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(Des)Construção do Modelo Assistencial em

Saúde Mental na Composição das Práticas e dos


Serviços1
(De)Construction of the Mental Health Care Model in the
Composition of Professional Practices and Services

Paulo Henrique Dias Quinderé Resumo


Psicólogo. Mestre em Saúde Pública. Membro do Grupo de Pes-
quisa em Saúde Mental, Família, Práticas de Saúde e Enfermagem A Reforma Psiquiátrica brasileira trouxe uma nova
(GRUPSFE) da Universidade Estadual do Ceará – UECE. visão de tratamento e acompanhamento para as
Endereço: Av. Paranjana, 1700, CEP 60740-903, Fortaleza, CE, pessoas com transtornos mentais. A criação dos Cen-
Brasil.
E-mail: pauloquindere@hotmail.com
tros de Atenção Psicossocial (Caps), assim como a
inserção de ações de saúde mental nos vários níveis
Maria Salete Bessa Jorge
de complexidade do sistema de saúde, assumem um
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Titular e Coorde-
nadora do Mestrado Acadêmico em Saúde Pública da Universidade
importante papel no cenário das novas práticas de
Estadual do Ceará – UECE. Coordenadora do Grupo de Pesquisa saúde mental, configurando-se como dispositivos
em Saúde Mental, Família e Práticas de Saúde e Enfermagem. estratégicos para a transformação do modelo hos-
Endereço: Campus do Itaperi - Av. Paranjana, 1700 , CEP 60740- pitalocêntrico. O estudo tem como objetivo discutir
903, Fortaleza, CE, Brasil. a (des)construção do modelo assistencial em saúde
E-mail: masabejo@uece.br
mental no município de Sobral-CE, na composição
1 Apoio Financeiro: CNPq e CAPES. das práticas e dos serviços. Trata-se de um estudo
de natureza histórico-social, realizado na Rede de
Atenção Integral à Saúde Mental do município de
Sobral-CE. Utilizamos para a coleta de dados as
técnicas de observação sistemática, documentos e a
entrevista semiestruturada. Os sujeitos da pesquisa
foram definidos pela saturação teórico-empírica,
sendo entrevistados 10 usuários, 9 trabalhadores e
4 coordenadores dos serviços de saúde mental. Os
resultados revelaram que o modelo assistencial do
município foi reestruturado, deslocando as ações em
saúde mental do Hospital Psiquiátrico para os diver-
sos níveis de complexidade do sistema de saúde. O
modelo de Atenção Psicossocial prestado às pessoas
portadoras de transtornos mentais no município de
Sobral-CE tem contribuído para a transformação
do modelo psiquiátrico asilar na composição dos
saberes e das práticas em saúde mental.
Palavras-chave: Assistência em Saúde Mental;
Serviços de Saúde Mental; Serviços Comunitários
de Saúde Mental.

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Abstract Introdução
The Brazilian Psychiatric Reform has brought a new Ao longo dos últimos 30 anos, o campo da saúde
vision of treatment and monitoring for people with mental vem passando por diversas transformações.
mental disorders. The creation of the Community As formas de organização dos serviços, o modo de
Mental Health Centers (Caps) and the insertion of abordar as pessoas com transtornos mentais, as
mental health actions in the various levels of com- práticas de saúde, o modelo assistencial e os sabe-
plexity of the health system play a major role in the res no campo da psiquiatria têm se modificado na
context of the new mental health practices, setting nossa sociedade. Fruto das mobilizações políticas
themselves as strategic devices to the transforma- das décadas de 1970 e 1980, pelo processo de rede-
tion of the hospital model. The study aims to discuss mocratização do Brasil, a área da saúde como um
the (de)construction of the mental health care model todo vem se reconfigurando através de novos saberes
in the city of Sobral, state of Ceará, in the composi- e novas práticas.
tion of the professional practices and services. This A palavra prática vem do termo grego práxis e
is a historical and social study, carried out in the significa ação; termo referente a uma ação voluntá-
Integral Mental Health Care Network of the city of ria voltada para uma razão prática, ou seja, um agir
Sobral. For data collection we used systematic obser- prático. De acordo com o materialismo dialético, a
vation techniques, documents and semi-structured ação transformadora das condições concretas da
interview. The research participants were defined by existência seria a práxis, que englobaria tanto a
theoretical and empirical saturation. The interviews ação objetiva do homem sobre o seu meio como as
were conducted with ten users, nine workers and construções subjetivas, estando articuladas as ações
four coordinators of mental health services. The e as intenções (Acioli, 2001).
results showed that the health care model of the Na concepção de Pinheiro e Luz (2003), a ação
city was reorganized and the mental health actions é o elemento processual da prática. Através do mo-
of the Psychiatric Hospital were allocated in the vimento processual da ação se constrói a prática.
diverse levels of complexity of the health system. A ação deve ser entendida como um componente
The model of Psychosocial Care provided for people cultural de uma determinada civilização. A ação
with mental disorders in the city of Sobral has con- seria, portanto, o componente primordial para a
tributed to the transformation of the institutional construção das práticas, ou seja, elas seriam modu-
psychiatric model in the composition of knowledge ladoras do próprio fazer e formuladoras de saberes,
and practice in mental health. seriam uma fonte inesgotável de transformações,
Keywords: Mental Health Assistance; Mental Health pensamentos e sentidos.
Services; Mental Health Community Services. Para Costa-Rosa (2000), as novas práticas em
saúde mental são desencadeadas a partir de di-
versos movimentos sociais e científicos, de vários
campos teóricos. Uma gama de teorias influenciou
na mudança da atenção em saúde mental no Brasil.
A psiquiatria de setor e a psicoterapia institucio-
nal francesa, a antipsiquiatria e as comunidades
terapêuticas inglesas, a saúde mental comunitária
norte-americana e o movimento da desinstitucio-
nalização italiano são exemplos da complexidade
teórica que influenciou o Movimento de Reforma
Psiquiátrica Brasileiro.
A Reforma Psiquiátrica Brasileira trouxe uma
nova visão de tratamento e acompanhamento
para as pessoas com problemas relacionados aos

