Izabel Azevedo. São
10 Paulo: CERAVI, 1983. 1 videocassete (30 min), vhs, son.,
color.

CENTRAL do Brasil. Direção: Walter Salles Júnior. Produção:


Martire de Clermont-Tonnerre e Arthur Cohn. Interpretes:
Fernanda Montenegro; Marilia Pêra: Vinicius de Oliveira:
15 Sônia Lira; Othon bastos: Matheus Nachtergaele e outross.
Roteiro: Marcos Bernstein, João Emanuel Carneiro e
Walter Salles Júnior. [S. L.]: Lê Studio Canal; Riofilme:
MACT Productions, 1998. 1 DVD (106 min), son., color.,
35mm.

20 Documento iconográfico (pintura, gravura, ilustrações,


fotografia, desenho técnico, dispositivo, diafilme, material
estereográfico, transparência, cartaz, etc.):

Elementos essenciais: autor, título (quando não existir, deve-


se atribuir uma denominação ou a indicação em título, entre
25 colchetes), data e especificação do suporte.

Exemplos

KOBAIASHI, K. Doença dos xavantes. 1980. 1 fotografia,


color., 16 cm x 56 cm.

81
Unidade IV

MATTOS, M. D. Paisagem-Quatro Barras. 1987. 1


original de arte, óleo sobre tela, 40 cm x 50 cm. Coleção
particular.

Documento iconográfico em meio eletrônico (disquetes,


5 CD-ROM, on-line etc.):

As referências devem obedecer aos padrões indicados para


documento iconográfico, acrescidas das informações relativas à
descrição física do meio eletrônico.

Exemplos

10 GEDDES, Anne. Geddes135.jpg. 2000. Altura: 432


pixels. Largura: 376 pixels. 51 Kb. Formato JPEG. 1
disquete.

VASO. TIFF. 1999. Altura: 1083 pixels. Largura: 827 pixels.


300 dpi. 32 BIT CMYK. 35 Mb. Formato TIFF BITMAP.
15 Compactado. Disponível em <C:\Carol\VASO.tiff>. Acesso
em: 28 out. 1999.

Documento cartográfico (atlas, mapa, globo, fotografia


aérea etc.):

Elementos essenciais: Autor, título, local editora, data de


20 publicação, designação específica e escala.

Exemplos

ATLAS Mirador Internacional. Rio de Janeiro: Enciclopédia


Britânica do Brasil, 1981. 1 atlas. Escalas variam.

INSTITUTO GEOGRÁFICO E CARTOGRÁFICO (São Paulo, SP).


25 Região de governo do Estado de São Paulo. São Paulo,
1994. 1 Atlas. Escala 1:2.000.

82
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Documentos cartográficos em meio eletrônico (disquetes,


CD-ROM, on-line etc.):

As referências devem obedecer aos padrões indicados para


documento cartográfico, acrescidas das informações relativas à
5 descrição física do meio eletrônico.

Exemplos

PORCENTAGEM de imigrantes em São Paulo, 1920. 1


mapa, color. Escala Interminable. Neo Interativa, Rio de
janeiro, n. 2, inverno 1994. 1 CD-ROM.

10 FLÓRIDA MUSEUM OF NATURAL HISTORY. 1931-


2000 Brazil’s confirmed unprovoked shark attacks.
Gainesville, [2000?]. 1 mapa, color. Escala 1:40.000.000.
Disponível em <http://www.flmnh.ufl.edu/fish/sharks/
statics/Gattack/map/Brzil.jpg>. Acesso em: 15 jan.
15 2002.

Documento de acesso exclusivo em meio eletrônico


(base de dados, listas de discussão, BBS (site), arquivos em
disco rígido, programas, conjuntos de programas e mensagens
eletrônicas etc.):

20 Elementos essenciais: autor, título do serviço ou produto,


versão e descrição física do meio eletrônico.

Exemplos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca Central.


Normas.doc. Curitiba, 1998. 5 disquetes.

25 ÁCAROS no Estado de São Paulo. In: FUNDAÇÃO TROPICAL


DE PESQUISAS E TECNOLOGIA “ANDRÉ TOSELLO”. Base de
Dados tropical. 1985. Disponível em <http://www.bdt.
fat.org.br/acaro/sp/>. Acesso em: 30 de maio 2002.

