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Informativo 928-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
Processos ainda não concluídos em virtude de pedido de vista: RE 806339/SE, HC 134591/SP. Serão comentados assim
que chegarem ao fim.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É constitucional lei estadual que veda o corte do fornecimento de água e luz, em determinados dias, pelas empresas
concessionárias, por falta de pagamento.
DIREITO ADMINISTRATIVO
REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
Inconstitucionalidade das sanções decorrentes da negativa de expedição de CRP.
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É constitucional lei estadual que veda o corte do fornecimento de água e luz, em determinados
dias, pelas empresas concessionárias, por falta de pagamento
Importante!!!
É constitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias façam o corte do
fornecimento de água e luz por falta de pagamento, em determinados dias.
Ex: lei do Estado do Paraná proíbe concessionárias de serviços públicos de água e luz de
cortarem o fornecimento residencial de seus serviços por falta de pagamento de contas às
sextas-feiras, sábados, domingos, feriados e no último dia útil anterior a feriado. Também
estabelece que o consumidor que tiver suspenso o fornecimento nesses dias passa a ter o
direito de acionar juridicamente a concessionária por perdas e danos, além de ficar
desobrigado do pagamento do débito que originou o corte.
STF. Plenário. ADI 5961/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado
em 19/12/2018 (Info 928).
ADI
A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE) ajuizou ADI contra esta Lei
afirmando que ela ofenderia o art. 22, IV, da CF/88, que estabelece que a competência para legislar sobre
os serviços de energia elétrica é privativa da União:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
Direito do Consumidor
O STF entendeu que a referida lei dispõe sobre Direito do Consumidor, de modo que não há vício formal. Isso
porque Direito do Consumidor é matéria de competência concorrente, nos termos do art. 24, V e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
V - produção e consumo;
(...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
DOD PLUS
Vejamos algumas outras informações importantes sobre este tema:
A relação entre a concessionária de energia elétrica e o consumidor final é uma relação de consumo?
Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor para esse contrato?
SIM. A relação entre concessionária de serviço público e o usuário final dos serviços públicos essenciais,
tais como energia elétrica, é consumerista, sendo cabível a aplicação do Código de Defesa do Consumidor.
STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1061219/RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/08/2017.
Vale ressaltar que essa suspensão no fornecimento é permitida mesmo que o corte no serviço atinja um
órgão ou entidade que preste serviços públicos à população. É o que diz a Lei nº 9.427/96 (Lei das
Concessionários de Energia Elétrica):
Art. 17. A suspensão, por falta de pagamento, do fornecimento de energia elétrica a consumidor
que preste serviço público ou essencial à população e cuja atividade sofra prejuízo será
comunicada com antecedência de quinze dias ao Poder Público local ou ao Poder Executivo
Estadual.
2) A obrigação de pagar a conta de energia elétrica é de natureza pessoal (não é propter rem)
Ex: Carlos compra a casa de João. Ocorre que João vendeu a casa, mas deixou um débito de três meses da
conta de energia. A concessionária ingressou com uma ação de cobrança contra Carlos alegando que,
como comprou a casa, passou a ser o devedor, considerando tratar-se de obrigação propter rem. Para
piorar o cenário, a concessionária suspendeu o fornecimento de “luz”.
A concessionária não agiu corretamente neste caso. Isso porque o débito de energia elétrica (assim como
o de água) é de natureza pessoal, não se vinculando ao imóvel. Não se trata, portanto, de obrigação
propter rem. Desse modo, o consumidor não pode ser responsabilizado pelo pagamento de serviço de
fornecimento de energia elétrica utilizado por outra pessoa (em nosso exemplo, João).
A obrigação de pagar por serviço de natureza essencial, tal como água e energia, não é propter rem, mas
pessoal, isto é, do usuário que efetivamente se utiliza do serviço.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 45.073/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 02/02/2017.
DIREITO ADMINISTRATIVO
impedido de contratar operações de crédito, celebrar convênios com órgãos e entidades federais e
receber transferências de recursos.
CRP
O Certificado de Regularidade Previdenciária – CRP é um documento fornecido pela Secretaria de Políticas
de Previdência Social (órgão do Ministério da Previdência Social), que atesta que o ente federativo está
cumprindo as obrigações legais relacionadas com o regime próprio de previdência social.