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transtornos mentais. Essa transformação é fruto xidade do sistema de saúde e não somente restrito
de experiências exitosas emergidas do movimento ao hospital psiquiátrico, que só onera o setor saúde
de reforma psiquiátrica do Brasil, através de novas e crucifica as pessoas que dele precisam.
práticas no campo da saúde mental e da influência
Saúde Mental no Ceará
de teorias de diversos países, tais como Inglaterra,
França, Itália e Estados Unidos no campo da psi- O Estado do Ceará é um dos pioneiros na transfor-
quiatria e da saúde mental, apontando, assim, para mação do modelo manicomial em um modelo de
a construção de um novo modelo de atenção. assistência psicossocial. O primeiro CAPS do Esta-
Os modelos de atenção ou modelos assistenciais do foi inaugurado em novembro de 1991, na cidade
têm sido conceituados como “combinações técnicas de Iguatu; em seguida vieram os CAPS de Canindé
utilizadas pela organização dos serviços de saúde (agosto de 1993), Quixadá (dezembro de 1993) e Icó
em determinados espaços/populações, incluindo (março de 1995). As mudanças nas cidades em que
ações sobre o ambiente, grupos populacionais, foram implantados os serviços de atenção psicosso-
equipamentos comunitários e usuários de diferen- cial eram visíveis. Os gastos com internações psiqui-
tes unidades prestadoras de serviços de saúde com átricas eram reduzidos, esboçavam-se movimentos
distinta complexidade” (Paim, 2003, p. 567). Nesse sociais para a criação de núcleos de Movimento da
aspecto, os modelos de atenção em saúde não podem Luta Antimanicomial, Comissões Municipais de
ser considerados como uma forma de organizar os Saúde Mental e aprovação de Leis Orgânicas Mu-
serviços, nem tampouco um modelo administrativo nicipais com introdução de princípios da Reforma
do sistema de saúde. São, portanto, uma forma de Psiquiátrica (Sampaio e col., 1998).
articular técnicas e tecnologias para atender as No município de Sobral-CE, o atendimento psi-
necessidades e dar resolubilidade aos problemas quiátrico data do início da década de 1970, com a
de saúde individuais e coletivos, não se tratando de abertura de um pequeno serviço particular de aten-
normas rígidas a serem seguidas, mas, sim, racio- dimento psiquiátrico. Em 1974, foi criada a Casa de
nalidades variadas que informam as intervenções Repouso Guararapes, que atendia a microrregião de
em saúde. Sobral e dispunha de 80 leitos de internação. Funcio-
Teixeira (2006) amplia a discussão sobre os mo- nava aos moldes da psiquiatria clássica, com a maior
delos assistenciais quando inclui três dimensões parte da sua clientela com alto grau de cronificação
que vão além das práticas desenvolvidas em saúde dos quadros, com grande tempo de permanência e
propriamente ditas. São elas: a dimensão gerencial, frequentes reinternações (Silva e col., 2000).
relacionada aos meios de condução do processo de O hospital psiquiátrico de Sobral, embora com
reorganização das ações e dos serviços; a dimensão vinte anos de funcionamento, apresentava deficitá-
organizativa, que se refere a como se estabelecem as rios recursos terapêuticos, um enorme reducionismo
relações entre os níveis de complexidade do sistema de ferramentas clínicas, resumindo-se à abordagem
assistencial na produção do cuidado; e a dimensão biofarmacológica com característica prisional e de
técnico-assistencial, que diz respeito a como se es- exclusão social. O hospital custava caro aos cofres
tabelecem as relações entre os sujeitos das práticas, públicos e tinha pouca eficácia terapêutica. Em re-
mediadas pelo conhecimento e pelas tecnologias lação aos internamentos, custava ao SUS mais caro
que operam nesse processo de trabalho em saúde, que os hospitais gerais da capital Fortaleza, lem-
e seus objetos de trabalho em diversos planos, seja brando que os custos com internações psiquiátricas
na promoção à saúde, seja na prevenção de riscos e são bem menores (Pereira e Andrade, 2001).
agravos ou na recuperação e reabilitação. No ano 2000, diante de constantes denúncias
O modelo de assistência em saúde mental tem de maus-tratos e torturas a pacientes do hospital
se transformado ao longo dos últimos anos e de- Guararapes, a instituição foi descredenciada como
monstrado que é possível cuidar das pessoas com prestadora de serviço ao SUS, sendo realizada uma
transtornos mentais através de um modelo de saúde nova estruturação do sistema de atenção à saúde
que esteja integrado aos diversos níveis de comple- mental no município (RAISM) (Silva e col., 2000).

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Entretanto, questionamos: a transformação do 1974, foi palco de inúmeras atrocidades, interna-
modelo de assistência em saúde mental tem contri- mentos inadequados e cronificação das patologias
buído para a desconstrução do modelo psiquiátrico dos seus internos (Sá e col., 2007). O período de sua
asilar? Para responder a tal indagação, o presente implantação foi marcado, em todo o Brasil, por uma
estudo tem como objetivo discutir a (des)construção política de credenciamento de hospitais psiquiátri-
do modelo assistencial em saúde mental no muni- cos privados, fruto do regime da ditadura militar,
cípio de Sobral-CE, na composição das práticas e que havia incentivado a implantação desses serviços
dos serviços. em todo país.
Para Cohn (2005), é um período marcado pela in-
tensa burocratização da máquina estatal, inclusive
Metodologia do setor da saúde, com destinação de parcelas sig-
O estudo é de natureza histórico-social e do tipo nificativas dos recursos públicos para a compra de
qualitativo. Tem como finalidade a compreensão do serviços privados. O poder clientelístico, paternalis-
conhecimento, buscando o sentido e o significado ta e arbitrário coloca a assistência à saúde nas mãos
do fenômeno estudado (Minayo, 1999). A natureza de grupos privados, com interesses eleitoreiros, com
histórico-social tenta conjugar as diversas dimen- a apropriação privada da coisa pública. O Estado
sões do processo de transformação histórico do do Ceará acompanhou tal processo e inaugurou um
modelo em saúde mental e da composição das novas manicômio judiciário e nove hospitais psiquiátricos
práticas. privados conveniados com a previdência pública,
O Estudo foi realizado na Rede de Atenção Inte- dentre eles a Casa de Repouso Guararapes (Sampaio
gral à Saúde Mental do município de Sobral, cidade e Carneiro, 2007).
localizada na região norte do Estado do Ceará. Os Observarmos que a atenção à saúde mental em
sujeitos da pesquisa foram definidos pela saturação Sobral era realizada de maneira inapropriada, pois
teórico-empírica e pela relevância das informações os corpos eram institucionalizados, interditados
e das observações que indiquem contribuições sig- e submetidos a diversos tipos de violência, inclu-
nificantes e adequadas ao delineamento do objeto sive a física. A atenção era estruturada no modelo
em apreensão. Para conformar os sujeitos, foram assistencial médico privatista, em que a figura do
selecionados em três grupos de informantes-chave: psiquiatra era centralizadora de todo o processo
nove Trabalhadores de Saúde Mental, dez Usuários de tratamento e cura, através dos mecanismos me-
(clientes e familiares) e quatro Coordenadores dos dicamentosos que resolveriam todos os males que
serviços. acometiam os indivíduos portadores de transtorno
Foram utilizadas como técnicas e instrumentos mental. Nos discursos que seguem, percebemos as
de coleta de dados a entrevista semiestruturada, convergências acerca do aparato manicomial que
a observação sistemática e fontes documentais se instalara, inclusive no discurso do trabalhador
importantes. 3, destacando o atendimento do profissional médi-
O projeto foi submetido à análise do Comitê co que quase se confunde com o de uma prescrição
de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual medicamentosa.
do Ceará (UECE) e aprovado sob o n° de Processo “...fui internado já, internado no Guararapes...
07520905-5. a internação lá era muito ruim, eu sofri muito
lá, apanhava muito dos outros pacientes, os
outros pacientes me batiam muito. Sofri muito”
Resultados e Discussão (Usuário 4).
(Des)Construção do Hospício “...por que na época do Guararapes era mais as-
Até o ano de 1999, a Casa de Repouso Guararapes sim aquele estilo o paciente chegou psiquiatra e
constituía-se como o único serviço de atenção à pronto, psiquiatra de três em três dias, pouco era
saúde mental prestado à população de toda a ma- vista por psicólogo, por terapeuta ocupacional... o
crorregião Norte do Estado do Ceará. Criada em período que eu passei lá no Guararapes era mais

