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ATENÇÃO À SAÚDE DO
TRABALHADOR
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evidencia o conhecimento de que a poeira provoca adoecimento do trabalhador,
e que, portanto, é preciso buscar alternativas para minimizar esse impacto.
Bulhões (1976) também cita Hipócrates, considerado o pai da medicina,
pois ele relaciona as cólicas intestinais dos que trabalhavam com chumbo à
toxicidade deste metal. Cita também Platão, que trata das deformidades ósseas e
musculares dos artesãos, Aristóteles, que descreve a fadiga muscular dos
gladiadores e corredores da Grécia, e Lucrécio, que relata que as condições dos
mineiros das minas de Siracusa eram horríveis e penosas, pois as galerias
possuíam 60 cm de largura por um metro de altura, com uma jornada de trabalho
de dez horas.
A importância de acumularmos conhecimentos sobre os trabalhadores e
suas relações com o trabalho fica determinada quando olhamos para o passado
e identificamos no presente a mesma necessidade – conhecer as relações de
trabalho que cercam os trabalhadores para promover sua saúde, prevenir
doenças relacionadas e recuperar o bem-estar de quem já contraiu algum
problema.
Atualmente, podemos contar com equipes multiprofissionais, as quais, por
meio da interdisciplinaridade, acumulam forças para intervir positivamente no
setor produtivo de empresas, organizações e até mesmo no campo. Essa área
abrange todos os trabalhadores e seus processos de trabalho, com a identificação
de riscos para o desenvolvimento de doenças e acidentes, o que possibilita uma
intervenção imediata no sentido da prevenção.
Com o objetivo de estabelecer o mesmo entendimento entre os alunos
sobre o texto, vamos conceituar os termos de maior relevância para esta matéria:
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a saúde como "um estado
de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de
afecções e enfermidades".
Já trabalhador é todo aquele que, em troca de algum tipo de remuneração,
desenvolve algum trabalho, quer seja de forma independente e por conta própria,
quer seja integrado numa organização seguindo ordens (Nunes, 2015).
CONTEXTUALIZANDO
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Podemos identificar primeiramente o termo medicina do trabalho. Como
o próprio nome diz, trata-se de uma especialidade médica. Surgiu na Inglaterra,
na metade do século XIX, durante a Revolução Industrial. Surge da necessidade
de intervenção no processo então desumano de produção, que era acelerado e
destituído de qualquer condição sanitária. Os trabalhadores adoeciam e até
mesmo faleciam em decorrência das condições de trabalho, trazendo assim
grande prejuízo à produção das indústrias. Então, o Sr. Robert Dernham,
proprietário de uma fábrica têxtil, questionou o Dr. Robert Baker, seu médico
particular, sobre o que poderia ser feito em relação aos problemas relacionados
aos trabalhadores. A resposta do Dr. Robert foi:
A resposta foi a contratação do Dr. Baker pelo Sr. Robert. Nasce assim o
primeiro serviço de Medicina do Trabalho. Eis as principais características deste
serviço à época:
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Assegurar a proteção dos trabalhadores contra todo risco que prejudique a
sua saúde, que possa resultar de seu trabalho ou das condições em que
acontece;
Contribuir para a adaptação física e mental dos trabalhadores, em particular
pela adequação do trabalho e pela sua colocação, em lugares de trabalho
correspondentes a suas aptidões;
Contribuir com o estabelecimento e a manutenção do nível mais elevado
possível de bem-estar físico e mental dos trabalhadores.
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dinheiro foram dispensadas para cobrir as indenizações; sendo assim, a Medicina
do Trabalho precisava de uma reforma na abordagem dos riscos e das doenças
do trabalho. O caminho foi a inserção de outros profissionais que pudessem
acrescentar conhecimento ao médico para uma nova abordagem; surgem assim
os conceitos de multidisciplinaridade e interdisciplinaridade.
O engenheiro de segurança do trabalho trouxe o conceito de higiene do
trabalho para dentro das indústrias e fábricas, buscando uma intervenção sobre
o ambiente laboral. Esta seria a ciência e a arte dedicada a prevenção,
reconhecimento, avaliação e controle dos riscos existentes ou originados dos
locais de trabalho, os quais podem prejudicar a saúde e o bem-estar das pessoas
no trabalho, enquanto considera os possíveis impactos sobre o meio ambiente
geral (Mendes; Dias, 1991). Houve impacto na legislação trabalhista quando da
reforma da CLT, com a inclusão da obrigatoriedade de as empresas manterem
equipes técnicas multiprofissionais nos locais de trabalho. Mais tarde, surge a
atual NR 4 de 1978, que trata da avaliação dos riscos ambientais e limites de
tolerância, além da NR 7 e da NR 15.
