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ESTADO DE SANTA CATARINA
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Apelação Cível n. 0900028-97.2017.8.24.0067, de São Miguel do Oeste
Relator: Desembargador Sérgio Roberto Baasch Luz

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por SERGIO ROBERTO BAASCH LUZ, liberado nos autos em 13/03/2019 às 08:56 .
APELAÇÃO CÍVEL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. ATO QUE ATENTA
CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA,
NOTADAMENTE, A PRÁTICA DE ATO VISANDO FIM
PROIBIDO EM LEI OU REGULAMENTO OU DIVERSO
DAQUELE PREVISTO, NA REGRA DE COMPETÊNCIA
ART. 11, CAPUT, I, DA LEI N. 8.429/1992.
IMPUTAÇÃO DE QUE O AGENTE, NA CONDIÇÃO DE
OCUPANTE DO CARGO PÚBLICO DE DEFENSOR
PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, ATUOU EM
AÇÃO DE GUARDA COMPARTILHADA C/C REVISIONAL
DE ALIMENTOS, FORA DE SUAS ATRIBUIÇÕES, EM
FAVOR DE ASSISTIDO QUE NÃO SE ENQUADRAVA
COMO HIPOSSUFICIENTE, MAS EM RAZÃO DE AMIZADE
ÍNTIMA COM ESTE.
RESOLUÇÃO N. 15/2014, DO CONSELHO SUPERIOR
DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA
CATARINA. PRESUNÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA
FINANCEIRA APENAS À PESSOA QUE INTEGRE
ENTIDADE FAMILIAR QUE AUFIRA RENDA NÃO
SUPERIOR A 3 SALÁRIOS MÍNIMOS. PERMISSÃO,
CONTUDO, DESSA AFERIÇÃO POR OUTROS
CRITÉRIOS, POR MEIO DE DECISÃO FUNDAMENTADA.
REGRAMENTO OBSERVADO. IMPOSSIBILIDADE DE
AFASTAR-SE A INTERPRETAÇÃO DADA À NORMA PARA
CONFIGURAR O ASSISTIDO COMO HIPOSSUFICIENTE
FINANCEIRO.
RESOLUÇÃO N. 24/2014, DO CONSELHO SUPERIOR
DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SANTA
CATARINA. NORMA QUE NÃO PREVÊ A ATUAÇÃO DO
OFÍCIO DO APELADO NA CAUSA PATROCINADA PELA
INSTITUIÇÃO. ROL QUE NÃO PODE SER TRATADO
COMO DELIMITAÇÃO ABSOLUTA DE ATRIBUIÇÃO,
ESPECIALMENTE PORQUE VISA, COMO
EXPRESSAMENTE CONSIGNADO, APENAS A
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OTIMIZAÇÃO DOS TRABALHOS. POSSIBILIDADE DE
ATUAÇÃO EM OUTRAS CAUSAS VISANDO A DEFESA,

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DE FORMA INTEGRAL E GRATUITA, AOS
NECESSITADOS, NA FORMA DO ART. 134 DA CRFB.
CORREGEDORIA-GERAL DA DEFENSORIA PÚBLICA
QUE, EM SEDE DE AVERIGUAÇÃO PRELIMINAR,
CONCLUIU PELA INEXISTÊNCIA DE QUALQUER
INFRAÇÃO FUNCIONAL, PORQUE A RESOLUÇÃO N.
24/2014 PREVÊ A POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO DO
DEFENSOR PÚBLICO FORA DAS ATRIBUIÇÕES NELA
PREVISTAS, E PORQUE O ATENDIMENTO DA
DEFENSORIA PÚBLICA TAMBÉM É PERMITIDA NOS
CASOS EM QUE A VULNERABILIDADE NÃO É
PRESUMIDA, MAS SE FAZ PRESENTE.
ATUAÇÃO DO DEFENSOR PÚBLICO EM RAZÃO
AMIZADE ÍNTIMA COM O ASSISTIDO. NÃO
CONFIGURAÇÃO.
ATOS DESCRITOS E COMPROVADOS QUE NÃO SE
MOSTRAM IRREGULARES OU PRATICADOS COM
DESVIO DE FINALIDADE.
RECURSO DESPROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.


0900028-97.2017.8.24.0067, da comarca de São Miguel do Oeste (2ª Vara Cível)
em que é/são Apelante(s) Ministério Público do Estado de Santa Catarina e
Apelado(s) R. S. S. .

