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Do Eindruck ao laço social: o testemunho de um autista

Sandra Dias

Temple Grandin, autista, doutora em Ciencia Animal da Universidade de


Colorado, professora e especialista em reduzir o medo dos animais que vão para o
abate, escreveu tres livros e deu inumeras entrevistas que testemunham a passagem do
falasser que tendo acesso direto ao real passa ao laço social.
A lição a ser aprendida atraves da leitura do seminario RSI é que se deve partir
do real no sintoma e o modo de gozo que constitui o proprio do falasser.para então
tomar seu testemunho e interrogar o que a isola, o que há de singular na experiencia do
corpo gozante. Qual foi o tratamento do gozo da marca fora do sentido (Eindruck) que
lhe permitiu sair do encapsulamento atraves de uma amarração que levou em conta a
linguagem e lhe permitiu encontrar um sentido na vida.
Por não ter sofrido a incidência do discurso do mestre sobre alíngua, o corpo do
autista permanece a deriva do gozo infinito devido o não apagamento do Um, marca do
corpo que goza de si mesmo, num para além do Princípio do Prazer. Nas distintas
práticas dessa autista com seu corpo, com as quais tenta estabilizar sua relação com o
acontecimento de corpo, vemos a demonstração de como o corpo é invadido por um
pleno de gozo e também como tenta extrair algo do corpo, esburacá-lo
Através de um aparelho nomeado “squeeze machine” Temple Grandin constrói
um órgão suplementar, lamela, que capta e regula o gozo, se insere no laço social
tornando-se uma famosa autista, nomeação que nunca recusou “Existe até um nome
metido a besta para esse modo de ser “(1999,p.119)” (...) “Em 1950, recebi o rotulo de
autista, mas consegui passar para o outro lado, além das trevas, tateando no escuro e
sair do abismo da solidão“(1999, p. 20)
Suas memórias, escritas como uma tapeçaria a partir da qual coloca ordem em
seu mundo estranho e aterrorizante, começam com a lembrança do dia em que “quase
matei minha mãe e irmã.”, evidenciando a recusa total do Outro que caracteriza a
posição subjetiva do autista.(1999, pág. 24) Antes da entrada na escola falava frases de
uma palavra só, gelo, vou, meu.
Inicialmente vê-se nessa historia os signos do gozo que surgem da dimensão
desse Outro puro real no uso que faz das palavras, pois dispõe só de uma simbolização
que ela nomeia o vazio, o escuro, mas não há o buraco no simbólico – S1. Não há
inscrição da perda permitindo a repetição, há um corpo invadido por um gozo. A
articulação do simbólico com o real implica uma topologia do espaço pulsional, a
indiferenciação dos orifícios erógenos em Temple, indica um espaço que não está
construído como um dentro e fora, limitado pelas bordas. O interior e infinito se
equivalem para o olhar, pois desprovido do trajeto da pulsão que poderia articular o
corpo do sujeito ao Outro. Como sair desse estado homeostático com o corpo
encapsulado e passar a um modo de “subjetividade” entre dois?
Com 5 anos, começou a devanear sobre uma máquina mágica que pudesse
espremê-la com força, numa espécie de abraço, de modo totalmente controlado por ela.
Segue-se uma metonímia de objetos imaginados: envolvida em cobertores, encaixada
nas brechas do sofá, envelopada por papelões, inserida num macacão inflável. Temple
busca fazer um novo parceiro, para além de toda reciprocidade imaginária e sem a
interlocução simbólica, busca a via do suporte de um objeto fora da dimensão
simbólica, para um modo de pacificação que chama “excitação compensatória”, um
excesso ativamente buscado para se contrapor ao excesso do mundo.
Uma atividade a obcecava “girar como um pião era outra atividade que eu
apreciava (...). Toda a sala girava comigo. (...) Esse comportamento auto-estimulante
me fazia se sentir poderosa com controle das coisas”.(Grandin, 1999,28). Um pouco
mais velha ela encontra num parque de diversões um achado: o brinquedo Rotor. “O
Rotor foi ganhando velocidade e o motor começou a soar como um zumbido gigante.
(...). o piso foi se abrindo e eu vi o chão, lá embaixo, mas a essa altura meus sentidos
estavam tão sobrecarregados de estímulos que eu não reagi mais com ansiedade e nem
com medo” (Grandin, 1999, 80).
O rotor produz uma anestesia, mas girar e fazer girar embora a acalme não é uma
solução, é só um fascínio da dissolução programada de si, não lhe fornece fronteiras
estáveis que a protejam do excesso do mundo. Desde a segunda série comecei a sonhar
com um aparelho mágico que pudesse exercer um estímulo de pressão intensa e
prazerosa sobre meu corpo todo. Ela busca o abraço que lhe outorgara o corpo que o
autista não tem. Como constituir um abraço que lhe de unidade sem ser um excesso
tátil?
Um acontecimento crucial se deu quando tinha quinze anos. Ela ficou fascinada
pelas calhas afuniladas utilizadas para segurar o gado e ao qual o professor de ciência
