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DICAS

Existem alguns mandamentos, que com certeza, devem ser seguidos pelo “contador de
histórias”
1º - SER UM BOM ESCUTADOR DE HISTÓRIAS

A história tem três lados: - o lado de quem fala


- o lado de quem ouve
- o lado da verdade
2º - CONHECER BEM O QUE SE ESTÁ CONTANDO
Uma história é composta por três fases:
1ª - Descritiva – princípio – quando
- onde
- quem
2ª - Conflitiva – meio – por quê? (questionamento)
3ª - Resolutiva – fim (conclusão)
Uma história pode ser contada de duas maneiras:
Realística – na 1ª pessoa – você interpreta – faz “teatro”
Fantástica – na 3ª pessoa – você conta
Dinâmica nº 1: Produção de História
Atividade:
Cada um escreve uma palavra num papel. Coloca no saco. Depois divide a sala em grupos
de 3. Cada grupo tira 3 palavras e o grupo define qual vai ser do início, meio e fim. Cada
um faz uma parte da história. Ajuntando depois os grupos vão dizendo a história completa.
Enquanto o grupo lê a história, os outros tentam descobrir as palavras sorteadas. Coloca
num quadro ou ficha de cor ou simplesmente tentam descobrir.
OBS: Pode-se transformar num jogo valendo ponto pelas descobertas.
O animador coordena a leitura de cada história empregando o então, aí, e depois, e por fim,
etc... num ritmo mais rápido.
Dinâmica nº 2: Fixação e Movimento (concentração)
O ganso. Com gestos que serão repetidos, cada um vai repetindo os gestos enquanto faz a
pergunta para o vizinho ao lado. E assim por diante.
3º - CONTAR SEMPRE A VERDADE, POR MAIS MENTIROSA QUE SEJA
Sugestão: CD – O vaqueiro e o bicho frouxo do vale do Jequitinhonha.
Na videoteca: Histórias de Minas.
- Coreografia da carreira – música do CD de Roberto de Freitas
Dinâmica nº 3 – Composição de História
Cada um vai receber uma palavra. Dá-se o som e a história começa com um falando algo
sobre aquela palavra.
O animador vai puxando na roda alguém que completa e vai mostrando a ficha que contém
a palavra dele. O animador vai dando seqüência usando os termos e então, aí, e depois e em
seguida, enquanto aponta para alguém pedindo a seqüência.
OBS: Quem começa vai terminar a história.
No caso de trabalhar com crianças que não sabem ler, pode ser dado um objeto.
Essa atividade pode ser trabalhada em diversos conteúdos como matemática,
português, história e geografia, onde são trabalhados termos específicos de cada
conteúdo.
4º - CONTAR SEMPRE COM O FRESCOR DE COMO SE FOSSE A PRIMEIRA
VEZ, COM BASTANTE ENTUSIASMO:
Sugestão: Na biblioteca pública ou mesmo na escola, marcar um período para “contação de
histórias”. Vamos resgatar nossa cultura e exercitar a nossa comunicação oral.
Dinâmica nº 4 – Pedir que façam duplas e criem um código de comunicação entre as duas
pessoas. Esse código será com barulho. Nada pode ser falado. Depois uma das pessoas
coloca um pano nos olhos e tenta acompanhar o seu código ouvindo, percebendo apenas o
som emitido pelo companheiro.
Depois trocam-se as funções. Quem emitiu o som vai ouvir agora. Após esse momento,
todos descobrem os olhos e o animador vai perguntando o que cada um sentiu. Podem ser
repassadas algumas experiências.
5º - O CONTADOR DE HISTÓRIAS NÃO DEVE NUNCA “PENDULAR” (FICAR
PARA LÁ E PARA CÁ)
TEXTO: “O FAMINTO” – Lavoura Arcaica – Ler.
Fazer um ditado, para grifar a entonação. Essas são as palavras chaves da comunicação.

