You are on page 1of 15

PRODUÇÃO E ABASTECIMENTO

ALIMENTAR NA AMAZÔNIA: EVOLUÇÃO


RECENTE E PERSPECTIVAS
PARA O ANO 2000

José Marcelino Monteiro da Costa "

1 — Introdução
o p r e s e n t e e n s a i o c o n s t i t u i u m a s í n t e s e d o d i a g n ó s t i c o preliminar s o b r e a si-
t u a ç ã o atual e as perspectivas p a r a a p r ó x i m a d é c a d a da p r o d u ç ã o e a b a s t e c i m e n t o
a l i m e n t a r n a A m a z ô n i a (Costa et alii, 1 9 8 8 ) , ' c o m o p a r t e integrante de pesquisa
mais a m p l a sobre o Brasil. O d i a g n ó s t i c o foi desenvolvido n o p e r í o d o de s e t e m b r o
de 1 9 8 7 a j a n e i r o de 1 9 8 8 p o r u m a e q u i p e interdisciplinar.^
F o i analisado o p e r í o d o de 1 9 7 0 a 198.5, e as projeções de d e m a n d a e oferta
f o r a m realizadas p a r a os anos de 1 9 9 0 , 1 9 9 5 e 2 0 0 0 .
A d o t o u - s e c o m o m a r c o t e ó r i c o de referência o m o d e l o de n a t u r e z a c o n c e i t u a i
p r o p o s t o p o r H o m e m de Melo ( M e l o , 1 9 8 8 ) — " m o d e l o de e c o n o m i a agrícola semi-
-aberta ao e x t e r i o r " — para pesquisa a nível mais agregado sobre o Brasil, p o r é m
a d e q u a n d o - o à análise d o regional.
D u a s razões r e s p a l d a r a m a necessidade desse a j u s t a m e n t o , p o s t o regularem e
c a d e n c i a r e m o r i t m o da d i n â m i c a das m a c r o r r e g i õ e s :
- as e c o n o m i a s regionais s ã o , na essência, sxibsistemas a b e r t o s , m a n t e n d o - s e ,
p e r m a n e n t e m e n t e , inter-relacionadas p o r articulações m ú l t i p l a s , abrangen-

Professor Adjunto do Departamento de Economia Geral da Universidade Federal do Pa-


rá (UFPa).
A parte amazônica contemplada pela pesquisa foi a Amazônia "clássica" ou Região Norte,
que abrange os Estados do Pará, Amazonas, Rondônia e Acre e os Territórios Federais de
Roraima e Amapá.
O trabalho foi coordenado pelo autor deste texto O Economista e Agrônomo David Fer-
reira Carvalho, Professor da UFPa, responsabilizou-se pelas análises de oferta, demanda e
balanço das necessidades futuras (alternativas 1 a IV). A Administradora Maria Amélia Que-
ralt, Assessora Técnica do IDESP, desenvolveu as partes concernentes à infra-estrutura de
transporte, armazenamento, comercialização e crédito rural. O Demógrafo Manoel Pinto da
Silva Jr., Professor da UFPa, ficou encarregado da formulação das hipóteses demográficas.
Finalmente, o tratamento computadorizado dos dados ficou a cargo do analista de sistemas.
Economista Diógenes Lemos Carneiro.
F£E-CEDOC

tllN.IOTECA

d o v í n c u l o s , fluxos, canais de p r o p a g a ç ã o e v a z a m e n t o s de várias n a t u r e -


zas, direções e i n t e n s i d a d e s ;
- e x i s t e , c o m o p a r â m e t r o , u m a divisão inter-regional d o t r a b a l h o i m p o s t a ,
c o n c o m i t a n t e m e n t e , pelos r e b a t i m e n t o s espaciais da lógica o u racionalida-
de d o m i n a n t e d o p r o c e s s o h i s t ó r i c o d o d e s e n v o l v i m e n t o c a p i t a h s t a brasi-
leiro e pelas características e c o n d i c i o n a n t e s específicos de cada região.

2 — Caracterização da Região
R a r e f a ç ã o demográfica, escassez d e c a p i t a l e t e c n o l o g i a , carência de capacida-
de gerencial e débil p o d e r p o l í t i c o , vis-à-vis à farta e diversificada base de recursos na-
t u r a i s — real e p o t e n c i a l —, tipificam a A m a z ô n i a c o m o u m a região periférica ativa.
A r r a n c a d a , a p a r t i r da d é c a d a de 6 0 , d o m a r a s m o e m q u e se e n c o n t r a v a desde
a d e c a d ê n c i a d o ciclo da b o r r a c h a , a e c o n o m i a a m a z ô n i c a v e m p a s s a n d o p o r profun-
das m e t a m o r f o s e s e m sua e s t r u t u r a p r o d u t i v a e p o r u m a i n t e n s a reorganização de
seu e s p a ç o e c o n ô m i c o funcional intra-regional, e m f u n ç ã o d o p r o c e s s o , a i n d a e m
p l e n o c u r s o , de a b e r t u r a efetiva i n t e g r a ç ã o à e c o n o m i a n a c i o n a l .
Os i n s t r u m e n t o s decisivos à c o n s e c u ç ã o dessas t r a n s f o r m a ç õ e s t ê m sido as
g r a n d e s i n t e r v e n ç õ e s gvj ' e r n a m e n t a i s de c u n h o nacional-setorial: o ciclo d o s mega-
p r o j e t o s c o n c e b i d o n a d é c a d a de 7 0 , m o r m e n t e n o b o j o d o 1 1 P N D , e os investimen-
t o s infra-estruturais de i m p a c t o .
A s atividades p r o d u t i v a s v o h a d a s à e x p o r t a ç ã o de matérias-primas e i n s u m o s ,
t a n t o p a r a o m e r c a d o n a c i o n a l q u a n t o p a r a o E x t e r i o r , f o r a m , p o r c o n s e g u i n t e , pri-
vilegiadas. Os interesses regionais f o r a m o h i n p i c a m e n t e d e s c o n s i d e r a d o s , ficando
os b e n e f í c i o s a s e r e m i n t r a - r e g i o n a h n e n t e i n t e m a h z a d o s p o r o b r a e graça d o even-
t u a l t r a n s b o r d a m e n t o e s p o n t â n e o d o s efeitos positivos p o r v e n t u r a e n g e n d r a d o s .
A p o l í t i c a de i n c e n t i v o s fiscais, p o r sua vez, c o n t e m p l o u , p r e f e r e n c i a l m e n t e ,
a p e c u á r i a de e x p o r t a ç ã o , à e x c e ç ã o d o c o n j u n t o de i n d ú s t r i a s " m a q u i a d o r a s " , im-
p l a n t a d o n a Z o n a F r a n c a de M a n a u s , e s t i m u l a n d o a m a n u t e n ç ã o da t e r r a regalada
c o m o reserva de valor.
P o s t o t u d o isso, t o r n a r a m - s e ínfimas as p o s s i b i h d a d e s de o s e g m e n t o agrícola
regional p r o d u t o r de a h m e n t o s básicos desfrutar das benesses propiciadas p e l o elen-
c o de i n s t r u m e n t o s de p o l í t i c a e c o n ô m i c a a c i o n a d o p a r a p r o m o v e r e consolidar o
p r o c e s s o d e efetiva o c u p a ç ã o d a R e g i ã o .