levando a fixação dela a sério, sugeriu que construísse sua própria calha afunilada
Embora outros aparelhos imaginados pudessem exercer uma pressão uniforme em todo
o corpo, a calha afunilada, “em sua simplicidade, era completamente irresistível”
(Sacks, 1995, 187)
Alingua, o gozo de S1 com suas associações metonímicas deriva para o infinito,
não produz nenhum ponto de ancoragem a partir do qual tivesse um usufruto tranquilo
de seu corpo. É uma criação que lhe permitira sair do isolamento, ser expert em
aparelhos para indústria agricola que chamara catlle trap. “ É a minha máquina de
espremer. Tem gente que a chama de minha máquina do abraço” ( ).Sobre a função do
aparelho ela diz “que proporciona uma pressão firme e confortável sobre o corpo, dos
ombros aos joelhos. “Tanto uma pressão regular como variável ou pulsante; como
você desejar”. (...) Você arrasta-se para dentro dele” e com todos os controles na mão,
controla a pressão. (Sacks, 1995, 177)
Ela a justifica a necessidade de pressão: “Quando era uma menininha, desejava
muito ser abraçada, mas ao mesmo tempo ficava aterrorizada com qualquer contato”
(Sacks, 1995, 177). Sentia-se esmagada, subjugada pela sensação; tinha um sentimento
de prazer, mas também de terror.“A maneira como eu me afastava ao ser tocada é
igual a como a vaca se afasta”.( Sacks, 1995, 178). A vaca será o duplo real que lhe
permitira realizar seu aparelho mágico no seu próprio modo de pensamento – um
pensador visual que torna fácil se identificar com animais
O tratamento do gozo do seu corpo pela série metonímica de objetos cuja função
sobre o corpo é apertar espremer, furar, estreitar, fazer fronteira, objectos relacionados
com a borda do corpo, não leva em conta o furo. Será do real do corpo, sua carapaça, do
qual ela precisara destacar algo, extrair algo para passar do corpo de gozo que ela é a
um outro estatuto de corpo, um corpo que ela tem.Ela faz sua maquina de pressão para
conter, encerrar e dar forma ao seu corpo através da identificação com a vaca, duplo
real, mas para isso ela terá que fazer a morte entrar no circuito pulsional. Através da
morte da vaca, permitindo que o aparelho de apertar/abraçar concluísse o percurso
unindo no terceiro tempo o auto e alo-erotico da pulsão pela introdução do buraco no
simbólico. Isso passara pela descoberta dos dois elementos essenciais nesse percurso: a
porta que franqueia uma passagem tal como ouviu do pastor sobre a salvação e a
escadaria para o céu.
A porta e janela, indicadores da dimensão simbólica ressaltada por Lacan, será
amplamente explorada por Temple, mas a seu modo, indicando a abertura para o Outro.
“Sentada na capela da escola, se isola diante do tédio do sermão do pastor . De repente,
uma pancada alta intrometeu-se em meu mundo interior. Assustada, ergui os olhos e vi
o ministro bater no púlpito. "Abram", disse ele, "e Ele há de responder (...) "Eu sou a
porta; por mim, se algum homem entrar, estará salvo... "(Grandin, 1999, 83)
Ela pensa “Quem?” e aí se focaliza na porta, explora todo tipo de porta. Ela sabe
que é um símbolo, mas não sabe para o que serve, pois não conta com o simbólico
ordenado pelo Nome do Pai. Sentada no umbral de uma porta e pensando sobre o futuro
lhe vem a idéia de atravessar a porta de madeira que é “símbolo da salvação, alegria e a
felicidade” (Grandin, 1999, 96) Ela a encontra quando se depara com a portinhola que
se abre para o telhado “A porta para o meu céu” , um símbolo visual (Grandin, 199, 84).
Aperfeiçoa o aparelho e se entrega a ele e pode então suportar uma relação com
os outros. O imaginário da porta e o sentido de passagem aqui não agenciam ainda o
real, o discurso é uma articulação de semblantes. O semblante é "um godê sempre
pronto a receber um gozo" (Lacan, 2009, p. 114), o alçapão que faz fronteira ente seu
quarto e o céu estrelado não cumpre essa função. Ela já tinha a pacificação anestésica do
Rotor, a idéia de travessia da Porta e a unidade do abraço, mas falta alguma coisa para
que estes semblantes possam ser agenciados em uma montagem que dê escoamento o
gozo e ao mesmo tempo o nomeie, lhe dê um lugar no Outro. Sua criação gira em torno
da eleição de um semblante, a Squeeze machine não é só uma máquina de abraço
controlado, ela é também a maquina de abraço do boi. É o boi que fará toda diferença, o
boi momentos antes da morte será o semblante central do aparelho de Temple.
Na temporada em uma fazenda percebe o terror nos olhos esbugalhados do boi
indo para o abate e tem a idéia de construir o “snare”, armadilha que guia os passos do
boi até a morte, um curral que vai se estreitando, deixando o animal preso, imobilizado
e no qual se pode marcá-lo, vaciná-lo e matá-lo. Fica fixada no brete que aglutina o
relaxamento da tensão, a morte e a vida, uma pacificação que é uma passagem para um