Era uma vez um faminto. Passando um dia diante de uma morada, singularmente
grande, ele se dirigiu às pessoas que se aglomeravam nos degraus das escadarias,
perguntando a quem pertencia aquele palácio. A um rei dos povos, o mais poderoso do
Universo, responderam.
O faminto foi então até os guardiões postados no pórtico de entrada, pedindo uma
esmola em nome de Deus. Donde vens tu, perguntaram os guardiões: - Então não sabes que
basta se apresentares ao nosso amo e Senhor para teres tudo quanto desejas?
OBS: palavras chaves na contação de histórias dão ênfase à “falação”.
Dinâmica nº 05 – Construção Coletiva ( A escultura)
Atividade: em pessoa é convidada a fazer uma estátua. Logo após, uma outra vai completar
aquela estátua e vai fazendo isto até a metade do grupo ficar com esta estátua (sempre
preenchendo os espaços vazios). A outra metade é convidada a interferir nesta escultura.
Pode-se fazer alterações/ interferências na montagem. Usam máquinas fotográficas para
registrar a construção. É como se fosse uma visitação turística e uma “exposição”. Em
seguida as funções são invertidas. A turma de fora vai montar a estátua e os demais, ou seja,
a outra metade vai fazer tudo o que a primeira metade fez. E assim por diante. Ao final,
todos sopram e dão vida à escultura.
Fazer avaliação, tentando clarear os objetivos e a sua aplicação.
Dinâmica nº 06 – Rolo de massa (em duplas)
Atividade: um vai massagear o outro com o rolo de pastel. O companheiro deve ser
considerado como se fosse a massa de pelota de argila. Depois de bem amassada, dar forma
a essa massa. Soprar para também dar vida à escultura.
OBS: a dinâmica faz parte da outra. Lembrar sempre que o toque no companheiro é de uma
grande importância.
6º - TER BAGAGEM (ACÚMULO) – (Estrada rodada)
Dinâmica nº 16: “História Cumulativa”
1º exemplo:
Na minha casa tem um pintinho (bis)
O pintinho piu, o pintinho piu, o pintinho piu,
O pintinho piu, o pintinho piu, o pintinho piu.

Na minha casa tem uma galinha (bis)


A galinha cá/ o pintinho piu/ o pintinho piu/
O pintinho piu/ o pintinho piu/ o pintinho piu.

Na minha casa tem um galo (bis)


O galo co-có/ a galinha cá/ o pintinho piu/
O pintinho piu/ o pintinho piu/ o pintinho piu.

Na minha casa tem um pato (bis)


O pato quá-quá/ o galo co-có/ a galinha cá/
O pintinho piu/ o pintinho piu/ o pintinho piu.

Na minha casa tem um peru (bis)


O peru glu-glu/ o pato quá-quá/ o galo co-có/
A galinha cá/ o pintinho piu/ o pintinho piu.

Na minha casa tem um gato (bis)


O gato miau/ o peru glú-glú/ o pato quá-quá/
O galo co-có/ a galinha cá/ o pintinho piu.

Na minha casa tem um cachorro (bis)


O cachorro au-au/ o gato miau/ o peru glú-glú/
O pato quá-quá/ o galo co-có/ a galinha cá/
E o pintinho? O pintinho piu (bis)
7º - O CONTADOR DE HISTÓRIAS DEVE OLHAR NOS OLHOS, OS OLHOS
DEVEM SER EXPRESSIVOS, O CONTADOR DEVE TER VOZ NOS OLHOS.
Algumas sugestões com enriquecimento

Joãozinho e Maria (história contada e adaptada pela Profª Ondina Barroca Werneck)

Era uma vez um menino muito levado chamado Joãozinho


Era teimoso e guloso
Mas de Maria, bom irmãozinho
Certo dia os irmãos a brincar
Pela floresta vão passear
De mãos dadas tão distraídos
Saem do caminho e ficam perdidos

As horas passavam e a neve caia


E a sombra da noite assim lhes dizia:
Andem mais um bocadinho
Que encontrarão o caminho
Viram então uma luzinha
A porta de uma casinha
Qual não foi sua surpresa
Ao verem tanta beleza
E com água na boca ficaram

De pão-de-ló a casinha
De chocolate a janelinha
Telhado de marmelada
De rapadura era assoalhada.

E bolinhos numa frigideira


Estavam fritando uma cozinheira
E Joãozinho e Maria “zaz-trás”!
Pegam um bolinho, dois, três e mais

E a velha que dos doces deixou sobre a mesa


Resmunga zangada e com toda a certeza:
Chip, Chip, meu gatinho
Não coma meu bolinho!
Vendo os meninos depois
Numa gaiola prende os dois

Joãozinho que era levado


Um rabo de rato havia guardado
Ao “invés” do gordo dedinho
Por entre as grades punha o rabinho.

