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2014
Editorial
Comitê Editorial
Magda Maria Ventura Gomes da Silva
Lucia Ferreira Sasse
Marina Caprio
Autora do Original
Heloisa Maria dos Santos Toledo
Bons estudos!
Introdução à Socio-
logia da Educação: O
Positivismo e a Sociologia
Compreensiva
C Neste primeiro capítulo da disciplina de So-
CCC
ciologia da Educação, iremos estudar as origens
da Sociologia, bem como compreender o nascimento
CC C
Você se lembra?
Nas suas aulas de História e nas várias leituras que já realizou, você
tomou conhecimento acerca do fato de que o século XIX apontou para
a consolidação do sistema capitalista na Europa, e que este momento
histórico forneceu muitos elementos para o surgimento da sociologia
como uma nova ciência.
Isso ocorreu porque, nesse contexto, apresentou-se um quadro de
transformações, marcado por mudanças políticas e econômicas,
a emergência da burguesia, o enfraquecimento do poder da
Igreja, o fortalecimento do Estado Moderno, a eclosão da
razão em oposição à fé, o desenvolvimento tecnológico,
a industrialização, a urbanização acelerada, a intensifi-
cação da exploração do trabalho em busca de maior
produtividade, o trabalho assalariado e uma maior e intensa divisão do
trabalho.
Essas são as principais características do quadro geral sobre o qual
os pensadores do século XIX se debruçaram, na tentativa de explicar essa
nova realidade social que, aparentemente, denota o próprio caos. Assim,
nasceu nesse contexto a sociologia, como ciência da sociedade, também
denominada “ciência da crise”.
Introdução à Sociologia da Educação: O Positivismo e a Sociologia Compreensiva – Capítulo 1
maneira, acabamos reproduzindo ideias que não são nossas, mas que as-
similamos e tomamos como verdadeiras, por isso temos sempre uma opi-
nião a respeito de assuntos que muitas vezes nem conhecemos.
O homem sempre se preocupou em compreender a si e ao universo,
mas foi somente no século XVIII, com uma série de eventos que ocorreram
na Europa, transformando profundamente as estruturas da sociedade, supri-
mindo os pilares do velho regime feudal, incluindo o movimento intelec-
tual do Iluminismo (na França), que a “ciência” pôde se impor como uma
maneira de se pensar o mundo isenta dos pressupostos determinantes da
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Sociologia das sociedades complexas - Unidade 1
Sociologia da Educação
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Introdução à Sociologia da Educação: O Positivismo e a Sociologia Compreensiva – Capítulo 1
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Sociologia da Educação
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Introdução à Sociologia da Educação: O Positivismo e a Sociologia Compreensiva – Capítulo 1
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Introdução à Sociologia da Educação: O Positivismo e a Sociologia Compreensiva – Capítulo 1
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Sociologia da Educação
veniente da união, também a vida social está presente no todo, e não nas
partes. Em outros termos, a sociedade é uma totalidade que engloba os
indivíduos mas os supera, fazendo com que a sede da vida social seja a
sociedade, e não as partes que a compõem.
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Introdução à Sociologia da Educação: O Positivismo e a Sociologia Compreensiva – Capítulo 1
A sociedade aparece como um ser superior, com vida própria, anterior, que independe dos
indivíduos e possui sobre eles uma autoridade moral.
(...) não sou obrigado a falar o mesmo idioma que meus companhei-
ros de pátria, nem a empregar as moedas legais; mas é impossível
agir de outra maneira. Minha tentativa fracassaria lamentavelmente
se procurasse escapar desta sociedade. Se sou industrial, nada me
proíbe de trabalhar utilizando processos técnicos do século passa-
do; mas, se o fizer, terei a ruína como resultado inevitável. Mesmo
quando posso realmente libertar-me destas regras e violá-las com
sucesso, vejo-me obrigado a lutar contra elas. (DURKHEIM, apud
MARTINS, 1994, p. 17)
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Vale observar que Durkheim desconsiderou o papel ativo dos indivíduos, enfocando
a ação da sociedade, da coletividade, que com sua força social se sobrepõe à vontade
individual
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Introdução à Sociologia da Educação: O Positivismo e a Sociologia Compreensiva – Capítulo 1
1.3.4 Solidariedade
Durkheim entende
social a solidariedade como a forma
A teoria de Durkheim consensual de relações entre indiví-
mostra que este autor de- duo e sociedade. Portanto, solidariedade
significa reciprocidade, interdependência
fendia uma visão otimista
entre partes envolvidas numa relação social.
da nascente sociedade
industrial e, para descre-
ver esta nova sociedade,
lança mão do conceito de
solidariedade.
Durkheim estabelece
uma distinção entre solidarie-
dade mecânica e solidariedade
orgânica, afirmando que a primeira diz respeito às sociedades mais sim-
ples (tribais, feudal), em que a divisão do trabalho é pouco desenvolvida.
Nesse tipo de sociedade, as pessoas se unem por meio da crença, dos laços
religiosos, das tradições etc. Na segunda, por sua vez, os laços de inter-
dependência são decorrentes das diferentes funções e especializações que
cada indivíduo, em sua categoria (econômica, profissional, religiosa, fami-
liar etc.), desempenha na relação com os demais.
