You are on page 1of 9

História do pensamento econômico - FEIJÓ

Fisiocratas: primeeiro grupo de pensadores a se formularem como escola

-organização ocrre em meados do século XVIII

-se intitulavam economistas, mas foram reconhecidos como fisiocratas

-fisio-cracia: entendimento de que o natural rege os princípios a partir dos quais funcionam economia
e sociedade

-para compreender a economia seria preciso ter uma observação metódica, realizar a organização de
fatos e proposição de um sistema analítico de forma análogo ao método das ciências físicas

-Assim, os fisiocratas percebiam como a produção, a acumulação de riqueza, a distribuição de riqueza


e fluxos de gastos eram afetados por princípios racionais.

-para eles, a agricultura desempenha um papel crucial como atividade econômica, mais importante
inclusive, que a manufatura.

-eles defendem o principio “laissez-faire, laissez passer”, combatendo o intervencionismo econômico


que poderia interferir negativamente nas leis naturais.

-o excedente é um conceito ao qual os fisiocratas dedicam atenção; eles acreditam que a riqueza
produza, não consumida, apenas ocorre na agricultura. Isso porque a atividade agrícola seria a única
em que forças naturais agiriam.

-os autores mais reconhecidos da escola são: Jacques Tugoi, Marquês de Mirabeau, Mercier de la
Rivière, Du Pont de Nemours, François de Trosne, Nicolas Baudeau e François Quesnay.

-Quesnay teria sido o líder dos fisiocratas, tendo formulado a obra “Quadro econômico”, que
sistematizaria a visão da escola. Ele aponta no texto sua concepção sobre a divisão social: entende que
as classes socioeconômicas são classe produtiva, classe estéril e proprietários de terras e bens.

-Quesnay desenvolve uma reflexão voltada aos fluxos de renda e despesa articulados entre esses
grupos.

-A importante contribuição teórica dos fisiocratas foram os conceitos de excedente e adiantamento.

-Alguns deles se voltaram para a questão do valor, Quesnay, entretanto, não propõe uma teoria do
valor.Sendo assim, ele não explicaria de fato o excedente.

Adam Smith

-Em “Uma investigação sobre a causa da riqueza da nação”, de 1776, Smith argumenta que a riqueza
seria o produto anual per capita da nação, sendo o aumento de pessoas empregadas produzindo
necessário para o aumento da riqueza.

-O estoque de capital parece essencial para a produtividade do trabalho, sendo um dos fatores de
crescimento econômico. Quesnay teria esboçado uma reflexão semelhante, entretanto, o que os
diferenciaria seria que Smith se esforçou em formular uma teoria do valor.

-Essa teoria do valor smithiana investiga os valores das mercadorias, tanto em comparação relativa,
quanto a partir da análise do montante do trabalho útil empregado na produção da mercadoria.
-“(...) a teoria de valor de Smith, que aparece no bojo da discussão do crescimento, como medida do
mesmo, remete a uma discussão em termos de componentes desse valor em salário, lucro e renda da
terra (...) (p.121)

-“A divisão do trabalho é menos na agricultura, pois aqui os diferentes tipos de trabalho estão
associados às estações do ano, de modo que é impossível empregar um único homem em cada uma
das oportunidades de trabalho na agricultura. E, por isso, argumenta Smith, que as diferenças de
produtividade entre nações ricas e pobres são menores na agricultura e maiores na manufatura, em
que são muitas as possibilidades de especialização de tarefas”. (p.122)

-“A divisão do trabalho e o mecanismo de troca nos mercados propiciam, numa sociedade avançada,
a abundancia geral dos bens.” (p.123)

“A ideia de que a divisão do trabalho é chave para o progresso material não era novidade à época de
Smith. (...) Smith discute a origem da divisão do trabalho e associa à propensão humana para as
trocas.” (p.123)

“(...) No final do capítulo, Smith apresenta a questão fundamental: quais as normas que as pessoas
observam ao trocarem suas mercadorias por dinheiro ou por outras mercadorias? Smith está a discutir
as regras que determinam o valor relativo ou o valor de troca dos bens. Nota ele que a palavra valor
possui dois significados: a utilidade de determinado objeto, ou seja, o valor de uso, e o poder de
compra que tal objeto possui, o valor de troca”. (p.126)

