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A Incrível Viagem

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Ato 1
Cena 1

Nuvem - La! La! La! Eu sou a nuvem bronca mais talco aqui outro tanto ali. La! La! La! Linda!
Linda! La! La! Sou a nuvem branca, um pouco de talco aqui. Ah, detesto me sujar... O
branco é uma cor terrível, uma poeirinha de nada e pronto, fico suja e encardida. Ah, que
trabalho, sempre me limpando, e quando chove? Um horror. (SE OLHA NO ESPELHO)
Mais vale a pena... sou gorda, bonita, todos me enxergam. Sou eu quem aviso se vai
fazer tempo bom ou se vai chover. (SE EMPOA DE TALCO. CANTAROLA) La! La!
La! Eu sou a nuvem branca, talco em mim...

(ENTRA BRISA)
Nuvem - Um tem alguém aqui um... Quem é? Não brinca comigo não, se eu mim enfurecer eu
chamo o raio e arrumo uma tempestade. Quem é?
Brisa - Sou eu...
Nuvem - Eu quem?
Brisa - Brisa.
Nuvem - Brisinha meu amor, que bom você chegar. Já estou quase pronta, tenho de me decidir...
Para onde .vou hoje?
Brisa - Sei lá, a senhora é quem sabe a minha obrigação é levar.
Nuvem - E trazer.
Brisa - E trazer. Levar. e trazer dona nuvem pra lá e pra ca. Coisa mais chata.
Nuvem - Deixa eu pensar... vou para a zona norte ou para zona sul? Ah a praia. Ipanema.
Brisa - O pessoal não vai gostar, vai tapar o sol e estragar a praia.
Nuvem - Você tá esquisita Brida, nunca falou assim antes. Se metendo na minha vida... No meu
caminho no céu... chega aqui perto de mim, o que você tem? você sempre gostou de me
ver no espelho.
Nuvem - Não, não mim toque é sempre assim, eu vejo os outros ,mas miguem me ver, nem no
espelho eu apareço, nunca.
Nuvem - Meu Deus, que tristeza... Que aconteceu?
Brisa - Nada. Tive pensando... por que eu não tenho cor?
Nuvem - Ora... Bem...
Brisa - Ninguém me enxerga. Eu queria ter cor.
Nuvem - A natureza te fez assim Brisa.
Brisa - Coisa sem graça e sem cor. Não quero ser mais Brisa.
Nuvem - Mas... brisa, vento, tufão tudo é ar, e ar não tem cor.
Brisa - Eu sei. Cor... Eu queria ser azul como o céu ou branco feito a senhora.
Nuvem - Pois branco é horrível, suja a toa. (TEMPO) sua missão é soprar Brisa. É levar e trazer,
coisa bonita, importante... É a Brisa que renova o ar.
Brisa - Pois eu queria ter cor. (TEMPO)
Nuvem - Que horas são? Ah como é tarde. vamos, vamos. Me sopre logo que eu quero ir ao
maracanã. Estou pronta.
Brisa - E estragar o jogo? '
Nuvem - Chega de conversa. Me sopre. (TEMPO). Vamos.
Brisa - Não. Não e não.
Nuvem - O que? (FURIOSA).Min segura que eu vou dar um troço. Cadê você? Cadê você? Vem
aqui.
Brisa - Não adianta, ninguém mia ver, eu não tenho cor.
Nuvem – Vem aqui, quem você pensa que é. Está com inveja das cores, é?
Brisa - Tô, eu quero ter uma cor. Quero aparecer, aparecer entende.
Nuvem - Ah! você está pior do que eu imaginava.
Brisa - Como assim? (TEMPO).
Nuvem - Ah como eu estou atrasada, me leva logo daqui, eu tenho um compromisso com os
bichos, com as cidades, com as pessoas, com as crianças com o mundo. sou eu quem
dou a sombra e faço o pôr do sol acontecer cada dia diferente.
Brisa - Não. Não e não.