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manicomial, mais um manicômio aquilo ali...” às pessoas com transtorno mental. Porém, vários
(Trabalhador 3). conflitos, contradições e desafios foram necessários
A organização do manicômio, estruturada no mo- para que essa rede se desenvolvesse.
delo Médico-Assistencial Privatista, possibilita uma Tófoli (2007) refere que o ambulatório de psi-
centralização no pronto atendimento e promove uma quiatria começou a funcionar antes mesmo do
desordenação da demanda. Esse modelo é centrado fechamento do referido hospital psiquiátrico. Era
na demanda espontânea dos seus usuários, ou seja, uma tentativa de iniciar um processo de reforma
os indivíduos precisam estar acometidos de uma no setor no município. Em 1998, foi implantado o
doença para que procurem os serviços. Geralmente, Centro de Atenção Psicossocial, que iniciou suas
tal procura se dá de maneira desordenada e gera, atividades de forma modesta atendendo os casos
na população, uma busca desenfreada por serviços ambulatorialmente. Com o fechamento do hospital
de pronto atendimento, condicionando uma oferta psiquiátrico, devido a denúncias de maus-tratos e à
distorcida por parte dos serviços (Paim, 2003). morte do paciente Damião Ximenes Lopes, desen-
O que ocorria era uma procura desenfreada pelo cadeou-se o processo de completa transformação
manicômio nos momentos de crise dos pacientes e a da assistência em saúde mental em Sobral, como
oferta de um serviço que acabava excluindo e croni- observamos nas convergências dos discursos que
ficando os que deles necessitavam. Criava na popu- se seguem:
lação a cultura de que a internação e o medicamento “...a partir de 1997 nós criamos no PAM uma sala
eram as únicas ferramentas capazes de resolver os de atendimento aos pacientes que tinha a neces-
problemas de saúde psíquica dos indivíduos. Esse sidade de ser atendido, que tinha algum transtor-
modelo inviabiliza trocas sociais, é eminentemente no mental, e aí a gente embrionava a questão dos
curativo e prejudica o atendimento integral ao pa- caps, que já era uma febre a nível de Ceará, e a
ciente e à comunidade; não oferecendo um impacto nível nacional também...” (Coordenador 4).
direto na saúde geral da população (Paim, op. cit.). “...antes mesmo do fechamento do Guararapes já
Enfaticamente explicitado no discurso deste coor- existia o ambulatório do CEM. Que, naquele tem-
denador: po, era o PAM, uma tentativa de mudança para se
“...antes o que é que nós tínhamos era o hospital adequar à reforma psiquiátrica. O problema do
psiquiátrico onde só existia somente a figura do Guararapes foi um acidente de percurso porque o
psiquiatra prescrevendo o receituário de medica- negócio já estava caminhando no sentido talvez de
mentos...” (Coordenador 3). desativar futuramente o Guararapes, pra dá início
Ainda nos reportando ao ano de 1999, as mudan- a esse novo rumo da Psiquiatria aqui em Sobral...”
ças na saúde mental no Brasil já se faziam ecoar. (Trabalhador 7).
Passavam-se dez anos da promulgação da Consti- A morte desse paciente teve repercussão na-
tuição Brasileira e da regulamentação do Sistema cional, forçando o poder público a intervir e tomar
Único de Saúde (SUS); doze anos da implantação providências, sendo uma delas a intervenção e, em
do primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) seguida, o descredenciamento da Casa de Repouso
do Brasil, o CAPS Luiz Cerqueira da Rocha de São Guararapes, que se deu em 10 de julho de 2000 de
Paulo, e dez anos da experiência na cidade Santos, acordo com a portaria/CCA n° 113, que descreden-
no litoral paulista, dos Núcleos de Atenção Psicosso- ciava a referida instituição para a prestação de
cial (NAPS) (Amarante, 1995). O Ceará já vivia suas serviços ao SUS no setor hospitalar em psiquiatria
experiências em serviços de saúde mental extra- (Pereira, 2001).
hospitalares, e a cidade de Sobral preparava seu O mais importante dessa Portaria é que, além de
terreno para o que viria a se consolidar como uma descredenciar a instituição psiquiátrica, traz avan-
Rede de Assistência Integral à Saúde Mental, de re- ços na assistência em saúde mental, pois transfere
ferência para todo o Brasil e premiada diversas vezes a retaguarda das internações de urgência em Psi-
pela inversão completa do seu modelo de assistência quiatria para o Hospital Geral Dr. Estevam Ponte,