83
Unidade IV

19 CITAÇÕES

Menção de uma informação extraída de outra fonte.

Regras gerais de apresentação

Nas citações, as chamadas são feitas pelo sobrenome do


autor, instituição responsável ou título na sentença, em letras
5 maiúsculas e minúsculas e quando estiverem entre parêntesis,
em letras maiúsculas.

Exemplos

A ironia seria assim uma forma implícita de heterogeneidade


mostrada, conforme a classificação proposta por Authier-Reiriz
10 (1982).

“Apesar das aparências, a desconstrução do logocentrismo


não é uma psicanálise da filosofia [...]” (DERRIDA, 1967, p. 293).

19.1 Citação direta

Transcrição textual de parte da obra do autor consultado.

Especificar no texto, a(s) página(s), volume(s), tomo(s) ou


15 seção(ões) da fonte consultada, após a data, separados por vírgula.

Exemplos

Oliveira e Leonardos (1943, p. 146) dizem que a “[...] relação


da série São Roque com os granitos portifiróides pequenos é
muito clara”.

20 Meyer parte de uma passagem da crônica de “14 de maio”,


de A Semana: “Houve sol, e grande sol, naquele domingo de
1888, em que o senado voltou a lei, que a regente sancionou [...]
(ASSIS, 1994, v. 3, p. 583).

84
METODOLOGIA CIENTÍFICA

19.1.1 Citação direta de até 3 linhas

Devem estar contidas entre aspas duplas.

Exemplos

Barbour (1971, p. 35) descreve: “O estudo da morfologia dos


5 terrenos [...] ativos [...]”.

“Não se mova, faça de conta que esta morta”. (CLARAC;


BONNIN, 1985, p. 72).

Segundo Sá (1995, p. 27): “[...] por meio da mesma ‘arte de


conservação’ que abrange tão extensa e significativa parte da
10 nossa existência cotidiana [...]”.

19.1.2 Citação direta com mais de 3 linhas

Devem ser destacadas com recuo de 4 cm da margem


esquerda, com letra menor que a do texto e sem as aspas.

Exemplo

A teleconferência permite ao indivíduo participar de um


15 encontro nacional ou regional sem a necessidade de deixar
seu local de origem. Tipos comuns de teleconferências
incluem o uso da televisão, telefone, e computador. Através
de audioconferência, utilizando a companhia local de
telefone, um sinal de áudio pode ser emitido em um salão
20 de qualquer dimensão (NICHOLS, 1993, p. 181).

19.2 Citação indireta

Baseada na obra do autor consultado.

Nas citações indiretas, a indicação das páginas é opcional.

85
Unidade IV

Exemplo

Merriam e Caffarella (1991) observam que a localização


de recursos tem um papel no processo de aprendizagem
autodirigida.

19.3 Informações verbais

5 A realização de conversas e entrevistas com especialistas


também é oportunidade de conseguir material original e inédito
sobre os assuntos da pesquisa. Como também a participação em
eventos, conferências, simpósios, etc.

AUTOR do depoimento. Assunto ou título. Local do


10 depoimento, instituição (se houver), data em que a informação
foi proferida. Nota indicando tipo de depoimento, conferência,
discurso, anotação de aula etc.

Exemplo

(a) KOUTZII, Flávio. A Guerra do Golfo e suas consequências na


15 América Latina. Porto Alegre: UFRGS, 13 mar. 1991. Informação
verbal. Palestra ministrada aos professores, alunos e funcionários
da Fabico.

19.4 Correspondências, cartas e telegramas

A correspondência de grandes personalidades da história


ou até mesmo de anônimos, quando bem analisadas e
20 interpretadas, contribuem também com informações sobre a
época ou acontecimentos importantes para uma determinada
área de pesquisa.

REMETENTE. [Tipo de correspondência] data, Local de emissão


[para] Destinatário, local a que se destina. N. de páginas. Assunto
25 em forma de nota.

86
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Exemplos

(a) SILVEIRA, Antônio Carlos. [Carta] 27 set. 1979, Rio de


Janeiro [para] Marlene Abreu da Silveira, Porto Alegre. 2p. Solicita
informações sobre Porto Alegre.

