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Resumo
uma importância da educação básica para a formação profissional dos indivíduos. Nesse
sentido Este trabalho apresenta o resultado parcial da pesquisa sobre a ideologia da
educação profissional que se configurou na nova institucionalidade decorrente da
reforma neoliberal empreendida nos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-
2002). Contexto histórico em que se impôs uma afirmação ideológica, segundo a qual,
haveria, ganha posição uma visão segundo a qual haveria uma centralidade da educação,
sobretudo porque a esta caberia a formação da força de trabalho, desenvolvendo as
"competências" para atender as necessidades do mercado. Nas três últimas décadas
verifica-se a ocorrência de profundas transformações de natureza política, econômica e
social. Contexto da mundialização do capital, e é no lastro de seu metabolismo, que se
funda a reestruturação produtiva, processo de extrema complexidade e desdobramentos
heterogêneos. Impõe-se a ideologia da nova educação profissional que tem na noção de
competências e na empregabilidade sua retórica principal. O mundo do trabalho passa
por profundas transformações capazes de mudar o perfil da classe trabalhadora, pois o
capital ao responder à crise de acumulação e valorização desenvolve novas formas de
gestão e organização da produção, gerando um processo de acumulação flexível. Essa
ideologia uniformiza as mudanças no sistema produtivo, fazendo crer na
universalização do caráter sistêmico da reestruturação produtiva. Documentos das
agências multilaterais, como o Banco Mundial, UNESCO, CEPAL, OIT/CINTERFOR
recomendam, financiam e supervisionam as políticas educacionais dos países da
periferia, que procuram adaptar-se de forma subalterna à mundialização do capital.
Desenvolve-se diante de um acirrado debate sobre as novas exigências de qualificação
da força de trabalho geradas pelas mudanças profundas que atingiram o mundo do
trabalho. O debate atual no âmbito da sociologia do trabalho e da educação retoma
antigas questões sobre o problema da qualificação, ao mesmo tempo, em que novas
questões devem ser investigadas. No Brasil a ideologia da nova educação profissional,
presente em diversos documentos oficiais que consolidam a legislação da educação e a
nova institucionalidade da educação profissional, apresenta as denominadas
competências como requisitos exigidos da força de trabalho como uma espécie de
"consenso nacional".
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Doutorando em Ciências Sociais pela UNESP/Marília; Professor da unespar/FAFIPA – PVI.
rlbatista07@uol.com.br
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“Modelo” que, desenvolvido na Toyota a partir de 1953, constitui-se enquanto paradigma no processo
de reestruturação produtiva verificado no Ocidente a partir da década de 1980.
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Remeto os interessados em aprofundar o debate sobre as transformações do mundo do trabalho aos
seguintes autores: Alves (2000), Antunes (1995 e 1999), Gounet (1999), Coriat (1994) e Harvey (1994).
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Invariavelmente essas exigências referem-se à necessidade da flexibilidade de raciocínio, autonomia
intelectual, pensamento crítico, iniciativa própria, capacidade de abstração e de colaboração, habilidades
para o trabalho em equipe e interação com os pares, vaticinando com a necessidade de espírito
empreendedor calcado na subjetividade psicologizante.
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CNE -Conselho Nacional de Educação e CEB – Câmara de Educação Básica.
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Parecer nº 15/98 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação definiu as
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
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Parecer nº 16/99 da Câmara de Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional de Educação (CNE)
definiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico.
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PLANFOR – Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador, desenvolvido pelo Ministério do
Trabalho e Emprego com recursos do Fundo de amparo do Trabalhador – PLANFOR – período 1995-
2002.
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Essas habilidades são assim definidas: “i. Habilidades básicas - competências e conhecimentos gerais,
essenciais para o mercado de trabalho e para a construção da cidadania, como comunicação verbal e
escrita, leitura e compreensão de textos, raciocínio, saúde e segurança no trabalho, preservação ambiental,
direitos humanos, informação e orientação profissional e outros eventuais requisitos para as demais
habilidades. ii. Habilidades específicas - competências e conhecimentos relativos a processos, métodos,
técnicas, normas, regulamentações, materiais, equipamentos e outros conteúdos próprios das ocupações.
iii. Habilidades de gestão - competências e conhecimentos relativos a atividades de gestão, autogestão,
melhoria da qualidade e da produtividade de micro e pequenos estabelecimentos, do trabalho autônomo
ou do próprio trabalhador individual, no processo produtivo” (BRASIL, 1999, p. 41).
