You are on page 1of 8

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 12.692 - SC (2000/0136914-8)

RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA


RECORRENTE : SILESIA DA SILVA OLIVEIRA E OUTRO
ADVOGADO : PAULO LEONARDO MEDEIROS VIEIRA E OUTRO
T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : SECRETÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO DE
SANTA CATARINA
RECORRIDO : ESTADO DE SANTA CATARINA
PROCURADOR : VALQUÍRIA MARIA ZIMMER STRAUB E OUTRO(S)
EMENTA

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. PROGRAMA


DE DEMISSÃO VOLUNTÁRIA. NOVO INGRESSO NO SERVIÇO
PÚBLICO. DESAPARECIMENTO DO VÍNCULO ANTERIOR.
INEXISTÊNCIA DE DIREITO AO RECEBIMENTO DE VANTAGENS E
GRATIFICAÇÕES PERCEBIDAS QUANDO DO PRIMEIRO VÍNCULO.
1. O art. 2º da Lei Complementar Estadual nº 36/91 expressamente
estabelece que é vedada aos servidores do estado o cômputo em dobro da
licença prêmio concedida e não gozada para efeito de aposentadoria. Nova
admissão no serviço público não dá direito adquirido a permanecer
usufruindo de tal licença prêmio, porquanto o servidor se enquadrou às
novas normas, dentre as quais o referido art. 2º, que o regiam, pois que novo
vínculo se estabeleceu.
2. A demissão voluntária equipara-se a uma exoneração, provocando a
extinção do vínculo estatutário do servidor público e fazendo desaparecer
toda e qualquer vantagem adquirida pelo servidor. Nesse caso, eventual
novo ingresso no serviço público por certo não dá ao servidor o direito de
permanecer recebendo as gratificações e vantagens adquiridas, porquanto
estas foram desapareceram junto com o vínculo que este tinha com a
administração.
3. Recurso ordinário improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça: "A Turma, por
unanimidade, negou provimento ao recurso ordinário em mandado de segurança, nos
termos do voto da Sra. Ministra Relatora." Os Srs. Ministros Carlos Fernando Mathias
(Juiz convocado do TRF 1ª Região), Nilson Naves e Paulo Gallotti votaram com a Sra.
Ministra Relatora.

Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Hamilton Carvalhido.


Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves.
Documento: 740180 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/12/2007 Página 1 de 8
Superior Tribunal de Justiça

Brasília, 22 de novembro de 2007 (Data do Julgamento)

Ministra Maria Thereza de Assis Moura


Relatora

Documento: 740180 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/12/2007 Página 2 de 8
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 12.692 - SC (2000/0136914-8)

RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA


RECORRENTE : SILESIA DA SILVA OLIVEIRA E OUTRO
ADVOGADO : PAULO LEONARDO MEDEIROS VIEIRA E OUTRO
T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : SECRETÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO DE
SANTA CATARINA
RECORRIDO : ESTADO DE SANTA CATARINA
PROCURADOR : VALQUÍRIA MARIA ZIMMER STRAUB E OUTRO(S)

RELATÓRIO

MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relatora):

Trata-se recurso ordinário, interposto por Silesia da Silva Oliveira e Tânia


Adelaide de Carvalho Fogaça, contra acórdão proferido pelo egrégio Tribunal de Justiça de
Santa Catarina, que restou assim ementado:

"MANDADO DE SEGURANÇA - IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA


DO PEDIDO - POSTULAÇÃO VIÁVEL NO ORDENAMENTO
VIGENTE - CASSAÇÃO DA LIMINAR E INOCORRÊNCIA DE
DIREITO LÍQUIDO E CERTO - ANÁLISE PROTRAÍDA AO MÉRITO -
PREFACIAIS REPELIDAS.
SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS - ADESÃO A DEMISSÃO
INCENTIVADA (LEI Nº 8.473/94) E POSTERIOR RETORNO AO
EXERCÍCIO DA FUNÇÃO PÚBLICA, MEDIANTE CONCURSO -
BENEFÍCIOS PECUNIÁRIOS DECORRENTES DO PRIMEIRO
INTERSTÍCIO - ADVENTO DA LEI COMPLEMENTAR Nº 36/91 -
GRATIFICAÇÃO COMPLEMENTAR DE VENCIMENTO - VERBA
EXTIRPADA - APOSENTADORIA - CÔMPUTO, EM DOBRO, DE
LICENÇAS-PRÊMIOS NÃO GOZADAS ANTES DA EXONERAÇÃO
VOLUNTÁRIA - VEDAÇÃO - ATOS REVESTIDOS DE SUPEDÂNEO
LEGAL - PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO - OBSERVÂNCIA
(ART. 5º, INCISO LV DA CF/88) - AUSÊNCIA DE ABUSO DE PODER
E DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO (ARTIGO 1º DA LEI Nº 1.533, DE
31.12.51) - DENEGAÇÃO DA ORDEM."