3 — 0 comportamento da oferta
O s p r o d u t o s c o n s i d e r a d o s p a r a a anáhse f o r a m s e l e c i o n a d o s e m f u n ç ã o da im-
p o r t â n c i a n a despesa a n u a l p o r f a m í h a , da o r i g e m e significado e c o n ô m i c o para a
R e g i ã o e da relevância n a dieta básica h a b i t u a l da p o p u l a ç ã o .
T r a b a l h o u - s e , d e s t a r t e , c o m 13 p r o d u t o s a g r o p e c u á r i o s : a r r o z , feijão, m i l h o ,
m a n d i o c a , t o m a t e , b a n a n a , c í t r i c o s , carnes b o v i n a , s u í n a e de f r a n g o , o v o s , leite e
p e s c a d o . O b v i a m e n t e , esses p r o d u t o s n ã o e s g o t a m o rol da cesta a l i m e n t a r usual-
m e n t e r e q u e r i d a p e l o u m v e r s o d o s c o n s u m i d o r e s regionais.
A o l o n g o d o p e r í o d o c o n s i d e r a d o , o c o m p o r t a m e n t o da o f e r t a regional de
p r o d u t o s a h m e n t a r e s , apesar de se haver assinalado pela i r r e g u l a r i d a d e , a p r e s e n t o u
u m a tendência definidamente ascendente.
O t o t a l da área cultivada c o m os sete p r o d u t o s a l i m e n t a r e s de origem vegetal
s e l e c i o n a d o s ( a r r o z , feijão, m i l h o , m a n d i o c a , t o m a t e , b a n a n a e c í t r i c o s ) m a i s q u e
t r i p h c o u , v a r i a n d o de 2 9 2 , 1 3 mil h e c t a r e s ( 1 9 7 0 ) a 9 9 3 , 6 8 mil h e c t a r e s ( 1 9 8 5 ) , o
c o r r e s p o n d e n t e a u m a t a x a de c r e s c i m e n t o de 8,5% a.a.
Essa a m p h a ç ã o d a área cultivada processou-se c o n c o m i t a n t e a alterações
na p a r t i c i p a ç ã o relativa d o s p r o d u t o s . P o r e x e m p l o , a área cultivada c o m a r r o z ,
q u e r e p r e s e n t a v a 3 5 % ( 1 9 7 0 ) d a área cultivada t o t a l , c a i u , e m t e r m o s relativos, pa-
r a 2 8 , 6 % ( 1 9 8 5 ) , e a m a n d i o c a d e c r e s c e u de 3 3 , 7 % para 2 8 % . F e i j ã o , m i l h o , b a n a n a
e c í t r i c o s a u m e n t a r a m a sua p a r t i c i p a ç ã o relativa. E m t e r m o s a b s o l u t o s , e x c e t o t o -
m a t e , t o d o s os cultivares a p r e s e n t a r a m i n c r e m e n t o e m relação à área cultivada.
A e v o l u ç ã o da p r o d u ç ã o das c u l t u r a s alimentares deu-se, n o p e r í o d o 1 9 7 0 - 8 5 ,
a u m a t a x a de c r e s c i m e n t o a n u a l de 7 , 5 % . O v o l u m e t o t a l d a p r o d u ç ã o , e m 1.000
t o n e l a d a s , q u e era de 1.710,47 ( 1 9 7 0 ) , a l c a n ç o u 5 . 0 6 7 , 7 5 ( 1 9 8 5 ) .
As t a x a s de c r e s c i m e n t o p o r p r o d u t o f o r a m : arroz 9 , 6 % ; feijão 1 0 , 2 % ; m i l h o
11,84%; mandioca 9,0%; tomate 10,6%;banana 17,35%;e cítricos 9,38%.
O c r e s c i m e n t o da p r o d u ç ã o de a l i m e n t o s de o r i g e m animal foi de 9 , 1 9 % a.a. As
t a x a s d e c r e s c i m e n t o p o r p r o d u t o f o r a m d e 5,9% para a carne b o v i n a , 5,6% p a r a a car-
n e de f r a n g o , 8,5% p a r a o v o s , 1 4 , 6 % p a r a leite e 6 , 8 % p a r a p e s c a d o . T a n t o o efetivo
s u í n o q u a n t o a p r o d u ç ã o d e carne s u í n a a p r e s e n t a r a m umàperformance negativa.
Os d a d o s a seguir arrolados e v i d e n c i a m o i n c r e m e n t o a b s o l u t o q u e apresenta-
r a m as principais c u l t u r a s e m q u a n t i d a d e p r o d u z i d a .

Tabela 1

Principais c u l t u r a s e q u a n t i d a d e p r o d u z i d a n a Região N o r t e - 1970-1985


(1 OOOt)

PRODUTOS 1970 1985

Anoz 101,58 402,15


Feijão 15,11 62,44
MiUio 59,45 318,71
Mandioca 1 393,62 3 703,98
Banana 5,98 65,98
Tomate 1,36 4,82
Cítricos 133,37 510,67

F O N T E : IBGE.
D a m e s m a f o r m a , a listagem das p r o d u ç õ e s a b s o l u t a s de o r i g e m a n i m a l .

Tabela 2

P r o d u ç õ e s a b s o l u t a s d o s p r o d u t o s de o r i g e m animal n a R e g i ã o N o r t e - 1970-1985

PRODUTOS 1970 1985

Carne b o v i n a ( m i l h õ e s de cabeças) . . . . 2,24 5,3


C a m e de frango ( m i l h õ e s de b i c o s ) . . . . 7,36 16,86
Ovos ( m i l h õ e s d e d ú z i a s ) 12,04 40,99
Leite m ««íi/ra ( m i l h õ e s de litros) .... 34,13 264,4
Pescado (mil toneladas) 47,35 127,7

FONTE: IBGE.

S i m u l t a n e a m e n t e aos avanços q u a n t i t a t i v o s registrados, observou-se u m a m e -


t a m o r f o s e n a e s t r u t u r a f r o d u t i v a espacial regional.
O s E s t a d o s d o P a r á e R o n d ô n i a , principais áreas de p e n e t r a ç ã o d o i n e x o r á v e l
avanço da " f r o n t e i r a a g r í c o l a " , i n s t a u r a d o a partir d a d é c a d a de 6 0 e a c e l e r a d o
nas d é c a d a s p o s t e r i o r e s , f o r a m as u n i d a d e s federativas q u e a p r e s e n t a r a m m a i o r
dinamismo.
A área cultivada n o E s t a d o d o P a r á , s o m e n t e p a r a os p r o d u t o s q u e aqui v ê m sen-
d o o b j e t o de i n v e s t i g a ç ã o , e v o l u i u de 2 2 2 . 7 4 0 h a ( 1 9 7 0 ) p a r a 4 1 9 . 3 7 0 h a ( 1 9 8 5 ) , o u
seja, q u a s e d o b r o u ( 8 8 , 2 7 % de a m p l i a ç ã o ) . R o n d ô n i a , p o r seu t u r n o , teve u m desem-
p e n h o r e l a t i v a m e n t e espetacular, a u m e n t a n d o de 2 5 , 6 3 mil h e c t a r e s ( 1 9 7 0 ) p a r a 3 7 4 , 3
mil h e c t a r e s ( 1 9 8 5 ) a á r e a cultivada. Isso r e p r e s e n t o u u m i n c r e m e n t o de 1.460,39%.
C o m o r e s u l t a d o de t o d o esse p r o c e s s o , o Pará d e t i n h a , e m 1 9 8 5 , a p o s i ç ã o de
m a i o r p r o d u t o r regional de m a n d i o c a , c í t r i c o s , leite in natura e p e s c a d o e os m a i o -
res r e b a n h o s b o v i n o , s u í n o e avícola. R o n d ô n i a a s s u m i u o lugar de p r o d u t o r a m a z ô -
n i c o m a j o r i t á r i o de feijão, m i l h o , a r r o z e b a n a n a , e o c u p o u a segunda p o s i ç ã o q u a n -
t o aos efetivos b o v i n o e s u í n o assim c o m o n a p r o d u ç ã o de leite in natura. O A m a z o -
n a s foi o m a i o r p r o d u t o r de t o m a t e .
O c r e s c ü n e n t o regional d a p r o d u ç ã o agrícola t e m , t r a d i c i o n a l m e n t e , se con-
c r e t i z a d o pela e x p a n s ã o d a área cultivada, m a s , para alguns cultivares, a u m e n t o s de
produtividade, embora modestos, também têm ocorrido. Apresentaram melhoria
n o s r e n d i m e n t o s físicos p o r u n i d a d e de á r e a : a r r o z , m i l h o , t o m a t e e c í t r i c o s . As cul-
t u r a s d e feijão, m a n d i o c a e b a n a n a regrediram. Os níveis de p r o d u t i v i d a d e ( k g / h a )
o b t i d o s n o s anos-limite da série e s t a t í s t i c a c o n s i d e r a d a f o r a m os q u e seguem na
Tabela 3 .
Tabela 3

Níveis de p r o d u t i v i d a d e das principais c u l t u r a s d a Região N o r t e — 1 9 7 0 - 1 9 8 5

(kg/ha)

PRODUTOS 1970 1985

Arroz 991 1420


Milho 885 1 284
Feijão 824 549
Mandioca 14 135 13 3 6 9
Tomate 2 158 10 9 4 2
Cítricos 100 278 118 818
Banana 1 629 990

F O N T E : C O S T A , J o s é M a r c e h n o M. da e t ahi ( 1 9 8 8 ) . P r o d u ç ã o e a b a s t e c i m e n t o
a u m e n t a r n a a m a z ô n i a . Brasília, P N U D / C D R / I P E A .

