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JAN 2
RESENHA: MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e
criatividade. 29. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. (Coleção temas sociais).
APRESENTAÇÃO
Apresenta-se a 29ª edição do livro Pesquisa Social, ressaltando que teoria, método e
criatividade, são integrantes que se bem combinados, produzem conhecimentos e dão
continuidade à tarefa dinâmica de descobrir as entranhas do mundo e da sociedade. A
primeira parte é mais teórica e abstrata. A segunda parte é mais técnica: ela ensina como
fazer. Mostra-se ainda um adendo, por meio do capítulo cinco, tratando das observações do
resenhista.
1 CIÊNCIA E CIENTIFICIDADE
O campo científico apesar de sua normatividade é permeado por conflitos e contradições. Por
isso Paul de Bruyne et al. (1995) advogam que a ideia da cientificidade comporta, ao mesmo
tempo, um polo de unidade e um polo de diversidade.
Mostra que a interrogação enorme em torno da cientificidade das ciências sociais se desdobra
em várias. A cientificidade, portanto, tem que ser pensada como uma ideia reguladora de alta
abstração e não como sinônimo de modelos e normas a serem seguidos.
O nível de consciência histórica das Ciências Sociais está referido ao nível de consciência
histórica da sociedade de seu tempo, embora essas criações humanas não se confundam. Nas
ciências sociais existe uma identidade entre sujeito e objeto.
Outro aspecto distintivo das Ciências Sociais é o fato de que ela é intrínseca e extrinsecamente
ideológica.
Por fim, é preciso afirmar que o objeto das Ciências Sociais é essencialmente qualitativo. A
realidade social é a cena e o seio do dinamismo da vida individual e coletiva com toda a
riqueza de significados dela transbordante. As Ciências Sociais possuem instrumentos e teorias
capazes de fazer uma aproximação da suntuosidade da existência dos seres humanos em
sociedade.
A metodologia é muito mais que técnicas. Ela inclui as concepções teóricas da abordagem,
articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos sobre a
realidade. No entanto, nada substitui, a criatividade do pesquisador.
Para Kuhn (1978), o progresso da ciência se faz pela quebra dos paradigmas, pela colocação
em discussão das teorias e dos métodos, acontecendo assim uma verdadeira revolução.
Desta forma, esta dinâmica está intimamente relaciona a forma como se trabalha com a
Pesquisa, o jeito como são concebidas as Teorias, a maneira como são percebidas as
Proposições e a prática que desenvolvidos os Conceitos.
3 PESQUISA QUALITATIVA
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências
Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela
trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores
e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da
realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas pensar sobre o que faz e
por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilha com seus
semelhantes. Desta forma, a diferença entre abordagem quantitativa e qualitativa da realidade
social é de natureza e não de escala hierárquica.
O processo de trabalho científico em pesquisa qualitativa divide-se em três etapas: (1) fase
exploratória; (2) trabalho de campo; (3) análise e tratamento do material empírico e
documental.
Portanto, o ciclo da pesquisa não se fecha, pois toda pesquisa produz conhecimento e gera
indagações novas. Mas a ideia do ciclo se solidifica não em etapas estanques, mas em planos
que se complementam.
O projeto é um artefato. Artefato porque tanto é fruto de uma mão de obra humana,
intencionalmente criado, quanto no sentido de ser resultado do uso de métodos particulares
em pesquisa (FGV, 1987).
Quando é escrito um projeto, se estar definindo uma cartografia de escolhas para abordar a
realidade (o que pesquisar, como, por que, por quanto tempo etc.). Isso porque o projeto
científico trabalha com um objeto construído e não com o objeto percebido, nem com o
objeto real (BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1977).
Ao elaborar um projeto científico, o pesquisador estar lidando, ao mesmo tempo, com pelo
menos três dimensões importantes que estão interligadas: dimensão técnica, dimensão
ideológica e dimensão científica.
Um projeto de pesquisa é feito, sobretudo, para esclarecer a nós mesmos qual a questão que
estamos propondo investigar, as definições teóricas de suporte e as estratégias do estudo que
utilizaremos. O projeto também ajuda a mapear um caminho a ser seguido durante a
investigação. É através deste, que outros especialistas poderão tecer comentários e críticas,
contribuindo para um melhor encaminhamento da investigação. O projeto é também um pré-
requisito para obter financiamento.