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mais tarde intitulado de Unidade de Internação ambulatorial dos clientes com transtornos mentais
Psiquiátrica – UIPHG, sob a supervisão da equipe de de Sobral (Pereira, 2001).
saúde mental do município (Pereira, op. cit.). Foi um Embora o CEM, num primeiro momento, tenha
marco decisório na transformação da assistência em apresentado um papel importante no processo de
saúde mental no município e, consequentemente, na transição do fechamento do Hospital Psiquiátrico
desconstrução de que os portadores de transtornos para implantação dos serviços substitutivos, atual-
mentais deveriam ser tratados de forma segregada mente enfrenta alguns entraves na sua articulação
em ambientes específicos, distante da sociedade com os municípios aos quais é referência. Esse
dita “normal”. serviço ainda funciona com características dos
Machado e Colvero (2003) colocam que as in- antigos modelos de atendimento. O ambulatório de
ternações psiquiátricas em hospitais gerais não Psiquiatria foi construído para atender a demanda
serão por si só responsáveis pela transformação do da macrorregião norte, em que o município é referên-
modelo assistencial em saúde mental, porém, a sua cia, de acordo com as pactuações de regionalização,
contribuição para o estabelecimento de uma relação fruto do processo de descentralização do Sistema
de maior aceitação dos portadores de transtornos Único de Saúde.
mentais em espaços de tratamento preferencialmen- Embora, de acordo com Conh (2005), o processo
te ocupados por diversas outras patologias clínicas de descentralização possibilite um repasse de recur-
é de extrema relevância, possibilitando uma maior sos e delegação de poder para que os níveis estaduais
interação com essa população historicamente mar- e municipais formulem a política de saúde dos seus
ginalizada e segregada. Outro aspecto interessante territórios, a partir de especificidades locais, essa
a ser destacado é o de que, além de as internações forma de pactuação também possibilita entraves na
serem em leitos em hospitais gerais, elas passam a organização dos serviços; pois é fato que a delega-
ser bem mais breves do que as internações no anti- ção de poderes nem sempre vem acompanhada do
go hospital psiquiátrico. De acordo com dados do repasse de verbas e de estruturas organizacionais
Ministério da Saúde, as internações na Unidade de que deem conta da demanda.
Internação Psiquiátrica de Sobral têm uma média O CEM é referência para quase um milhão de
de sete a oito dias de permanência na unidade (Tó- habitantes, e o ambulatório conta com um psiquiatra
foli, 2007). Fato comprovado empiricamente pelos e um auxiliar de enfermagem, e, algumas vezes, os
seguintes discursos convergentes: assistentes sociais da rede dão suporte aos casos
com maior dificuldade de condução. A demanda
“...a nossa média de internação é de sete (7)
chega através da central de regulação de leitos ou
dias...” (Coordenador 2).
através dos encaminhamentos da UIPHG dos casos
“...passei oito dias pra nove dias. Me internei internados de outros municípios, como observamos
duas vezes... a internação lá também é muito boa, no discurso que segue:
é um povo também que ajuda a gente no momento
“...aqui nós recebemos só pacientes da região,
certo...” (Usuário 9).
não recebemos pacientes da cidade de Sobral
“...passei duas semanas internado. Aí depois eu recebemos de todos os municípios... chega aqui
fiquei sendo acompanhado só pelo Caps mes- por marcação de consulta através da central de
mo...” (Usuário 3). marcação do seu município...” (Trabalhador 7).
A Portaria ainda determinava que o Programa Essa pactuação traz alguns entraves para o fun-
de Saúde da Família (PSF) prestaria atenção básica cionamento da rede de atenção, pois são deslocados
aos usuários com transtorno mental do município, profissionais para dar suporte a esse serviço. Devido
e que a atenção aos usuários da macrorregião norte, ao fato de a maioria das cidades da macrorregião
em que Sobral é referência, ficaria a cargo do Ambu- norte não possuírem equipes de saúde mental nem
latório de Psiquiatria do Centro de Especialidades Caps, há uma grande quantidade de encaminha-
Médicas (CEM), e o serviço de atenção secundária mentos para as consultas no CEM, assim como
Caps se responsabilizaria pelo acompanhamento um grande índice de solicitação de internação na

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UIPHG, além dos pacientes que conseguem burlar tem mais jeito...aí ele (médico) passou três tipos
o procedimento padrão que organiza o fluxo de en- de comprimidos pra mim, um eu comprei logo, no
caminhamento e chegam à unidade de internação e mesmo dia... aí dois eu ainda não comprei porque
ao ambulatório sem que os serviços estejam prepa- eu não pude...” (Usuário 7).
rados para atender a demanda, como bem destacam Embora a rede se esforce para ser resolutiva
os discursos: em relação aos casos que chegam de outros mu-
“...E tem os pacientes que burla, tem o sistema que nicípios, nem sempre é possível devido a entraves
burla o próprio sistema...em vez de pedir a vaga à na articulação com os serviços de saúde desses
central de regulação de leitos manda direto, estes municípios, devido à distância e ao despreparo dos
pacientes segundo a lei tem que ser avaliados e profissionais para atender os casos relacionados à
mandados de volta ou encaminhados para outro saúde mental.
serviço, não poderia sair daqui sem uma avalia- “...mas assim a maioria das pessoas que inter-
ção e realmente não sai, mas o que acontece é na são pacientes de outros municípios, então a
que a gente acaba absorvendo esta demanda que gente acaba tendo que ter uma interação com
vem sem o encaminhamento adequando, devido a os serviços dos outros municípios da macro
estes cinco leitos extras que a gente tem, então a não só no atendimento à saúde, porque alguns
gente acaba absorvendo e não volta, mas aí a gen- municípios não têm Caps e aí os profissionais
te manda um oficio para a central de regulação que a gente pode contar de assistente social e
de leitos se queixando do serviço que referenciou psicólogos são do centro de referência da assis-
e do profissional que referenciou injustamente...” tência social, a gente acaba tendo contato com
(Coordenador 2). os outros municípios e quando há Caps, com a
“...chegam aqui pacientes sem ser marcado ... equipe do Caps, em discutir assim com o familiar
porque chega às vezes em crise ... chega até sem deles pensarem num projeto terapêutico de ter
documento e nós somos obrigados a atender por o profissional de referência pra quando saia do
que se trata de uma emergência e chega paciente hospital a gente possa comunicar o profissional
também que furam até a burocracia e lá do pró- lá...” (Trabalhador 5).
prio hospital Dr. Estevam... manda dá a ele um Também foi implantado no município o Serviço
boletozinho já com a data previamente estabele- Residencial Terapêutico (SRT), o primeiro da Região
cida pra ser atendido aqui” (Trabalhador 7). Nordeste do Brasil, o “Lar renascer”. O SRT cumpre o
Isso tem reflexo direto na qualidade da atenção papel de reintegrar os pacientes que haviam perdido
prestada, pois os pacientes advindos de outros mu- os vínculos familiares e sociais devido às reinterna-
nicípios têm dificuldades de acesso e acabam tendo ções sucessivas no manicômio.
um atendimento precarizado, apenas a possibilidade A SRT foi implantada em Sobral-CE com o obje-
de internação e uma consulta psiquiátrica. Foi fácil tivo de reinserir os pacientes do antigo manicômio
percebermos como o atendimento é falho, principal- na sociedade. No período da sua implantação, foi
mente através do discurso de um usuário que trouxe realizada a integração dos futuros moradores, pois
as dificuldades principalmente relacionadas à infra- alguns não tinham condições de ser inseridos nas
estrutura do seu município de origem, que não lhe suas famílias porque não se conhecia o paradeiro
dá condições de acesso a transporte e à medicação de suas famílias, ou porque problemas de relacio-
necessária ao seu acompanhamento: namento inviabilizavam a reintegração imediata
(Duarte e Oliveira, 2007). Fato empírico destacado
“...é difícil, principalmente agora que você sabe
pelo seguinte discurso:
que político, político só são bom pra gente quando
tá na época da política, depois que passa, é meio “...os nossos moradores da residência são graves,
difícil, a gente só consegue se a doença tiver no a maioria oriunda de internações, mais de dois,
último recurso, é que eles socorre com a ambu- três anos no antigo Guararapes, a gente tem
lância pra pessoa, às vezes, chega aqui e nem essa maior dificuldade da inclusão social, já