5 (b) CARDOSO, Leandro Gomes. [Telegrama] 05 jul. 2000, São


Paulo [para] Marcelo Billi Bernardo, São Paulo. 1p. Solicita entrega
de relatório sobre economia brasileira no período 1970-1980.

19.5 Notas de rodapé

No caso do uso de notas em rodapé, deve-se seguir o


seguinte padrão:

10 Autor indicado pelo primeiro nome com sobrenome em


destaque, título e página.

Exemplos

5. Lucien GOLDMANN, Ciências humanas e filosofia, p. 10.

19.6 Ibid.

Severino afirma que quando várias notas de rodapé se


15 referem a uma mesma obra de um mesmo autor, variando-se
apenas a página, usa-se a expressão latina abreviada: ibid.

Exemplos

4. Lucien GOLDMANN, Ciências humanas e filosofia, p. 10.

5. Ibid., p. 16.

20 6. Ibid., p. 89.

7. André DARTIGUES, O que é fenomenologia, p. 50.

87
Unidade IV

8. Lucien GOLDMANN, Ciências humanas e filosofia, p. 32.

9. Ibid., p. 33.

19.7 Idem

Observe que se deve citar novamente a referência inteira,


caso haja uma interrupção de outro autor.

5 A expressão idem substitui somente o autor e aparece nessa


estrutura:

6. Martin BUBER, Eu e tu, p. 150.

7. Idem, O problema do homem, p. 56.

Observações

10 Não utilizar juntas as expressões Idem, ibid., pois Ibid.


subentende também o autor.

Nunca é pouco lembrar que a citação de mais de três linhas


de um autor deve ser sempre colocada em itálico, “entre aspas”.

As notas de rodapé também são utilizadas para comentários


15 extras, explicação de conceitos que não são imprescindíveis no
corpo do texto, ou discussão de teorias periféricas.

20 RELATÓRIO DE PESQUISA

Uma pesquisa é composta basicamente de um processo


de elaboração, sua execução e, finalmente, sua apresentação.
Envolve, portanto, a reflexão sobre o que será feito e,
20 posteriormente, a apresentação de seus resultados. Surge, então,
a necessidade de dois documentos significativos que abranjam
esta amplitude: um de planejamento e outro de resultados, um
ex ante e o outro ex post, os quais são denominados:

88
METODOLOGIA CIENTÍFICA

• projeto de pesquisa;

• relatório de pesquisa.

É importante que se faça uma ligação entre esses documentos


para melhor compreensão da pesquisa como um todo.

20.1 Projeto de pesquisa

5 O Projeto de pesquisa é um documento ex ante, ou seja,


feito a priori envolvendo o planejamento, cujo objetivo é definir
caminhos, recursos e resultados sobre o que se quer obter e o
que se pretende fazer para tanto. Ele mostra, organiza e estrutura
o que será feito, de forma clara, evitando-se que o cientista se
10 perca entre uma infinidade de dados e caminhos inconsistentes.
É como se fosse o plano de vôo de um avião que se aproxima do
aeroporto. Nada pode falhar, sob o risco do avião não pousar com
segurança. No nosso caso, do projeto não atingir seus objetivos.

Segundo Lakatos e Marconi (2008), “Em uma pesquisa,


15 nada se faz ao acaso”. O planejamento amplo, detalhado,
necessário e suficiente seria então condição para o sucesso do
empreendimento. Em todo o seu conjunto, a pesquisa envolve
etapas gradativas e sucessivas para se chegar ao projeto,
passando inicialmente por um levantamento de situação,
20 comumente denominado revisão bibliográfica e um estudo
inicial para se traçar as suas linhas gerais, organizada na forma
de um anteprojeto, para, finalmente, obter-se o projeto, depois
realizá-lo e, finalmente, apresentá-lo, o que será feito com o
relatório de pesquisa.

25 Os autores da obra citada afirmam ainda que o projeto de


pesquisa deverá responder às seguintes questões:

O que?

Por quê?

89
Unidade IV

Para que?

Para quem?

Onde?

Como?

5 Com que?

Quanto?

Quando?

Com quanto?

Todas essas questões são realizadas segundo passos de


10 um processo, o qual foi abordado em outro ponto deste
trabalho.