Observa-se também a fase exploratória. Esta compreende várias fases da construção de uma
trajetória de investigação, tais como: a) escolha do tópico de investigação; b) delimitação do
objeto; definição dos objetos; d) construção do marco teórico conceitual; e) seleção dos
instrumentos de construção/ coleta de dados; f) exploração de campo.
O projeto de pesquisa tem em sua redação compromissos em não ferir a ética da elaboração
de textos científicos. Um dos comportamentos antiéticos mais comuns é a prática de plágio.
Outra é a fraude.
Além da elaboração do texto em si o projeto da pesquisa que virá a ser realizada também deve
ter a preocupação de não causar malefícios aos sujeitos envolvidos no estudo, preservando
sua autonomia em participar ou não do estudo e garantindo seu anonimato.
Recomendações
A redação deve ser clara e objetiva. Recomenda-se ainda que não se deva misturar os tempos
de verbo nem os pronomes pessoais. Deve-se empregar o tempo verbal no futuro, uma vez
que o projeto indicará uma intenção de pesquisa ainda a ser realizada.
1 INTRODUÇÃO
Por isso que na pesquisa qualitativa, a interação entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados
é essencial.
Contudo, antes do pesquisador realizar o trabalho de campo, ele deve estar subsidiado de
referenciais teóricos e também de aspectos operacionais.
A entrevista como fonte de informação pode nos fornecer dados secundários e primários.
A entrevista, quando analisada, precisa incorporar o contexto de sua produção e, sempre que
possível, ser acompanhada e complementada por informações provenientes de observação
participante.
Além da entrevista individual, uma técnica cada vez mais usada no trabalho de campo
qualitativo é a dos grupos focais que consistem em reuniões com um pequeno número de
interlocutores (seis a doze). A técnica exige a presença de um animador e de um relator.
Quanto ao registro, ele deve ser fidedigno, e se possível “ao pé da letra”. Contudo, o registro
em toda a sua integridade precisa do consentimento dos interlocutores. Tudo deve ser
mantido no anonimato.
3 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
No campo, assim como durante todas as etapas da pesquisa, tudo merece ser entendido como
fenômeno social e historicamente condicionado: o objeto investigado, as pessoas concretas
implicadas na atividade, o pesquisador e seu sistema de representações teórico-ideológicas, as
técnicas de pesquisa e todo o conjunto de relações interpessoais e de comunicação simbólica.
O pesquisador nunca deve buscar ser reconhecido como igual. O próprio entrevistado espera
dele uma diferenciação, uma delimitação do próprio espaço, embora sem pedantismos,
segredos e mistérios. O trabalho de campo é em si um momento relacional, específico e
prático.
O trabalho de campo é, portanto, uma porta de entrada para o novo, sem, contudo,
apresentar-nos essa novidade claramente. São as perguntas que fazemos para a realidade, a
partir da teoria que apresentamos e dos conceitos transformados em tópicos de pesquisa que
nos fornecerão a grade ou a perspectiva de observação e de compreensão.
CAPÍTULO 4: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS DE PESQUISA QUALITATIVA
Romeu Gomes
Na descrição as opiniões dos informantes são apresentadas da maneira mais fiel possível,
como se os dados falassem por si próprios; na análise o propósito é ir além do descrito,
fazendo uma decomposição dos dados e buscando as relações entre partes que foram
decompostas e, por último, na interpretação – que pode ser feita após a análise ou após a
descrição – busca-se sentidos das falas e das ações para se chegar a uma compreensão ou
explicação que vão além do descrito e analisado.
Feitas essas observações, são apresentadas orientações sobre duas formas metodológicas para
realizar a análise e interpretação de dados, que são: Análise de Conteúdo e o Método de
Interpretação de Sentidos.
A Análise de conteúdo surgiu no início do século XX, num cenário em que predominava o
behaviorismo.
A estratégia de análise de conteúdo – que passou por várias formas de efetivação ao longo do
século passado – inicialmente era concebida a partir de uma perspectiva quantitativa.
Após a primeira metade do século passado, observamos muitas controvérsias sobre a técnica
propriamente dita, seu grau de cientificidade e sobre sua eficácia. As discussões dividiram
teóricos e pesquisadores, entre os que defendiam a perspectiva quantitativa da técnica e os
que defendiam a perspectiva qualitativa. Contudo, alguns autores também buscavam uma
conciliação dos termos.
