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MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 29. ed.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. (Coleção temas sociais).

JAN 2

Publicado por Mario Gaudencio

RESENHA: MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e
criatividade. 29. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. (Coleção temas sociais).

Resenhado por Sale Mário Gaudêncio

APRESENTAÇÃO

Apresenta-se a 29ª edição do livro Pesquisa Social, ressaltando que teoria, método e
criatividade, são integrantes que se bem combinados, produzem conhecimentos e dão
continuidade à tarefa dinâmica de descobrir as entranhas do mundo e da sociedade. A
primeira parte é mais teórica e abstrata. A segunda parte é mais técnica: ela ensina como
fazer. Mostra-se ainda um adendo, por meio do capítulo cinco, tratando das observações do
resenhista.

CAPÍTULO 1: O DESAFIO DA PESQUISA

Maria Cecília de Souza Minayo

1 CIÊNCIA E CIENTIFICIDADE

Na sociedade ocidental, no entanto, a ciência é a forma hegemônica de construção da


realidade, considerada por muitos críticos como um novo mito, por sua pretensão de único
promotor e critério de verdade. No entanto, continuamos a fazer perguntas e a buscar
soluções.

O campo científico apesar de sua normatividade é permeado por conflitos e contradições. Por
isso Paul de Bruyne et al. (1995) advogam que a ideia da cientificidade comporta, ao mesmo
tempo, um polo de unidade e um polo de diversidade.
Mostra que a interrogação enorme em torno da cientificidade das ciências sociais se desdobra
em várias. A cientificidade, portanto, tem que ser pensada como uma ideia reguladora de alta
abstração e não como sinônimo de modelos e normas a serem seguidos.

O nível de consciência histórica das Ciências Sociais está referido ao nível de consciência
histórica da sociedade de seu tempo, embora essas criações humanas não se confundam. Nas
ciências sociais existe uma identidade entre sujeito e objeto.

Outro aspecto distintivo das Ciências Sociais é o fato de que ela é intrínseca e extrinsecamente
ideológica.

Por fim, é preciso afirmar que o objeto das Ciências Sociais é essencialmente qualitativo. A
realidade social é a cena e o seio do dinamismo da vida individual e coletiva com toda a
riqueza de significados dela transbordante. As Ciências Sociais possuem instrumentos e teorias
capazes de fazer uma aproximação da suntuosidade da existência dos seres humanos em
sociedade.

2 CONCEITO DE METODOLOGIA DE PESQUISA

A metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de


operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua
experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade).

A metodologia é muito mais que técnicas. Ela inclui as concepções teóricas da abordagem,
articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos sobre a
realidade. No entanto, nada substitui, a criatividade do pesquisador.

Para Kuhn (1978), o progresso da ciência se faz pela quebra dos paradigmas, pela colocação
em discussão das teorias e dos métodos, acontecendo assim uma verdadeira revolução.

Desta forma, esta dinâmica está intimamente relaciona a forma como se trabalha com a
Pesquisa, o jeito como são concebidas as Teorias, a maneira como são percebidas as
Proposições e a prática que desenvolvidos os Conceitos.
3 PESQUISA QUALITATIVA

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências
Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela
trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores
e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da
realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas pensar sobre o que faz e
por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilha com seus
semelhantes. Desta forma, a diferença entre abordagem quantitativa e qualitativa da realidade
social é de natureza e não de escala hierárquica.

Assim sendo, são apresentadas algumas abordagens metodológicas: a) Positivismo; b)


Objetividade; c) Compreensivismo; d) Marxismo.

4 CICLO DA PESQUISA QUALITATIVA

A pesquisa é um trabalho artesanal que não prescinde da criatividade, realiza-se


fundamentalmente por uma linguagem baseada em conceitos, proposições, hipóteses,
métodos, e técnicas, linguagem esta que se constrói com um ritmo próprio e particular.

O processo de trabalho científico em pesquisa qualitativa divide-se em três etapas: (1) fase
exploratória; (2) trabalho de campo; (3) análise e tratamento do material empírico e
documental.

Portanto, o ciclo da pesquisa não se fecha, pois toda pesquisa produz conhecimento e gera
indagações novas. Mas a ideia do ciclo se solidifica não em etapas estanques, mas em planos
que se complementam.

CAPÍTULO 2: O PROJETO DE PESQUISA COMO EXERCÍCIO CIENTÍFICO E ARTESANATO


INTELECTUAL

Suely Ferreira Deslandes


1 INTRODUÇÃO

Um projeto de pesquisa constitui a síntese de múltiplos esforços intelectuais que se


contrapõem e se complementam: de abstração teórico-conceitual e de conexão com a
realidade empírica, de exaustividade e síntese, de inclusões e recortes, e, sobretudo, de rigor e
criatividade.