Certo dia, porém o coitado


Perde o rabinho, que desastrado!
E a velha contente para os dois assar
Prepara a fogueira e põe-se a chamar.

“Venham cá meus netinhos


venham catar gravetinhos
para o frio esquentar
venham, a fogueira pular

Mas, Joãozinho disse, de ligeiro


Pule a senhora primeiro
Deu um pulo a feiticeira
Tropeça e cai na fogueira.
OBS: Pode-se trocar o final com o grupo.
LER NA ESCOLA
A ESCOLA DEVE ENSINAR A LER

É o que todos dizem, a começar pelas leis. Entre o dizer e o fazer está o professor,
com sua turma.
A primeira coisa a lembrar, em termos práticos de leitura, é que ela é um ato
individual, voluntário e interior, pertencente a cada um dos alunos. Isto não significa,
entretanto, que a turma não deva funcionar organizada e coletivamente, para que os alunos
aprendam a ler e percorram os diferentes estágios de desenvolvimento de leitura até se
tornarem leitores críticos. Nem significa tampouco, que o adulto seja o único responsável
por todo esse processo. Bem, o professor, apenas a partir de um determinado momento, o
da entrada da criança na escola, desempenha o papel mais importante – o de ensiná-la a ler
e a gostar de ler.
Os escritores de livros infantis costumam dizer em suas entrevistas e em seus
trabalhos que não escrevem visando a um público predeterminado. Eles simplesmente
escrevem: colocam na folha de papel seus sonhos, seus sentimentos, suas experiências, sues
pensamentos. Na hora de escrever, não sabem se o seu futuro leitor tem 8 ou 80 anos.
Mas é claro que escrever para crianças exige algo mais: o vocabulário tem que ser
adequado a quem está começando a ler e o tema precisa ser de interesse para o jovem leitor.
Além do mais, na produção de um bom livro infantil é preciso levar em conta a importância
da ilustração, o bom uso das cores e das figuras em preto e branco. A beleza da capa, o
tamanho do livro e das letras, escolhidos de maneira a facilitar a leitura e assim por diante.
O bom livro infantil é lido com prazer pelo adulto, especialmente aqueles pais e professores
que costumam contar histórias, que também ficam curiosos para saber como elas vão
acabar e se emocionam com o jeito bonito do escritor escrever.
Qualquer livro bem escrito acrescenta alguma coisa ao leitor. E o bom professor gosta
de continuar aprendendo pela vida afora. Além do mais, só quem gosta de ler consegue
transmitir bem o gosto pela leitura.
Quando tudo vai bem, isto é, quando a idade cronológica da criança ou jovem
corresponde à escolaridade e ao estágio de desenvolvimento da leitura, torna-se mais fácil
planejar e desenvolver um programa de leitura equilibrado, integrando os textos de livros
didáticos com exercícios de interpretação, expressão e gramática; orientando a utilização,
no devido tempo, de dicionários, Atlas e outros materiais de referências e oferecendo uma
certa variedade de livros de literatura (contos, fábulas, novelas, poesia, teatro) e de
informação de acordo com os variados interesses dos leitores e os assuntos e atividades
desenvolvidas no currículo.
Sabemos, entretanto, que o equilíbrio de um programa de leitura depende muito mais
do bom senso e da habilidade do professor (e dos recursos materiais, é claro) que de uma
hipotética e inexistente classe homogênea.
UM PROGRAMA DE LEITURA, SUGESTÕES
O professor pode observar e registrar os comportamentos em relação aos livros, à
medida que estes forem apresentados e usados pelos alunos, lembrando-se de que é preciso
expô-los à atenção da leitura em situações de prazer.
Ele pode observar e registrar os níveis de leitura existentes entre os diferentes alunos
da turma por meio de comentários sobre livros lidos (e que conheça bem). As perguntas,
bem orientadas, e a leitura em voz alta são meio eficientes para essa avaliação.
Aos poucos, ele vai descobrindo interesses e preferências em seus alunos. Vai
conhecendo e cultivando os livros cuja leitura poderá propor. Nunca deve levar para a sala