Quando a sociedade se encontra em estado de solidariedade, os
órgãos solidários estão em contato entre si, percebendo a necessidade da
interdependência. As trocas se fazem sem dificuldade, levando à regulari-
zação da sociedade, ao equilíbrio social. Dessa forma, a divisão do traba-
lho deve produzir a solidariedade entre os indivíduos e segmentos. Se não
o faz, é porque as relações dos órgãos sociais não estão regulamentadas
– estão em estado de anomia.
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Sociologia da Educação
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Introdução à Sociologia da Educação: O Positivismo e a Sociologia Compreensiva – Capítulo 1
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Sociologia da Educação
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Introdução à Sociologia da Educação: O Positivismo e a Sociologia Compreensiva – Capítulo 1
3. Ação afetiva
É aquela orientada pelo humor ou pelo estado emocional do
agente. Aqui, não há relação com objetivos ou valores. O indi-
víduo age determinado pela reação emocional. Por exemplo, um
soco dado durante uma partida de futebol.
4. Ação tradicional
É ação exercida pelos costumes, tradição, hábitos crenças que
são transformados quase em uma segunda natureza. Estão en-
raizados nos indivíduos. Não é necessário conceber um objetivo
ou valor; a ação é orientada conforme a tradição. Por exemplo:
obedecer aos pais.
Uma mesma ação, segundo a perspectiva weberiana, pode ser guiada por dois ti-
pos ao mesmo tempo. Veja o caso do cientista, por exemplo. Sua ação é racional com
relação a um objetivo: ele se propõe a pesquisar determinado objeto, entender seu
funcionamento, suas causas e consequências, buscando chegar a um conhecimento
universalmente válido. Mas, ao mesmo tempo, a ação do cientista se guia pela busca
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Introdução à Sociologia da Educação: O Positivismo e a Sociologia Compreensiva – Capítulo 1
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Sociologia da Educação
Conexão:
Weber aponta que cada um desses tipos Assista ao filme A onda,
de dominação está relacionado a um status dirigido por Dennis Gansel.
No filme é mostrado como o experi-
de legitimação. O poder legal ou racional mento de uma classe, proposto por um
é legitimado pela noção de competência; o professor, se transformou num movimen-
poder tradicional pela noção de privilégio; to fascista.
Assista ao filme e procure identificar
e, por fim, o poder carismático pela noção qual modelo de dominação é
de devoção. exercido ali.
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Introdução à Sociologia da Educação: O Positivismo e a Sociologia Compreensiva – Capítulo 1
O ponto de crítica do autor aqui é que a razão que deveria nos liber-
tar, conforme o ideal iluminista, acaba por nos aprisionar, pois não nos
treina para lidar com o imponderável.
Atividades
Procure aprofundar seus estudos nas temáticas apresentadas neste
capítulo, buscando outros textos e obras de referência. A partir de então,
faça as atividades abaixo – elas são auxílio na fixação do conteúdo.
02. D
e que modo a ciência pode ser entendida como um senso comum
mais refinado?
03. P
or que o estudo das ciências humanas se mostra, de certo modo,
como algo mais complicado que o estudo das ciências exatas?
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Sociologia da Educação
07. P
or que a abordagem weberiana de sociedade é considerada aborda-
gem compreensiva?
Reflexão
Quando as bases da vida em sociedade se modificaram radicalmente
na Europa, emergiu a preocupação com a vida social, expressa por meio
de teorias sociológicas que procuravam compreender o quadro de pro-
fundas crises e transformações advindas do capitalismo, consolidado no
século XIX.
Como a religião já não era suficiente para dar as explicações que a
nova realidade social, política, cultural e econômica exigia, o pensamento
social passou a ganhar proeminência e destaque.
No campo das ideias, a pesquisa científica e as descobertas tecno-
lógicas tornavam-se uma meta cultural e social da maior importância. O
individualismo emergia como valor essencial da identidade humana, tra-
zendo junto de si a competição no mundo do trabalho.
Os principais representantes do conhecimento sociológico desta
época foram Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim, autores até hoje
estudados e conhecidos como os representantes da sociologia clássica.
Por meio de diferentes abordagens, esses autores nos permitem interpre-
tar a realidade social, a partir de temáticas que, embora tenham nascido
na transição para o mundo moderno, e se consolidaram no século XIX,
perpassaram o século XX e continuam se colocando como essenciais no
século XXI, contexto em que vivemos os reflexos e as intensificações do
que significou e permaneceu existindo como sociedades complexas pro-
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Introdução à Sociologia da Educação: O Positivismo e a Sociologia Compreensiva – Capítulo 1
Leituras recomendadas
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo:
Martins Fontes, 2000. Nesta obra, o autor apresenta uma análise minu-
ciosa da teoria sociológica, por meio das contribuições dos diferentes
autores, desde os precursores da sociologia até os autores clássicos
abordados neste capítulo.
Referências
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo:
Martins Fontes, 1995.
No próximo capítulo
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Sociologia da Educação
Minhas anotações:
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Karl Marx e o Materialismo
Histórico Dialético
2 No último capítulo vimos que a teoria de
Émile Durkheim se caracteriza pelo princípio
lo
da integração, isto é, as formas pelas quais se dá a
relação entre indivíduo e sociedade e de que maneira a
ít u
Você se lembra?
