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Pró-Reitoria Acadêmica

Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação


Curso de Comunicação Social - Jornalismo
Trabalho de Conclusão de Curso

ESPIRAL DO SILÊNCIO EM COMENTÁRIOS DE FACEBOOK:


UMA ANÁLISE EM POSTAGENS DA JORNALISTA CORA
RÓNAI

Autor: Lorena de Morais Silveira Carolino de Souza


Orientador: Prof. Dra. Rafiza Luziani Varão Ribeiro Carvalho

Brasília - DF
2016
Lorena de Morais Silveira Carolino de Souza

Espiral do Silêncio em Comentários de Facebook: Uma Análise em Postagens


da Jornalista Cora Rónai

Monografia apresentada ao curso de graduação


em Comunicação Social da Universidade
Católica de Brasília, como requisito parcial para
obtenção do Título de Bacharel em Jornalismo.

Orientadora: Prof. Dra. Rafiza Luziani Varão


Ribeiro Carvalho

Brasília
2016
Monografia de autoria de Lorena de Morais Silveira Carolino de Souza,
intitulada "ESPIRAL DO SILÊNCIO EM COMENTÁRIOS DE FACEBOOK: UMA
ANÁLISE EM POSTAGENS DA JORNALISTA CORA RÓNAI", apresentada como
requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo da Universidade
Católica de Brasília, em 2 de dezembro de 2016, defendida e aprovada pela banca
examinadora abaixo assinada:

___________________________________________________________
Prof. Dra. Rafiza Luziani Varão Ribeiro Carvalho
Orientadora
Comunicação Social – UCB

___________________________________________________________
Prof. M.e. Alberto Marques Silva
Comunicação Social – UCB

___________________________________________________________
Prof. M.ª Eliane Muniz Lacerda
Comunicação Social – UCB

Brasília
2016
AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, que iluminou o meu caminho durante


essa caminhada; aos meus pais que não mediram esforços para que eu chegasse
até aqui; ao meu esposo, que me incentivou não somente com a conclusão deste
trabalho, mas desde o começo da caminhada e que sempre acreditou em mim; a
minha orientadora por toda a paciência, dedicação e empenho nesse processo tão
importante para a minha formação.
RESUMO

Referência: SOUSA, Lorena de Morais Silveira Carolino de. Título: Espiral do


Silêncio em Comentários de Facebook: Uma Análise em Postagens da
Jornalista Cora Rónai. 2016. Monografia - Jornalismo – Universidade Católica de
Brasília, Brasília, 2016.

A espiral do silêncio é uma teoria sobre a opinião pública e começou a ser


desenvolvida pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann em 1960. A teoria afirma que o
indivíduo sente vontade de se expressar sobre determinado assunto quando
percebe que a sua opinião é dominante em um grupo social e fica em silêncio
quando percebe que a sua opinião é minoria, temendo o isolamento. Este trabalho
realiza uma análise de conteúdo categorial de quatro postagens da jornalista Cora
Rónai em sua página na rede social Facebook, de forma a perceber como os
processos de espiral do silêncio podem se fazer presentes numa rede social. Com
a pesquisa, foi possível concluir que a espiral do silêncio permeia as respostas às
postagens de Cora Rónai, uma vez que comentários favoráveis são visivelmente
mais numerosos do que os comentários contrários à visão da jornalista.

Palavras-chave: Cora Rónai. Espiral do silêncio. Internet. Opinião Pública. Redes


Sociais. Teoria da comunicação.
ABSTRACT

The spiral of silence is a theory of public opinion which was proposed by the
German political scientist Elizabeth Noelle-Neumann in 1960.The theory brings the
concept that individuals feel like expressing themselves about a certain matter when
they realize their opinion is shared by most of a social group, and withhold when it is
not, fearing isolation. This work performs a categorical content analysis of four texts
that the journalist Cora Rónai posted on her Facebook page, which shows how the
processes of the spiral of silence may be present on social media. It was possible to
conclude with this work that the spiral of silence permeates the answers to Cora
Rónai's posts, once the favorable comments clearly outnumber the comments
contrary to the journalist's point of view.

Keywords: Cora Rónai. Spiral of silence. Internet. Public opinion. Social media.
Theory of communication.
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 Foto representativa da postagem número 4. Fonte: Facebook .................. 53


Figura 2 Postagem analisada de Cora Rónai 1. Fonte: Facebook ........................... 54
Figura 3 Comentário da postagem 1. Fonte: Facebook ........................................... 60
Figura 4 Comentário da postagem 1. Fonte: Facebook ........................................... 61
Figura 5 Comentário da postagem 1. Fonte: Facebook ........................................... 61
Figura 6 Comentário da postagem 1. Fonte: Facebook ........................................... 61
Figura 7 Comentário da postagem 1. Fonte: Facebook ........................................... 62
Figura 8 Postagem analisada de Cora Rónai 2. Fonte: Facebook ........................... 63
Figura 9 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook ........................................... 68
Figura 10 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook ......................................... 68
Figura 11 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook ......................................... 69
Figura 12 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook ......................................... 69
Figura 13 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook ......................................... 69
Figura 14 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook ......................................... 70
Figura 15 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook ......................................... 70
Figura 16 Postagem analisada de Cora Rónai 3. Fonte: Facebook ......................... 71
Figura 17 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook ......................................... 77
Figura 18 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook ......................................... 77
Figura 19 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook ......................................... 77
Figura 20 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook ......................................... 78
Figura 21 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook ......................................... 78
Figura 22 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook ......................................... 78
Figura 23 Postagem analisada de Cora Rónai 4. Fonte: Facebook ......................... 80
Figura 24 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook ......................................... 87
Figura 25 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook ......................................... 87
Figura 26 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook ......................................... 87
Figura 27 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook ......................................... 88
Figura 28 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook ......................................... 88
Figura 29 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook ......................................... 88
Figura 30 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook ......................................... 89
Figura 31 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook ......................................... 90
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Desenvolvimento da pré-análise. Fonte: elaboração própria ....................


47
Tabela 2. Categorias dos temas da postagem 1. Fonte: elaboração própria ...........
54
Tabela 3. Categorias dos temas da postagem 2. Fonte: elaboração própria ...........
63
Tabela 4. Categorias dos temas da postagem 3. Fonte: elaboração própria ...........
71
Tabela 5. Categorias dos temas da postagem 4. Fonte: elaboração própria ...........
79
ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Dados referentes à postagem número 1. Elaboração própria .................


58
Gráfico 2. Dados referentes à postagem número 1. Elaboração própria .................
58
Gráfico 3. Dados referentes à postagem número 1. Respostas aos comentários.
Elaboração própria ...................................................................................................
59
Gráfico 4. Dados referentes à postagem número 2. Elaboração própria .................
66
Gráfico 5. Dados referentes à postagem número 2. Elaboração própria .................
67
Gráfico 6. Dados referentes à postagem número 3. Elaboração própria .................
74
Gráfico 7. Dados referentes à postagem número 3. Elaboração própria .................
75
Gráfico 8. Dados referentes à postagem número 4. Elaboração própria .................
83
Gráfico 9. Dados referentes à postagem número 4. Elaboração própria .................
84
Gráfico 10. Dados referentes à postagem número 4. Elaboração própria ...............
85
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................
11

2 O CONCEITO DE ESPIRAL DO SILÊNCIO ..........................................................


15

3 REDES SOCIAIS NA INTERNET ..........................................................................


30

4 UM PERFIL DA JORNALISTA CORA RÓNAI ......................................................


35

5 ANÁLISE DE CONTEÚDO ....................................................................................


39

6 ANÁLISE CATEGORIAL ......................................................................................


48

6.1 NÍVEL INTELECTUAL DOS POLÍTICOS BRASILEIROS .................................


49
6.2 A POLÍTICA NO BRASIL NOS ANOS EM QUE O PT PRESIDIU O PAÍS .......
50
6.3 A ESCOLHA DE MICHEL TEMER COMO VICE-PRESIDENTE DA
REPÚBLICA E A REJEIÇÃO DO MESMO POR PARTE DOS ELEITORES DE
DILMA ............. 50
6.4 BRIGAS, DESENTENDIMENTOS E ATAQUES MOVIDOS POR CAUSAS
POLÍTICAS ............................................................................................................ 51

7 ANÁLISE DE COMENTÁRIOS .............................................................................


53

7.1 ANÁLISE DA POSTAGEM NÚMERO 1 ............................................................


53
7.2 ANÁLISE DA POSTAGEM NÚMERO 2 ............................................................
62
7.3 ANÁLISE DA POSTAGEM NÚMERO 3 ............................................................
70
7.4 ANÁLISE DA POSTAGEM NÚMERO 4 ............................................................
78

CONCLUSÃO ..........................................................................................................
91

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 93
12

1. INTRODUÇÃO

A espiral do silêncio é uma teoria sobre a opinião pública, de autoria da


alemã Elisabeth Noelle-Neumann e começou a ser desenvolvida na década de
1960. A pesquisadora começou a observar o papel de influência da mídia sobre os
receptores, a partir das observações de estudos eleitorais no período de 1965 a
1972. Uma das coisas que chamou a atenção de Noelle-Neumann foram as
intenções de voto, entre dezembro de 1964 e agosto de 1965. Os partidos alemães
social-democrata e democrata-cristão estavam disputando a liderança de acordo
com a intenção dos votos do eleitorado.

Noelle Neumann observou que o levantamento dos dados eleitorais não


coincidia com o resultado final da eleição, e parecia que as informações tinham sido
retiradas de universos totalmente diferentes. A partir dos dados eleitorais, os
estudos iniciais da espiral do silêncio começaram. A pressão do clima de opinião, o
medo do isolamento, o desejo de estar inserido em um grupo social e ser aceito por
ele, são elementos apontados na teoria.

A relação entre a percepção sobre a opinião pública e a própria opinião,


além da vontade de se expressar sobre determinado assunto, pode se tornar mais
forte quando as pessoas percebem que estão em uma situação real e discutindo
assuntos do cotidiano. O resultado é um processo em forma de espiral que
incentiva os indivíduos a perceberem mudanças de opinião e identificar opiniões
dominantes, enquanto as outras consideradas minorias são rejeitadas ou evitadas.
Nesse conceito, as opiniões dominantes tendem a se repetir nos meios de
comunicação e a opinião individual passa a ser um processo enfraquecido e que
tende a calar-se. A partir dos resultados eleitorais, os estudos começaram e a
espiral do silêncio foi aprimorada com pesquisas e métodos empíricos.

Com base no princípio de que as pessoas temem o isolamento social e


buscam a integração com outros indivíduos, elas tendem a permanecer atentas às
opiniões populares e dominantes e procuram encaixar-se nos parâmetros desse
agrupamento. Quando o indivíduo percebe que a sua opinião será aceita pela
maioria, ele se expressa e espera uma receptividade para a expressão dessa
opinião. Por outro lado, quando ele percebe que a sua opinião é minoria, ele se cala
e hesita em expô-la, temendo o isolamento.
13

Para o indivíduo, viver em grupo e compartilhar ideias aceitas por todos é


importante. Além disso, sustentar um ponto de vista sozinho é um processo difícil e
trabalhoso, por isso, alguns aceitam a opinião majoritária e silenciam as opiniões
isoladas. Esse processo tende a ser ainda mais complexo quando as opiniões
dizem respeito aos gostos pessoais e aos valores dos outros componentes do
grupo.

Diante disso, a proposta dessa pesquisa é analisar os comentários dos


usuários na Internet e nas redes sociais e, compreender como se dá o processo da
espiral do silêncio. O trabalho irá examinar como o indivíduo reage diante de
assuntos polêmicos do dia a dia e irá observar como o medo da sanção e do
isolamento se aplicam nesse campo. O intuito da pesquisa é descobrir se ocorre o
processo da espiral do silêncio na internet e nas redes sociais.

Nos tempos atuais, os indivíduos estão cada vez mais conectados e


assumindo posturas de “comentadores” na internet. Esse termo é utilizado para
pessoas que se posicionam diante de determinados assuntos e defendem um ponto
de vista, argumentando positivamente ou negativamente a respeito de determinado
objeto. A pesquisa será feita a partir dos comentários feitos nas postagens
selecionadas para análise.

Assim, esta monografia tem por finalidade identificar como o leitor se


posiciona diante de assuntos polêmicos do cotidiano postados na Internet, a partir
da análise do perfil no Facebook da colunista do jornal O Globo, Cora Rónai1,
verificando se existe variação nos comentários das postagens de quem é apenas
seguidor de Cora e de quem é amigo (categoria no Facebook em que o seguidor
tem acesso ao conteúdo das postagens por concordância do dono do perfil). O
objetivo é identificar se os amigos postam opiniões contrárias às de Cora, já que o
fato de ser amigo não significa concordar com as ideias do outro, mas existe a
relação de aproximação, e, em contrapartida, temos os seguidores, que em tese,
concordam com as ideias da jornalista e por isso a seguem na rede social.

1
Cora Rónai nasceu em 31 de julho de 1953, no Rio de Janeiro. Ela é jornalista e escritora e,
atualmente, trabalha no jornal O Globo. Iniciou a carreira em Brasília e já passou pelos jornais Correio
Braziliense e Jornal de Brasília.
14

O trabalho será realizado por análise de conteúdo no perfil de Cora Rónai


no Facebook. O intuito da apuração é verificar se os comentários dos seguidores
são diferentes dos comentários dos amigos da jornalista, justamente pelo grau de
aproximação que um grupo de leitor pode ter em relação ao outro.

A pesquisa cobrirá quatro postagens da jornalista referentes ao cenário


político do país, e o meio utilizado será a análise de conteúdo categorial, que
abrangerá o período do dia 29 a 30 de agosto. Como a análise será feita em
distinção de quem é amigo da jornalista e de quem é apenas seguidor,
conseguimos ter acesso ao perfil de Cora Rónai como amigo dela na rede, sendo
assim, é possível identificar quem são os internautas que são os amigos e quem
são os seguidores.

A abertura dessa pesquisa se dá, no primeiro capítulo, com o conceito da


teoria de opinião pública Espiral do Silêncio e suas fundamentações, conceitos de
como surgiu a proposta de estudá-la e as suas principais especificidades, além de
abordar os conceitos sobre opinião pública. Em seguida, o segundo capítulo traz
conceitos sobre Redes Sociais e Internet e aborda ideias sobre ferramentas
utilizadas para a conexão entre atores (pessoas que se interligam na rede) e as
conexões (os laços sociais), além de trazer a definição do termo comentário 2, que é
fundamental para a compreensão do presente estudo.

O terceiro capítulo é um perfil da jornalista Cora Rónai e foi construído a


partir de uma entrevista feita com ela, trazendo dados importantes sobre a sua
biografia. O quarto capítulo traz definições sobre análise de conteúdo, que é a
ferramenta utilizada para análise do presente trabalho. Em seguida, o quinto
capítulo explica a análise categorial, método proveniente da análise de conteúdo
que foi utilizado na análise dos comentários das postagens de Cora Rónai.

No capítulo seis, elementos foram estabelecidos a partir dos comentários


feitos em cada um dos quatro posts selecionados para análise. No primeiro
elemento observado a jornalista lamenta a pobreza intelectual dos senadores, da
Presidente da República, à época, e dos políticos brasileiros. O segundo elemento

2
Comentários são informações, notas, ou textos que usuários da Internet escrevem a respeito do
tópico ou tema disponibilizado na web. Sobre o referido tema, o indivíduo pode fazer observações,
explicações, questionamentos, análises, críticas, entre outras indagações.
15

é referente ao nível intelectual dos políticos brasileiros de forma geral e uma crítica
ao Partido dos Trabalhadores (PT). O terceiro elemento investigado diz respeito a
escolha de Michel Temer como Vice-Presidente de Dilma Rousseff e a rejeição do
mesmo por parte dos eleitores. O último post diz respeito a uma publicação de Cora
sobre brigas e desentendimentos movidos por interesses políticos.

No capítulo sete, a análise dos comentários foi feita a partir dos posts de
Cora Rónai em sua página no Facebook e a partir dos elementos presentes
descritos no capítulo seis. A análise de conteúdo categorial foi feita de acordo com
os comentários de cada postagem.
16

2. O CONCEITO DE ESPIRAL DO SILÊNCIO

A teoria do espiral do silêncio, de autoria da socióloga alemã Elisabeth


Noelle-Neumann, proposta em 1973, trata da relação entre os meios de
comunicação e a opinião pública. A teoria começou a ser formulada na década de
1960, com o intuito de compreender a alteração de opiniões dos eleitores na reta
final de um processo eleitoral. O objetivo da teoria é explicar a razão pela qual os
indivíduos permanecem em silêncio diante de assuntos polêmicos.

Esta teoria é apoiada nas observações de estudos eleitorais, e mostrou que


boa parte dos eleitores se aproximavam das opiniões dominantes. Na véspera das
eleições de 1965, o canal televisivo alemão (ZDF) realizou um evento para tratar de
intenções de votos. Dois dias antes da solenidade, duas cartas foram entregues.
Um documento foi enviado pelo Instituto Allensbach e outro enviado pelo Emnid,
duas organizações de pesquisas. Logo em seguida, os diretores das organizações
foram convidados para apresentar as previsões a respeito do resultado das
eleições.

A atenção de Noelle-Neumann se voltou para o fato de observar pesquisas


diferentes do Instituto Allensbach, na intenção de voto do eleitorado. Nas vésperas
da eleição, os partidos que disputavam os cargos estavam praticamente empatados
nas intenções de voto e esses números foram publicados na revista Stem. Elisabeth
viu essa publicação como um dado indicativo de que era um movimento contínuo e
independente. A análise estava na seguinte proposição: podemos saber qual é a
opinião do público e a partir daí podemos inferir quem vai ganhar as eleições.

Em dezembro de 1965, o número de pessoas que esperavam pela vitória


do partido democrata-cristão era quase o mesmo do número de pessoas que
esperavam pela vitória do social democrata, apesar da vantagem do social-
democratas ser um pouco maior. Com o passar dos dias, o levantamento começou
a mudar e a expectativa de voto para o democrata-cristão aumentou
significativamente, enquanto a aposta no social-democratas caiu
consideravelmente. A dúvida que surgiu foi sobre a mudança repentina de
expectativa no partido vencedor, sendo que as intenções de voto permaneciam
constantes. A respeito da opinião pública nesse contexto, Noelle-Neumann destaca
17

que o clima de opinião depende de quem fala e de quem permanece em silêncio


(NOELLE-NEUMANN, 1992. p.10).

Uma das observações feitas por Noelle-Neumann é que o número de votos


dos partidos Democrata-cristão e Social-democrata pode ser semelhante em
quantidade, mas não são parecidos em entusiasmo, e vontade de exibir as
convicções. O grupo que defendeu a Ostpolitik (política do leste, na língua alemã)
pode ter expressado abertamente os conceitos que consideravam corretos e
defenderam os seus ideais, enquanto o outro grupo, que rejeitou a Ostpolitik se
sentiu excluído e ficou em silêncio. Esse efeito mostra como uma opinião parece
mais forte do que realmente é, em contrapartida, a outra força parece ser mais fraca
do que realmente é (NOELLE-NEUMANN, 1992. P 11).