A Segunda Câmara de Direito Público decidiu, por votação


unânime, negar provimento ao recurso. Custas na forma da lei.
O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo
Excelentíssimo Senhor Desembargador Francisco Oliveira Neto, e dele
participaram os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Cid Goulart e João
Henrique Blasi. Funcionou como Representante do Ministério Público o
Excelentíssimo Senhor Murillo Casemiro Mattos.

Gabinete Desembargador Sérgio Roberto Baasch Luz


Apelação Cível n. 0900028-97.2017.8.24.0067

Relator
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Florianópolis, 12 de março de 2019.


ESTADO DE SANTA CATARINA

Desembargador Sérgio Roberto Baasch Luz


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RELATÓRIO

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Trata-se de recurso de apelação cível interposto pelo Ministério
Público do Estado de Santa Catarina contra a sentença de improcedência do
pedido contido na ação civil pública por ato de improbidade administrativa
ajuizada em face de R. S. S., na qual se imputa a este, na condição de Defensor
Público, atuação em favor de assistido que não se enquadrava como
hipossuficiente, mas em razão de amizade íntima com este.
O recorrente alega que o apelado atuou, na condição de Defensor
Público, em ação de guarda compartilhada cumulada com revisional de alimentos
ajuizada por M. A. F., prestando assistência para pessoa que possuía condições
materiais de contratar advogado, ou seja, fora do limite de renda estabelecido na
Resolução CSDPESC n. 015, e em demanda cível que a Defensoria Pública de
São Miguel do Oeste não atual por força da Resolução CSDPESC n. 024. No
ponto, sustenta que, quando o assistido perceber mais de três salários mínimos
mensais, o regulamento permite a análise da hipossuficiência no caso concreto,
mas somente se estiver presente a vulnerabilidade social daquele que busca o
serviço da Defensoria, o que não ocorreu no presente caso. Assevera, ainda,
que o apelado tinha pleno conhecimento de que o assistido não era
hipossuficiente (nem mesmo relativamente) e não preenchia os requisitos legais
para ser assistido pela Defensoria Pública e, mesmo assim, optou por representá-
lo em Juízo.
Esclarece, ainda, que a atuação do apelado não foi pautada por
uma efetiva exclusão ou vulnerabilidade social do atendido (que inclusive admitiu
nessa Promotoria e em Juízo que teria condições de arcar com as despesas do
processo, o que, ademais, era de conhecimento do demandado), mas sim por
uma proximidade e vínculo de amizade com ele, em claro desvirtuamento dos
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objetivos da instituição integrada pelo apelado. Diante disso, entende que o
demandado utilizou-se da coisa pública para beneficiar particular, em detrimento

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do interesse público, prestando assistência a pessoa que possuía recursos
materiais suficientes para contratar advogado.
Contrarrazões apresentadas às fls. 559-606.
A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer exarado pelo
Exmo. Sr. Dr. Carlos Alberto de Carvalho Rosa, manifestou-se pelo
desprovimento do recurso (fls. 616-625).
Este é o relatório.

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VOTO

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O Ministério Público, ora recorrente, afirma que R. S. S., na
condição de ocupante do cargo público de Defensor Público do Estado de Santa
Catarina, atuou, fora de suas atribuições, em favor de assistido que não se
enquadrava como hipossuficiente, mas em razão de amizade íntima com este.
Argumenta que tal ato configura improbidade Administrativa que
atenta contra os princípios da Administração Pública, notadamente pela prática
de ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto,
na regra de competência, na forma da tipificação prevista no art. 11, caput, I, da
Lei n. 8.429/1992, verbis:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os


princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e
notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso
daquele previsto, na regra de competência;
[...].

Pois bem, a Resolução n. 15/2014, do Conselho Superior da


Defensoria Pública do Estado de Santa Cataria, que "regulamenta as hipóteses
de denegação de atendimento pela Defensoria Pública, concernentes a
interesses individuais", ao tratar da denegação do benefício em razão da
situação econômico-financeira, considera como necessitada a pessoa que
integre entidade familiar que aufira renda não superior a 3 salários mínimos:

Art. 2º. Presume-se necessitada a pessoa natural integrante de entidade


familiar que atenda, cumulativamente, as seguintes condições:
I - aufira renda familiar mensal não superior a três salários mínimos
federais.
[...]

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§ 12. Os critérios estabelecidos neste artigo não excluem a aferição da
hipossuficiência no caso concreto, através de manifestação devidamente
fundamentada.

