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Introdução
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Mestranda em Saúde Mental e Gênero pela Universidade de Brasília UnB – Brasília/DF, Brasil.
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Professora Doutora da Universidade de Brasília UnB – Brasília/DF, Brasil
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Mestre pela Universidade de Brasília UnB – Brasília/DF, Brasil
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Evolução Histórica e Conceitual da Teoria
O percurso da Psicodinâmica do Trabalho pode ser dividido em três fases que se encontram
articuladas e complementares entre si, ao mesmo tempo que são delimitadas por publicações
específicas do seu criador Cristophe Dejours. (MENDES, 2007, p. 19) conforme resumo abaixo:
O Sofrimento
O sofrimento surge quando não é mais possível para o sujeito a negociação com a
realidade imposta pela organização do trabalho, quando há impedimento ao uso da
inteligência prática e subversão do prescrito. Desta forma, este sofrer desempenha
um papel fundamental na articulação saúde/patologia, considerando-se como
saudável o enfrentamento e a articulação das estratégias a fim da transformação
desse sofrimento em algo novo, quase sempre subvertendo a lógica imposta pelo
mecanicismo do trabalho. Porém, nem sempre o sucesso é alcançado na tentativa de
subversão do modo de produção, nesse momento surge a patologia, que é definida
naquele momento como uma espécie de “falha” nos modos de enfrentamento,
fazendo com que o desejo da produção vença o desejo dos sujeitos trabalhadores.
Seguindo essa lógica de precarização do individual, surge a desestruturação do
coletivo, a solidão, o sentimento de desamparo e captura pelo desejo da produção e
favorecimento da exploração.
Seguindo o raciocínio, o sentir e agir do trabalhador uma vez submissos ao desejo de
produção acabam levando à Adaptação e a Exploração, enquanto a articulação entre
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o desejo perverso da organização e o comportamento neurótico dos trabalhadores,
inevitavelmente levará ao adoecimento, ao individualismo e a passividade.
Estratégias de Defesa
Buscando um escudo contra o sofrimento e a precarização do indivíduo, as
estratégias de defesa são construídas por um coletivo que se organiza e, de certa
forma, estabelece uma espécie de regras que serão seguidas por todos os que desejam
essa proteção. Tais estratégias são específicas de diferentes categorias profissionais e
a proteção age em diferentes instancias do indivíduo, ou seja, determinados modos
de pensar, sentir e agir que sejam compensatórios e podem passar pela
racionalização, pela alienação ou podem esgotar-se com o tempo, levando a
precarização ainda maior da Organização do Trabalho. Uma vez que nenhuma
mudança é empreendida, a consequência é o adoecimento.
Ideologia Defensiva
Segundo Dejours (1980), a Ideologia Defensiva se constrói com fins de defesa dos
trabalhadores frente ao sofrimento gerado pelo trabalho e tem por objetivos
principais: mascarar, conter e ocultar ansiedades; específica de grupo social
particular; Luta contra risco e perigos reais; Coletivamente elaborada e alimentada;
Participação de todos os interessados no encobrimento do sofrimento; Substituição
de mecanismos defensivos individuais. É interessante também observar que se um
trabalhador não estiver interessado em ocultar o sofrimento, dentro dessa
organização subjetiva, rapidamente ele é excluído ou levado a se excluir.
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estuda ações sensíveis para modificar o destino do sofrimento ao invés de tentar
suprimi-lo. O Sofrimento e defesas individuais e coletivas, outrora mencionados, já
não são mais adoecimentos em si, mas sim portas para a saúde. São analisados os
seguintes aspectos:
Mobilização Subjetiva
De acordo com Mendes e Morrone (2002), a mobilização subjetiva é o uso dos
recursos psicológicos do trabalhador que permite a ressignificação das situações
geradoras de sofrimento em situações de prazer, sendo central para o trabalhador o
investimento físico e sócio psíquico. O processo de engajamento psíquico é
viabilizado pelo uso da subjetividade e a inteligência prática articulados com o
coletivo de trabalho. Para tanto, é necessário que haja um espaço de discussão sobre
o trabalho. Todo esse processo permite a ressignificação do sofrimento e a
reapropriação do trabalho, além do resgate do sentido do trabalho.
