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Vamos começar?
Boa aula!
O Conceito de Gênero apresentado, parte da compreensão da construção social das diferenças sexuais
e das criticas feministas sobre a posição das mulheres na sociedade. Assim, parte-se do entendimento de
que Gênero significa então que homens e mulheres são produtos da realidade social e não da decorrência
da anatomia de seus corpos, ligada a dimensão biológica.
Neste sentido, busca-se proporcionar uma reflexão sobre as diferenças de gênero postulado pelas ciências
sociais, como socialmente construídas, de forma a contribuir para o rompimento da interpretação das
diferenças de gênero como naturais, levando em consideração o pertencimento de homens e mulheres
a distintas sociedades, em tempos históricos e a contextos culturais diversos que estabelecem modos
específicos de classificação e convivência social, que consolidam diferenças e valor geradoras de
desigualdades entre o masculino e o feminino.
Menino veste roupa rosa? Menina brinca de carrinho? Menino brinca de boneca? Quem é responsável
pela educação dos/as filhos/as? Na sua casa quem lava as roupas, faz a comida, cuida da casa?
Essas e muitas outras indagações nos levam a reflexão de que, na nossa sociedade é esperado um comportamento
para os homens (tanto na infância, na adolescência e na fase adulta) quanto, independente da faixa etária, um
comportamento específico para as mulheres e, portanto, diferente do comportamento dos homens.
Para tanto, é de suma importância compreendermos e explicarmos a desigualdade social entre mulheres
e homens a partir do conceito de relações sociais de gênero ou conceito de gênero .
As questões de Gênero refletem o modo como as relações sociais, em diversos períodos históricos classificaram
as atividades de trabalho na esfera pública (mercado de trabalho) e privada (O Lar/ afazeres domésticos).
A divisão sexual do trabalho a partir do contexto da Revolução Industrial demarcou o lugar de morar,
também denominado de espaço privado, no qual se dá a reprodução humana, específico das mulheres
(espaço feminino) e, o lugar de trabalhar, chamado, também, de espaço público, no qual acontece a
produção, espaço do homem (lugar do masculino).
Em tal reorganização dos papéis sexuais, aos homens correspondeu o mundo público, no qual se
cultural. Ao mundo privado, o das mulheres, correspondeu o espaço doméstico que era concebido
As atividades mais importantes, com mais recursos, estavam no público, na esfera masculina
A divisão sexual do trabalho além de reforçar a desigualdade entre o homem (masculino) e a mulher (feminino)
corrobora para a desigualdade entre as mulheres, no que diz respeito a sua condição de classe social.
O movimento feminista não começou com a escritora Simone de Beauvoir. Em vários momentos históricos
anteriores, ocorreram iniciativas políticas de mulheres que buscavam alterar sua posição subalterna na
sociedade, como por exemplo, as chamadas Sufragistas, que lutavam no início do século passado para que as
mulheres alcançassem o mesmo direito ao voto concedido aos homens. O quadro apresentado a seguir,
mostra como a conquista do direito ao voto para as mulheres variou muito entre as diferentes sociedades:
1902 Austrália
1906 Finlândia
1913 Noruega
1927 Turquemenistão
1934
Cuba, Turquia
1937
Cuba, Turquia
1939 El Salvador
1941 Panamá
Malásia
1957
Burquina Faso, Chad, Guiné, Nigéria (Sul)
1958
Madagáscar, São Marino, Tunísia, República
1959 Unida de Tanzânia
1968 Nauru
1970 Andorra
1971 Suíça
1972 Bangladesh
Guiné Bissau
1977
1980 Iraque
1989 Namíbia
1990 Samoa
2005 Kuwait
No Brasil, foi aprovado em 24 de fevereiro de 1932, no Código Eleitoral Provisório, através do Decreto
21076, redigido durante a Era Vargas, mas, no entanto, sendo permitido apenas às mulheres casadas
e às viúvas e solteiras que tivessem renda própria. Só em 1946, tal direito foi ampliado de modo a
abranger as mulheres.
