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MEYERHOLD e BRECHT
O que inspirou tanto a poética de MEYERHOLD quanto a de BRECHT ?
Ambas se inspiraram em formas tradicionais do teatro oriental.
Durante séculos as tradições teatrais do OCIDENTE e do ORIENTE seguiram
caminhos separados e completamente diferentes.
No Ocidente, desde a Grécia, o Teatro caminhou (com algumas exceções)
no sentido de uma crescente mímese da realidade, até chegar ao
realismo/naturalismo.
No Oriente, o Teatro tomou um outro caminho: o da convenção total, de uma
linguagem altamente codificada.
Por exemplo: na Índia, na China e no Japão.
Na passagem do século XIX para o século XX, surgiu no Ocidente uma certa
insatisfação com o realismo/naturalismo. Isso coincidiu com as viagens
internacionais dos artistas e dos grupos, criando oportunidades de conhecer o
que outro lado fazia. Então o teatro oriental passou a ser visto como um
exemplo para os que queriam um caminho não-realista.
A POÉTICA DE ARTAUD :
O TEATRO DA CRUELDADE – O ATOR VISCERAL
Antonin Artaud
Aos 18 anos (em 1914) teve suas primeiras estadias em sanatórios para
doentes mentais.
Um artista com talento para atuar em diferentes áreas:
- poesia;
- teatro (como ator, diretor, dramaturgo, teórico);
- cinema (como ator e roteirista).
Em 1923, publica seu primeiro livro de poemas Tric trac du ciel.
Em 1926, Artaud funda o Teatro Alfred Jarry com Roger Vitrac e Robert Aron.
Em 1926, rompe com os artistas do Surrealismo, quando o movimento aderiu
ao marxismo e ao Partido Comunista.
ARTAUD NO CINEMA
Suas principais participações no cinema foram em:
- NAPOLEÃO, de Abel Gance (1925)
- O MARTÍRIO DE JOANA D’ARC (como o monge apaixonado por Joana
D’Arc, 1928).
Procura, enfim, levar para o teatro o caráter redentor das experiências místicas,
principalmente as carregadas de fisicalidade ritualística, geralmente
pertencentes a culturas não atreladas à "civilidade" europeia (como a cultura
indígena que Artaud conheceu em visita ao México, em 1936).
Entre os elementos teatrais mais combatidos por Artaud estão:
- a visão do teatro como entretenimento;
- a caracterização psicológica dos personagens;
- a valorização exagerada do enredo;
- o predomínio da dramaturgia em relação à encenação.
O termo "crueldade" se refere aos meios pelos quais o teatro pode abalar as
certezas sobre as quais está assentado o mundo ocidental - a começar pela
própria linguagem.
Artaud:
“O teatro é igual à peste porque, como ela, é a
manifestação, a exteriorização de um fundo de crueldade
latente através do qual se localizam num indivíduo ou numa
população todas as maldosas possibilidades da alma.”
Em seu livro O Teatro e Seu Duplo, Artaud reafirma seu descontentamento
com o teatro europeu, denunciando a perda do caráter primitivo do teatro como
cerimônia.
Ao mesmo tempo, avalia o teatro oriental como original, ressaltando que esse
manteve seu aspecto cultural milenar, constituído por temas religiosos e
místicos, que não busca a explicação e a psicologia, como no teatro ocidental.
Artaud passou os últimos dez anos de sua vida internado em hospitais
psiquiátricos.
O primeiro foi o sanatório Le Havre-Rodez, onde passou nove anos e escreveu
as Cartas de Rodez. Nessas cartas, Artaud pedia ao médico que parasse de
lhe aplicar eletrochoques.
Foi em Rodez que Artaud escreveu os textos que vieram, em 1945, a compor o
livro Viagem ao País dos Tarahumaras.
Em 4 de março de 1948, Artaud foi encontrado morto no seu quarto, no
Hospício de Ivry.
UM PROFETA DO TEATRO
Hoje Artaud é reconhecido como um profeta do teatro – antecipou práticas que
ainda estavam por vir. Mas, esse reconhecimento só veio após a sua morte.
O conjunto de ideias teatrais propostas pelo ator, diretor, poeta e teórico
francês Antonin Artaud foi posteriormente reinterpretado e colocado em prática
por diversos grupos e diretores ao redor do mundo, especialmente a partir da
década de 1960.
Teatro Oficina
- 1967, O Rei da Vela - espetáculo que, carregado da força poética de Oswald
de Andrade, retratava de forma ácida e grotesca a elite brasileira;
- 1968 – essa agressividade torna-se ainda mais explícita em Roda Viva , peça
montada fora do Oficina, mas dirigida por José Celso Martinez Corrêa, que
acrescentava à agressão - verbal e até física - a reconfiguração do espaço
cênico e dos limites entre palco e plateia;
- 1969 - radicalização autodestrutiva de Na Selva das Cidades .
Nos anos seguintes, torna-se ainda mais intensa a assimilação do Teatro da
Crueldade por parte do Oficina, seja na convivência com o Living Theatre,
durante sua estada no Brasil, seja na viagem do Oficina pelo país durante a
preparação de Gracias, Señor; que faz temporada em 1972 no Rio de Janeiro e
em São Paulo.
Com produção de Ruth Escobar são dignas de nota as encenações do diretor
argentino Victor García (1934 - 1982) para Cemitério de Automóveis (1968)
e O Balcão (1969), espetáculos que retomam, em seu experimentalismo, ideias
de Artaud.
A partir da década de 1970, alguns dos preceitos do Teatro da Crueldade,
adaptados às novas conjunturas, figuram entre as grandes referências dos
artistas teatrais.