As observações feitas em alguns contextos incitaram outras pessoas a


proclamarem opiniões e permanecerem em silêncio até que, em um
processo espiral, um ponto de vista passou a dominar a cena pública e a
outra desapareceu para silenciar os seus apoiantes. Este é o processo que
podemos descrever como “Espiral do Silêncio” (NOELLE, 1992. P.11,
tradução nossa).

Em 1972, fazendo a pesquisa com as mesmas pessoas que responderam


às intenções de votos antes das eleições, verificou-se que os indivíduos que se
sentiam isolados dos outros, foram os que provavelmente mudaram de opinião no
último minuto. É possível que o indivíduo que tem pouca confiança e baixo
interesse na política possa mudar o voto no último instante e essa situação é
comum na vida em sociedade. O pensamento do eleitor funciona como um quadro
de baixa autoestima. O indivíduo sente a necessidade de estar entre os vencedores
(NOELLE-NEUMANN, 1992. P. 12).

Para comprovar a validade do processo, Noelle-Neumann procurou teorias


que embasassem a sua pesquisa. Ela procurou métodos aplicados ao longo da
história e grandes escritos de autores do passado e encontrou uma mensagem
importante para a sua teoria na descrição da história da Revolução Francesa, de
Alexis de Tocqueville, publicado em 1856. O autor relata a decadência da Igreja na
França, no século XVIII e conta como a religião se tornou fria para os franceses. Os
cidadãos que acreditavam nas doutrinas da igreja nesse tempo temiam a solidão. O
medo do isolamento é característico neste caso e, a partir dele, a realidade da
espiral de silêncio foi se confirmando (NOELLE-NEUMANN, 1992, p. 13).
18

O medo do isolamento social é um dos principais elementos da teoria.


Quando o indivíduo não aceita publicamente a opinião dominante e universal, ele
opta por ficar em silêncio. Dessa forma, ele continua sendo aceito pelos outros
indivíduos que possuem outra opinião divergente e dominante. Assumir a
responsabilidade de discordar de um grupo que é maioria não é simples, e o
silêncio pode ser interpretado como conformidade. As pessoas que não concordam
com a perspectiva majoritária sentem-se excluídas e marginalizadas e optam pelo
silêncio. Este acanhamento faz com que a opinião do lado contrário pareça mais
forte do que realmente é, e enfraquece a outra, pois os indivíduos se retraem. O
que ocasiona esta inibição é o medo do isolamento.

Os seres humanos têm medo do isolamento social. Ficar sozinho diante de


um grupo, ou pior, dentro de um grupo, é uma situação de desconforto
psicológico decorrente do constrangimento em manter uma opinião, prática
ou comportamento destoante de todo o resto (MARTINO, 2014, P. 213).

Outra forma encontrada por Noelle-Neumann para comprovar a eficácia da


hipótese foi a investigação empírica. Segundo Neumann, se há um fenômeno
semelhante à espiral do silêncio, ele deve ser mensurável, ou pelo menos deveria
ser. As hipóteses, para passarem por comprovação, precisam ser observadas
(NOELLE-NEUMANN, 1992, p.14).

Em janeiro de 1971, o primeiro questionário da espiral do silêncio foi


aplicado e foi composto por três questionamentos. Uma pergunta foi direcionada
sobre conhecimento da RDA (Alemanha Oriental). “Se você tivesse que escolher,
você diria que a República Federal deve reconhecer a RDA como segundo Estado
alemão, ou que a República Federal não deve reconhecê-lo”? A segunda pergunta
era: “Agora, sem considerar por um momento a sua própria opinião, você acha que
a maioria dos habitantes da República Federal são a favor ou contra o
reconhecimento da RDA? O que você acha que vai acontecer no futuro, o que as
pessoas opinam dentro de um ano? Será que vai haver mais ou menos pessoas
para o reconhecimento da RDA agora?”.

A partir desses questionamentos, as respostas foram analisadas. As


pessoas poderiam ter respondido que não poderiam imaginar o que as outras
pessoas pensam e poderiam afirmar que não podem prever o futuro. Mas, não
foram essas as respostas dos indivíduos que responderam ao questionário. Como
um processo totalmente natural para essas pessoas, 80% a 90% de uma amostra
19

populacional com mais de 16 anos de idade, responderam dando opinião a respeito


do ponto de vista de outras pessoas. Eles consideraram que poderiam opinar sobre
o ponto de vista dos outros indivíduos ao redor (NOELLE-NEUMANN, 1992, p. 15).

O resultado dessa pesquisa é que três quintos dos entrevistados


comentaram uma antevisão de como a situação iria se desenrolar no futuro, sobre o
reconhecimento da RDA. Do resultado obtido, quarenta e cinco por cento confiaram
que o voto favorável iria aumentar e 16% acreditavam que o resultado para o
reconhecimento seria negativo. O resultado da pesquisa feita por meio de
questionário remete ao resultado das eleições de 1965.

Em dezembro de 1974, a análise sistemática começou de fato. A pesquisa


sobre as intenções de voto revelou que o partido Democrata-cristão não
ultrapassou seis pontos e o partido Social-democrata não excedeu quatro por cento.
Porém, o clima de opinião revelou controvérsias. Noelle-Neumann questionou o fato
de a população perceber as mudanças nas intenções de voto e continuou a
observar o clima político e o resultado. Entre 1971 e 1979, pode-se perceber que as
mudanças de opinião foram refletidas pela percepção do clima de opinião.

Esse discernimento nem sempre está correto e Elisabeth considerava esse


ponto de fraqueza da percepção, algo muito interessante. Em determinadas
situações, em que as pessoas depositam o entendimento no clima de opinião, pode
haver uma distorção. Um estudo sobre essa deformidade foi feito em 1965, quando
o partido vencedor tinha uma expectativa bem acima do resultado real das
intenções de voto. Partindo da hipótese da espiral do silêncio, isso acontece devido
à diferença do grau de disposição e entusiasmo dos lados envolvidos na pesquisa.

As pessoas, quando expressam a opinião em público, mostram claramente


o ponto de vista que defendem e isso pode ser percebido pelos outros indivíduos.
Para testar duas hipóteses, Elisabeth traz duas alternativas. A primeira diz respeito
à compreensão intuitiva do indivíduo, no qual compreende o nível de aceitação de
pontos de vistas diferentes. A segunda variação diz respeito à adaptação do
indivíduo, com relação à força ou à fraqueza das opções apresentadas (NOELLE-
NEUMANN, 1992, p. 18).
20

Em situações comuns do dia a dia, é costumeiro encontrar pessoas com


pontos de vista diferentes uns dos outros. Porém, não é comum encontrar
indivíduos que estejam dispostos a conversar com alguém que possua uma opinião
divergente e procurar entender o motivo do pensamento e compreender melhor o
ponto de vista do outro. Em outubro de 1972, com a campanha eleitoral em
andamento, um teste foi feito com a seguinte proposta aos entrevistados: Imagine
que você vai iniciar uma viagem de trem de aproximadamente cinco horas. No
compartimento que você está, uma pessoa começa a falar desfavoravelmente
sobre o chanceler alemão Brandt. Qual seria a sua reação? Você teria o interesse
de conversar com essa pessoa e compreender melhor o seu ponto de vista, ou não
vale a pena? O resultado dessa pesquisa mostrou que 50% das pessoas que
apoiaram Brandt afirmaram que gostariam de dialogar. Os defensores do ex-
chanceler alemão eram superiores em expressar o ponto de vista.

Em um dado momento, um teste foi realizado com algumas questões sobre


a opinião das pessoas a respeito dos partidos democrata-cristão e social-
democrata, em outros momentos, abordaram temas como as usinas nucleares, o
aborto, o perigo das drogas ilícitas, entre outros assuntos. A intenção era investigar
se diferentes grupos divergem no momento de defender a opinião e as convicções
publicamente. Aqueles que proclamarem a posição que defendem terão um impacto
de influência maior, e outras pessoas que ainda não possuem uma decisão formada
podem se juntar a esse grupo que defende os ideais com veemência.

A investigação é um processo fundamental para compreender a inclinação


do indivíduo para determinados assuntos e estudar o clima de opinião. Um dos
pontos fortes na formação da opinião é o laço familiar de cada um. As pessoas
costumam tirar conclusões, formar conceitos e defender teses a partir de condutas
ensinadas no círculo familiar. Porém, só é possível notar os ideais a partir de uma
exposição pública. Em algumas situações, pode ocorrer que o indivíduo apresente
um comportamento diferente no círculo primário, que é a família, e manifeste outras
atitudes em lugares públicos.

Uma pesquisa relatada no livro de Noelle-Neumann foi feita com o objetivo


de analisar o desempenho dos entrevistados diante de um anfitrião que os convidou
para uma festa. A intenção era compreender como eles se expressavam
21

publicamente ou se optariam pelo silêncio a respeito de assuntos controversos. Foi


proposto que eles imaginassem que alguém os convidasse para ir até um lugar com
outros hóspedes, algumas pessoas desconhecidas estariam presentes. No
encontro, a conversa chegou a uma questão polêmica, e então, a pergunta foi feita:
Você gostaria de participar da conversa sobre o assunto em questão ou prefere não
participar? A proposta não obteve o resultado previsto, pois a reação dos
entrevistados não foi a esperada. Eles pareciam sofrer influência com relação ao
momento em que viviam e, poderiam considerar que não seria um ato de cortesia.
Os entrevistados respeitaram o ponto de vista expressado pelos anfitriões e pelos
convidados ali presentes (NOELLE-NEUMANN, 1992, p. 20).

Nessa situação, as pessoas colocaram sentimentos à frente de suas


opiniões e optaram pelo silêncio. Quando as pessoas são colocadas em locais
públicos, como na rua, ou em algum evento, a opinião pode se manifestar de forma
diferente em relação a um evento particular com membros da família.

É importante destacar o significado de falar e permanecer em silêncio, em


sentido amplo. Um exemplo de fala sem que precise usar as palavras é colocar um
adesivo no carro. Seja qual for o emblema ou desenho que estará presente ali, traz
algum significado em que a pessoa que o colou gosta ou acredita. Ela não precisou
falar o que é, por que gosta, o que significa, mas é uma maneira de inferir que ela
está expressando publicamente algo que faz sentido para ela. Da mesma forma,
pode-se destacar uma matéria de jornal com tendência política. O indivíduo pode
carregar o jornal nas mãos e exibi-lo pelas ruas, ou pode guarda-lo em uma bolsa e
mantê-lo escondido, é uma forma de manter-se em silêncio.

O ano eleitoral de 1972 trouxe vários fundamentos empíricos para analisar


as falas comportamentais dos indivíduos. A pergunta feita após as eleições buscava
compreender as falas explícitas e implícitas: “Todos os partidos tinham pôsteres,
adesivos para carros e outros apetrechos. Qual é a sua impressão? Qual partido
você acha que utilizou mais etiquetas e cartazes?”. O resultado da pesquisa
apontou que 53% afirmaram que tinha mais itens para o social-democrata e, 9%
afirmaram que a maioria dos itens era do democrata-cristão (NOELLE-NEUMANN,
1992, p. 22).
22

Outra pesquisa foi realizada para verificar outro ângulo das eleições. O foco
das indagações era: “Os resultados de um partido em uma eleição dependerão em
grande parte de sua capacidade de fazer seus seguidores participarem da
campanha eleitoral. Qual foi a sua impressão sobre os eleitores? Qual eleitor
mostrou mais idealismo e compromisso com a propaganda eleitoral”? Do resultado
obtido, 44% responderam que os eleitores do social-democrata eram os mais
ativos, enquanto 8% responderam que os mais envolvidos eram os eleitores do
democrata-cristão. Dessa forma, os eleitores do social-democrata contribuíram para
a campanha eleitoral do partido que apoiavam, enquanto o democrata-cristão, com
apenas 8% dos votos da pesquisa, ficaram em uma situação de silêncio e
isolamento.

O cenário era indefinido e os sinais de colocar um adesivo no carro ou usar


um broche na roupa, poderia ser uma questão de gosto e não significava
definidamente quem estava mais engajado na causa do partido. Algumas pessoas
podem não gostar dessas práticas, como os conservadores. Noelle-Neumann traz a
indagação

Os conservadores também são mais discretos, menos propensos a


apresentar suas convicções? Ou, no que diz respeito ao “trem de teste”
algumas pessoas gostam de falar enquanto estão viajando e outros não. O
trem de teste pode ser considerado uma indicação que está ocorrendo um
processo de influência do tipo de espiral do silêncio? (NOELLE, 1992, p.
23 e 24, tradução nossa).

Os resultados dos estudos da espiral do silêncio revelam que


independentemente da força da convicção sobre determinada ideia ou conceito,
algumas pessoas são inclinadas a falar e outras são mais propensas a permanecer
em silêncio. É importante estar em consonância com o espírito da época, ou seja,
envolvido com a história em questão, além disso, a mídia exerce uma grande
influência sobre os indivíduos. Sobre isso, Martino afirma que a ideia da espiral do
silêncio mostra que uma opinião, uma vez propagada pela grande mídia, tende a
ser progressivamente aceita como pública (MARTINO, 2014, p. 212).

As mudanças de opinião favorecem a pesquisa, e na Alemanha existia um


termo chamado Tendenzwende, que significava um ponto de virada na força de
atitudes políticas. O clima político oportuno agradava alguns e desagradava outros.
Foi então que outra etapa de observação foi feita para analisar as atitudes políticas.
23

Os eleitores que apoiaram o partido social-democrata começaram a mostrar menos


inclinação em participar de discussões, e Elisabeth traz um questionamento: será
que estamos dispostos a defender publicamente uma opinião?

Noelle-Neumann estudou as teorias clássicas sobre a opinião pública e


buscou entender o processo entre a formação da opinião e a espiral do silêncio.
Que teorias seriam essas? A relação entre a percepção e a opinião sobre
determinado assunto pode se tornar mais forte quando as pessoas percebem que
estão em uma situação real e discutindo assuntos do cotidiano. Uma das hipóteses
que fortalecem a teoria é que o medo do isolamento não é apenas o temor da
separação do grupo social, mas também dúvidas sobre a capacidade de
julgamento.

O resultado é um processo em forma de espiral que estimula o indivíduo a


perceber mudanças de opinião e identificar opiniões dominantes, enquanto os
outros conceitos tidos como minorias são rejeitados ou evitados. Ao analisar a
opinião majoritária, é necessário avaliar os valores sociais relacionados ao grupo,
como a cultura e os costumes. Nesse conceito, as opiniões dominantes tendem a
se repetir nos meios de comunicação e a opinião individual passa a ser um
processo enfraquecido e que tende a calar-se.

Os meios de comunicação tendem a privilegiar as opiniões que parecem


dominantes devido, por exemplo, à facilidade de acesso de uma minoria
ativa aos órgãos de comunicação social, fazendo com que essas opiniões
pareçam dominantes ou até consensuais, quando de fato não o são
(SOUSA, 2002, p. 172).

Apesar da evolução dos meios de comunicação, as pessoas nem sempre


estão bem informadas, pois as mensagens informativas não são suficientes para
que possam formar uma opinião sólida a respeito do assunto e opinar de maneira
racional (ANDRADE, 1964).

Ademais, a complexidade das questões levantadas afasta, de certo modo,


o homem comum dos problemas de alta indagação. O que, na realidade,
existe, é a massa que aceita, por comodismo, os pontos de vista dos
grupos relativamente pequenos, porém, detentores dos melhores veículos
de comunicação (ANDRADE, 1964, p. 107).

O indivíduo sente a necessidade de expor seu ponto de vista diante do


grupo social, quando percebe que a sua opinião é recorrente e aceita no ambiente.
A vontade pode se tornar ainda maior, caso o indivíduo perceba que a sua visão
24

não é ignorada, mas será predominante e difundida. Contudo, existe menos chance
de expor seus pontos de vista se perceber que o seu pensamento não é aceito pela
maioria. Noelle-Neumman defende a presença de dois tipos de opinião. A estática,
que está relacionada aos costumes; e a geradora de mudança, que são as opiniões
adotadas com mais cuidado.

Em algumas situações, é comum encontrar indivíduos que possuem uma


opinião a respeito de determinado assunto, que é considerado minoria no grupo
social, e que adotam outro ponto de vista, temendo que a integração social seja
prejudicada. Dessa forma, quando um conceito é mais forte do que outro, menos
pessoas contrárias ao conceito mais forte aparecerão.

O modelo da Espiral do Silêncio, assim como vários modelos de recepção,


desenvolve-se no tempo; há um intervalo entre a construção de uma
opinião pela mídia, sua divulgação e sua percepção como dominante. O
medo do isolamento leva ao silêncio; o silêncio reforça a opinião dominante
– a noção de uma espiral indica o movimento de consolidação no tempo
(MARTINO, 2014, p. 213).

O laboratório clássico Solomon Asch fez um experimento, no qual


identificou que os indivíduos tendem a confiar em si mesmos. O resultado apontou
que duas em cada dez pessoas mantêm firme a própria percepção acerca das
coisas. Porém, o método de pesquisa laboratorial é diferente do método da
pesquisa realizada no teste do trem, por exemplo. O laboratório permite criar uma
circustância real, enquanto a pesquisa está sujeita a várias interferências. Não é
possível afirmar quantos entrevistados compreenderam a pergunta antes de
responder, também não é possível ter certeza de quantos pesquisadores leram as
perguntas na ordem planejada.

A imitação é um objeto de estudo nas ciências sociais, desde que o


sociólogo Gabriel Tarde percebeu a necessidade humana de concordar uns com os
outros publicamente. Em geral, os indivíduos reparam no comportamento dos
outros e aprendem quais são os comportamentos possíveis e aceitos e em qual
situação colocá-los em prática. A espiral do silêncio estuda, nesse sentido, a
definição do medo do isolamento. Analisar a repetição pela ótica da espiral do
silêncio implica várias razões para o indivíduo praticar este tipo de ato. Outro ângulo
do estudo da imitação mostra que esse comportamento vai contra a autonomia
individual.
25

A força da opinião pública é capaz de levantar reinos e oprimir indivíduos,


além de oferecer uma pressão social. Muitas vezes, o indivíduo nega a natureza
social e acaba se adaptando ao meio em que vive. Quando uma opinião se torna
comum a todos, ou opinião “da moda”, a lei da reputação se torna forte neste
contexto e, qualquer violação ocasiona sofrimento ao indivíduo, que perde a
simpatia e estimativa do seu ambiente social (NOELLE, 1992, p.4).

Outro fator importante nessa perspectiva é que a expressão “da moda” traz
um sentido depreciativo. Quando afirmamos que algo é da moda, logo nos vêm à
cabeça situações comuns, loucuras comportamentais, etc. Se analisarmos esse
fato, o elemento principal que pode levar o indivíduo a praticar atos de imitação está
ligado ao medo do isolamento.

Sobre esse assunto, Elisabeth Noelle-Neumann cita John Locke3 em uma


afirmação de que nem mesmo uma pessoa em dez mil é insensível o suficiente
para não se importar com o ambiente social e com a aprovação negada. É pouco
provável que uma pessoa saia com um animal inusitado pelas ruas da cidade, por
exemplo, um unicórnio, quando ninguém o faz.