Você se lembra de já ter escutado a expressão “luta de classes”? Ou,
então, se lembra de alguma análise que falava sobre como o Brasil é
um país marcado pela desigualdade entre as classes? Essas são algu-
mas afirmações que se fazem a partir dos conceitos e da teoria da
sociedade capitalista desenvolvida por Karl Marx. Veremos nesse
capítulo de que maneira essas ideias foram trabalhadas pelo au-
tor, tornando-se umas das principais referências no desenvol-
vimento da Sociologia e das interpretações sociais.
Sociologia da Educação
2.1 Introdução
Você certamente já se deparou com algum filme ou imagem que
traziam os trabalhadores em uma fábrica, realizando, por meio de alguma
máquina, o seu trabalho. Uma cena clássica desse modelo chamado “li-
nha de fábrica” é a do personagem de Charles Chaplin no filme Tempos
Modernos. Nele, o personagem desenvolve seu trabalho mecanicamente,
num ritmo frenético, quase sem perceber o que e por que faz, até o mo-
mento em que seu próprio corpo passa reproduzir o
ritmo da máquina. Conexão:
Em alguma medida, esse cenário faz alu- Assista ao filme Tempos
são direta à teoria desenvolvida por Marx que Modernos, de Charles
Chaplin, que faz uma crítica,
faz uma crítica ao sistema capitalista que se em tom de sátira, ao modelo
consolidava no século XIX. de trabalho característico
das origens do sistema
Ao contrário da teoria positivista de capitalista.
Durkheim que buscava, por meio da Sociologia,
garantir a harmonia e integração na nova ordem so-
cial nascente, o pensamento de Karl Marx vai em direção oposta: busca,
por meio do conhecimento, revelar as contradições sociais que estão na
base de qualquer sistema e, particularmente, do sistema capitalista ofere-
cendo, assim, os meios para transformar essa realidade.
A teoria marxista privilegia como foco de análise os aspectos
econômicos e materiais da existência humana, pois apenas a partir da
forma como os homens se organizam para produzir a própria subsistên-
cia é que são criadas as relações sociais e as formas de pensamento e
consciência. Assim, para se conhecer como vive determinada sociedade
é preciso conhecer a forma como ela se organiza para produzir ou, em
outros termos, seu modo de produção. Essa forma de interpretar a rea-
lidade é chamada de materialismo histórico e se consolidou como uma
das formas de análise mais importantes na história do desenvolvimento
da ciência social. Veremos nesse capítulo como se realiza essa forma de
interpretação, especificamente por meio da compreensão de sociedade
feita por Karl Marx.
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2.2 Contextualização
Karl Marx nasceu na Alemanha em 05 de maio de 1818 e morreu
em 14 de março de 1883. Formou-se em Direito e Filosofia e, apesar de
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Karl Marx e o Materialismo Histórico Dialético – Capítulo 2
Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como que-
rem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aque-
las com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo
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Sociologia da Educação
Modo de
produção
que toda estrutura social, em qualquer época histórica, é formada por duas
classes: opressoras e oprimidas. Entre elas, se realiza uma luta constante,
ora velada, ora aberta, que acaba por transformar a estrutura social, crian-
do um novo modo de produção onde serão criadas novas classes e assim
sucessivamente. No sistema capitalista, modo de produção hegemônico
da sociedade moderna, há duas classes sociais: a burguesia (donos dos
meios de produção) e a classe trabalhadora ou proletariado (donos da
força de trabalho). Como sabemos, a perspectiva marxista aponta que
essa relação é uma relação de exploração que apenas terá fim, segundo
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Sociologia da Educação
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Karl Marx e o Materialismo Histórico Dialético – Capítulo 2
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Sociologia da Educação
2.5 Sintetizando
Vimos nesse capítulo algumas ideias do pensamento marxista que
revelam a complexidade da sua obra e teoria. É possível sintetizá-las nas
ideias abaixo:
1. A compreensão da relação entre o indivíduo e a sociedade é
indissociável das condições materiais nas quais essa relação
se apoia;
2. Compreender a realidade, assim, implica em compreender
como os homens se organizam para produzir;
3. Toda realidade é contraditória e a compreensão dessa realidade
implica, necessariamente, na análise dessa contradição.
4. A contradição, segundo a teoria marxista, nasce no modo de
produção. É ele quem irá gerar os antagonismos da realidade.
5. Na perspectiva marxista é preciso, portanto, compreender
como os homens organizam sua produção para então entender
como se forma a consciência e o pensamento.
6. A sociedade capitalista se caracteriza pela exploração da força
de trabalho;
7. Essa exploração, assim como todos os antagonismos gerados
por ela, são camuflados pela ideologia.
8. Ideologia, na perspectiva marxista, é o conjunto de ideias do-
minantes que servem para camuflar a realidade, encobrindo
suas contradições.
Atividades
01. Defina o método materialista histórico.
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02. E
xplique as noções e infraestrutura e superestrutura. Como se dá a
relação entre essas duas noções.
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Karl Marx e o Materialismo Histórico Dialético – Capítulo 2
03. E
xplique o sentido da frase: “Não é a consciência que determina a
vida, mas a vida que determina a consciência”.
