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RESUMO
A importância estratégica da cultura organizacional tem sido sugerida e estudada por diferentes
autores. Neste trabalho tem-se como principal objetivo explorar o impacto da cultura organizacional
no desempenho da empresa. A pesquisa foi conduzida em quatro Estados do Brasil, com 478
indivíduos do corpo gerencial, participantes de 13 empresas brasileiras do setor têxtil. Quanto ao
enfoque metodológico, optou-se por linha de investigação mais quantitativa: este tipo de análise
requer o exame de múltiplas organizações para serem comparadas. A coleta de dados realizou-se
por meio de questionário estruturado, com apoio estatístico de várias técnicas, entre elas a análise
de clusters. Os resultados encontrados apontam para duas direções: a cultura está significativamente
associada ao desempenho organizacional; as empresas com cultura forte evidenciam melhor
desempenho.
Abstract
This paper studies the impact of the organizational culture on the performance of different
organizations according to evaluations made through accounting indices. The sample comprises
478 executive officers representing the management staff of thirteen textile companies of the
spinning sector. The theoretical reference used for identifying the cultural profiles of the companies
researched was based on the competing value model. Data gathered were submited to quantitative
and statistical analyses. The results led to the following conclusions: the group of organizations
sampled is basically characterized by two cultural profiles: strong cultures and weak cultures.
Cultural strenght significantly correlates with organizational performance, i. e., companies with
a stronger culture show a better performance than organizations with a weak culture. The
Competing Value Model used proved adequate for measuring the cultural profiles and was found
to be a valid and reliable data collecting instrument.
INTRODUÇÃO
Muitos autores, entre eles Sathe (1983), Schall (1983) e Schein (1984), argu-
mentam que a força e a congruência de uma cultura são as suas principais dimen-
sões. Uma cultura forte, congruente e que embasa a estrutura e as estratégias
organizacionais é mais eficaz do que aquela fraca e incongruente.
Este trabalho foi delineado com o objetivo de explorar o impacto da cultura
organizacional no desempenho da empresa. Duas questões básicas foram formu-
ladas para delimitar o problema de pesquisa:
· A força da cultura está significativamente associada ao desempenho
organizacional?
· Empresas com cultura forte podem evidenciar melhor desempenho do que
aquelas com cultura fraca?
AÇÕES METODOLÓGICAS
CONCEITO NOTA
Péssimo, Deficiente 0-1
Fraco, Insatisfatório 2-3
Razoável 4-5
Bom 6-7
Ótimo 8-9
Desempenho Global
Empresa Ano 1 Ano 2 Ano 3
A 5,0 4,0 5,0
Razoável Razoável Razoável
B 6,0 5,0 5,0
Bom Razoável Razoável
C 7,0 6,0 5,0
Bom Bom Razoável
D 4,0 6,0 4,0
Razoável Bom Razoável
E 7,0 7,0 5,0
Bom Bom Razoável
F 4,0 3,0 4,0
Razoável Insatisfatório Razoável
G 5,0 4,0 3,0
Razoável Razoável Insatisfatório
H 6,0 5,0 2,0
Bom Razoável Insatisfatório
I 6,0 6,0 5,0
Bom Bom Razoável
J 5,0 5,0 2,0
Razoável Razoável Insatisfatório
L 8,0 7,0 5,0
Ótimo Bom Razoável
M 1,0 1,0 1,0
Deficiente Deficiente Deficiente
N 6,0 6,0 1,0
Bom Bom Deficiente
O modelo intitulado Competing Value Model tem por certo que as organizações
podem ser caracterizadas de acordo com seus traços culturais comuns. Ele se
traduz num instrumento eficaz para definir os tipos de cultura organizacional,
interpretar os seus atributos e estudar a cultura em termos comparativos. Este
arcabouço teórico também é conhecido como Tipologia Cultural de Quinn (Quinn
e Kimberly, 1984; Quinn e McGrath, 1985). Como um referencial teórico para o
estudo da cultura organizacional, o Competing Value Model representa uma al-
ternativa diferente do enfoque qualitativo, que tem caracterizado a realização da
maioria das pesquisas em cultura.
O modelo aceita que as organizações podem ser caracterizadas de acordo com
os traços culturais ou dimensões comuns a toda a organização humana. Ele visa a
organizar os diferentes padrões de comportamento, valores e crenças comparti-
lhados que definem a cultura de uma empresa. Da justaposição de suas duas
principais dimensões emergem quatro tipos culturais que caracterizam a tipologia
de Quinn.
A primeira dimensão está relacionada ao enfoque organizacional. Ela pode
enfatizar, no sentido micro, desde o bem-estar e desenvolvimento do indivíduo na
organização, até o crescimento e o desenvolvimento da organização em si mesma,
no sentido macro. Em outras palavras, a ênfase pode refletir, nesta dimensão,
desde o ambiente interno até o ambiente externo. A segunda dimensão está relaci-
onada à estrutura organizacional; aborda o controle, a estabilidade, bem como a
flexibilidade e a mudança.
O primeiro tipo cultural, no quadrante superior à esquerda, é a cultura grupal.
Ela é baseada em normas e valores associados à afiliação. A autoridade aqui flui
muito bem, quando ela emana de membros envolvidos no sistema há muito tempo.
Enfatiza o desenvolvimento de recursos humanos e a participação dos membros
nas tomadas de decisão. Líderes tendem a ser participativos e considerativos,
oferecem suporte e facilitam a interação através do trabalho em equipe.
O segundo tipo cultural, no quadrante superior à direita, é a cultura inovativa.
Ela é permeada por pressupostos de mudança e flexibilidade. Os fatores chaves
para a motivação incluem crescimento, estímulo, diversificação e criatividade na
tarefa. Líderes nesta cultura tendem a ser empreendedores e idealistas. Apreciam
correr riscos, gostam de prever o futuro e também se preocupam em obter recur-
sos, apoio e imagem externa.