“Smith diz que a preocupação da Economia Política deve recair no valor de troca (...)” (p.126)

-No capítulo 5, apresentam-se os conceitos de preço real e preço nominal. Smith associa o preço real
da mercadoria à ideia de valor. Se o homem é rico ou pobre conforme a quantidade de serviço alheio
que está em condições de encomendar ou comprar, o valor de uma mercadoria é a quantidade de
trabalho que a mesma permite comprar ou comandar. Assim, o trabalho é a medida real de valor de
troca entre todas as mercadorias. Smith não está dizendo que valor de troca é trabalho, mas que pode
ser usado como medida daquele. Ter uma medida do valor é tudo que Smith necessitava para sua
análise posterior do crescimento econômico. (p.127)

-“Na prática, utiliza-se alguma mercadoria eleita para medir os valores. No longo prazo, os valores
estimados em trigo são mais estáveis que aqueles avaliados em ouro ou prata. A relação entre
quantidade de trabalho e trigo é mais estável, até porque as quantidades de trigo funcionam como
bom indicador do preço real em trabalho que deve remunerar a subsistência do trabalhador. Como o
trigo é o principal bem para essa subsistência, ele guarda certa proximidade com quantidades de
trabalho. Já os metais são instáveis em seu valor, pois mudanças nas condições de sua oferta induzem
variações do valor (...) No entanto, o valor real de uma renda em trigo varia muito no curto prazo,
portanto a moeda metálica funciona melhor para transações de curto prazo. Smith conclui dizendo
que no mesmo tempo e lugar o dinheiro é medida exata do valor real de troca de um bem. Fica claro
ser essa medida apenas aproximação no curto prazo e em pequenas distancias” (p.128)

-“Na sociedade primitiva, todo produto do trabalho pertence ao trabalhador que o executa. No estágio
evoluído, pessoas contratam pessoas, surge o lucro. O lucro não é simplesmente o salário pago por
inspecionar e dirigir a empresa, ele é regulado pelo valor do capital entregue à produção. O produto
total já não pertence inteiramente ao trabalhador, parte é entregue ao patrão na forma de lucro. Nesse
caso, o valor da mercadoria não é apenas regulado pela quantidade de trabalho incorporado em sua
produção. (...) Assim, o valor v de uma mercadoria é regulado pelos três componentes salário w, lucro
l e renda da terra r. Não pode haver outros componentes, além desses três, na determinação dos
preços.” (p.129)

“O capítulo 7 (...) começa definindo os conceitos de preço natural e preço de mercado, em seguida ele
descreve uma teoria de funcionamento dos mercados que mostra como a força do auto interesse
individual impele o mecanismo de ajuste dos mercados. Preço natural é o conceito teórico mais
fundamental, é nele que reside o valor real das coisas. (...) Cada componente do preço tem sua taxa
natural e a somatória das taxas naturais de salário, lucro e renda da terra determinam o preço natural.
Tal preço funciona como um ponto de equilíbrio ou uma condição de longo prazo No curto prazo os
preços efetivamente observados no mercado, os preços de mercado, oscilam em torno do preço
natural. (p.130)

“O salário natural depende da demanda por mao de obra e da disponibilidade local de trabalhadores.
Aquela demanda depende dos fundos destinados ao pagamento de salários (...) Em todo caso, os
fundos destinados ao pagamento de salários guardam estreita relação com o estoque de capital da
economia. (p.134)

“Assim como os salários, os lucros do capital dependem do estado de progresso da riqueza na


sociedade. Contudo, o processo afeta os lucros de maneira diferente do que afeta os salários. O
aumento do capital faz decair as taxas de lucro ao mesmo tempo em que eleva os salários, quer se
trate do capital na sociedade como um todo ou do capital de determinado negócio. Assim, a grande
concentração dos grandes negócios na cidade reduz as taxas de lucros nessa localidade, ao passo que
a escassez de capital no campo as eleva. Por outro lado, os salários são maiores nas cidades e menores
no campo. Então, o efeito da prosperidade nos lucros é sua redução. (...) como regra, a taxa natural de
lucro declina conforme o país se torna mais rico. (...) (p.137)

