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Este capítulo de introdução fornece uma vi- de aquisição dos conhecimentos. Precisamos
são de conjunto dos fundamentos científicos as funções e os níveis da investigação, esta-
da investigação e das ligações que existem belecemos a este respeito uma classifica-
entre esta e outros elementos do domínio do ção e determinamos as perspectivas que
conhecimento, tais como a filosofia, as ciên- dela decorrem para as diferentes disciplinas.
cias, as operações do pensamento, a teoria Enfim, tentamos definir os fundamentos filo-
e a prática. Apresentamos, neste capítulo, sóficos da investigação, os seus paradigmas
algumas definições da investigação e levan- e as suas metodologias quantitativa e quali-
tamos um paralelo entre esta e outras fontes tativa.
A descrição consiste
A descrição em determinar a
natureza e as
A descrição, concebida como um nível de investigação à semelhança da características de
explicação e da predição, consiste em determinar a natureza e as característi- conceitos, populações
cas de conceitos, de populações, de fenómenos e por vezes em considerar a ou de fenómenos.
Capítulo I
A explicação
Para se estar em condições de explicar um acontecimento, uma situação ou
um fenómeno, é preciso descrevê-los previamente. A explicação vai portanto
mais além do que a simples descrição, na medida que estabelece relações entre
os conceitos, os fenómenos e determina a sua razão de ser. Comporta dois
níveis de operações segundo o grau de avanço dos conhecimentos, a saber: a
exploração das relações e a verificação das relações.
A explicação
Se exploramos relações entre conceitos, como nas questões seguintes:
determina a razão de «Quais são os factores associados ao grau de stresse dos pacientes que esperam
ser das relações entre uma cirurgia cardíaca?» ou «Quais são as relações entre .. .?», obter-se-á como
conceitos.
resposta à questão de investigação uma explicação parcial das relações possí-
veis entre os conceitos. Para determinar a existência de relações entre concei-
tos proceder-se-á a um estudo dito descritivo-correlacionaI, pois que se parte da
descrição dos conceitos, obtida no primeiro nível, para explorar relações.
Em compensação, trata-se sobretudo de verificar relações já estabelecidas
entre dois conceitos para conhecer a sua natureza, isto é, para distinguir o sen-
tido da relação, como na questão seguinte: «Qual é a influência do stresse sobre
o restabelecimento das pessoas submetidas a cirurgia cardíaca?». Neste caso,
realizar-se-á um estudo dito correlacionaI para explicar as relações que exis-
Introdução e fundamentos da investigação
tem entre estes dois conceitos. A este nível de exame das relações, as expli-
cações devem incidir sobre a natureza das relações presumidas entre os con-
ceitos. A explicação engloba a predição e tem lugar depois que as relações
entre os conceitos foram postas em evidência no estádio da exploração das
relações. A explicação de uma relação ou de um fenómeno apoia-se na teoria,
sendo esta o conjunto de proposições que visam explicar um fenómeno. Se se
está em condições de explicar um fenómeno, seja clínico, seja social, isso sig-
nifica que se pode descrevê-lo, predizer as suas consequências e intervir a fim
de modificar a situação (Gall, Borg e Gall, 1996).
A predição e o controlo
Num estado mais avançado da investigação situa-se a predição de relações A predição e o
causais entre conceitos (ou variáveis) ou diferenças entre os grupos. A predi- controlo estão,
ção e o controlo pressupõem, na maioria dos casos, uma experimentação, a sobretudo, ligados à
experimentação, que
qual tem por objectivo avaliar a probabilidade de que um determinado resul- tem por objectivo
tado se produza numa situação de investigação, habitualmente provocada. avaliar a probabilidade
de que um
Estão relacionados com a possibilidade de predizer que um acontecimento sur- determinado resultado
girá como efeito ou resultado Y, decorrendo dos dados recolhidos antes de um se produza numa
situação provocada.
momento X. A possibilidade de predizer assenta no princípio da causalidade,
que implica que os fenómenos tenham causas e que as causas produzam efei-
tos. Por exemplo, a questão seguinte serve para prever o resultado de uma
intervenção: «Qual é o grau de eficácia de uma intervenção de apoio sobre o
estado de saúde de cuidadores naturais que têm a seu cargo pessoas atingidas
por défices cognitivos?»