um livro de que não goste muito, pensando “pra eles serve” ou o melancólico “é bom pra
criança”...
Uma outra questão importante é que seu trabalho seja planejado de acordo com as
reais possibilidades da escola. Existe uma biblioteca escolar? Existe condição de formar
coleções para usar na sala de aula? Há uma biblioteca pública por perto?
APRESENTAÇÃO DOS LIVROS À TURMA
Um dos segmentos mais importantes (se não o principal) num programa de leitura é o
de livros de ficção (contos, novelas) e de não-ficção. Concentremo-nos neles e nas formas
de apresentá-los aos alunos, significativamente.
Se a turma é de crianças de menos de seis anos, a apresentação, no cantinho dos
livros, pode ser uma festa. O professor pode ler uma boa história, que tenha ação, texto fácil
de ler em voz alta e bonitas ilustrações coloridas. Pode fazer uma dramatização, deixar as
crianças pegarem nos livros e contarem histórias umas às outras. Pode escrever uma dessas
histórias das crianças em folhas grandes de papel, usar os desenhos delas como ilustrações,
fazer junto com elas um livro para a biblioteca.
Se a turma já está em processo de alfabetização (os casos geralmente na faixa etária
entre 6 e 8 anos), as crianças podem “ler” um pouco aquilo que quiserem, sem correções
nem censuras. (Com isso é possível começar a fazer um diagnóstico do estágio de leitura
em que elas se encontram, sem precisar recorrer a testes, que tomam muito tempo e fazem
as crianças se sentirem desconfortáveis). O professor pode fazê-las perceber que vão, por si
mesmas, aprender a ler e treinar as habilidades de leitura, para poderem, gradualmente, ler
sozinhas.
É bom estabelecer com as crianças algumas rotinas para seguir: hora de cada uma
escolher um livro e levar para casa emprestado; hora de o professor ler histórias em voz
alta; hora de uma ou mais delas contarem às outras a sua história, ou a história que ouviram
ou leram num livro; e hora de todos usarem os mesmos livros ou livros diferentes sobre o
mesmo assunto.
Se a turma é de crianças mais velhas, mas ainda em fase de alfabetização, é preciso
muito cuidado na escolha dos livros. Os seus interesses, ainda que as habilidades de leitura
não lhes permitam percorrer textos mais difíceis, não são os mesmos que os das menores,
que se divertem com gatinhos e patinhos. Neste caso, muitas vezes, os livros informativos
podem constituir uma boa atração.
Se na turma os alunos já lêem e estão em estágios mais avançados de leitura, é
importante que a oferta de livros seja variada, quer eles estejam na sala de aula, quer num
depósito ou biblioteca central da escola.
Uma base para a constituição do acervo de uma boa biblioteca escolar, na área de
livros infantis e juvenis (ficção e não-ficção) é: um título por aluno, de acordo com o nível
de leitura, a idade e a escolaridade, para leitura individual, mais uma coleção de cerca de 30
exemplares por título e por turma, para leitura coletiva.
A LEITURA EM VOZ ALTA
A leitura de histórias em voz alta é uma das atividades de maior sucesso em escolas
onde existe, conscientizado entre professores, pais e alunos, um programa de leitura.
As crianças, além de devotarem uma enorme atenção à história (e o professor sabe o
quanto isso significa em termos de audição reflexiva, estímulo à imaginação e organização
do pensamento!), sentem-se estimuladas a ler os livros por si mesmas, ou a buscar outros
sobre o mesmo assunto.

Aí vão algumas idéias para os professores:

1. Escolha sempre histórias (ou capítulos de novelas) de que você goste. Uma
voz “sem gosto” logo vai desanimar o respeitável público...

2. Escolha um momento tranqüilo e se instale confortavelmente junto aos seus


alunos. Deixe-os ficar à vontade.

3. Não leia por muito tempo. A atenção tem limites.

4. Faça pausas e inflexões naturais, mas não perca ma boa oportunidade de


enfatizar ou dramatizar certos trechos.

