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subjetivação (1500 – 1900) / Luís Cláudio Mendonça Figueiredo - São Paulo: Educ.:
Escuta, 1992. 184 p. 21 cm – (Coleção Linhas de fuga)
A invenção do psicológico
(1500 – 1900)
RESENHA¹
Nesse sentido o autor traz Dom Quixote como exemplo de imagem pretenciosa.
Levava consigo uma imagem absolutamente nítida e completa de quem era e de
como devia se portar; em todos os momentos suas reflexões, decisões e ações
eram pautadas por essa imagem. Essa imagem deveria ser exibida
exageradamente, para que ganhasse o máximo de reconhecimento daqueles que
sentem falta desse modelo “exemplar”, mesmo que estejam incluídos os dissabores,
as desgraças, a fúria e desespero. Esta decisão precisa e absoluta é sem dúvida a
principal tática de Dom Quixote para construir e manter a sua identidade em meio
aos interesses e embates.
Dom Quixote se apresenta como um messias: “eu sou o que é preciso que seja”
Toda confiança nas crenças científicas, a falta de vinculo com as tradições e de uma
obediência as autoridades, viria afetar a autonomia do sujeito epistêmico e a
eficiência dos procedimentos constitutivos. A medida que esses procedimentos se
estabilizam e tece-se com eles uma rotina metodológica, eles tendem a perder a
dimensão útil e fica em destaque a natureza padronizada e de privação, colocando
de lado seus limites e possibilidades, tendendo ao formalismo e, muitas vezes, vai
importar menos o conhecimento supostamente objetivo que possibilita do que o
sacrifício imposto a subjetividade particular, privada e variável.
Para Figueiredo esses sermões podem ser ainda hoje lidos e apreciados como
exemplo magistrais de arte da representação sem que nos sintamos movidos na
direção de qualquer arrependimento.
Sem medos, sem impulsos, sem apetites, sem aversões, sem esperança os homens
seriam ingovernáveis, as ferramentas de controle social dependem disso para serem
eficazes.
Desse modo a civilidade existe tanto como instrumento repressivo quanto como
defesa do homem natural. Hobbes incomoda por que ele faz lembrar o homem
pretensamente civilizado o monstro que ele carrega consigo, a sua divisão interna,
a sua natureza intolerável e querida, motor e justificativa do mundo das
representações, mas que também é uma ameaça constante e seu maior valor.
Pascal (1623- 1662) é um homem dividido, ele não se diferencia, no entanto faz da
divisão uma reflexão: o da guerra entre espirito e corpo, ou entre intinto e
experiência, ou ainda entre razão e paixões. O resultado é uma ideia de homem
como monstro, como feixe de contradições, resulta do mesmo modo a
impossibilidade de representar o homem em uma imagem única que o identifique. É
possível suspeitar de todas as identidades que o homem toma para si e mostra para
para os outros. Por trás dessas imagens Pascal encontra apenas o amor-próprio,
interesses e uma profunda aversão a verdade.