plano melhor. "O brete é também um porta" (Grandin, 1999, 107) e uma "escadaria
para o céu" (128). Ela agora tem um projeto, construir bretes melhores e mais
adaptados para que o boi não sofra: “(...) a escadaria para o céu é dedicada aos que
desejam aprender o sentido da vida e não temer a morte" (Grandin, 1999, 96).
Ao operar o brete ela diz “ (...) meus sentimentos (...) eram conflituosos. (...)
percebi que a perícia na operação do equipamento era na verdade a arte do afeto.
Paradoxalmente era no matadouro que eu estava aprendendo a dar afeto”. (Grandin,
1999,p.128). Ela acalma e imobiliza o animal enquanto ele é morto, assim ela deixa cair
do corpo a carne, inscrevendo no real o desaparecimento do sujeito, ponto que permite
fazer o nó que instara a libido como órgão-parte e instrumento, passando a deslizar entre
eu o outro. Essa montagem que fisga um real essencial, aqui ainda não é um trajeto em
torno do vazio, uma falta originaria assinatura da submissão ao pai tomado no Édipo,
mas sustenta um lugar estável para o sujeito no laço social. O sujeito não é senão um
furo, em vez de aceitar o furo que sempre ter estado ali ela precisa criá-lo. O brete
coloca em cena o furo dos furos, a morte, mas é a morte do boi, o duplo real. Para ela a
morte não ocupa a função do furo. Como operadora de brete que dá uma morte digna,
sem sofrimento ao animal passa a refletir sobre o que existiria para além das paredes.
Seu objetivo será aperfeiçoar o brete, se transfere do curso de psicologia para o de
ciência animal que a levara a se tornar uma famosa “expert” em maquinas de abate
animal.
Como não há constituição do corpo como superfície, não há buraco. A questão
do autista é como cavar um buraco. Mas ela constrói esse espaço sem o pai, sem
profundidade, só com semblantes onde se destaca na montagem o olho esbugalhado do
bicho diante da morte, mas isso nada diz sobre sua morte. A morte é ao mesmo tempo
desaparecer e se tornar imortal, conforme assinalado por Freud em Além do Principio
do Prazer. A dimensão simbólica circunda um buraco central, a imaginaria tem
consistência no corpo e o real ex-siste, o impossível representado pelo buraco implicado
em cada uma dessas dimensões. Estando separadas essas três dimensões só podem ser
enlaçadas por um quarto elemento. Na topologia borromeana são as modalidades de
fracasso que indicam os modos possíveis de reparação, de suplência. O quarto termo é o
que vem dar nome ao desfalecimento do Outro, é um enlaçamento.
Ela relata o acontecimento de corpo a partir do qual encontra a estabilidade em
sua vida " A experiência foi estranhamente hipnótica . Achei que da semelhança entre a
maravilhosa sensação de transe que eu tinha experimentado apenas imobilizando
suavemente o gado e a sensação de expansão que me deu quando eu era pequena , o
fato de ficar absorta na contemplação de areia que flui através dos meus dedos na prai.
Quando criança era “ capaz de ficar horas sentada horas a fio na praia deixando a
areia escorrer entre os meus dedos e construindo morros em miniatura. Cada grão de
areia me fascinava como se eu fosse um cientista olhando por um microscópio. ”
( Grandin, 1999, 28) . “
O gozo do corpo, esse gozo sofrera uma mutação.O animal tomara o lugar do
grão de areia, a maquina de aperto assumiu a mão, o monte de areia é como corpos que
se transformam em carne. O fluxo de areia na mão é uma figura no real da fuga
metonímica. Os grãos de areia que ela deixa escapar entre os dedos e o modo de
acalmar os animais que que entram no brete para ser abatidos indicam um modo de lidar
com o gozo , gozo insuportavel da lingua, o estado final tem algo do estado inicial.
Há um corpo quando o organismo incorpora o órgão da linguagem. O corpo é
uma realidade segunda, subordinada, o primeiro corpo faz o segundo após se incorporar.
No texto Radiofonia, Lacan diz que ”alíngua é um órgão que se incorpora.” (1998, 406)
A linguagem é da ordem de uma ranhura , um sulco. Este é um sulco que foi cavado ,
apagado, que arranhou a terra. Temple fica fascinada quando olha os sulcos
interminaveis de sua mão, mas ela não lê essa materialidade, materialidade que mostra
que a relação à alíngua determina o estatuto do corpo.
O S1 fica colado a presença do objeto concreto, percebido, essa diferença entre
signo e significante produz corporificações diferentes. O S 1 é uma substancia de gozo,
um real, um gozo de Um sozinho, antes de ser um S1 a origem do nó borromeu como
enlace particular do real e simbólico. É a partir desse S1 que pode nascer um Outro
barrado pela operação de negativação do gozo. Temple faz aliança com os resíduos,
restos, fragmentos - S1 como signos de gozo.
Esses restos, pedaços de uma substancia se constituem por vibração/ batimentos
alternativos ou desde substancia não numeráveis, paginas de um livro infinito ou como
grãos e areia. A topologia da superfície, forma e fundo, de duas dimensões nos permite