Carlos Drummond de Andrade fez um poema para Mietta Santiago, estudante de direito mineira, que em
1928 ao voltar de viagem da Europa descobriu que o voto feminino era proibido no Brasil, e entrou na
justiça com um Mandado de Segurança por meio do qual conquistou o direito de votar.
Mietta Santiago
loura poeta bacharel
Conquista, por sentença de Juiz,
direito de votar e ser votada
para vereador, deputado, senador,
e até Presidente da República,
Mulher votando?
Mulher, quem sabe, Chefe da Nação?
O escândalo abafa a Mantiqueira,
faz tremerem os trilhos da Central
e acende no Bairro dos Funcionários,
melhor: na cidade inteira funcionária,
a suspeita de que Minas endoidece,
já endoideceu: o mundo acaba”.
Que doce loucura ser mulher, cidadã e consciente dos direitos.
Fonte: FASUBRA Sindical (Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Públicas Brasileiras).
- A primeira teria ocorrido no seculo XIX e início do século XX: Feminismo Liberal (EUA) 1960 – Direito
ao voto (Brasil) que tinha o foco originalmente na promoção da igualdade nos direitos contratuais e de
propriedade para homens e mulheres, e na oposição de casamentos arranjados e da propriedade de
mulheres casadas (e seus filhos) por seus maridos. No entanto, no fim do século XIX, o ativismo passou
a se focar principalmente na conquista de poder político, especialmente o direito ao sufragio por parte das
mulheres.
- A segunda nas décadas de 1960 e 1970: Feminismo Radical, esta corrente faz uma crítica radical da
cultura patriarcal e se define como anticapitalista, anti-racista e em luta contra a supremacia masculina.”
Materialismo histórico e a obra de Simone de Beauvoir. Se refere a um período da atividade feminista que
teria começado no início da drcada de 1960 e durado até o fim da decada de 1980, sendo continuação
da fase anterior do feminismo, que envolveu as suffragettes do Reino Unido e Estados Unidos, e se
preocupava principalmente com questões de igualdade e o fim da discriminação.
- A terceira teria ido da década de 1990 até a atualidade: Feminismo socialista: centra sua discussão
na origem da opressão/exploração das mulheres. (...) segue a tradição marxista, mas reconhece que as
categorias econômicas do marxismo não são suficientes para entender e explicar a opressão da mulher.
O feminismo da terceira onda visa desafiar ou evitar aquilo que vê como as definições essencialistas
da feminilidade feitas pela segunda onda que colocaria ênfase demais nas experiências das mulheres
brancas de classe média-alta e também apresenta debates internos. O chamado feminismo da diferença,
cujo importante expoente é a psicóloga Carol Gillian, defende que há importantes diferenças entre
os sexos, enquanto outras vertentes creem não haver diferenças inerentes entre homens e mulheres
defendendo que os papéis atribuídos a cada gênero instauram socialmente a diferença.
A noção de gênero surgiu na década de 1970, a partir da idéia de que o feminino e o masculino não são
fatos naturais ou biológicos, mas construções sócio-culturais. Entre as muitas autoras de referência para o
desenvolvimento do conceito de gênero, destaca-se a antropóloga norte-americana Gayle Rubin,que em
1975 defendeu a idéia da existência de um sistema sexo-gênero em todas as sociedades.
Sistema sexo-gênero: “É o conjunto de arranjos através dos quais uma sociedade transforma a sexualidade
biológica em produto da atividade humana, e na qual estas necessidades sexuais transformadas são
satisfeitas” (Rubin, 1975). Mas, ao entender o sexo como uma matéria-prima isenta-o de questionamentos
a respeito do seu caráter de construído sócio-culturalmente.
Outra contribuição importante e muito conhecida no Brasil é o texto Gênero: Uma categoria Útil de analise
histórica, da historiadora norte-americana Joan Scott (1990)
Para Joan Scott, o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças
percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder. Neste
sentido, as relações de gênero remetem a espaços primários das relações familiares e, implicam na
construção de uma subjetividade sexuada e de identidade de gênero.
