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CURSO
EXTEN SIV O 2017
D ISCIPLINA FILOSOFIA
CAPÍTULO F I L O S O F I A C O N T E M PO R ÂN EA
P R O F E S S OR ES
BENHUR BORTOLOTTO E CLARA TONOLLI
FILOSOFIA CONTEMPOR Â NEA
INTR O DUÇÃO
Olá, pessoal! Vocês devem lembrar que a tensão e o confronto de ideias distintas têm
sido o motor que faz Filosofia avançar desde a idade antiga. Como vimos nas apostilas
anteriores, grandes ideias sobre, por exemplo, a natureza do mundo e do ser (Filosofia Grega) e
a origem do conhecimento (Filosofia Moderna) surgiram de confrontos intelectuais. Cada tese
trazia um novo conjunto de conceitos para compreendermos a realidade do universo, do
homem e do entendimento.
Se você retomar os tópicos da nossa apostila de Filosofia Grega, verá que a tese que
inaugurou a Filosofia e a ciência na cultural ocidental foi o Monismo, de Tales de Mileto. Tales
propôs que havia um princípio único para todas as coisas e este princípio era a água. Depois de
Tales você foi apresentado a outro grego notável, Heráclito, que afirmava o contrário: o mundo
é uma multiplicidade em fluxo. As duas teses abordavam o problemão que era tentar
compreender a natureza do mundo de maneiras muito diferentes, e as soluções que cada uma
dessas abordagens oferecia foram passos importantes para a evolução do pensamento e da
ciência. Mas assim como essas teses traziam muitas soluções para a difícil empreitada de
compreender o mundo, elas traziam alguns problemas também.
A DIALÉTICA DE HEGEL
A FILOSOFIA DIVIDIDA
Hegel foi um pensador bastante influente e, como veremos nesta mesma apostila,suas
ideias são exploradas até hoje. Mas sua obra é controversa. Contém alguns trechos muito
obscuros, de difícil compreensão, e outros cujas propostas parecem muito distantes do que se
poderia aceitar de maneira razoável. Isso fez com que o sistema filosófico hegeliano não
sobrevivesse a seu autor. Teses específicas e soluções inteligentes que Hegel encontrou para
alguns problemas clássicos da Filosofia seguem orientando filósofos, sociólogos e intelectuais
de todo o mundo, mas a unidade do sistema ficou comprometida com a morte de seu criador.
Com isso, a Filosofia do século XIX começou a se desenvolver nos escombros do sistema
Hegeliano e surgiram, no mesmo molde de TESE e ANTÍTESE, dois dos mais influentes filósofos
contemporâneos: Martin Heidegger (1889-1976) e Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Além
desses dois autores, a Filosofia nos séculos XX e XXI foi marcada p elas novas descobertas
científicas, pela Psicanálise e pela Antropologia e também pelo desenvolvimento das Ciências
Sociais.
FI L O SO FI A C O NT I NE NTA L
A Filosofia Continental é assim conhecida por ser a Filosofia que foi predominantemente
praticada no Continente, sobretudo na Alemanha e na França, em oposição à Filosofia Analítica
que se desenvolveu na Ilha (Inglaterra) e mais tarde adquiriu grande influência nos Estados
Unidos.
Heidegger, assim como Husserl, rejeita a separação entre ser e objeto, mas, diferentemente do
precursor, busca, a partir disso, uma investigação ontológica sobre a própria natureza do ser.
Com Sartre este conceito sofre uma radicalização e tanto: para o filósofo, enquanto
outras coisas no mundo têm sua essência dada, o homem precisa descobri -la. Note que você
consegue identificar cadeiras, sejam elas de maneira, de ferro ou de acrílico, pois existe uma
essência da cadeira que faz com que ela seja cadeira e não um outro objeto. Em O Ser e o Nada,
Sartre sugere que, no caso do homem, a “existência precede a essência”, ou seja: o homem a
princípio não é nada, primeiro ele existe e só a partir de ssa existência vai adquirir uma essência
fabricada com suas escolhas de vida.
Sem nenhuma essência que o defina de largada, o homem é livre para realizar seu
projeto e isso o distingue dos outros animais. Sartre diferencia o “ser-em-si” dos animais, que
existem apenas em si mesmos, e o “ser-para-si” do homem, que, dotado de consciência,é capaz
de pôr-se de fora de si mesmo para se analisar.
O “ser-para-si”, que existe e mais nada, livre de essência e, portanto, terrivelmente
angustiado, têm a consciência como uma ferramenta de liberdade, para fazer as escolhas que
definirão sua essência. O que resulta da Filosofia Existencialista de Sartre é o homem
compreendido por sua consciência e liberdade, para quem até mesmo ser passivo é uma
escolha.
Sartre teve uma companheira, com quem viveu e ao lado de quem está sepultado, que
também legou ao mundo uma importante obra filosófica. Simone de Beauvoir (1908-1986)
escreveu ensaios que discorriam sobre a moralidade na perspectiva da liberdade radical
apresentada no pensamento existencialista e também sobre o sentido da vida não como um
dado, mas como projeto contínuo.
FEMINISMO E CONSTRUÇ ÃO SOCIAL
OS BESOUROS DE WITTGENSTEIN
Ludwig Wittgenstein (1889-1951) encarava a Filosofia não como doutrina, mas como
uma atividade que consiste em clarificar o pensamento por meio da lógica. Para ele, qualquer
coisa que pudesse ser dita poderia ser dita de maneira clara. Este era um ataque direto às
sentenças obscuras de muitos filósofos, que não apenas dificultavam a compreensãodostextos,
mas também davam margem a interpretações conflitantes.