“A renda, diz Smith, não é um pagamento pelo capital emprestado pelo dono da terra para melhorá-
la, não se confunde com lucros e juros. (...) A renda é um preço de monopólio; não é proporcional ao
que o empresário investiu ou ao que se pode extrair da terra. Sempre que a relação entre oferta e
demanda eficaz possibilite à mercadoria ser vendida por seu preço natural, a renda é o que sobre após
subtraídos dele os salários (...) (p.139)

Economia política clássica

“Partindo do paradigma smithiano, [Malthus, Ricardo e Mill] irão examinar questões metodológicas,
de padronização de linguagem, sobre medida do valor e distribuição, monopólio, oligopólio, política
monetária e comércio exterior. Ainda elegem como questão central da Economia Política o
crescimento econômico, mas dão ênfases particulares a diferentes temas ligados à questão básica:
Malthus enfatiza a demanda, Ricardo a distribuição de rendimentos e Mill preocupa-se com questões
metodológicas e sobre produção, distribuição e propriedade dos bens.” (p.148)

Malthus

“Uma característica presente no pensamento do ´seculo XVIII, que se manteve no inicio do século
seguinte, período que estamos considerando, era uma peculiar ideia de natureza. O conceito de
natural invadia a todos os domónios de conhecimento, inclusive a ciência econômica. Para tal crença,
natural era sinônimo de necessário, verdadeiro, equilibrado e harmonioso. Tinha, portanto, um caráter
normativo. O próprio sistema econômico era tido como uma ordem natural. Malthus evocou a
natureza, enquanto conceito normativo para recomendar moderação nas políticas de subvenções
sociais. (...) Malthus liga a questão da sobrevivência humana com o crescimento populacional e a
competição por recursos naturais. A quantidade de alimentos e de outros recursos disponíveis para o
consumo humano representa, para ele, um freio ou um estímulo, dependendo de sua escassez relativa,
para o crescimento demográfico. À luz dessa ideia, maiores transferências de recursos para as
populações carentes, no longo prazo, só agravariam o problema, pois elas propiciariam condições para
o subsequente crescimento populacional desenfreado. “ (p.151)

“(...) seu método se diferencia do de Ricardo e outros economistas políticos. Ele achava que se deveria
dar maior ênfase à observação emp[irica e não se perder em abstrações em excesso (...) então Malthus
ficaria caracterizado como adepto de um método em Economia que dá mais importância à
exxperiencia em contraposição ao viés mais abstrato e dedutivista de Ricardo. Pode-se dizer que Adam
Smith cotninha os dois caminhos metodológicos e, com base nele, Ricardo enfatizou um e Malthus
outro. (p.152)

“Para Malthus, o valor real de troca de um bem é a capacidade de com ele se adquirir outros bens,
inclusive o trabalho. O valor nominal é a capacidade de adquirir metais preciosos. O valor de uso do
objeto é sua utilidade. O valor nominal de troca é determinado no mercado pela oferta e demanda
(p.153)

“A vertente hegemônica da Economia Política clássica irá rejeitar a interpretação malthusiana do valor.
(...) a explicação clássica não dá a devida importância ao papel da demanda e, como aponta
corretamente Malthus, ela confunde valor de troca com custo. Embora tivesse sido rejeitada, a análise
de Malthus é mais próxima da compreensão moderna do problema. (p.154)

Ricardo

“Ao contrário do que se interpreta comumente, Ricardo não despreza a questão smithiana do
crescimento econômico, mas não se contenta com a interpretação de Smith que analisa a trajetória
das taxas de lucro sendo determinada pela distancia relativa entre oferta de capitais e possibilidades
de investimentos. Para Smith, ao longo do tempo os salários crescem mais que os preços finais e, no
processo de acumulação de capital, oportunidades de investimento lucrativo ficam cada vez menores.
Ricardo constata que a relação entre aumento de capitais e queda nos lucros não vinha acontecendo.
Propõe então uma interpretação do lucro como resíduo, após a dedução dos demais custos de
produção. Então é chave entender como se dá a distribuição, ou seja, como são formados os salários
e a renda da terra.” (p. 156)