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tivemos, depois que a residência foi implantada, internação requer um trabalho intenso de agencia-
já tivemos 5 inclusões foi um avanço não é?...” mento no território na reconstrução de vínculos e
(Coordenador 5). direitos sociais que garantam a sobrevivência desses
Os Serviços Residenciais Terapêuticos tiveram indivíduos fora da instituição hospitalar. A constru-
sua expansão no Brasil principalmente após a sua re- ção de redes alternativas de cuidado e suporte na
gulamentação em 2000. Conforme indica o texto da comunidade é imprescindível para a sustentação
Portaria Ministerial, n°. 106, 2000, que cria e regu- desses indivíduos no meio social.
lamenta o funcionamento dos Serviços Residenciais Como observamos, foi reestruturado todo o mo-
Terapêuticos, esses serviços são moradias ou casas delo assistencial do município com o deslocamento
destinadas a cuidar dos portadores de transtornos das ações em saúde mental do Hospital Psiquiátrico
mentais que não possuam suporte social e devem para os diversos níveis de complexidade do sistema
viabilizar sua inserção social (Generoso, 2008). de saúde. O hospital privado que prestava serviço ao
Há uma preocupação em não se cronificar os SUS deixa de ser o centro da atenção e entram em
moradores do SRT. Os moradores são acompanhados cena serviços que visam abordar e conduzir os casos
pelos profissionais dos Caps e também pelas equi- de transtorno mental num novo modelo de atenção:
pes de saúde da família de referência, responsáveis o modelo psicossocial.
pelos cuidados básicos de saúde. As atividades são Segundo Teixeira (2006), para que a transfor-
realizadas dentro e fora da casa; aspecto observado mação do modelo de atenção seja concretizada, é
durante a pesquisa de campo no SRT de Sobral-CE, necessária a conjunção de três dimensões: a dimen-
pois os moradores se encontravam em atividades são gerencial, no que tange aos mecanismos que
externas junto aos clientes do restante dos serviços conduzirão os processos de reorganização das ações
da rede, dado empírico complementado pelo seguin- e dos serviços; uma dimensão organizativa, que se
te discurso: estabelece através da hierarquização por níveis de
complexidade tecnológica do processo de produção
“...Tirando eles o máximo possível de dentro de do cuidado; e da dimensão técnico-assistencial, que
casa, porque se não se tornaria um minimanicô- se opera nas relações estabelecidas entre os sujeitos
mio. Se preocupando também com o resgate da das práticas e seus objetos de trabalho, mediadas
cidadania, da autonomia dentro da unidade no pelo saber e por tecnologias em diversos planos
que for possível... nas atividades que realmente (promoção da saúde, prevenção de riscos e agravos
tem que ser feito dentro da casa, as demais a e recuperação e reabilitação).
gente conta com o apoio das diversas assistên- De acordo com o conceito de transformação do
cias, nos psfs as consultas, nos caps a terapia modelo assistencial discutido acima, percebemos
ocupacional, o ambulatório, os grupos, dentre que o município de Sobral implementa um novo
outras atividades externas feitas por educa- modelo de assistência em saúde mental nas três
dora física e terapeuta ocupacional também...” dimensões. Primeiro na gerencial, quando desloca
(Coordenador 5). os cuidados à saúde mental do setor privado para a
Ferreira (2007) reforça a ideia de que os serviços total responsabilidade do setor público. Até mesmo
não manicomiais, inclusive as residências terapêuti- os leitos de internação em hospital geral, que se dá
cas, precisam possibilitar atividades que permitam numa instituição privada através de prestação de
um maior trânsito de seus moradores pelo seu terri- serviço ao SUS, são de responsabilidade da equipe
tório: centros comunitários, espaços públicos, feiras de saúde mental que presta serviço ao município, no
livres, centros de saúde; viabilizar a construção de que diz respeito à gerência das ações.
redes sociais e a articulação com os diversos atores, Na dimensão organizativa, a atenção em saúde
promovendo a reconstrução social, castrada pelo mental passa a ser de responsabilidade do sistema
aparato manicomial, e a transformação da cultura. de saúde em níveis de complexidade diferentes.
Leal e Delgado (2007) reforçam a ideia afirmando Os cuidados básicos das pessoas com transtornos
que a saída de um paciente de um período de longa mentais passam a ser de responsabilidade do nível