Coletivo de Trabalho
É o suporte proporcionado do coletivo para o individual, no qual geralmente
mobilizam nos indivíduos: solidariedade entre os pares, confiança, cooperação,
espaço público de fala, promessa de equidade quanto ao julgamento do outro. Todos
esses fatores possibilitam que apareça a dinâmica do reconhecimento. Por sua vez, o
que se entende por reconhecimento implica: Valorização do esforço e do sofrimento
investido para a realização do trabalho; Possibilita ao sujeito a construção da sua
identidade; Vivência de prazer e realização de si mesmo; Mobilização política e
condições para construir e modificar a realidade; Negociação diante de múltiplos
interesses e divergências; Processo de retribuição simbólica; Relaciona-se
diretamente com o poder do trabalhador (capacidade de negociar e influir no coletivo
de trabalho).
Poder do Trabalhador
Por sua vez, o Poder do Trabalhador estrutura o processo de interação e
interdependência mútua; é o centro da cooperação humana no trabalho; Ação para
construção ou manutenção do poder; Possibilidade de negociação, pressão,
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apropriação ou rejeição das regras do coletivo de trabalho; Processo por meio do
qual a integridade do trabalhador depende da mobilização de condições políticas
capazes de leva-lo ao reconhecimento no trabalho; Conversão de sofrimento em
prazer.
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COOPERAÇÃO: Construção conjunta e coordenada para produção de ideia, serviço
ou produto com base na confiança e solidariedade como convergência das
contribuições dos trabalhadores que estabelecem entre si relações de
interdependência ao mesmo tempo que estimulam um movimento de valorização e
reconhecimento da marca pessoal e do esforço individual em prol do coletivo.
Psicodinâmica do Trabalho
Pode-se dizer que a da Psicodinâmica do Trabalho é uma ciência aplicada com teoria,
pesquisa e intervenção próprios para a organização do trabalho e tem como objeto, de acordo com
Mendes (2007) “o estudo das relações dinâmicas entre organização do trabalho e subjetivação que
se manifestam nas vivencias de prazer-sofrimento, nas estratégias de ação para mediar contradições
da organização do trabalho, nas patologias sociais, na saúde e no adoecimento” (p. 16). E por isso,
as contribuições da psicodinâmica do trabalho, enquanto referencial teórico-metodológico, são
significativas, pois auxiliam os pesquisadores na condução de estudos sobre patologias, doenças
ocupacionais, violência no trabalho e dá subsídios para novas práticas de gestão de pessoas,
permitindo assim, um novo olhar sobre o homem e seu trabalho.
A partir de todos os conceitos estudados pela Psicodinâmica do Trabalho durante toda a sua
evolução histórica e sempre na tentativa de entender a importância que o trabalho ocupa na vida
psíquica, física e social do sujeito, Dejours (2011) propõe a existência de três poderes principais:
Sem produção, sem fabrico, noutros termos, sem trabalho, a inteligência e a criatividade
humanas não seriam mais do que hipóteses. Estes dois poderes do trabalho – ordenamento
do mundo e objetivação da inteligência são tradicionalmente reconhecidos pelas ciências
humanas. Quanto à revista Travailler esforçar-se-á por dar um lugar de eleição a um outro
poder do trabalho que a tradição não considera senão com circunspecção: o poder de fazer
advir o sujeito. Trabalhar, não é somente produzir ou fabricar, não é apenas transformar o
mundo, é também transformar-se a si próprio, produzir-se a si mesmo. Noutros termos, é
através do trabalho que o sujeito se forma ou se transforma revelando-se a si próprio de tal
forma que depois do trabalho ele já não é completamente o mesmo do que antes de o ter
empreendido. Assim, trabalhar participa num processo de subjetivização ao qual o clínico,
preocupado com a saúde mental, dedica mais atenção ainda do que ao processo de
objetivação. (DEJOURS, 2011, p. 77).