“Ricardo critica Smith quando este considera como fundamento do valor ora a quantidade relativa de
trabalho incorporado, nas sociedades primitivas, ora a quantidade de trabalhado comandado ou
encomendado, nas sociedades avançadas. Trabalho incorporado e comandado não são a mesma coisa.
Na hipótese de que o impacto de variações na produtividade não seja o mesmo em todos os setores,
trabalho comandado e incorporado não significam a mesma coisa. Ricardo assevera que o trabalho
comandado depende de uma medida ela mesma variável, como unidades de trigo e ouro, cujos valores
flutual com a oferta e a demanda. O montante de trabalho comandado depende de tudo o que afeta
os salários. Variações no preço do trigo, por exemplo, pode, provocar variações no trabalho
comandado. Já o trabalho incorporado é um padrão invariável, ele sim o verdadeiro fundamento do
valor.” (p. 157)

“A teoria do valor-trabalho incorporado deve ter em conta o trabalho incorporado no capital. (...) O
valor relativo das mercadorias só dependeria das proporções entre o trabalho total, incluindo
transporte e comercialização. Sempre que dado bem economiza na utilização de trabalho, cai seu valo
r relativo. (...) constatada a heterogeneidade do capital, Ricardo define os conceitos de capital fixo e
capital circulante. A diferença entre eles leva em conta o tempo de retorno financeiro do capital. O
capital circulante é rapidamente consumido e perece, precisando ser reproduzido em intervalos
pequenos. Já o capital fixo é consumido lentamente e atende a muitas rodadas de fabricação. (p.158)

“Ricardo fornece um exemplo que as taxas de lucros podem afetar o valor relativo de doibens (...)
(p.159)

“A relação entre salário e taxa de lucro no longo prazo depende de uma série de suposições que ficarão
explicitadas no modelo de Ricardo. No curto prazo, “não pode haver um aumento no valor do trabalho
sem uma diminuição nos lucros”. Assim, um aumento de salários deprime os lucros e , portanto, a
relação entre valores fica, no exemplo, menos favorável à manufatura. O preço do bem com maior
proporção de capital fixo diminui em relação aos que contém menos dele.” (p.159)

“A teoria do valor de Ricardo revela-se, dessa forma, mais sofisticada do que parecia à primeira vista.
O valor depende do trabalho incorporado, da composição do capital e da duração dele. Por
conseguinte, os valores de troca relativos passam a depender de salário e lucro, (...). Qualquer
mercadoria, em comparação a outras, está sujeita a oscilação em seu valor, mesmo que tenha
empregado uma quantidade fixa de trabalhadores em certo período. “ (p.160)

“Ricardo se pergunta se é possível comparação dos bens com um padrão de valor invariável, o qual
não estaria sujeito a nenhuma das flutuações que afetam os outros bens. Para ele, não existe bem que
possa oferecer esse padrão, mesmo a moeda. (p.160)

Estabelecida a teoria do valor, Ricardo lança-se a examinar diretamente a questão central de como os
rendimentos são distribuídos na sociedade (...)(p.161)

“A teoria da renda da terra é mais sofisticada e merece uma consideração detalhahda. Na hipótese de
livre concorrência, em que a mesma taxa de lucro se dispõe em diferentes propriedades rurais, a renda
da terra deve-se à escassez de terras e à diferenciação das produtividades entre elas. (...) Ricardo
começa definindo a renda da terra como a ‘a porção do produto da terra paga ao seu proprietário pelo
uso das forças originais e indestrutíveis do solo’. (p.163)

“Ricardo é autor da conhecida teoria das vantagens comparativas que demonstra serem vantajosas as
trocas internacionais mesmo numa situação em que determinado país tivesse maior produtividade
que outro na produção de todas as mercadorias. Essa teoria parte da premissa de que os valores nas
trocas internacionais não são determinadas pela quantidade de trabalho dos bens envolvidos, já que
não há mobilidade de mao de obra entre países. Assim, essas mercadorias intercambiadas podem não
representar a mesma quantidade de trabalho.” (p.165)

Mill

Mill preocupou-se em estabelecer explicitamente sua visão metodológica, ao contrário de Ricardo. A


tendência metodológica de que fazia parte considerava os princípios de que parte o raciocínio
econômico verdadeiro a priori.