O medo de ficar sozinho, isolado e rejeitado por um grupo social suscita a


espiral do silêncio. Os indíviduos prestam atenção no argumento e no ponto de
vista dos grupos e passam a assumir pensamentos conjuntos com esses grupos. A
natureza social do homem, que teme a separação, deseja ser amada, respeitada e
agrupada. Portanto, não se deve esperar que as pessoas assumam
conscientemente o medo do isolamento, quando esta pergunta for direcionada a
elas em uma pesquisa.

Os indivíduos imaginam as situações anunciadas nas pesquisas como


situações reais do dia a dia e isso pode interferir no resultado. Noelle-Neumann
pensou em uma pesquisa empírica que pudesse avançar nos resultados e evitar
situações imprevisíveis que gerassem dúvidas na finalização da pesquisa. Dessa
forma, em 1976, uma série de investigações tiveram início em Allensbach.

3
John Locke foi um filósofo inglês, considerado um dos líderes do empirismo e um dos grandes
nomes que idealizou o liberalismo e iluminismo. Nasceu em 29 de agosto de 1632. Os pensamentos
de Locke influenciaram inúmeras revoluções mundiais no século XVIII
26

No artigo da pesquisadora alemã, “A espiral do silêncio: uma teoria da


opinião pública”, a abordagem é feita em torno das teorias clássicas da opinião
pública e do ambiente social no qual o indivíduo está inserido. Para o indivíduo, o
próprio julgamento é menos importante do que o isolamento social, ou seja, viver
em sociedade é primordial para o ser humano. A partir dessa hipótese, a
pesquisadora estuda a vulnerabilidade do indivíduo como um ser social que teme a
punição e o isolamento, conceitos que estão ligados um com o outro. Segundo o
texto, a opinião pública pode ser entendida como a opinião majoritária, que ameaça
o indivíduo que discorde dela.

O conceito de opinião pública é complexo e teve a sua origem na


antiguidade e remonta aos tempos dos gregos e romanos. O termo opinião pública,
no sentido de participação popular em assuntos de interesse público, surgiu com
Rousseau e Jean Jaques, na metade do século XVIII. No mesmo período, David
Hume, em sua obra Ensaio sobre o entendimento humano, afirma que a
imperiosidade da opinião pública, não é apenas uma utopia, mas é o que tem força
na sociedade.

Em 1961, durante um simpósio de profissionais e pesquisadores em


comunicação, um dos participantes fez a seguinte indagação “Mas eu não sei ainda
o que é opinião pública”. Noelle Neumann traz à tona essa questão em seu livro,
para mostrar que esse participante não foi o único a ter dúvidas na formulação do
conceito do que viria a ser a opinião pública. Filósofos, juristas, cientistas políticos,
historiadores e pesquisadores buscaram essa definição. (NOELLE-NEUMANN,
1992, p. 43).

Na década de 1960, um professor em Princeton, Harwood Childs, tomou a


iniciativa de recolher cinquenta definições diferentes encontradas na literatura para
opinião pública. Em alguns dos conceitos dizia-se que a opinião pública era uma
ficção e que pertencia ao museu de ideias. Apesar de não ter um conceito formado,
o termo foi sendo cada vez mais utilizado.

No início dos anos 1970, Noelle-Neumann estava trabalhando na hipótese


da espiral do silêncio e procurava uma explicação para o processo eleitoral de 1965
– as intenções de voto e o resultado final – o que para ela era um enigma. Nesse
mesmo período, nasceu a dúvida a respeito da opinião pública, e a teoria da espiral,
27

que poderia ser uma aparência da opinião pública. Diante do questionamento, a


pesquisadora buscou encontrar o conceito de opinião pública para explicar e
fundamentar a sua teoria, ou seja, não dava para simplesmente dizer que a espiral
do silêncio é um processo que se espalha por algo indefinível. Era necessário
explicar o motivo da propagação da teoria através do conceito estabelecido do que
viria a ser opinião pública. A divergência girava no mundo intelectual em torno de
dois termos; opinião e público.

A definição do conceito “público” é tão complexa quanto o conceito de


opinião e muitos estudiosos discutiram o seu significado. Em primeiro lugar, o
sentido da palavra público pode ser entendido no sentido de “abertura”, o que é
comum a todos, um lugar público, uma via pública, etc. Em segundo lugar, o público
assumiria o significado de direito público e poder público, o que denota algum
envolvimento com o Estado. Isto implica dizer que são questões que dizem respeito
a todos nós, estão relacionadas ao bem-estar geral. E, em terceiro lugar, a opinião
pública é classificada como uma expressão (NOELLE-NEUMANN, 1992, p. 46).

O terceiro significado do termo “público” diz respeito ao fato do individuo


sentir e pensar a respeito do espaço interior e social. Isso se reflete no mundo
exterior, onde ele vive em comunidade e participa de demandas sociais. A partir
dessa compreensão, a definição do medo do isolamento se torna ainda mais forte,
quando o indivíduo é exposto em seu ambiente social e tem as suas práticas
analisadas.

Noelle-Neumann define a opinião pública como sendo a “pele social”, no


sentido de que os gostos, práticas e julgamentos de um indivíduo são a
parte mais visível de si mesmo. Ela trabalha com o jogo entre a aparência
e a realidade das percepções: a percepção de um faro pode ser alterada
sem que o fato em si seja modificado (MARTINO, 2014, p. 212).

As pessoas se comportam com base no ambiente em que estão inseridas,


esse fator é que determinará a popularidade ou a impopularidade do indivíduo. Por
isso, podem usar a percepção para compreender se a opinião em questão tem grau
de enfraquecimento ou crescimento dentro do grupo social e, a partir daí, discernir
se a opinião pessoal pode ser expressa em público sem correr o risco do
isolamento. Com base na análise feita, o indivíduo pode ter a tendência de confiar
em seu ponto de vista e expressá-lo ou permanecer em silêncio. O medo do
28

isolamento faz com que a maioria das pessoas aceitem a opinião do outro sem
questionar.

Nas primeiras décadas do século XVI, quem se interessava pelas ideias


políticas era considerado bem informado e dotado da capacidade de deliberar
assuntos controversos e chegar a conclusões lógicas e racionais de modo coerente.

De certa maneira, é possível entender os primeiros estudos sobre a Arte


Retórica, na Grécia Antiga, como uma tentativa de compreender como é
possível formar a opinião. Os gregos mostraram desde o início a
importância de uma mídia – no caso, o discurso – para definir a opinião
(MARTINO, 2014, p. 211).

Os meios de comunicação são veículos importantes na formação da opinião


pública, pois eles contribuem para que determinadas ideias sejam propagadas e
silenciam outras. Porém, a opinião dominante nem sempre é tão forte quanto
parece. O processo de opinião pública começa com uma problemática, seguindo-se
de uma série lógica que dê sentido ao fato e caminha até chegar à solução do
problema levantado.

Inicia-se o processo com uma controvérsia que, não podendo ser


solucionada pelos padrões tradicionais, exige a reunião de várias pessoas
para discuti-la, racional e amplamente, em busca de uma decisão
inteligente. É evidente que outros fatores, além da racionalidade, estarão
presentes nas discussões públicas, mas, para que haja opinião pública, é
preciso que predominem as considerações de ordem racional (ANDRADE,
1964, p. 112).

A aceitação de uma opinião como dominante não significa que essa opinião
seja dominante de forma absoluta. O indivíduo, ao perceber que o conceito
propagado é aceito pela maioria, tende a ser guiado por essa percepção também.
Dessa forma, a opinião reconhecida como dominante, tem grande chance de ser
tornar realmente dominante.

Uma percepção pode se tornar real na medida em que é construída


corretamente. A regra da maioria progressivamente inibe a manifestação
de qualquer pensamento contrário. E isso leva ao conceito de “silêncio
(MARTINO, 2014, p. 212 e 213).

A partir do século XVIII, a formação do conceito de opinião pública ligado à


mídia se fortaleceu. Esse fator levou a discussões acerca da consolidação e da
formação do que viria a ser opinião pública. É possível que o indivíduo concorde
com ideias divergentes das que acredita, para evitar conflitos e isolamento. Em
algumas situações, a pessoa acredita que não tem capacidade de argumentar com
29

o seu oponente e, por isso, opta pelo silêncio. Dessa forma, as opiniões que se
enquadram nesse padrão não são totalmente racionais, pois possuem um vínculo
com emoções e sentimentos.

Se a opinião pública é formada por elementos externos a ela, a mídia,


então essa opinião não é pública, mas é o discurso produzido por um
grupo e lançado sobre um público (MARTINO, 2014, p. 211).

As opiniões surgem a partir de anúncios prévios sobre determinado


assunto. Por exemplo, o indivíduo que afirma ser de opinião política de esquerda,
precisou conhecer o assunto, os pontos defendidos, os pontos contrários, as
vantagens e desvantagens e, só depois, pôde chegar à conclusão que a defesa da
esquerda está à frente da direita, ou vice-versa. Em tese, não é possível ter uma
opinião a respeito de algo sem ter informações prévias do assunto.

Na filosofia grega, a opinião (doxa) era um conhecimento parcial e


aproximado, enquanto a episteme era o conhecimento baseado em fatos e
certezas. Ninguém opina sobre o que não conhece, mas pode julgar o que
conhece apenas parcialmente (MARTINO, 2014, p. 211).

Dessa forma, é possível que a informação seja conduzida de maneira que


induza as pessoas a formarem opiniões. A partir da propagação de conceitos e
ideias, as pessoas formam um julgamento a respeito do tema. Partindo desse
princípio, os conteúdos apontados como notícia ou interesse público são
selecionados com um objetivo: construir uma opinião pública a respeito do que está
sendo veiculado.

Um dos perigos na formação da opinião pública, segundo Cândido


Teobaldo de Souza Andrade, em sua obra Mito e Realidade da Opinião Pública é a
influência cada vez maior que os grupos de pressão exercem pelo mundo.

As informações e as notícias são dispostas habilmente, persuadindo,


intimidando ou coagindo as pessoas a aceitar os pontos de vista ou
propósitos autoritários desses grupos. Minorias bem organizadas e
capacitadas para divulgar sua posição (controle dos veículos de
comunicação, propaganda, bons argumentadores etc.) exercem, não raro,
muito maior influência sobre o processo de formação da opinião pública do
que seria de esperar (ANDRADE, 1964, p. 114).

A seleção de notícias é feita, os veículos decidem como querem a


publicação e a veiculação do conteúdo e, a partir daí, o indivíduo recebe a
informação. A notícia chega de forma coletiva e alcança um grande número de
pessoas, dessa forma, a construção da opinião pública pela mídia é feita a partir de
30

dados apresentados pelos veículos de comunicação, mas não como um julgamento


prévio que o indivíduo fez a respeito do assunto.

A ideia de opinião pública parece estar mais ligada à imposição, pelos


meios de comunicação, de um ponto de vista previamente selecionado a
respeito de um tema. É o conceito central do modelo da Espiral do Silêncio
(MARTINO, 2014, p. 211).

Os indivíduos percebem o mundo a partir de suas avaliações e opiniões a


respeito de determinado assunto. A opinião pública é propagada de tal forma que
as pessoas passam a difundir ideias e conceitos de forma individual e coletiva.
Dessa maneira, a Internet pode ser um canal para propagação dessa opinião, tendo
em vista que a transmissão da informação via web é veloz, imediata e abre a
possibilidade de publicação para o indivíduo comum, desvinculado das empresas
mediáticas. Mas será que a espiral do silêncio pode ser percebida nesse ambiente?
É o que veremos ao analisar postagens da jornalista Cora Rónai no Facebook.
31

3. REDES SOCIAIS NA INTERNET

Pode-se considerar uma rede social toda e qualquer trama em que há


conexão social entre pessoas e organizações. A rede social digital é conhecida
assim por ser interligada por conexões entre computadores e softwares no
ambiente virtual. Por meio da internet é possível que os internautas acessem
informações e divulguem-nas também.

Com o passar dos anos, as inovações tecnológicas foram sendo


aprimoradas para melhor servir ao homem. Há alguns anos, para o indivíduo
acessar à memória, era preciso recorrer ao cérebro, de maneira individual, ou aos
documentos e registros. A Internet surgiu, anos depois, trazendo mudanças e
inovações no campo da comunicação.

O nascimento da internet veio facilitar o acesso à informação ao rebater em


simultâneo as barreiras do espaço e do tempo. Por um lado, o acesso
passa a ser global na medida em que a informação está disponível na web.
Por outro lado, as bases de dado permitem que os processos de pesquisa
acelerem e se refinem: de uma assentada passa a ser mais rápido e mais
preciso conseguir aceder à informação disponível nos milhões de páginas
web. Este manancial de informação representa uma memória social,
dinâmica, organizada e navegável que nos remete para os dois sentidos
fundamentais da palavra “comunicação” (CANAVILHAS, 2004, p. 6)

O aumento dos números de emissores e receptores, a velocidade da


informação, o alcance a vários locais ao mesmo tempo, várias informações
disponibilizadas de uma só vez, todos esses são fatores possibilitados com o
advento da Internet. As mudanças são múltiplas e o mundo virtual possibilita
diversos canais de conectividade entre um usuário e outro, formando assim, laços e
relações. Há, ainda, o fato de que os emissores e receptores se confundem, sendo,
assim, reconhecidos pelo nome “usuários”.

O advento da Internet trouxe diversas mudanças para a sociedade. Entre


essas mudanças, temos algumas fundamentais. A mais significativa é a
possibilidade de expressão e sociabilização através das ferramentas de
comunicação mediada pelo computador (CMC). Essas ferramentas
proporcionaram, assim, que atores pudessem construir-se, interagir e
comunicar com outros atores, deixando, na rede de computadores, rastros
que permitem o reconhecimento dos padrões e a visualização de suas
redes sociais através desses rastros (RECUERO, 2009, p. 24)

O conceito de rede social pode ser descrito como um conjunto de dois


fatores essenciais para a formação da categoria: atores, que são as pessoas, as
instituições ou os grupos que estão firmados na rede; e as conexões, que podem
32

ser definidas como os laços sociais entre esses indivíduos ou grupos que estão
inseridos na rede. Dessa forma, os laços são criados entre os atores que participam
da rede.

Uma rede, assim, é uma metáfora para observar os padrões de conexão


de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos
atores. A abordagem de rede tem, assim, seu foco, na estrutura social,
onde não é possível isolar os atores sociais e nem suas conexões.
(RECUERO, 2009, p. 24)

Os elementos das redes sociais na internet possuem itens específicos, é o


caso dos atores. Essa parte essencial da rede social pode ser descrita como a
representação dos indivíduos que compõem a rede, ou seja, trata-se de todas as
pessoas envolvidas no ciberespaço, que atuam através de interação uns com os
outros, formando laços sociais. Os indivíduos que fazem parte da rede social estão
em permanente construção da identidade na internet como atores, isso por que a
presença de um espaço privado e ao mesmo tempo público é característico neste
espaço virtual.

O internauta cria um perfil em uma determinada rede social e, a partir de


então, aquele local passa a ser o “seu perfil”, é uma representação de algo privado,
porém, em uma rede pública de relacionamento e de laços sociais. Os comentários
que serão feitos por aquele indivíduo, poderão ser feitos da sala de sua casa, mas o
alcance poderá atingir pessoas ao redor de todo o mundo. A pessoa precisa ser
vista para existir no mundo virtual, dessa forma, a construção da identidade do
autor é feita a cada dia na Internet.

Essas apropriações funcionam como uma presença do “eu” no


ciberespaço, um espaço privado e, ao mesmo tempo, público. Essa
individualização dessa expressão, de alguém “que fala” através desse
espaço é que permite que as redes sociais sejam expressas na Internet
(RECUERO, 2009, p. 27)

Um dos processos fundamentais é compreender como os atores constroem


os espaços, pois, é a partir daí que todo o relacionamento virtual será desenvolvido.
A percepção do outro é importante para o ser humano e fundamenta algumas
atitudes, tais como: a comunicação, a vontade de se expressar em determinado
ambiente, fazer novos amigos, etc. Por esse motivo, quando o internauta se dispõe
a criar um perfil em uma rede social, ele coloca o nome, as preferências religiosas,
políticas, esportivas, os filmes preferidos, a cor predileta, os pratos que mais
33

aprecia, entre outros assuntos. Isso porque a ausência de informações pode


acarretar julgamentos por parte de outros usuários.

Além disso, quando um internauta usa a opção “comentar” em alguma das


redes sociais disponíveis, seja Facebook, Twitter, Instagram, blogs, sites, ou outros,
ele passa por uma individualização e exposição do comentário. O internauta
escreve um ponto de vista em que acredita e o defende, além de expressar gostos
pessoais. Com isso, ele corre o risco de sofrer retaliações por parte de pessoas que
sejam contrárias à sua visão.

É preciso, assim, colocar rostos, informações que gerem individualidade e


empatia, na informação geralmente anônima no ciberespaço. Este requisito
é fundamental para que a comunicação possa ser estruturada. Essas
questões são importantes porque trazem a necessidade de que blogs
identifique, de alguma forma, o indivíduo que se expressa através dele, de
modo a proporcionar pistas para a interação social (RECUERO, 2009, p.
27)

No Facebook, por exemplo, que é a rede social estudada no presente


trabalho, é possível apenas utilizar o sistema com um login e uma senha, que são
criados pelo ator ao iniciar a conta. Com isso, não há como desvincular o ator de
seu perfil, todos os comentários feitos, todas as reações que houver nessa rede
social serão atribuídas a alguém. A única opção existente para esquivar-se do
sistema é criar perfis falsos na rede e utilizá-los, quando a intenção é não ser
reconhecido por outras pessoas, o que não é incomum de acontecer.

As conexões, ou os laços sociais, são fundamentais na compreensão de


rede social e são formadas por intermédio da relação entre os atores. Quando há
variação entre as conexões, as estruturas dos grupos sociais são alteradas, por
isso, esse ponto é considerado o principal foco de estudo das redes sociais. É
possível identificar as conexões na internet através dos sinais que os internautas
deixam por onde passam, por exemplo, os comentários. Uma observação que um
comentador faz na rede social fica registrada na web, a não ser que alguém o
apague ou que a postagem saia do ar. Dessa maneira, o pesquisador tem acesso
ao conteúdo de forma ampla, pois, as mensagens ficam disponíveis na rede.

A interação entre os usuários fortalece a conexão entre eles, dessa forma,


os laços sociais podem ser solidificados com o passar do tempo. Nessa relação há
uma expectativa de ações, isso quer dizer que os indivíduos dependem da
34

percepção do outro a respeito do que está sendo dito sobre determinado assunto.
Porém, os indivíduos não se mostram como realmente são. Eles deixam os outros
internautas conhecerem a parte que eles querem que os outros conheçam e, com a
ajuda do computador e das ferramentas disponíveis, a construção do “eu virtual”
começa a ser traçada.

A relação é tida como a unidade básica de análise em uma rede social e se


distingue do seu conteúdo e de interação. A comunicação via computador traz
aspectos importantes, mas também provoca o afastamento físico entre pessoas
envolvidas nessa construção relacional. Partindo desse mesmo ponto, se o
indivíduo não tem relação entre o corpo físico com outros atores, logo, a
personalidade dele não é dada a conhecer e envolve uma característica de
anonimato.