4 — Balanço das necessidades futuras


Para as estimativas da situação atual e d a d e m a n d a futura da Região N o r t e , t o -
m o u - s e o a n o de 1 9 7 5 c o m o b a s e , devido ser o a n o de c o n c l u s ã o d a pesquisa d o
ENDEF-IBGE.
E m b o r a o u t r a s variáveis i n f l u a m n a d e t e r m i n a ç ã o da d e m a n d a futura regional,
consideraram-se a p e n a s os níveis q u a n t i t a t i v o s de c o n s u m o , c r e s c i m e n t o da p o p u -
l a ç ã o ( c a l c u l a d o pelo I B G E ) , t a x a s de c r e s c i m e n t o da r e n d a per capita, elasticida-
d e s d i s p ê n d i o - r e n d a p o r p r o d u t o para a Região N o r t e e os i m p a c t o s da u r b a n i z a -
ção crescente.
Apesar de aceitar-se o " e f e i t o g r a d u a ç ã o " de Y o t o p o u l o s ( 1 9 8 5 ) - a níveis
diferentes de r e n d a , t a n t o a c o m p o s i ç ã o da cesta básica q u a n t o as elasticidades-ren-
d a da d e m a n d a de seus c o m p o n e n t e s são a l t e r a d a s , c u l m i n a n d o c o m m u d a n ç a s n o s
p a d r õ e s a l i m e n t a r e s das classes de r e n d a m é d i a , que p o d e m dar m e n o r ênfase ao
c o n s u m o d i r e t o de alguns p r o d u t o s in natura, e m b e n e f í c i o d o c o n s u m o i n d i r e t o
desses m e s m o s p r o d u t o s t r a n s f o r m a d o s e m p r o t e í n a a n i m a l ( c a r n e s , leite e ovos) ~ ,
n ã o foi possível considerá-lo e x p l i c i t a m e n t e n a s estimativas.
Por fim, estabeleceram-se cinco cenários f u t u r o s , de c o n f o r m i d a d e c o m as
h i p ó t e s e s a d o t a d a s de c r e s c i m e n t o da r e n d a m t e r n a regional.
As alternativas de I a I V — e s t a b e l e c e n d o h m i t e s m á x i m o e m í n i m o da ta-
x a de c r e s c i m e n t o da r e n d a i n t e r n a , r e s p e c t i v a m e n t e , de 6,2% e 8,2% —, e m b o r a
n ã o sejam a p e n a s m e r a s projeções d o c o m p o r t a m e n t o p a s s a d o , d e s c a r t a r a m a hi-
p ó t e s e de prováveis m u d a n ç a s na e s t r u t u r a e c o n ô m i c a regional d e c o r r e n t e s d a in-
gerência de c o n d i c i o n a n t e s e x ó g e n o s o u de novas d e s c o b e r t a s de recursos natu-
rais e seu a p r o v e i t a m e n t o e c o n ô m i c o i m e d i a t o .
D a d o , pois, o caráter c o n s e r v a d o r das alternativas de 1 a I V , p r o c u r o u - s e
delinear u m c e n á r i o mais a r r o j a d o , p o r é m , p a r a d o x a l m e n t e , mais c o n s e n t â n e o c o m
a d i n â m i c a vigente na e c o n o m i a a m a z ô n i c a , respaldando-se e m três t r a b a l h o s a t u a i s
( C o s t a , 1 9 8 7 , 1 9 8 7 a , 1 9 8 8 ) e c o n t e m p l a n d o as t r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s e e m p l e n o
c u r s o p o r q u e v e m p a s s a n d o a e s t r u t u r a p r o d u t i v a regional.
A alternativa V, a l é m d o m a i s , a d m i t i u p a r a a e c o n o m i a n a c i o n a l o c e n á r i o
d e m a n u t e n ç ã o d o status quo, p r e s s u p o n d o u m a e s t a b i h d a d e i n t e r n a c i o n a l , de c o n -
f o r m i d a d e c o m o m o d e l o de consistência m a c r o e c o n ô m i c a desenvolvido p o r F r i t s c h
eModiano(1987).
O cenário c o m p a t í v e l c o m a a l t e m a t i v a V peculiarizar-se-á pela m a n u t e n ç ã o
de t a x a s r e l a t i v a m e n t e altas de c r e s c i m e n t o e c o n ô m i c o n o s p r ó x i m o s a n o s . Elas d e -
c o r r e r ã o da e n t r a d a e m f u n c i o n a m e n t o p l e n o , de f o r m a i n i n t e r r u p t a , dos vários
g r a n d e s p r o j e t o s e m i m p l a n t a ç ã o e da i n s t a l a ç ã o de alguns p r o j e t o s deles d e r i v a d o s ,
e m f u n ç ã o d o s linkages p o t e n c i a i s . As t a x a s elevadas r e s u l t a r i a m , a i n d a , da c o n s o l i -
d a ç ã o de o u t r o s p r o j e t o s de m e n o r p o r t e - agroindustriais e a g r o p e c u á r i o s - o u
v i n c u l a d o s a o u t r a s atividades e x p o r t a d o r a s p o t e n c i a l m e n t e factíveis e d i n â m i c a s ,
d e c o r r e n t e s das e x t e m a l i d a d e s criadas p e l o a t u a l ciclo de grandes p r o j e t o s . N ã o se
d e s c a r t a , f i n a l m e n t e , a a m p l i a ç ã o da c a p a c i d a d e p r o d u t i v a r e s p a l d a d a e m atividades
v o l t a d a s p a r a o m e r c a d o regional, face a o " e f e i t o lateral da d e m a n d a " , o u o i n í c i o
de u m n o v o ciclo de m e g a p r o j e t o s , haja vista a d i s p o n i b i h d a d e de recursos n a t u r a i s .
Et pour cause, o p t o u - s e pela t a x a de c r e s c i m e n t o e c o n ô m i c o de 1 2 % , u m p o u -
co inferior à t a x a h i s t ó r i c a o b s e r v a d a n a d é c a d a de 7 0 .
N o q u e tange às necessidades a l i m e n t a r e s f u t u r a s da Região N o r t e , as e s t i m a t i -
vas baseadas n a s h i p ó t e s e s da a l t e r n a t i v a V i n d i c a m , p a r a o final da p r ó x i m a d é c a d a ,
a o c o r r ê n c i a de deficits n o s u p r i m e n t o intra-regional de t o m a t e , b a n a n a , carnes b o -
vina, s u í n a e de f r a n g o , o v o s , m i l h o p a r a c o n s u m o i n d i r e t o o u animal e p e s c a d o .
A r r o z , feijão, m i l h o p a r a c o n s u m o d i r e t o o u h u m a n o , m a n d i o c a , c í t r i c o s e
leite in natura c o n s t i t u e m , p r o v a v e l m e n t e , o c o n j u n t o de p r o d u t o s a h m e n t a r e s p a r a
os quais e x i s t e m p o s s i b i h d a d e s de e x c e d e n t e s de o f e r t a .
A s carências futuras n o a b a s t e c i m e n t o a l i m e n t a r d a R e g i ã o N o r t e n ã o se res-
tringirão a o s p r o d u t o s m e n c i o n a d o s . D e v e r ã o , s e g u n d o as projeções e l a b o r a d a s , c o n -
t i n u a r s e n d o s u p r i d a s e x t r a - r e g i o n a l m e n t e as d e m a n d a s , e n t r e o u t r a s m e r c a d o r i a s ,
de leite e m p ó , m i l h o p a r a c o n s u m o a n i m a l , t r i g o e d e r i v a d o s , batata-uiglesa, c a f é ,
l a c t i c ú i i o s e m geral, a ç ú c a r , e t c .

5 ~ Instrumentos de apoio à produção


e ao abastecimento
o b i n ô m i o p r o d u ç ã o a h m e n t a r e a b a s t e c i m e n t o c o n s i s t e , e m ú l t i m a análise,
n u m t o d o c o m p l e x o q u e a b a r c a as esferas da p r o d u ç ã o , d a d i s t r i b u i ç ã o e da c o m e r -
c i a h z a ç ã o , e n v o l v e n d o , p o i s , s i m u l t â n e a e e s p a c i a l m e n t e , inter-relações de d e p e n -
d ê n c i a a b r a n g e n d o u m a g a m a de a t i v i d a d e s e c o n ô m i c a s e categorias de p o l í t i c a e c o -
n ô m i c a de p r o d u ç ã o , eficiência e p r o d u t i v i d a d e .
Esse sistema de a r t i c u l a ç õ e s , e n q u a n t o e s t r u t u r a i n s t i t u c i o n a l c o m a n d a d a p o r
ó r g ã o s federais e e s t a d u a i s q u e a t u a m n a definição e i m p l e m e n t a ç ã o de p o l í t i c a s
a g r o p e c u á r i a s , n ã o vem o f e r e c e n d o a p o i o suficiente e a d e q u a d o ao e s t í m u l o da p r o -
d u ç ã o e d o a b a s t e c i m e n t o de a l i m e n t o s n a Região N o r t e .