“Ao formular os fundamentos da ciência econômica, Mill (...) se vale da dualidade entre proposições
normativas e positivas: a ciência descobre as leis que regem os fenômenos independentemente de
quaisquer finalidades; ela lida com fatos e produz assim uma coleção de verdades, estabelecendo “o
que é”. (...) Mill classifica a matéria da Economia como ciência mental, preocupada com motivos
humanos e modos de conduta na vida econômica.” (p.169)

“Mill lança o conceito de homem econômico; ser que existe enquanto se abstraem dele outras paixões
e motivos humanos, exceto o desejo de riqueza e aversão ao trabalho. (...) os homens são guiados
apenas por motivações pecuniárias e predomina neles uma única lei de conduta: a busca da riqueza.”
(p.170)

“[Os requisitos para a produção] (...) são dois: o trabalho e a presença de objetos materiais que passam
por transformação mediante a atividade humana. A natureza fornece materiais, energias que
cooperam ou substituem o trabalho humano e outras forças naturais como a coesão dos corpos e as
reações químicas. Todo o trabalho, em última analise, é feita pela força da natureza. Os homens só
precisam colocar os objetos na posição correta. A essência do trabalho humano é movimentar coisas.
(p.173)

“O trabalho pode ser empregado sobre a natureza com vista na produção direta ou indiretamente. No
segundo caso, Mill fornece seis exemplos: trabalho na produção de matérias primas, como alimentos,
que são destruídas em um único emprego. Trabalho empregado em fazer ferramentas ou implementos
para ajudar o trabalhador (...) trabalho para a proteção da atividade, tais como construções para a
produção (...) trabalho para tornar o produto acessível, como os dos transportadores, (...) trabalhos
que têm por alvo seres humanos, como os de médicos (...) trabalho dos inventores dos processos
industriais (...)” (p.174)

“Mill acredita ser possível separar trabalho produtivo de improdutivo. (...) Smith havia definido
trabalho produtivo como aquele cujo resultado é palpável em algum objeto material. (...) Mill
conceitua trabalho produtivo como o que cria riquezas, entendida não como objetos, mas como algo
produzido que gera utilidades. Há três tipos de utilidades produzidas pelo emprego do trabalho:
utilidades fixas e incorporadas em objetos externos (...) utilidades incorporadas aos seres humanos
pela educação e utilidades não incorporadas a objetos, tais como musica e apresentação teatral, que
geral diretamente utilidades em vez que adequar uma coisa para que proporcione utilidade (...)”. Essas
três categorias de trabalho produzem utilidades, mas não necessariamente riquezas. (p.175)

“Mill também emprega os termos produtivo e improdutivo para o consumo. O consumo improdutivo
em nada contribui para a produção, e o produtivo é destinado a manter e aumentar as forças
produtivas da sociedade.” (p.175)

“O livro III discute a questão das trocas de mercado. Lá aparece a versão miliana da teoria do valor.
Sem romper com a teoria clássica, ele enriquece a compreensão do valor. Mill diz que ele é um conceito
para se discutir a distribuição; como, porém, a distribuição não é regida pela concorrência, mas pelo
uso ou costume, o conceito adquire menor importância. A questão do valor não afeta a produção,
argumenta, mas é fundamental no estágio social da troca generalizada nos mercados. (p.179)

“Ledo engano de Mill, pois anos depois aconteceria a revolução marginalista e, com ela, ampla revisão
das teorias sobre valor. Mill aponta ambiguidades na aplicação do conceito de valor de uso por Smith.
Em Economia, observa, a utilidade de uma coisa significa a capacidade dela de satisfazer a um desejo
ou servir a uma finalidade. O valor de uso entendido nesse sentido é um valor teleológico.” (p.179)

Marx

“A interpretação dessa obra [O capital] requer situá-la no contexto das crenças filosóficas básicas de
Marx e seu enfoque peculiar da ciência econômica. Marx vê a economia de uma perspectiva histórica.
A produção é uma atividade social que assume diferentes ‘modos’, dependendo da organização social
e das técnicas. O capital não é um elemento universal presente em todos os estágios da história; é
trabalho passado acumulado, não só instrumento de produção; é fonte de geração de lucro de uma
classe social no capitalismo. A atividade econômica não se resume apenas na esfera das trocas: há
também a esfera da produção. É na produção em que se evidenciam os papéis sociais, a desigualdade
das classes; enquanto a troca, ou a esfera da circulação, é o sistema da igualdade formal sob o império
da mao invisível de Smith. (p.201)