localizar, fixar esses momentos de surgimento de uma subjetividade. Os grãos de
areia , as linhas de dedo , os giros são elementos pelos quais ela designa o seu ser no
mundo que a arrebata de um fundo - superfície indiferenciada.
Na tentativa de Temple fazer que seu organismo não seja confundido com o
corpo através de artifícios, da caixa ao brete, a função da castração , a perda não incide
sobre seu corpo. A borda, o buraco deve ser adicionado, pois a topologia não é uma
metáfora é a estrutura. Apertar, conter, amassar, cercar são as operações reais da língua
que colocam uma borda. Ela produz efeitos de modalidades de borda envolver-
envolvida, delimitação de um interior e exterior para se fazer um corpo a partir de um
gozo sem borda de inicio.
Ela assina um contrato num matadouro e o chama de projeto "Escada do
Paraíso" onde o gado sairia pela porta do céu. Ele acredita que no topo da escada há
Deus e não um buraco negro. Aqui a maquina para gado lhe serve “para tratar
concretamente a hiância no Outro“ ( Maleval, 2009,249). Ela constrói rampas de acesso
curvas, corredores curvos, onde o gado em fila, não pode ver o que o espera no final da
subida. Uma braçadeira, faixa, levanta o boi pelo ventre que é abatido sem perceber.
Para acalmar, ela introduz uma falta a ver na perspectiva de uma vaca que não vê o
instante final que a espera. Mas se há uma falta visível do lado de animais o mesmo não
se dá do seu lado: ela vê esse momento final. “Era quase uma experiência religiosa.
Meu trabalho era acalmar o animal e o do rabino era cumprir o ato final. Fui capaz de
olhar cada um dos animais, segurá-lo com cuidado e fazer ele se sentir o mais
confortável possível durante os últimos momentos de sua vida. Eu havia tomado parte
no antigo ritual de abate tal como deveria ter sido feito. Eu tinha aberto outra porta.
Senti como andar sobre a água “ (Grandin, 2006, 14)
Ela encontra um sentido para a vida e não mais temer a morte. Agora há duas
imagens entre um antes e um depois, vida e morte, o animal vivo e a carne consumida.
Esse entre dois, o buraco negro pacificado – Deus. Aborda a perda simbólica por
intermédio de seu duplo. Ela escreve “Se não houvesse a morte não se saberia apreciar
a vida” (Grandin, 2006, 231) Ela se volta para a religião, faz um Deus feito de energia
que dá origem a uma idéia de perseguição por ferir animais. Ela se fixa então na idéia de
que o matadouro é um lugar santo como o Vaticano, é um Templo, a única forma
adequada de matar animais com respeito - a via do ritual, via sagrada.
Ela assiste ao abate no rito judaico, uma cena que comporta a presença do
gerente do matadouro e um rabino. Ela diz em Pensar em imagens que quando acalmou
os animais, sentiu vibrar em uníssono com o universo em um estado de calma total. O
tempo tinha parado até que o gerente do matadouro a trouxe de volta à realidade com
um convite para se juntar a ele em seu escritório. O gerente ficara fascinado
espionando-a na cena em que acalma os animais para o abate. Então ela disse: "Eu
pensei na semelhança entre a maravilhosa sensação de transe que eu tinha
experimentado mobilizando suavemente o gado e a sensação de expansão que procurei
quando eu era pequena, o fato de me absorver na contemplação de areia que flui
através dos meus dedos na praia” (Sacks, 1995,188).Qual é então o estatuto dessa cena
final em relação com o acontecimento de corpo evento inicial?
Essa cena é da ordem de fascinação que aquela que ela relatou na praia. Ela
escreve sobre a calma que lhe sobreveio. "Quando a força vital deixou o animal, eu
experenciei profundos senti sentimentos religiosos." (Grandin, 2006,231) É preciso uma
perda para apaziguar o gozo do corpo em excesso. Não é a extração do objeto
condensador de gozo , é o fluxo heracliano infinito. Este é um esvaziamento infinito.
A força vital, como o sangue que corre, tomado da areia como substância fragmentada
pulverizado ao infinito, que cai através de seus dedos. É esse gozo que a encanta e que
ela nomeou por esse S1 inicial que ela redobra, rearranjando-o, remodelando-o.
Também deve-se levar em conta a precisão que ela traz sobre a modalidade desse gozo:
uma sensação de expansão.
A vaca como um duplo, a borda da porta como Outro e como a borda do buraco,
no rito cantado os momentos de expansão do gozo de inicio. Temple diz que só aos 30
anos conseguiu olhar nos olhos das pessoas e apertar-lhes a mão. Embora ainda tome
antidepressivo, ela conseguiu se descolar da maquina do abraço, diz que a profissão é
sua vida. Na entrevista a Sacks diz “O autismo é parte do que sou” (Sacks, 1999. 194).
“Li que é na biblioteca que reside a imortalidade. Não quero que meus pensamentos
morram comigo. (...) Quero deixar algo. (...) saber que minha vida tem um sentido. (...)
coisas que estão no âmago de minha existência” (Grandin, 1999, 197)