A ideia de relação social é independente do seu conteúdo. O conteúdo de


uma ou várias interações auxilia a definir o tipo de relação social que existe
entre dois interagentes. Do mesmo modo, a interação também possui
conteúdo, mas é diferente deste. O conteúdo constitui-se naquilo que é
trocado através das trocas de mensagens e auxilia a definir a relação
(RECUERO, 2009, p. 37)

Essas diferenças entre a relação social e a troca de mensagens são


importantes, pois, o indivíduo sente uma liberdade maior para interagir e comentar
no ciberespaço. Em algumas situações, os conflitos em comunidades virtuais
acontecem e as interações passam a ser desequilibradas. A cooperação e a
colaboração dos internautas ou seguidores de páginas ou sites é importante para
manter a estrutura da página equilibrada e cumprindo a função inicial.

Em páginas do Facebook, por exemplo, é comum encontrar pessoas que


agridem umas às outras, que postam fotos pornográficas ou ofensivas direcionadas
a pessoas e etc. Esses conflitos podem gerar interrupções de laços e tornar o local
desarmonioso. Em locais onde o conflito prevalece, pode gerar uma série de pontos
negativos. Raquel Recuero (2009) afirma que o conflito pode gerar desgaste,
desagregação e mesmo, uma ruptura – o fim de uma página coletiva na internet,
por exemplo.

Dessa forma, os comentários dos posts no perfil do Facebook de Cora


Rónai serão analisados para identificar os rastros que os indivíduos foram deixando
ao comentar sobre os assuntos em questão. Em situações conflituosas pode-se
35

encontrar ofensas e desentendimentos entre usuários, gerando interrupções de


laços, dessa forma, o presente trabalho irá analisar se essas situações ocorrem e
se a ruptura social no ambiente virtual acontece. De igual forma, o contrário
também pode acontecer e os usuários podem conseguir manter uma estrutura
equilibrada entre os comentários e uma relação amigável uns com os outros. A
análise de conteúdo irá estudar essa questão.
36

4. UM PERFIL DA JORNALISTA CORA RÓNAI

Cora Rónai é natural do Rio de Janeiro e tocava violino na orquestra do


Teatro Municipal, sonhava em estudar música. Ela foi casada com Millôr
Fernandes, que era poeta, desenhista, jornalista e dramaturgo. Ele faleceu aos 87
anos, em consequência de uma falência múltipla de órgãos, em 2012. Cora
classifica a partida do seu ex-companheiro como o “dia mais triste de sua vida”.

A carreira de Cora no jornalismo teve início em Brasília, quando ela


precisou se mudar com o esposo, na época, após ele assumir um cargo público na
capital federal. Cora se inscreveu para uma vaga de fotógrafa no Jornal de Brasília
e foi selecionada, pois, ela já tinha experiência com a câmera. Nesse período, Cora
começou a escrever legendas para as fotos e logo foi transferida para a redação do
jornal, pois o talento dela para a escrita foi logo percebido pelos editores.

A minha carreira jornalística começou totalmente por acaso. Eu morava no


Rio e acreditava que ia fazer música. O meu marido, na época, passou em
um concurso e nos mudamos para Brasília. Chegando a Brasília, eu vi que
a orquestra de lá não pagava tão bem a estava em uma situação
complicada. Então, certo dia, passando por um lugar notei que eles
precisavam de um fotógrafo. Eu tinha uma máquina e adorava fotografar e
4
perguntei se eles gostariam que eu trabalhasse lá (RÓNAI, Cora , 2016)

Além do Jornal de Brasília, Cora trabalhou no Correio Braziliense e nas


sucursais da Folha de S. Paulo e do Jornal do Brasil. Em 1980, Cora Rónai deixou
Brasília e retornou para o Rio de Janeiro.

Cora é conhecida por ser pioneira do jornalismo de tecnologia e considera


que um dos marcos em sua carreira foi o momento em que o jornal O Globo a
convidou para fazer a seção de informática. A jornalista montou um modelo de
caderno de tecnologia e chegou a apresentar para o jornal que trabalhava no
momento, o Jornal do Brasil, mas eles não aprovaram a ideia, o que deixou Cora
frustrada.

Eu havia tentado vender a ideia de um caderno de tecnologia para o Jornal


do Brasil, mas o jornal não acreditou na ideia, na época. Eu fiz um modelo
de caderno, expliquei como as pessoas estavam lendo sobre tecnologia e
como isso seria importante para o futuro. Então, certo dia, o O Globo me
convidou e perguntou se eu gostaria de fazer o caderno de tecnologia. Eu
me senti tão recompensada, finalmente alguém percebeu que era preciso
fazer e falar sobre isso. (RÓNAI, Cora, 2016)

4
Entrevista concedida por Cora Rónai via telefone, no dia 20/10/2016.
37

A admiração pela tecnologia começou quando Cora comprou um


computador em uma época em que poucas pessoas possuíam um personal
computer (PC). E um dos fatos que mais chamou a atenção da jornalista para
escrever sobre o tema é que ela não via ninguém escrevendo sobre tecnologia e
ela queria aprender mais sobre o tema, sendo assim, ela mesma começou a
escrever para ela e para os outros.

Eu usava máquina de escrever elétrica e um dia ela estragou. Nessa


mesma época, o preço de um computador estava quase o mesmo preço de
uma máquina de escrever nova. Então, um amigo sugeriu que eu
comprasse um computador e eu acabei comprando mesmo sem ter a
menor ideia do que era um computador. Eu comecei a querer ler sobre
aquilo e por vontade de ler, eu acabei escrevendo sobre o assunto.
Ninguém estava escrevendo sobre o que eu queria ler. (RÓNAI, Cora,
2016)

Além de escrever sobre tecnologia, Cora Rónai é conhecida por defender o


meio ambiente, o direito dos animais e fazer postagens contra o governo.
Atualmente, ela é colunista de opinião do jornal O Globo e escreve semanalmente,
às quintas-feiras. Os temas da coluna do jornal são escolhidos por Cora. Além de
escrever para o portal, a jornalista compartilha o mesmo texto em sua página na
rede social Facebook e os seguidores e amigos reagem às publicações, de maneira
positiva ou negativa. Cora entende que um complementa o outro, ou seja, o uso das
redes sociais complementa o serviço que ela presta no portal O Globo e vice-versa.

Eu defino o uso das redes sociais como uma conversa com o leitor. As
reações, as curtidas, os comentários, tudo isso é muito bom, sobretudo, me
orienta muito em relação ao que eu escrevo no jornal. Hoje, você tem uma
semiose, no meu caso, entre a rede social e o jornal, um alimenta o outro.
Eu vejo um assunto que eu esteja em dúvida se as pessoas vão gostar ou
não no jornal, faço um balão de ensaio com aquela ideia na rede social e
vejo se as pessoas se interessam por aquilo. (RÓNAI, Cora, 2016)

Quando um assunto não é bem recebido pelo público, Cora analisa para
estabelecer se o conteúdo vale ou não a pena ser discutido na rede. A página da
jornalista no Facebook já conta com mais de noventa mil seguidores, porém, alguns
assuntos ela fala independentemente da receptividade do público e defende a
opinião que acredita mesmo que o público não concorde, como é o caso de
assuntos políticos. Já, em outros assuntos, ela analisa a situação de uma forma
geral e define se irá falar sobre o caso ou não.

Em política eu escrevo quando o assunto está me irritando muito e eu não


vejo outra saída moral a não ser escrever. É quase uma obrigação
patriótica. Agora, um assunto que eu percebo que as pessoas não gostam
38

de falar é sobre o sofrimento dos animas, e eu sempre escrevo sobre


animal. As pessoas sabem que os animais sofrem, mas ninguém quer ler
sobre sofrimento e eu entendo, porque eu também não quero ver páginas
mostrando fotos de animais sofrendo, por isso, eu tomo bastante cuidado
com esse assunto, por exemplo. (RÓNAI, Cora, 2016)

Cora Rónai é conhecida por ser uma jornalista que declara publicamente o
que acredita e não tem medo de se posicionar, não apenas no espaço em que
trabalha na coluna de opinião, mas também em seu blog – Cora Rónai | InternETC
– e em suas páginas da rede social Twitter e Facebook. Os temas que Cora aborda,
em sua maioria, são complexos e geram muitos comentários nas postagens.
Apesar de toda a repercussão que Cora tem nas redes sociais, ela não se
considera uma pessoa polêmica, pois afirma que não está em uma posição de
extremismo e sim em uma posição centralizada, o que faz toda a diferença.

Estou em uma posição muito clara. O pessoal da esquerda me detesta. Por


outro lado, eu não me considero uma pessoa de direita. Acho que
politicamente estou no centro e o centro não é um lugar de polêmicas, a
polêmica está nos extremos e eu não acho que esteja em nenhum
extremo. Há coisas que a esquerda fala que são importantes e há pontos
da direita que são fundamentais. (RÓNAI, Cora, 2016)

Cora acredita que o que acontece é que não é possível chegar a um lugar
comum de agradar a todos que estão nos extremos. Ela considera três temas
importantes para debate: futebol, religião e política, mas ela fala apenas sobre um
tema: política. Sobre futebol, ela não escreve porque o esporte não desperta uma
paixão pessoal; sobre religião, ela não registra porque é ateia e não vê o tema com
relevância pessoal; já a política é um tema que desperta interesse grande para
debater ideias e ela escreve costumeiramente.

Como Cora é uma pessoa pública, ela conta com as pessoas que
concordam com a opinião postada e a admiram, mas também conta com pessoas
que não atacam somente o comentário, atacam também a sua pessoa. Sobre esse
assunto, a jornalista vê com preocupação o fato de as pessoas não discutirem mais
ideias e partirem para a agressão verbal, ameaças, brigas e etc. Por outro lado, os
comentários positivos existem e são a grande maioria.

Os comentários positivos me dão muita força para continuar. Os


comentários negativos pessoais, que são os que estão acontecendo hoje
no Brasil, são aqueles em que as pessoas não discutem mais as ideias,
elas desqualificam a pessoa. Alguns comentários são muito pesados e eu
sofro com isso, evidentemente. Mas também existe o carinho das pessoas
que gostam de mim e isso que realmente é importante. Eles me dão muita
39

força, me sinto amparada, fortalecida e recompensada pelo o que eu faço.


(RÓNAI, Cora, 2016)

A comunicadora decidiu, em algumas situações, bloquear usuários que


passam dos limites em comentários agressivos e abusivos. Quando o internauta
não concorda com o tema em questão, não é motivo para ser bloqueado, o
problema é quando o internauta passa a provocar outros comentaristas com
palavras de desmoralização e ofensa, a ofender com palavras torpes a própria
Cora, quando um usuário começa a querer fazer da timeline (linha do tempo do
Facebook) um lugar de brigas e etc.

As pessoas que atacam e são agressivas eu bloqueio da minha página do


Facebook. Quando você tem uma timeline do tamanho da minha é difícil
controlar. Quando a minha página era menor, eu apagava os comentários
mais ofensivos para não criar brigas de usuários, mas não chegava a
bloquear. Porém, a página cresceu muito e ficou difícil controlar tudo isso.
Hoje eu bloqueio para não gerar um clima de briga e a página perder a
razão de existir. (RÓNAI, Cora, 2016)

Em outras situações, Cora chega a mandar mensagens para as pessoas


que a seguem no Facebook, por uma opção “privada”, que apenas aquele usuário
irá receber e ler a mensagem enviada, e pede mais compostura para a pessoa e
mais educação. A escritora tem o costume de ler os comentários em sua página e,
com isso, ela conhece basicamente as pessoas que mais comentam na timeline.
Quando ela vê algum comentário de briga de usuário entre esses internautas que
ela conhece, ela manda uma mensagem privada, pede que a pessoa seja mais
educada e apaga o comentário ofensivo do comentador, não bloqueia o usuário.

Esses dias eu relevei alguns, senão ia ser um festival de “blocks” tão


grande, por conta das eleições municipais, muita troca de ofensa. Quando
isso acontece, eu mando uma mensagem privada para a pessoa, quando
eu acompanho o comentarista e vejo que ele tem o costume de visitar a
página, eu apago o comentário e deixo uma mensagem pedindo que ele se
comporte. Eles ficam surpresos, pedem desculpas e mudam o
comportamento. (RÓNAI, Cora, 2016)

As palavras que são ditas na página de Cora pelos internautas que a


seguem, por meio de comentários, podem ser analisadas por meio de um método
conhecido como “análise de conteúdo”. É por meio dele que é possível analisar a
área matriz da palavra e do seu significado. Além disso, é possível investigar as
ideias agrupadas pelos comentadores nas entrelinhas da mensagem, analisando a
intenção das palavras, símbolos, fotos, imagens etc. É o que é dito nesse espaço
40

que nos permite observar os processos que podem evidenciar a espiral do silêncio
no perfil da jornalista.

5. ANÁLISE DE CONTEÚDO

O campo central da análise de conteúdo é a palavra. As relações sociais


também são observadas nesse campo e podem influenciar a linguagem do
indivíduo. O comportamento humano se dá por condutas, valores e crenças e tudo
passa por análise, pois é um conjunto que resulta em expressões verbais e sempre
produz um sentido.

O ponto de partida da análise de conteúdo é a mensagem, seja ela verbal


(oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente
provocada. As mensagens expressam as representações sociais na
qualidade de elaborações mentais construídas socialmente, a partir da
dinâmica que se estabelece entre a atividade psíquica do sujeito e o objeto
do conhecimento. (FRANCO, 2008, p. 12)

A análise de conteúdo pode ser definida como o agrupamento de recursos


metodológicos que são utilizados no que diz respeito ao discurso. É uma técnica de
investigação que tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática e quantitativa
do conteúdo manifesto da comunicação (BARDIN, 2011, p. 24).

O método é baseado na linguagem, que pode ser compreendida como uma


concepção concreta da sociedade e como exteriorização da realidade. A dinâmica
rege o processo entre a linguagem, o pensamento e a ação. Dessa forma, o
conceito é formado por meio de um significado e de um sentido e não simplesmente
por valores sem observação e metodologia. O significado de algo pode ser
entendido a partir de suas especificidades e a partir de sua significação. Já o
sentido pode ser definido como algo mais pessoal e que revela as impressões
sociais, subjetivas e valorativas.

Um dos elementos essenciais da análise de conteúdo é identificar se a


matéria a ser estudada e investigada tem relevância teórica. Um dado que apenas
descreve algo e que não contém informação adicional e relevante, não possui um
valor alto para ser estudado.

Um dado sobre o conteúdo de uma mensagem deve, necessariamente,


estar relacionado, no mínimo a outro dado. O liame entre este tipo de
relação deve ser representado por alguma forma de teoria. Assim, toda a
análise de conteúdo implica comparações contextuais. Os tipos de
comparações podem ser multivariadas. Mas, devem, obrigatoriamente, ser
41

direcionadas a partir da sensibilidade, da intencionalidade e da


competência teórica do pesquisador. (FRANCO, 2008, p. 16)

O que está explícito, de alguma forma, será o ponto de partida para o início
dos trabalhos, sejam eles escritos, falados ou desenhados. A partir desse primeiro
ponto, a análise de conteúdo é feita como um processo a ser trilhado, seguido da
contextualização, que é um passo importantíssimo no processo. É imprescindível
identificar os elementos inerentes à mensagem.

Além disso, outras perguntas podem e devem ser feitas, como: O que está
oculto nessa mensagem? E as entrelinhas? O que este código diz? O que este
símbolo representa? O que este silêncio significa? A comunicação permite a
liberdade de investigar o que a mensagem diz e o que o silêncio representa. Dessa
forma, Maria Laura Franco explica o processo da comunicação e sua composição.

Toda comunicação é composta por cinco elementos básicos: uma fonte ou


emissão; um processo codificador que resulta em uma mensagem e se
utiliza de um canal de transmissão; um receptor, ou detector da
mensagem, e seu respectivo processo decodificador. (FRANCO, 2008,
p.24)

É interessante para o investigador inferir do objeto de estudo algumas


questões, como: as peculiaridades do texto, causas da mensagem, efeitos,
indagações, possíveis significados etc. Quando a questão é direcionada para as
causas e para os efeitos da mensagem, a relevância da análise aumenta, porém, é
exigido do investigador um conhecimento teórico mais abrangente. Por outro lado,
quando o investigador parte do pressuposto do “quem” ou do “por que” e não mais
das causas da mensagem, o ponto de vista a ser analisado inicialmente é o do
próprio produtor. Sobre este último ponto destacado, Maria Laura Franco destaca:

Toda mensagem falada, escrita ou sensorial contém, uma grande


quantidade de informações sobre o seu autor, suas filiações teóricas,
concepções de mundo, interesses de classe, traços psicológicos,
representações sociais, motivações, expectativas, etc. O produtor/autor é
antes de tudo um selecionador e essa seleção não é arbitrária. Da
multiplicidade de manifestações da vida humana, seleciona o que
considera mais importante para “dar o seu recado” e as interpreta de
acordo com seu quadro de referência. Obviamente, essa seleção é
preconcebida. (FRANCO, 2008, p.25)

Para alcançar os resultados na análise de conteúdo, o investigador deve


estar atento para não interferir nos resultados da pesquisa, ou seja, ele deve tomar
cuidado para não direcionar o trabalho para um lado nem para o outro baseado em
juízo de valor.
42

A análise de conteúdo é composta por três campos: 1) Métodos Lógicos-


Estéticos e Formais; 2) Métodos Lógico-Semânticos; e 3) Métodos Semânticos e
Semânticos Estruturais. Os métodos Lógicos Estéticos estão ligados ao enfoque
próprio do autor ou do texto. Para estudar objetos e concluir pesquisas, os
resultados não acontecem de forma instantânea e os desfechos não são produtos
apenas do tempo presente, mas, são consequências de uma vida e uma trajetória
que devem ser analisadas. O conceito histórico e o conceito social dizem muito
sobre uma pesquisa e influenciam o resultado da investigação. Para intermediar
essa transmissão complexa de mensagem entre um tempo e outro, os campos
ajudam o investigador a chegar a um parecer.

O método lógico-semântico está relacionado à função de um classificador.


A identificação dos conteúdos é feita de maneira interpretativa e busca a análise a
partir do material oferecido. O ponto de partida para esse método é o contéudo
disponível. Nessa metodologia, podem ser aplicadas várias formas de textos, como
a pesquisa, a apresentação de dados, a análise, até a interpretação dos resultados.

Um dos elementos essenciais que funciona como um plano para a coleta e


análise de dados é o delineamento de pesquisa. Esse item tem por objetivo
responder as perguntas do pesquisador, dessa forma, o investigador precisa ter
uma noção muito clara do que será examinado, a fim de ir ao centro da questão.

Um bom plano de pesquisa explicita e integra procedimentos para


selecionar uma amostra de dados para análise, categorias de conteúdo e
unidades de registro a serem enquadradas nas categorias, comparações
entre categorias e as classes de inferência que podem ser extraídas dos
dados. Em suma, um bom plano garante que teoria, coleta, análise e
interpretação de dados estejam integrados. (FRANCO, 2008, p. 37).