Consta dos autos, que as recorrentes impetraram mandado de segurança,


contra ato do Secretário Estadual de Administração, que determinou o desconto na folha
de pagamento da primeira recorrente referente a valores por ela recebidos indevidamente a
título de vantagem nominalmente identificável e gratificação complementar de
vencimentos, bem como anulou o ato de aposentadoria da segunda recorrente, em razão do
cômputo equivocado de licenças-prêmio não-gozadas.
O Tribunal de Justiça Catarinense denegou a impetração, sobretudo porque
as recorrentes aderiram a plano de demissão voluntária e, no retorno ao serviço público,

Documento: 740180 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/12/2007 Página 3 de 8
Superior Tribunal de Justiça
via concurso, já estava em vigor a Lei Complementar Estadual nº 36/91, que
impossibilitava o cômputo de licença prêmio não-gozada. Entendeu, ainda, que, em
virtude da demissão voluntária, as recorrentes abdicaram de todos os direitos que tinham
auferido anteriormente.
No ordinário, as recorrentes alegam que todas as vantagens por elas
adquiridas são de trato sucessivo e aderem à pessoa e não ao cargo, passando a ser
computadas para todos os efeitos legais, nos termos da Lei Estadual nº 6.745/85, razão
pela qual não poderiam ser suprimidas.
Em contra-razões, o recorrido pugna pela manutenção do aresto combatido.
Ouvido o Ministério Público, este opinou pelo improvimento do recurso.
É o relatório.

Documento: 740180 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/12/2007 Página 4 de 8
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 12.692 - SC (2000/0136914-8)

EMENTA

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. PROGRAMA


DE DEMISSÃO VOLUNTÁRIA. NOVO INGRESSO NO SERVIÇO
PÚBLICO. DESAPARECIMENTO DO VÍNCULO ANTERIOR.
INEXISTÊNCIA DE DIREITO AO RECEBIMENTO DE VANTAGENS E
GRATIFICAÇÕES PERCEBIDAS QUANDO DO PRIMEIRO VÍNCULO.
1. O art. 2º da Lei Complementar Estadual nº 36/91 expressamente
estabelece que é vedada aos servidores do estado o cômputo em dobro da
licença prêmio concedida e não gozada para efeito de aposentadoria. Nova
admissão no serviço público não dá direito adquirido a permanecer
usufruindo de tal licença prêmio, porquanto o servidor se enquadrou às
novas normas, dentre as quais o referido art. 2º, que o regiam, pois que novo
vínculo se estabeleceu.
2. A demissão voluntária equipara-se a uma exoneração, provocando a
extinção do vínculo estatutário do servidor público e fazendo desaparecer
toda e qualquer vantagem adquirida pelo servidor. Nesse caso, eventual
novo ingresso no serviço público por certo não dá ao servidor o direito de
permanecer recebendo as gratificações e vantagens adquiridas, porquanto
estas foram desapareceram junto com o vínculo que este tinha com a
administração.
3. Recurso ordinário improvido.

VOTO

MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relatora):

A pretensão das recorrentes no presente recurso ordinário é ver


restabelecido, no tocante à Silesia da Silva Oliveira, o percebimento da vantagem
nominalmente identificável e gratificação complementar de vencimentos, e com relação à
Tânia Adelaide de Carvalho Fogaça, a aposentadoria cassada em razão do cômputo
equivocado de licenças-prêmio não-gozadas.
Portanto, em resumo, a questão posta no recurso ordinário é saber se as
recorrentes, de forma geral, têm direito à percepção de vantagens adquiridas durante a
primeira prestação de serviço público por elas efetivadas.
Para tanto, imperiosa uma análise da legislação de regência da época e dos
fatos ocorridos.
O desiderato das recorrentes em se submeter ao programa de demissão
voluntária se deu em razão da edição da Lei Estadual nº 8.473/91. Estas levaram a cabo o
seu desejo em 01/03/92 e 09/10/92, desvinculando-se da administração pública.
Posteriormente, em 23/02/94 e 05/05/94 novamente ingressaram no serviço,
por meio de concurso público, quando já em vigor a Lei Complementar Estadual nº 36/91.
Documento: 740180 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/12/2007 Página 5 de 8
Superior Tribunal de Justiça
Destarte, o novo vínculo laboral com a administração foi regido por todas as
normas vigentes à época, inclusive a referida lei complementar. Tal norma assim dispõe
em seus arts. 2º e 4º:

Art. 2º É vedada aos servidores civis e militares da administração


direta, autárquica e fundacional do Estado a conversão em dinheiro, parcial
ou total, da licença prêmio concedido e não gozada, bem como o seu
cômputo em dobro para efeito de aposentadoria.
§ 1º Para efeito de concessão de licença-prêmio, somente será
computado o tempo de serviço prestado ao Estado na administração direta,
autárquica e fundacional.
§ 2º O servidor que, com base na legislação anterior, fez jus à licença,
poderá requerer, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, a contar da data da
contagem em dobro dos períodos já vencidos.