As obrigações legais para os regimes próprios estão disciplinadas na Lei nº 9.717/98.
Em suma, o CRP atesta que o regime próprio da previdência social está cumprindo a Lei nº 9.717/98.
Ação cautelar
Diante dessa situação, o Distrito Federal e o Instituto de Previdência dos Servidores do Distrito Federal –
IPREV/DF propuseram ação cível originária no STF com o objetivo de suspender a inscrição do Distrito
Federal no CADPREV e, por consequência, permitir a emissão do CRP.
Os autores alegaram, dentre outros argumentos, que o CRP não está previsto em lei, tendo sido criado
pelo Decreto nº 3.788/2001 e regulamentado pela Portaria MPS nº 204/2008. Assim, argumentaram que
foram impostas obrigações e restrições a direitos subjetivos por meio de “atos infralegais”, o que fere o
princípio da legalidade e viola a autonomia administrativa.
Além disso, argumentaram que a União teria extrapolado sua competência ao editar o art. 7º da Lei nº
9.717/98 acima transcrito.
O STF, ao apreciar a liminar desta ação, concordou com o pedido dos autores?
SIM. A 1ª Turma do STF, por maioria, deferiu a medida liminar e determinou que a União expeça o
Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP) em favor do Distrito Federal.
Determinou, ainda, a retirada do ente federado do Cadastro Único de Exigências para Transferências
Voluntárias (CAUC) até o julgamento definitivo da ação.
No campo da legislação concorrente, a competência da União fica limitada a estabelecer normas gerais
(art. 24, § 1º, da CF/88).
A jurisprudência do Supremo Tribunal está orientada no sentido de que, ao editar a Lei nº 9.717/1998 e o
Decreto nº 3.788/2001, a União extravasou a competência legislativa para a edição de normas gerais sobre
previdência social.
STF. 2ª Turma. ACO 2490 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 05/02/2018.
Assim, entende-se que o certificado de regularidade previdenciária fornecido pelo MPS aos órgãos e
entidades da Administração Pública direta e indireta da União, atestando ou não a regularidade de regime
próprio dos demais entes federativos, não se constitui em estabelecimento de parâmetros e diretrizes
gerais previstos na lei, representando uma medida que desequilibra o pacto federativo, sem amparo
constitucional.
Logo, não pode a União, sob o pretexto de descumprimento da referida Lei e do citado Decreto, aplicar
sanções, deixar de expedir repasses ou mesmo abster-se quanto à expedição de Certificado de
Regularidade Previdenciária – CRP.
Em suma:
Ao editar o art. 7º da Lei nº 9.717/98 e o Decreto nº 3.788/2001, a União extravasou a competência
legislativa para a edição de normas gerais sobre previdência social.
A União extrapolou os limites de sua competência legislativa na edição da Lei nº 9.717/98, ao impor
sanções decorrentes da negativa de expedição de Certificado de Regularidade Previdenciária.
STF. 1ª Turma. ACO 3134 TP-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, red. p/ ac. Min. Marco Aurélio, julgado
em 18/12/2018 (Info 928).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) É constitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias façam o corte do fornecimento
de água e luz por falta de pagamento, em determinados dias. ( )
2) A União extrapolou os limites de sua competência legislativa na edição da Lei nº 9.717/98, ao impor
sanções decorrentes da negativa de expedição de Certificado de Regularidade Previdenciária. ( )
Gabarito
1. C 2. C
OUTRAS INFORMAÇÕES
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
17 A 31 DE DEZEMBRO DE 2018
Decreto nº 9.631, de 26.12.2018 - Altera o Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017, que regulamenta a Lei
nº 13.445, de 24 de maio de 2017, que institui a Lei de Migração. Publicado no DOU em 27.12.2018, Seção 1, Edição nº
248, p. 18.
Decreto nº 9.637, de 26.12.2018 - Institui a Política Nacional de Segurança da Informação, dispõe sobre a
governança da segurança da informação, e altera o Decreto nº 2.295, de 4 de agosto de 1997, que regulamenta o disposto
no art. 24, caput, inciso IX, da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e dispõe sobre a dispensa de licitação nos casos que
possam comprometer a segurança nacional. Publicado no DOU em 27.12.2018, Seção 1, Edição nº 248, p. 23.
Supremo Tribunal Federal - STF
Secretaria de Documentação – SDO