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

GRANDIN,T. (1999) Uma menina estranha: autobiografia de uma autista.. São Paulo:
Companhia das letras

GRANDIN,T. (2006) Pensar com imágenes. Mi vida com autismoBarcelona: Ed. Alba.

GRANDIN, T. (2013) Entrevista de Temple Grandin à Revista da Folha de São Paulo


em maio de 2013. Extraído em 07/12/2013 as 1520 hs de:
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/05/1284675-autismo-e-parte-
de-mim-mas-nao-me-define-diz-a-cientista-temple-grandin.shtml
LACAN, J. Radiofonia (1970). In Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p.
400-447

LACAN, J.. (1970-1971) O Seminário, livro 18: De um discurso não fosse de


semblante, Rio de Janeiro, JZE, 2009.

LACAN, J. (1974-1975.) O Seminário, livro 22 R.S.I - inédito .

MALEVAL, J-C (2009) Os objetos autísticos complexos são autísticos? In Psicologia


Revista, Belo Horizonte, v.15, n.2, p.223-254, ago 2009

SACKS, Oliver (1995) Um antropólogo em Marte: sete historias paradoxais. SP:


Companhia letras,
Del Eindruck al lazo social: el testimonio de un autista
Sandra Dias

Temple Grandin, autista, Doctora en Ciencia Animal de la Universidad de


Colorado, profesora y especialista en reducción del miedo de animales que van a ser
sacrificados, escribió tres libros y dio numerosas entrevistas que dan testimonio del paso
del hablaser con acceso directo a lo real hacia el lazo social.
La lección a ser aprendida mediante la lectura del seminario RSI es que se debe
partir de lo real en el síntoma y el modo de goce que constituye al propio hablaser para
entonces tomar su testimonio e interrogar lo que lo aísla, lo que es singular en la
experiencia del cuerpo gozante. ¿Cuál fue el tratamiento del goce de la marca fuera del
sentido (Eindruck) que le permitió salir del encapsulamiento a través de una atadura que
consideró la lengua y le permitió encontrarle sentido a la vida?
Por no haber sufrido la incidencia del discurso del maestro sobre lalangue, el
cuerpo del autista permanece a la deriva del goce infinito debido a la no supresión del
Uno, marca del cuerpo que goza de sí mismo, en un más allá del Principio del Placer. En
las distintas prácticas de esta autista con su cuerpo, con el cual intenta estabilizar su
relación con el acontecimiento del cuerpo, se ve la demostración de cómo el cuerpo es
invadido por un goce pleno y también cómo intenta extraer algo del cuerpo, agujerearlo.
A través de un aparato denominado “squeeze machine” Temple Grandin
construye un órgano suplementario, laminilla, que capta y regula el goce, se insiere en
el lazo social convirtiéndose en una famosa autista, denominación que nunca rechazó
"hay incluso un nombre medio soberbio para este modo de ser " (1999, p. 119) "(...)"En
1950, recibí la etiqueta de autista, pero logré pasar hacia el otro lado, más allá de las
tinieblas, a tientas en la oscuridad y salir del abismo de la soledad" (1999, p. 20)
Sus memorias, escritas como una tapicería a partir de la cual pone orden en su
mundo extraño y aterrador, comienzan con el recuerdo del día que "casi maté a mi
madre y a mi hermana", demostrando el rechazo total del Otro que caracteriza la
posición subjetiva de los autistas (1999, p. 24). Antes de comenzar la escuela construía
frases de apenas una palabra: hielo, voy, mío.
Inicialmente se ven en esta historia los signos del goce que surgen de la
dimensión de este Otro puro, real en el uso que hace de las palabras, porque dispone
sólo de un simbolismo que ella designa como lo vacío, lo oscuro, pero no está el agujero
en lo simbólico – S1. No hay inscripción de la pérdida que permita la repetición, hay un
cuerpo invadido por un goce. La articulación de lo simbólico con lo real implica una
topología pulsional, la indiferenciación de los orificios erógenos en Temple indica un
espacio que no está construido como un dentro y fuera, limitado por los bordes. El
interior y el infinito se equivalen a la mirada, pues está desprovisto del trayecto de la
pulsión que podía articular el cuerpo del sujeto al Otro. ¿Cómo salir de este estado
homeostático con el cuerpo encapsulado y pasar a un modo de "subjetividad" entre dos?
A los 5 años comenzó a devanear sobre una máquina mágica que la pudiera
apretar con fuerza, en una especie de abrazo, totalmente controlada por ella. La
siguiente es una metonimia de objetos imaginarios: envuelta en mantas, encajadas en las
espacios vacíos del sofá, envuelta en cartón, dentro un mameluco inflable. Temple busca
tener un nuevo aliado, hacia más allá de toda reciprocidad imaginaria y sin la
interlocución simbólica, busca la vía del soporte de un objeto fuera de la dimensión
simbólica hacia un modo de pacificación que llama "excitación compensatoria", un
exceso activamente buscado para contrarrestar el exceso del mundo.
Tenía obsesión por una actividad "girar como un trompo era otra actividad que
me gustaba (...). Todo el living giraba conmigo. (...) Este comportamiento
autoestimulante me hacía sentir poderosa, con control sobre las cosas". (Grandin,
1999.28). Un poco mayor, en un parque de diversiones, descubrió la Rueda Giratoria.
"La rueda fue ganando velocidad y el motor empezó a sonar como un zumbido gigante.
(...). el piso se fue abriendo y vi el piso, allá abajo, pero en ese momento mis sentidos
estaban tan sobrecargados de estímulos que no reaccioné más con ansiedad o
temor"(Grandin, 1999, 80).
La rueda giratoria produce un efecto anestésico, pero girar y hacer girar, aunque
calma, no es una solución, es sólo una fascinación de la disolución programada de sí
mismo, no le ofrece fronteras estables que la protejan del exceso del mundo. Desde el
