A Lição de Salazar, cartaz de uma série editada em 1938 pelo Secretariado de
Propaganda Nacional, a fim de ser comentada pelos professores nas escolas
primárias. A “pedagogia” salazarista, que comemorava os 10 anos de governo do chefe, enaltecia a sua obra e os valores supremos do regime. Neste cartaz, de Mendes Barata, ergue-se num cenário rural, a família típica do salazarismo, uma família remediada, se não pobre, trabalhadora e religiosa. A família representada vai ao encontro de todos os ideais salazaristas, ao apresentar uma casa humilde, asseada, de pessoas pobres, mas felizes. Os pratos estão encostados ordenadamente à parede (organização social); os instrumentos de lavoura arrumados a um canto; a mesa posta com o pão e o vinho sobre uma toalha alva; Deus está presente no altar familiar, instalado no melhor móvel da casa; a Pátriadivisa-se através da janela, no castelo que exibe a bandeira nacional e na própria farda da Mocidade Portuguesa envergada pelo filho (fardado de Lusito). A autoridade surge na figura do chefe de família, que, ao fim de um dia de trabalho, regressa a casa e conta com a alegria da filha (a pequenita que brincava com louças e bonecas para um dia ser uma mãe exemplar, ergue os braços de contentamento) a reverência do filho, que se ergue para o saudar, e a subserviência da esposa, qual mulher ideal, confinada ao lar e à economia doméstica. Através da interpretação destes pormenores, verificamos que o cartaz reflete um lar cristão, patriarcal, rural, tradicional, sem utensílios de modernidade, onde não existe nenhuma referência ao mundo industrial. Pela análise do cartaz da escola no Estado Novo, constatamos que as crianças se encontram separadas por sexos e com brincadeiras adequadas ao sexo em questão. Na ala masculina, possivelmente, ensaiam uma canção sob a tutela do seu professor, ao passo que na ala feminina, as rapariguinhas andam à roda a mando da sua professora.
Outro pormenor interessante prende-se com o vestuário. A farda da Mocidade
Portuguesa que os meninos têm vestido serve para mostrar que esta gente miúda já se vai acostumando ao respeito pelas graúdas coisas: o Estado Novo e o seu Chefe. “ Quem vive? Portugal! Portugal! Portugal! Quem manda? Salazar! Salazar! Salazar!” A estabilização das finanças do país tornou-se a prioridade de Oliveira Salazar. Relativamente em pouco tempo saneia a situação financeira de crise gravíssima, estabilizando o escudo e equilibrando o orçamento. Para obter o equilíbrio orçamental, Salazar cria novos impostos e aumenta as tarifas alfandegárias sobre as importações.
Este cartaz de propaganda do Estado Novo (1938) representa o suposto “milagre”
financeiro, o valor da moeda (escudo), dos títulos do Estado e do ouro.
A desorganização económica que se vivia na Primeira República está caracterizada
pela imagem da impressora de notas, de onde estas esvoaçam desordenadamente.
Em suma, o cartaz representa o contraste entre o caos financeiro da época anterior e
a restauração financeira alcançada por Salazar (barras de ouro, notas e moedas devidamente organizados no Banco de Portugal). Segundo o mesmo, a tempestade dos tempos passados dera origem a um sólido futuro, pois o equilíbrio orçamental deixa de “sugar” as reservas monetárias do Banco de Portugal, permitindo a acumulação de divisas e de ouro. A política de obras públicas é aproveitada pela propaganda salazarista para incutir no povo português a ideia de que o chefe (Salazar) é imprescindível na modernização material do país.
A ilustração destinava-se a chamar a atenção para o contraste entre a secura e a
fertilidade. O cartaz opõe a “escalvados montes/ pinhais reverdecidos”, a “ressequidos campos/ louras searas” e a “intransitáveis caminhos/ magníficas estradas” que cortam Portugal de lés a lés.
Igualmente, demonstra que o desenvolvimento/civilização (estrada de alcatrão, os
postes de luz elétrica e o automóvel) pode nascer na nação sem destruir o tão enaltecido mundo rural. Esta simbiose mundo rural/ tradição/ reformismo – industrialização era possível sem desfigurar o rosto característico da nação portuguesa. Mais um cartaz da série editada pelo Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), em 1938, nele se alude ao alargamento e melhoramento de infra-estruturas portuárias promovidas pelo Estado Novo. Este cartaz evidencia no canto superior esquerdo uma imagem de Portugal no período da Primeira República, em que a árdua faina da pesca e o trabalho manual contrastam com as modernas e mais seguras infraestruturas portuárias e seus apetrechos (gruas e navio de grande porte), representadas na imagem maior.