5. Procure ser fiel ao texto, sem alterar palavras ou simplificar a trama.

6. Procure captar o grau de interesse das crianças e para quando notar que elas
estão cansadas.

IMPORTANTE: Faça também suas crianças lerem em voz alta. Ouça-as e as


conheça melhor do ponto de vista da leitura: quanto mais fluente a leitura, maior a
compreensão. Daí, um passo para a crítica...

O LEITOR

FAIXA ETÁRIA ESCOLARIDADE ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DE


PRETENDIDA LEITURA

0 a 3 anos Não-leitura: grande apoio na imagem

Pré-leitura: desenvolvimento da linguagem


3 a 6 anos Pré-escolar
oral, percepção e estabelecimento de relações
entre imagens e palavras.

Alfabetização: leitura silábica e de palavras,


6 a 8 anos 1ª e 2ª séries com dificuldade ainda de associação do que é
lido com o pensamento completo a que o texto
remete; a ilustração facilita a compreensão

Iniciação: leitura sintática, com a capacidade de


8 a 10 anos 3ª e 4ª séries ler e compreender porções completas de textos
curtos e de leitura fácil, com eventual apoio na
ilustração
Desenvolvimento: passagem gradual da leitura
sintática para a leitura crítica, com maior
10 a 12 anos 5ª e 6ª séries
extensão e complexidade dos textos no que se
refere a idéia, estrutura e linguagem (inclusive
visual).

Leitura crítica: capacidade de assimilar idéias e


12 a 14 anos 7ª e 8ª séries
reelaborá-las a partir da própria experiência,
em confronto com o material de leitura.

Acima de 14 anos Leitura crítica e independente; aproximação,


cada vez maior, com a literatura adulta.

COMO CONTAR HISTÓRIAS


Para contar uma história – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se
descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das
frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção... Ou
se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras...
Contar histórias é uma arte... e tão linda!!! È ela que equilibra o que é ouvido com o que é
sentido, e por isso não é nem remotamente declamação ou teatro... Ela é o uso simples e
harmônico da voz.

Daí que quando se vai ler uma história – seja qual for – para a criança, não se pode
fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante... E aí, no
decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou
com várias), empacar ao pronunciar o nome dum determinado personagem ou lugar,
mostrar que não percebeu o jeito como o autor construiu suas frases e ir dando as pausas
nos lugares errados, fragmentando um parágrafo porque perdeu o fôlego ou fazendo ponto
final quando aquela idéia continuava, deslizante, na página ao lado...
Pior ainda, ficar escandalizado com uma determinada fala, ao gaguejar ruborizado
porque não esperava encontrar um palavrão, uma palavra desconhecida, uma gíria nova,
uma expressão que o adulto-leitor não usa normalmente... Aí não há como segurar a
sensação de ridículo e mal-estar, e tudo degringola...

Mas claro que não é apenas no terreno da leitura das palavras que a dificuldade
pode surgir... E o conteúdo da história, as relações entre os personagens, as mentiras que
ela pode colocar, os preconceitos que pode passar, a fragilidade duma narrativa onde não
acontece absolutamente nada??? Como enfrentar a própria decepção ou cara de lástima???
Por isso, ler o livro antes, bem lido, sentir como nos pega, nos emociona ou nos irrita...
Assim, quando chegar o momento de narrar a história, que se passe a emoção verdadeira,
aquela que vem lá de dentro, do fundinho, e que, por isso, chega no ouvinte...
A ensaísta cubana Alga Mariña Elizagaray diz uma coisa clara e importante: “O
narrador tem que transmitir confiança, motivar a atenção e despertar admiração. Tem que
conduzir a situação como se fosse um virtuose que sabe seu texto, que o tem
memorizado, que pode permitir-se o luxo de fazer variações sobre o tema”.

Claro que se pode contar qualquer história à criança: comprida, curta, de muito
antigamente ou dos dias de hoje, contos de fada, de fantasmas, realistas, lendas, histórias
em formas de poesia ou prosa... Qualquer uma, desde que ela seja bem conhecida do
contador, escolhida porque a ache particularmente bela ou boa, porque tenha uma boa
trama, porque seja divertida ou inesperada ou porque dê margem para alguma discussão
que pretende que aconteça, ou porque acalme uma aflição... O critério de seleção é do
narrador... e o que pode suceder depois depende do quanto ele conhece suas crianças, o
momento que estão vivendo, os referenciais de que necessitam e do quanto saiba aproveitar
o texto (enquanto texto e enquanto pretexto...)