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Nuvem - Teimoso, quem meteu essa maluquice de cor em sua cabeça?
Brisa - Eu mesmo.
Nuvem - Pois esqueça e me leve daqui.
Brisa - Não.
Nuvem - Vou te dizer uma coisa, preste atenção: o importante não é ter, é ser, o importante é SER.
Brisa - Ser?
Nuvem - Ser você mesma a seu modo, sem imitar os outros ou querer aparecer através de uma
cor.
Brisa - Ser! (PAUSA). Não eu quero ter uma cor. o ter.
Nuvem - Chega de conversa, e me sopre.
Brisa - Não, só se a senhora me prometer me dar uma cor.
Nuvem - Assim, sem mais nem menos? Isso é chantagem, coisa desonesta.
Brisa - Chame o trovão, faça uma chuva. Quero virar água, descer para a Terra e ter uma cor.
Nuvem - Você vai se arrepender. Imagina se você tivesse uma cor ninguém veria o azul do céu.
Brisa - Eu gosto do céu tanto quanto gosto do azul, o problema é que eu não sou céu, nem tenho
o azul em mim. Entende? (TEMPO).
Nuvem - Estou atrasadíssima... Mas você merece uma lição. é isto mesmo que você quer?
Brisa - É. Chame o trovão. quero virar gota d’água e ir para a terra.
Nuvem - E água tem cor?
Brisa - Tem, o mar é verde lembra? E depois o mundo é colorido de mais e na terra eu arranjo
uma cor para mim. (PAUSA) Fica descansada, antes de virar gota d'água eu dou uma
sopradinha na senhora
Nuvem - Bem, e amanhar quem vai mó soprar?
Brisa – Amanhã a Senhora arranja um pé - de - vento, uma lufada, um tufão um vento bravo ou
uma brisa qualquer. Amanhã sempre se dá um jeito. Amanhã eu terei uma cor.(TEMPO).
Nuvem - Você está enganada, muito enganada. A felicidade não é dada pela cor que se tem.
Brisa - A senhora não é feliz no seu branco?
Nuvem - Reclamo um pouco como todo mundo sabe. Prefiro mim ver rosinha quando chego perto
do sol. Mas gosto de ser nuvem e ai está a minha felicidade É depois, ninguém é feliz
todo o tempo.
Brisa - Como é, vai mim ajudar?
Nuvem - Não tenho outra escolha, tenho?
Brisa - Não, eu sou a única brisa de plantão hoje. Só eu posso soprar.
Nuvem - Então que .você seja feliz nessa sua viagem.
Brisa - Tô preparada!
(TEMPO)
Nuvem - Tome cuidado Brisa.
Brisa - Vamos logo com isso, que estou doida para aparecer em uma cor!
Nuvem - Se você se arrepender é só chamar.
Brisa - Não vou me arrepender.
Nuvem - Vamos nos (NUVEM INICIA UMA DANÇA RITUALISTA) Trovão! Trovão! Rei dos
céus, Pai dos Raios Senhor das tempestades Trovão! Trovão! venha me ajudar a fazer
chuva e regar o mundo. Trovão! Trovão! (ESPECTATIVAI).

CENA 2 (Subitamente um estrondo ensurdecedor um trovão. Luzes piscam. Novos trovões Brisa
estática e espantada. Nuvem continua na dança)
Brisa - Que medo. Tô com medo.
Nuvem - Besteira, o trovão é assim mesmo, só espanta mas não faz mal nenhum. E além do mais ,
foi você mesma quem invento essa história toda. Anda depressa o trovão não espera, ele
é muito rápido.
(NOVO TROVÃO).

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Brisa - O que é que eu faço?
Nuvem - Vamos subir no escorrega da montanha. no dedo de Deus. (Nuvem vai subindo num
escorrega imenso que se faz presente junto a penteadeira).
Risa - E eu?
Nuvem - Sobe seu idiota.
Brisa - E aí?
Nuvem - Aí eu te abraço bem apertadinho, e aí você desce. Mas não se esqueça de me soprar
antes de escorregar. (BRISA SOBE NO ESCORREGA).
Brisa - Que loucura.
Nuvem - Rápido, isso é chuva de verão acaba logo.
Brisa - Onde eu vou cair?
Nuvem - Sei lá nem olhei para baixo.
Brisa - E se eu cair no meio de uma fogueira? E se eu cair numa lata de lixo.
Nuvem - Problema seu.
Brisa - No meio de uma guerra... Não, não vou mais.
Nuvem - Agora vai sim (AGARRA BRISA) Ah! Te agarrei.
Brisa - Não! Não!
Nuvem - Afinal, você quer ou não quer? (TEMPO).
Brisa - Quero.
Nuvem - Então, lá vai meu abraço!
Brisa - Então lá vai a minha sopradinha! (BRISA SOPRA).
(BRISAESCORREGA PELO ESCORREGA ATE O CENTRO DO PALCO.NUVEM E
A PENTEADEIRA DESLIZA E DESAPARECEM PELA LATERAL DO PALCO.
NOVO TROVÃO. TUDO ESCURO.)

CENA 3 Na horta
( A HORTA É VERDE TUDO ESTA VERDE. SENTADO NO CENTRO DO PALCO
VE_SE SEU ALFACE ENRROLADO EN VÁRIOS MANTOS VERDES QUE SE
ALATRAM PELO CHÃODANDO FORMA A UM PÉ DE ALFACE. SEO
ALFACEFICA IMÓVEL TODO O TEMPO PRESO EM SUAS FOLHAS. ENTRE O
VERDE VÊ_SE O ROSTO DE BRISA).
Brisa - Tô verde! Tô verde! (ALEGRE E EMOCIONADO).Tô verde! verde feito uma floresta.
Tenho uma cor. Todos mim vêm. Afinal tenho uma cor.
Alface - Verdimente. Mas você não está em uma floresta, você está em uma horta.
Brisa - Numa horta?
Alface - Mais precisamente em mim, no seu alface.
Brisa- Eu estou em uma Alface?
Alface- Exatamente, você caiu numa alface. muito prazer.
Brisa - Prazer...
Alface - Finalmente. alguém para conversar...
Brisa - Tudo que o senhor diz acaba em mente.
Alface - Perfeitamente.
Brisa - Por que?
Alface - Verdadeiramente só assim as palavras ficam maiores e o tempo demora a passar.
Brisa - Mas...desculpa seu alface, porque o senhor quer que o tempo demore a passar?
Alface - Infelizmente aqui não acontece nada. O verde é uma cor bonita, mas que fica parado o
tempo todo. As vezes eu mim mexo um pouquinho mas só quando tem uma brisa ou um
ventinho. Mas hoje evidentemente está tudo parado.
Brisa - Engraçado, eu era uma brisa.
Alface - Negativamente, eu vi. Você é um pingo de chuva que agora está verde por que eu lhi
chupei para dentro de mim