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Transformar o
mundo
Objetivar a Transformar
inteligência o sujeito
Figura 1. Esquema dos três poderes principais do trabalho segundo Christophe Dejours
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central a investigação dos conflitos que surgem do encontro de um sujeito singular, e uma situação
de trabalho cujas características são, em grande parte, fixadas independentemente de sua vontade
(MOLINIER, 2008, p.7).
A autora também dedica parte importante do seu trabalho à relação entre Psicodinâmica do
Trabalho e a relação social entre os sexos, trazendo uma reflexão muito importante na
contemporaneidade: a ideia de que o trabalho é sexuado e, por isso, o sofrimento e o prazer são
igualmente marcados por essa condição, pois, quando do surgimento das teorias acerca da
psicodinâmica do trabalho, as situações vividas pelas mulheres ainda não eram consideradas
(MOLINIER, 2013, p. 253). As relações sociais entre os sexos também remetem a relações
hierárquicas entre os grupos sociais de homens e de mulheres, que, a partir da forma como estas
relações se estabelecem, se estabelece uma constante tensão em torno do trabalho e suas divisões.
Portanto, para a autora, as diferenças constatadas entre as práticas dos homens e das mulheres são
socialmente construídas.
A relação social de sexo é uma tensão que estrutura e perpassa o conjunto do campo social
e fundamenta alguns fenômenos sociais em torno dos quais se constituem grupos e
interesses antagônicos. A relação social de sexo repousa inicialmente em relações
hierárquicas entre o trupo social dos homens e o grupo social das mulheres. Esses grupos
estão em constante tensão em torno de um ponto central: o trabalho e suas divisões.
(MOLINIER, 2013, apud KERGOA, 2001 p. 255).
Pascale Molinier realizou suas investigações acerca do trabalho na tarefa de cuidar em seu
trabalho intitulado “A dimensão do cuidar no trabalho hospitalar: abordagem psicodinâmica do
trabalho de enfermagem e dos serviços de manutenção” publicado no Brasil em 2008, onde
analisou o trabalho implicado no cuidado de pacientes, junto à enfermagem e às chefias de serviços
técnicos. No referido trabalho, foi constatado que “cuidar não repousa apenas na boa vontade ou na
grandeza da alma, mas pressupõe condições organizacionais concretas” (MOLINIER, 2008, p. 6),
ou seja, para além da construção social que liga mulheres aos aspectos de cuidado e humanização,
existe uma organização de trabalho que é alicerçada nos padrões conhecidos, mas que relega
homens e mulheres a lugares diferentes. Além disso, seu trabalho foi pioneiro na França sobre a
teoria do cuidado (care).
Ela afirma que a divisão sexual do trabalho dispõe as mulheres em condição de
desvantagem em relação aos homens, pois o trabalho não é dado nas mesmas condições para um e
outro, nem tão pouco a possibilidade de acesso é dada da mesma maneira para homens e mulheres,
assim, segundo Pascale “o gênero traz consigo uma lógica segundo a qual os homens são
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reconhecidos como homens pelo que fazem, enquanto as mulheres são reconhecidas como mulheres
pelo que são” (MOLINIER, 2013, apud VARIKAS, 2005 p. 259).
Considerações Finais
Referências
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MOLINIER, P. Sujeito e subjetividade: questões metodológicas em psicodinâmica do trabalho.
Rev. Fisioter. Univ., São Paulo, v. 14, n. 1, jan./abr., 2003, p. 43-7. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/rto/article/view/13914/15732>. acesso em: 01/07/2017.
Abstract: The Psychodynamics of Work is directly linked to the experience of the worker in his
labor process. Christophe Dejours, creator of theory, observed from the analysis of
psychopathologies arising from the work that there was much more than an activity being
developed, there was also a subject and his subjectivity involved in the process. From the theory
created by Dejours, the French psychologist Pascale Molinier developed her studies bringing the
gender component to be analyzed in the perspective of the Psychodynamics of Work and showing
through the work of caring, the unequal way in which men and women are relegated to Gender roles
in the world of work. In this way, we can understand several factors that originate the sexual
division of labor and how it is structured in society.
Keywords: Psychodynamics of Female's Work. Sexual Labor Division. Pascale Molinier.
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