O controlo consiste em fazer variar as condições numa situação de inves-
tigação, com vista a produzir um determinado resultado. As questões coloca-
das apelam a respostas que fornecem indicações precisas sobre as relações de
causa e efeito. Assim, como já mencionámos, as funções da investigação que
são a descrição, a explicação, a predição e o controlo correspondem a níveis
na aquisição de conhecimentos e apelam a diversos tipos de estudos, como
veremos mais além nesta obra.
A filosofia
A filosofia fornece uma explicação global do mundo, que se exprime atra-
vés das crenças e dos valores relativos à natureza do ser humano e à sua reali-
dade (Kim, 1989; Seaver e Cartwight, 1977). A filosofia constitui o elemento
mais abstracto do modelo apresentado, mas supõe um contacto com o elemen-
to mais concreto, que é a prática. A filosofia remete para os valores e as crenças
veiculados pelos membros de uma disciplina. As diferentes formas de conceber
a realidade resultam da maneira como os indivíduos encaram os conceitos-
-chave de uma disciplina e os organizam num todo coerente. A busca de uma
explicação do mundo empírico resulta da filosofia. A filosofia utiliza a intuição,
o raciocínio, a introspecção para determinar a finalidade da vida humana, a
natureza do ser, a realidade e os limites do conhecimento (Silva, 1977).
FIGURA 1.1
Relações entre as diversos elementos do conhecimento !
Filosofia
.. Visão do mundo
in fluencia os elementos
1
r Conhecimento
Acumulação
Teoria Ciência
dos saberes
Descreve, explica Explica
e prediz ! o mundo empírico
Investigação
Método de aquisição
dos conhecimentos
1
Prática
local de prática
e de investigação
Introdução e fundamentos da investigação
o conhecimento
o conhecimento é uma noção que implica diversidade e multiplicidade e
dá lugar a diferenças e a semelhanças nos diversos tipos de saberes (Laville e
Dionne, 1996). A investigação científica, que nos dá a conhecer certos factos,
é um processo metódico de aquisição dos conhecimentos, de que decorre o que
se denomina por conhecimento científico. Outros conhecimentos provenientes
de diferentes fontes contribuem, a diversos níveis, para aumentar o saber teó-
rico e empírico. Assim, os conhecimentos transmitidos de uma cultura para
outra ou de uma disciplina para outra podem ser ou não fundados sobre bases
científicas.
sem partilha durante um longo período de tempo, as tradições podem ser difí-
ceis de mudar, sobretudo quando são mantidas por pessoas que detêm autori-
dade (Burns e Grove, 2001). Por exemplo, a prática da sangria remonta à
época da Grécia antiga, em que se acreditava que o facto de retirar de uma veia
uma certa quantidade de sangue restabelecia os humores. Facto espantoso, esta
prática decorreu até a meados do Século XIX (Batavia, 2001). Também esta
fonte de conhecimentos, que é a tradição, deve ser examinada de forma crítica
à luz de outras fontes de aquisição de conhecimentos e de dados fornecidos
pela ciência.
A autoridade. A autoridade é uma outra fonte de aquisição de
conhecimentos. Ela é, de alguma forma, um canal de transmissão da tradição.
Por exemplo, as religiões aplicam desde séculos as regras que regem certos
aspectos da conduta humana, e transmitem-nas, pela via da autoridade, aos
seus fiéis. Todavia, como o fazem notar Laville e Dionne (1996), estes sabe-
res impostos não têm valor senão quando as pessoas os aceitam e quando
aqueles que os transmitem são considerados como autoridades. Pedir conselho
a uma pessoa autoridade pode ser uma boa ideia se temos toda a razão para
crer no seu mérito. Por exemplo, um estudante que está a redigir a sua tese de
doutoramento pode pedir a opinião de um membro da sua comissão que con-
sidera um perito neste domínio. Por exemplo, a autoridade e a tradição apre-
sentam vantagens, mas não são fontes infalíveis, sobretudo se o crédito dado
a uma pessoa não foi objecto de qualquer verificação.
Tentativa e erro. As tentativas e erros podem ser considerados
como uma forma de aprender quando não se dispõe de outra fonte de conhe-
cimento. O conhecimento que daqui resulta é empírico, e por consequência
transmite-se dificilmente a outros. A aprendizagem por tentativa e erro não é
nem sistemática nem infalível. O facto de multiplicar as operações, com vista
a chegar a uma boa resposta ou determinar o tipo de acção que convém exe-
cutar não constitui em si um meio eficaz de adquirir conhecimentos. Além
disso, esta estratégia de aprendizagem pode revelar-se dispendiosa e mesmo
de risco nos casos em que é necessário intervir rapidamente.