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Brisa - E como é que eu saio daqui?
Alface - Nucamente.
Brisa - O que?
Alface - Naturalmente, meu filho. De agora em diante você será verde alface para sempre.
Brisa - Pra sempre?
Alface - Sempremente verde. Verde verde verde. Verde parado verde tranqüilo verde verde verde
Brisa - Parado igual ao azul do céu?
Alface - Igualmente.
Brisa - Nunca imaginei ser tão chato "ter verde".
Alface - Hum...umente! Humente! primeiramente podemos pensar.
Brisa - Pensar? Eu quero é brincar. Correr como eu corria. Verde, Verde que idéia a minha.
Alface - Surpreendentemente dever é o contrário do verde. Concorda?
Brisa - De - ver. ver - de. É mesmo verdade.
Alface - E o dever do verde, principalmente é ficar parado. ao verde a1face digo.
Brisa - Um saco. Imagina ficar a vida inteira aqui, numa horta, parado Ta frio aqui e... além do
mais... (ALFACE INTERROMPE).
Alface - Psiu! Psiu! Quieto! pacificamente quieto.
Brisa - O que é?
Alface - Psiu! Escuta! Afinadamente escuta!
Brisa - Eu não quero "ter" verde não.
Alface - Passos, ouço passos! Alguém está entrando na horta...certamente está se aproximando da
gente. (PASSOS AO LONGE)
Brisa - Epa! Epa! Que barulheira é essa?
Alface - É o Joãozinho, o dono da horta obviamente.
Brisa - Que cera é essa seu alface? (ALFACE CHORA) por que o senhor está chorando?
Alface - Por que nesta hora eu queria ser azul, azulmente! (PASSOS MAIS FORTES. AMBOS
SE BALANÇAM).
Brisa - Epa! Epa! Tá ficando esquisito... Ta tremendo tudo...
Alface - Desgraçadamente o verde chegou ao fim!
Brisa - O que? vamos fugir.
Alface - Verde não anda, lembra? verdimente falando não temos escapatória.
Brisa - (Gaga) me-me expli-plica u-uma co-coisa só seu alface o Joãozinho é me-mesmo o do-
dono da hor-horta?
Alface - É, ele vai comer a gente, comer a alface que ele plantou. Ta na cara não tá? Nos vamos
parar dentro do Joãozinho estupidamente.
Brisa - Que loucura!
Alface - Concordo plenamente! Plenamente!

CENA 4 - No Joãozinho
(TUDO ESCURO, TAMBORES)
Coro - (FORADE CENA)
Nhoque! Nhoque!. Nhoque!
Colhe a Alface! Carrega a alface.
Nhoque! Nhoque! .Nhoque! (BIS)
Lava a alface.
Seca a alface.
Nhoque! Nhoque! Nhoque! (BIS)
Prepara a alface.
Arruma a alface.
Nhoque! Nhoque! Nhoque! (BIS)
Arruma a alface.

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Seca a alface.
Nhoque! Nhoque! Nhoque! (BIS)
Engole a alface.
Engole a alface.
Nhoque! Nhoque! Nhoque!
Nhoque! Nhoque! Nhoque!
Glup! Glup! Glup!
Acabou a alface.
Ik. Ik. Ik. Ik. Ik.
Brisa - (Fora DE CENA) E Agora seu alface, onde a gente se meteu?
Alface - O pior já passou, rapidamente.
Brisa - Me diz, onde a gente ta?
Alface - Sinceramente, acho que dentro do Joãozinho.
Brisa - Na barriga?
Alface - É, na barriga. Quer dizer, humanamente falando no estômago.
Brisa - No estômago do Joãozinho?
Coro - Eéééééàééééééééééé! (EXAGERADO)