E, no entanto, os objetivos da Saúde Ocupacional não foram alcançados.
Tal modelo mantém o referencial da medicina do trabalho, firmado no
mecanicismo; além disso, não concretiza o apelo à interdisciplinaridade, pois as
atividades apenas se justapõem de maneira desarticulada, sendo dificultadas
pelas lutas corporativas. Há limitações ainda na capacitação de recursos
humanos, e no fato de a produção de tecnologia de intervenção e de
conhecimento não acompanhar o ritmo de transformação dos processos de
trabalho. O modelo, apesar de enfocar a questão no coletivo de trabalhadores,
continua a abordá-los como objeto das ações de saúde, prezando pela
manutenção da saúde ocupacional em detrimento da saúde, efetivamente.
Mais recentemente, um importante movimento social ocorreu no mundo.
Foi no final da década de sessenta e início da década de setenta, e provocou
mudanças na área de saúde do trabalhador, a exemplo dos movimentos sindicais
no Brasil. Também trouxe mudanças nas características do trabalho, como a
automação e a informatização; nessa época, doenças novas surgiam e novos
meios de adoecer já não poderiam ser abordados pela Saúde Ocupacional. Os
trabalhadores, agora apoiados pelos sindicatos, começaram a questionar os
riscos a que estavam expostos, recusando-se à exposição a atividades perigosas.
Questionavam também os limites de tolerância. Nessa toada, surgiram mudanças
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importantes, que resultaram no modelo Saúde do Trabalhador, com identificação
mais precisa nos anos 80.
Vejamos as características básicas desse modelo (Mendes; Dias, 1991):
TEMA 1 – HISTÓRICO
Todo trabalho traz consigo uma forma de se relacionar com o ser humano
que o pratica. Essa relação traz impactos para o trabalhador, alguns dos quais
podem ser danosos e provocar doenças – e até mesmo acidentes e morte!
Podemos entender o trabalho não como ato estanque em si mesmo, mas
como processo. Consideramos nesse processo a relação do trabalhador com o
meio ambiente, já que o trabalho é exercido em qualquer ambiente, seja ele
fechado, aberto, na água, deambulando, estacionário ou até mesmo diurno e
noturno. Considerando que o processo de trabalho possui inúmeras variantes que
se relacionam com o trabalhador e podem lhe provocar danos ou adoecimentos,
surgiu com o passar do tempo a necessidade de estudos para o levantamento dos
riscos inerentes a cada atividade. Como vimos, estes estudos foram os embriões
da Saúde Ocupacional no mundo laboral.
Podemos citar, como percursor dessa área, o médico especialista em
Saúde Pública Bernardino Ramazzini, conhecido como o pai da Medicina do
Trabalho. Em 1700, ele publica o livro De Morbis Artificum Diatriba, no qual exorta
a classe médica a inserir, na anamnese, perguntas relacionadas à atividade
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laboral do paciente. Ramazzini descreve neste trabalho cerca de 100 profissões
diferentes, e os riscos específicos de cada uma delas. Ramazzini relata que as
diversas doenças relacionadas ao trabalho se devem à matéria prima utilizada, a
qual pode conter poeiras irritantes, e também à imposição de posições contrárias
ao próprio corpo, exigidas pelo processo de trabalho.
Os estudos de Ramazzini são utilizados pelos profissionais da área até os
dias atuais, pois suas observações clínicas e a descrição de sinas e sintomas são
fidedignos. Muito além disto, Ramazzini condenou a falta de ventilação e as
temperaturas inadequadas. Também aconselhou pausas, exercícios e uma
postura correta para a prevenção da fadiga.