segundo grado primario comenzó a soñar con un aparato mágico que pudiera ejercer un
estímulo de presión intensa y placentera en todo su cuerpo. Buscaba el abrazo que le
proporcionara el cuerpo que el autista no tiene. ¿Cómo construir un abrazo sin que haya
exceso táctil?
Un acontecimiento decisivo se produjo cuando tenía quince años. Quedó
fascinada por las mangas usadas para conducir el ganado (pasillos estrechos con forma
de embudo que sirven para dirigir el ganado hacia un lugar definido) y su profesor de
ciencias, llevando su fijación a serio, sugirió que construyera su propia manga. Aunque
otros aparatos imaginarios pudieran ejercer una presión uniforme en todo el cuerpo, la
manga "en su simplicidad, era completamente irresistible" (Sacks, 1995, 187)
Lalangue, el goce de S1 con sus asociaciones metonímicas deriva hacia el
infinito, no produce ningún punto de anclaje a partir del cual tenga usufructo tranquilo
de su cuerpo. Fue creación que le permitió salir del aislamiento, ser experto en aparatos
para la industria agrícola que llamó catlle tramp. "Es mi máquina de apretar. Hay gente
que la llama mi máquina de abrazos"().Sobre la función del aparato ella dice "que
proporciona una presión firme y cómoda sobre el cuerpo, desde los hombros hasta las
rodillas. Una presión tanto regular como variable o pulsante, como lo desees". (...) Te
arrastras hacia dentro de ella" y con todos los controles en la mano, controlas la
presión. (Sacks, 1995, 177)
Ella justifica la necesidad de presión: "Cuando era una niña pequeña quería ser
abrazada, pero al mismo tiempo me aterraba cualquier contacto" (Sacks, 1995, 177). Se
sentía aplastada, abrumada por la sensación; tenía una sensación de placer, pero también
de terror “La manera como me alejaba al ser tocada era igual a como una vaca se
aleja".(Sackcs, 1995, 178). La vaca es el doble real que le permite realizar su aparato
mágico en su propia forma de pensar – un pensador visual que hace que sea fácil
identificarse con los animales
El tratamiento del goce de su cuerpo a través de la serie metonímica de objetos
cuya función sobre el cuerpo es apretar, exprimir, perforar, estrechar, dar límite, objetos
relacionados con el borde del cuerpo, no considera el agujero. Será lo real del cuerpo,
su caparazón, lo que ella necesitará para sacar algo, extraer algo para pasar del cuerpo
de goce que ella es hacia otro estatuto de cuerpo, un cuerpo que ella tiene. Ella hace su
máquina de presión para contener, encerrar y dar forma a su cuerpo mediante la
identificación con la vaca, un doble real, pero para ello tendrá que hacer que la muerte
entre en el circuito de pulsión. A través de la muerte de la vaca, permitiendo que el
aparato de apretar/abrazar completara el recorrido uniendo en el tercer tiempo lo auto y
lo aloerótico de la pulsión por la introducción del agujero en lo simbólico. Eso ocurrió
gracias al descubrimiento de los dos elementos esenciales en este recorrido: la puerta
que franquea un pasaje, tal como había oído al pastor hablar sobre la salvación, y la
escalera al cielo.
La puerta y la ventana, indicadores de la dimensión simbólica destacados por
Lacan, serán ampliamente explotados por Temple, pero a su manera, indicando la
apertura al Otro. "Sentada en la capilla de la escuela se aísla ante el tedio del sermón del
pastor. De repente, un golpe se entrometió en mi mundo interior. Asustada, levanté los
ojos y vi que el Ministro golpeaba el púlpito. "Abran", dijo, "y Él responderá (...)"Soy
la puerta; por mí, si un hombre entra, estará a salvo... "(Grandin, 1999, 83)
Ella piensa “¿quién?" y luego se centra en la puerta, explora todo tipo de puerta.
Ella sabe que es un símbolo, pero no sabe para qué sirve, no cuenta con lo simbólico
ordenado por el Nombre del Padre. Sentada en el umbral de una puerta y pensando en el
futuro le viene la idea de atravesar la puerta de madera que es "símbolo de la salvación,
de la alegría y de la felicidad" (Grandin, 1999, 96). Temple la encuentra cuando
descubre la escotilla que abre hacia el techo de "mi cielo", un símbolo visual (Grandin,
199, 84).
Perfecciona el aparato y se entrega al mismo y puede entonces soportar una
relación con los otros. Las imágenes de la puerta y el sentido de pasaje no agencian aquí
todavía lo real, el discurso es una articulación de semblantes. El semblante es "un godet
siempre listo para recibir un goce" (Lacan, 2009, p. 114), la escotilla que hace frontera
entre su habitación y el cielo estrellado no cumple esta función. Ya tenía la pacificación
anestésica de la rueda giratoria, la idea del cruce de la Puerta y la unidad del abrazo,
pero había algo que le faltaba para que estos semblantes pudieran ser agenciados en un
armazón que le diera flujo al goce y al mismo tiempo lo nombrara, le diera un lugar en
el otro. Su creación gira en torno a la elección de un semblante, la Squeeze machine no
es sólo una máquina de abrazo controlado, es también la máquina de abrazo de la vaca.
Es la vaca la que hace hace toda la diferencia, la vaca, momentos antes de la muerte,
será el semblante central del aparato de Temple.
Durante una temporada en una granja percibe el terror en los ojos de las vacas a
cuando van a ser sacrificadas y tiene la idea de construir la "snare", trampa que guía los
pasos de la vaca hacia la muerte, un corral que se va estrechando, dejando el animal
atrapado, inmovilizado y en el que se lo puede marcar, vacunar y matar. Se fija en la
manga que aglutina la relajación de la tensión, la muerte y la vida, una pacificación que
es un paso hacia un plano mejor. "La manga es también una puerta" (Grandin, 1999,