Reflexão
Independente de concordarmos ou não com as perspectivas mar-
xistas, suas reflexões sobre o sistema capitalista são fundamentais para
compreendermos como se formam as relações sociais nessa sociedade. A
novidade trazida pela teoria marxista é a interpretação de todas as relações
e, sobretudo, da formação da consciência individual a partir das condições
econômicas e produtivas nas quais a sociedade está assentada. As formas
de pensar, a consciência e o próprio sistema de ideias dominantes são
tomados como reflexo da vida material dos homens. Essa relação, aponta
Marx, indica a complexidade das formas de exploração e diferenciação
na sociedade capitalista, ao mesmo tempo, em que indica as condições de
superação dessa realidade.
Leitura recomendada
Karl Marx Friedrich Engels. A ideologia alemã.
Nessa obra, encontramos a construção da noção de materialismo
histórico.
Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1845/
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ideologia-alema-oe/
Referências bibliográficas
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia? São Paulo: Brasiliense, 1980.
No próximo capítulo
No próximo capítulo veremos a influência das abordagens clássicas
da Sociologia, como o funcionalismo e o marxismo, na contemporaneida-
de, especialmente na Sociologia da Educação e nas relações entre educa-
ção, cidadania e emancipação. Analisaremos as teorias do filósofo italiano
Antonio Gramsci e dos filósofos e educadores brasileiros Pedro Demo e
Paulo Freire. Nos vemos lá!
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Educação e Cidadania:
as Abordagens de Gramsci,
Paulo Freire e Pedro Demo
3 Neste capítulo, estudaremos algumas perspec-
lo
tivas que pensam a educação e sua influência nos
processos de cidadania. Veremos essa análise a partir
ít u
Você se lembra?
Você se lembra da teoria marxista: Materialismo Histórico Dialético,
que vimos no capítulo anterior? Nessa perspectiva, Marx sustenta que as
desigualdades de classes e relação entre opressores e oprimidos são ex-
plicadas a partir da infraestrutura, isto é, do modo material de produção.
A influência marxista é significativa nas abordagens dos autores que
veremos neste capítulo. Mas, aqui, as possibilidades de transformação
social são pensadas a partir da infraestrutura, especialmente da rela-
ção entre educação e política.
Sociologia da Educação
3.1 Introdução
A educação e a escola são objetos de estudos das ciências humanas
desde as suas origens. Grandes pensadores já se ocuparam da análise des-
sa instituição, como Aristóteles, na Grécia Antiga, e a defesa da instrução
para a virtude, passando por Santo Agostinho e Tomás de Aquino, na Idade
Medieval, chegando à Idade Moderna, com Comênio e a sistematização da
Pedagogia e da didática ou, ainda, as teorias positivistas de Auguste Comte
e Émile Durkheim. Ainda que todos esses autores, e muitos outros que aqui
não foram citados, tenham pensado a educação e os sistemas de ensino sob
um enfoque crítico e também como um direito de todas as pessoas, foi ape-
nas no século XX que os debates em torno da escola passaram a questionar
a neutralidade ou independência dessa instituição do meio social ou, ainda,
das tensões e contradições que compõem esse meio.
Nesse sentido, abordagens contemporâneas sobre a escola e os
sistemas de ensino questionam, justamente, o papel dessa instituição na
reprodução e manutenção da ordem social, como forma de inclusão ou
exclusão, como reprodutora das contradições do sistema capitalista e das
ideologias dominantes. São, assim, abordagens que olham para a edu-
cação e sua relação com a política e com o contexto social mais amplo,
inserindo-a no conjunto das estruturas sociais e, portanto, influenciadas
pelas tensões sociais. Ao mesmo tempo, essas abordagens apontam para
a educação e o sistema escolar como os caminhos possíveis para a au-
tonomia do indivíduo, para a aprendizagem do exercício da cidadania e,
também, para o desenvolvimento do olhar crítico sobre a própria posição
social e a realidade, enfim, para as possibilidades de transformação social.
Dessa forma, as práticas educacionais e pedagógicas são analisadas
na sua relação com a sociedade capitalista, especialmente sob influência
do pensamento marxista, assim como o papel do educador e sua relação
com o educando. Ganha destaque a noção de cidadania e da construção da
autonomia do ato de aprender e conhecer.
Sob essas perspectivas é que analisaremos, nesse capítulo, as contri-
buições para a educação e o papel da escola na formação política e cidadã
de três importantes filósofos e educadores da era contemporânea: o pensa-
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Sociologia da Educação
do esses ao contexto social mais geral, de tal maneira que isso possibili-
tasse o olhar crítico e transformador da realidade. No Brasil, Paulo Freire
é um dos educadores que teorizaram e praticaram essa perspectiva, como
veremos mais à frente.