Art. 4º Os valores percebidos por servidor da administração direta,


indireta ou fundacional do Estado, no exercício de cargo em comissão ou
função de confiança, não serão incorporados aos vencimentos do cargo
efetivo.

Vê-se que o art. 2º expressamente estabelece que é vedada aos servidores do


estado o cômputo em dobro da licença prêmio concedida e não gozada para efeito de
aposentadoria. Portanto, no tocante à Tânia Adelaide de Carvalho Fogaça, o pleito dela no
sentido de que fosse restabelecida a sua aposentadoria encontra óbice em texto expresso de
lei, haja vista que a aposentadoria foi concedida com base em licença prêmio computada
em dobro.
Nem se diga que ela tinha direito adquirido à permanecer contando a sua
licença prêmio em dobro, porquanto com sua nova admissão no serviço público ela se
enquadrou às novas normas que regiam os servidores públicos, pois que novo vínculo se
estabeleceu. Dentre estas novas normas estava exatamente o art. 2º da citada lei
complementar que vedava o cômputo pretendido pela segunda recorrente. Dessa forma, o
ato da administração de cancelamento de sua aposentadoria se deu dentro dos limites
legais.
Quanto à primeira recorrente, Silesia da Silva Oliveira, também ela não faz
jus ao que pretende nesse recurso ordinário.
Com efeito, a vantagem nominalmente identificável e a gratificação
complementar suprimidas pela administração pública não podiam mesmo ser percebidas
pela recorrente.
A demissão voluntária a que se submeteu a recorrente equipara-se a uma
exoneração. Assim, a referida demissão provoca "a extinção do vínculo estatutário do
servidor público, ocasionando a vacância do cargo" (José dos Santos Carvalho Filho,
editora Lumen Juris, 13ª edição, p. 515). Portanto, toda e qualquer vantagem adquirida
Documento: 740180 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/12/2007 Página 6 de 8
Superior Tribunal de Justiça
pela servidora quando de seu primeiro vínculo desparece por ocasião da demissão
voluntária. Nesse caso, eventual novo ingresso no serviço público por certo não dá ao
servidor o direito de permanecer recebendo as gratificações e vantagens adquiridas,
porquanto estas desapareceram junto com o vínculo que este tinha com a administração.
Mutatis mutandis , a Sexta Turma já decidiu que o servidor que adere a
programa de demissão voluntária perde o direito a aposentadoria estatutária. Nesse
sentido:

"ADMINISTRATIVO. PLANO DE DEMISSÃO VOLUNTÁRIA.


ADESÃO. APOSENTADORIA. SERVIDOR PÚBLICO. DIREITO.
INEXISTÊNCIA.
1 - O servidor que adere a plano de demissão voluntária, deixando,
portanto, de pertencer aos quadros da Administração Pública, não tem o
direito de requerer a aposentadoria estatutária.
2 - Recurso improvido."

No bojo do voto, assim se pronunciou o ilustre relator Ministro Paulo


Gallotti:

"A questão, assim, se desloca do campo do direito adquirido para a


opção feita pela impetrante em deixar de exercê-lo, manifestação de vontade
que pode ser entendida como a própria renuncia à aposentadoria, que por
sua natureza patrimonial, já foi considerada por esta Corte como sendo um
direito disponível." (RMS 13.012/PE, Rel. Min. PAULO GALLOTTI,
SEXTA TURMA, DJ 26.03.2007)

Na mesma linha de raciocínio se o servidor adere a programa de demissão


voluntária, conforma já esposado, perde ele todas as gratificações e vantagens adquiridas
durante a permanência no cargo.
Destarte, irretocável o ato da administração que retirou a vantagem
nominalmente identificável e a gratificação complementar dos vencimentos da recorrente
Silesia da Silva Oliveira, haja vista que tais vantagens foram adquiridas quando de seu
primeiro vínculo com a administração estadual, vínculo este que despareceu com a
demissão voluntária.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso ordinário.
É como voto.

Documento: 740180 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/12/2007 Página 7 de 8
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

Número Registro: 2000/0136914-8 RMS 12692 / SC

Número Origem: 990174697


PAUTA: 13/11/2007 JULGADO: 22/11/2007

Relatora
Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro NILSON NAVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. EDUARDO ANTÔNIO DANTAS NOBRE
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : SILESIA DA SILVA OLIVEIRA E OUTRO
ADVOGADO : PAULO LEONARDO MEDEIROS VIEIRA E OUTRO
T. ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
IMPETRADO : SECRETÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
RECORRIDO : ESTADO DE SANTA CATARINA
PROCURADOR : VALQUÍRIA MARIA ZIMMER STRAUB E OUTRO(S)
ASSUNTO: Administrativo - Servidor Público Civil

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso ordinário em mandado de
segurança, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora."
Os Srs. Ministros Carlos Fernando Mathias (Juiz convocado do TRF 1ª Região), Nilson
Naves e Paulo Gallotti votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Hamilton Carvalhido.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves.
Brasília, 22 de novembro de 2007

ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA


Secretário

Documento: 740180 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/12/2007 Página 8 de 8

You might also like