O projeto é um artefato. Artefato porque tanto é fruto de uma mão de obra humana,
intencionalmente criado, quanto no sentido de ser resultado do uso de métodos particulares
em pesquisa (FGV, 1987).

2 DIMENSÕES DE UM PROJETO DE PESQUISA

Quando é escrito um projeto, se estar definindo uma cartografia de escolhas para abordar a
realidade (o que pesquisar, como, por que, por quanto tempo etc.). Isso porque o projeto
científico trabalha com um objeto construído e não com o objeto percebido, nem com o
objeto real (BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1977).

Ao elaborar um projeto científico, o pesquisador estar lidando, ao mesmo tempo, com pelo
menos três dimensões importantes que estão interligadas: dimensão técnica, dimensão
ideológica e dimensão científica.

3 OS PROPÓSITOS E A TRAJETÓRIA DE ELABORAÇÃO DE UM PROJETO DE PESQUISA

Um projeto de pesquisa é feito, sobretudo, para esclarecer a nós mesmos qual a questão que
estamos propondo investigar, as definições teóricas de suporte e as estratégias do estudo que
utilizaremos. O projeto também ajuda a mapear um caminho a ser seguido durante a
investigação. É através deste, que outros especialistas poderão tecer comentários e críticas,
contribuindo para um melhor encaminhamento da investigação. O projeto é também um pré-
requisito para obter financiamento.

Ao apresentar um projeto, o pesquisador assume uma responsabilidade pública com a


realização do que foi prometido. A pesquisa é uma prática dinâmica, contudo, caso o
pesquisador realize alterações, o mesmo, precisará esclarecer e justificar as modificações
daquilo que foi preconizado inicialmente.

O projeto de pesquisa é o desfecho de várias ações e esforços do pesquisador marcado por


atividades e atitudes onde são observados: 1) Pesquisa; 2) Articulação criativa; 3) Humildade;
Condição histórica.

Observa-se também a fase exploratória. Esta compreende várias fases da construção de uma
trajetória de investigação, tais como: a) escolha do tópico de investigação; b) delimitação do
objeto; definição dos objetos; d) construção do marco teórico conceitual; e) seleção dos
instrumentos de construção/ coleta de dados; f) exploração de campo.

4 OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DE UM PROJETO DE PESQUISA

O projeto de pesquisa deve, responder as seguintes perguntas: o que pesquisar? (definição do


problema, hipóteses, base teórica e conceitual); para que pesquisar? (propósitos de estudo,
seus objetivos); por que pesquisar? (justificativa da escolha do problema); como pesquisar?
(metodologia); por quanto tempo pesquisar? (cronograma de execução); com que recursos
(orçamento); a partir de quais fontes? (citações e referências).

5 QUESTÕES ÉTICAS DO PROJETO DE PESQUISA

O projeto de pesquisa tem em sua redação compromissos em não ferir a ética da elaboração
de textos científicos. Um dos comportamentos antiéticos mais comuns é a prática de plágio.
Outra é a fraude.

Além da elaboração do texto em si o projeto da pesquisa que virá a ser realizada também deve
ter a preocupação de não causar malefícios aos sujeitos envolvidos no estudo, preservando
sua autonomia em participar ou não do estudo e garantindo seu anonimato.

6 A APRESENTAÇÃO DE UM PROJETO DE PESQUISA


A forma de apresentação pode variar muito. Vários institutos de pesquisa, de ensino e de
fomento adotam apresentação padronizada segundo modelos próprios. Entretanto, é
proposto um modelo operacional, inspirado nas regras da ABNT, onde são apresentados: a)
Elementos pré-textuais (os elementos pré-textuais são compostos por: capa, página de rosto,
sumário, lista de ilustrações e lista de símbolos e abreviaturas); Elementos textuais (os
elementos textuais devem informar: apresentação do tema, problema, hipótese, objetivos,
justificativas, quadro teórico, metodologia e orçamento); Elementos pós-textuais (são
compostas por referências bibliográficas, anexos e apêndices).

Recomendações

A redação deve ser clara e objetiva. Recomenda-se ainda que não se deva misturar os tempos
de verbo nem os pronomes pessoais. Deve-se empregar o tempo verbal no futuro, uma vez
que o projeto indicará uma intenção de pesquisa ainda a ser realizada.

O projeto é um instrumento de comunicação entre as intenções do pesquisador e seus


interlocutores.