5.1 — Infra-estrutura de transporte


o perfil geral da r e d e de t r a n s p o r t e , e n q u a n t o fluxo de m e r c a d o r i a s e escoa-
m e n t o da p r o d u ç ã o , m o s t r a , a t u a l m e n t e , u m a crescente a m p l i a ç ã o d o u s o d o siste-
m a viário e u m a c o n c o m i t a n t e relativa e s t a g n a ç ã o e a b a n d o n o da navegação fluvial
para o transporte interiorano.
A m a l h a rodoviária básica, c o n s t i t u í d a de vias arteriais e c o l e t o r a s q u e corres-
p o n d e m , grosso modo, ás estradas federais e e s t a d u a i s , apresenta c o n d i ç õ e s razoá-
veis d e tráfego e acesso aos principais c e n t r o s d a Região d u r a n t e o a n o t o d o . O mes-
m o n ã o a c o n t e c e c o m a r e d e local o u estradas m u n i c i p a i s , devido ao precário e s t a d o
de c o n s e r v a ç ã o das m e s m a s , q u e i m p o s s i b i h t a o fluxo n o r m a l i n t r a m u n i c i p a l e o
acesso p e r m a n e n t e à r e d e básica, p r m c i p a l m e n t e d u r a n t e o p e r í o d o c h u v o s o . Essa
deficiência, c o m u m a t o d o t e r r i t ó r i o a m a z ô n i c o , acarreta sérias c o n s e q ü ê n c i a s p a r a
o e s c o a m e n t o d a p r o d u ç ã o , s o b r e t u d o a de o r i g e m agrícola, e d e c o r r e , e m geral,
da i n c a p a c i d a d e financeira da m a i o r i a das prefeituras m u n i c i p a i s p a r a prover u m a
c o n s e r v a ç ã o a d e q u a d a d o s u b s i s t e m a de rodovias vicinais.
N o q u e tange à n a v e g a ç ã o fluvial, a bacia a m a z ô n i c a vem c o n v i v e n d o c o m
b a i x o s í n d i c e s o p e r a c i o n a i s , apesar de d e t e r a m a i o r frota n a c i o n a l i n t e r i o r a n a . Is-
so origina-se da a m p l i a ç ã o d o v o l u m e d o t r a n s p o r t e hidroviário de cargas a n í v e l
e x t r a - r e g i o n a l , p o r u m l a d o , e, p o r o u t r o , d e p r o b l e m a s d e g e r e n c i a m e n t o , tais
c o m o elevada o c i o s i d a d e da frota, precária m a n u t e n ç ã o das m á q u i n a s e equipa-
m e n t o s , c o n s u m o elevado de c o m b u s t í v e l , e t c . ( A n u . E s t a t . P o r t . , 1 9 8 4 ) . Eqüivale a
dizer q u e " ( . . .) se t r a n s p o r t a m e n o s n a A m a z ô n i a , m a s a m a i o r d i s t â n c i a " (Naza-
ré, 1 9 8 6 , p . l l 8 ) .

5.2 ~ Armazenamento

A infra-estrutura d e a r m a z e n a m e n t o n a A m a z ô n i a é deficitária, o p e r a e m con-


dições provisórias e encontra-se e s p a c i a l m e n t e m a l d i s t r i b u í d a .
A m o d a h d a d e p r e d o m i n a n t e * d e e s t o c a g e m de grãos é o galpão a b e r t o . Trata-
-se de c o n s t r u ç ã o r u d i m e n t a r , de p e q u e n a d i m e n s ã o e sem e q u i p a m e n t o s . Os arma-
zéns c o n s t r u í d o s especificamente p a r a a g u a r d a e conservação de p r o d u t o s agríco-
las são p o u c o f r e q ü e n t e s n a R e g i ã o .
A c a p a c i d a d e e s t á t i c a de a r m a z e n a g e m o u escala de o p e r a ç ã o é u m dos gran-
des e n t r a v e s d o sistema regional de a r m a z e n a m e n t o , devido à l o c a h z a ç ã o espacial
d e s e q u i l i b r a d a das u n i d a d e s d i s p o n í v e i s , à instabilidade, sazonalidade e dispersão
q u e c a r a c t e r i z a m a atividade agrícola, c o m o t a m b é m a o b a i x o í n d i c e de aproveita-
m e n t o das facilidades de e s t o c a g e m e x i s t e n t e .
O u t r a dificuldade é a m i n g u a d a oferta de e s t o c a g e m oficial, q u e se r e d u z à
o p e r a ç ã o da C o m p a n h i a Brasileira de A r m a z e n a m e n t o ( C I B R A Z E M ) , além de ine-
x i s t i r e m n a A m a z ô n i a redes estaduais de a r m a z é n s p ú b h c o s . Isso afeta a comerciaU-
z a ç ã o de a U m e n t o s agrícolas básicos p r o d u z i d o s , p r e p o n d e r a n t e m e n t e , p o r p e q u e -
n o s p r o d u t o r e s , q u e n ã o d i s p õ e m de u n i d a d e s próprias p a r a a g u a r d a de suas safras,
e incentiva a a ç ã o d o s i n t e r m e d i á r i o s q u e p o s s u e m m e l h o r e s c o n d i ç õ e s de acesso à
r e d e de a r m a z e n a m e n t o p r i v a d a .

5.3 — Abastedmento e comercialização

N ã o há u m a poh'tica de e s t o q u e s reguladores na R e g i ã o . C o n s e q ü e n t e m e n t e ,
i n e x i s t e m p r o g r a m a s oficiais de a b a s t e c i m e n t o .
O a b a s t e c i m e n t o a h m e n t a r dos grandes c e n t r o s d a A m a z ô n i a d e p e n d e , pri-
m o r d i a l m e n t e , da iniciativa privada e de p r o d u t o s originários de o u t r a s regiões:
- os s u p e r m e r c a d o s são responsáveis p o r , a p r o x i m a d a m e n t e , 7 0 % da dis-
t r i b u i ç ã o de a h m e n t o s n o s principais c e n t r o s c o n s u t n i d o r e s d o N o r t e , sen-
d o q u e m a i s de 6 0 % das m e r c a d o r i a s p r o v é m d o S u d e s t e , e o r e s t a n t e , das
d e m a i s regiões ( B R . Minist. I n d u s t r . C o m . , 1 9 8 5 ) ;
- o f o r n e c i m e n t o de hortifrutigranjeiros, através das Centrais de Abasteci-
m e n t o ( C E A S A ) , revela t a m b é m altas taxas de d e p e n d ê n c i a de f o n t e s
p r o d u t o r a s extra-regionais. O P a r á , talvez o m a i o r p r o d u t o r regional des-
ses p r o d u t o s , c h e g o u a i m p o r t a r , e m 1 9 8 7 , cerca de 7 7 % d o t o t a l consu-
mido no Estado.
A c o n s e r v a ç ã o de g ê n e r o s a l i m e n t í c i o s perecíveis de o r i g e m vegetal e a n i m a l ,
q u e r e q u e r e m e s t o c a g e m a frio, o c o r r e apenas e m e s t a b e l e c i m e n t o s p r i v a d o s , p o s t o
o setor p ú b U c o quase n ã o prestar esse serviço.
A c o m e r c i a l i z a ç ã o de grãos é b a s i c a m e n t e reaUzada através d o sistema de in-
t e r m e d i a ç ã o . As v e n d a s diretas ao c o n s u m i d o r e às c o o p e r a t i v a s são canais i n e x p r e s -
sivos. Isso a c a r r e t a , p a r a o b i n ô m i o p r o d u ç ã o - c o n s u m o , u m a t o t a l d e p e n d ê n c i a de
e s t r u t u r a s de m e r c a d o especulativas.
A l é m d o m a i s , a dispersa disseminação geográfica das várias u n i d a d e s p r o d u t o -
ras de a l i m e n t o s i m p e d e , e m alguns casos, fluxos diretos e n t r e as áreas de p r o d u ç ã o
e c o n s u m o . A o c o r r ê n c i a de intermináveis fluxos d e n t r o d a p r ó p r i a R e g i ã o , d e v i d o
às grandes distâncias e ao n ú m e r o excessivo de i n t e n n e d i a ç õ e s , acaba p o r inviabiU-
zar a p r o d u ç ã o .
5.4 - Crédito rural

o d e s e m p e n h o d o c r é d i t o rural c o n s t i t u i u , s u r p r e e n d e n t e m e n t e , a grande ex-


c e ç ã o das p o l í t i c a s de a p o i o à p r o d u ç ã o e à c o m e r c i a h z a ç ã o a n a h s a d a s , p o s t o t e r
e f e t i v a m e n t e p r i o r i z a d o a agricultura a n í v e l setorial e , f u n c i o n a l m e n t e , os custeios
d a p r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s básicos, o q u e vai d e e n c o n t r o às assertivas pacificamente
aceitas e de divulgação generalizada e m t o r n o d o d e s a m p a r o e d a d i s c r i m i n a ç ã o cre-
d i t í c i a q u e a t i n g e m as c u l t u r a s de a r r o z , m i l h o , feijão e m a n d i o c a . L e v a n t a , a i n d a ,
dúvidas c o m r e l a ç ã o à "aversão a o r i s c o " q u e caracteriza a p e q u e n a p r o d u ç ã o r u r a l .