O pesquisador passa por etapas durante a investigação. Primeiro é definido


o objeto da pesquisa, o que será pesquisado, depois o referencial teórico é
levantado e definido pelo investigador. Então, é necessário definir quais serão as
unidades de análise que serão utilizadas na pesquisa. As unidades são
classificadas em Unidades de Registro e Unidades de Contexto.

As unidades de registro podem ser classificadas como a menor parte do


conteúdo, a partir das categorias abordadas e podem ser de diferentes tipos. Cada
uma das unidades de registro possue características definidoras distintas umas das
outras e precisam estar adaptadas as investigações (FRANCO, 2008, p.41).
43

A menor unidade de registro utilizada na análise de conteúdo é a palavra. A


dificuldade encontrada no emprego dessa forma de pesquisa é o acúmulo de dados
e informações, pois, acarreta um grande número de dados armazenados. Com a
tecnologia do mundo moderno, essa limitação se torna ainda mais acentuada, pois
o pesquisador que opta por analisar palavras vai ter um grande acervo armazenado
de dados coletados para observar.

Outro ponto relevante na unidade de registro é o tema, que diz respeito à


afirmação sobre determinado assunto. Pode ser uma sentença, uma frase, um
parágrafo, ou uma parte maior do trabalho dedicado a falar sobre a temática. O
tema traz questões importantes de valores pessoais com intensidade alta ou baixa,
significados atribuídos a determinadas coisas ou ideias, ideologias, afetividades,
elementos emocionais etc.

O tema é considerado como a mais útil unidade de registro, em análise de


conteúdo. Indispensável em estudos sobre propaganda, representações
sociais, opiniões, expectativas, valores, conceitos, atitudes e crenças.
(FRANCO, 2008, p. 43)

Os personagens são o terceiro ponto da unidade de registro e dizem


respeito a pessoas aptas a serem classificadas de acordo com níveis diferentes dos
indicadores, como: etnia, situação econômica, classe social, educação,
escolaridade, renda, religião, etc. Este tipo de análise com personagens é utilizada,
especialmente, em casos de dramas, biografias, programas de televisão, filmes e
veículos de comunicação de massa em que a análise se encaixe no perfil da
pesquisa.

Por fim, o último elemento da unidade de registro é o item, que é utilizado


para fins de diagnóstico de precisão, como por exemplo, definir do que se trata um
artigo literário, definir qual é o assunto trabalhado no livro, analisar qual é a temática
de um programa de rádio e assim por diante. Esse elemento pode contribuir
positivamente para a análise de conteúdo se for usado conjuntamente com outras
categorias adicionais e que complementem a pesquisa, pois, a abrangência do item
pode apresentar problema de classificação para a investigação se for utilizado
isoladamente.

Não apenas o último elemento citado, o item, mas todos os outros pontos
da unidade de registro podem ser utilizados conjuntamente. Embora as unidades
44

pareçam independentes, uma não exclui a participação da outra na análise de


conteúdo, ao contrário, pode ajudar na obtenção dos resultados.

Vale levar em conta que não existe nenhuma razão plausível para
endossar que um estudo particular se utilize de apenas um tipo de unidade
de registro. Ao contrário, elas podem e devem ser combinadas,
compartilhadas e inter-relacionadas para garantir a possibilidade de
realização de análises e interpretações mais amplas e que levem em conta
as variadas instâncias de sentido e de significados implícitos nas
comunicações orais, escritas ou simbólicas. (FRANCO, 2008, p.46)

As outras unidades de análise são as unidades de contexto, elas podem ser


definidas como os elementos que dão a base de sustentação para as unidades de
registro. Esses dados podem ser adquiridos por intermédio de informantes, por
meio de inserção em grupos sociais e é a parte mais abrangente do conteúdo a ser
estudado. É considerada indispensável para a análise de conteúdo por possuir
informações ricas a respeito do assunto a ser investigado. A unidade de contexto
precisa ser vista como a unidade fundamental para o entendimento da unidade de
registro, uma complementa a outra.

A unidade de contexto é indispensável para a necessária análise e


interpretação dos textos a serem decodificados (tanto do ponto de vista do
emissor, quanto do receptor) e, principalmente, para que se possa
estabelecer a necessária diferenciação resultante dos conceitos de
“significado” e de “sentido”, os quais devem ser consistentemente
respeitados, quando da análise e interpretação das mensagens disponíveis
(FRANCO, 2008, p. 47)

Após essa definição do pesquisador de delimitar o objeto da pesquisa, o


referencial teórico e as unidades analíticas, a análise de conteúdo passa por uma
etapa de pré-análise. Essa fase corresponde a uma etapa de organização com as
pesquisas feitas desde o início, as intuições do pesquisador, e tem por finalidade
estruturar os materiais para elaboração de um plano de análise. O programa da
fase da pré-análise é flexível e permite que outros estudos que não estavam
incluídos no projeto inicial passem a fazer parte do projeto a partir de então.

Esse ponto da pesquisa compreende três passos: a escolha dos


documentos que farão parte do diagnóstico, a elaboração das hipóteses ou dos
objetivos e a produção de indicadores que fortaleçam o resultado da observação.
Esses elementos não precisam seguir, necessariamente, uma ordem cronológica,
mesmo que um dependa do outro para garantir bons resultados.
45

A pré-análise é dividida em atividades para facilitar o andamento do projeto


e da sistematização. A primeira atividade é a “leitura flutuante”, que se baseia em
conhecer os documentos e os textos que farão parte da análise. Nesse primeiro
momento é permitido que as emoções e as primeiras impressões a respeito dos
documentos façam parte da observação. À medida que o pesquisador vai lendo
sobre o assunto, as noções vão se tornando cada vez mais precisas.

Em segundo lugar, a escolha dos documentos pode ser feita no início.


Quando o objeto está delimitado, o pesquisador pode optar por analisar os
discursos e mensagens, por exemplo, que tenham a ver com o tema que ele
escolheu para ser estudado. Quando o tema já foi delimitado pelo investigador.

Com o universo demarcado (o gênero de documentos sobre os quais se


pode efetuar a análise), é muitas vezes necessário proceder-se à
constituição de um corpus. O corpus é o conjunto dos documentos tidos
em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos. A sua
constituição implica, muitas vezes, escolhas, seleções e regras. (BARDIN,
2011, p. 126)

As regras elementares para a constituição do corpus são: a regra da


exaustividade, regra da representatividade, regra da homogeneidade e regra da
pertinência. A regra da exaustividade diz respeito à seleção de materiais coletados
durante a pesquisa e a inclusão de todos esses materiais sem deixar qualquer um
de fora da análise, seja questionário, editorial ou entrevista, todos esses elementos
precisam estar inseridos no plano.

A regra da representatividade defende que a análise pode ser feita através


de amostras, desde que tenha material suficiente para a pesquisa. A regra da
homogeneidade trata da afirmativa de que os documentos levantados para a
pesquisa precisam ser homogêneos, eles precisam observar normas de escolha,
por exemplo, uma entrevista de investigação precisa ser feita sobre o mesmo tema,
as técnicas precisam observar semelhanças entre as outras do mesmo tema e ser
realizadas por indivíduos semelhantes. A regra de pertinência precisa observar a
adequação da fonte de informação com relação ao tema escolhido para a análise, é
necessário que sejam correspondentes entre si.

A partir dessas regras delimitou-se o objeto de estudo deste trabalho como


análise de conteúdo categorial de quatro postagens selecionadas no perfil da
46

jornalista e colunista do jornal O Globo, Cora Rónai, no Facebook. Laurence Bardin


define análise categorial como:

Esta pretende tomar em consideração a totalidade de um “texto”,


passando-o pelo crivo da classificação e do recenseamento, segundo a
frequência da presença (ou de ausência) de itens de sentido. Isso pode
constituir um primeiro passo, obedecendo ao princípio da objetividade e
racionalizando por meio de números e percentagem uma interpretação
que, sem ela, teria de ser sujeita a aval. É o método das categorias,
espécie de gavetas ou rubricas significativas que permitem a classificação
dos elementos de significação constitutivos da mensagem. (BARDIN, 2011,
p. 43)

Tendo como base, o ponto de partida para a análise, as postagens


publicadas na página da jornalista e os comentários dos seguidores nas postagens
selecionadas para análise. O período escolhido para a observação é a semana de
29 a 30 de agosto, data em que ocorreu a sessão final do processo de
impeachment5 da presidente Dilma Rousseff.

Ao coletar o material, será levado em conta as entrelinhas das mensagens


e será analisado o que os comentários quiseram dizer, além de identificar como a
teoria da espiral do silêncio se aplica na internet. A finalidade é fazer deduções
lógicas que se justifiquem com os contextos das mensagens e com os resultados
da análise, além de levar em consideração as mensagens dos comentários e dos
textos e a forma como são ditas.

A teoria da espiral do silêncio traz o conceito que o indivíduo tende a calar-


se e hesita em expor a opinião caso ela seja minoritária, temendo o isolamento.
Além disso, defender um argumento sozinho diante de um grupo é um processo
árduo, dessa forma, alguns aceitam a opinião majoritária e silenciam as opiniões
isoladas.

Partindo do princípio que os indivíduos são seres sociais e buscam a


integração uns com os outros, temendo o isolamento, conforme a teoria da espiral
do silêncio afirma, a hipótese do trabalho é verificar como as pessoas reagem
diante de assuntos polêmicos envolvendo o tema política. A proposta é examinar se
opiniões minoritárias são expostas em um grupo, quando o indivíduo percebe que a

5
A sessão de impeachment discutiu se Dilma cometeu crime de responsabilidade e pedaladas
fiscais. No dia 31 de agosto de 2016 a presidente foi afastada do cargo.
47

sua opinião não será aceita pela maioria e que a receptividade do seu comentário
não será positiva.

A elaboração das hipóteses é uma das atividades da análise de conteúdo e


faz parte do programa inicial. Levantar uma hipótese significa trazer questões à
tona para serem pensadas e verificadas com base em estudos e análises. A partir
de então, será possível verificar se a hipótese será confirmada ou invalidada.

Uma hipótese é uma afirmação provisória que nos propomos verificar


(confirmar ou infirmar), recorrendo aos procedimentos de análise. Trata-se
de uma suposição cuja origem é a intuição e que permanece em suspenso
enquanto não for submetida à prova de dados seguros. O objetivo e a
finalidade geral a que nos propomos (ou que é fornecida por uma instância
exterior), o quadro teórico e/ou pragmático, no qual os resultados obtidos
serão utilizados. (BARDIN, 2011, p.128)

Alguns pontos serão observados durante a análise: Como os indivíduos se


comportam nas redes sociais diante de assuntos polêmicos e delicados? Eles
tendem a falar e manifestar a opinião ou preferem o silêncio quando se dão conta
que a opinião deles não é maioria? Na Internet, mesmo diante de assuntos
polêmicos, as pessoas se sentem mais à vontade para expressar a opinião e não
temem o isolamento?

O tema impeachment foi escolhido por ser um assunto recente e de grande


relevância pública, além de ser um ponto polêmico. A jornalista Cora Rónai
compartilha textos com os seus seguidores e faz duras críticas ao governo do
Partido dos Trabalhadores (PT) e aos senadores, além de escrever textos de
opinião sobre o cenário político brasileiro.

A partir de uma pré-análise dos textos postados na página da jornalista e de


uma exploração prévia do material selecionado, alguns temas foram percebidos
com maior destaque nas publicações. As categorias selecionadas para análise,
então, foram: política, a relação entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o país nos
últimos oito anos, a escolha de Michel Temer como vice-presidente de Dilma
Rousseff e a rejeição do mesmo por parte dos eleitores de Dilma, a situação
econômica e política do Brasil nos anos em que Dilma presidiu o país, brigas,
desentendimentos e ataques movidos por causas políticas e nível intelectual dos
políticos brasileiros (senadores, presidentes e deputados).
48

A referenciarão dos índices e a elaboração dos indicadores compõem,


ainda, a parte inicial da análise de conteúdo e diz respeito ao índice como forma de
explicitação de um tema. E, antes de começar a análise, outro elemento ajuda na
composição da pesquisa, a preparação do material. Essa parte do trabalho trata de
ajustar o que já foi coletado para a próxima etapa.

Tabela 1. Desenvolvimento da pré-análise. Fonte: elaboração própria.

Pré Análise

Leitura Flutuante

Escolha dos documentos

Formulação das
hipóteses

Referenciarão dos
índices

Constituição do Corpus

Direções de análise

Preparação do material

Pré-Teste de técnicas

Para desenvolver as etapas da análise de conteúdo listadas acima, será


feita análise categorial, ou seja, um exame por categorias. Este processo
caracteriza-se por ser um agrupamento de elementos estabelecidos e selecionados
para investigação. As chamadas categorias são conhecidas também como
elementos ou registros.
49

6. ANÁLISE CATEGORIAL

A análise por categorias é considerada a mais antiga e é a mais adotada.


Funciona por segmentação do texto em unidades e em categorias e possui diversas
possiblidades de sistematização, entre elas, a investigação de temas e análises
temáticas. A técnica possui diversas fases e, em alguns pontos específicos, não é
necessário analisar o texto em sua totalidade, não é um método exaustivo, ou seja,
apenas os enunciados que apresentam uma avaliação é que são analisados.

Os componentes dos enunciados avaliativos são compostos por três


elementos: os objetos de atitude, os termos avaliativos com significação comum e
os conectores verbais. O primeiro desses componentes é o objeto de atitude, que
diz respeito aos temas que serão avaliados, como pessoas, ideias, acontecimentos
e etc. Os objetos de atitude são anotados em maiúsculo. Os termos avaliativos
qualificam os objetos da atitude e são anotados em minúsculo e em itálico. Os
conectores verbais são aqueles que ligam os objetos de atitude aos termos
avaliativos.

Uma forma de análise de conteúdo categorial é a negativa e a positiva.


Analisando a importância das informações e da propagação de notícias negativas
nos meios de comunicação, um esquema de classificação considerado simples
pode ser adotado para analisar o conteúdo. Os itens que são considerados
negativos são aqueles que tratam de conflitos, de tensão internacional (conflitos
econômicos sociais e militares), crimes, tensões, vícios, acidentes e desastres. Os
itens considerados positivos são aqueles que abordam temas que fazem refletir
sobre cooperação internacional (comunicação entre os países), atividades do
governo, atividades sociais, vida cotidiana, informações sobre cidadãos. O objetivo
deste tipo de análise de conteúdo é identificar as atitudes dos emissores diante de
suas mensagens.

A análise categorial é diferenciada por estabelecer critérios de classificação


de elementos e reagrupá-los segundo o gênero de cada um, a partir de critérios
estabelecidos previamente.
50

O processo de análise é composto ainda por dois itens: inventário e


classificação. O inventário consiste em isolar os elementos e a classificação baseia-
se em dividir as unidades, distribuindo uma organização às mensagens.

As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de


elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um
título genérico, agrupamento esse efetuado em razão das características
comuns destes elementos. (BARDIN, 2011, p. 147)

A metodologia da categorização pode ser semântica, quando todos os


temas que tenham significados parecidos ficam agrupados juntos; pode ser
sintático, quando as palavras são agrupadas de acordo com o sentido e sinônimos;
e expressivos, quando são agrupadas por vários outros fatores da linguagem.

Classificar elementos em categorias impõe a investigação do que cada um


deles tem em comum com outros. O que vai permitir o seu agrupamento é
a parte comum existente entre eles. É possível, contudo, que outros
critérios insistam em outros aspectos de analogia, talvez modificando
consideravelmente a repartição anterior (BARDIN, 2011, p. 148)

Para definir a análise categorial, foram definidos quatro temas a serem


analisados a partir das postagens feitas por Cora Rónai. As categorias escolhidas
para referenciação dos temas foram escolhidas com base nas postagens da
jornalista e, partir dos comentários feitos em cada um dos posts, as categorias
serão estabelecidas também para os comentários dos internautas.

6.1 NÍVEL INTELECTUAL DOS POLÍTICOS BRASILEIROS

Um dos elementos que será estudado nas postagens da jornalista Cora


Rónai é o nível intelectual das autoridades políticas do país. Cora questiona a
capacidade de um presidente não dar esclarecimentos suficientemente necessários
sobre economia em plenário e lamenta o despreparo de Dilma Rousseff para
assumir a presidência, além disso, questiona a reeleição de alguém despreparada
para assumir o Brasil na condição de Presidente da República.

Além dessa postagem que destaca esse elemento, Cora Rónai escreveu
um texto falando sobre a pobreza intelectual do Senado Federal e questionou as
perguntas feitas à Presidente da República.

Essa sessão do Senado é de uma pobreza intelectual assustadora. No


debate entre a presidente afastada e os senadores não há uma pergunta
51

relevante, uma resposta pertinente, um raciocínio inteligente. Não há


sequer uma boa tirada. É deprimente pensar que o país está nas mãos
dessas pessoas toscas e afetadas, incapazes de conduzir um diálogo
6
minimamente compreensível. (RÓNAI, Cora , 2016)

6.2 A POLÍTICA NO BRASIL NOS ANOS EM QUE O PT PRESIDIU O PAÍS

Nessa postagem, uma categoria que será analisada é a situação


categorizada da situação política e econômica do Brasil nos anos em que o Partido
dos Trabalhadores (PT) presidiu o país. Foram anos de governo do PT no Brasil e,
nesse período, há quem defenda que o partido trouxe inúmeras conquistas para o
país e há quem defenda que o partido afundou o Brasil. Dilma Rousseff foi eleita em
2010 e reeleita em 2014.

Dilma dando conselhos de economia. Economia. E daquele jeito. É incrível,


mas ela realmente ainda não entendeu o que aconteceu. Acho deprimente
todo esse processo. É muito triste ver o país nessa situação, muito triste
constatar, pela enésima vez, a arapuca em que o PT nos meteu, ao indicar
à presidência uma pessoa tão despreparada. É inacreditável que ela tenha
sido não só eleita, como reeleita. É muito triste também ver uma pessoa
tão deslocada debatendo contra a realidade que não entende e tentando
7
construir uma narrativa que não se sustenta (RÓNAI, Cora , 2016)

Vamos analisar nos comentários como os internautas reagem à publicação,


saber se eles são a favor da postagem de Cora Rónai, contra, neutro, indiferentes,
ou outra categoria que apareça nos comentários.

6.3 A ESCOLHA DE MICHEL TEMER COMO VICE-PRESIDENTE DA


REPÚBLICA E A REJEIÇÃO DO MESMO POR PARTE DOS ELEITORES DE
DILMA

A segunda postagem da jornalista diz respeito a uma pergunta que o


senador Cristovam Buarque (PPS) fez a Presidente Dilma Rousseff sobre o fato de
ela ter escolhido Michel Temer não apenas uma vez como seu vice, mas duas
vezes. Cora Rónai achou a pergunta boa e disse que mais uma vez ficou sem
resposta.