O filósofo considerava que nosso acesso ao mundo se dá mediante fatos. Wittgenstein
diferenciava a complexidade dos “fatos” da simplicidade das “coisas”, e situava nossa
experiência do mundo sempre em relação a essa complexidade. Para tentar tornar mais fácil
este pensamento, observe o seguinte exemplo:
Você está agora lendo uma apostila do Me Salva! em um computador, celular ou tablet.
Veja que você pode encarar tanto as palavras “computador”, “celular” e “tablet” como conceitos
que designam objetos – ou coisas –, mas estes conceitos puramente não vão lhe fornecer
nenhuma experiência do mundo. Você precisa ter proposições para poder compreender uma
experiência: o computador está ligado, o telefone está quebrado, o tablet foi um presente da
minha madrinha, etc.
Agora note que essas proposições designam um estado de coisas, ou fatos, que você
pode entender perfeitamente, ainda que não sejam verdade. Se alguém disser “Pedras voamà
noite”, você é perfeitamente capaz de entender, ainda que não seja verdade, mas não é
logicamente impossível que pedras voem. Você pode verificar o capítulo Sentido e Verdade na
Apostila de Filosofia Moderna para refrescar sua memória sobre este tema.
O importante é ter em mente que somos capazes entender certas proposições sobre o
mundo ainda que elas não sejam verdadeiras, desde que elas sejam logicamente possíveis:
“Ratos podem ter 15 metros de altura” ou “A água ferve a 30º” são falsas, mas fazem sentido.
Já proposições como “Quero uma bola quadrada” ou “Está chovendo aqui na minha janela e não
está chovendo aqui na minha janela” sequer fazem sentido porque se contradizem
internamente. Quem assistiu Chaves e viu os episódios em que o personagem Quico aguardava
ansiosamente por sua bola quadrada sabe que o tão esperado presente nunca chegou, porque
é impossível fabricar tal objeto.
A Escola de Frankfurt considerava que a razão pode ser instrumento para dominar e
viam a técnica e a ciência como instrumentos do capital para produzir lucro. Notem que as
colonizações que resultaram em massacre e escravização têm um papel nessa concepção. Nas
Américas, por exemplo, sob o pretexto de se levar a civilização (com sua técnica e ciência) para
sociedades tecnologicamente inferiores, resultou em grandes matanças e escravidão.
Profundamente influenciados por Marx, Freud e Heiddeger, os filósofos da Escola de
Frankfurt, desenvolveram um pensamento que integrava Filosofia, Psicanálise e Sociologia,
debatendo temas como autoritarismo, família, liberdade e cultura de massa.
A Razão Objetiva ou Cognitiva é aquela a qual apelamos para conhecer o mundo e nos
relacionar com as pessoas e com a natureza. Já a Razão Subjetiva ou Instrumental é usada para
modificar a natureza, e visa a produtividade.
Embora as duas formas de razão sejam compatíveis e atuem de maneira conj unta, o
desenvolvimento científico e o capitalismo anabolizaram a razão subjetiva, que se sobrepôs à
razão objetiva. Para os pensadores da Escola de Frankfurt, o homem sofre de uma grande perda
de autonomia nas sociedades com grande desenvolvimento tecnológico.
Uma das principais ideias da escola de Frankfurt é a da Tolerância Repressiva. Segundo
Marcuse, a mudança social seria sufocada por uma avalanche de bens de consumo, negócios e
instigações sexuais. Para ele, esta alienação do homem inserido num sistema capitalistaemque
sua condição de dominado é distraída pela cultura e pelo consumo não é casual, mas sim o
resultado de um sistema capitalista totalitário que procura manter-se vivo. A tolerância com os
discursos dissonantes seria uma forma de deixá-los se dissipar, uma vez que todo o sistema
estava montado para que as vozes marginalizadas não fossem ouvidas.
Com a abertura de alguns arquivos antes confidenciais por parte do governo britânico,
a história do matemático Alan Turing tornou-se célebre. Turing conseguiu decodificar a
comunicação do exército nazista, permitindo que as tropas aliadas soubessem antes quaiseram
os principais alvos dos alemães, o que mudou o quadro da guerra e permitiu a vitória sobre o
exército de Hitler. Os estudos de Turing também foram decisivos para o de senvolvimento do
computador. O fato de que este verdadeiro herói da segunda guerra foi condenado à castração
química por ser homossexual – o que era crime na Inglaterra em sua época – também tornam a
biografia de Turing interessante. Se você quiser saber mais sobre o desenvolvimento da lógica –
principal instrumento da Filosofia Analítica – vale assistir a série The Bletchley Circle (2012). A
série se passa na Inglaterra, poucos anos após o fim da guerra, muito antes, portanto, da
abertura dos arquivos confidenciais. É a história de mulheres que trabalharam na equipe de
Turing, entre elas uma especialista em lógica e padrões, que, tendo que manter segredo sobre
sua atuação na guerra e suas habilidades intelectuais, se unem para resolver uma série de
assassinatos. A vida do próprio Turing virou filme; para conhecê-la melhor, você pode assistirO
jogo da imitação (2015).