“Mercadoria é um conceito básico em Marx e apresenta duas características essenciais: valor de uso,
por possuir propriedades que satisfazem a necessidades humanas ou qualidades físicas que geram
utilidade, e valor de troca, por serem as mercadorias depositárias materiais de valor. (...) A mercadoria
apresenta-se como incorporação material do trabalho empregado na produção. É a cristalização de
valores.” (p.201)

“O conceito de trabalho também é central. Marx separa trabalho útil, que cria valor de uso ou utilidade,
de trabalho abstrato, que cria valor de troca (...). O trabalho abstrato é medido pelo tempo do trabalho
socialmente necessário, com grau médio de habilidade e intensidade em dada época. (p.201)

“O trabalho representado nas mercadorias possui duplo caráter: é o trabalho produtor de valor de uso
e é o trabalho expresso no valor. O primeiro pe trabalho útil, trabalho cua utilidade está representada
no valor de uso. A troca sempre ocorre entre mercadorias com valores de uso qualitativamente
diferentes. O trabalho representado no valor é trabalho abstrato: mero dispêndio de força humana de
trabalho, mero dispêndio produtivo de cérebro, músculos, nervos e mao humanos. (...) O trabalho
humano cria valor, porém ele mesmo não é valor (p.203)

“O dinheiro é mercadoria geral que funciona como materialização do trabalho humano abstrato (...) a
forma dinheiro é a manifestação de relações humanas ocultas. Ela fornece à mercadoria não seu valor,
mas sua forma valor específica. (...) (p.207)

“Marx cria as terminologias trabalho simples e trabalho complexo como trabalho simples
potencializado ou multiplicado. Um pequeno quantum do trabalho complexo conteria uma grande
quantidade de trabalho simples. O problema da heterogeneidade do trabalho, já enfrentado por
Ricardo, também fica sem solução em Marx (...) Marx fala em trabalho necessário e trabalho
excedente. O primeiro representa o numero de horas diárias necessárias para pagar o valor do
trabalho, (...) O trabalho excedente é apossado pelo capitalista, representa a mais valia. (p.208)

“Marx identifica dois tipos de capitais: capital constante c e capital variável v. O primeiro representa
os gastos com os meios de produção, e o segundo, gatos com a força de trabalho. O capital total C é
expresso como a soma do capital constante e a variável.

Marginalistas

“[Os precursores dos marginalistas] compartilhavam entre si um núcleo comum de ideias econômicas
espalhadas em diversos países da Europa. Eles compreenderam a importância do ferramental
marginalista, embora tenham percebido sua aplicação somente em relação a um grupo restrito de
problemas. Por conseguinte, deixaram de desenvolvê-ki como instrumento analítico geral. Em suma,
não houve até os anos 1870, uma aplicação mais geral da ideia de variaçãoo na margem às teorias da
utilidade, do custo, da receuta e da produção. A proposta de um sistema teórico marginalista mais
geral estivera em germinação em 1862 e 1873. Ela tinha se desenvolvido nas mentes de três jovens
autores, todos novatos na Economia Política e em três países diferentes: W. S. Jevons na Inglaterra, C.
Menger na Austria e L. Walras na França. (p.262)

“Não se trata propriamente de uma revolução porque suas ideias básicas haviam se desenvolvido
gradualmente ao longo do século XIX e também porque o impacto delas na comunidade acadêmica
não foi imediato. (...) O termo revolução é inapropriado também porque alguns aspectos da antiga
ortodoxia sobreviveram ao ataque revolucionário. (p.262)
“Jevons, Menger e Walras, mesmo compartilhando certos elementos teóricos, pertenciam a diferentes
visões da Economia. Eles estavam inseridos em contextos culturais distintos entre si e permaneciam
ligados a raízes filosóficas inteiramente dispares: o utilitarismo na Inglatera, ainda a filosofia
artistotelica na Austria e o racionalismo cartesiano na França. Três países que possuíam diferentes
níveis de desenvolvimento socioeconômico. (p.263)

“As teorias clássicas ede valor e distribuição pareciam insatisfatórias. Na época da revolução, o
problema da escassez tornou-se central para a opinião publica. Ele passou a representar o que há de
essencialmente econômico no comportamento dos indivíduos e na descrição de um sistema social.
Talvez a ênfase na escassez tenha alguma correlação com a época histórica de crise econômica em que
esse conceito foi alçado no primeiro plano. (p.264)