A experiência pessoal. A experiência pessoal pode constituir
uma fonte apreciável de conhecimentos no exercício de uma profissão, em
particular em situações onde é preciso intervir junto de outras pessoas. Uma
longa prática clínica permite reconhecer em certos indivíduos tendências ou
modos de respostas que deixam pressagiar determinadas reacções e sugerem
formas de intervir. Todavia, para que os conhecimentos empíricos possam ser
Introdução e fundamentos da investigação
As operações do pensamento
As operações do pensamento constituem com os outros elementos do
conhecimento o pivô da investigação científica. As duas formas de pensamen-
to solicitadas na investigação são o pensamento concreto e o pensamento abs-
tracto. Pela sua natureza, o pensamento concreto incide sobre as coisas per-
ceptíveis para os sentidos ou os acontecimentos observáveis. Diz respeito aos
acontecimentos imediatos. No processo de investigação, o pensamento con-
creto desempenha um papel essencial na planificação e na realização das dife-
rentes etapas de colheita e análise dos dados. O pensamento abstracto é solici-
tado em tudo o que se relaciona com a formulação de uma ideia, mas que não
resulta numa aplicação directa a um caso particular. Esta forma de pensamen-
to é independente e não é limitada no tempo. No contexto do processo de
investigação, o pensamento abstracto é essencial ao desenvolvimento da teo-
ria e da investigação. Ele é posto em acção na definição do problema de inves-
tigação, no estabelecimento do desenho de investigação e na interpretação dos
resultados. Segundo Burns e Grove (2001), a investigação exige aptidões para
o pensamento abstracto, assim como para o pensamento concreto.
Cada elemento do conhecimento, numa dada disciplina, apela a operações
de pensamento. Procedendo do pensamento abstracto, as teorias são verifica-
das pela investigação e integradas num campo de conhecimentos científicos.
O pensamento abstracto preside à elaboração das teorias. Inscrevendo-se num
quadro filosófico, o pensamento abstracto permite à ciência e à teoria unirem-
se para formar um conjunto de conhecimentos susceptíveis de aplicações prá-
ticas. A intuição e o raciocínio são também operações do pensamento.
Capítulo 1
A ciência
A investigação é um instrumento da ciência (Batey, 1992) e as teorias são
A ciência é um corpo
a linguagem da ciência. A ciência é um conjunto de conhecimentos baseados de conhecimentos
em observações sistemáticas e rigorosas. Ela implica o emprego conjugado, teóricos em que se
encontram definidas
metódico, do pensamento racional e da observação empírica (Graziano e as relações entre os
Raulin, 2000). A ciência é constituída conjuntamente pelos resultados da factos, os princípios,
investigação e por um certo número de teorias verificadas. A ciência pode ser as leis e as teorias.
A teoria
Uma teoria é um conjunto coerente de conceitos, de proposições e de defi-
Uma teoria é um
conjunto coerente de nições, visando descrever, explicar ou predizer fenómenos. Constituída por
conceitos, de um conjunto de conceitos associados uns aos outros, a teoria apresenta uma
proposições e de
definições, visando visão de um fenómeno. Assim, a explicação modema da reacção à dor consti-
descrever, explicar ou tui objecto de uma teoria. Esta é constituída por vários conceitos gerais liga-
predizer fenómenos.
dos entre si, por um conjunto de proposições, que explicam o fenómeno da dor.
Deste modo, cada teoria aplica-se a um fenómeno concreto, ela define-o e
explica-o.
As teorias representam uma forma de organizar, de integrar ou de isolar
conceitos abstractos, reportando-se à maneira como os fenómenos se ligam
uns aos outros (Polit, Beck e Hungler, 2001). Elas correspondem a um modo
sistemático de observação, que visa unificar num todo coerente os factos obser-
vados, os quais, se fossem considerados separadamente, teriam pouca signifi-
cação. As teorias podem ter como ponto de partida uma ideia, e a investigação
tem por função verificá-las. Elas podem também fundar-se sobre os resultados
da investigação e as operações do pensamento; neste caso, elas fornecem uma
visão coerente dos fenómenos. As teorias permitem explicar os resultados de
investigação e demonstrar a sua utilidade na prática. As teorias podem ser des-
critivas, explicativas ou preditivas e são subordinadas à investigação pelo
facto de que esta serve para verificá-las. Elas orientam a investigação e per-
mitem a formulação de hipóteses; em contrapartida, a investigação permite
desenvolver a teoria e verificá-la.