Retornando à Gramsci, as ideias descritas acima se relacionam
diretamente à noção de filosofia da práxis de-
senvolvida pelo autor, de origem marxista, Práxis
é, portanto, uma
que remete à ideia de transformação atividade teórico-prática, na
material da realidade. Ou seja, a prá- qual a teoria possibilita as mu-
xis é o fundamento da teoria que nos danças nas práticas sociais, ao passo
que novas práticas sociais possibilitam a
leva aos instrumentos que possibi- mudança na teoria. A práxis é, assim, uma
litariam a ação visando à transfor- atividade de transformação da realidade que
mação das estruturas sociais. Essa permite a construção de novas ideias, saberes,
desejos, experiências, vontades que, por sua
noção é essencial para compreen- vez, determinam a criação de novas práticas
dermos a educação, para esse autor, sociais. Em Marx, a práxis revolucionária
seria aquela que levaria ao fim da
mas, antes, é preciso apontar ainda
exploração do trabalho.
outros conceitos que nos auxiliam nessa
compreensão.
Cada classe social tem sua ideologia: visão de mundo, valores, éti-
ca, projetos de vida individual e coletiva. A ideologia da classe que
tem o domínio e a direção da sociedade é a ideologia dominante:
cimento que une a estrutura da sociedade capitalista. Esta ideologia
é elaborada pelos intelectuais orgânicos desta classe que detém este
poder. No atual bloco histórico, a burguesia detém a hegemonia do
sistema e é necessário que as classes subalternas, pela filosofia da
práxis elaborada, de modo especial, por seus intelectuais orgânicos,
construam a crítica da ideologia dominante com a finalidade de
superá-la (SOUZA NETO, 2009).
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Sociologia da Educação
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Educação e Cidadania: as Abordagens de Gramsci, Paulo Freire e Pedro Demo – Capítulo 3
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Sociologia da Educação
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Educação e Cidadania: as Abordagens de Gramsci, Paulo Freire e Pedro Demo – Capítulo 3
Box conexão
Conexão:
Acesse o site www.
paulofreire.org e conheça
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Sociologia da Educação
61
Sociologia da Educação
sociais.
Dessa forma, o autor entende que a educação, a cidadania e a políti-
ca são esferas intrinsicamente relacionadas e necessárias a um projeto de
transformação social. No campo da política, mais especificamente, o autor
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Educação e Cidadania: as Abordagens de Gramsci, Paulo Freire e Pedro Demo – Capítulo 3
aponta a política social como elemento que compõe esse projeto de trans-
formação, uma vez que cabem a essa divisão do campo político as ações
que visam atenuar as desigualdades sociais ou, então, os efeitos dessas. É
importante ressaltar, ainda, que Demo concebe diferentes formas de ma-
nifestação da desigualdade social no que diz respeito à pobreza: pobreza
socioeconômica e pobreza de espírito e, para cada uma dela, um tipo de
política social específica.
Para a primeira forma, a pobreza socioeconômica, seriam destinadas
as políticas assistenciais que visam garantir a sobrevivência e as políticas
socioeconômicas, como geração de empregos, renda, programas de previ-
dência, profissionalização etc. Já para a segunda forma, que o autor define
como pobreza de espírito, seriam destinadas as políticas sociais participa-
tivas que, em conjunto com outras formas, formariam as bases necessárias
para a cidadania plena. Justamente essa última forma, que busca combater
a pobreza de espírito, encontra na educação eficaz sua principal base:
“Nesse espaço, emerge a oportunidade inelutável de formação do sujeito
social, consciente e organizado, capaz de definir seu destino e de compre-
ender a pobreza como injustiça social” (DEMO, 1994. p.37).
Atividades
01. Explique a definição de filosofia da práxis, segundo a obra de
Gramsci.
re?
06. Você concorda com as abordagens vistas neste capítulo? Como a edu-
cação pode contribuir para uma prática transformadora?
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Sociologia da Educação
Reflexão
Neste capítulo, vimos algumas perspectivas da Sociologia da Educa-
ção que, sob influência do marxismo, buscam interpretar o papel da escola
como instituição reprodutora da ordem social e, ao mesmo tempo, o papel
central que essa instituição poderia assumir como formadora de cidadãos
conscientes de sua realidade, autores-responsáveis pela própria história e
pela transformação da realidade. Os autores vistos aqui, Gramsci, Paulo
Freire e Pedro Demo, se aproximam quando na proposta de um novo
olhar sobre a perspectiva marxista, trazendo para o plano superestrutural
a explicação das desigualdades sociais e, ao mesmo tempo, as formas de
superá-las. Nesse sentido, a política e a educação são interpretadas a partir
da sua relação intrinsicamente interdependente. A educação aqui, ainda
que sob propostas pedagógicas distintas, se apresenta nas abordagens des-
ses pensadores como aquela capaz de proporcionar a formação crítica dos
indivíduos, abrindo caminho para a transformação desse indivíduo e, por
consequência, do meio social.
Leituras recomendadas
FORTUNATO, Sarita Aparecida de Oliveira. Escola, educação e tra-
balho na concepção de Antonio Gramsci. IX Congresso Nacional de
Educação- EDUCERE. III Encontro sul brasileiro de Psicopedagogia.
26 a 29 de outubro, 2009. PUCPR. Disponível em: <http://www.pucpr.
br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2015_2166.pdf>.
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Educação e Cidadania: as Abordagens de Gramsci, Paulo Freire e Pedro Demo – Capítulo 3
Referências
Demo, Pedro. Política social, educação e cidadania. Campinas, SP.:
Papirus, 1994.