A reflexão sobre as respostas a estas perguntas nos leva a


uma estrutura do projeto, que aqueles autores apresentam,
vinculando cada tópico a uma ou várias daquelas questões, as
15 quais são apresentadas a seguir:

20.1.1 Estrutura do projeto

A. Apresentação (quem?):

• capa;
• entidade;
• título;
20 • coordenador;
• local e data.

90
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Relação do pessoal técnico:


• entidade;
• coordenador;
• pessoal técnico.

5 B. Objetivo (Para quê? Para quem?):

a. tema;
b. delimitação do tema:

• especificação;
• limitação geográfica e temporal.

10 c. objetivo geral;
d. objetivos específicos.

C. Justificativa (Por quê?);

D. Objeto (O quê?):
a. problema;
15 b. hipótese básica;

c. hipóteses secundárias;
d. variáveis.

E. Metodologia (Como? Com quê? Onde? Quanto?):


a. método de abordagem;
20 b. método de procedimento;
c. técnicas;

91
Unidade IV

• descrição;
• como será aplicado;
• codificação e tabulação.

d. delimitação do universo (descrição da população);

5 e. tipos de amostragem:
• caracterização;
• seleção.

F. Embasamento teórico (Como?):


a. teoria de base;
10 b. revisão da bibliografia;
c. definição dos termos.

G) Cronograma (Quando?);

H) Orçamento (Com quanto?);

I) Instrumentos de Pesquisa (Como?);

15 J) Bibliografia.

Observe que o cronograma deve mostrar também a ligação


do quando com o quem e com o que, para que se tenha um
controle melhor da execução do projeto, sobretudo em caso de
utilização de equipes maiores para a execução do projeto.

20.2 Relatório de pesquisa

20 Orientado pelo projeto de pesquisa, o cientista realiza o seu


trabalho e gradativamente vai elaborando embrionariamente

92
METODOLOGIA CIENTÍFICA

o relatório de pesquisa, conforme as ações são executadas. No


final, ele se dedica a um tratamento adequado de esboços, dados
e informações para a apresentação do relatório.

Este mostra os resultados obtidos, sendo o documento


5 final da pesquisa. Se as ações previstas no projeto de pesquisa
foram realizados dentro dos parâmetros previstos, o relatório
de pesquisa se transforma em uma formalização conclusiva e
consolidada dos tópicos planejados e executados. O projeto de
pesquisa possibilita obter o conteúdo, e o relatório de pesquisa
10 é a forma de refletir, ordenar e apresentar o conteúdo, que
deve ser elaborado com o mesmo rigor científico, para que os
dados e as conclusões obtidos possam ser interpretados com
segurança por outras pessoas que necessitarem consultar o
material. O rigor metodológico e a disciplina em observá-lo são
15 fundamentais para que se obtenha e se apresente resultados
positivos.

Durante a realização do projeto, são realizadas as coletas


de dados, seu tratamento e análise. Interpreta-se o resultado
do trabalho realizado e se redige a forma final, organizada e
20 reflexiva através do Relatório de Pesquisa o qual é estruturado
da forma a seguir, segundo proposto por Lakatos e Marconi
(obra citada).

20.2.1 Estrutura do relatório de pesquisa

A. Apresentação:

a. capa:
25 • entidade;
• título;
• coordenador;
• local e data.

93
Unidade IV

b. página de rosto:
• entidade;
• título;
• coordenador;
5 • equipe técnica;
• local e data.

B. Sinopse (abstract);

C. Sumário;

D. Introdução:

10 a. objetivo:

• tema;
• delimitação do tema;
• objetivo geral;
• objetivos específicos.
15 b. justificativa;
c. objeto:
• problema;
• hipótese básica;
• hipóteses secundárias;
20 • variáveis.

E. Revisão da bibliografia;

94
METODOLOGIA CIENTÍFICA

F. Metodologia:
a. método de abordagem;
b. métodos de procedimento;
c. técnicas;
5 d. delimitação do universo;
e. tipos de amostragem.

G. Embasamento teórico:
a. teoria de base;
b. definição dos termos.

10 H. Apresentação dos dados e sua análise;

I. Interpretação dos resultados;

J. Conclusões;

K. Recomendações e sugestões;

L. Apêndices:
15 a. tabelas;
b. quadros;
c. gráficos;
d. outras ilustrações;
e. instrumentos de pesquisa.

20 M. Anexos;

N. Bibliografia.

95
Unidade IV

Desenhada a estrutura do relatório da pesquisa, passa-se a


redação dos diversos tópicos.