A história da análise de conteúdo se encontra muito bem sistematizada por Bardin (1979). O
uso da análise de conteúdo é bastante variado. Bardin (1979) menciona a análise de conteúdo
como um conjunto de técnicas, indicando que há várias maneiras para analisar conteúdos de
materiais de pesquisa. Destacam-se: a) análise de avaliação ou análise representacional; b)
análise de expressão; c) análise de enunciação; d) análise temática.
Pode-se optar por vários tipos de unidades de registro para analisar o conteúdo de uma
mensagem.
Além das unidades de registros, numa análise de conteúdo de mensagens, faz-se necessário
definirmos as análises de contexto, situando uma referência mais ampla para a comunicação.
Procedimentos metodológicos
O caminho a ser seguido pelo pesquisador vai depender dos propósitos da pesquisa, do objeto
de estudo, da natureza do material disponível e da perspectiva teórica por ele adotada.
Nesse cenário, na visão de Bardin (1979), pode-se considerar a categorização como “uma
operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e,
seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente
definidos. As categorias são rubricadas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos
(unidades de registro) sob um título genérico”.
As categorias devem ser: a) exaustivas; b) exclusivas; c) concretas; d) adequadas. As
categorizações podem partir de vários critérios: semânticos; sintáticos; léxicos; expressivos.
Por último, se tem a interpretação. Com esse procedimento é procurado ir além do material.
Chega-se a uma interpretação quando é conseguido realizar uma síntese entre: as questões da
pesquisa: os resultados obtidos a partir da análise do material coletado, as inferências
realizadas e a perspectiva teórica adotada.
Mostra que inicialmente, é feita uma leitura de primeiro plano para atingir os níveis mais
profundos. Nesse momento, deixa-se impregnar pelo conteúdo do material. Na segunda
etapa, realiza-se uma exploração do material. Trata-se aqui da análise propriamente dita.
Como etapa final, é elaborada uma síntese interpretativa através de uma redação que possa
dialogar temas como objetivos, questões e pressupostos da pesquisa.
4 BASES DO MÉTODO
Bruyne et al. (1991) situam o método para além da técnica. Um método envolve quatro polos:
a) epistemológico; b) teórico; c) morfológico; d) técnico.
A proposta de interpretação de dados de pesquisa qualitativa – aqui denominada de Método
de Interpretação de Sentidos – trata de uma perspectiva das correntes compreensivas das
ciências sociais (GOMES et al., 2005). Para efeito desta analise, destacam-se duas concepções.
A Interpretação da cultura sistematizada por Clifford Geertz (1989) e o diálogo entre as
concepções: Hermenêutica e Dialética.
A trajetória analítico-interpretativa não são excludentes, nem sequenciais, podendo haver uma
interpenetração entre elas. No limiar destes caminhos são favorecidos: Leitura compreensiva
do material selecionado (Com essa etapa, busca-se, de um lado, ter uma visão de conjunto e,
de outro, apreender as particularidades do material. Podem-se adotar várias classificações
para distribuir o material da pesquisa. Duas delas são as mais comuns: por segmentos de
atores, de ações ou de depoimentos da pesquisa e por gênero dos atores); Exploração do
material (É de fundamental importância ser capaz de ir além das falas e dos fatos ou, em
outras palavras, caminharmos na direção do que está explícito para o que é implícito, do
revelado para o velado, do texto para o subtexto); Elaboração de síntese interpretativa (Nesta
procura-se caminhar na direção de uma síntese. Para que se tenha êxito nessa síntese
interpretativa devemos principalmente fazer uma articulação entre os objetivos do estudo, a
base teórica adotada e os dados empíricos).
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No contexto das observações, serão feitas considerações que girarão em torno da formação e
vivências acadêmicas dos autores e das suas contribuições frente à “pesquisa social: teoria,
método e criatividade”.
No quarto e último capítulo, que trata da análise e interpretação é possível visualizar num
primeiro momento, uma diferencial contribuição da analise de construção para pesquisa social
e para Ciência da Informação (C.I.), principalmente quando esta análise trata da questão
“temática”, discussão interdisciplinar muito presente e próxima da organização da informação
e representação temática, disciplina estratégica para C.I. Contudo, quando o autor trata dos
procedimentos metodológicos, o mesmo cita “categorização, inferência, descrição e
interpretação”, mas em nenhum momento o termo “descrição” é tratado ou discorrido. O
termo fica subutilizado no processo, enquanto procedimento metodológico. Já no que diz
respeito a interpretação de sentidos, chama a atenção a forma como são definidas as etapas.
Cria-se um encadeamento lógico de tal forma que se consegue perceber uma análise do
explícito e do implícito fazendo com que se compreenda que o “método vai para além da
técnica”. Por fim, é possível considerar que a pesquisa social proporciona ser um grande
campo metodológico a ser percorrido e utilizado. O pesquisador social tem sobre suas mãos
uma infinidade de possibilidades metodológicas a seu favor para produzir uma investigação
capaz de gerar frutos e contributos significativos para “fazer ciência”, possibilitando assim,
inovação científica para o desenvolvimento social e transformação humana a partir de novas
ações metodológicas.
Resumo: O desafio da pesquisa social (MINAYO, Maria Cecília de
Souza)
O PET-SSO deu início a um grupo de estudos sobre a temática da juventude. Esta é
uma atividade que tem por objetivo aprofundar conceitos fundamentais para a formação
acadêmica, além de apreender elementos teóricos que propiciem a compreensão da temática.
Os estudos ocorrem sob a coordenação da tutora ou outros convidados e são abertos
aos alunos da graduação. Pretendemos intercalar o estudo de textos relacionados à juventude
com materiais que subsidiem a construção de pesquisas. Os encontros acontecem todas
as segundas-feiras as15h30min na sala de reuniões do Departamento de Serviço Social.
Um dos textos discutidos foi "O desafio da pesquisa social" de Maria Cecília de Souza
Minayo, e além do debate que ocorreu no grupo de estudos, foi elaborado um resumo sobre o
artigo em questão.
RESUMO
[1] MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza;
GOMES, Suely Ferreira Deslandes Romeu (orgs.).Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 27ª ed.
Petrópolis: Vozes, 2008, p.9-29.
[2] Minayo é graduada em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Ciências Sociais
pela State University of New York, possui mestrado em Antropologia também pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro e doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Atualmente é
pesquisadora dessa fundação e editora científica da revista Ciência & Saúde da Associação Brasileira de
Saúde Coletiva.
[3] Minayo (2008) utiliza de critérios citados por ela na obra “O desafio do conhecimento”, publicado em
2006, e por Demo (1985) em “Metodologia científica em Ciências Sociais”.
RESENHA
No terceiro capítulo, Otávio Cruz Neto, nos coloca que após definirmos o projeto,
devemos selecionar as formas para investigar esse objeto. Destaca a entrevista e a
observação participante como componentes importantes da pesquisa qualitativa.
Também traz algumas pistas para que sejam observadas durante a aplicação
destas técnicas.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Ciência, Técnica e Arte: o desafio da Pesquisa Social. In:
________ (Org.) Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. 9ª Ed. Ed. Vozes; Petrópolis,
1998.
Este capítulo nos mostra a complexidade de estudar o ser humano e conhecê-lo, pois, à
medida que o estudamos , estamos investigando a nós mesmos e percebemos assim, o quanto
é difícil conhecer nossos pensamentos, nossas idéias, e que, apesar de sermos semelhantes
(fisicamente), temos personalidade diferente, pois cada ser é dotado de particularidades. O
homem sempre procurou explicações convincentes para alguns fenômenos, tentando explicá-
los por meio da Filosofia, da Religião, da Ciência, da Arte, etc. A ciência e a Religião são mais
aceitas pela sociedade como modelos de explicação para a existência, no entanto, a Ciência
tem mais supremacia, por basear-se em fatos e prová-los. Contudo, ainda existem situações
que a Ciência não pode explicar, assim como podemos encontrar nela muitas contradições (a
exemplo da cientificidade das ciências sociais, que busca a objetividade no homem, ao mesmo
tempo em que afirma que ele é subjetivo). O objeto de estudo das ciências sociais é o homem
e este é histórico, porque tem tempo e espaço; tem consciência histórica, porque tem noção
de quem ele é. As ciências sociais, à medida que se aprofundam na ideologia, distanciam-se
dela (da ideologia). O capítulo nos adverte que é necessário termos consciência histórica,
conhecendo a nós mesmos, vendo nossa posição no mundo e assumindo-a.