Nos anos de 1763 a 1815, ocorreu na Inglaterra a Revolução Industrial, que
se alastrou por toda a Europa. O desenvolvimento das máquinas, postas a serviço
das indústrias, impuseram um ritmo de trabalho tão intenso ao trabalhador, que
se tornou impossível uma relação de trabalho saudável com elas. Até os dias
atuais, podemos identificar situações em que a máquina supera em muito a
capacidade de trabalho do indivíduo – a exemplo do computador. Quando foi
criado, ele ditava um ritmo que o trabalhador conseguia acompanhar. No entanto,
com o desenvolvimento agressivo das novas tecnologias, a sua capacidade de
produção teve um salto tão grande que aumentou a dependência dos processos
de produção das tecnologias. Os técnicos de informática se sentem obrigados a
cargas horárias muito superiores do que podem suportar, além de processos de
implantação e atualização de sistemas que podem avançar por madrugadas
adentro, acarretando em cansaço e fadiga.
Em 1802, foi implementada na Inglaterra a Lei da Moral dos aprendizes e
em 1833 a Lei das Fábricas. Elas foram influenciadas pela Revolução Francesa,
cujo lema era “liberdade, igualdade e fraternidade”. A Lei das Fábricas evoluiu e
foi ampliada em 1867, passando a exigir proteção contra acidentes, exaustores
para a eliminação de poeiras do ambiente, e um local adequado para as refeições
– fora do ambiente de trabalho. Em 1897, a lei determina que um profissional
médico deveria inspecionar o ambiente das fábricas.
Nos Estados Unidos, em 1895, a enfermeira Ada Mayo Stewart foi
contratada pela Vermont Marble Company. Era a primeira enfermeira do trabalho.
Serviços especializados em acidentes de trabalho foram criados em todo o
mundo, primeiro na França em 1867, e nos Estado Unidos em 1913, com o
Conselho Nacional de Segurança. Em 1919, foi criada a OIT (Organização
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Internacional do Trabalho), com sede em Genebra. Em 1938, surge o Conselho
Interamericano de Segurança, que visa atuar em toda América Latina. No Brasil,
em 1941, foi criada a Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes. Em
maio de 1957 foi criada a Liga Brasileira Contra os Acidentes de Trabalho.
Em 1945, foi criada a ONU (Organização das Nações Unidas), que é
associada à OIT em 1946. A OIT é constituída por representantes dos governos,
representantes dos empregadores e representantes dos trabalhadores. O objetivo
básico é promover a justiça social para melhorar as condições de vida e de
trabalho no mundo.
Em 1948, foi criada a OMS (Organização Mundial de Saúde), também
integrada à ONU, cuja premissa é desenvolver estudos e programas que
ofereçam condições de saúde para trabalhadores de todo o mundo. Observando
as datas descritas acima, podemos concluir que a necessidade de se conhecer
doenças e acidentes relacionados aos processos de trabalho e aos trabalhadores
é sentida desde a Antiguidade, com a finalidade de promover a prevenção. No
entanto, somente no último século é que ocorreu alguma organização em forma
de lei.
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instituições que se transformara na voz dos menos favorecidos, mas agora com a
força da unidade da classe e com organização.
No início do século XIX, os médicos da Faculdade Nacional de Medicina
protestavam contra as péssimas condições de trabalho que as fábricas ofereciam
aos trabalhadores brasileiros. Em 1904, o Congresso Nacional recebeu a proposta
de que fosse concedida, aos trabalhadores acidentados, ajuda financeira em
forma de “benefício previdenciário”, pois o número de trabalhadores acidentados
era enorme.
Sob influência da medicina norte-americana, surge no Brasil a necessidade
de inclusão do ensino da Higiene do Trabalho nos cursos de Sanitaristas, e mais
tarde em todos os cursos de Medicina. Durante a ditadura do Estado Novo, com
Getúlio Vargas, foi promulgada a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho),
importante marco para os trabalhadores brasileiros, que tiveram assim muitos de
seus direitos garantidos. Interessante apontar que ela teve sua validade
incontestada durante todo e século XX; somente no início de 2017 sofreu
alterações, sob a alegação de que estava obsoleta e que trazia prejuízos à relação
empregado-empregadores.
Na década de 50, o Brasil passou por um grande crescimento industrial,
seguido de importante desenvolvimento da Medicina do Trabalho. Este
desenvolvimento fica evidenciado pela criação das instituições Sesp (Serviço
Especializado de Saúde Pública) e Sesi (Serviço Social da Indústria). Também
neste período houve influência americana, com as escolas de Medicina
Preventiva, que passaram a incluir a interdisciplinaridade e a
multiprofissionalidade, então de maior abrangência; a Medicina do Trabalho
passou a ser Saúde Ocupacional. Neste mesmo período também foi criada a
ABMT (Associação Brasileira de Medicina do Trabalho), com sede no Rio de
Janeiro. Como pessoas de destaque nesta área, apontamos Daphnes de Souto,
Talita Tudor, Bernardo Bedikrow e Diogo Pupo Nogueira. Proliferavam os serviços
médicos nas empresas, interessante área de atuação para a medicina.