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hierárquico primário de saúde, através dos PSFs sofrimento psíquico que comprometia suas ativida-
e das rodas de terapias comunitárias. O Caps é des diárias.
responsável pelo nível hierárquico secundário de A Terapia Comunitária (TC) surgiu no fim da
atenção às pessoas com transtornos mentais, e o década de 1980 na favela do Pirambu, em Fortaleza-
Hospital Geral fica responsável pelos atendimentos CE, criada pelo psiquiatra e professor Dr. Adalberto
de urgência e emergência em Psiquiatria. Com isso, Barreto. Caracteriza-se como uma estratégia tera-
os cuidados relacionados à saúde mental em Sobral pêutica não mais centrada no modelo medicalizado,
passam a ser operacionalizados em níveis diferentes mas nas potencialidades dos indivíduos, promo-
de complexidade do sistema de saúde, com ações de vendo o equilíbrio físico e o mental através de uma
promoção de saúde, de prevenção aos agravos e de abordagem sistêmica aliada a crenças e aos valores
recuperação e reabilitação psicossocial. da comunidade (Holanda e col., 2007). Os encontros
“...essa intervenção aconteceu durante 90 dias e possibilitam a articulação de redes de apoio e desper-
prorrogada por mais 30 dias o que culminou com tam possibilidades de mudanças, pois as pessoas da
o fechamento do manicômio e a implementação comunidade partilham entre si recursos de comuni-
da rede de saúde mental...” (Coordenador 3). cação e laços de identidade, apresentando afinidades
em seus sofrimentos e na busca de soluções para os
“...daí quando começou a necessidade de ampliação mesmos (Barreto, 2005).
de rede, por conta da intervenção que houve no Gua- Essa foi mais uma ação criada para atender a
rarapes de 2000 pra 2001 e aí se pensou como é que demanda de saúde mental que se apresentava, agora,
vamos fazer isso se a gente tem pouco profissional com mais um recurso inserido na comunidade, o que
e qual é a saída pra atender esta clientela que vai vem a enfatizar a mudança no modelo de atenção em
vim e o Caps tem que está mais aberto a acolher e saúde mental. Um modelo que se propõe a atuar nas
a dar respostas a estes que realmente têm proble- diversas dimensões biopsicossociais dos indivíduos
mas psiquiátrico, mas que não pode ficar na fila de e não somente no aspecto biológico medicamentoso.
espera aí foi quando nasceu a oportunidade dessa Como vemos, as ações de saúde mental são amplia-
ideia de a gente montar um serviço de saúde mental das para os territórios, não ficando reclusas aos
comunitária... aí surgiu a grande chance de imple- serviços assistenciais. São diluídas na comunidade
mentar mais um serviço de saúde mental voltado e surgem de acordo com as necessidades que são
pra população na comunidade. Aí surge a terapia demandadas dos seus usuários.
comunitária em Sobral...” (Coordenador 4). O último dispositivo a ser inserido na rede de
Aos poucos, os serviços e as ações foram sendo saúde mental de Sobral foi o Caps-Ad – segundo ser-
ampliados e a rede de atenção foi ficando cada vez viço a ser implantado no Estado do Ceará. O Caps-Ad
mais complexa. As rodas de terapia comunitária ti- iniciou suas atividades em setembro de 2002, sendo
veram como objetivo inicial, em Sobral, desafogar a um serviço especializado no atendimento de pessoas
demanda que batia incessantemente no Caps devido com problemas relacionados ao abuso de álcool e
ao fechamento do hospital psiquiátrico, gerando outras drogas. O serviço é referência para as cidades
uma grande espera por consultas. O Caps passa a de Sobral, Forquilha e Massapê2.
referenciar para essas rodas de terapia comunitá- A rede assistencial em saúde mental de Sobral
ria espalhadas pelas unidades básicas de saúde do inverte a lógica da atenção do modelo manicomial
município os casos leves que não teriam indicação asilar, centrado na instituição hospitalar psiquiá-
de serem atendidos nos serviços secundários, mas trica, para o modelo de atenção psicossocial, com
que também não poderiam prescindir de algum tipo serviços inseridos nas comunidades, com equipe
de intervenção, pois apresentavam um considerável multiprofissional e atuando em diversos níveis de

2 QUINDERÉ, P. H. D. Análise do perfil epidemiológico da clientela atendida no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-AD) de
Sobral-CE. 2006. Monografia (Curso de especialização em saúde mental) - Escola de Saúde da Família Visconde de Sabóia e Universidade
Estadual Vale do Acaraú – UEVA, Sobral-CE, 2006.

Saúde Soc. São Paulo, v.19, n.3, p.569-583, 2010 577


complexidade do sistema de saúde. as solicitações de internações permanentes são uma
Para Costa-Rosa (2000), a superação do modelo expressão dos familiares diante da percepção de que
asilar e a suplantação do modo psicossocial ocorrem esses indivíduos são incapazes de gerir suas vidas,
de diversas formas. Primeiro, com a substituição além do fato de que a própria clientela instituciona-
de uma abordagem com ênfase nos determinantes lizada, há anos, anseia por permanecer internada
orgânicos, que se dava no hospital psiquiátrico devido à sua acomodação ao aparato manicomial.
através dos tratamentos quase que exclusivamente Dado empiricamente complementado e destacado
medicamentosos, para uma abordagem que conside- abaixo:
ra as diversas dimensões dos indivíduos, tais como “...a gente tem uma determinada dificuldade em
os aspectos sociais: sua relação com a família e a conseguir este acompanhamento familiar porque
comunidade; psíquicos: as idiossincrasias, senti- a cultura aqui no estado, pelo menos eu acredito
mentos, aspectos subjetivos; e orgânicos. que a cultura seja no Brasil, mas o que eu tenho
É isso que faz a rede de atenção psicossocial: certeza é que a cultura na macrorregião de Sobral
tenciona abranger as formas de atenção aos indiví-
era de mandar o paciente para o Guararapes e
duos portadores de transtorno mental, sabendo que
deixar ele internado durante meses, anos, né,
quanto maior o leque de atividades que contemple
isto de certa forma a família tirava férias deste
a integralidade dos indivíduos, melhores serão os
paciente, descansava, e lá não precisava está
resultados. Porém, esse trabalho de transformação
acompanhando, o paciente ficava lá sozinho por
do modelo é repleto de contradições que se manifes-
um bom tempo...” (Coordenador 2).
tam em alguns discursos dos próprios trabalhadores
dessa rede de saúde mental e, como podemos obser- Outro desafio a ser enfrentado é o da visão dos
var no discurso abaixo, que diverge das concepções profissionais da atenção básica no trato com os
psicossociais instaladas no município: portadores de transtornos mentais. Ainda guardam
no seu imaginário que, por serem pessoas com
“...era bom que tivesse assim uma clínica que dei-
problemas mentais, somente podem ser acompa-
xasse assim as pessoas por mais tempo, só pra
nhadas nos serviços que se propõem a tal, mesmo
eles mesmos, reservado só pra eles mesmos, que
em cuidados que demandam uma assistência básica
ficassem internados uma semana um mês, pra
acabar o sofrimento dessas famílias... Acho que de saúde.
se tivesse um lugar só pra eles seria bem melhor, “...a gente ainda nota dificuldade que os pró-
gerava até mais emprego, que funcionasse assim prios profissionais de saúde têm com relação
24 horas, tipo um hospital...” (Trabalhador 1). ao paciente com doença mental... ainda é um
Percebemos no discurso do trabalhador os trabalho que a gente tem que fazer porque: ‘esse
“escombros” do manicômio. Como se as paredes é paciente do Caps’. Ou então: ‘leve lá pro Caps
manicomiais ainda estivessem alicerçadas no ima- que ele resolve’... Outra coisa que a gente tem
ginário da sociedade e ainda fosse levar tempo para dificuldade, por exemplo, que é doente mental
vir abaixo por completo. De acordo com Antunes e tem algum problema clínico aí procura o hos-
Queiroz (2007), ainda são fortes o preconceito e os pital geralmente o hospital de referência para
temores guardados pela população em relação à psiquiatria é o hospital Dr. Estevam, se o paciente
loucura. Nos próprios serviços que tentam reverter a tem algum estigma psiquiátrico, ou diz que é
lógica manicomial, ainda é fato vermos profissionais paciente do Caps, geralmente, é até, às vezes, de
assumindo posturas biologicistas e dando ênfase ao certa forma pelo clínico da emergência negligen-
trabalho fragmentado dentro dos Caps. ciado a questão clínica para encaminhar para
A convivência com o manicômio na Região Norte o psiquiatra. Porque o hospital lá também tem
do Estado do Ceará fez com que as famílias das pes- psiquiatra, mas ele esquece que o paciente não é
soas com transtornos mentais desacreditassem da só um doente mental e que o doente mental tem
possibilidade de melhora e reinserção social desses várias patologias: hipertensão, diabetes, várias
indivíduos. Guljor e Pinheiro (2007) destacam que questões clínicas...” (Trabalhador 9).