CENA 5 - No Estômago
(NO ESTÔMAGO TUDO É PRETO; O PALCO SE MANTEM APAGADO TODO
TEMPO. DOIS ATORES REPRESENTA OS TRABALHADORES DO ESTÔMAGOH;
ELES TRAJAM DE PRETO; TODOS ACENDEM LANTERNAS QUE SERÃO AS
ÚNICAS FONTES DE LUZ. KID E KIDA ACENDEM.BRISA ESTÁ DE PRETO E O
ALFACE DE VERDE).
Kid - Boa noite. Ik.
Kida- Bem vindos ao estômago do Joãozinho. Ik. (ELES FOCAM COM AS
LANTERNASTERIIAS BRISA E ALYACE) ; -
Kid - Acenda suas lanternas. Ik.
Brisa - Veja seu alface, eu estou preta! Que legal eu não tenho mais verde... Agora só tenho
negro. Eu mudei de cor, mudei!
Alface - Respeitosamente falando, quem são os senhores?
Kid - Os trabalhadores do estômago. Kid soluço e Kida soluça. Ik.
Brisa - Porque acontece isso? a voz da gente repete. Repete.
Kida - O estômago é grande e fechado. 0m buraco enorme para a gente que é um pontinho
preto no meio desta multidão. Por isso aqui tem eco. Eco.
Brisa - Ora! O céu é que é grande.
Kid - Ela não sabe ainda...
Kida - Que o tamanho das coisas depende da vontade da gente.
Brisa - Não entendi nada Kid.
Kid Matemática. Todo preto é ótimo em matemática.
Brisa - Detesto matemática.
Kid - Pois trate de aprender se quiser ser prato. ik.
Brisa - Já vi que vou detestar essa cor...
Kida - As pessoas acham o preto uma cor sem graça e burra, mas não é não.
Kid - Eles tem medo do preto Kida.
Kida - Porque a noite é preta Kid.
Kid - Por que o escuro à negro Kida.
Kida - Todos se esquecem que o preto mede a sombra, o que é muito difícil Kid.
Kid. O que é muito difícil Kida.
Kida - Calculo matemática puro. A sombra sai sempre certinha. E depende da distância.
Kid - Quer ver? (DIRIGE SEU FEIXE DE LUZ SOBRE BRISA)

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Kida - Veja, se a luz se aproxima a sombra aumenta, se a luz se afasta a sombra diminui.
Parabéns Kid, Ótimos cálculos. Ik.
Alface - O preto é uma cor muito inteligente .Matematicamente falando, acho que eles não têm
muita oportunidade de aparecer, por que estão sempre mexendo com números.
Lembrem-se, a ponta de um bom lápis é sempre preta.
Brisa - E porque vocês estão aqui? vai me dizer que o Joãozinho come números. (KID E KIDA
RIEM).
Kida - Não, claro que não. Mas é Kid e Kida aqui os soluços do estômago que calculam e
pesam as comilanças do Joãozinho.
Kid - A gente divide a comida que o Joãozinho come.
Kida - Diminui. Ik.
Kid - Junta a comida, soma, mistura.
Kida Matemática pura. Ik.
Kid - Exemplo Kida.
Kida - Exemplo Kid. Ik! (EXAMINA UM LIVRO ENORME)
Kid - De acordo com os nossos cálculos... Um!!! O corpo do Joãozinho está precisando de
vitamina... B.
Kida - Seu alface o senhor aceita ser vitamina B?
Alface: - Respeitosamente perguntando, que cor é vitamina B?
Kid - Verde. lk!
Kida - Verde igual a uma alface. lK!
Alface - Prazerosamente aceito.
Kid a Kida - viva!Viva! Viva! Ik! Ik! Ik!
Brisa - Mas seu alface, o senhor não quer aproveitar a chance e mudar de cor? Deixar essa
chatura de verde?
Alface - Não. Apaixonadamente conheci uma uvinha verde e tenho certeza que ela esta por aqui.
Kida - Eu acho que está sim, deixa eu ver nas anotações. Ik. (KIDA PEGA O LIVRO)
Brisa - E eu?
Kid - Brisa se voa» quiser pode ficar aqui com a gente e ser prato. Ik.
Brisa - O problema é a matemática. E depois aqui dentro... ninguém nunca vai me ver.
Kida Achei a uvinha seu alface, ela é vitamina B também.
Alface - Oh! Oh! Não posso perder tempo, qual é o caminho? Aqui está muito escuro.
Nervosamente Falando, vocês acham que eu estou bem?
Kid e Kida - Ótimo, maravilhoso Ik! Ik!
Alface - Bem, amadamente falando, para os que ficam meu adeus.
Brisa - Pera aí seu alface. O senhor não pode me deixar sozinha.
Alface - O reino das cores é assim, minha cara. Amigamente falando cada um por si deve achar o
seu caminho. (REAÇAO DE BRISA).
Kida - Siga a esquerda dez passas, depois, desça a escada do umbigo e entre no fígado. Lá
receberá novas instruções. Ik!
Kid - E boa sorte! Ik!
Alface - Obrigado gente. E boa sorte Brisa. Espero sinceramente que você encontre a cor de seus
sonhos. Tchau! Adeus!
Kid e Kida- Tchal! Adeus! Cuidado com os degraus. Ik. Ik.
Kida - Que cara é essa Brisa?
Brisa - TÔ!... Ah!... Sei lá....
Kid - Dor de cabeça?
Brisa - Ah! Não agüento esse eco. Sempre se repete a ultima palavra! Meus ouvidos
Kida - Dor de ouvidos na certa Kid. (BRISA COMEÁ A ANDAR O PALCO DE UM LADO
PARA OUTRO)
Brisa - Não sei para onde vou, que cor eu quero ter?