107) y una "escalera al cielo" (128). Ahora, ella tiene un proyecto, construir mangas
mejores, adaptadas para que la vaca no sufra: “(...) la escalera al cielo está dedicada a
aquellos que desean aprender el significado de la vida y a no temerle a la
muerte"(Grandin, 1999, 96).
Para operar la manga ella dice "(...) mis sentimientos (...) eran contradictorios.
(...) me di cuenta de que la experiencia en la operación del equipo era en realidad el
arte del afecto. Paradójicamente, fue en el matadero donde estaba aprendiendo a dar
afecto". (Grandin, 1999, p. 128). Temple calma e inmoviliza al animal mientras se lo
sacrifica, así ella deja que la carne se caiga del cuerpo, inscribiendo en lo real la
desaparición del sujeto, punto que permite hacer el nudo que instaura la libido como
órgano parte e instrumento, pasando a deslizar entre yo y otro Este montaje que
engancha un real esencial, aún no es un recorrido alrededor del vacío, una falta
originaria firma de la sumisión al padre tomado en el Édipo, pero mantiene un lugar
estable para el sujeto en el lazo social. El sujeto no es más que un agujero, en lugar de
aceptar el agujero que siempre ha estado ahí tiene que crearlo. La manga pone en escena
el agujero de los huecos, pero es la muerte de la vaca el doble real. Para ella su muerte
no ocupa la función del agujero. Como operadora de una manga que otorga una muerte
digna, sin dolor al animal pasa a reflexionar sobre lo que existe más allá de las paredes.
Su objetivo será mejorar la manga, se transfiere del curso de psicología al de la ciencia
animal que la convierte en una famosa especialista en máquinas para sacrificar
animales.
Como no hay constitución del cuerpo como superficie, no hay agujero. La
cuestión del autista es como hacer un agujero. Pero ella construye este espacio sin el
padre, sin profundidad, sólo con semblantes donde se destaca el montaje, el ojo saltón
de la bestia ante la muerte, pero eso no dice nada sobre su muerte. La muerte es al
mismo tiempo desaparecer y volverse inmortal, como lo señala Freud en Más Allá del
Principio del Placer. La dimensión simbólica circunda un agujero central, el imaginario
tiene consistencia en el cuerpo y en lo real ex-siste, lo imposible representado por el
agujero implicado en cada una de estas dimensiones. Al estar estas tres dimensiones
separadas sólo pueden vincularse a través de un cuarto elemento. En la topología
borromeana son las modalidades del fracaso las que indican los modos posibles de
reparación, de suplencia. El cuarto término es el que viene a darle nombre al
desfallecimiento del otro, es un enlace.
Ella relata el acontecimiento del cuerpo a partir del cual encuentra estabilidad en
su vida "La experiencia fue extrañamente hipnótica. Pensé en la similitud entre la
sensación maravillosa de trance que había experimentado apenas inmovilizando
suavemente el ganado y la sensación de expansión que me dio cuando era pequeña, el
hecho de permanecer abstraída en la contemplación de arena que fluye a través de mis
dedos en la playa. Cuando era niña era capaz de pasar horas sentada en la playa
dejando que la arena se me escapara entre los dedos y construir colinas en miniatura.
Cada grano de arena me fascinaba como si fuera un científico mirando a través de un
microscopio". (Grandin, 1999, 28).
El goce del cuerpo, este goce había mutado. El animal tomó el lugar de los
granos de arena, la máquina de aprietos asumió la mano, la pila de arena es como los
cuerpos que se convierten en carne. El flujo de arena en la mano es una figura en lo real
de la fuga de metonímica. Los granos de arena que deja deslizar a través de sus dedos
y como calma los animales que entran en la manga para ser sacrificados indican una
forma de lidiar con el goce, goce insoportable de la lengua, el estado final tiene algo de
estado inicial.
Hay un cuerpo cuando el organismo incorpora el órgano del lenguaje. El cuerpo
es una segunda realidad, subordinada, el primer cuerpo hace el segundo después de
incorporarse. En el texto Radiofonía, Lacan dice que "lalangue es un órgano que se
incorpora". (1998, 406)
El lenguaje es del orden de una ranura, un surco. Esto es un surco que fue desenterrado,
borrado, que arañó la tierra. Temple se fascina al ver las interminables ranuras de su
mano, pero no lee esta materialidad, materialidad que muestra que la relación con la
lalangue determina el estado del cuerpo.
El S1 se queda pegado a la presencia del objeto concreto, percibido, esta
diferencia entre signo y significante produce diferentes corporificaciones. El S 1 es una
sustancia de goce, uno real, un goce de Uno solo, antes de ser un S1 el origen del nudo
borromeo como enlace particular del real simbólico. Es a partir de este S1 que puede
nacer un Otro impedido por la operación de la negativación del goce. Temple hace
alianza con los residuos, restos, fragmentos - S1 como signos de goce.
Estos restos, trozos de una sustancia están constituidos por vibración/latidos
alternativos o desde sustancia no numerable, páginas de un libro infinito como granos y
arena. La topología de la superficie, forma y fondo, bidimensional, nos permite
localizar, fijar estos momentos de surgimiento de una subjetividad. Los granos de arena,
las líneas del dedo, los giros, son todos elementos por los cuales ella designa a su ser en
el mundo que la arrebata de un fondo- superfície indiferenciada
Es el intento de Temple de hacer que su organismo no se confunda con el cuerpo
a través de artificios, de la caja a la manga, la función de la castración, la pérdida no
afecta a su cuerpo. El borde, el agujero debe ser añadido porque la topología es una