578 Saúde Soc. São Paulo, v.19, n.3, p.569-583, 2010


É notório no discurso o quanto o estigma e o convergentes dos usuários a referência ao medica-
preconceito ainda estão enraizados no imaginário mento como centro do acompanhamento:
da sociedade em relação às pessoas com transtornos “...toma o remédio, de 5 remédio. 1 de noite e outro
mentais. No entanto, a instalação da Rede de Saúde de manhã, 1 de noite e outro de manhã, oito horas
Mental, a sua inserção nos diversos níveis de comple- da noite, oito horas da manhã, eu tomo remédio
xidade de saúde e a sua interlocução com os diversos todo dia, quando chegar em casa eu tomo remédio
setores sociais têm possibilitado a (des)construção do de novo...” (Usuário 6).
modelo manicomial no imaginário da sociedade local,
“...aí ele passou três tipos de comprimidos pra
como vemos nas convergências dos discursos:
mim...” (Usuário 7).
“...as pessoas veem a saúde mental em Sobral
“...tomava a medicação, vinha buscar aqui, no
como uma rede que tem certo poder... as pessoas
horário que estava indo pro trabalho eu passava
quando veem um paciente encaminhado pelo
aqui e pegava a medicação...” (Usuário 2).
Caps, se dedicam à causa... Conquistas de mora-
dia naqueles programas da prefeitura de habita- Observamos que a prática medicamentosa ainda
ção então a relação do serviço social do Caps com é muito emergente nos discursos dos usuários de
o serviço social de outras instâncias tem surtido saúde mental. Os transtornos mentais ainda são
um efeito bom a relação do serviço social com compreendidos através de uma perspectiva biológi-
fórum, com o INSS...” (Trabalhador 6). ca. Para Antunes e Queiroz (2007), as práticas nos
Caps ainda estão centradas no saber médico. Num
“...os dois Caps estarem localizados em áreas contexto de transição de uma ordem focada no hospi-
bastante valorizadas, privilegiadas, acho que tal para uma abordagem mais voltada para a família
isto mexe com o imaginário das pessoas, nós tí- e o meio social do paciente, as práticas antigas ainda
nhamos muitos exemplos de pessoas que tinham estão institucionalizadas e cristalizadas, difíceis de
vergonha de fazer tratamento no Caps, porque o serem rompidas e substituídas por novas práticas.
que elas sentiam, era tinha um preconceito muito Como corrobora Furtado e Onocko-Campos (2005),
grande...” (Coordenador 3). há uma tendência de repetir o referencial aprendido
Como observamos, a transformação do modelo de e repetido durante anos, devido ao fato de que a con-
atenção em saúde mental passa pela transformação vivência com a loucura e seus desdobramentos não
da percepção da sociedade em relação à abordagem é algo simples e fácil – razão pela qual, justamente,
da loucura, enraizada no imaginário da população, as sociedades criaram todas as formas de defesa que
necessitando de práticas que possibilitem a (re) tentamos superar atualmente.
significação do trato às pessoas com transtornos Basaglia (2005) refere que o uso dos fármacos
mentais e que viabilizem saberes capazes de su- pode ter um enorme poder institucionalizante,
plantar os preconceitos e a segregação imposta a principalmente se o seu uso vem acompanhado de
esses indivíduos. um ambiente que inviabiliza trocas sociais e reforça
a perda da liberdade do indivíduo, já comprometida
Práticas em Saúde Mental pelo transtorno. O fármaco, se utilizado em um espa-
Várias foram as mudanças ocorridas ao longo des- ço que viabiliza novos contatos sociais, potencializa
ses anos na atenção às pessoas com transtornos o indivíduo para a reconstrução das suas atividades
mentais. No entanto, percebemos que há, no imagi- diárias e a reestruturação dos vínculos afetivos,
nário da sociedade, preconceitos enraizados que são podendo ser facilitador do processo libertário do
difíceis de se (des)construir, inclusive em relação às indivíduo.
práticas dos profissionais de saúde. Percebemos que Para tanto, outras práticas, que não apenas
as práticas relacionadas ao cuidado dos pacientes a biológica e medicalizante, estão inseridas nos
com transtornos mentais ainda guardam muito serviços de saúde mental em Sobral. A articulação
do manicômio, principalmente no que se refere às entre vários profissionais possibilita novas formas
práticas medicamentosas. É comum nos discursos de acompanhamento dos pacientes e engloba toda