Já na década de 60, ocorre o Golpe Militar e instauração da Ditadura
(1964). O Ministério do Trabalho interviu de maneira decisiva na Saúde do
Trabalhador, com restrições a sugestões técnicas internacionais da OIT e da
ONU, adaptando-as à nossa realidade. Em 1966, houve a estatização do Seguro
de Acidentes. Grande crescimento industrial foi deflagrado neste período, com a
construção de obras faraônicas (nem sempre terminadas), como a
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Transamazônica, a Ponte Rio Niterói, hidroelétricas e Estádios de Futebol. O ritmo
intenso das construções aumentara os índices de acidentes, acarretando mortes
nos canteiros.
Na década de 70, ainda em governo militar, o número de acidentes era
alarmante. Para controlar a situação, o governo passou a obrigar as indústrias a
contratarem profissionais especializados (médicos do trabalho, auxiliares do
trabalho, enfermeiros do trabalho, técnicos de segurança do trabalho e
engenheiros do trabalho). Surge assim os Serviços Especializados em
Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMTs), os quais são
dimensionados de acordo com o grau de risco das indústrias. Eles já eram
recomendados pela OIT desde 1959, mas somente na década de 70 receberam
atenção, ainda que o foco estivesse na redução dos acidentes, pois eles traziam
grande prejuízo aos cofres públicos. De acordo com o Ministro do Trabalho, em
seu discurso de 1976, o índice de acidentes de 1974 eram alarmantes – 1.796.761
acidentes no ano, totalizando 5.891 acidentes por dia útil de trabalho, estes
resultaram em 3.764 óbitos e 65.373 incapacitados permanentes. O custo
relacionado chegava a oito bilhões de cruzeiros.
Com o objetivo de formar profissionais para a atuação nos SESMTs, o
governo criou a Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e
Medicina do Trabalho), do Ministério do Trabalho. Em 1978, aconteceu a
Conferência Internacional sobre cuidados primários à Saúde. Ela incentivou o
Movimento Sanitário no Brasil, o qual foi o precursor da Reforma Sanitária. Época
de intenso movimentos sindicais, quando os sindicalistas lutaram por melhores
condições de trabalho e por um modelo de atenção à saúde do trabalhador mais
adequado. Surgiu nessa época o Diesat (Departamento Intersindical de Estudos
e Pesquisa em Saúde e dos ambientes de Trabalho), que assessorava os
sindicatos em assuntos técnicos relacionados à Saúde do Trabalhador.
A década do 80 foi marcada pela criação de Programas de Saúde do
Trabalhador. Em 1986, aconteceu a VIII Conferência Nacional de Saúde do
Trabalhador, evento que ficou marcado pela criação dos princípios do SUS. No
mesmo ano, foi convocada a I Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador,
que contou com a participação de sindicalistas, universidades, profissionais da
área e demais cidadãos. Uma visão totalmente nova surgiu na área de Saúde do
Trabalhador. Por fim, a Constituição de 1988 definiu que o Estado seria o
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responsável por garantir condições de saúde para os trabalhadores e povo em
geral.
Na sequência, a década de 90 ficou marcada pela promulgação da Lei
Orgânica da Saúde, 8080, que surge em resposta a lutas sociais por reformas
sanitárias na área da saúde em geral e na Saúde do Trabalhador em específico.
Ela define os princípios e objetivos do SUS, mas também define, no seu artigo 6º,
o conceito de saúde do trabalhador, agora como um conjunto de atividades que
se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e de vigilância
sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores. Visa também
recuperar e reabilitar os trabalhadores submetidos a riscos e agravos advindos
das condições de trabalho.
Em 1994, o Ministério do Trabalho apresentou a Norma Operacional de
Saúde do Trabalhador no SUS (Nost), com o objetivo de promover a implantação
de ações relativas à Saúde do Trabalhador em estados e municípios. Na mesma
época, o governo criou a NR 7, que obriga as empresas a elaborarem um
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) – a NR 9, que cria
o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), a NR 17, que trata da
ergonomia nos postos de trabalhos, e a NR 18, que instituiu o Programa de
Controle e Meio Ambiente de Trabalho (PCMAT), direcionado para a construção
civil.