6
Postagem número 1 publicada por Cora Rónai em sua página no Facebook sobre o nível intelectual
dos políticos brasileiros.
7
Postagem número 2 publicada por Cora Rónai em sua página no Facebook sobre o processo de
julgamento de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.
52

Cristovam Buarque fez uma pergunta objetiva: quais foram as qualidades


de Michel Temer que levaram Dilma a escolhê-lo como vice, não uma, mas
duas vezes? Foi uma boa pergunta. Eu gostaria muito de saber, acho que
o país inteiro gostaria. Dilma falou, falou e nada. Ficamos sem resposta.
8
(RÓNAI, Cora )

Antes da sessão final no Senado Federal, Dilma Rousseff chegou a dar


entrevistas a jornais estrangeiros afirmando que errou na escolha de seu vice-
presidente e chamou o caso de “um erro óbvio”. Muitos dos que apoiam Dilma,
afirmam que Michel Temer não foi leal e aproveitou a situação para ocupar o cargo
de presidente, outros acreditam que Dilma agiu de forma errada, mas não são a
favor do impeachment, pois defendem a democracia. A análise categorial dos
comentários será feita para identificar quantos são a favor, quantos são contra, ou
quantos se enquadram em outras categorias para a postagem.

6.4 BRIGAS, DESENTENDIMENTOS E ATAQUES MOVIDOS POR


CAUSAS POLÍTICAS

O último post analisado diz respeito a brigas e desentendimentos no


Facebook por ideologia política. Cora Rónai é bastante ativa em sua página de rede
social, principalmente em assuntos políticos. Como estávamos em semana decisiva
e a sessão do impeachment no Senado estava acontecendo, a jornalista estava
postando constantemente. Com isso, várias pessoas começaram a entrar em seu
Facebook e ofender outros usuários e a própria Cora, sendo necessário que alguns
fossem bloqueados pela jornalista.

Enquanto isso, o povo fica se matando no Facebook e brigando na rua.


Update: Entraram umas dilmistas nervosas aqui ainda agora com as
acusações de sempre – Cora Rónai golpista, trabalha na Globo,
empregada da família Marinho blá blá blá. Rendeu bem uma meia dúzia de
blocks. Flores, é o seguinte: não há julgamento moral nessa foto. O meu
ponto, se é que preciso desenhar, é que não carece brigar por conta de
9
políticos. Tá tão difícil de entender assim? (RÓNAI, Cora )

8
Postagem número 3 publicada por Cora Rónai em sua página no Facebook sobre o processo de
julgamento de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff e sobre a desenvoltura da
pergunta do senador Cristovam Buarque.
9
Postagem número 4 publicada por Cora Rónai em sua página no Facebook sobre o processo de
julgamento de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. A foto ilustra Dilma, Aécio Neves
da Cunha (senador) e Ricardo Lewandowski (ministro do Supremo Tribunal Federal), juntos e
sorrindo.
53

Figura 1. Foto representativa da postagem número 4. Fonte: Facebook

A intenção de Cora ao fazer a postagem era uma forma de dizer que não é
necessário brigar por política. Para ela, enquanto recebia inúmeros ataques de
internautas que não concordavam com o que ela escrevia, os políticos estavam
convivendo civilizadamente. A intenção da análise categorial nessa postagem é
identificar como os seguidores e os amigos que comentaram na postagem reagiram
ao comentário.
54

7. ANÁLISE DE COMENTÁRIOS

O método utilizado para analisar o corpus foi a análise de conteúdo


categorial. A escolha se deu pelo fato dos objetivos específicos do trabalho ser
representados pelo método, cumprindo assim, o objetivo final que é o resultado.
Para chegar ao resultado final, foram analisados todos os comentários das quatro
postagens selecionadas para análise. A linguagem dos comentários foi verificada
no âmbito da semântica (a análise foi feita a partir do que foi dito no texto do
comentário) e, no âmbito da sintática (o comentário foi analisado a partir da forma e
da expressão como foi dito). Dessa forma, ao analisar os elementos textuais, foi
levado em consideração a aproximação que o usuário possuía com a jornalista
(seguidor ou amigo), e foram analisados os comentários às postagens de Cora
Rónai em sua página no Facebook.

7.1 ANÁLISE DA POSTAGEM NÚMERO 1

Figura 2 Postagem analisada de Cora Rónai 1. Fonte: Facebook

A primeira observação que temos da primeira postagem é que a maioria


dos comentários são a favor do post de Cora Rónai. No texto postado no Facebook,
Cora questiona a sessão do impeachment no Senado Federal e lamenta a pobreza
intelectual dos senadores e da presidente afastada, Dilma Rousseff. Cora afirma
que não há um raciocínio inteligente e que as pessoas são incapazes de conduzir
um diálogo minimamente compreensível.

O elemento analisado a partir da postagem de Cora Rónai é o nível


intelectual dos políticos brasileiros. A publicação número 1 totalizou 366
55

comentários e as categorias foram definidas a partir dos comentários feitos na


postagem.

Tabela 2. Categorias dos temas da postagem 1. Fonte: elaboração própria.

Temas/Categorias

A favor

Contra

Senadores fizeram perguntas pertinentes

A presidente não respondeu ao que foi perguntado

Culpam a imprensa pelos ataques e pronunciamentos

Neutros

Políticos são eleitos pelo povo/ reflexo do país

Desânimo com o cenário político

Querem o impeachment

Admiram Dilma

Culpam Dilma

Sessão seguiu um roteiro pré-estabelecido

Queriam réplica/diálogo

Sessão desnecessária

Brigas entre usuários

Marcação de nomes

Respostas aos comentários (contra, a favor, neutras, brigas de usuários)

Figuras e posts que podem ter vários sentidos

Os internautas que se posicionam a favor da postagem concordam com o


que Cora Rónai publicou e lamentam a situação em que o país está vivenciando,
comentam aplaudindo a postura e a coragem da jornalista por ela falar abertamente
56

o que acredita. Além de concordarem com o baixo nível dos políticos brasileiros,
alguns comentários revelam insatisfação com a candidatura de políticos que não
sabem falar bem a língua portuguesa e os compara a analfabetos. Outros
seguidores que são a favor da postagem comparam o Senado Federal a lugares
como circo e hospício. O total dos internautas que se posicionaram a favor do
comentário de Cora Rónai totalizou 147 comentários, o que equivale a um
percentual de 40,16%.

Os comentários contra a postagem totalizaram 37, o que equivale a um


percentual de 10,11%, uma quantidade inferior se comparada aos comentários
favoráveis à postagem. Os comentários revelam que os internautas discordam da
postagem porque não acharam que todos os senadores foram ruins em suas
performances, os mais elogiados foram: Magno Malta, Ronaldo Caiado, Ana
Amélia, Simone Tebet, Cássio Cunha Lima e Cristovam Buarque. Outros
seguidores apenas discordaram e não exemplificaram os motivos, outros
discordaram da sessão e afirmaram que toda a situação política vivenciada no
momento era um golpe contra a democracia e que não houve motivo algum para o
julgamento.

A terceira categoria afirma que os senadores fizeram perguntas pertinentes


e elogiaram alguns questionamentos, porém, criticaram as respostas de Dilma. Os
internautas discordaram de Cora Rónai pelo fato de ela ter publicado que não
houve um raciocínio inteligente, 19 pessoas acreditam que os senadores
questionaram e, Dilma não respondeu ao que foi perguntado de forma coerente. Os
seguidores afirmam que Dilma não foi à sessão para responder a ninguém, apenas
enrolar e não responder aos questionamentos. Porém, o que prevaleceu nos
comentários foram os elogios aos questionamentos dos senadores. O percentual
dos internautas que comentaram nessa categoria equivale a 5,19%

Por outro lado, a quarta categoria afirma que Dilma Rousseff não responde
a nada concretamente e zombam das respostas da ex-presidente. Ao todo, 34
pessoas comentaram que Dilma não responde com lucidez, que ela repete as
mesmas coisas, fazem piadas e questionaram se ela usou ponto eletrônico no dia
da sessão do impeachment, pois, acharam a atuação da ex-presidente artificial. O
total das pessoas que acreditam nessa afirmação é 9,29%
57

Apenas uma pessoa comentou na categoria culpando a imprensa pelos


ataques e pronunciamentos e afirmou que parte da imprensa e de seus
representantes não está longe da pobreza intelectual citada por Cora. Além de
questionar a imparcialidade da imprensa, o internauta criticou a fragilidade da
democracia no Brasil. O percentual para essa categoria é de 0,27%.

A categoria neutra é o espaço onde os internautas comentaram assuntos


diversos à ponderação de Cora Rónai. É a categoria que comenta sobre assuntos
variados que não dizem respeito à postagem, como: postagem de gatos, postagem
das olimpíadas, comentários sobre roupas e vestimentas e etc. Comentaram nessa
categoria 11 pessoas, o que equivale a 3,01%.

Parte dos seguidores afirmou que a situação é reflexo do voto de cada


brasileiro e lembraram que cada político foi eleito pelo povo e representa a
população brasileira. Nos comentários, é possível perceber que a grande maioria
está insatisfeita com a situação política atual, mas lamentam por acreditarem que
isso é o reflexo da cultura brasileira. Comentaram nessa categoria 33 pessoas, ou
seja, 9,02%.

Além dessa categoria, existe a classe que está desanimada com o cenário
político e não têm mais expectativa positiva. Alguns internautas afirmaram que não
conseguiram assistir ao julgamento, outros afirmaram que sentiam vontade de
chorar ao ligar a televisão, outros comentaram com vários sentimentos de raiva em
relação aos governantes e à política e etc. As pessoas que comentaram nessa
categoria não acreditam que a situação pode melhorar, ao contrário, elas acreditam
que a tendência é piorar cada vez mais. Comentaram nessa categoria 37 pessoas,
o que corresponde a 10,11%.

Na categoria dos que defendem o impeachment, seis pessoas comentaram


a favor, ou seja, 1,64%. As explicações variaram entre figuras comemorando o
impeachment e textos defendendo que o julgamento não poderia ser um golpe,
pois, estava dentro dos parâmetros legais. Porém, o que mais destacou nessa
categoria foram as imagens pedindo a saída de Dilma.

Duas pessoas comentaram na categoria elogiando Dilma Rousseff e


afirmaram que ela é um exemplo a ser seguido, totalizando 0,55%. Discordaram da
58

postagem de Cora e enalteceram qualidades da ex-presidente. Contra essa linha,


duas pessoas comentaram que Dilma é a culpada por toda a crise que o país está
enfrentando e totalizaram um percentual de 0,55%.

Onze pessoas, ou 2,19%, comentaram na categoria afirmando que a


sessão seguiu um roteiro pré-estabelecido e não se espantaram com o que
assistiram. Alguns seguidores afirmaram que Dilma repetia as mesmas respostas
propositalmente e compararam a sessão com uma “peça de teatro”.

Outra categoria estabelecida foi a dos que afirmaram que a sessão deveria
ter tido réplica, ou seja, um argumento para contestar o outro argumento. Onze
pessoas afirmaram que o que foi estabelecido no Senado Federal não foi um
diálogo, pois, diálogo envolve ideias e réplica. 3,01% dos internautas afirmaram que
um julgamento sem réplica é apenas uma conversa e não concordaram com o
método estabelecido na sessão.

Quatro comentários foram identificados como brigas de usuários,


totalizando 1,09%. O conteúdo da conversa não é totalmente identificável. Cora
Rónai tem por costume apagar comentários de briga em sua página, para impedir
que a página do Facebook se torne um local de brigas virtuais. Nesses quatro
comentários identificados na postagem 1, o que se pode perceber é que outros
comentários de brigas foram apagados, ou pela própria Cora Rónai ou por quem
escreveu, pois, os quatro comentários que restaram na página, dão a entender que
um assunto está em discussão, porém, fragmentado.

A categoria marcação de nomes é o grupo classificatório em que


internautas marcam outros internautas pelo nome na postagem. Comentaram nessa
categoria duas pessoas, totalizando 0,55%. É comum nessa categoria as pessoas
marcarem umas as outras quando pretendem que a outra leia o texto ou veja a
postagem.

A penúltima categoria estabelecida é caracterizada por comentários que


podem ter vários sentidos, podem representar várias coisas. Comentaram nessa
classe 11 pessoas, totalizando 3,01%. Alguns internautas comentaram com figuras
irônicas, que não se sabe ao certo se a ironia é referente à postagem de Cora ou
aos comentários, frases com duplos sentidos e etc.
59

Apenas uma pessoa achou a sessão desnecessária, totalizando 0,27%.

Gráfico 1. Dados referentes à postagem número 1. Elaboração própria

Gráfico 2. Dados referentes à postagem número 1. Elaboração própria

As respostas aos comentários totalizaram 61 respostas. Essa função é


possível quando o internauta faz um comentário na postagem e outra pessoa pode
responder ao comentário desse internauta. As respostas a favor dos comentários
foram 39, totalizando em percentual 63,93%. As respostas contra aos comentários
corresponderam a 16, totalizando 26,23%%. As argumentações neutras foram
60

quatro, correspondendo a 6,56%. E as brigas entre usuários totalizaram duas


respostas, o que equivale a 3,28%.

Gráfico 3. Dados referentes à postagem número 1. Respostas aos comentários. Elaboração


própria

Com a análise da postagem número 1, verificou-se que o processo de


espiral do silêncio se faz presente e que os internautas que se posicionam a favor
dos comentários são a grande maioria dos que compõem as respostas do post,
correspondendo a 147 comentários. É importante destacar que a maioria dos
comentários que se posicionaram a favor são simplórios e usam apenas palavras
de apoio a Cora Rónai, tais como: “Verdade”, “Perfeito”, “Toda razão”, entre outros.
É possível perceber que os seguidores da jornalista admiram o modo como ela
escreve e defende as ideias em que acredita. Muitos comentários elogiam Cora e
enaltecem suas qualidades. Para o indivíduo, é importante compartilhar ideias e ter
o ponto de vista aceito por todos. Dessa forma, a grande parte dos seguidores de
Cora Rónai concorda com suas ideias e compartilha do mesmo pensamento,
aplaudem a postura da jornalista, defendem os mesmos ideais e elogiam os textos
publicados.

Figura 3 Comentário da postagem 1. Fonte: Facebook


61

Figura 4 Comentário da postagem 1. Fonte: Facebook

Figura 5 Comentário da postagem 1. Fonte: Facebook

Um dos pontos fortes da teoria da espiral do silêncio é que a relação entre a


percepção, a opinião e a vontade de se expressar sobre determinado assunto pode
se tornar ainda mais forte quando as pessoas percebem que estão em uma
situação real e discutindo assuntos do cotidiano, inclusive assuntos polêmicos.

A análise mostrou que os indivíduos se posicionaram de alguma maneira à


postagem de Cora Rónai. Partindo do princípio que as pessoas temem o isolamento
e buscam a integração com os outros indivíduos, elas tendem a permanecer
atentas às opiniões populares e procuram encaixar-se nos parâmetros. Esse fator
foi notório na postagem número 1.

Figura 6 Comentário da postagem 1. Fonte: Facebook

Na postagem acima é possível perceber que Regina Villela foi uma das
seguidoras de Cora que discordou da postagem, logo, outras pessoas que
compartilhavam do mesmo pensamento de Regina, aproveitaram a oportunidade
para comentarem também em cima da postagem dela. Esse comportamento
62

fortalece a hipótese citada acima, o indivíduo fica atento às opiniões populares e


procura se encaixar nos parâmetros.

Nessa postagem, as pessoas que foram contra a publicação, reagiram


defendendo a ideia em que acreditavam, como por exemplo, discordaram de Cora e
afirmaram que houve senadores que fizeram perguntas pertinentes e que tiveram
um bom desempenho no processo. 37 pessoas foram contra a publicação, um
número bem inferior se for comparado ao número que se posicionou a favor.

Figura 7 Comentário da postagem 1. Fonte: Facebook

Com isso, é possível afirmar que os indivíduos se aproximaram das


opiniões dominantes e que o efeito da espiral se aplica: uma opinião parece ser
mais forte do que realmente possa ser e, em contrapartida, a outra força parece ser
mais fraca do que ela realmente é. Ao ler os comentários, a grande maioria é a
favor da postagem, logo, o indivíduo que começa a ler sobre o assunto em questão
pode pensar que a verdade está com a opinião dominante, os que são a favor. E
pode pensar que o lado errado é a opinião minoritária, os que são contra a
postagem.

Sendo assim, o efeito da espiral do silêncio pode acontecer e o indivíduo


permanecer em silêncio diante de assuntos polêmicos em que a sua opinião não é
majoritária temendo o isolamento ou pode acontecer conforme nos comentários da
postagem: a maioria se reveste de coragem quando percebe que os outros estão
comentando e compartilhando o mesmo pensamento minoritário.
63

7.2 ANÁLISE DA POSTAGEM NÚMERO 2

Figura 8 Postagem analisada de Cora Rónai 2. Fonte: Facebook

O diagnóstico da segunda publicação de Cora é referente a dois elementos:


o nível intelectual dos políticos brasileiros – senadores, deputados e presidente – e
o segundo elemento presente é a relação entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e
o país nos últimos anos. A jornalista comenta sobre um momento na sessão do
impeachment em que a presidente afastada Dilma Rousseff discursa sobre
economia. Cora Rónai critica os questionamentos de Dilma e questiona como uma
pessoa que não compreende conceitos básicos de economia foi eleita e reeleita.
Além disso, cita o partido dos trabalhadores como responsável por indicar uma
pessoa despreparada para assumir um cargo de importância como a presidência de
um país.

O total de comentários nessa postagem contabilizou 251 respostas dos


internautas, sendo a maioria a favor da postagem de Cora Rónai. A maioria dos
internautas que comentaram na publicação são seguidores da jornalista. As
categorias foram definidas a partir dos comentários feitos na postagem.
64

Tabela 3. Categorias dos temas da postagem 2. Fonte: elaboração própria.

Temas/Categorias

A favor

Contra

Dilma tem consciência de tudo e se finge de incapaz

Marcação de nomes

Reconhecem os pontos fracos do governo, mas não apoiam o impeachment

Acreditam que Lula é o mandante de tudo

Políticos são eleitos pelo povo/ reflexo do país

Eleição foi fraude/ Não acreditam na confiabilidade das urnas

Neutros

Não assistiram à sessão

Admiram Dilma

Respostas aos comentários (contra, a favor, neutras)

Figuras e posts que podem ter vários sentidos

Concordam com a postagem 192 pessoas, o que corresponde a 76,5%. Os


internautas que comentaram nessa categoria apoiam a ideia de que Dilma Rousseff
é despreparada para o cargo de presidente da república, concordam com tudo o
que Cora Rónai descreveu e afirmam que a presidente afastada não completa o
raciocínio de forma coerente. Além disso, muitos comentários elogiam as
publicações de Cora e afirmam que as colocações dela são sempre sensatas e bem
impostas.

Os comentários contra a postagem totalizaram sete, o que equivale a um


percentual de 2,8%, uma quantidade bem inferior se comparada aos comentários
favoráveis à postagem. Nesta classe os comentários discordaram do que a
jornalista escreveu em sua postagem. Os internautas acreditam que Dilma entende
65

muito bem sobre economia e fez um bom discurso no senado federal. Além disso,
outros comentários discordaram de Cora por acreditarem que Dilma fez uma
exposição oral muito eloquente e não se atrapalhou com as palavras em nenhum
momento; outros foram contra a postagem por acreditarem que a sessão não se
sustentava por se tratar de um golpe contra a democracia; e outros afirmam que
mesmo que Dilma tivesse inúmeras qualidades, ainda assim seria condenada, pois,
a sentença já estava decretada e não estava em julgamento.