65
Sociologia da Educação
No próximo capítulo
No próximo capítulo, estudaremos as contribuições de Pierre Bour-
dieu, um dos principais pensadores contemporâneos que trataram das
inter-relações entre indivíduo e sociedade analisando, especialmente, os
processos de socialização, dos quais a escola é um dos agentes mais im-
portantes.
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As Contribuições de
Pierre Bourdieu
4 Neste capítulo, estudaremos um dos princi-
pais pensadores contemporâneos: Pierre Bour-
lo
dieu. Como vimos nos capítulos anteriores, uma
das preocupações centrais da Sociologia e das suas
ít u
Você se lembra?
Certamente você já se perguntou: Quem sou eu afinal? Geralmente
essa pergunta vem acompanha de muitas divagações e, principalmen-
te, reflexões bem pessoais.
Mesmo que para alguns as referências de família, amigos, escola,
trabalho sejam diferentes, de alguma forma, para definirmos
quem somos, recorremos aos grupos aos quais pertencemos!
Sociologia da Educação
4.1 Introdução
Pierre Bourdieu (1930-2002) é um dos pensadores de maior influên-
cia na contemporaneidade, sendo referência em diferentes áreas do conhe-
cimento, como Sociologia, Filosofia, Antropologia, Linguística, Comu-
nicação e Pedagogia. Sua abordagem teórica dialoga diretamente com as
principais correntes da sociologia clássica, seja na compreensão do indiví-
duo como parte do meio social, sendo profundamente influenciado por ele
(como em Durkheim e a teoria do fato social); seja buscando compreender
como os processos de racionalização influenciam as relações sociais mo-
dernas e contemporâneas (assim, como Weber) ou, ainda, refletindo sobre
o papel da hegemonia do capital, assim como a perspectiva marxista, mas
se diferenciando de Marx ao considerar que não existe apenas o capital
econômico, mas, sim, uma variedade de capitais responsáveis pela distin-
ção social, como veremos mais à frente.
Parte significativa dos estudos de Bourdieu foi dedicada ao enten-
dimento das formas como somos inseridos nas estruturas sociais, nos
transformamos de seres biológicos em seres sociais e contribuímos para
sua manutenção do sistema social. A esse processo chamamos socializa-
ção e, aqui, a escola assume papel fundamental, uma vez que é uma das
principais instituições responsáveis em nos ensinar a viver em sociedade.
Parte significativa da obra de Bourdieu é, justamente, voltada à análise
do sistema educacional francês, do qual o autor foi bastante crítico. Na
perspectiva de Bourdieu, a escola, no lugar de sua função transformadora,
funcionava como uma instituição conservadora da ordem social vigente,
reforçando as desigualdades sociais e o caráter da divisão de classes, o
que levou alguns autores a considerarem que o pensador francês tinha
uma visão pessimista da educação e do sistema escolar. Ainda assim, suas
teorias foram bastante influentes nas discussões sobre o papel da escola no
Brasil, sobretudo a partir dos anos 1970 e 1980.
Na construção do seu pensamento, Bourdieu criou uma série de
conceitos que buscam exatamente explicar as relações entre indivíduo e
sociedade, a dicotomia entre objetividade e subjetividade, além das for-
mas de dominação e reprodução social existentes. Vamos compreender
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Os processos de socialização na sociedade contemporânea: Pierre Bourdieu e Edgar Morin - Unidade 4
4.2 Habitus
Você já se perguntou sobre algumas de suas ações mais simples?
Como dormir, ou escovar os dentes, por exemplo? Na linguagem do senso
comum chamamos essas ações de “hábito”. Geralmente estão ligadas a
coisas que fazemos mecanicamente, sem pensar. E tomar banho? Parece
algo tão natural, não é mesmo? É como se o incômodo provocado pela
sujeira pedisse que nos banhássemos!
Mas todas essas ações não são naturais, elas são resultado de um
processo de socialização. Internalizamos essas práticas a ponto de “natu-
ralizá-las”, de confundirmos ações sociais com “instinto” ou “determina-
ções biológicas”. Até poucos séculos atrás, acreditava-se, por exemplo,
que as camadas de sujeira nos protegiam das doenças!
Pensando em como os processos de socialização são apreendidos
pelos homens, ou seja, como aquilo que é constituído social e historica-
mente nos parece algo “natural”, é que Pierre Bourdieu elabora o conceito
de habitus. Este conceito permite compreender como interiorizamos e
exterioridade social e como exteriorizamos nossas interioridades, como a
sociedade se deposita nos indivíduos e se transforma em disposições du-
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Essa “dinâmica” do habitus faz com que ele penetre “numa situação,
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4.3 Campo
Já vimos que todos nós pertencemos a grupos sociais – a mais de
um, inclusive – mas já repararam que nos comportamos de maneira muito
diferente em cada um deles? Utilizamos maneiras diferentes de falar, agir,
até mesmo de demonstrar nossos sentimentos. As relações sociais se ade-
quam ao grupo social, é como se cada grupo tivesse suas próprias regras,
sua própria lógica, e, então, temos de “jogar conforme as regras” daquele
jogo, no trabalho, na família, entre os amigos da escola, entre os amigos
da igreja, com os vizinhos etc. Foi justamente percebendo que os grupos
sociais possuem características específicas que Bourdieu elaborou um outro
conceito que permite compreendermos os processo de socialização, mais do
que isso, possibilita a verificação de que tal processo ocorre de diferentes
maneiras em diferentes grupos sociais, o que o teórico chamou de campo.