5.5 — As síndromes sobre a pequena produção rural (PPR)


A P P R é t i d a , f r e q ü e n t e m e n t e , c o m o u m f e n ô m e n o de difícil e q u a c i o n a m e n t o .
T é c n i c a s agrícolas r u d i m e n t a r e s , í n d i c e s de p r o d u t i v i d a d e d e s p r e z í v e i s , desca-
p i t a l i z a ç ã o , carências de infra-estrutura e de a p o i o d o p o d e r p ú b l i c o , m e r c a d o s espe-
culativos e p r e ç o s n ã o r e m u n e r a t i v o s , t u d o isso c o n s t i t u i o leque d o s desafios mais
m a r c a n t e s e p e r m a n e n t e s que e n f r e n t a esse s e g m e n t o s ó c i o - p r o d u t i v o . Por o u t r o
l a d o , vem-se t o r n a n d o p o n t o p a c í f i c o o r e c o n h e c i m e n t o de q u e a p r o d u ç ã o de ali-
m e n t o s básicos n a Região d e p e n d e , f u n d a m e n t a l m e n t e , da P P R .
A e v i d e n t e c o n t r a d i ç ã o e n t r e essas d u a s posições inconciháveis resulta, e m úl-
t i m a i n s t â n c i a , n a c r i s t a h z a ç ã o d e , p e l o m e n o s , d u a s s í n d r o m e s e m t o r n o da p o l ê m i -
ca i m p o r t â n c i a e c o n ô m i c a da P P R : a s í n d r o m e d a subsistência e a s í n d r o m e da
"aversão ao risco".
N p concernente à primeira, argumenta-se que o preço obtido n ã o é remunera-
tivo s a t i s f a t o r i a m e n t e e , p o r c o n s e g u m t e , n ã o é fator d e t e r m i n a n t e da p r o d u ç ã o ,
m a s à subsistência d o p r o d u t o r . A c o m e r c i a h z a ç ã o d o e x c e d e n t e é relegada a p l a n o
s e c u n d á r i o . Esse f a t o , c o n t u d o , n e m s e m p r e é c o m p r o v á v e l , e m b o r a a r e c í p r o c a pa-
r e ç a mais p l a u s í v e l , m e s m o p o r q u e o c o n s u m o n o p r ó p r i o e s t a b e l e c i m e n t o agrícola
absorve e n t r e 1 0 e 1 5 % da p r o d u ç ã o , e o e x c e d e n t e ( 8 5 % ) é c o m e r c i a l i z a d o .
N o q u e se refere à s í n d r o m e d a " a v e r s ã o a o r i s c o " , estima-se q u e a P P R n ã o
t o m e c r é d i t o s , n e m a d o t e t e c n o l o g i a s a p r o p r i a d a s p o r t e m e r endividar-se e ser aves-
sa às m u d a n ç a s . S e m e m b a r g o , o q u e se c o n s t a t a é q u e esse p r o d u t o r desafia t o d o s
os riscos, d e s d e os creditícios e de i n d i s p o m b i l i d a d e de t e c n o l o g i a s o u escassez de
assistência t é c n i c a , p a s s a n d o pelas e s p e c u l a ç õ e s d o m e r c a d o e d o s p r e ç o s m í n i m o s ,
a t é , inclusive, e n f r e n t a r a falta de s u b s í d i o s fiscais, ao c o n t r á r i o d o q u e sói benefi-
ciar o s e g m e n t o agrícola e m i n e n t e m e n t e c a p i t a h s t a .