Outra categoria afirma que Dilma teve consciência de tudo o que fez e que
falou, mas se fingiu de incapaz para passar uma falsa imagem para a sociedade.
Comentaram nessa categoria 10 pessoas, o que corresponde a 4,0%. Em alguns
dos comentários é possível perceber repetições de ideias, como por exemplo: “Ela
está se divertindo as nossas custas, mas sabe de tudo o que está fazendo”, “Ela
não é tão incapaz quanto se mostra”, “Ela se faz de desentendida” e etc.

Comentaram na categoria marcação de nomes quatro pessoas, o que


corresponde a 1,6%. Essa classe é destinada aos internautas que marcam outras
pessoas pelo nome na postagem. É comum nessa categoria as pessoas marcarem
umas as outras quando pretendem que a outra leia o texto ou veja a postagem.

A quinta categoria estabelecida é destinada às pessoas que reconhecem os


pontos fracos do governo de Dilma, mas não aprovam o impeachment e acham que
todo esse processo é um golpe contra a democracia. Comentaram nessa postagem
três pessoas, o que corresponde em percentual de 1,2%. Nos comentários, as
pessoas afirmam que sabem que casos de corrupção aconteceram no Partido dos
Trabalhadores (PT), que vários escândalos aconteceram, mas que isso não legitima
o impeachment.

Seis comentários foram contabilizados na categoria em que os internautas


acreditam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mandante de tudo o que
aconteceu de errado no governo de Dilma, e que ela apenas seguia ordens. O
percentual de afirmação nessa postagem é de 2,4%.

Parte dos seguidores afirmou que a situação política relatada na postagem


é reflexo do voto de cada brasileiro e lembraram que cada político foi eleito pelo
povo. Nos comentários, os internautas afirmaram que foram os brasileiros que a
66

elegeram nas urnas e lamentam constatar que brasileiro não sabe votar.
Comentaram nessa categoria seis pessoas, ou seja, 2,4%.

Por outro lado, existe a categoria dos que não acreditam na confiabilidade
das urnas eletrônicas e acreditam que as eleições foram uma fraude. Comentaram
nessa categoria quatro pessoas, o que corresponde a 1,6%. Alguns comentários
afirmam que o PT domina o processo eleitoral e que todo o processo foi uma
fraude.

A categoria neutra é o espaço onde os internautas comentaram assuntos


diversos ao parecer de Cora Rónai. É a categoria que comenta sobre assuntos
variados que não dizem respeito à postagem, como: pessoas falando sobre
amizades desfeitas por motivos políticos, comentando sobre senadores que não
estão em discussão na postagem de Cora, recomendando leitura de livros, entre
outros assuntos. Comentaram nessa categoria 11 pessoas, o que equivale a 4,4%.

Três pessoas comentaram na categoria em que admiram Dilma e a


consideram uma mulher de fibra, totalizando 1,2%. Os comentários elogiaram a
força da presidente afastada e a coragem. O percentual para essa categoria é de
%.

Apenas uma pessoa não assistiu à sessão e comentou que optou por
assistir outro programa em vez de assistir ao julgamento. O percentual para essa
categoria é de 0,4%.

A última categoria estabelecida é caracterizada por comentários que podem


ter vários sentidos, podem representar várias coisas. Comentaram nessa classe
quatro pessoas, totalizando 1,6%. Alguns internautas comentaram apenas com
textos nessa categoria, porém, o texto pode ter mais de um significado, como por
exemplo: “guilhotina” e “tá amarrado”. Essas duas expressões não podem ser
classificadas em outras categorias como contra ou a favor, pois não ficaram claras
a que se refere, elas podem ter mais de um sentido.
67

Gráfico 4. Dados referentes à postagem número 2. Elaboração própria

As respostas aos comentários totalizaram 35 respostas. Essa função é


possível quando o internauta faz um comentário na postagem e outra pessoa pode
responder ao comentário desse internauta. As respostas a favor dos comentários
foram 16, totalizando em percentual de 45,71%. As respostas contra aos
comentários corresponderam a 16, totalizando 45,71%. As argumentações neutras
foram três, correspondendo a 8,57%.
68

Gráfico 5. Dados referentes à postagem número 2. Elaboração própria

Na análise da postagem número dois foi possível identificar que os efeitos


da espiral do silêncio são sentidos, contabilizando 192 comentários a favor da
publicação e somente sete postagens contra. O conceito da espiral do silêncio
afirma que o resultado é um processo em forma de espiral que incentiva os
indivíduos a perceberem mudanças de opinião e identificar opiniões dominantes,
enquanto as outras consideradas minorias são rejeitadas ou evitadas. Essa relação
foi perceptível na análise dos comentários da postagem dois.

Os comentários a favor ao texto publicado por Cora Rónai concordam com


o que a jornalista escreveu, afirmam que a situação vivida pelo país é triste e
lamentável, e fazem comentários aprovando a publicação nas mais variadas
formas.

Figura 9 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook

Figura 10 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook


69

Figura 11 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook

Figura 12 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook

O medo do isolamento é um dos principais parâmetros dessa teoria, dessa


forma, quando o indivíduo não aceita a opinião dominante ele opta por ficar em
silêncio. Isso pode explicar a quantidade de comentários a favor versus a
quantidade de comentários contra a publicação. Para a espiral do silêncio, quando
o indivíduo adota esse comportamento, ele continua sendo aceito pelos outros
integrantes do grupo que possuem opinião divergente e dominante.

Um dos locais onde os internautas que possuem opinião minoritária se


beneficiam e comentam sobre o assunto é quando um indivíduo que tem opinião
minoritária também, se posiciona contra todos os outros e defende o ponto de vista
minoritário. Dessa forma, os outros que compartilham da mesma opinião usufruem
a oportunidade e respondem ao comentário desse internauta. Na postagem número
um isso aconteceu com frequência, quando os internautas discordaram de Cora e
acreditaram que os senadores tiveram um bom desempenho, porém, na postagem
número dois, as respostas aos comentários foram a maioria de opiniões dominantes
e a favor da postagem.

Figura 13 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook


70

Figura 14 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook

Apesar de ser minoria, as pessoas que se posicionaram contra a postagem


também comentaram no post e tiveram respostas de pessoas que pensavam da
mesma forma. Além disso, é comum encontrar pessoas com opiniões diferentes
umas das outras, o que não é costumeiro encontrar são indivíduos que estejam
dispostos a conversar sobre essas opiniões e expô-las, de modo que cada um
compreenda melhor o ponto de vista do outro.

Figura 15 Comentário da postagem 2. Fonte: Facebook

Esse último comentário mostra uma internauta que reconhece os pontos


fracos do governo do Partido dos Trabalhadores, mas é contra o impeachment.
Simone Cristina registrou que é contra não apenas a postagem que Cora Rónai fez
e está sendo analisada no momento, mas aos diversos textos que são publicados
em sua página e aos comentários dos seguidores da jornalista. Logo, as pessoas
que compartilham do mesmo pensamento de Simone e não tinham comentando
71

antes, aproveitaram a oportunidade para fazer uso da palavra também e concordar


com o comentário dela.

Isso confirma que os indivíduos permanecem em atenção aos comentários


e aos comportamentos diante aos grupos sociais em que estão inseridos e tendem
a se manifestar quando percebem que outros indivíduos compartilham do mesmo
pensamento, pois, defender uma ideia sozinho é mais penoso do que defendê-la
em conjunto.

7.3 ANÁLISE DA POSTAGEM NÚMERO 3

Figura 16 Postagem analisada de Cora Rónai 3. Fonte: Facebook

A pesquisa categorial da terceira publicação de Cora é referente ao


elemento – a escolha de Michel Temer como Vice-presidente de Dilma Rousseff e a
rejeição do mesmo por parte dos eleitores. Na publicação em sua página do
Facebook, Cora escreveu sobre uma pergunta objetiva que o senador Cristovam
Buarque fez a Dilma durante a sessão de julgamento: quais foram as qualidades de
Michel Temer que levaram a escolher Temer como vice, não uma, mas duas
vezes? Porém, Cora questionou que, mais uma vez, Dilma não respondeu e deixou
o país inteiro sem resposta.

A totalidade dos comentários nessa postagem somou 391 respostas dos


internautas, sendo a maioria a favor da postagem de Cora Rónai. A maioria dos
internautas que comentaram na publicação são seguidores da jornalista. As
categorias foram definidas a partir dos comentários feitos na postagem.
72

Tabela 4. Categorias dos temas da postagem 3. Fonte: elaboração própria.

Temas/Categorias

A favor

Contra

Questionam a escolha de Temer como vice-presidente/ Dão palpite

Ataques contra Cora Rónai

Defendem que o processo é golpe

Acreditam que essa pergunta não entra em mérito de julgamento

Não confiam no julgamento

Não apoiam o PT

Fogem do assunto e atacam outros temas

Defendem o impeachment

Criticam a parcialidade de Cora Rónai

Neutros

Admiram Dilma independente do cenário político

Falam de assuntos diversos a postagem

Marcação de nomes

Respostas aos comentários (contra, a favor, neutras)

Figuras e posts que podem ter vários sentidos

Os indivíduos que são a favor da postagem e concordam com a afirmação


de Cora sobre a pergunta que o senador fez e gostariam de ter uma resposta
equivale a 228 respostas, um percentual de 58,31%. Os internautas afirmam que
mais uma vez Dilma não respondeu ao que foi perguntado, que gostariam de uma
resposta sobre o questionamento feito, concordaram que foi a melhor indagação
feita em sessão até o momento, entre outras ponderações.
73

Os comentários contra a postagem totalizaram 44, o que equivale a um


percentual de 11,25%, uma quantidade bem inferior se comparada aos comentários
favoráveis à postagem. Os internautas discordaram de Cora e afirmaram que Dilma
respondeu à pergunta sim, quando afirmou que colocou Michel Temer como vice-
presidente porque acreditava que ele representava o centro democrático do Partido
do Movimento Democrático do Brasil - PMDB. Discordaram da postagem e
apresentaram trechos do julgamento em que acreditaram que a pergunta foi
respondida.

A terceira categoria questiona a escolha de Michel Temer como vice-


presidente e os internautas opinam sobre a opção. Como o comentário de Cora
Rónai afirma que a pergunta do senador não foi respondida e todos gostariam de
saber o motivo pelo qual Dilma escolheu Michel Temer como vice, os internautas
começaram a especular os motivos que levaram a essa escolha. 53 pessoas
opinaram o que corresponde a 13,55%.

Duas pessoas comentaram na categoria de ataque a Cora Rónai e seus


seguidores. Nesta classe, um indivíduo escreveu um texto agressivo chamando
Cora e seus seguidores de golpistas, seguido por palavras torpes. Além disso, o
segundo comentário fez referência ao local onde Cora Rónai mora e criticou a vista
do apartamento que a jornalista tem ao abrir a janela, criticando as postagens que
ela faz ao estilo de vida que ela leva. Em percentual contabiliza 0,51%.

Sete pessoas comentaram na categoria afirmando que o processo de


julgamento de impeachment não se sustenta e é um golpe contra a democracia. O
percentual para essa categoria é de 1,79%.

A sexta categoria diz respeito aos comentários que afirmam que esse
questionamento citado por Cora na postagem, não entra no mérito do julgamento.
Os indivíduos afirmam que não era esse o assunto que estava sendo discutido em
plenário e outros afirmam que o julgamento era por pedaladas fiscais e não pela
escolha do vice. Comentaram nessa categoria seis pessoas, o que equivale a
1,53%.

Duas pessoas comentaram na categoria afirmando que o julgamento não é


confiável e não acreditam que a sessão seguiu de maneira correta. Um dos
74

comentários afirmou que o juízo era uma farsa e que o resultado já havia sido
decretado. O percentual para essa categoria é de 0,51%.

Além dessa categoria, existe a classe que não apoia o PT, que totalizaram
seis comentários. Culparam Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores pela
situação politica do país, defenderam que golpe foi o que o PT fez com o Brasil e
não o contrário, afirmaram que o partido dos trabalhadores sempre culpa outra
pessoa, mas nunca aceita que cometeu infração, entre outros comentários. O
percentual para essa categoria é de 1,53%.

Alguns comentários fugiram do assunto em questão e começaram a tratar


de temas que não tinham relação com a postagem de Cora. O que diferencia essa
categoria da categoria neutra é que a neutra muda de assunto, mas não contém
agressão. Já, essa categoria, apresenta comentários desrespeitosos em relação ao
caráter e opção sexual de Dilma Rousseff. Em alguns comentários, os internautas
chegaram a usar termos como “bandida” e “sequestradora”. Comentaram nessa
categoria duas pessoas, o que corresponde a 0,51%.

Na categoria dos que defendem o impeachment, quatro pessoas


comentaram a favor, ou seja, 1,02%. As afirmações foram em forma de textos
pedindo a saída de Dilma e aprovando o julgamento do impeachment no senado
federal.

Três pessoas, ou 0,77%, comentaram na categoria afirmando que Cora


Rónai não usa a imparcialidade que o jornalismo pede e criticaram a postura da
jornalista. Os comentários afirmaram que Cora não se despiu de preconceito para
expor as opiniões nas redes sociais e outros criticaram o jornalismo que se resume
a simpatias políticas e pessoais, e não mais aos fatos.

Comentaram na categoria neutra 11 pessoas, o que corresponde em


porcentagem a 2,81%. Nesta classe, os indivíduos fazem comentários que não
afirmam e nem contrapõe a postagem analisada, mas comenta sobre assuntos
diversos.

Outra categoria estabelecida foi a dos que admiram Dilma Rousseff


independente do cenário político. Duas pessoas afirmaram que Dilma é uma mulher
de força e coragem, além de ter aguentado fortemente as pressões. O outro
75

comentário afirmou que Dilma respondeu muito bem às perguntas feitas em


plenário e não concordou com a afirmativa de Cora ao dizer que Dilma não
respondeu ao que foi perguntado. O percentual para essa categoria é de 0,51%.

Sete comentários foram identificados como assuntos diversos à postagem


de Cora Rónai, mas que se difere da categoria neutra, por expressar opinião em
relação a determinados assuntos. A categoria neutra fala de assuntos que nada tem
a ver com a publicação, mas não defendem um ponto de vista em si, são neutros.
Já essa categoria, muda o assunto discutido na postagem, mas defende
posicionamentos, como: divergência política, posicionamento de senadores, entre
outros. O percentual para essa categoria é de 1,79%.

A categoria marcação de nomes é o grupo classificatório em que


internautas marcam outros internautas pelo nome na postagem. Comentaram nessa
categoria nove pessoas, totalizando 2,30%. É comum nessa categoria as pessoas
marcarem umas as outras quando pretendem que a outra leia o texto ou veja a
postagem.

A última categoria estabelecida é caracterizada por comentários que podem


ter vários sentidos, podem representar várias coisas. Comentaram nessa classe
cinco pessoas, totalizando 1,28%. Alguns internautas comentaram com figuras
irônicas, que não se sabe ao certo se a ironia é referente à postagem de Cora ou
aos comentários, frases com duplos sentidos, etc.
76

Gráfico 6. Dados referentes à postagem número 3. Elaboração própria

As respostas aos comentários totalizaram 78 respostas. Essa função é


possível quando o internauta faz um comentário na postagem e outra pessoa pode
responder ao comentário desse internauta. As respostas a favor dos comentários
foram 30, totalizando em percentual 38,46%. As respostas contra aos comentários
corresponderam a 41, totalizando 52,56%. As argumentações neutras foram sete,
correspondendo a 8,97%.

Gráfico 7. Dados referentes à postagem número 3. Elaboração própria


77

A análise feita da postagem número três é que a espiral do silêncio se


aplica nos comentários dessa publicação. Foram 228 comentários a favor do texto
de Cora e somente 44 comentários contra. Ao analisar as opiniões majoritárias é
possível perceber que a aplicação da espiral do silêncio se confirma ao notar que o
indivíduo expõe seu ponto de vista diante do grupo social, quando percebe que a
opinião é recorrente e bem aceita.

A vontade de se expressar pode se tornar ainda maior, caso a pessoa


perceba que a sua visão não é ignorada, mas que será difundida e repercutida. É o
caso dos três exemplos abaixo:

Figura 17 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook

Figura 18 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook

Figura 19 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook


78

A opinião pública tem uma grande força e é capaz de exercer uma pressão
social sobre o meio. Outra categoria que obteve um número expressivo foi a dos
internautas que questionaram a escolha do vice-presidente Michel Temer e
arriscaram palpites. O post de Cora afirma que as pessoas que assistiram à sessão
de julgamento de Dilma ficaram sem resposta diante da pergunta feita pelo senador
Cristovam Buarque, que questionou quais foram as qualidades de Michel Temer
que levaram Dilma a escolhê-lo como vice-presidente. Diante da pergunta feita pelo
senador, a jornalista afirma que a presidente afastada não respondeu à pergunta.
53 internautas responderam com suposições a respeito da escolha: alguns
afirmaram que Dilma não seria reeleita sem a ajuda de Michel Temer e do partido
dele; outros afirmaram que em política o jogo de interesses é imensurável. O que se
conclui com essa categoria é que os internautas fizeram deduções a respeito da
escolha de Dilma Rousseff a respeito do vice-presidente e procuraram uma
resposta para a pergunta.

Essa categoria representa um modelo de opinião pública, que embora não


se manifeste a favor e nem contra a postagem, apresenta pontos de vista e
ideologias partidárias e políticas fortes, o que pode ser um indicador para a espiral
do silêncio se apresentar, visto que é um assunto polêmico.

Figura 20 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook

Figura 21 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook

Figura 22 Comentário da postagem 3. Fonte: Facebook

Outras categorias foram estabelecidas, pois os internautas não se


posicionaram nem a favor, nem contra e nem deram palpites em relação à escolha
79

do vice-presidente. Para esses comentários, as categorias foram definidas com


base no conteúdo de cada postagem.

A análise feita da postagem três e a conclusão da pesquisa referente a


essa publicação é que as pessoas se comportam com base no ambiente em que
estão inseridas, esse fator determinará a popularidade ou a impopularidade do
indivíduo. As pessoas que seguem Cora Rónai concordam com o pensamento da
mesma e comentaram a favor da publicação. Confirma-se que a pessoa possui um
grau de discernimento para perceber se as opiniões serão bem recebidas ou não,
sem correr o risco do isolamento. O medo do isolamento faz com que a maioria das
pessoas aceite a opinião sem questionar.

Cora Rónai, em entrevista concedida, afirmou que as pessoas que


comentam contra a postagem, geralmente são agressivas e não costumam debater
ideias. Em casos de agressão, Cora Rónai bloqueia esses usuários – essa é uma
função do Facebook que não permite que o indivíduo que agrediu faça comentários
na página ou encontre a pessoa agredida novamente, é como se ficasse “invisível”.
Dessa forma, os comentários a favor aparecem com mais evidência do que os
comentários que são contra a publicação.