A prática profissional
A prática profissional pertence ao mundo empírico. A relação de depen-
A investigação reúne a
disciplina como campo dência entre a investigação, a teoria e a prática explica-se pelo facto de que a
de conhecimentos, a investigação reúne a disciplina como campo de conhecimentos, a teoria como
teoria como campo de
organização dos
campo de organização dos conhecimentos e a prática profissional como campo
conhecimentos e a de intervenção e de investigação. A investigação intervém para verificar a teo-
prática profissional ria ou para desenvolvê-la, e esta união entre a teoria e a investigação fornece
como campo de
intervenção. uma base à prática profissional. As actividades clínicas que conduzem à defi-
nição de problemas de investigação, numa dada disciplina, têm frequentemente
a sua origem nos locais da prática. É por isso que a aprendizagem da investi-
Introdução e fundamentos da investigação
gação deve ser ligada à prática profissional, visto que dela provêm os proble-
mas clínicos, psicossociais ou educativos, que serão em seguida examinados
no seio da investigação e ligados à teoria.
Em conclusão
Relembramos que a investigação é o método por excelência, que permite
adquirir conhecimentos e, por este facto, ela depende da teoria, visto que esta
dá uma significação aos conceitos utilizados numa determinada situação.
A investigação permite elaborar teorias ou verificá-las. A investigação que visa
a elaboração da teoria consiste em reconhecer a presença de um fenómeno, em
descrever as suas características e em precisar as relações que existem entre
elas. A investigação que tem por objectivo verificar a teoria procura demons-
trar, com a ajuda de hipóteses retiradas da teoria, que esta última possui uma
evidência empírica (Stevens, 1984; Fawcett e Downs, 1992). A relação que
existe entre a investigação e a teoria, tal como a elaboração desta última,
assenta na investigação e esta, por seu lado, assenta na teoria. A estreita depen-
dência entre a investigação e a teoria encontra-se também no plano do méto-
do, porque os tipos de investigação que servem para verificar as teorias podem
ser ora descritivos, ora explicativos ou preditivos. Assim, os estudos descriti-
vos têm como papel definir as características dos fenómenos, os estudos cor-
relacionais determinam as relações entre estas características, enquanto que os
estudos experimentais servem para predizer e para controlar fenómenos.
modelo (pattem) que pode servir para guiar a investigação científica. Nós vei-
culamos de forma mais ou menos consciente concepções filosóficas e constru-
ímos, baseando-nos nelas, modelos da realidade que são conformes com as
convenções sociais e que têm por finalidade dar conta da dinâmica de mudan-
ça (Gauthier, 2000). Os paradigmas que mais contribuem para a construção dos
saberes científicos são a metodologia de investigação quantitativa e qualitativa.
Um fundamento filosófico é o que serve de base às decisões em matéria
de metodologia. Isto significa, que as metodologias de investigação devem
adoptar diferentes postulados relativamente ao comportamento humano e à
forma de encarar o conhecimento dos fenómenos. Ao escolher uma metodolo-
gia particular de investigação, o investigador adopta uma visão do mundo e
um fundamento filosófico. Estas duas maneiras de conceber a realidade repre- Ao escolher uma
sentam diferenças fundamentais de orientação que existem entre as escolas de metodologia particular
de investigação,
pensamento positivista e naturalista. A corrente positivista afirma que existe o investigador adopta
uma realidade objectiva, que pode ser descoberta seguindo para tal um méto- uma visão do mundo
e um fundamento
do rigoroso. Portanto, os fenómenos humanos são previsíveis e controláveis. filosófico.
O raciocínio dedutivo na base do positivismo permite predizer e controlar
fenómenos. Para o naturalismo, a realidade é diferente para cada pessoa e
muda com o tempo. Ela descobre-se no decurso de um processo dinâmico que
consiste em interagir com o meio. O conhecimento que daqui decorre é relati-
vo ou contextuaI. Os fenómenos humanos são únicos e não previsíveis.