6—Especifícidades regionais condicionantes de inibiçâo


Se as evidências c o n s t a t a d a s desmistificam certas assertivas, a ç o d a d a s o u
q u a n t i t a t i v a m e n t e m a l f u n d a m e n t a d a s , de q u e o processo de i n t e g r a ç ã o - a b e r t u r a da
A m a z ô n i a à e c o n o m i a brasileira t e m se r e v e l a d o i n t r i n s e c a m e n t e perverso n o q u e
diz r e s p e i t o à o b t e n ç ã o d e i n c r e m e n t o s a b s o l u t o s n a p r o d u ç ã o de a l i m e n t o s , é igual-
m e n t e inegável a i n c a p a c i d a d e até agora d e m o n s t r a d a d a agricultura regional e m
atender satisfatoriamente ao abastecimento alimentar.
Isso p o s t o , a f o r m a mais a d e q u a d a de desvendar o p r o b l e m a parece priorizar
a d e t e c ç ã o de c o n d i c i o n a n t e s c o n t r á r i a s a u m d e s e m p e n h o mais aceitável d o seg-
m e n t o regional de p r o d u ç ã o a l i m e n t a r — apesar d a significativa p e n e t r a ç ã o d a
" f r o n t e i r a agrícola"—vís-á-v/s à p r o p o r ç ã o r e q u e r i d a pela e v o l u ç ã o da d e m a n d a . E m -
bora extravasem o âmbito d o usuahnente acatado n o equacionamento convencional
d o f e n ô m e n o , a l u d i d o s c o n d i c i o n a n t e s e x e r c e m influências decisivas sobre ele, c o n -
s e q ü ê n c i a de u m a i m b r i c a ç ã ô causai d i r e t a , q u e , e n t r e t a n t o , sói revelar-se de f o r m a
difusa o u enleada n a r e a h d a d e c o n c r e t a . D e s t a r t e , t o m o u - s e p r e m e n t e inserir n a
análise a s p e c t o s c o n s i s t e n t e m e n t e mais a m p l o s e relevantes.
O e s c o p o q u e a q u i se c o h m o u foi o de t e n t a r delinear o c o n t o r n o de u m m a r c o
referencial de análise q u e t r a n s c e n d e s s e os h m i t e s i m p o s t o s p e l o e s t r i t a m e n t e s e t o -
rial. T r a t o u - s e , p o i s , de identificar o s c o n d i c i o n a n t e s econômico-espaciais básicos
q u e v ê m m o l d a n d o o n o v o perfil da e s t r u t u r a p r o d u t i v a regional, a o m e s m o t e m p o
e m q u e a t u a m n o s e n t i d o de inibir u m a performance mais aceitável da p r o d u ç ã o ali-
m e n t a r , e x a c e r b a n d o a s i t u a ç ã o de d e p e n d ê n c i a regional n o c o n c e m e n t e a o supri-
m e n t o de a h m e n t o s .
Nesse s e n t i d o , dois f e n ô m e n o s espaciais d e n a t u r e z a c o n t r a d i t ó r i a t ê m t i d o
lugar, pari passu e t r a n s i t o r i a m e n t e . U m c r i a n d o e r e p r o d u z i n d o o e s p a ç o e c o n ô m i -
co f u n c i e n a l à r a c i o n a h d a d e d o m i n a n t e da a c u m u l a ç ã o de capital. O u t r o recons-
t r u i n d o , r e a c o m o d a n d o , d e s a r t i c u l a n d o o u d e s t r u m d o o e s p a ç o e c o n ô m i c o anterior-
m e n t e e s t r u t u r a d o , q u a n d o e s t e , t e m p e s t i v a m e n t e , se t o r n a u m e m p e c i l h o a o desen-
v o l v i m e n t o das forças p r o d u t i v a s .
D a i n t e r a ç ã o e d o conflito e n t r e esses dois processos t e n d e u a emergir i m i a
n o v a e s t r u t u r a ç ã o espacial d a e c o n o m i a regional c a d a vez mais c o m p l e x a , mais fun-
cional a o s interesses d a e c o n o m i a n a c i o n a l .
N o caso específico da A m a z ô n i a , esse p r o c e s s o de r e o r g a n i z a ç ã o espacial d a
e c o n o m i a , a i n d a e m p l e n a vigência, i n f l u e n c i o u a d i s p o n i b i h d a d e mtra-regional d e
p r o d u t o s a h m e n t a r e s de d u a s m a n c h a s .
A o p a s s a r e m as várias e c o n o m i a s sub-regionais a vincular-se d i r e t a m e n t e c o m
a região brasileira m a i s desenvolvida, d e s m a n t e l o u - s e a t r a d i c i o n a l o r g a n i z a ç ã o p r o -
d u t i v a espacial d o N o r t e , e d i m i n u í r a m , d r a s t i c a m e n t e , os fluxos intra-regionais re-
lativos d e m e r c a d o r i a s , a t é e n t ã o p r e v a l e c e n t e s . Esse f e n ô m e n o de a t r e l a m e n t o di-
r e t o das várias subáreas a m a z ô n i c a s à e c o n o m i a da região mais d i n â m i c a d o P a í s
m d u z i u , p o r o u t r o l a d o , a a m p h a ç ã o d o m e r c a d o d o m é s t i c o m t r a - r e g i o n a l , e m fun-
ç ã o da difusão geográfica de p a d r õ e s de c o n s m n o m a i s a v a n ç a d o s , d o s i n c r e m e n t o s
p o p u l a c i o n a l , de r e n d a e da u r b a n i z a ç ã o , c o n c o m i t a n t e e p a r a d o x a l m e n t e à h q u i d a -
ç ã o de u m a série de atividades p r o d u t i v a s voltadas p a r a o m e r c a d o local, inclusive
algumas circunscritas à p r o d u ç ã o de a h m e n t o s ( e l a b o r a d o s o u n ã o ) , e c o n o m i c a m e n -
t e inviabihzadas pela escassa c a p a c i d a d e de c o m p e t i r de f o r m a eficiente c o m as m e r -
c a d o r i a s i m p o r t a d a s , b e n e f i c i a n d o , assim, o s e g m e n t o p r o d u t i v o extra-regional. A d e -
m a i s , t o d o esse p r o c e s s o de d e s a r t i c u l a ç ã o r e p e r c u t i u , t a m b é m n e g a t i v a m e n t e , so-
bre a pequena produção rural.
Caracterizando-se o p r o c e s s o de o c u p a ç ã o - i n t e g r a ç ã o da A m a z ô n i a pela via
preferencial d a c o m p l e m e n t a r i d a d e e c o n ô m i c a interespacial, estabelecida pela n o v a
divisão inter-regional d o t r a b a l h o , d a d a s as v a n t a g e n s c o m p a r a t i v a s e a b s o l u t a s , as
atividades p r o d u t i v a s privilegiadas f o r a m , o b v i a m e n t e , as v o l t a d a s p a r a o a t e n d i m e n -
t o d o s m e r c a d o s n a c i o n a l e e x t e m o . P o r c o n s e g u i n t e , proUferaram, s u b j a c e n t e m e n -
te à p e n e t r a ç ã o mais efetiva e i n u s i t a d a d o capital p r o d u t i v o , c o m e t i m e n t o s de ex-
p o r t a ç ã o de m i n é r i o s , energia, p r o d u t o s florestais e p r o d u t o s agrícolas, b e m c o m o ,
e m b o r a a i n d a m o d e s t a m e n t e , a l g u m a s das respectivas atividades ancilares e satéh-
t e s . S i m u l t a n e a m e n t e , e x p a n d i r a m - s e a agropecuária e a a g r o i n d ú s t r i a , q u e r xifopa-
g a m e n t e vinculadas a o m o v i m e n t o d a " f r o n t e i r a a g r í c o l a " - m o r m e n t e n o P a r á e
em Rondônia q u e r a c i c a t a d a s pelas o p o r t u n i d a d e s q u e se f o r a m c o n c r e t i z a n d o
p a r a a e x p o r t a ç ã o . I n c r e m e n t o s n a p r o d u ç ã o de a l i m e n t o s , e m b o r a r e l a t i v a m e n t e
parcos, foram t a m b é m observados.
P o r fim, o r e s u l t a d o l í q u i d o d a i n t e r a ç ã o d i n â m i c a desses dois f e n ô m e n o s an-
t a g ô n i c o s — u m de d e s b a r a t a m e n t o de atividades e c o n ô m i c a s t r a d i c i o n a i s ; o u t r o de
e x p r e s s ã o da c a p a c i d a d e p r o d u t i v a v o l t a d a p a r a o s u p r i m e n t o de m e r c a d o s e x t r a -
-regionais — foi o c r e s c i m e n t o , e m t e r m o s a b s o l u t o s , d a d i s p o n i b i l i d a d e regional de
p r o d u t o s a h m e n t a r e s , n ã o o b s t a n t e esse a u m e n t o a i n d a fosse insuficiente ao a t e n -
d i m e n t o p l e n o das t a m b é m crescentes necessidades locais.
À guisa de i l u s t r a ç ã o , é p e r t i n e n t e c o m p a r a r o c r e s c i m e n t o da p r o d u ç ã o ah-
m e n t a r c o m a e v o l u ç ã o de o u t r a s variáveis e c o n ô m i c o - d e m o g r á f i c a s , ressalvando,
à c a u t e l a , a s i t u a ç ã o j á deficitária n a disponibilidade intra-regional da maioria des-
ses p r o d u t o s desde o a n o e s c o l h i d o c o m o p o n t o de p a r t i d a da a n á h s e . C o n q u a n t o
as t a x a s de c r e s c i m e n t o a n u a i s , n a d é c a d a passada, das p r o d u ç õ e s de a h m e n t o s de
o r i g e m vegetal e a n i m a l h a v e r e m s i d o , r e s p e c t i v a m e n t e , 7,8.5% e 1 0 , 0 % , a t a x a de
c r e s c i m e n t o geral da e c o n o m i a regional foi de 1 3 , 8 5 % , e a t a x a de i n c r e m e n t o das
c u l t u r a s industriais ( p i m e n t a - d o - r e i n o , c a c a u , café, j u t a e malva) a l c a n ç o u 9 , 9 % . Au-
m e n t o d e m o g r á f i c o e evolução d a p o p u l a ç ã o residente u r b a n a a p r e s e n t a r a m t a x a s
de 5,02 e 6 , 4 % r e s p e c t i v a m e n t e . Essas c o n s t a t a ç õ e s c o l o c a m e m evidência o desem-
p e n h o inferior da p r o d u ç ã o regional de a l i m e n t o s de origem vegetal, t a n t o n o q u e
t a n g e à e c o n o m i a d o N o r t e c o m o u m t o d o q u a n t o n o q u e c o n c e r n e às c u l t u r a s in-
dustriais. Os i n c r e m e n t o s d o c o n t i n g e n t e p o p u l a c i o n a l e da u r b a n i z a ç ã o , p o r seu
t u r n o , i m p l i c a r a m pressões adicionais sobre a oferta a l i m e n t a r , e m q u e pese às elas-
ticidades-renda d o s a l i m e n t o s s e r e m inferiores à u n i d a d e . Para p e r í o d o mais dilata-
d o , as c o m p a r a ç õ e s ficaram prejudicadas pela i n d i s p o n i b i h d a d e de informações
q u a n t i t a t i v a s sobre os agregados m a c r o e c o n ô m i c o s a p ó s 1 9 8 0 .
C o m p l e m e n t a r m e n t e , algumas observações t o r n a m - s e p e r t i n e n t e s .
As atividades agrícolas regionais a t u a l m e n t e mais i m p o r t a n t e s , d o p o n t o de
vista da segurança de r e t o r n o s e c o n ô m i c o s , são as c u l t u r a s de e x p o r t a ç ã o ( p i m e n t a -
- d o - r e i n o , d e n d ê , u r u c u , c a c a u , p e c u á r i a , e t c ) , n ã o s o m e n t e p o r se c o a d u n a r e m ple-
n a m e n t e c o m a divisão inter-regional d o t r a b a l h o p r e v a l e c e n t e , m a s , a e x e m p l o d o
c o n s t a t a d o p o r H o m e m de Melo ( M e l o , 1 9 8 8 ) para o caso brasileiro, t a m b é m e m
d e c o r r ê n c i a d o forte d e s e q u i l í b r i o de lucratividade e de risco e n t r e essas culturas
de e x p o r t a ç ã o e as a l i m e n t a r e s d o m é s t i c a s , e m d e t r i m e n t o destas ú l t i m a s . O u t r o s
c o n d i c i o n a n t e s p r o v a v e l m e n t e t ê m e s t i m u l a d o a p r o d u ç ã o de e x p o r t a ç ã o : o c o m -
p o r t a m e n t o d o s p r e ç o s i n t e m a c i o n a i s , da t a x a de c â m b i o n o p e r í o d o ( o u p a r t e de-
le) e d o s p r e ç o s n o m e r c a d o n a c i o n a l , além d o b e n e f i c i a m e n t o relativo e m t e r m o s
d e inovações t e c n o l ó g i c a s e d o forte respaldo g o v e r n a m e n t a l n o c o n c e r n e n t e à for-
m a ç ã o de capital a t r a v é s da concessão de i n c e n t i v o s fiscais a p r o j e t o s de s u b s e t o r e s
privilegiados ( p e c u á r i a , g u a r a n á , d e n d ê , u r u c u , e t c ) . R m e n t a - d o - r e i n o , p o r causa
de pragas e d o e n ç a s , e h e v e a c u l t u r a , d e v i d o a o d e s c o n h e c i m e n t o de t e c n o l o g i a s
a p r o p r i a d a s de m a n e j o , são c o n s i d e r a d a s de a l t o risco p e l a S u p e r i n t e n d ê n c i a de De-
s e n v o l v i m e n t o d a A m a z ô n i a ( S U D A M ) e n ã o r e c e b e m a p o i o d o s i n c e n t i v o s fiscais.
Considerável p a r t e d a s atividades agrícolas de e x p o r t a ç ã o n ã o se t e m desen-
volvido nas áreas d e a b e r t u r a r e c e n t e . As áreas cultivadas c o m p i m e n t a - d o - r e m o ( o
P a r á p r a t i c a m e n t e é o ú n i c o p r o d u t o r n a c i o n a l , c o m 9 9 % de p a r t i c i p a ç ã o n a p r o d u -
ç ã o t o t a l e m 1 9 8 4 ) , u r u c u e d e n d ê ( c u l t u r a s d e i n t r o d u ç ã o r e c e n t e e c o m possibih-
d a d e s apreciáveis de d i n a m i s m o , face a o diversificado uso i n d u s t r i a l ) , p o r e x e m p l o ,
v ê m se e x p a n d i n d o n a s t e r r a s paraenses p o u c o férteis, de o c u p a ç ã o mais antiga. A
j u t a é e x p l o r a d a n a s várzeas da calha d o R i o A m a z o n a s , e a m a l v a , nas microrregiões
h o m o g ê n e a s Guajarina e B r a g a n t i n a d o E s t a d o d o Pará e n a s várzeas altas da Micror-
região H o m o g ê n e a d o M é d i o A m a z o n a s , n o E s t a d o d o A m a z o n a s ( C o s t a , 1 9 8 4 ) . J á
o cacau t e m vhigado t a m b é m n a "fronteira agrícola", m o r m e n t e e m Rondônia.