Portanto, na visão da autora, a mulher e o homem são construídos socialmente, a partir de uma
cultura historicamente situada no tempo e dentro das circunstâncias possíveis, determinadas por
essa temporalidade. Sujeitos de seu tempo, imersos em um conjunto específico de relações sociais
historicamente situadas, cada ser-mulher e cada ser homem têm um grupo originário e estão submetidos
às regras de comportamento que se firmam conforme a ética hegemônica. Assim sendo, sob o ponto de
vista da construção de sua especificidade de mulher e de homem, são determinantes sua classe, raça,
religião e a forma de inserção na sociedade. Deste modo, a partir dessas variáveis fundamentais se
constroem o ser-mulher e o ser-homem” .
A idéia de que menino não pode vestir roupa rosa ou que menina não deve brincar de carrinho não é uma
condição biológica, não é da natureza, mas sim uma noção construída socialmente e passada de geração
a geração, portanto cultural.
Outro ponto a ser ressaltado é a identidade de gênero, expressão utilizada por Robert Stoller, psiquiatra
norte-americano que vem desenvolvendo desde 1964, estudos sobre masculinidade e feminilidade. Ele
utilizou a expressão “identidade de gênero”, para designar as especificidades da travestilidade, cujo
gênero e identidade são opostos ao seu sexo biológico e que vivem como pessoas de sua escolha, mas
que não devem ser entendidas como “copias de mulheres”, mas como formas alternativas de identidades
de gênero que iremos abordar nas unidades de aprendizagem 4. 5 e 6.
Equidade de gênero: Igualdade de direitos, oportunidades e condições entre homens e mulheres. (voltar)
Movimento Feminista: Movimento social e político de defesa de direitos iguais para mulheres e homens,
tanto no âmbito da legislação (plano normativo e jurídico) quanto no plano das transformações culturais
mais amplas, que podem envolver inclusive a formulação de políticas públicas de serviços e programas
sociais de apoio a mulheres.
Movimento Sufragista: O movimento pelo sufrágio feminino é um movimento social, político e econômico,
de caráter reformista, que tem como objetivo estender o sufrágio (o direito de votar) as mulheres.
Como vimos ao longo da unidade de aprendizagem 2, o conceito de gênero surgiu na década de 1970, em
oposição à dimensão biológica da diferença sexual entre homens e mulheres, partindo do principio de que
a diferença entre eles esta relacionada a realidade social, e não da anatomia de seus corpos.
Vimos o histórico das mobilizações e reivindicações de cunho feminista e a importância destes movimentos
tanto para a reversão de situações de opressão, exclusão e desigualdade, as quais muitas mulheres
estavam/estão sujeitas, como também para a constituição de um vasto espaço acadêmico de pesquisas
e estudos de gênero.
As contribuições das teóricas e pesquisadoras das disciplinas de história e antropologia nos mostraram os
padrões associados a gênero variam culturalmente. Portanto, o que pode ser considerado adequado num
meio social, pode ser inadequado em outro, como por exemplo, gestos, modos de se vestir, sentir e falar,
que são vistos como femininos em alguns lugares e masculinos ou até mesmo indiferentes em outros.
Sendo assim, gênero é entendido nesta unidade de aprendizagem, como uma das dimensões que integram
e definem a vida social e a identidade de cada pessoa variando culturalmente, que sob a expressão
“identidade de gênero”, amplia-se esse entendimento, buscando considerar as formas alternativas de
identidades de gênero, como a travestilidade.
BÁSICA:
GUIMARAES, Maria de Fátima. Trajetória dos feminismos: introdução a abordagem de gênero. In: BRASIL,
Presidência da República. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Marcadas a Ferro. Brasília: Secretaria
de Políticas para as Mulheres, 2005. p. 77-92.
COMPLEMENTAR:
SOUZA, M. F. (org.) Desigualdades de gênero no Brasil: novas idéias e práticas antigas. Belo Horizonte,
MG: Argvmentvm, 2010.
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