20.2.2 Tópicos da estrututa do relatório

Nota-se que a estrutura do relatório de pesquisa é uma


evolução da estrutura do Projeto de Pesquisa. Alguns tópicos
5 ex ante são eliminados, como, por exemplo, o cronograma e
outros detalhes necessários a execução, e outros ex post são
acrescidos, como por exemplo, o Abstract. Além disso, o relatório
de pesquisa nos seus diversos tópicos ganha nova forma
e uma riqueza redacional superior, tanto qualitativamente
10 como quantitativamente, atingindo a suficiência para o claro
entendimento. Obedece a uma evolução sucessiva e gradativa,
revisando-se sempre uma colocação original. Segue a descrição
de cada tópico da estrutura, ainda conforme Lakatos e
Marconi.

15 Apresentação

Nada mais é do que o redesenho da capa e relação do pessoal


técnico do projeto

Sinopse (Abstract)

Apesar de se posicionar no início, é o último tópico a ser


20 desenvolvido e consiste em um pequeno resumo inferior a
uma página mostrando o que contém o relatório. Pouquíssimas
palavras redigidas de forma corrida.

Sumário

Indica a composição do relatório com seus itens e subitens e


25 as páginas iniciais em que se encontram.

96
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Introdução

É a consolidação de partes do projeto de pesquisa que


abrangem objetivo, objeto e justificativa.

Revisão bibliográfica

5 O anteprojeto se iniciou com uma revisão bibliográfica


que foi gradativamente evoluindo para o projeto e agora é
recomposto com suas modificações e acréscimos no relatório
de pesquisa.

Metodologia

10 A disciplina é fundamental na pesquisa científica e aqui


ela é mostrada incluindo-se as modificações decorrentes do
andamento do projeto, sobretudo de seu pré-teste.

Embasamento teórico

Embora observando o que já foi desenvolvido por autores


15 consagrados, acrescentam-se alterações decorrentes da
observação proporcionada pelo trabalho desenvolvido.

Apresentação dos dados e sua análise

É a base da pesquisa, e sua apresentação merece a irrestrita


observação da ética sobre a real confirmação ou refutação
20 das hipóteses possibilitada pela análise dos dados. Esse tópico
é subdividido de acordo com a natureza do trabalho em
suas diversas partes e contém a análise estatística dos dados
levantados. A verificação ou não das hipóteses levantadas segue
no item a seguir.

25 Interpretação dos resultados

A análise dos dados, realizada de forma ética, para que


mereça reconhecimento científico, possibilita a descoberta

97
Unidade IV

das evidências que confirmem ou refutem as hipóteses.


Aqui se apresenta o resultado final da pesquisa, inclusive as
insuficiências, irrelevâncias, impossibilidades e discrepâncias,
que, se observadas, serão relatadas. É o clímax de todo o
5 trabalho realizado, podendo atingir ou não as confirmações
procuradas.

Relata-se, ainda segundo Lakatos e Marconi (2008):

• discrepâncias de dados obtidos e previstos;

• comprovação ou refutação de hipóteses;

10 • impossibilidade de comprovação ou refutação das


hipóteses;

• esclarecimentos sobre validação das hipóteses;

• a validade da generalização dos resultados;

• as maneiras de maximização das verdades


15 generalizadas;

• a medida com que a pesquisa empírica possibilita o


enunciado de leis científicas;

• a sustentabilidade, limitação ou rejeição das teorias


consideradas na realização do trabalho.

20 Conclusão:

• evidencia os resultados alcançados pela pesquisa e


reflexão;

• indica limitações e alterações;

• mostra a relação entre teoria e fatos;

98
METODOLOGIA CIENTÍFICA

• apresenta a sintonia entre teoria e fato, assim como


entre argumentos, modelos e conceitos.

A conclusão não pode exacerbar o julgamento de valor


pela mistificação através de argumentação excessiva,
5 mas se prendendo à observação entre dados e hipóteses,
fundamentando-se em julgamento de fato. Em outras
palavras: não se trata de construir uma argumentação,
mas de observar uma realidade comprovável e inteligível
racionalmente. Caso contrário, não se obterá ciência e
10 conhecimento. Não se obterá uma conclusão precisa e
categórica.