7.4 ANÁLISE DA POSTAGEM NÚMERO 4


80

Figura 23 Postagem analisada de Cora Rónai 4. Fonte: Facebook

A investigação da quarta publicação de Cora é referente ao elemento –


brigas, desentendimentos e ataques movidos por interesses políticos. Nesse texto,
Cora Rónai explica que algumas pessoas que defendem Dilma Rousseff entraram
em sua página do Facebook e a atacaram com inúmeras agressões. Na postagem,
Cora publicou uma foto em que mostra Dilma Rousseff, Aécio Neves e Ricardo
Lewandowski juntos e sorrindo. O que a jornalista quis transmitir com a postagem,
foi a ideia de que se os políticos estão agindo civilizadamente, os cidadãos também
o podem. Não carece agredir uns aos outros.

O total de comentários nessa postagem contabilizou 575 respostas dos


internautas, sendo a maioria a favor da postagem de Cora Rónai. A maioria dos
81

internautas que comentaram na publicação são seguidores da jornalista. As


categorias foram definidas a partir dos comentários feitos na postagem.

Tabela 5. Categorias dos temas da postagem 4. Fonte: elaboração própria.

Temas/Categorias

A favor

Contra

Acreditam que todos os políticos são iguais/ “farinhas do mesmo saco”

Desânimo com o cenário político

Acreditam que disputa política não tem a ver com ódio

Marcação de nomes

A favor da democracia/ luta por direitos

Afirmam que é golpe

Neutros

Não querem tirar conclusões a partir da foto

Acreditam que a foto é uma montagem

Não acham que o momento seja de cordialidade política

Contra o PT/ Querem o impeachment

Postagem que pode ter mais de um significado

Contra o PMDB

Respostas aos comentários (contra, a favor, neutras, brigas de usuários)

Concordam com a postagem 200 pessoas, o que corresponde a 34,78%.


Os internautas que avaliaram a postagem, afirmam que a situação é “triste” e
“revoltante”. Outros comentários afirmam que enquanto os políticos convivem
juntos, as pessoas desfazem amizades e procuram brigas entre colegas, amigos e
82

familiares por motivos políticos e concordam que não vale a pena brigar
defendendo políticos de um partido ou de outro.

Os comentários contra a postagem totalizaram 14, o que equivale a um


percentual de 2,43%, uma quantidade bem inferior se comparada aos comentários
favoráveis à postagem. Nesta classe os comentários discordaram do que a
jornalista escreveu em sua postagem. Os internautas acreditam que as brigas não
acontecem por “defender políticos” e sim, por posicionamentos políticos distintos
uns dos outros. Outros questionaram a fala da jornalista e afirmaram que ela
criticou no comentário quem se envolve em brigas por motivos políticos, mas que
ela própria se envolve em brigas por conta de política, o que contradiz a postagem.
Outros chegaram a dizer que Cora Rónai escreve as opiniões em sua página do
Facebook “a serviço”, pois é colunista da Rede Globo.

A terceira categoria afirma que todos os políticos são iguais e, por isso, não
há necessidade de brigar defendendo um ou outro. A maioria dos comentários usou
a expressão “são farinha do mesmo saco” para expressar a indignação com a foto
que Cora Rónai postou no Facebook, em que aparece Dilma Rousseff, Aécio Neves
e Ricardo Lewandowski juntos. Essa categoria concorda com a postagem de Cora,
porém, há ponderações que a categoria “a favor” não faz. Eles afirmam que os
políticos são corruptos, que o país é um circo, além de repetir que são todos farinha
do mesmo saco. Comentaram nessa categoria 152 pessoas, o que corresponde a
26,43%.

Na categoria desânimo com o cenário político, comentaram 18 pessoas, o


que corresponde a 3,13%. Nesta classe, os internautas afirmam que o Brasil não
tem mais jeito e demonstram total desânimo com o cenário político. A grande parte
dos comentários afirma que nenhum candidato merece voto e que os cidadãos de
bem não se interessam mais pela política.

Parte dos seguidores afirmou que disputa política não tem relação alguma
com ódio e que inimigos na política podem ter uma relação cordial uns com os
outros. Alguns comentários afirmaram que os políticos em questão são civilizados e
estão em um momento de educação entre eles. Além disso, afirmam que as
divergências estão no campo das ideias e não no campo físico. A curiosidade dessa
categoria é que eles não compreenderam a intenção de Cora Rónai ao fazer a
83

postagem. O propósito da postagem era mostrar que não carece brigar por política,
e que todos poderiam agir civilizadamente assim como os políticos retratados na
publicação. Porém, alguns internautas não compreenderam e continuaram a tensão
nos comentários. Comentaram nessa categoria 48 pessoas, ou seja, 8,35%.

Comentaram na categoria marcação de nomes 27 pessoas, o que


corresponde a 4,70%. Essa classe é destinada aos internautas que marcam outras
pessoas pelo nome na postagem. É comum nessa categoria as pessoas marcarem
umas as outras quando pretendem que a outra leia o texto ou veja a postagem.

A sétima categoria estabelecida é destinada às pessoas que são a favor da


democracia e afirmam que a luta não é por políticos e sim, por direitos.
Comentaram nessa categoria 18 pessoas, o que corresponde a 3,13%. As
afirmações trazem em suas linhas a assertiva de que o julgamento de Cora é típico
de quem não tem a menor ideia de como funciona a política e afirmam que a luta é
pela democracia e por direitos.

Seis pessoas afirmam que comentaram na categoria afirmando que o


processo de impeachment é um golpe contra a democracia, totalizando 1,04%. Os
comentários dizem que tudo o que aconteceu no cenário político não passa de um
golpe e que o impeachment é uma grande armação.

A categoria neutra é o espaço onde os internautas comentaram assuntos


diversos ao parecer de Cora Rónai. É a categoria que comenta sobre assuntos
variados que não dizem respeito à postagem, como: mudando o assunto e falando
da fisionomia do Aécio Neves, fazendo piadas, voltaram a falar das olimpíadas,
entre outros assuntos. Comentaram nessa categoria 32 pessoas, o que equivale a
5,57%.

Treze pessoas não querem tirar conclusões a partir da foto publicada por
Cora e afirmam que é precipitado emitir um juízo de valor a partir de uma imagem
fora de um contexto. Os comentários afirmam que a avaliação sobre a foto
dependerá do ponto de vista de cada um, pois, ninguém sabe ao certo em qual
contexto e situação a foto foi tirada. O percentual para essa categoria é de 2,26%.
84

Além disso, existe a categoria dos que não acreditam na confiabilidade da


foto e desconfiam de que seja uma montagem, uma foto montada. Comentaram
nessa categoria oito pessoas, o que corresponde a 1,39%.

A categoria “não acham que o momento seja de cordialidade política”,


acreditam que por mais que políticos sejam adversários políticos e não
necessariamente adversários de vida, eles não precisam passar de um aperto de
mão em suas relações. Os internautas consideraram exagerada a postura dos
políticos de sorrir de forma exagerada e conversar como se fossem velhos amigos.
Além disso, alguns internautas criticaram Dilma Rousseff por afirmar que estaria
vivendo um golpe contra o seu mandato e cumprimentando os seus adversários da
forma como estava sendo feita. Comentaram nessa categoria sete pessoas, o que
corresponde a 1,22%.

Treze pessoas comentaram na categoria contra o PT e defendendo o


processo do impeachment. Os internautas publicaram textos e fotos pedindo a
saída de Dilma e afirmando que as pessoas que defendem o Partido dos
Trabalhadores, em geral, não costumam conversar e partem para a agressão. O
percentual para essa categoria é de 2,26%.

A penúltima categoria estabelecida é caracterizada por comentários que


podem ter vários sentidos, podem representar várias coisas. Comentaram nessa
classe 15 pessoas, totalizando 2,61%. Alguns internautas comentaram apenas com
textos nessa categoria, porém, o texto pode ter mais de um significado, como por
exemplo: “Tudo sobre ontem” e “Sei não viu”. Essas duas expressões não podem
ser classificadas em outras categorias como contra ou a favor, pois não ficaram
claras a que se refere, elas podem ter mais de um sentido.

A última categoria diz respeito aos internautas que comentaram contra o


PMDB. Afirmaram que Aécio Neves não conseguia conter a felicidade em ver Dilma
naquela situação e classificou as perguntas dos senadores do PMDB durante a
sessão como uma armação para obrigar Dilma a dar as mesmas respostas.
Comentaram nessa publicação quatro pessoas, o que corresponde a 0,70%.
85

Gráfico 8. Dados referentes à postagem número 4. Elaboração própria


86

Gráfico 9. Dados referentes à postagem número 4. Elaboração própria

As respostas aos comentários totalizaram 117 respostas. Essa função é


possível quando o internauta faz um comentário na postagem e outra pessoa pode
responder ao comentário desse internauta. As respostas a favor dos comentários
foram 58, totalizando em percentual de 49,57%. As respostas contra aos
comentários corresponderam a 41 totalizando 35,04%. As argumentações neutras
foram nove, correspondendo a 7,69%. As respostas com desentendimentos de
usuários e que fogem do assunto em questão contabilizaram nove respostas, o que
corresponde a 7,69%.
87

Gráfico 10. Dados referentes à postagem número 4. Elaboração própria

A análise feita da postagem número quatro é que a espiral do silêncio se


faz presente nos comentários dessa publicação. Foram 200 comentários a favor do
texto de Cora e somente 14 comentários contra. Ao analisar as opiniões
majoritárias é possível perceber que a aplicação da espiral do silêncio se confirma
ao notar que o indivíduo expõe seu ponto de vista diante do grupo social, quando
percebe que a opinião é recorrente e bem aceita. Nesta postagem, a grande parte
dos comentários a favor são simplórios e apenas qualificam Cora Rónai ou
concordam efetivamente com o conteúdo postado, como por exemplo, “Perfeito,
Cora Rónai”, “Exatamente”, “Excelente”, “Perfeita colocação”, entre outros.

Figura 24 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook

Figura 25 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook

Figura 26 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook


88

Outra categoria que obteve uma quantidade significativa de comentários foi


a dos internautas que concordam que todos os políticos “são farinha do mesmo
saco”, ou seja, um tom de reprovação para afirmar que todos são iguais em questão
de caráter. 152 pessoas acreditam que todos os parlamentares são semelhantes
em questões de ideologia e índole, além de demonstrarem aversão aos políticos.

Figura 27 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook

Figura 28 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook

Figura 29 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook

Os internautas que se posicionaram contra o post foram apenas 14, o que


corresponde a 2,43%. Nos comentários contra a postagem, geralmente, os
internautas usam termos grosseiros, ofensivos e agridem uns aos outros. Porém,
um comentário chamou a atenção por ser um dos únicos textos contra a publicação
de Cora, que foi gentil com a jornalista e com os demais seguidores. A atitude do
internauta Victor Moraes de usar a educação para defender um ponto de vista
pareceu surpreendente para uma das seguidoras de Cora, que afirmou que é muito
difícil encontrar alguém que se posicione contra a visão da jornalista com a postura
que o rapaz teve.
89

Figura 30 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook

Por outro lado, a maioria dos comentários que são contra as publicações de
Cora são agressivos e ásperos ao escreverem nas publicações. Esse
comportamento acaba gerando brigas e desentendimentos entre usuários que são
a favor do comentário, que acabam não aceitando o comentário contra e a forma
como foi dito.
90

Figura 31 Comentário da postagem 4. Fonte: Facebook

Sobre a espiral do silêncio e a presença de seus efeitos nas redes sociais,


Cora Rónai afirmou que faz muito sentido o conceito e a aplicação do trabalho. Os
indivíduos tendem a ficar em silêncio quando percebem que a opinião deles é
minoria e tendem a expressar a opinião quando notam que a opinião é dominante.
Cora afirmou em entrevista, que os amigos dela tendem a não fazer comentários
em sua página e ficam muito mais em silêncio, até porque, a grande maioria dos
seus amigos são radicais de esquerda e a jornalista faz duras postagens contra a
esquerda.

É uma ótima proposta e faz muito sentido. A minha observação nesse


aspecto pessoal é que realmente, especialmente os amigos, tendem a não
comentar, eles ficam em silêncio. Acredito que eles não querem entrar em
áreas de conflito. Tenho muitos amigos radicais de esquerda e eu
frequento a página deles também e, inclusive, eu evito comentar nas
10
páginas desses amigos. (RÓNAI, Cora , 2016)

10
Entrevista concedida por Cora Rónai via telefone, no dia 20/10/2016.
91

A experiência de bloquear uma pessoa conhecida, uma amiga, e não


apenas um seguidor, já foi vivenciada por Cora. Ela afirmou que ao todo, já
bloqueou mais de cinco mil pessoas em sua rede social, mas poucas dessas
pessoas ela realmente conhecia pessoalmente. Eram seguidores ou apenas
pessoas que passavam pela página para provocar discussões. Porém, uma dessas
pessoas que Cora bloqueou certa vez, era uma pessoa que a jornalista conhecia há
muitos anos e sofreu com a situação.

Eu já bloqueei mais de cinco mil pessoas no total, mas poucas que


conheço pessoalmente. Uma dessas moças é muito radical de esquerda e,
certo dia, eu vi outra pessoa falando mal de mim em uma página do
Facebook e essa moça curtiu o comentário. Eu fiquei muito magoada e
bloqueei ela. Não nos encontramos mais depois disso e acho que ela não
sabe o porquê foi bloqueada. Uma pessoa que eu conhecia de muitos anos
e que não me disse nada na minha página, mas curtiu comentários sobre
mim em páginas diferentes. As pessoas discutem por causa de políticos e
11
desfazem amizades. Eu vou morrer sem entender isso. (RÓNAI Cora ,
2016)

Os atores ou os indivíduos que compõem a rede podem ser conceituados


como a representação de interação social na Internet e formam laços sociais. Foi
possível identificar que a maioria dos internautas que participam da rede e
comentaram nos posts de Cora Rónai, se posicionou a favor do conteúdo em
questão e a favor da jornalista, elogiando a sua desenvoltura com as palavras.
Porém, existe a outra classe, que é a minoria, que se posicionou contra os
comentários da jornalista e não concordou com o conteúdo das postagens e,
alguns, não simpatizavam com Cora.

Um dos processos importantes na compreensão de redes sociais é a


interpretação de como os atores constroem o próprio espaço na rede e como o
relacionamento com outros internautas é desenvolvido. O que se pode notar é que
quando um internauta se posicionava contra o post de Cora, duas coisas poderiam
acontecer: a primeira delas é que os outros usuários que compartilhavam do
mesmo pensamento (minoritário) quando viam que alguém se posicionou contra
mesmo diante de tantos comentários a favor, esse internauta também se
encorajava e respondia ao comentário desse internauta apoiando a sua postura de
coragem de se manifestar contra mesmo diante de tantos comentários a favor. A
segunda alternativa é que os usuários que eram a favor do post viam de imediato

11
Entrevista concedida por Cora Rónai via telefone, no dia 20/10/2016.
92

contra-atacar o comentário desse usuário que tinha o pensamento contrário, como


uma avalanche de ideias a favor atacando apenas uma que era contrária. Dessa
forma, em alguns posts constatou-se o que o capítulo de Redes Sociais e Internet
aborda sobre ambientes conflituosos na Internet. Em algumas postagens houve
agressões, palavras torpes uns para com os outros, ofensas e gerou interrupções
de laços.
93

CONCLUSÃO

O indivíduo está mais propenso a expressar a opinião sobre determinado


assunto quando identifica que o seu pensamento é igual ao da maioria e que o seu
modo de pensar não é apenas uma observação isolada e minoritária. As convicções
aceitas como dominantes tendem a se repetir nos meios de comunicação e, dessa
forma, tornam-se cada vez mais fortes.

O homem como ser social busca a integração com outros indivíduos e, por
isso, teme o isolamento. Dessa forma, as opiniões e comentários dos outros a
respeito de assuntos do cotidiano influenciam a opinião do indivíduo que vive
agrupado e teme ser isolado, rejeitado ou evitado pelo grupo por ter uma visão
diferente sobre determinado assunto. É nesse processo que as ideias dominantes
vão tomando forma e vão se encaixando, de forma a calar as ideias que são
minoritárias.

Ao perceber que a ideia será aceita e bem recebida, a pessoa tem chances
muito maiores de se expressar e de expor a opinião, pois, a percepção de que a
ideia será aceita pelo grupo já foi observada anteriormente. Isso se confirma ao
constatar que os amigos que possuem uma visão diferente da jornalista Cora Rónai
não comentam em sua página e evitam qualquer assunto que diga respeito ao que
eles não concordem. Um dos exemplos é que a jornalista faz duras postagens
contra o governo e os amigos dela que defendem o governo, não costumam
comentar nas postagens, ou seja, evitam expressar a opinião quando percebem
que não será bem aceita diante de um grupo que majoritariamente possui uma
opinião contrária.

Diante disso, esta pesquisa constatou que sustentar um ponto de vista


sozinho é um processo difícil e, por isso, algumas opiniões acabam sendo
silenciadas. Na análise dos comentários, foi possível identificar que quando um
internauta tinha uma visão contrária à postagem e se posicionava contra mesmo
diante de vários seguidores que eram a favor, era como se estivesse entrando em
“meio a um tiroteio”. Os comentadores que eram a favor da postagem, que foram a
grande maioria dos quatro posts selecionados para análise, retrucavam o
comentário imediatamente e defendia Cora Rónai, defendia as ideias expressadas
por ela, defendia o ponto de vista a favor, etc.
94

Na Internet, foi possível chegar ao resultado final de constatar que a espiral


do silêncio também se faz presente, analisando os rastros que os usuários deixam
na rede, que são os comentários na página de Cora Rónai; além de analisar a
entrevista que a jornalista concedeu para esta pesquisa. Constatou-se que os
seguidores de Cora Rónai admiram a jornalista e são a favor das suas postagens.
Os internautas demonstram isso com comentários simplórios elogiando a
desenvoltura de Cora nas quatro postagens analisadas.

Além disso, foi possível identificar que os seguidores de Cora comentam


nas postagens e os amigos evitam. Os amigos que comentam nas postagens são
aqueles que começaram a seguir Cora e pediram que ela os aceitasse como amigo,
na maior parte, esses comentam a favor dos textos publicados. Porém, a jornalista
não possui uma relação física com essas pessoas, possui uma relação apenas
virtual. Os amigos de Cora que ela conhece pessoalmente e tem contato físico, não
comentaram nas postagens de forma contrária ao posicionamento dela, apenas a
favor.

Com isso, percebe-se que a aceitação de uma opinião como dominante


passa a ser propagada e aceita pela maioria, com grande chance de se tornar
realmente dominante. As opiniões que os indivíduos formam ao longo do tempo são
fruto de informações prévias sobre determinado assunto. Somente após ter
conhecimento anterior sobre o ponto em questão é que o indivíduo forma uma
opinião e passa a defendê-la. Porém, quando um conceito sobre determinado tema
começa a ser amplamente debatido e uma ideia majoritária se torna fortalecida no
ambiente, a chance dessa tese se tornar uma “verdade” para os outros indivíduos
que estão inseridos no grupo e têm acesso a essa informação é bastante provável.
95

REFERÊNCIAS

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