7 — À guisa de arremate
A análise d e b u x a d a a o l o n g o d o d i a g n ó s t i c o p r e h m i n a r a q u i r e s u m i d o confir-
m a , à outrance, a i l a ç ã o de q u e a A m a z ô n i a se caracteriza c o m o u m a região i m p o r -
t a d o r a de a l i m e n t o s .
F o r a m significativos os deficits d e t e c t a d o s n o s u p r i m e n t o intra-regional de
p r o d u t o s básicos a o a b a s t e c i m e n t o a h m e n t a r . M o r m e n t e d a q u e l e s q u e e x i g e m graus
d e e l a b o r a ç ã o m a i s sofisticados o u r e q u e r e m c o n d i ç õ e s edafo-ecológicas a p r o p r i a -
d a s , t a m a n h o de m e r c a d o e c o n o m i c a m e n t e viável, c o m p e t i t i v i d a d e , níveis de c a p i t a -
lização relativamente importantes, etc.
Os e x e r c í c i o s de s i m u l a ç ã o desenvolvidos t a m b é m i n d i c a r a m , n o f u t u r o , tal-
vez agravada, a p e r s i s t ê n c i a dessa s i t u a ç ã o .
E m b o r a haja p r o b a b i h d a d e d e a m p l i a ç ã o d a oferta regional de alguns p r o d u -
t o s a h m e n t a r e s b á s i c o s — h á d i s p o n i b i h d a d e de terras agricultáveis p a r a e x p a n s ã o da
á r e a cultivada e know-how para delinear p r o g r a m a s e p o l í t i c a s a d e q u a d a s —, s ã o
u t ó p i c a s q u a i s q u e r prescrições o b j e t i v a n d o a auto-suficiência a l i m e n t a r regional,
p o s t o prevalecer, e m d e r r a d e i r a i n s t â n c i a , a eficiência e c o n ô m i c a de cada região n o
q u e t a n g e à p r o d u ç ã o e s p e c i a h z a d a de u m d e t e r m i n a d o e l e n c o de p r o d u t o s — ressal-
vando-se o caso de c e r t o s a l i m e n t o s básicos estratégicos —, e m face das especificida-
des d i s t i n t a s de i n s e r ç ã o das várias m a c r o r r e g i õ e s brasileiras n o c o n t e x t o da divisão
inter-regional d o t r a b a l h o v i g e n t e . É o q u e p a r e c e m a t e s t a r as d e m a i s pesquisas re-
gionais r e a h z a d a s c o n c o m i t a n t e m e n t e a esta (Ryff, 1 9 8 8 ; Magalhães et alii, 1 9 8 8 ;
Cunha &MueUer, 1988).
D o p o n t o de vista t a n t o dos interesses da e c o n o m i a n a c i o n a l q u a n t o d o cresci-
m e n t o e c o n ô m i c o regional m a i s a c e n t u a d o , a t e n d ê n c i a que deverá prevalecer p r o s -
p e c t i v a m e n t e será, p o i s , a da c o n c e n t r a ç ã o de esforços e recursos n a v o c a ç ã o e x p o r -
t a d o r a d a A m a z ô n i a , haja vista favorecê-la os c u s t o s de o p o r t u n i d a d e .
A d e m a i s , h á t o d o u m c o m p l e x o e diversificado l e q u e de b l o q u e i o s e dificulda-
des q u e a atividade p r o d u t o r a de a h m e n t o s d o m é s t i c o s n o r m a l m e n t e e n f r e n t a , q u e ,
d e s a f o r t u n a d a m e n t e , n ã o se p o d e desatravancar c o m falácias o u soluções p r o s a i c a s ,
c o m o sói a c o n t e c e r , atribuindo-se à m e r a c o n c e s s ã o de terras c o m o p a n a c é i a , o u
a d o t a n d o a premissa trivial de q u e o p r o b l e m a deriva, f i m d a m e n t a l m e n t e , d a m a n u -
t e n ç ã o de p r e ç o s d e s e s t i m u l a n t e s ao i n c r e m e n t o da p r o d u ç ã o de a l i m e n t o s d o m é s t i -
c o s . Nesse s e n t i d o , a q u e s t ã o a b r a n g e , a l é m dos c o n d i c i o n a n t e s j á a n t e r i o r m e n t e
d e s t a c a d o s , o u t r o s fatores de i n i b i ç ã o , d e n t r e os quais assume relevância o f a t o d e
q u e " ( . . . ) as t e c n o l o g i a s desenvolvidas [são] p a r a resolver o p r o b l e m a d a p r o d u ç ã o
rural e m d e t e r m i n a d a s áreas e n ã o o d a p o b r e z a r u r a l " ( P a s t o r e , 1 9 7 7 ) .
E m s u m a e na essência, n ã o s u r p r e e n d e a c o n s t a t a ç ã o da n ã o - e x p a n s ã o , n a
p r o p o r ç ã o r e q u e r i d a , d a oferta intra-regional de p r o d u t o s a h m e n t a r e s básicos n o
p a s s a d o r e c e n t e , c o m o n ã o será a c o n t e c i m e n t o imprevisto a m a n u t e n ç ã o o u a m p h a -
ç ã o da d e p e n d ê n c i a de f o n t e s extra-regionais n o s u p r i m e n t o d o a b a s t e c i m e n t o d o
c o n s u m o de a h m e n t o s .
F a c e a o e x p o s t o , n ã o foi i n f i m d a d o o v a t i c í n i o de M e n d o n ç a de Barros (Bar-
l o s , 1 9 8 2 ) sobre a p e q u e n a i m p o r t â n c i a da " n o v a " fronteira da R e g i ã o N o r t e (in-
clusive R o n d ô n i a , q u e , s e g u n d o alguns d e p o i m e n t o s r e c e n t e s veiculados n a i m p r e n -
sa, j á c o m e ç a a a p r e s e n t a r s m t o m a s de s a t u r a ç ã o , e m b o r a isso d e m a n d e c o m p r o v a -
ç ã o ) n o p r o c e s s o , e m c u r s o , de u m a a m p l a a l t e r a ç ã o n o p a d r ã o geográfico da p r o d u -
ç ã o agrícola n a c i o n a l , c o m o Centro-Oeste a s s u m i n d o crescente i m p o r t â n c i a , asser-
ç ã o q u e e n c o n t r a r e s p a l d o e m pesquisa r e c é m - c o n c l u í d a ( C u n h a & Mueller, 1 9 8 8 ) .
T r a n s c e n d e n d o a ó r b i t a da a n á h s e d o regional, a q u e s t ã o d o a b a s t e c i m e n t o
a l i m e n t a r n o Brasil, e n q u a n t o p r o b l e m a social de n a t u r e z a e m i n e n t e m e n t e n a c i o n a l ,
s ó t e r á p r o b a b i h d a d e d e ser e q u a c i o n a d a de f o r m a a d e q u a d a através d o d e h n e a m e n -
t o e p o s t e r i o r i m p l e m e n t a ç ã o de u m a p o l í t i c a n a c i o n a l de p r o d u ç ã o e a b a s t e c i m e n -
t o n a c i o n a l de l o n g o p r a z o (Garcia e t alii, 1 9 8 6 ) , haja vista sua c o m p l e x i d a d e i n t r í n -
seca e t o d o o i n t r i c a d o e m a r a n h a d o i n s t i t u c i o n a l q u e envolve.
E m s e n d o r e m o t a s , p e l o m e n o s p o r o r a , as chances d e u m a m u d a n ç a n a ó t i c a
de t r a t a m e n t o d a q u e s t ã o a h m e n t a r n o Brasil, aventa-se, à guisa de a r r e m a t e , arros-
t a n d o o risco de p a r e c e r p a r a d o x a l o u até m e s m o e x t r a v a g a n t e , q u e , n o caso espe-
cífico da A m a z ô n i a , s o m e n t e o d e s e n v o l v i m e n t o i n i n t e r r u p t o das forças p r o d u t i v a s
p o d e s e d i m e n t a r a base das c o n d i ç õ e s objetivas à s u p e r a ç ã o dos óbices m f r a - e s t r u t u -
rais, d o s e n t r a v e s m s t i t u c i o n a i s , a l é m das restrições de n a t u r e z a e s t r u t u r a l , c o m o ,
p o r e x e m p l o , n o caso da p r o d u ç ã o agrícola, as colocadas pela q u e s t ã o fundiária, cul-
m i n a n d o c o m d e s e m p e n h o mais p r o m i s s o r d o s e g m e n t o e s p e c i a h z a d o n a p r o d u ç ã o
de a l i m e n t o s , c o n d i ç ã o sine qua non à c o n s e c u ç ã o da distribuição interpessoal rela-
tiva da r e n d a real m e n o s assimétrica, b e n e f i c i a n d o , d e s t a r t e , os e s t r a t o s m e n o s favo-
recidos, q u e , segundo levantamento d o ENDEF-IBGE, despendem com alimentos
d e 4 3 a 6 3 % da despesa familiar t o t a l .