Recomendações e sugestões

São recomendações práticas, decorrentes de conclusões da


pesquisa a serem implementadas no campo de estudo pesquisado.

15 Apêndices

Com o intuito de facilitar a leitura e tornar o texto mais leve


e inteligível e evitarem-se excessos que prejudiquem a clareza
no corpo principal da pesquisa, colocam-se no apêndice quadros,
tabelas, ilustrações e instrumentos de pesquisa. Esse material foi
20 utilizado no trabalho pelo pesquisador.

Anexos

São matérias de outros autores que algumas vezes são


importantes no esclarecimento do estudo realizado, devendo
usá-los com parcimônia.

25 Bibliografia

Toda a bibliografia consultada desde a pesquisa inicial até a


conclusão do trabalho deve ser registrada.

99
Unidade IV

21 PUBLICAÇÕES E TRABALHOS CIENTÍFICOS

As publicações e trabalhos científicos englobam:


• trabalhos de congressos;
• artigos científicos;
• informe científico;
5 • resenha crítica;
• conferência.

21.1 Trabalhos de congressos

São comunicações científicas que contêm informações


para apresentação em congressos e outros eventos científicos
e que posteriormente são publicadas em anais de congressos e
10 revistas.

Normalmente são compostos de uma introdução, o


desenvolvimento das ideias e pesquisas realizadas e uma
conclusão. O aspecto formal obedece a determinados padrões,
os quais podem ser específicos de determinados fóruns
15 científicos.

21.2 Artigos científicos

São estudos que, embora reduzidos em seu detalhamento,


tratam de forma completa determinada verdade científica. Não
possuem a abrangência de um livro, sendo uma abordagem mais
rápida, porém precisa, de um assunto.

20 Os artigos científicos são compostos por preliminares que


o identificam, uma sinopse do assunto, o corpo do artigo que
contém introdução, texto e conclusão e finalmente a última
parte, referencial a outros estudos, detalhes, bibliografias e
agradecimentos.

100
METODOLOGIA CIENTÍFICA

Existem diversos tipos de artigos, com objetivos específicos


como:

• argumentação teórica;

• análise;

5 • classificatório.

21.3 Informe científico

O informe científico trata de relatar resultados parciais


ou mesmo totais de determinada pesquisa já realizada ou em
fase de elaboração. É sucinto e descreve apenas os resultados
parciais ou finais de uma pesquisa. Relata ainda as atividades
10 desenvolvidas.

21.4 Resenha crítica

É uma descrição minuciosa de fatos científicos ou


apresentação de uma obra de natureza literária ou científica.
Envolve a leitura e a análise de uma obra, seu resumo, a
formulação de uma crítica e a formação de um conceito.

15 Além do conhecimento científico ou literário, o autor deve


possuir capacidade de juízo crítico. É muito utilizado para
desenvolver essa capacidade.

Na sua condução, devem ser procurados tanto aspectos


negativos quanto positivos de uma obra, envolvendo uma
20 atitude ponderada por parte do autor. É fundamental, na resenha
crítica, abster-se de deturpação da obra analisada.

A importância da resenha crítica se dá em decorrência do


grande volume de obras publicadas, sendo a sua leitura uma
forma de acompanhar a evolução de determinado campo de
25 interesse.

101
Unidade IV

Sua estrutura engloba:

• referência da bibliografia analisada;

• apresentação e credenciais do autor da resenha;

• conhecimento das ideias abordadas pela obra, na forma


5 de resumo;

• conclusão o autor da resenha;

• quadro de referência teórica utilizada pelo autor;

• apreciação, contendo julgamento, mérito, estilo, forma da


obra e universo a que se dirige.

21.5 Conferência

10 É a apresentação pública oral de determinado assunto


científico e literário, mas que, no entanto, dirige-se também
à publicação. Como os demais trabalhos científicos, a
conferência é estruturada considerando uma breve introdução,
o desenvolvimento da ideia e sua conclusão.

15 O vocabulário e o estilo do discurso adotado devem ser


adaptados ao público e objetivo a que se destina a conferência.
O controle do tempo e a profundidade da abordagem são
essenciais para que a apresentação tenha um início, meio e fim
e que cada um deles seja utilizado com suficiência possível e
20 adequada.

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