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O neoliberalismo remete-nos ao conjunto de medidas políticas e econômicas aplicadas, com certas
particularidades, por diferentes governos capitalistas, desde os vinculados à tradição liberal aos da social-
democracia. Sua tônica é dada por um conjunto de reformas políticas e fiscais, privatizações, abertura do
comércio mundial e maior controle dos gastos e orçamentos do Estado, a desregulamentação e
flexibilização do trabalho. Nos anos 80, o programa neoliberal ganhou um caráter sistêmico, impondo-se
inclusive nos países de governo não conservadores: Miterrand na França, Daniel González na Espanha,
Mario Soares em Portugal e de Craxi na Itália (ANDERSON, 1995).
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As principais centrais sindicais do país, ou seja, a CUT, Força Sindical e CGT “têm atuado, nos últimos
cinco anos, nas seguintes frentes: a) na formulação e proposição de políticas de educação básica e
profissional (articuladas com outras políticas sociais); b) através da participação em Fóruns (nacionais,
estaduais, regionais e latino-americanos) que discutem e decidem políticas e programas de intervenção
para fazer frente aos desafios resultantes do processo de globalização da economia e, conseqüente,
reestruturação do mundo do trabalho, onde a educação básica e profissional constituem aspectos
estratégicos; c) pela contratação de questões referentes à formação profissional (propostas de atividades,
gestão, custeio etc.) através de processos de negociações e convenções coletivas”. MANFREDI, Silvia
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Maria. A formação profissional na ótica dos trabalhadores. In LEITE, Márcia P. e NEVES, Magda A.
Trabalho, qualificação e formação profissional. São Paulo; Rio de Janeiro: ALAST, 1998, p. 221.
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Objetivos
Objetivo geral: Elaborar uma critica da ideologia da nova educação profissional no
Brasil tal como se desenvolveu no contexto da mundialização do capital e das políticas
neoliberais.
Objetivos específicos:
Metodologia
A pesquisa está sendo construída através de uma metodologia de análise
bibliográfica e documental. Nesse sentido, analisaremos documentos oficiais dos
Ministérios da Educação e do Trabalho, assim como documentos do Conselho Nacional
de Educação e de suas diferentes Câmaras, do CODEFAT, das organizações de
empresários e das centrais sindicais dos trabalhadores. Trata-se de analisar criticamente
os conceitos referentes à ideologia da educação e formação profissional, tais como:
qualificação, desqualificação, requalificação, habilidades, competências,
empregabilidade, empreendedorimo, resiliência, autonomia do indivíduo,
competitividade, qualidade, eficiência, eficácia, estética da sensibilidade entre outros,
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Conclusão
A ideologia da educação profissional conquistou hegemonia e os conceitos que
lhe dão suporte norteiam as políticas das organizações empresariais, de trabalhadores e
fundamentalmente dos Ministérios da Educação e do Trabalho. Essa ideologia norteou
as reformas que geraram a nova institucionalidade da educação profissional despreza a
política macro-econômica que obstaculiza o crescimento econômico e a geração de
empregos, recaindo em um determinismo tecnológico ao explicar as mudanças no
mundo da produção e do trabalho e as conseqüências dessas para as qualificações dos
trabalhadores. Para essa ideologia a centralidade não é do trabalho, mas do
conhecimento, ou seja, da educação. O trabalho é visto apenas como mero fator de
produção e não como categoria ontológica e econômica fundamental. Portanto,
constitui-se em uma visão restrita e pragmática que entende o trabalho simplesmente
como emprego ou ocupação.
Portanto, a ideologia da nova educação profissional cumpre o papel de
obscurecer e enfraquecer a possibilidade da crítica radical ao sistema do capital.
BIBLIOGRAFIA
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