Bibliografia
ANUÁRIO ESTATÍSTICO PORTUÁRIO (1984). Brasília, Ministério d o s T r a n s -
portes/SUNAMAN.
B A R R O S , J . R . M e n d o n ç a de ( 1 9 8 2 ) . P o l í t i c a e d e s e n v o l v i m e n t o agrícola n o Bra-
sil. I n : E N C O N T R O N A C I O N A L D E E C O N O M I A , 1 0 . , Á g u a s de São P e d r o .
A n a i s . . . São P a u l o , A N P E C .
BRASIL. Ministério d a I n d ú s t r i a e C o m é r c i o ( 1 9 8 5 ) . C o m e r c i a l i z a ç ã o d e a l i m e n -
t o s n a R e g i ã o N o r t e : 1 9 8 5 . Brasília.
C O S T A , J o s é M a r c e l i n o M . d a ( 1 9 8 4 ) . Efeitos de r e t r o c e s s o e p r o p u l s ã o : o caso d o
c o m p l e x o a g r o i n d u s t r i a l de fibras vegetais d a a m a z ô n i a . I n : E N C O N T R O N A -
CIONAL D E ECONOMIA, 12., São Paulo. A n a i s . . . São Paulo, ANPEC.

(1987). Cenários m a c r o e c o n ô m i c o s f u t u r o s d o E s t a d o d o P a r á . B e l é m , Gover-


n o d o Estado/Equipe de Planejamento.
- ( 1 9 8 7 a ) . E c o n o m i a p a r a e n s e : t r a n s f o r m a ç õ e s r e c e n t e s e cenários f u t u r o s . Diá-
rio d o P a r á , B e l é m , 2 9 a g o . p . 1 - 7 , c a d . 2 .
— ( 1 9 8 8 ) . Cenários e c o n ô m i c o s p a r a a a m a z ô n i a o r i e n t a l . São P a u l o , C N E C .

C O S T A , J o s é Marcelino M . da et alii ( 1 9 8 8 ) . P r o d u ç ã o e a b a s t e c i m e n t o a l i m e n t a r
n a a m a z ô n i a . Brasília, P N U D / C D R / I P E A .
C U N H A , A é r c i o S. & M U E L L E R , Charles C. ( 1 9 8 8 ) . O C e n t r o - O e s t e e a q u e s t ã o
d o a b a s t e c i m e n t o a l i m e n t a r n o Brasil. Brasília, P N U D / C D R / I P E A .

F R I T S C H , W i n s t o n & M O D I A N O , E d u a r d o ( 1 9 8 7 ) . A restrição e x t e m a a o cresci-


m e n t o e c o n ô m i c o b r a s i l e i r o : u m a perspectiva d e l o n g o p r a z o . R i o d e J a n e i r o ,
PUC/RJ.
G A R C I A , R . C. et ahi ( 1 9 8 6 ) . Segurança a h m e n t a r : u m a p o l í t i c a c o n t r a a f o m e .
Conjuntura Alimentos, São Paulo, mar.
M A G A L H Ã E S , A n t ô n i o R o c h a et ahi ( 1 9 8 8 ) . A b a s t e c i m e n t o e crise a l i m e n t a r n o
Nordeste. Fortaleza, PNDU/SEPLAN/CE/UFC.
M E L O , F e r n a n d o H o m e m de ( 1 9 8 8 ) . U m d i a g n ó s t i c o s o b r e p r o d u ç ã o e abasteci-
m e n t o a l i m e n t a r n o Brasil. Brasília, P N D U / C D R / I P E A .

N A Z A R É , R a m i r o ( 1 9 8 6 ) . A a m a z ô n i a e suas hidrovias. B e l é m , s.ed.


P A S T O R E , José (1977). A g r i c u l t u r a de subsistência e o p ç õ e s t e c n o l ó g i c a s . Estu-
dos Econômicos, São Paulo, IPE, 7(33):9-18.
R Y F F , T i t o ( 1 9 8 8 ) : P r o d u ç ã o e a b a s t e c i m e n t o a l i m e n t a r n o Brasil; u m diagnóstico
c o m c o r t e s regionais: R e g i ã o Sul e S u d e s t e . Brasília, P N U D / C D R / I P E A .

Y O T O P O U L O S , P . A . ( 1 9 8 5 ) . Middle-income classed a n d f o o d crisis: t h e " n e w "


food-feed c o m p e t i t i o n . Economic Development and Cultural Change, 3 3 ( 3 ) :
436-83.

Abstract
This article synthesizes the main results of a recent research on the existing situation
and the future perspectives of the supplying conditions of the main agriculture food pro-
ducts demanded by the Amazon region. By the same token, after analysing the regional
relative participation in the supply of agriculture food piodution vis-à-vis regional
consumption, the role of the principal instrumehts of agriculture fomentation, and the
several exogenous and endogenous constraints to potential agriculture regional growth,
we get the main conclusion that the Amazon region is - and will continue to be - an
essencialy food impòrt region.

You might also like