A IMPORTÂNCIA DAS HISTÓRIAS SEM TEXTO ESCRITO PARA A CRIANÇA


Sim, mas além do talento gráfico desses desenhistas, é importante perceber sua
habilidade para construir toda uma narrativa seqüenciada, completa, sem precisar de
palavras... Sua capacidade de contar uma história de modo ágil, vivo, usando traços
moventes, conhecimento da cor e domínio da página, das páginas, do livro como um todo...
De maneira harmônica, bonita, inteligente e cutucante...

Sugestões de atividades que põem ser desenvolvidas com as crianças em sala de aula:

E, AO PRESCINDIR DO VERBO, DÃO TODA POSSIBILIDADE PARA QUE A


CRIANÇA O USE... Oralizando essas histórias, colocando um texto verbal, desenvolvendo
algumas das situações apenas sugeridas (personagens que aparecem apenas como
figuração, como elemento de perturbação do todo ou para salientar um momento ou uma
possibilidade insólita), ampliando um detalhe proposto e daí refazendo o todo, de modo
novo e pessoal... Criando uma história a partir duma cena colocada, misturando várias,
musicalizando alguma relação, sonorizando uma descoberta feita, inventando enfim as
possibilidades mil que narrativas apenas visuais (quando inteligentes e bem-feitas)
permitem e estimulam...
Fora o prazer de folhear um álbum (colorido ou branco e preto), que a magia dum
traço solto, duma cor poética, dum enquadramento insuspeito, dum saber ver diferente, dum
refinamento no acabamento, permite e provoca... E é tão bom saber ver o belo ou descobrir
o que é bonito sem que antes se suspeitasse disso...
Esses livros (feitos para crianças pequenas, mas que podem encantar aos de qualquer
idade) são sobretudo experiências de olhar... De um olhar múltiplo, pois se vê com os olhos
do autor e do olhador/leitor, ambos enxergando o mundo e as personagens de modo
diferente, conforme percebem esse mundo...
E é tão bom saborear e detectar tanta coisa que nos cerca usando este instrumento
nosso tão primeiro, tão denotador de tudo: a visão. Talvez seja um jeito de não formar
míopes mentais...

LER TEXTOS PARA ENTENDER O MUNDO


 Estimule a leitura por parte das crianças
Para aprender a ler, para gostar de ler, para ler bem, é preciso que os alunos sejam
expostos a situações de leitura. É preciso que ouçam alguém lendo. E que eles mesmos
leiam para que outros os ouçam, e entendam a leitura que fazem. É preciso que comentem o
que ouviram e o que leram: o comentário força a leitura a ter sentido, e a não ser mera
sucessão de sons provocados pela correta decodificação dos sinais sobre a página.

 Faça de sua leitura um exemplo para a classe


Para que a leitura seja estimulante, o texto precisa ser bem lido. Se achar necessário,
ensaie a leitura. Ao ler para a classe, mantenha um ritmo que permita aos alunos
acompanharem o sentido do texto que está sendo lido. Não corra demais, não engula
palavras nem leia mecanicamente. Capriche na entonação: pontos de interrogação, de
exclamação e reticências são recursos para cativar leitores e ouvintes.

 Garanta a leitura no dia-a-dia escolar


Leia muito e com freqüência para sua classe. Para isso, reserve um horário diário para
a prática da leitura e procure diversificar os textos a serem apresentados para a classe.
Lembre-se de levar em consideração os temas de maior interesse dos alunos.

 Procure ampliar o repertório de leituras de seus alunos


Crie um banco de textos para leitura dos alunos. Procure em sua casa e peça que seus
alunos também tragam revistas, livros de história, livros escolares, poemas, receitas,
Bíblias, recortes de jornal, folhetos de propagandas, etc. Mantenha essa campanha durante
o ano inteiro.
Leia e releia muitas vezes os textos desse arquivo da classe. A familiaridade com eles
é fundamental para você ter segurança na proposta e desenvolvimento das atividades que
vai organizar para seus alunos.