Em virtude dos fundamentos filosóficos sobre os quais assenta a corrente
naturalista, os factos e os princípios estão enraizados em contextos históricos
e culturais. Várias perspectivas filosóficas humanistas e holísticas utilizam o
raciocínio indutivo para estudar os fenómenos. O investigador que adere a
uma filosofia que coloca a interacção em primeiro plano utilizará uma meto-
dologia naturalista. É o caso da etnografia, que põe a tónica nas significações
e nos comportamentos dos indivíduos num meio cultural e social. Outros
investigadores terão um ponto de vista fenomenológico e considerarão a expe-
riência pessoal dos indivíduos. Contrariamente à corrente naturalista, que
amalgama várias doutrinas filosóficas, o positivismo inscreve-se numa cor-
rente de pensamento que valoriza a investigação experimental. Perpetuando
uma tradição, que dá a primazia às ciências físicas, o positivismo preocupa-se
sobretudo com os resultados.
A metodologia da investigação pressupõe ao mesmo tempo um processo
racional e um conjunto de técnicas ou de meios que permitem realizar a inves-
tigação. A metodologia quantitativa e a metodologia qualitativa devem estar de
Introdução e fundamentos da investigação
Resumo
A investigação define-se como um processo ra- A investigação está estreitamente ligada a outras
cionai visando a aquisição de conhecimentos . Pode actividades de ordem intelectual. Assim, ela está rela-
ser considerada sob diversos pontos de vista , mas é cionada com a filosofia, o conhecimento, as opera-
possível defini-Ia como um processo sistemático de ções do pensamento, a ciência, a teoria e a prática .
colheita de dados empíricos tendo por objectivo des- Da filosofia derivam os postulados, as crenças e as
crever, explicar e predizer fenómenos . O rigor e a sis- perspectivas disciplinares que são postas em evidência
tematização devem estar presentes em qualquer inves- na investigação e na prática . O conhecimento emana
tigação. de diferentes fontes, como a tradição, a autoridade,
Capítulo 1
as tentativas e erros, o raciocínio lógico. A ciência é concepções filosóficas que o investigador adopta e o
um corpo de conhecimentos constituído de resultados objecto da disciplina . É incontestável que a investiga-
de investigação e de teorias verificadas . A ciência e ção é essencial ao avanço da ciência e ao desenvol-
a teoria estão ligadas entre si pelas operações de vimento das d iferentes profissões . A investigação fun-
pensamento . Estas últimas determinam cada elemento damentai e a investigação aplicada constituem as
da investigação científica. O pensamento concreto duas formas que a investigação científica, é susceptí-
está orientado para as coisas tangíveis, enquanto que vel de tomar. A primeira visa elaborar teorias e prin-
o pensamento abstracto está orientado para o desen- cípios fora de qualquer aplicação prática . A segunda
volvimento de ideias, não comportando aplicação tem por objectos essenciais a resolução imediata de
prática . A investigação depende da teoria visto que problemas concretos e a modificação de situações
esta dá uma significação aos conceitos utilizados determinadas.
numa situação de investigação. A teoria provém da
Os fundamentos filosóficos dependem da manei-
prática e, uma vez verificada no seio da investiga-
ra de conceber a realidade, a ciência e a natureza
ção, ela retorna à prática . A investigação trata muitas
humana . Duas escolas de pensamento jogam um
vezes de problemas clínicos encontrados na prática .
papel de primeiro plano no que se refere ao desen-
As três grandes funções da investigação são a volvimento dos conhecimentos : a filosofia de orienta-
descrição, a explicação e a predição que correspon- ção positivista e a filosofia que se liga à corrente natu-
de cada uma delas a um nível no processo de aquisi- ralista . Cada uma destas filosofias tem o seu próprio
ção dos conhecimentos . A investigação está presente paradigma de investigação. Estes dois paradigmas
na maior parte das disciplinas, mas as suas aplicaçõ- são a metodologia quantitativa e a metodologia qua-
es diferem de uma disciplina para outra, segundo as litativa .
Palavras-chave
Exercícios de revisão
A investigação científica é um processo particu- 2. ligue cada um dos elementos do conhec imento de
lar que visa a aqu isição dos conhecimentos . Os exer- (a) a (h) à sua definição.
cícios sugeridos neste capítulo têm por finalidade
a. ciência
ajudá-lo a compreender melhor a natureza da investi-
gação e as relações que existem entre esta e outros b . intuição
elementos do conhecimento. c. raciocínio indutivo
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