No início do novo milênio, mais especificamente em 2002, foi criada a Rede
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast), cujo objetivo era
integrar ações e setores de saúde, ensino e pesquisa, e também instituições não
governamentais. Tais ações eram voltadas a vigilância, assistência e promoção
da saúde dos trabalhadores. O Renast atua sob as bases dos CERESTs (Centros
de Referência em Saúde do Trabalhador), de abrangência municipal, regional ou
estadual. Marco importante deste período é a Portaria 777, que dispõe sobre a
notificação compulsória de 11 agravos relacionados ao trabalho.
A partir da segunda década do terceiro milênio, encontramos a prática da
Política Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador, que foi criada sob a
recomendação 155 da OIT, da qual trataremos em tema especifico.
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os segmentos sociais preocupados e ocupados com a saúde do trabalhador
(como governo, sindicatos de trabalhadores e patronais, profissionais da saúde)
ainda é grande a incidência desses males nos países em desenvolvimento.
Arriscamos concordar que ocorrem por conta do capitalismo que impera em todo
o mundo: a produção não pode parar e ainda pior... deve ser realizada no menor
tempo possível, com o mínimo de recursos – menos com mais. Certamente vocês
já conhecem essa premissa dos empresários modernos.
No ano de 2010, aconteceram no Brasil 720 mil acidentes. Destes, 2.500
resultaram em morte e 15.000 pessoas foram afastadas por incapacitação
permanente. Há aí um custo financeiro de R$ 11 bilhões em auxílio-doença e
auxílio-acidente (Filho, 2013).
Politicamente falando, o Brasil vive também o período da Constituição de
1988, que determina que a Saúde do Trabalhador é direito do cidadão e dever do
Estado, sob a responsabilidade do Ministério da Saúde e a partir de preceitos do
SUS. Surge, então, em agosto de 2012, a Portaria n. 1823, como iniciativa do
governo para melhorar e organizar as condições de saúde do trabalhador. Trata-
se da a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Tem como
finalidade (Brasil, 2012):
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II - as ações de planejamento e avaliação com as práticas de saúde; e
III - o conhecimento técnico e os saberes, experiências e subjetividade
dos trabalhadores e destes com as respectivas práticas institucionais.
Parágrafo único. A realização da articulação tratada neste artigo requer
mudanças substanciais nos processos de trabalho em saúde, na
organização da rede de atenção e na atuação multiprofissional e
interdisciplinar, que contemplem a complexidade das relações trabalho-
saúde.
Art. 7º A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora
deverá contemplar todos os trabalhadores priorizando, entretanto,
pessoas e grupos em situação de maior vulnerabilidade, como aqueles
inseridos em atividades ou em relações informais e precárias de
trabalho, em atividades de maior risco para a saúde, submetidos a
formas nocivas de discriminação, ou ao trabalho infantil, na perspectiva
de superar desigualdades sociais e de saúde e de buscar a equidade na
atenção.
Parágrafo único. As pessoas e os grupos vulneráveis de que trata o
"caput" devem ser identificados e definidos a partir da análise da
situação de saúde local e regional e da discussão com a comunidade,
trabalhadores e outros atores sociais de interesse à saúde dos
trabalhadores, considerando-se suas especificidades e singularidades
culturais e sociais.