O campo é, para Bourdieu, um espaço social estruturado em que
ocorre uma disputa (um jogo) de forças entre dominantes e dominados,
em uma relação de desigualdade. Essa luta entre os indivíduos pertencen-
tes a um determinado campo se orienta na intenção de conservar ou de
transformar a posição no interior desse mesmo campo, posição que indica
a força que cada indivíduo possui.
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As Contribuições de Pierre Bourdieu – Capítulo 4
rarquia aí inscrita.
A esse respeito, duas importantes ideias que compõem o pensamen-
to de Bourdieu, através das quais é possível verificar essas correspon-
dências – e que dão título a este item no capítulo – são “gosto de classe”
e “estilo de vida”. Essas ideias nos serão importantes na medida em que
atuam como peças-chave para a compreensão da violência simbólica que
recai sobre todos os indivíduos, ainda que de formas distintas e em dife-
rentes intensidades.
73
Sociologia da Educação
74
As Contribuições de Pierre Bourdieu – Capítulo 4
Um dos principais alvos da crítica de Bourdieu, nos seus últimos anos de vida,
foi a atuação dos meios de comunicação, que estariam, segundo ele, cada vez mais sub-
metidos a uma lógica comercial inimiga da palavra e dos significados reais da vida. Bourdieu
foi um crítico feroz do tipo de cultura produzido pelas mídias contemporâneas.
Atividades
01. O que é socialização?
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Reflexão
Compreender a forma como nos tornamos seres sociais têm sido
ponto de análise das pesquisas nas ciências humanas há muito tempo, pois
ela revela, logo em sua base, como se dá nossa relação com o meio social
do qual fazemos parte; de que maneira esse meio influencia na formação
de nossa subjetividade e individualidade. Não é possível separar o sujeito,
ou melhor, sua construção, do meio no qual ele está inserido. Nos torna-
mos seres sociais, justamente, quando absorvemos o conjunto de sistemas
simbólicos de nosso meio. É essa relação que permite internalizarmos as
práticas sociais e reproduzi-las em nosso cotidiano. Não é possível, dessa
forma, conhecer o sujeito social e sua subjetividade sem dimensionar o
meio social, histórico e determinado, do qual ele faz parte.
Leitura recomendada
Para aprofundar-se um pouco mais no assunto, recomendamos a
leitura da obra:
Referências
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As Contribuições de Pierre Bourdieu – Capítulo 4
No próximo capítulo
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Vemo-nos lá!
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Sociologia da Educação
Minhas anotações:
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A Sociologia da Educação
no Brasil – A Escola Nova
5 Chegamos ao último capítulo da nossa dis-
ciplina. Aqui, veremos a história da Sociologia
lo
da Educação no Brasil e a constituição da chamada
Escola Nova. Estudaremos ainda o contexto histórico
ít u
Você se lembra?
Você se lembra de já ter acompanhado algum debate ou presenciado al-
guma manifestação e movimento social em prol da educação pública?
Lembra-se de já ter lido ou escutado alguém falar sobre a cláusula cons-
titucional que coloca a educação como um direito de todos? Pois essas
noções nem sempre foram algo legitimado por lei ou por ação gover-
namental. Até meados da década do século XX, a educação e o acesso
ao ensino escolar era garantia apenas das camadas mais privilegia-
das da sociedade. Esses foram pontos essenciais apresentados no
Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, na década de 1930,
que buscava universalizar o acesso à educação. Esse e outros
tópicos serão tratados aqui neste último capítulo.
Sociologia da Educação
5.1 Introdução
Em seu trabalho Estudos Sociológicos da Educação no Brasil, a
pesquisadora Clarissa Baeta Neves faz um levantamento histórico do
desenvolvimento da Sociologia da Educação no contexto brasileiro,
destacando que o tema “Educação” esteve atrelado à própria origem da
Sociologia no país. É visível, dessa forma, a qualidade dos trabalhos, de
eixos temáticos, e também o fato de que importantes pesquisadores e pro-
gramas de universidades produziram essas análises já
na primeira metade do século XX. Chama a
atenção, ainda, conforme a autora, não A educação como
somente a qualidade desses estudos tema de estudo sociológico
também foi um dos campos de análi-
do ponto de vista científico, mas se no pensamento clássico da Sociologia.
também o engajamento político Durkheim, por exemplo, abordou a espe-
que eles apresentam. Assim, essas cificamente essa relação na obra Educação
e Sociologia, demonstrando os elementos que
abordagens iniciais dos pensadores constroem a noção de “consenso social”, central
que analisaram a educação no país no pensamento do pensador francês. Mesmo
Marx, que não abordou explicitamente uma
já buscavam pensar a educação e teoria da educação, tratou do tema do en-
a formação escolar a partir da sua sino e da formação, articulando esses
possibilidade para uma ação trans- com as condições socioeconô-
micas da época.
formadora da realidade, pensando essa
transformação em seu sentido mais amplo:
econômica, social e política.