 Organize um “cantinho” para leitura livre


Decore um canto da sala de aula com cópias de livros, um pequeno tapete e algumas
almofadas. Consiga então um cesto ou uma prateleira baixa e coloque os mais variados
materiais para leitura. Podem ser os mesmos do banco de textos.
Em pequenos grupos, ou conforme vão terminando as tarefas, os alunos podem passar
alguns minutos por dia no “canto da leitura”. É importante que eles mesmos escolham o
que querem ler e o façam livremente, sem qualquer cobrança por parte do professor.
Renove o acervo do “cantinho”, de preferência quinzenalmente ou mensalmente.

QUANDO UMA LEITURA É MELHOR QUE OUTRA...


Estimule seus alunos a discutir o que leram
Repetir mecanicamente o que está escrito num texto não indica compreensão. Os
alunos precisam entender o que lêem. Para isso é preciso que discutam os textos, que
troquem idéias sobre o que leram. Nunca faça atividades de avaliação de leitura que se
limitem a pedir a reprodução mecânica do que está escrito.

Leve muitos textos para os alunos lerem e observe com eles os recursos da língua
utilizados em cada texto
Muitos textos de humor e de poesia são construídos a partir de jogos de linguagem.
Trava-línguas, trocadilhos, adivinhações e provérbios são textos que se constroem usando a
linguagem de uma forma diferente daquela que usamos no dia-a-dia. Faça seus alunos
perceberem esses usos especiais da linguagem, sobretudo a sonoridade das rimas e do ritmo
em textos como os abaixo:

 O que é o que é:
Caixinha, caixinha
de bom parecer
não há carpinteiro
que a saiba fazer?
Resposta: noz, amendoim, castanha.

 Desafie a turma a descobrir por que é difícil repetir sem errar a pronúncia: “Uma
aranha entrou na jarra, nem a jarra arranha a aranha, nem a aranha arranha a jarra”.
Resposta: repetição de sons parecidos, mas não identificados muito próximos uns
dos outros.

 Desafie a turma a descobrir por que é fácil decorar provérbios como: “Água mole
em pedra dura tanto bate até que fura”.
Resposta: ritmo e rima favorecem a memorização.

HISTÓRIAS

O LOBO MAU E O VALENTE CAÇADOR


Era uma vez um menino que vivia numa cabana na floresta com o pai que era caçador
e a mãe que fazia de tudo: cozinhava, lavava, passava, arrumava, costurava e suspirava. E
era uma vez também, um lobinho que vivia numa caverna nessa mesma floresta, com a
família toda – que lobo gosta de viver em alcatéia, quer dizer, em bando.
O menino brincava como outras crianças que apareciam por ali – os filhos do
lenhador, a filha da lavadeira, o neto do mascate, uma menininha que às vezes se perdia no
bosque apanhando framboesa...
O lobinho brincava com outros lobinhos iguais a ele, irmãos e primos, alguns da
mesma ninhada, outros maiores, outros menores, se divertindo com jogos de rolar no chão,
se embolar pra lá e pra cá...
Às vezes, de noite, o pai ou a mãe contava histórias para o menininho na beira da
fogueira. E essas histórias tinham sempre um lobo mau. Podiam falar de porquinhos,
Chapeuzinho Vermelho, de muita coisa, mas já sabe: de repente lá vinha o lobo mau, que
bufava, e soprava, estufava, derrubava casinha, tinha uns olhos tão grandes e também uma
boca tão grande só pra comer crianças.
Às vezes, também, de noite, na caverna, o lobinho custava a dormir e ficava ouvindo
as histórias que os lobos mais velhos contavam uns para os outros. Essas histórias sempre
tinham um caçador malvado.
Podiam falar de riachos limpos, de campos imensos, de muita coisa mas já se sabe: de
repente, lá vinha um caçador que botava armadilha para o lobo, dava tiro em lobo,
arrancava pele de lobo.