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Kida - Daqui vai para vários lugares. Para qualquer parte do corpo. Ik!
Kid - É só escolher. Ik!
Kida - Quer virar coco?
Brisa- Coco não! Coco não!
Kid - Virar xixi, entao!
Brisa - Não! Não! Não!
Kida - Vitamina verde Ik!
Brisa - Não! Não!
Kid - Não ande assim depressa porque aqui é muito escuro. Ik!
Kida - Cheia de portas e buracos. Ik!
Kid - Você pode se perder. Cuidado, não mexa em nada.
Brisa - Que mim importa? quero ter outra cor. Meus ouvidos!
Kida - Não disse, dor de ouvidos. (BRISA PUXA A ALÇA DE UM ALÇAPÃO).
Kid - Não! Não, aí não! Ik!
(DO AIÇAPÃO SE PROJETA UMA FORTE LUZ VERMELHA E SAI UMA DENSA
FUMAÇA.BRISA BERRA E SOME PELO ALÇAPÃO COMO SE FOSSE TRAGADO
POR ELE. KID E KIDA FICAM DESESPERADOS E INTRÍGADOS)
Kida - Ela caiu. Ela se foi. Ik!
Kid - O que será que vai acontecer com ela? Ik!
Kida - Também quem mandou mexer nas paredes do estômago? No escuro se deve ter cuidado.
Ik! (FECHAM O ALÇAPÃO).
Kid - É. Ela sé meteu em encrencas Kida. Ik!
Kida - E das grossas Kid soluço. Ik!
Os Dois - Soluço! Soluço! Soluço! Ik! Ik! Ik!

FIM DO PRIMEIRO ATO

CENA 6 - No sangue
(O PALCO NÃO SE ILUMÍNA. UX FOCO DE LUZ PERCORRE TODA A PLATEIA.
TAMBORES OU MÚSICA AGITADA. O FOCO ALCANÇA E SE FIXA EM DOIS
ATORES QUE TRAJANDOVERMELHO CORRE DESVAIRADOS EM FILA
INDIANA PELOS CORREDORES DA PLATÉIA. O SANGUE REPRESENTNDO
PELOS VERMELHOS NÃO PARA NUNCA, ISTO É, OS ATORES SEMPRE SE
MEXEM).
Vermelhos - Em frente! Sempre andando! Depressa! O sangue não para nunca!
Vermelho 1 - O sangue não pode parar, circula pelo corpo!
Vermelho 2 - O sangue girar!
Vermelho 3 - Agita muito.
Vermelhos - O vermelho não para nunca! Nunca! Pra cima! Pra baixo! Pra cima! Pra baixo!
Vermelho 2 - Corre nas veias.
Vermelho 3 - Nas artérias.
Vermelho 1 - Agita. É a vida.
Vermelho 2 - É vida!
Vermelho 3 - É revolução.
Vermelho 2 - É fogo! Com ele não se brinca.
Vermelhos - O vermelho é sangue! Piuiiii! Piuiiii! Piuiiii!
Vermelho 1 - Vocês agora estão no sangue do Joãozinho.
Vermelho 2 e 3 - Piuiii! Piuiii! Piuii!
(VERMELHOS SOBEM NO PALCO. O CENÁRIO SE ILUMINA DE VERMELHO.
VÊ-SE BRISA TRAJANDO VERMELHO E CAIDA NO CHÃO).

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Vermelho 1 - Levanta.
Brisa - Mas o que é isso? Onde eu cai?
Vermelho 2 - Sangue não parar está sempre trabalhando!
Vermelho 3 - Senão o Joãozinho não cresce!
Vermelho 1 - Não Corre!
Vermelho 2 - Não pensai
Brisa - Eu estou vermelho. Vermelho! (emocionada) A cor mais forte!
Vermelho 1 - Mexa-se! Mexa-se! (BRISA SE LEVANTA E RODOPEIA ENTRE VERMELHOS).
Brisa - Por que?
Vermelho 1 - Porque agora você é sangue.
Vermelho 2 - O maior trabalhador do estômago!
Vermelho 3 - Estamos em toda os lugares.
Vermelho 2 - Levamos e trazemos mensagem dia e noite.
Brisa - Que ótimo! Uma cor agitada e que aparece.
Vermelho l - Aparece sempre.
Vermelho 2 - Na língua. (MOSTRA A LÍNGUA. REAÇÃO DE BRISA).
Brisa - E o que mais?
Vermelho 2 - Concertamos os machucados.
Vermelho l - Lutamos contra os micróbios!
Vermelho 3 - Contra as bactérias e as doenças. (BRISA PARA DE RODOPIAR).
Brisa - Que legal... E Aí? .
Vermelho l - E aí da febre.
Brisa - Quer dizer que febre é sinal de luta?
Vermelho 2 - Batalha entre o sangue e as bactérias.
Vermelho l - Nós somos o exército do corpo do Joãozinho.
Vermelho 2 - Mexa-se! Mexa-se! (BRISA SE ASSUSTA E RODOPIA).
Vermelho l - Por isto o vermelho está sempre alerta!
Vermelho 3 - Se mexendo e olhando para todos os lados.
Vermelho 1 - Todo sinal de perigo é vermelho, certo?
Brisa - Certo.
Vermelhos - Certo! Um, dois, três, Piuiiii! Piuiiii! Piuiiiii!
(VERMELHOS E BRISA SE JUNTAM, FORMAM UMA FILA INDIANA, DESCEM
D0 PALCO E INICIA UMA CAMINHADA PELA PLATEIA. FOCO DE LUZ
VERMELHA. O PALCO SE APAGA).
Brisa - Onde nós vamos?
Vermelho 1 - Vistoriar a orelha.
Vermelho 2 - Saber se ela está limpa e levar oxigênio para escutar melhor.
Vermelho 3 - Certo?
Brisa - Certo!
Vermelho l - Podemos aproveitar e passar pelo nariz.
Vermelho 2 - Vê se o ar está entrando limpo.
Vermelho 3 - Certo?
Brisa - Certo. (TEMPO. BRISA PARA).
Vermelho 2 - Mexa-se!
Brisa - Pera ai! E a gente não descansa, dorme, brinca?
Vermelho 1 - Não! Impossível! Devemos estar sempre alerta.
Vermelho 3 - Mexa-se. Mexa-se.
Brisa - Ah! Que cansaço!
Vermelhos - O que? O que?
Brisa - Quero sentar.
Vermelhos - O que? O que?

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Brisa - Pensando bem... Sabe que o verde é uma cor mais legal?
Vermelho 1 - Um vermelho que se presa jamais senta.
(BRISA SENTA-SE NO BANCO DE UMA DAS PLATEIAS).
Brisa - Não agüento mais!... To cansada. E alem do mais essa história de trabalhar! Trabalhar...
Luta! Luta! Ordem! Ordem!... Ah! Quando eu era Brisa eu soprava onde eu queria.
Tinha a maior liberdade.
Vermelho 2 - Mexa-se! Mexa-se!
Brisa - Não! Não e não!
Vermelho 1 - Então não tem solução!
Brisa - Deixa eu descansar um pouquinho...
Vermelho 2 - Temos que tomar uma resolução!
Brisa - Calma gente, que sufoco...
Vermelho 3 - Você não pode ser vermelho, isso seria uma aberração.
Brisa - O que é aberração?
Vermelho l - Encontrei a solução!
Vermelhos 2 e 3 - Qual?
Vermelho l - Ele deve ir conversar com o Coração!
Vermelhos 2 e 3 - Com o Coração? (OS VERMELHOS APONTA PARA O PALCO. O FOCO SE
APAGA. TUDO ESCURO).

CENA 7 No Coração.
(O PALCO SE ILUMINA DE VERMELHO. NO CENTRO VÊ-SE SEU CORAÇÃO.
BATIDAS DE CORAÇÃO NO FUNDO. NA FRENTE DE SEU CORAÇÃO VÊ-SE
VÁRIOS TELEFONES SOBRE UMA MESA. O CORAÇÃO TRABALHA COMO SE
FOSSE UM EXECULTIVO DE BOLSAS DE VALORES).
Coração - (AO TELEFONE) Providenciarei. Claro: Vou mandar o sangue verificar essa coceira na
cabeça Será piolho? esse menino precisa tomar banho! (DESLIGA. PEGAOUTRO
TELEFONE) vá catar piolho. Errei. Digo: Não deixe o piolho entrar na cabeça!
concentre força para uma possível batalha.(PAUSA) Entre o sangue e o piolho, ora!
(BRISA SE APRESENTA AINDA DE VERMELHO)
Brisa - Seu Coração.
Coração - Mexa-se! O sangue não pode parar.
Brisa - É por isso mesmo que eu estou aqui. Eu não quero ser mais vermelho.
Coração - Estou muito ocupado. Esse Joãozinho não para. Pera aí. (AO TELEFONE) O que unha
encravada? Esse menino não corta unha? Incha o dedo dele. Deixa o dedo bem inchado
e vermelho. Manda o sangue pra lá. (DESLIGA) Mexa-se.
Brisa - E o meu problema?
Coração - Que problema? Eu estou cheio de problemas. Não paro nunca! Sempre tum, tum, tum,
tum, tum, tum,tum! E quando o Joãazinho resolve beijar a Marisa? É tum-tum, tum-tum,
tum-tum, tum. E quando ele não estuda e tem prova? Aí é tum tum tum tum tum tum. O
Coração dispara, eu disparo. trabalheira...
Brisa - Seu Coração, o sangue disse que eu sou uma aberração e eu não sei o que é uma
aberração.
Coração - Vá ao cérebro e peça ao olho para olhar mo dicionário. Um momentinho... (AO
TELEFONE) Alô! Coração a suas ordem. Sim. Sim. Ah! Ah! Ah! Pois não. . .
Brisa - Quem é?
Coração - O cérebro. Importantíssimo.
Brisa - O que é?
Coração - (AO TELEFONE) Claro, pode contar comigo!
Brisa - Talvez ele possa resolver meu problema...
Coração - O cérebro está uma fera.

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Brisa - Mais porque?
Coração - Ainda não terminou a aula e o Joãozinho já está pensando na hora do recreio.
Brisa - Que confusão! Desisto.
Coração - (AO TELEFONE) Imediatamente! Obrigado! Até logo. (DESLIGA) Mexa-se! (BRISA
LEVANTA E SE MEXE)
Brisa - Há seu Coração! Dizem que o senhor é tão bom. Resolva o meu problema...
Corrosão - Agora eu vou ficar oculpadissimo! Joãozinho vai jogar bola (PEGA OUTRO
TELEFONE) Sangue para as pernas dele. A batata da perna tem que ficar bem forte para
ele fazer um gol. E não se esqueça do cotovelo, ele tem que dar umas cotoveladas
também.
Brisa - E o meu problema... (PARA E CHORA).
Coração - Que problema meu filho? Estou oculpadissimo...
Brisa - Eu quero sair do corpo do Joãozinho de qualquer jeito. Eu não quero ter mais cor.
Coração - Deixa eu pensar... Tum-tum, tum-tum, tum-tum. Tive uma idéia. (OUVE-SE UM
APITO. TEMPO) Vai começar uma partida de futebol. Tum-tum, tum-tum, tum-tum...
Brisa - Dá um jeito seu Coração.
Coração - Gosta de amarelo?
Brisa - Amarelo!?
Coração - Vou te mandar para a Pele.
Brisa - Mas Pele de gente é amarelo?
Coração - No caso do joãozinho que é filho de japonês é amarelada. O nome dele é Joãozinho
Tanaka
Brisa - Não brinca...
Coração - Ele mora em São Paulo e o pai dele é dono de uma horta.
Brisa - Eu estou em São Paulo?
Coração - No interior de São Paulo.(PEGA UM TELEFONE. AO TELEFONE). Alô! Dona Pele?
Como vai, tudo bem? Aqui é o Coração. Vou bem, trabalhando muito como sempre.
Muitíssimo. Tum-tum! Tum-tum! Tum-tum! Escuta, será que por acaso... (SUA VOZ SE
PERDE).
Brisa - Amarelo!?
Coração - Tum-tum! Tum-tum! Tum-tum... (BATIDAS CARDIACAS ACELERADAS).

CENA 8 - Na Pele
(OUVE-SE UMA FLAUTA SUAVE. UM TOM AMARELADO LENTAMENTE
TOMA CONTA DO PALCO. DEBAIXO DE UM GUARDA SOL AMARELO E
CUJAS BORDAS DESCEM TIRAS AMARELAS, VEM CAMINHANDO DONA
PELE. A PELE FICA SEMPRE EMBAIXO DO GUARDA SOL NUNCA SE VENDO
SEU ROSTO.)
Pele - Que é você? Quem é? Se aproxime por favor. Eu quase não enxergo... A Pele só sente.
(BRISA VESTIDA COMO PELE)
Brisa - Seu Coração me mandou.
Pele - Você... Já sei... É o vermelho que quis virar amarelo.
Brisa - Eu estou amarelo?
Pele - Está sim, amarelo feito as margaridas do campo.
Brisa - Não vejo nada.
Pele - Já disse, a Pele não vê só sente.
Brisa - Engraçado esta cor, todos me vem mas eu não vejo ninguém. Justamente o contrário do
que eu era.
Pele - Nada é perfeito.
Brisa - E como foi que eu cheguei aqui?

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Pele - Você virou suor. O Joãozinho está jogando bola, não está? E toda vez que se faz
exercícios o suor aparece na Pele das pessoas.
Brisa - Ah! Entendi.
Pele - Você gosta de ter amarelo?
Brisa - Não deu pra curtir ainda. (TEMPO)
Pele - Esteja a vontade. (TEMPO)
Brisa - Obrigado. E... Bem... Aqui não acontece nada, quer dizer a gente não trabalha, não
brinca?
Pele - Claro.
Brisa - Mas como? Não se enxerga nada!
Pele - Sinta! Sinta a roupa sobre a Pele! Sinta o calor do sol! Ah! É Tão bom quando a gente
ganha um beijo... ou um aperto de mão... ou toma banho de mar... (TEMPO).
Brisa - A senhora é muito romântica dona Pele.
Pele - Sou sim. Preste atenção: tire o "elo" do amarelo e me diga o que sobra.
Brisa - "A-ma-re-lo" menos "elo" é igual a... amar!
Pele - "Amar"... Amar é sentir. Por isso a Pele não vê, só sente e ama. Amar é sentir.
Brisa - Ama o que?
Pele - Tudo. A brisa por exemplo. Quando a brisa aparece...
Brisa - (INTERROMPENDO-A) Brisa não tem cor, Brisa não aparece.
Pele - (Ri). Aparece sim. A brisa tem um modo todo especial de aparecer A gente sente a brisa.
Ela toca na gente. A brisa é a carícia do vento. A brisa soprando refresca os
trabalhadores, traz os perfumes das flores e faz as ondas do mar.
Brisa - Um modo especial de aparecer!
Pele - Muito especial. Brisa é assim.
Brisa - E eu, idiota, procurando uma cor.
Pele - Seja aquilo que você é! Seja.
Brisa - Agora não da mais... Bem que dona nuvem me falou...
Pele - "Quem" falou o "que"?
Brisa - Esquece, é uma história muito cumprida. Sou burro, idiota...
Pele - Não resmunga, se você não gosta de amarelo não precisa ficar aqui, é só sair.
Brisa - Como?
Pele - Evaporando como gota d'água, virando ar.
Brisa - Por favor, me ajude dona Pele. Eu quero evaporar. Preciso.
Pele - É muito perigoso.
Brisa - Por que?
Pele - Você deve esperar o chamado de uma nuvem e subir pela escada que ela te jogar.
Brisa - Mais isso é muito fácil. Subir em uma escada eu tiro de letra.
Pele - Mas lembra: Amarelo não enxerga. Só sente. E subir por uma escada sem enxergar os
degraus é muito difícil. É quase impossível. É muito alto e arriscado.
Brisa - Se é a única saída, lá vai: (ALTO) Dona nuvem! Dona nuvem! Me ajuda. Ajuda minha
amiga. Me tira daqui...
Pele - você tem amigos no céu
Brisa - Acho que tinha.
Pele - Seu pedido foi ouvido.
Brisa - Onde?
Pele - Sinta, ali tem uma corda.
Brisa - Que maluquice, não vejo nada. Como sabe que ali tem...
Pele - Vá ali! Sinta! E você ainda quer subir? (MELODIA SUAVE. BRISA ENCONTRA A
ESCADA)
Brisa - Ta aqui! Ta aqui! Achei!
Pele - cuidado, muito cuidado. Se você cair tudo está acabado.

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(PELE SE AFASTA ATÉ SUMIR. FLAUTA. BRISA ESTÁ EM PRIMEIRO PLANO).

CENA 9 - A evaporação
(PERIGO. DESAJEITADA BRISA INICIA SUA CAMINHADA. ELA SOBE
TENTANDO EQUILIBRAR O GUARDA SOL E TODO INSTANTE ACABA
TROPEÇANDO. PARECE QUE VAI CAIR. MÚSICA. TENSÃO.)

Brisa - Ah! Ah! Eu tenho que conseguir... (PARA NO MEIO DO CAMINHO) Alguém me ajude
por favor. Dona nuvem! Dona nuvem! (A ESCADA BALANÇA) Se eu soubesse...
Nunca teria me metido nessa história... Dona Nuvem! Dona Nuvem!
Nuvem - (FORA DE CENA. RISO ALTO) Então, tá achando divertido aparecer?
Brisa - Dona Nuvem, me leva de volta para o céu, esta escada é um perigo, eu preciso subir.
Nuvem - (FORA DE CENA) Isso só depende de você, de sua força, de sua vontade. Você pode,
vamos, vamos, suba.
Brisa - (OLHA PARA BAIXO) Como? Eu não enxergo direito.
Nuvem - Firme a escada e sinta a corda. (BRISA SE ACALMA).
Brisa - Assim? (TEMPO)
Nuvem - (FORA DE CENA) É. Devagar. Com calma. (TEMPO)
Brisa - Esse guarda sol amarelo está me atrapalhando...
Nuvem - (FORA DE CENA. RI) Ora, jogue o amarelo fora.
Brisa - E pode?
Nuvem - (FORA DE CENA) Você se sente Pele?
Brisa - Não!
Nuvem - (FORA DE CENA) Então? Seja você mesmo! Faça o que deve ser feito e suba! Você
tem muito que contar.
(SATISFAÇÃO DE BRISA. ELA SE DESCOBRE E JOGA O GUARDA SOL.
INSTANTE. TUDO ESCURO.)

cena 10 - Volta ao céu


(DONA NUVEM CANTAROLA EM FRENTE A PENTEADEIRA)
Nuvem - Lá! Lá! Lá! Eu sou a nuvem branca que joga talco em mim! Mais talco aqui! Outro tanto
ali! Lá! Lá! Lá!
(BRISA ENTRA ALEGRE. VESTE ROUPA TRANSPARENTE)
Nuvem - Ai que susto!
Brisa - Cheguei.
Nuvem - Já sei que chegou. E chegou bem?
Brisa - Otimamente! Pareço o verde falando!
Nuvem - O que?
Brisa - Nada.
Nuvem - Valeu apenas ter cor?
Brisa - Pelos meus cálculos! Ué! Pareço o preto pensando.
Nuvem - O que?
Brisa - Ik! Nada.
Nuvem - E você aprendeu alguma coisa, pelo menos está acreditando mais em você?
Brisa - (AFIRMA COM A CABEÇA) Sabe que eu tenho um modo todo meu de aparecer?
Nuvem - O amarelo te contou, não foi?
Brisa - Como é que a senhora sabe?
Nuvem - As cores conversam Brisa, se entendem melhor que as pessoas. Não deu pra perceber?
Brisa - É verdade. (PAUSA) Para onde a senhora quer ir?
Nuvem - Veio com vontade de trabalhar é, de soprar?

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Brisa - Aprendi com os Vermelhos. Aprendi com as cores uma porção de coisas, valeu apenas.
Nuvem - Então muito bem, me sopre para o nordeste, vamos fazer chover lá. (TEMPO) Vamos,
sopra! Já não quer mais trabalhar criatura? (TEMPO).
Brisa - Trouxe um presente para a senhora.
Nuvem - Que presente?
Brisa - Uma descoberta minha.
Nuvem - Que descoberta? Lá vem você com outra confusão.
Brisa - Não é confusão. É que nas minhas andanças eu descobri uma coisa muito legal.
Descobri que não é importante que eu tenha cor, o importante mesmo é poder curtir as
cores e trazer as cores de presente para todo mundo.
Nuvem - Como assim?
Brisa - Soprando! Soprando! Soprando e trazendo o arco-íres.

FIM

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