Saúde Soc. São Paulo, v.19, n.3, p.569-583, 2010 579


uma série de intervenções psicológicas, sociais e Para Furtado e Onocko-Campos (op. cit.), garantir
familiares, visando a uma abordagem que dê conta que a reforma psiquiátrica avance para além da sim-
das diversas dimensões dos indivíduos, como obser- ples implementação de novos (e mais) serviços e da
vamos nos discursos abaixo: alocação de mais profissionais, é necessário ter um
“...desde novembro ela vem participando, com psi- quadro de profissionais imbuídos de uma postura
cólogo, assistente social, com clínico, com psiquia- profissional profundamente distinta da do modelo
tra. Eu só acompanho ela, mas às vezes quando eu anterior. Não surtirá efeito se esses novos serviços
estou muito difícil eu venho sozinha, eu venho para e os diversos profissionais mantiverem práticas
o psicólogo, acompanho, ou então venho conversar antigas, sobretudo se considerado o fato de que as
com assistente social, quando eu me sinto muito novas modalidades de atenção em saúde mental não
só em casa eu venho” (Usuário 1). se resumem a novas técnicas de tratamento, mas
constituem outra política, uma ética de inclusão.
“...aí o paciente vem pro serviço, participa de
Ideia defendida por Amarante e Torre (2001, p. 32),
grupos de orientação, a família também é muito
quando afirmam que a reforma psiquiátrica não se
importante no tratamento do paciente, porque
dá apenas com a implantação de “novos” serviços. O
o paciente depende muito do suporte familiar,
fato de serem denominados de “novos” não garante
sem o suporte familiar fica mais difícil...” (Tra-
que esses serviços sejam mediadores e operadores
balhador 4).
de novas formas de intervenção na abordagem da
“...é uma equipe multidisciplinar, cada qual tem loucura ou que sejam substitutivos ao manicômio.
sua importância no tratamento do paciente ... Somente a construção de equipes multiprofissio-
existe também as reuniões setoriais, que são só nais não é suficiente para a transformação do mode-
com os profissionais de cada unidade, e existem lo de atenção e também pode não ser suficiente para
as reuniões gerais que é com a equipe da rede modificar as práticas no campo da saúde mental. É
inteira, que é feita quinzenalmente ... do coorde- necessário que essas práticas estejam condizentes
nador geral ao pessoal da limpeza, para discutir com a transformação do modelo tradicional. Perce-
os problemas do serviço...” (Trabalhador 2). bemos que, nos serviços de saúde mental de Sobral,
Como percebemos, novos saberes e novas práticas há práticas que vislumbram a (des)construção do
são inseridos nos serviços substitutivos ao ma- modelo tradicional em saúde mental e apontam
nicômio, tais como a abordagem aos familiares, para estratégias que superam o saber/fazer antigo,
imprescindível para o acompanhamento dos casos. como observamos empiricamente nos discursos que
A possibilidade do encontro em reuniões de equipe se complementam:
com todos os trabalhadores possibilita a construção “...muitas vezes a terapeuta ocupacional me
de novas práticas, não somente em relação à orga- ajuda a fazer artes para trabalhar, faz currículo,
nização dos serviços, mas também nas discussões currículo pra mim entregar nas empresas, então
acerca do acompanhamento dos casos. isso o que me chama mais a vim no Caps que ela
Como bem destaca Furtado e Onocko-Campos tá me ajudando, eu já fiz dois cursos de informá-
(2005), a confluência de vários saberes é propiciadora tica...” (Usuário 3).
de certa relativização de poderes entre categorias
“...e através daqui eu ganhei minha casa. Eu moro
profissionais, o recente e complexo campo da saúde
na minha própria casa agora ... a assistente
mental possui limites imprecisos e indefinições – o
social que arranjou pra mim. Ela andou muito
que o torna, exatamente por isso, bastante propício às
comigo, através da, fizeram uma sessão lá na pre-
experimentações e produção de novas práticas. Não
feitura e conseguiram uma casa...” (Usuário 8).
por acaso, a saúde mental vem sendo um espaço, por
excelência, para o desenvolvimento de novas formas “...conquistas de moradia naqueles programas
de cuidado, novas formas de colaboração interprofis- da prefeitura de habitação então a relação do
sional e, sobretudo, geradora de novos modelos de serviço social do Caps com o serviço social de
atenção e, consequentemente, novas práticas. outras instâncias tem surtido um efeito bom

580 Saúde Soc. São Paulo, v.19, n.3, p.569-583, 2010


a relação do serviço social com fórum, com o tradicional psiquiátrico, como a ênfase na medi-
INSS...” (Trabalhador 6). cação, percebemos novas ações que promovem a
Como percebemos nos discursos, há uma tentativa construção de novos saberes e de novas práticas
de se inserir novas práticas no campo da saúde que (des)constroem o modelo antigo. A abordagem
mental. A inserção social também passa a ser uma familiar de forma grupal, as reuniões de equipe com
preocupação da atenção à saúde mental. As inter- a presença de todos os trabalhadores e a articulação
venções deixam de se limitar ao aspecto biológico e dos serviços de saúde mental com outros setores so-
abrangem dimensões dos indivíduos outrora negli- ciais, com o objetivo de reinserir socialmente os indi-
genciados. Amarante e Torre (2001) defendem a ideia víduos, apontam para uma abordagem mais ampla e
de que os serviços de saúde mental devem promover integrada, assim como promovem a (des)construção
rupturas quanto à noção de doença mental, construí- do louco como alguém que precisa ser isolado, cura-
da pelo modelo psiquiátrico clássico como patologia do e incapaz de gerir sua vida.
que tem de ser curada, e partir para uma perspectiva
de (re)inserção social dessas pessoas, como sujeitos Considerações Finais
do seu processo, como capazes de fazer parte e de
A atenção à saúde mental em Sobral tem possibilita-
estar empoderadas e não simplesmente à margem,
do a (des)construção do modelo manicomial através
tuteladas sob posturas medicalizantes e psicologi-
da implantação de serviços e ações que abarquem
zantes que só as cronificam.
as diversas demandas dos usuários nos diversos
Como enfatiza Guljor e Vidal (2006), para que
níveis de complexidade do sistema de saúde, assim
ocorra a ruptura do modelo assistencial tradicional,
como promove a (des)construção na sociedade do
faz-se necessário o deslocamento do paciente com-
estigma e do preconceito em relação às pessoas com
preendido como um conjunto de sinais e sintomas
transtornos mentais.
psicopatológicos para a conquista de espaços sociais
A nova forma de organização dos serviços,
que possibilitem a construção da sua autonomia e
perpassando os diversos níveis de complexidade
da sua cidadania, avançando para uma abordagem
do sistema de saúde, possibilita uma articulação
mais ampla que inclua o resgate dos direitos básicos,
maior dos serviços entre si e desses serviços com os
tais como ter um nome, documentos, residência e
demais serviços de saúde, assim como com os diver-
emprego.
sos setores da sociedade. Essa articulação de forma
Campos (2000) entende que as demandas são
horizontalizada viabiliza a assistência de maneira
também manifestações concretas das necessidades
mais integrada aos seus usuários, articulando os
sociais construídas pelo embate social e histórico,
cuidados aos usuários com uma gama de possibili-
não são apenas demandas por medicação ou aten-
dades no seu território e nos demais equipamentos
dimentos. Os serviços precisam criar novas formas
sociais, contribuindo para a (des)construção da se-
de saber/fazer que desconstruam o caráter técnico
gregação e do confinamento das pessoas portadoras
e individualista da clínica tradicional, que restringe
de transtornos mentais.
a ação no campo da saúde coletiva. Nesse sentido,
Onocko-Campos (2001) comunga com o fato de que
a doença não ocupa todo o lugar do sujeito, não o Referências
desloca totalmente de todo o cenário social no qual ACIOLI, S. Os sentidos das práticas voltadas para
está inserido. Ele sempre é um sujeito multifaceta- a saúde e doença: maneiras de fazer de grupos
do e não restrito apenas aos aspectos biológicos, da sociedade civil. In: PINHEIRO, R.; MATTOS,
ele também tem em sua integridade um ser social, A. R. Os sentidos da integralidade na atenção e
histórico e subjetivo, que demanda outras necessi- no cuidado à saúde. Rio de Janeiro: UERJ, IMS:
dades e necessita ser abordado nas suas diversas Abrasco, 2001. p. 157-166.
dimensões.
Embora percebamos ações nos serviços de AMARANTE, P. (Coord.). Loucos pela vida: a
saúde mental que ainda estão pautadas no modelo trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio
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Rio de Janeiro: CEPESC, 2007. p. 225-238.

Recebido em: 17/12/2008


Reapresentado em: 04/01/2010
Aprovado em: 02/02/2010

Saúde Soc. São Paulo, v.19, n.3, p.569-583, 2010 583

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