“Os marginalistas edificaram uma nova visão da ciência econômica, no que diz respeito tanto a
aspectos teóricos quanto a método e natureza do objeto de estudo. A economia clássica está voltada
para a compreensão de relações socioeconômicas entre os homens em sua acapacidade como
produtores. A ênfase nas relações de classe confere o caráter político dessa ciência, daí o nome
“Economia Política”. As relações entre classes sociais é que determinam, em última análise, relações
de mercado. A nova Economia marginalista abstrai as classes sociais e, com elas, as relações sociais,
estando voltada para a relação psicológica entre indivíduos e bens de consumo. Ela julga necessário
separar relações puramente econômicas de relações de natureza política e, na sua ótica, seria possível
para a ciência econômica um trabalho essencialmente analítico sem referencia a questões políticas.
(p.266)

“[A ciência econômica] deixa de ser uma ciência social voltada para a explicação das relações entre
pessoas e passa a ser considerada uma cineica natural que estuda a relação entre pessoas e bens
materiais. (p.266)

“Nos clássicos, também existe a ideia de maximização individual e o principio de substituição. No


entanto, ela é aplicada na determinação de equilíbrios sucessivos ao longo do tempo e não na locação
eficiente de recursos no curto prazo. Ricardo descreve a maximização de lucro como um processo
temporal em que os agentes arbitram entre marcados, transferindo constantemente os recursos de
um setor a outro da Economia. Entretanto, ele não desenvolve os teoremas de alocação ótima dos
recursos no curto prazo e o comentado processo de arbitragem não conduz aos princípios
equimarginais. (p.268)

“A nova roupagem da ciencnai econômica consiste, portanto, em um renovado conjunto de conceitos


e instrumentos que poderiam ser aplicados a vasta gama de casos. Os marginalistas edificam uma
eficaz técnica de análise que poderia ser posta em uso. Temas preciosos para os clássicos, como
acumulação de capital e o consequente crescimento econômico, não os preocupam tanto. (...)
Questões de crescimento econômico aparecem nos trabalhos práticos de Jevons e Walras, mas para
eles não são assuntos da Economia teórica. (p.268)

“O eixo da análise marginalista reside na escolha individual, sua categoria teórica central. A decisão do
consumo, o processo de produção e a repartição dos rendimentos são fenômenos subsidiários
derivados dessa escolha. Na produção, a teoria destaca a alocação dos insumos maximizadora de lucro;
marginal dos fatores à geração do valor. (...) Os três expoentes da Revolução Marginalista enfatizam o
problema da escassez e buscam um refinamento da lógica econômica, fornecendo um tipo de lógica
da esecolha econômica racional. Entretanto, não se pode concluir que esses autores compartilhem o
mesmo método. Pelo contrário, suas posições em muitos outros aspectos são bem diferentes e
subsistem diferenças filosóficas importantes entre eles. (...) Nem todos aceitam o uso da matemática
na Economia. Jevons e Walras aplicam a analise matemática à teoria econômica. (...) Menger substitui
a analise da interdependência de variáveis pela análise da causalidade: é por isso que a matemática,
para ele, não ajuda. Jevons acha que a Economia deve ser testada empiricamente, seus termos
matemáticos referem-se a quantidades mensuráveis; enquanto em Menger há um abismo separando
as ciências teóricas das ciências históricas e estatísticas, a Economia não é testada empiricamente
como não se testa a Geometria.

Jevons e Walras esforçaram-se no desenvolvimento de uma exata teoria dos preços; Menger
desconfiou de qualquer teoria dos preços e enfatizou a barganha, a incerteza e a descontinuidade na
determinação dos preços de mercado. Também há diferenças importantes entre Jevons e Walras.
Apenas o primeiro utiliza a análise psicológica das sensações de prazer e dor, segundo o mesmo
procedimento de Bentham.” (p. 269)

“Em uma avaliação global, a Revolução Marginalista pode ser vista em seus aspectos positivos ou
negativos: de um lado, ela representou um estágio crucial na criação de uma teoria unificada do
comportamento econômico genuinamente cientifica e que poderia, a principio, ser empiricamente
testável. Ela é criticada, porém, como uma desastrosa fuga dos problemas reais pertinentes à
Economia socialmente relevante, em prol de um formalismo estéril. O mais importante a ser
assinalado é que na revolução há uma mudança de estrutura e método na análise econômica.

You might also like