Art.8º
I - fortalecer a Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) e a
integração com os demais componentes da Vigilância em Saúde, o que
pressupõe:
a) identificação das atividades produtivas da população trabalhadora e
das situações de risco à saúde dos trabalhadores no território;
b) identificação das necessidades, demandas e problemas de saúde dos
trabalhadores no território;
c) realização da análise da situação de saúde dos trabalhadores;
d) intervenção nos processos e ambientes de trabalho;
e) produção de tecnologias de intervenção, de avaliação e de
monitoramento das ações de VISAT;
f) controle e avaliação da qualidade dos serviços e programas de saúde
do trabalhador, nas instituições e empresas públicas e privadas;
g) produção de protocolos, de normas técnicas e regulamentares; e
h) participação dos trabalhadores e suas organizações;
II - promover a saúde e ambientes e processos de trabalhos saudáveis,
o que pressupõe:
a) estabelecimento e adoção de parâmetros protetores da saúde dos
trabalhadores nos ambientes e processos de trabalho;
b) fortalecimento e articulação das ações de vigilância em saúde,
identificando os fatores de risco ambiental, com intervenções tanto nos
ambientes e processos de trabalho, como no entorno, tendo em vista a
qualidade de vida dos trabalhadores e da população circunvizinha;
c) representação do setor saúde/saúde do trabalhador nos fóruns e
instâncias de formulação de políticas setoriais e intersetoriais e às
relativas ao desenvolvimento econômico e social;
d) inserção, acompanhamento e avaliação de indicadores de saúde dos
trabalhadores e das populações circunvizinhas nos processos de
licenciamento e nos estudos de impacto ambiental;
e) inclusão de parâmetros de proteção à saúde dos trabalhadores e de
manutenção de ambientes de trabalho saudáveis nos processos de
concessão de incentivos ao desenvolvimento, nos mecanismos de
fomento e outros incentivos específicos;
f) contribuição na identificação e erradicação de situações análogas ao
trabalho
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escravo;
g) contribuição na identificação e erradicação de trabalho infantil e na
proteção do trabalho do adolescente; e
h) desenvolvimento de estratégias e ações de comunicação de risco e
de educação ambiental e em saúde do trabalhador;
III - garantir a integralidade na atenção à saúde do trabalhador, que
pressupõe a inserção de ações de saúde do trabalhador em todas as
instâncias e pontos da Rede de Atenção à Saúde do SUS, mediante
articulação e construção conjunta de protocolos, linhas de cuidado e
matriciamento da saúde do trabalhador na assistência e nas estratégias
e dispositivos de organização e fluxos da rede, considerando os
seguintes componentes:
a) atenção primária em saúde;
b) atenção especializada, incluindo serviços de reabilitação;
c) atenção pré-hospitalar, de urgência e emergência, e hospitalar;
d) rede de laboratórios e de serviços de apoio diagnóstico;
e) assistência farmacêutica;
f) sistemas de informações em saúde;
g) sistema de regulação do acesso;
h) sistema de planejamento, monitoramento e avaliação das ações;
i) sistema de auditoria; e
j) promoção e vigilância à saúde, incluindo a vigilância à saúde do
trabalhador;
IV - ampliar o entendimento de que de que a saúde do trabalhador deve
ser concebida como uma ação transversal, devendo a relação saúde-
trabalho ser identificada em todos os pontos e instâncias da rede de
atenção
V - incorporar a categoria trabalho como determinante do processo
saúde-doença dos indivíduos e da coletividade, incluindo-a nas análises
de situação de
saúde e nas ações de promoção em saúde;
VI - assegurar que a identificação da situação do trabalho dos usuários
seja considerada nas ações e serviços de saúde do SUS e que a
atividade de trabalho
realizada pelas pessoas, com as suas possíveis consequências para a
saúde, seja considerada no momento de cada intervenção em saúde; e
VII - assegurar a qualidade da atenção à saúde do trabalhador usuário
do SUS.
Financiamento
Art. 18. Além dos recursos dos fundos nacionais, estaduais e municipais
de saúde, fica facultado aos gestores de saúde utilizar outras fontes de
financiamento, como:
I - ressarcimento ao SUS, pelos planos de saúde privados, dos valores
gastos nos serviços prestados aos seus segurados, em decorrência de
acidentes e doenças relacionadas ao trabalho;
II - repasse de recursos advindos de contribuições para a seguridade
social;
III - criação de fundos especiais; e
IV - parcerias com organismos nacionais e internacionais para
financiamento de projetos especiais, de desenvolvimento de tecnologias,
máquinas e equipamentos com maior proteção à saúde dos
trabalhadores, especialmente aqueles voltados a cooperativas, da
economia solidária e pequenos empreendimentos.
Parágrafo único. Além das fontes de financiamento previstas neste
artigo, poderão ser pactuados, nas instâncias intergestores, incentivos
específicos para as ações de promoção e vigilância em saúde do
trabalhador, a serem inseridos nos pisos.
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FINALIZANDO
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desejar trabalhar nesta área) – todos devem se munir do aparato da paciência e
da perseverança, reconhecendo que o trabalhador é digno de atenção.
LEITURA OBRIGATÓRIA
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REFERÊNCIAS
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