O terceiro tipo cultural, no quadrante inferior à esquerda, é a cultura hierár-
Em direção à
descentralização,
diferenciação
Em direção ao Em direção à
desenvolvimento Flexibilidade mudança,
de Recursos expansão
Humanos
Cultura Cultura
Em direção à Grupal Inovativa Em direção à
manutençâo Interno Externo posição
do sistema competitiva
sócio-técnico Cultura Cultura do sistemna
Hierárquica Racional
Em direção à Em direção à
consolidação, Controle maximização de
continuidade resultados
Em direção à
centralização e
integração
Tabela 2: Valor Médio de cada uma das Culturas com o Respectivo Erro
Padrão e Força Cultural por Empresa
Desempenho Global
Empresa Ano 1 Ano 2 Ano 3
A 5,0 4,0 5,0
Razoável Razoável Razoável
B 6,0 5,0 5,0
Bom Razoável Razoável
C 7,0 6,0 5,0
Bom Bom Razoável
D 4,0 6,0 4,0
Razoável Bom Razoável
E 7,0 7,0 5,0
Bom Bom Razoável
F 4,0 3,0 4,0
Razoável Insatisfatório Razoável
G 5,0 4,0 3,0
Razoável Razoável Insatisfatório
H 6,0 5,0 2,0
Bom Razoável Insatisfatório
I 6,0 6,0 5,0
Bom Bom Razoável
J 5,0 5,0 2,0
Razoável Razoável Insatisfatório
L 8,0 7,0 5,0
Ótimo Bom Razoável
M 1,0 1,0 1,0
Deficiente Deficiente Deficiente
N 6,0 6,0 1,0
Bom Bom Deficiente
L Bom 15,60
C Bom 14,69
A Bom 14,64
B Bom 14,26
N Mau 13,84
M Mau 13,29
I Bom 13,14
H Mau 12,59
G Mau 11,81
nho. No segundo grupo, que inclui as sete empresas com menor força cultural,
estão concentradas cinco instituições com mau desempenho.
O uso da análise discriminante (Johnson e Wichern, 1982) verificou se as cul-
turas organizacionais realmente discriminavam os dois grupos. O índice de acerto
obtido foi de 100%, isto é, os grupos preditos para as empresas coincidiram em
sua totalidade com os grupos formados pela análise de agrupamentos. Assim,
tem-se um indício de sucesso desta última.
O teste F utilizado para comparação de variâncias indicou que as variâncias
das duas populações poderiam ser consideradas iguais, pois o nível descritivo do
teste foi 0.755.
Foi aplicado o teste T-Student não-pareado (Bussab e Morettin, 1985) para
comparar a força cultural média entre as empresas com bom e mau desempenho.
A força cultural média das empresas com mau desempenho foi 13.04 e erro pa-
drão de 0.39; das empresas com bom desempenho foi 14.43 e erro padrão 0.32.
Feito o teste T-Student para duas populações com mesma variância, observou-se
um nível descritivo igual a 0.018, indicando que há evidências de que a força
cultural média das empresas com bom desempenho é maior do que naquelas com
mau desempenho (vide Tabela 4).
Para se ter uma idéia do grau de associação entre a força cultural, que foi
categorizada em forte ou fraca, com base na divisão dos dois grupos feita pela
análise de agrupamentos e o desempenho, bom ou mau, calculou-se o coeficiente
de contingência padronizado entre as duas variáveis; o valor obtido foi 0.679, ou
seja, há evidências de que existe associação entre as duas variáveis.
Autores como Ouchi (1981), Peters e Waterman (1982), Deal e Kennedy (1982),
entre outros, declaram que a força da cultura está associada ao desempenho
organizacional: “uma cultura forte tem sido quase sempre a mola propulsora que
está atrás das companhias de sucesso” (Deal e Kennedy, 1982, p. 5). Os resulta-
dos encontrados com a realização deste estudo empírico, nesta amostra composta
de empresas do setor têxtil nacional, vêm confirmar tais afirmações e apontam
para duas direções: que a cultura está significativamente associada ao desempe-
nho organizacional; que as empresas com cultura forte evidenciam melhor desem-
penho.
Cabe lembrar que as conclusões aqui apresentadas foram obtidas adotando-se
todo o rigor metodológico possível de ser aplicado. Entretanto há de se reconhecer
a presença de fatores limitativos e, portanto, alguns cuidados devem ser levados
em conta na interpretação dos dados.
Em primeiro lugar, deixamos aqui registrada a impossibilidade de se atingir
toda a população levantada. Assim, a generalização desses resultados para outras
organizações do setor têxtil, bem como de outros setores industriais, necessita ser
empiricamente testada.
Em segundo, cumpre-nos reforçar que este trabalho lida, antes de tudo, com o
corpo gerencial das empresas pesquisadas; portanto todas as conclusões devem
ser vistas primariamente do ponto de vista de tais indivíduos.
Em terceiro lugar, fazemos referência às limitações de natureza metodológica
deste trabalho na própria forma de mensuração do fenômeno. A técnica quantita-
tiva de coleta de dados empregada, quando associada à qualitativa, pode ampliar
a análise e as conclusões de qualquer projeto de pesquisa. Todavia, por razões de
tamanho da amostra (n = 478), custo e tempo envolvidos, nesta pesquisa utilizou-
se unicamente o questionário estruturado.
Por último, deve-se considerar a perspectiva de que o desempenho organizacional
é um fenômeno multidisciplinar; assim, está sujeito a interferências não somente
de uma, mas de diversas variáveis que interagem no processo. Kilmann (1987),
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS