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Filosofia

Professora Maria Helena Soares


Aula 2:
Pré-socráticos, Sócrates e Sofistas

Do mito à filosofia:
O que é um mito? Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra,
dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença,
da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder, etc.).
A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar
alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos,
mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque
confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e
confiabilidade da pessoa do narrador. E essa autoridade vem do fato de que ele ou testemunhou diretamente
o que está narrando ou recebeu a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos narrados.
Quem narra o mito? O poeta-rapsodo. Quem é ele? Por que tem autoridade? Acredita-se que o poeta é um
escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de
todos os seres e de todas as coisas para que possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra – o mito – é sagrada
porque vem de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável.
Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe? (...) o mito narra a origem das coisas
por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino
dos homens. Como os mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que são cosmogonias e
teogonias.
A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar, fazer nascer e crescer)
e do substantivo genos (nascimento, gênese, descendência, gênero, espécie). Gonia, portanto, quer dizer:
geração, nascimento a partir da concepção sexual e do parto. Cosmos, como já vimos, quer dizer mundo
ordenado e organizado. Assim, a cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, a
partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas. Teogonia é uma palavra composta de gonia e theós, que, em
grego, significa: as coisas divinas, os seres divinos, os deuses. A teogonia é, portanto, a narrativa da origem
dos deuses, a partir de seus pais e antepassados.
Qual é a pergunta dos estudiosos? É a seguinte: A Filosofia, ao nascer, é (...) uma cosmologia, uma
explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas;
para isso, ela nasce de uma transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical com os mitos?
Continua ou rompe com a cosmogonia e a teogonia?
Duas foram as respostas dadas.
A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e começo do século XX, quando reinava um grande
otimismo sobre os poderes científicos e capacidades técnicas do homem. Dizia-se, então, que a Filosofia
nasceu por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da realidade produzida
pelo Ocidente.
A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudos dos antropólogos e dos
historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural das sociedades e como os
mitos estão profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma sociedade. Por isso, dizia-se
que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a Filosofia nasceu, vagarosa e
gradualmente, do interior dos próprios mitos, como uma racionalização deles.
Atualmente consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que a Filosofia, percebendo as
contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-
as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente.

Quais são as diferenças entre Filosofia e mito? Podemos apontar três como as mais importantes:
1. O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, longínquo e
fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A Filosofia, ao
contrário, se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na totalidade
do tempo), as coisas são como são;

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2. O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas
sobrenaturais e personalizadas, enquanto a Filosofia, ao contrário, explica a produção natural das coisas por
elementos e causas naturais e impessoais.
O mito falava em Urano, Ponto e Gaia; a Filosofia fala em céu, mar e terra. O mito narra a origem dos
seres celestes (os astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com
Urano e Ponto. A Filosofia explica o surgimento desses seres por composição, combinação e separação dos
quatro elementos - úmido, seco, quente e frio, ou água, terra, fogo e ar.
3. O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não só porque esses
eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito vinham da
autoridade religiosa do narrador. A Filosofia, ao contrário, não admite contradições, fabulação e coisas
incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da
explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos.
(CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, p 31-35)

Os pré-socráticos
Os primeiros filósofos gregos em geral escreveram pouco, e em condições que a rigor nos são mal
conhecidas. Por exemplo, não sabemos como intitularam seus escritos, ou mesmo se os intitularam, em
circunstâncias que não eram certamente as de uma publicação regular. Foram eles que em parte criaram essas
circunstâncias, pelas quais um livro naturalmente se apresenta com o título. O destes primeiros escritos, com
as exceções correspondentes a uma incipiente variedade de produção, é um só, talvez generalizado pela
tradição: "Peri Physeos", i. é, "Sobre a Natureza".
Palavras-chave:
Physis: Natureza, enquanto origem e fim de tudo. Arché ou arqué: princípio unificador que
Nomos: convenção, leis, ética. explica a physis.

O que faria de Tales de Mileto o primeiro filósofo?


A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem de
todas e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por
três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em
segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora
apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: “Tudo é um”. A razão citada em primeiro
lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa
sociedade e no-lo mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o
primeiro filósofo grego. Se tivesse dito: “Da água provém a terra”, teríamos apenas uma hipótese
científica, falsa, mas dificilmente refutável. Mas ele foi além do científico. Ao expor essa
representação de unidade através da hipótese da água, Tales não superou o estágio inferior das noções
físicas da época, mas, no máximo saltou por sobre ele. As parcas e desordenadas observações de
natureza empírica que Tales havia feito sobre a presença e as transformações da água ou, mais
exatamente, do úmido, seriam o que menos permitiria ou mesmo aconselharia tão monstruosa
generalização; o que o impeliu a esta foi um postulado metafísico, uma crença que tem sua origem em
uma intuição mística e que encontramos em todos os filósofos, ao lado dos esforços sempre renovados
para exprimi-la melhor – a proposição: “Tudo é um”.
(...) Os gregos, entre os quais Tales subitamente se destacou tanto, eram o oposto de todos os
realistas, pois propriamente só acreditavam na realidade dos homens e dos deuses e consideravam a
natureza inteira como que apenas um disfarce, mascaramento e metamorfose desses homens-deuses. O
homem era para eles a verdade e o núcleo das coisas, todo o resto apenas aparência e jogo ilusório.
Justamente por isso era tão incrivelmente difícil para eles captar os conceitos como conceitos: e, ao
inverso dos modernos, entre os quais mesmo o mais pessoal se sublima em abstrações, entre eles o
mais abstrato sempre confluía de novo em uma pessoa. Mas Tales dizia: “Não é o homem, mas a água,
a realidade das coisas”. (NIETZSCHE, Friedrich. A filosofia na época trágica dos gregos. In: Os pré-
socráticos. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. pp.10-11. “Coleção Os Pensadores”).

Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eleia: o Devir e o Ser


Fragmentos de Heráclito
*Fragmento 49 – Descemos e não descemos os mesmos rios; somos e não somos.

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*Fragmento 6 – (O Sol é) novo todos os dias.
*Fragmento 30 – Este mundo, igual a todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o fez;
sempre o foi, é e será um fogo eternamente vivo, acendendo-se e apagando-se conforme a medida.
*Fragmento 45 – Mesmo percorrendo todos os caminhos, jamais encontrarás os limites da alma,
tão profundo é o seu logos.
*Fragmento 58 – (Bem e mal são uma e a mesma coisa). Os médicos cortam, queimam, (torturam
de todos os modos os doentes, exigem) um salário, ainda que nada mereçam, fazendo (lhes) um bem
semelhante (à doença).
*Fragmento 60 – O caminho para baixo e o caminho para cima é um e o mesmo.
*Fragmento 80 – É necessário saber que a guerra é o comum; e a justiça, discórdia; e que tudo
acontece segundo discórdia e necessidade.
*Fragmento 88 – Em nós, manifesta-se sempre uma e a mesma coisa: vida e morte, vigília e sono,
juventude e velhice. Pois a mudança de um dá o outro e reciprocamente.
*Fragmento 91 – Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio. Dispersa-se e reúne-se; avança e
retira.
*Fragmento 111 – A doença torna a saúde agradável; o mal, o bem; a fome, a saciedade; a fadiga, o
repouso.
*Fragmento 113 – O bem pensar é a mais alta virtude; e a sabedoria consiste em dizer a verdade e
em agir conforme a natureza, ouvindo a sua voz.
*Fragmento 113 – O pensamento é comum a todos.
O poema de Parmênides (fragmentos)
*Fragmento 2 – E agora vou falar; e tu, escuta as minhas palavras e guarda-as bem, pois vou dizer-
te os únicos caminhos de investigação concebíveis. O primeiro (diz) que (o ser) é e que o não-ser não
é; este é o caminho da convicção, pois conduz à verdade. O segundo, que o não é, é, e que o não-ser é
necessário; esta via, digo-te, é imperscrutável; pois não podes conhecer aquilo que não é – isto é
impossível -, nem expressá-lo em palavra.
*Fragmento 3 – Pois pensar e ser é o mesmo.
*Fragmento 6 – Necessário é dizer e pensar que só o ser é; pois o ser é, e o nada, ao contrário, nada
é: afirmação que bem deves considerar. Desta via de investigação, eu te afasto; mas também daquela
outra, na qual vagueiam os mortais que nada sabem, cabeças duplas. Pois é a ausência de meios que o
move, em seu peito, o seu espírito errante. Deixam-se levar, surdos e cegos, mentes obtusas, massa
indecisa, para o qual o ser e o não-ser é considerado o mesmo e não o mesmo, e para o qual em tudo
há uma via contraditória.
*Fragmento 7 – Jamais se conseguirá provar que o não-ser é; afasta, portanto, o teu pensamento
desta via de investigação, e nem te deixes arrastar a ela pela múltipla experiência do hábito, nem
governar pelo olho sem visão, pelo ouvido ensurdecedor ou pela língua; mas com a razão decide da
muito controvertida tese, que te revelou minha palavra.
*Fragmento 8 – Resta-nos assim um único caminho: o ser é. Neste caminho há grande número de
indícios: não sendo gerado, é também imperecível; possuí, com efeito, uma estrutura inteira,
inabalável e sem meta; jamais foi nem será, pois é, no instante presente, todo inteiro, uno, contínuo.
Que geração se lhe poderia encontrar? Como, de onde ele cresceria? Não te permitirei dizer nem
pensar o seu crescer do não-ser. Pois não é possível dizer nem pensar que o não-ser é. Se viesse do
nada, qual necessidade teria provocado seu surgimento mais cedo ou mais tarde? Assim pois, é
necessário ser absolutamente ou não ser [...].
(...) O mesmo é pensar e o pensamento de que o ser é, pois jamais encontrarás o pensamento sem o
ser, no qual é expressado. Nada é e nada poderá ser fora do ser (...).

Sócrates: o mestre ignorante e o método socrático


Conforme é sabido, Sócrates não deixou nenhum escrito, porém seus discípulos encarregaram-se de
transmitir à posteridade suas ideias e propostas epistemológicas e filosóficas. Sócrates valia-se de dois
métodos famosos, que o fizeram trazer grandes reflexões para os seus interpelados e discípulos. Aqui
pretendemos apresentar estes dois métodos e suas características.
O primeiro método famoso em todo pensamento socrático é a Ironia. Não se deve aqui, assumir o
sentido desse termo conforme a nossa língua corrente, ou seja, como zombaria, sarcasmo ou sátira.

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Mas, antes, como o sentido original da palavra grega, isto é, como questionamento que traz
uma refutação em busca do conhecimento e da percepção da ignorância:
A refutação (elénchos) consistia, em certo sentido, a pars destruens do método, ou seja, o método
socrático levava o interlocutor a reconhecer sua própria ignorância. Primeiro ele forçava uma
definição do assunto sobre o qual a investigação versava; depois, escavava de vários modos a
definição fornecida, explicitava e destacava as carências e contradições que implicava; então exortava
o interlocutor a tentar nova definição, criticando-a e refutando-a com o mesmo procedimento; até o
momento em que o interlocutor se declarava ignorante. (REALE, 2007, p.102)
Contudo, Sócrates não era um cético e sim uma pessoa crente na verdade que habitava no ser
humano e que era necessário um processo/método para descobri-la. A este método Sócrates deu o
nome de Maiêutica, ou seja, a parturição da ideia: “Frequentes vezes comparava sua tarefa a de uma
parteira, profissão de sua mãe, dizendo que ele mesmo não tinha que dar à luz sabedoria, mas apenas
ajudar os outros a parir suas ideias” (STÖRIG, 2009, p.124). Partindo do método irônico-refutador,
Sócrates ajuda ao outro a ir em busca da verdade e principalmente empenhava na descoberta e na
questão que sempre o incomodou: “Conhece-te a ti mesmo”.
Portanto, as grandes marcas metodológicas de Sócrates no pensamento da Paideia grega são seus
métodos diferenciados e que faziam o pensamento, as ideias e a verdade assumir seu caráter reflexivo
e epistemológico, não o deixando como opinião (doxa) e/ou retórica.
Sofistas: o método sofista
Devido ao pensamento de Platão e outros discípulos de Sócrates, os sofistas foram vistos apenas
como mercantilizadores do saber. Entretanto, com os estudos atuais e toda a reflexão histórico-crítica,
os pensadores têm os apontado como grandes conhecedores e retóricos de seu tempo que passavam
seus conhecimentos aos que podiam remunerá-los (existem autores que afirmam que os sofistas
também possuíam turmas gratuitas), sem ter por finalidade somente o caráter financeiro, mas antes a
democratização do saber (LISBOA, 2011, p. 113-116). Com o intuito de conhecer seu método e suas
ideias pretendemos aqui apresentá-los, para podermos fazer uma análise junto às características
socráticas.
O método sofista assumia um caráter de ensinamento dos saberes que obtinham de pensadores
anteriores e também da capacidade de defender a ideias e pensamentos que o sujeito tinha. Sua
característica mais marcante não é a busca do saber, mas antes de uma formação sobre os recursos da
linguagem e também sobre a arquitetura das ideias pessoais em busca da conquista e vitória,
retórico/oratória, do outro e seus argumentos.
Além disso, deve-se a eles grandes conquistas, destacando-se três realizações:
[…] os sofistas pela primeira vez na filosofia grega, desviaram o olhar da natureza e dirigiram-no
mais amplamente para o homem; segundo, foram eles os primeiros a fazer do pensamento objeto de
pensamento, dando início a uma crítica de suas condições, possibilidades e limites. E por último,
submeteram os padrões dos valores éticos a uma reflexão perfeitamente racional, com isso, abrindo
possibilidade de a ética ser tratada cientificamente, e de fazer-se dela um sistema filosófico coerente.
(STÖRIG, 2009, p.120)
Assim sendo, devemos superar o preconceito trazido no pensamento filosófico sobre os sofistas,
como somente charlatões do saber e assumi-los também como pensadores da realidade humana e
homens que distribuíam seu conhecimento a todos, mesmo que de forma remunerada. Ainda devemos
ter consciência de seu papel significativo de atenção à reflexão antropológica e ética.
Quanto as pontos de encontro entre Sócrates e os sofistas apresentamos 3 como mais marcantes, a
saber: ambos acreditam na capacidade de todo o ser humano conhecer e pensar; ambos utilizam
métodos para o processo de conhecimento, ainda que os empreguem de forma divergente; tanto
Sócrates (“Conhece-te a ti mesmo” e o conhecimento é virtude) como os sofistas (“o homem é a
medida de todas as coisas”) se atentam para questões antropológicas e éticas em detrimento das
científico-físicas.
Quanto aos pontos de divergência entre o método socrático e o sofístico, podemos também apontar 3
principais características, cuja relação é impossível desfazer: Sócrates se preocupa em descobrir a
verdade ou o saber verdadeiro, em contrapartida os sofistas estão preocupados em vencer o discurso,
com argumento retórico e não descobrir a verdade – alguns são considerados até mesmo cético ou
relativistas, ou seja, que não acreditam em uma verdade ou não podem atingi-la; Sócrates se considera
um desconhecedor ou ignorante contra os sofistas que se consideram os verdadeiros sábios; Sócrates

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modifica o centro do saber: “Mas o que Sócrates aplicava era uma forma particular de conversa e
ensinamento. A situação normal, em que o discípulo pergunta e o mestre responde, é nele invertida. É
ele quem pergunta” (STÖRIG, 2009, p.124).
Portanto, não se deve considerar Sócrates e os sofistas longes e/ou totalmente contrários, mas antes
ter atenção para seus devidos estilos de pensamento e de Paideia – sabendo perceber os pontos de
encontro/desencontro que um tomou do outro. Além disso, esta reflexão poderá nos ajudar a superar
os preconceitos investidos sobre os sofistas, que muitas vezes Platão e outros discípulos de
Sócrates/Platão passaram ao pensamento e história posterior.
Górgias (483-376 a.C) – “Um bom orador, é capaz de convencer qualquer um sobre qualquer coisa”.
Górgias sabia que não bastava apenas dizer o que se pensava ser verdadeiro e bom, era preciso, mais
do que nunca, convencer o ouvinte com a demonstração de argumentos coerentes (não exatamente
verdadeiros).
Protágoras ( 485-410 a.C) – “O homem é a medida de todas as coisas”.
Com essa afirmação, Protágoras exalta a capacidade humana de criar seus valores, suas regras, suas
verdades de acordo com vivências e necessidades, abandonando de vez toda e qualquer influência
divina.
Revisando o conteúdo com questões anteriores:

ENEM – 2012
Texto I
Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que
outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo que os
ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas,
transformam-se em água. A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando condensada ao
máximo possível, transformasse em pedras.
BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).
Texto II
Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do
mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as especulações
contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos, como
ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão a impressão de quererem ancorar
o mundo numa teia de aranha.”
GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).
Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir de
uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm
em comum na sua fundamentação teorias que
(A) eram baseadas nas ciências da natureza.
(B) refutavam as teorias de filósofos da religião.
(C) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
(D) postulavam um princípio originário para o mundo.
(E) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.

Enem 2017
A representação de Demócrito é semelhante à de Anaxágoras, na medida em que um infinitamente
múltiplo é a origem, mas nele a determinação dos princípios fundamentais aparece de maneira tal que
contém aquilo que para o que foi formado não é, absolutamente, o aspecto simples para si. Por
exemplo, partículas de carne e de ouro seriam princípios que, através de sua concentração, formam
aquilo que aparece como figura.
HEGEL, G. W. F. Crítica moderna. In: SOUZA, J. C. (Org.) Os pré-socráticos: vida e obra. São Paulo:
Nova Cultural, 2000 (adaptado)

O texto faz uma apresentação crítica acerca do pensamento de Demócrito, segundo o qual o “princípio
constitutivo das coisas” estava representado pelo(a):
(a) Número, que fundamenta a criação dos deuses.
(b) Devir, que simboliza o constante movimento dos objetos.

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(c) Água, que expressa a causa material da origem do universo.
(d) Imobilidade, que sustenta a existência do ser atemporal.
(e) Átomo, que explica o surgimento dos entes.

Enem 2015
A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a
matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e leva-la a sério? Sim, e por três
razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em
segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela embora
apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um.
NIETZSCHE. F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural. 1999

O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos?

(a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais.
(b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
(c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.
(d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
(e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real.

ENEM 2016
TEXTO I
Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal alcançar duas
vezes a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne.
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo. Abril Cultural, 1996 (adaptado).
TEXTO II

Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto,
inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Como
poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se?
PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).

Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no campo das:
(a) investigações do pensamento sistemático.
(b) preocupações do período mitológico.
(c) discussões de base ontológica.
(d) habilidades da retórica Sofistica.
(e) verdades do mundo sensível.

ENEM 2017
Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e embaraça; leva
a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum: os temperamentais, como
Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem de que são capazes, mas fogem porque
receiam essa influência poderosa, que os leva a se censurarem. É sobretudo a esses jovens, muitos
quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação.
BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na:
(a) contemplação da tradição mítica
(b) sustentação do método dialético
(c) relativização do saber verdadeiro
(d) valorização da argumentação teórica
(e) investigação dos fundamentos da natureza

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