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Introdução
Século XVII – Europa – transformação da ciência em única forma de conhecimento válido:
debates epistemológicos + questões sociais e políticas e econômicas > processo longo e
controverso.
Dois argumentos: conhecimento como forma de desenvolvimento tecnológico OU
conhecimento como forma de busca do bem, felicidade, continuidade entre sujeito e objeto.
Vitória: primeiro argumento > em parte pela ascendência do capitalismo e transformações
sociais que ele carrega.
Essa transformação epistemológica consuma-se no SÉCULO XIX > novo exclusivismo
epistemológico > “destruição criadora” > isso leva, no domínio do conhecimento, a dois
processos paralelos.
Primeiro processo: emergência de uma concepção a-histórica do próprio conhecimento
científico;
Segundo processo: “destruição criadora” > provoca epistemicídio > morte dos outros
conhecimentos, dos conhecimentos alternativos que leva também à liquidação ou
subalternização dos grupos sociais produtores desses conhecimentos.
Perturbações: esse processo conheceu perturbações > maioria da população vive no Sul (Sul
sociológico, não geográfico) > por isso, não é cabível ignorar seus conhecimentos emergentes
e determinar problemas relevantes para a ciência baseando-se apenas nos interesses e
prioridades definidos pelo Norte.
Ciências sociais: Teorias, categorias, metodologias criadas para lidar com as questões das
sociedades modernas do Norte > necessário outras perspectivas para lidar com as questões do
Sul > características, dinâmicas históricas e experiências sociais diferentes.
Crise epistemológica da ciência moderna: reconhecimento de que há outras formas de
conhecimento + reconhecimento da disjunção entre modelização (criação de modelos
fundados em teorias e assentados em investigações empíricas) e previsão (capacidade de
prever a partir da aplicação dos modelos em ambientes controlados e confinados) –
dificuldade de lidar com a COMPLEXIDADE dos processos e situações.
Século XX > movimentos nacionalistas > inspira debates sobre caráter e função da ciência >
esses debates levam a discussões sobre as políticas do conhecimento – sem se restringir ao
uso do conhecimento para o desenvolvimento e emancipação dos povos colonizados – mas, ao
contrário, trazer o direito das diversas formas de conhecimento existir sem marginalização ou
subalternidade por parte da ciência oficial – que é defendida e apoiada pelo Estado.
Esses novos debates > foram interrompidos com a independência dos territórios coloniais já
que a partir disso, o foco tornou-se “vencer o subdesenvolvimento” > por isso, o enfoque foi
aplicar os resultados científicos já alcançados no Norte, principalmente > reflexão fora de cena,
ciência volta ao seu lugar de primazia.
Nesse momento: ciência enquadrada num esquema estatocêntrico e determinista > recheada
de positivismo sem raízes apoiada na invenção, na inovação e na difusão > neste período:
ciência populariza-se, ganha caráter de objeto de consumo > “ciência-mercadoria”.
Mudanças políticas 80/90: imposição de reformas neo-liberais – muitas impostas por agências
internacionais como Banco Mundial e FMI que valorizam o conhecimento e querem a
imposição do conhecimento científico “do Norte” > por isso, a “ciência-mercadoria” é imposta
e se torna vetor na subordinação do Sul ao Norte.
Discussões novas > só ressurgem com o debate produzido pela crítica feminista e pelos
estudos pós-coloniais e pós-modernos > mas nesse ponto, a influência da racionalidade e da
cientificidade ocidentais já tinham transformado a ciência moderna em ponto de referência
central na avaliação das ‘outras’ culturas locais e sistemas de conhecimento.
“Esta capacidade de reproduzir ad eternum o Outro através da dicotomia cultural e
epistêmica, entre o saber científico e os saberes alternativos, rivais, tem sido o garante da
perpetuação da noção de subdesenvolvimento até aos nossos dias”.
Século XX > com movimentos nacionalistas: reacender debates em torno do caráter e função
da ciência > debates sobre políticas do conhecimento > afirmar o direito das diferentes formas
de conhecimento a uma existência sem marginalização ou subalternidade por parte da ciência
oficial – defendida e apoiada pelo Estado.
Questionar da concepção hegemônica do saber científico moderno: a partir das últimas
décadas do século XX, sobretudo no Sul > reavivar a polêmica sobre a pluralidade
epistemológica do mundo > aponta para a necessidade de uma mudança paradigmática no
campo da produção do saber científico.
Debate sobre pluralidade epistemológica do mundo: duas vertentes > vertente interna: que
questiona o caráter monolítico (único, de unicidade) do cânone epistemológico e interroga as
práticas internas da ciência, dos modos de fazer e da relevância epistemológica, social e
politica > vertente externa: exclusivismo epistemológico da ciência, relações entre a ciência e
outros conhecimentos.
Diferenciação e especialização das ciências: processo histórico influenciado por dois outros
processos > primeiro processo: a suposta separação entre ciência (investigação) e tecnologia
(aplicação) para atribuir as consequências – boas ou ruins – da ciência à forma como se
escolhe aplica-la, garantindo à ciência sua NEUTRALIDADE; mas ciência e tecnologia são
interdependentes e tem implicações mútuas (“tecnociência”) > segundo processo: demarcação
da ciência e outros modos de relacionamento com o mundo; Fronteira entre ciência (razão,
rigor, luzes) e opinião (ignorância, irracionalidade) > ciência e opinião como processo de fusão
e de emergência de uma opinião iluminada pela ciência e de uma ciência sensível aos
problemas do mundo e dos cidadãos.