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§ 13. O Defensor Público deve verificar, em cada situação, se há
elementos que permitam concluir não ter acesso o usuário, mesmo que
transitoriamente, aos recursos financeiros próprios ou da família, hipótese em
que deverá ser prestado o atendimento, notadamente nos casos de violência
doméstica e familiar contra a mulher, pessoas idosas ou com deficiência e
transtorno global de desenvolvimento e outras categorias de pessoas
socialmente vulneráveis.

Contudo, a norma permite que, para efeitos de aferição da


hipossuficiência, outros critérios devem ser analisados, por meio de decisão
fundamentada.
No caso vertente, em razão do beneficiário receber renda superior a
3 salários mínimos, foi instaurado perante a Defensoria Pública processo
administrativo no qual, por decisão fundamentada, o apelado deferiu o
requerimento de atendimento ao assistido. Nessa decisão, deixou-se assentado
quais eram as razões para a concessão, valendo transcrever a seguinte parte:

[...] considerando todas as suas despesas mensais, corroboradas ao seu


rendimento, conclui-se que o assistido é juridicamente hipossuficiente, nos
termo do art. 2º, § 12, da Resolução 15/2014 da DPE/SC.
[...] se considerarmos apenas os gastos com despesas importantes, [...], a
renda líquida do assistido seria de arproximadamente R$ 1.600,00.
[...] (fls. 156-158).

Ressalta-se, por oportuno, que o assistido exercia a função de


agente prisional, com rendimentos líquidos de R$ 3.808,07 (fl. 61), e, no
processo administrativo, considerou-se que a contratação de um advogado
particular demandaria R$ 2.500,00, de forma que não se pode afastar a
interpretação dada à norma para configurar o assistido como hipossuficiente
financeiro.

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Noutro ângulo, a Resolução n. 24/2014, também do Conselho
Superior da Defensoria Pública do Estado de Santa Cataria, "visando a

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otimização dos trabalhos da sede, núcleos e unidades", fixou atribuições dos
Ofícios da Defensoria, cabendo ao 1º Ofício do Núcleo Regional de São Miguel
do Oeste, exercer as funções institucionais "perante a Vara Criminal, com
exceção do juizado especial criminal; 1ª Vara Cível, exclusivamente em atos
infracionais e 2ª Vara Cível, em todos os feitos relativos às ações de
medicamentos, exames, cirurgias e similares (fl. 246).
Segundo essa normativa, a ação de guarda c/c alimentos movida
em favor do assistido não está abrangida dentre as atribuições do 1º Ofício do
Núcleo Regional de São Miguel do Oeste, no qual o apelado está lotado.
Não obstante, tenho que esse rol de não pode ser tratado como
delimitação absoluta de atribuição, especialmente porque visa, como
expressamente consignado, apenas a otimização dos trabalhos.
Nesse rumo, nada impede que seja feita defesa em outras causas
visando a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos
individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma
do art. 134 da CRFB.
Não se verifica, portanto, atuação ilegal da Defensoria Pública, e
por consequência, do apelado, na causa cível em favor do assistido.
Sabe-se, porém, que mesmo em casos em que o ato praticado seja
formalmente lícito, pode haver configuração de improbidade administrativa caso
seja motivado por finalidade diversa daquela prevista em lei e no interesse
público.
Contudo, no caso, alegada amizade íntima entre o apelado e o
assistido, o qual segundo o Ministério Público de primeiro grau seria a razão do
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deferimento do pedido de assistência jurídica, não restou configurada.
A respeito, a questão foi muito bem equacionada pelo ilustre

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Procurador de Justiça Carlos Alberto de Carvalho Rosa:

[...] naturalmente que estes se conhecem, primeiro por residirem


numa cidade relativamente pequena, e segundo pela relação de
trabalho, pois um deles é Defensor Público atuante primordialmente na
área criminal e o outro é agente prisional. Acredita-se, assim, que
frequentemente estão nos mesmos ambientes além de possuírem outros
conhecimentos em comum.
No entanto, este coleguismo profissional não reflete
necessariamente a amizade íntima que foi relatada na inicial, devendo-se
analisar a prova dos autos com vagar para aferir qual a relação real entre
as partes.
No ponto, o depoimento de Márcio Adriano Françozi colacionado às
fls. 521-524 da sentença é crível, e demonstra o que possivelmente
ocorreu na ocasião do ajuizamento da ação com o auxílio da Defensoria
Pública, pois bem descreve como se passa o atendimento padrão que é
disponibilizado pelo órgão aos assistidos, o que revela que este se
submeteu a triagem da instituição sem qualquer privilégio em razão de
conhecer o Defensor Rodrigo.
A par deste depoimento, se vê que o assistido foi atendimento na
maioria das vezes por funcionárias da Defensoria, sem qualquer contato
direto om o Defensor, o que é perfeitamente normal, dadas as atividades
deste servidor, que exigem seu deslocamento constante, não decorrendo
daí qualquer elemento que evidencie favorecimento ao assistido. Outra
situação levantada foi o fato do apelado ter participado de uma feijoada
na casa do assistido em decorrência do aniversário de sua cunhada.
Sobre essa ocorrência, acredita-se que a participação em um único
evento pois não há prova de outros fatos ão configura uma relação de
amizade que possa ter concorrido para qualquer influência no patrocínio
da causa.
Isto porque restou esclarecido nos autos que o convite para
participar da feijoada foi estendido ao Defensor apenas por estar nas
dependências da administração da UPA quando o assistido e amigos
conversavam sobre o assunto. Aqui, novamente, acredita-se que por
frequentarem os mesmos ambientes a trabalho, Defensor e assistido

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possam ter amigos em comum e acabam por interagir, inclusive também
por isso devem ir ao mesmo "pub" na cidade e terem se conectado via

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facebook, sem que com isso tenham firmado uma relação íntima de
amizade (fls. 623-624).

Assim, não além de não se verificar irregularidade formal no


deferimento do pedido de assistência jurídica, também não se pode afirma que
ela se deu com desvio de finalidade.
Relevante registrar que a Corregedoria-Geral da Defensoria
Pública, em sede de Averiguação Preliminar sobre os fatos aqui discutidos,
concluiu que o apelado não praticou qualquer infração funcional. O Corregedor-
Geral da Instituição, para amparar essa decisão, foi incisivo que a Resolução n.
24/2014 prevê a possibilidade de atuação do Defensor Público fora das
atribuições nela previstas, e que a atuação da Defensoria Pública também é
permitida nos casos em que a vulnerabilidade não é presumida, mas se faz
presente (fls. 386-397).
Por fim, porque aqui se discute o procedimento adotado no
desempenho do cargo de Defensor Público na Comarca de São Miguel do
Oeste, transcreve-se ofício encaminhado pelo Juiz da Vara Criminal, e os então
titulares da 1ª Vara Cível e da 2ª Vara Cível, por meio do qual promovem elogios
profissionais ao apelado na atuação naquela unidade:

Vimos por meio deste enaltecer o brilhante trabalho desempenhado pelo


Dr. [...], defensor público coordenador do núcleo da defensoria pública de São
Miguel do Oeste, que, sozinho, tem se desdobrado para atender com
muitíssima qualidade, a demanda das três varas que compõem a Comarca de
São Miguel do Oeste. Além de registrar não só a qualidade técnica do trabalho
desempenhado pelo Defensor, enaltece-se também o seu comportamento
tranquilo, sereno e prestativo com magistrados, advogados, membros do
Ministério Público e sua Dedicação no atendimento aos assistidos da
Defensoria Pública nesta Comarca. Referido profissional desempenha com

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presteza as funções institucionais da Defensoria Pública e demonstra seu
compromisso com a ética e com o andamento célere dos processos, sem abrir
mão da ampla defesa inerente à sua atividade. Solicita-se, assim, seja

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registrado na ficha funcional do Defensor Público Dr. [...] os elogios e
agradecimentos destes magistrados (fl. 284).

Não se verifica, na conduta comprovada nos autos, que o apelado


tenha cometido ato de improbidade administrativa.
Tenho reiteradamente repetido, com esteio em reflexão do
eminente Des. João Henrique Blasi que "na ambiência de ação por improbidade
administrativa, cujas sanções são sabidamente severas, não sobeja espaço para
condenações fundadas em indícios ou presunções, daí exigir-se razoável
evidenciação da prática de ato ímprobo, afinal de contas, nem toda irregularidade
administrativa pode ser classificada como tal, mesmo quando aparentemente o
indigitado ato enquadre-se na moldura da tipificação genérica do art. 11 da Lei n.
8.429/92" (AC n. 2010.028096-0, de Lages, j. 27/9/2011).
Nesse contexto, a manutenção da sentença de improcedência é
medida que se impõe.
Sem honorários recursais, uma vez que não houve condenação em
verba advocatícia em primeiro grau, e "a majoração dos honorários advocatícios,
a título de sucumbência recursal, pressupõe que tenha havido a fixação de
honorários, ou seja, só é cabível nos feitos em que for admissível a condenação
em honorários na instância a quo" (AgInt no REsp 1679832 / RS, rel. Min. Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma, j. 7/12/2017).
Pelo exposto, nego provimento ao recurso.
Este é o voto.

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