CHAPEUZINHO VERMELHO DE RAIVA


Enquanto Chapeuzinho Vermelho e a vovó conversavam, a menina observa que os
olhos da avó e que o nariz dela está esquisito. Vovó explica, falando sobre a poluição do
bosque pelas indústrias. A avó vê uma cesta enorme com a menina e lhe pergunta sobre ela.
A menina então se lembra do que fora fazer lá.
- Puxa! Já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a senhora. Olha aí:
margarina Helmann´s, Danone de frutas e até uns pacotinhos de Knorr, mas é para a
senhora comer um só por dia, viu? Lembra-se da indigestão do carnaval?
- Se lembro, se lembro...
- Vovó, sem querer ser chata.
- Ora, diga.
- As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E, ainda por cima, peluda. Credo
vovó!
- Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você me deu. Onde já se viu
fazer música deste tipo? Um horror! Você me desculpe. Porque foi você que me deu, mas
estas guitarras, é guitarra mesmo que diz, não é? Pois é, estas guitarras são muito
barulhentas... Não há ouvido que agüente, minha filha. Música é a do meu tempo. Aquilo
sim, eu e seu finado avô, dançando valsas... Ah, esta juventude está perdida mesmo.

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA FORMAÇÃO PESSOAL E


PROFISSIONAL DO ALFABETIZADOR
Anna Edith Bellico da Costa - Professora titular da FAFICH/ UFMG

“ – Fiel espelho meu, diga-me depressa e agora, se há no mundo mais bela do que eu?!
- Sim, há! Porque Branca de Neve ainda não morreu. (Excerto da história de Branca de
Neve)

As histórias que ouvimos na infância calam no fundo na nossa lembrança. Quem de


nós não se lembra da Branca de Neve, da Gata Borralheira ou da Cinderela? Quem não
torceu contra a madrasta? Quem não vibrou quando as nossas heroínas foram reconhecidas
como belas, sentindo assim, confiantes por terem sido valorizadas, foram capazes de
conquistar o príncipe e serem felizes para sempre. Quem não ouviu dizer do belo Narciso,
que se viu no espelho d´água e, tão encantado ficou com sua própria imagem que
mergulhou atrás dela?
Tais histórias exerciam um certo fascínio sobre nós, porque lidavam com um aspecto
muito importante na afetividade de cada um – aquele do reconhecimento das nossas
qualidades pelos outros e por nós mesmos. Branca de Neve e Cinderela viviam oprimidas
por suas madrastas e se sentiam pouco importantes. Sonhar ousava um pouco. Um
reconhecimento da beleza e formosura delas por parte de outrem, foi fundamental na
mudança de destino de ambas. Permitiu-lhes identificar novos motivos para viver. Narciso,
experimentando pela primeira vez o confronto com sua maior qualidade – a beleza – não
conseguiu lidar com a revelação solitária de saber-se belo. O outro lhe faltou... Não teve
interlocutor com quem saborear a sua imagem e se perdeu nela mesmo.
Os mitos e lendas, de uma forma lúdica, falam de coisas muito importantes e revelam
facetas que explicam o comportamento humano. As histórias de Branca de Neve, Cinderela,
Narciso e muitas outras falam de modo velado dos nossos desejos, das nossas necessidades
e das condições que ativam e dão direção às ações e condutas humanas. É por isso mesmo
que são inesquecíveis. Falam do que chamamos de motivação e do papel da imagem que
temos de nós mesmos – o autoconceito – no surgimento e na manutenção de nossos
comportamentos.
Todos nós temos aptidões, mas, muitas vezes, por medo de errar, por inibição ou falta
de estímulos, deixamos de desenvolvê-las. Assim, perdemos o que há de muito bom em
cada um de nós.
Nada precisamos temer, pois em experiências artísticas não há erros. Tudo faz parte
do processo para externar o que está dentro de nós.
Concluímos, recomendando algumas estratégias que podem ajudar na realização
pessoal:
 Acredite em si mesmo, esteja atento ao seu próprio potencial, veja o conhecimento
de que já dispõe e utilize-o. Esforço determinado e ação transformam a vida.
 Creia em algo além de você mesmo. As crenças são instrumentos de
transformação. Use-as com disciplina.
 Tenha fé em você, em sua capacidade e em seu conhecimento interior, aposte em
você. Tenha honestidade, autoridade e integridade.
 Confie também na capacidade de seu aluno, de seu filho e do outro, enquanto seres
humanos. Procure conhecê-los. Reparta com eles o seu interesse e seu conhecimento,
acompanhem o desenvolvimento do outro, tire proveito da incerteza e tenha confiança no
potencial de cada um.

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