metáfora, es la estructura. Apretar, contener, cercar o abollar son operaciones reales de
de la lengua que ponen un borde. Ella produce efectos de borde envolver-envuelta,
delimitación de un interior y de un exterior para hacer un cuerpo a partir de un goce sin
borde de inicio.
Temple firma un contrato en un matadero y lo llama Proyecto Escalera al
Paraíso, donde el ganado saldría por la puerta del cielo. Cree que en la parte superior de
las escaleras está Dios y no un agujero negro. Aquí la máquina para el ganado le sirve
"para tratar concretamente la hiancia por el Otro" (Maleval, 2009.249). Temple
construye rampas de acceso, corredores curvos donde el ganado en fila no puede ver lo
que le espera al final de la subida. Una cinta levanta la res por el vientre y se la sacrifica
sin que se dé cuenta. Para calmarla, introduce una falta de ver desde la perspectiva de
una vaca que no ve el instante final que le espera. Pero si hay una falta visible del lado
del animal, lo mismo no ocurre de su lado: Ella ve este momento final. "Era casi una
experiencia religiosa. Mi trabajo era calmar el animal y el del rabino era cumplir el
acto final. Fui capaz de mirar a cada uno de los animales, sostenerlos cuidadosamente
y hacer que se sintiera lo más cómodo posible en los últimos momentos de su vida.
Había tomado parte en el antiguo ritual de sacrificio tal como debería haber sido
hecho. Había abierto otra puerta. Sentía como si caminara sobre el agua "(Grandin,
2006, 14)
Temple encuentra un sentido para la vida y ya no le teme a la muerte. Ahora hay
dos imágenes entre un antes y un después, vida y muerte, el animal vivo y la carne
consumida. Este entre dos, el agujero negro pacificado, Dios. Aborda la pérdida
simbólica a través de su doble. Escribe "si no hubiera muerte no se sabría apreciar la
vida" (Grandin, 2006, 231). Se hace religiosa, hace un Dios de energía que da lugar a
una idea de persecución por herir animales sufriendo. Se fija en la idea de que el
matadero es un lugar sagrado como el Vaticano, es un Templo, la única forma apropiada
para matar animales con respecto - la vía del ritual, el camino sagrado.
Temple observa el sacrificio en el rito judío, una escena que involucra la
presencia del gerente del matadero y un rabino. Habla de Pensar en imágenes que
cuando calmaba los animales, sentía vibrar al unísono con el universo un estado de
calma total. El tiempo se detuvo hasta que el gerente del matadero la trajo de vuelta a la
realidad citándola a su oficina. El director se había fascinado espiándola en la escena en
que calmaba a los animales antes que fueran sacrificados. Entonces ella dijo: "Pensé en
la similitud entre la sensación maravillosa de trance que había experimentado al
movilizar suavemente el ganado y la sensación de expansión que busqué cuando era
pequeña, el hecho de absorberme en la contemplación de la arena que fluye a través de
mis dedos en la playa" (Sacks, 1995.188). ¿Cuál es entonces el estatuto de esta escena
final en relación con el cuerpo evento inicial?
Esta escena es del orden de la fascinación, és la misma que ella relató en la
playa. Escribe sobre la calma que le sobrevino. "Cuando la fuerza vital dejó el animal,
experimenté profundos sentimientos religiosos". (Grandin, 2006.231) Se necesita una
pérdida para apaciguar el goce del cuerpo en exceso. No es la extracción del objeto
condensador de goce, es el flujo heracliano infinito. Este es un vaciamiento infinito. La
fuerza vital, como la sangre que corre, tomada de arena como sustancia fragmentada
pulverizada al infinito que cae a través de sus dedos. Es este goce que la encanta y que
ella nombra por este S1 inicial que redobla, rearreglándolo, remoldeándolo. También se
debe tener en cuenta la precisión que trae sobre la modalidad de este goce: una
sensación de expansión.
La vaca como un doble, el borde de la puerta como Otro y como el borde del
agujero, en el rito cantando los momentos de expansión del goce de inicio.Temple dice
que sólo a los 30 años logró mirar a los ojos de la gente y estrecharle la mano. Aunque
aún toma antidepresivos, pudo despegarse de la máquina de abrazo, dice que la profesión
es su vida. En la entrevista a Sacks dice "autismo es parte de lo que soy" (Sacks,
1999.194). "He leído que es en las bibliotecas donde reside la inmortalidad. No quiero
que mis pensamientos mueran conmigo. (...) quiero dejar algo. (...) saber que mi vida
tiene un sentido. (...) cosas que están en los más profundo de mi existencia"(Grandin,
1999, 197)

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GRANDIN,T. (1999) Uma menina estranha: autobiografia de uma autista.. São Paulo:
Companhia das letras

GRANDIN,T. (2006) Pensar com imágenes. Mi vida com autismoBarcelona: Ed. Alba.

GRANDIN, T. (2013) Entrevista de Temple Grandin à Revista da Folha de São Paulo


em maio de 2013. Extraído em 07/12/2013 as 1520 hs de:
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/05/1284675-autismo-e-parte-
de-mim-mas-nao-me-define-diz-a-cientista-temple-grandin.shtml

LACAN, J. Radiofonia (1970). In Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p.
400-447

LACAN, J.. (1970-1971) O Seminário, livro 18: De um discurso não fosse de


semblante, Rio de Janeiro, JZE, 2009.

LACAN, J. (1974-1975.) O Seminário, livro 22 R.S.I - inédito .

MALEVAL, J-C (2009) Os objetos autísticos complexos são autísticos? In Psicologia


Revista, Belo Horizonte, v.15, n.2, p.223-254, ago 2009

SACKS, Oliver (1995) Um antropólogo em Marte: sete historias paradoxais. SP:


Companhia letras,

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