De maneira geral, os estudos sobre a educação como campo de aná-
lise próprio da Sociologia podem ser divididos em três grandes períodos:
1o período – dos anos 1930-1960;
2o período – Governo Militar (1964-1985);
3o período – meados dos anos 1980 até a atualidade.
O primeiro período se caracteriza, sobretudo, pela relação intrínseca
entre a preocupação metodológica e o engajamento político, especialmente
por conta das mudanças que a sociedade brasileira vivenciava. Há, nesse
momento, uma maior concentração teórico-metodológica e, também, temá-
tica. Veremos essa mais detalhadamente essa fase um pouco mais à frente.
No segundo período, marcado pela Ditadura do Regime Militar, é
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83
Sociologia da Educação
5.2 Contexto
Como mencionamos há pouco, uma das características marcantes
das análises sociológicas acerca da educação que tem início na primeira
metade do século XX, especialmente a partir dos anos 30, é a relação
entre essa esfera e a política, de tal maneira que aproximou a sociologia
da educação da ciência política. Nesse momento, percebe-se também a
institucionalização dessa relação, com a obrigatoriedade do ensino de So-
ciologia nas escolas, resultado das reformas estaduais que tiveram início
nos anos 1920, o que levou às reformas de vários institutos educacionais.
Conforme aponta Martins e Dias (2003), a ideia desses projetos “era dotar
os professores de uma base científica, considerada uma condição essen-
cial para o processo de transformação do sistema escolar brasileiro”. As-
sim há, nesse momento, uma tentativa de organizar o sistema educacional
brasileiro, influenciado por perspectivas teóricas francesas e americanas,
colocando o debate em torno de duas posições ideológicas: o ensino pú-
blico e laico em oposição ao ensino privado e religioso, este último mais
influente do ponto de vista político nesse período. Essas prerrogativas
foram definidas do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932,
um dos marcos iniciais das discussões em torno dos projetos de discussão
e renovação da educação no país, assinado por importantes educadores e
intelectuais. Num dos trechos do Manifesto, temos definido que:
Azevedo.
Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira foram signatários do Mani-
festo dos Pioneiros da Escola Nova, como já vimos. Pensavam a educação
considerando necessárias transformações que permitissem maior demo-
cratização do acesso ao ensino no país. Além disso, também defendiam a
aplicação de princípios e noções científicos no planejamento da estrutura
educacional. Vamos ver mais de perto as contribuições desses autores.
87
Sociologia da Educação
WIKIMEDIA
dor e sociólogo, um dos mais importantes pensa-
dores da educação no Brasil, tendo desenvolvido
a primeira pesquisa sistemática e profunda sobre
a situação da educação no estado de São Paulo.
A participação desse intelectual se fez de forma
bastante ativa, tanto no que diz respeito às for-
mulações críticas e de pesquisa, quanto como
agente atuante em ações e na renovação ou cria-
ção de importantes movimentos e instituições do
ensino.
As pesquisas e atuações de Azevedo tiveram como foco central a
educação pública brasileira, tendo sido parte integrante do movimento
reformador da educação pública, já na década de 20. Nessa mesma déca-
da, promoveu no Rio de Janeiro, naquele momento capital da República,
ampla reforma educacional que, entre outras coisas, promoveu a extensão
do acesso escolar a todas as crianças, maior articulação entre os diferentes
níveis escolares, bem como a adaptação da escola às particularidades da
região, sejam elas urbanas ou rurais. Azevedo foi, ainda, um dos fundado-
res da Universidade do Estado de São Paulo (USP). Durante a revolução
constitucionalista de 1932, período político bastante conturbado, Azevedo
é convidado a redigir o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, di-
rigido ao governo Vargas e à nação, documento que situava a educação
como o principal problema do país acima dos problemas econômicos,
sendo urgente um processo de renovação dessa área como parte funda-
mental no processo de reconstrução do país e da cidadania. A educação
se configurava, portanto, como elemento essencial na transformação do
“Brasil arcaico” para o “Brasil industrializado”.
A atuação de Fernando de Azevedo, assim como em parte dos in-
telectuais nesse período, colocou a educação como prioridade da agenda
nacional e caracteriza-se, portanto, tanto pela produção científica que
buscava compreender o papel da escola e criar as propostas de renovação
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A Sociologia da Educação no Brasil – A Escola Nova – Capítulo 5
Atividades
01. Aponte as principais características da Sociologia da Educação desen-
volvida nos anos 1930-1960 no Brasil.
Reflexão
O olhar sobre a educação nos anos 1930-1960 e as perspectivas so-
bre a Escola Nova nas abordagens de Fernando de Azevedo e Anísio Tei-
xeira nos permite compreender como essa esfera foi entendida a partir de
suas possibilidades como agentes transformadores da vida dos indivíduos
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Leituras recomendadas
Para aprimorar seus estudos com relação aos conteúdos vistos neste
capítulo, indicamos as seguintes leituras:
Referências
AZEVEDO, F. de. A educação e seus problemas. São Paulo: Melho-
ramentos, 1958. Tomo I.
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A Sociologia da Educação no Brasil – A Escola Nova – Capítulo 5
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Sociologia da Educação
Minhas anotações:
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