CAPÍTULO 3: TRABALHO DE CAMPO: CONTEXTO DE OBSERVAÇÃO, INTERAÇÃO E DESCOBERTA

Maria Cecília de Souza Minayo

1 INTRODUÇÃO

O trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual


formulou uma pergunta, mas também estabelecer uma interação com os “atores” que
conformam a realidade e, assim, constrói um conhecimento empírico importantíssimo para
quem faz pesquisa social.

Nesse contexto, os sujeitos/objetos de investigação são construídos teoricamente enquanto


componentes do objeto de estudo.
Embora hajam muitas formas e técnicas de realizar o trabalho de campo, dois são os
instrumentos principais desse tipo de trabalho: a observação e a entrevista.

Por isso que na pesquisa qualitativa, a interação entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados
é essencial.

Contudo, antes do pesquisador realizar o trabalho de campo, ele deve estar subsidiado de
referenciais teóricos e também de aspectos operacionais.

O campo da pesquisa social não é transparente e tanto o pesquisador como os seus


interlocutores e observadores interferem no conhecimento da realidade. Por isso, a pesquisa
social nunca é neutra.

2 ENTREVISTA COMO TÉCNICA PRIVILEGIADA DE COMUNICAÇÃO

Entrevista, tomada no sentido amplo de comunicação verbal, e no sentido restrito de coleta de


informações sobre determinado tema científico, é a estratégia mais usada no processo de
trabalho de campo. Ela tem o objetivo de construir informações pertinentes para um objeto de
pesquisa, sendo abordado pelo entrevistador.

As entrevistas podem ser classificadas em: a) sondagem de opinião; b) semiestruturada; c)


aberta ou em profundidade; d) focalizada; e) projetiva.

A entrevista como fonte de informação pode nos fornecer dados secundários e primários.

A entrevista, quando analisada, precisa incorporar o contexto de sua produção e, sempre que
possível, ser acompanhada e complementada por informações provenientes de observação
participante.

Além da entrevista individual, uma técnica cada vez mais usada no trabalho de campo
qualitativo é a dos grupos focais que consistem em reuniões com um pequeno número de
interlocutores (seis a doze). A técnica exige a presença de um animador e de um relator.
Quanto ao registro, ele deve ser fidedigno, e se possível “ao pé da letra”. Contudo, o registro
em toda a sua integridade precisa do consentimento dos interlocutores. Tudo deve ser
mantido no anonimato.

3 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

Define-se como observação participante como um processo pelo qual um pesquisador se


coloca como observador de uma situação social, com a finalidade de realizar uma investigação
científica.

A filosofia que fundamenta a observação participante é a necessidade que todo pesquisador


social tem de relativizar o espaço social de onde provem, aprendendo a se colocar no lugar do
outro.

O principal instrumento de trabalho de observação é o chamado diário de campo.

4 CONSOLIDAÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO

No campo, assim como durante todas as etapas da pesquisa, tudo merece ser entendido como
fenômeno social e historicamente condicionado: o objeto investigado, as pessoas concretas
implicadas na atividade, o pesquisador e seu sistema de representações teórico-ideológicas, as
técnicas de pesquisa e todo o conjunto de relações interpessoais e de comunicação simbólica.

O pesquisador nunca deve buscar ser reconhecido como igual. O próprio entrevistado espera
dele uma diferenciação, uma delimitação do próprio espaço, embora sem pedantismos,
segredos e mistérios. O trabalho de campo é em si um momento relacional, específico e
prático.

O trabalho de campo é, portanto, uma porta de entrada para o novo, sem, contudo,
apresentar-nos essa novidade claramente. São as perguntas que fazemos para a realidade, a
partir da teoria que apresentamos e dos conceitos transformados em tópicos de pesquisa que
nos fornecerão a grade ou a perspectiva de observação e de compreensão.
CAPÍTULO 4: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS DE PESQUISA QUALITATIVA

Romeu Gomes

1 INICIANDO NOSSA CONVERSA

Ao analisar e interpretar informações geradas por uma pesquisa qualitativa, devemos


caminhar tanto na direção do que é homogêneo quanto no que se diferencia dentro de um
meio social.

Na descrição as opiniões dos informantes são apresentadas da maneira mais fiel possível,
como se os dados falassem por si próprios; na análise o propósito é ir além do descrito,
fazendo uma decomposição dos dados e buscando as relações entre partes que foram
decompostas e, por último, na interpretação – que pode ser feita após a análise ou após a
descrição – busca-se sentidos das falas e das ações para se chegar a uma compreensão ou
explicação que vão além do descrito e analisado.

Feitas essas observações, são apresentadas orientações sobre duas formas metodológicas para
realizar a análise e interpretação de dados, que são: Análise de Conteúdo e o Método de
Interpretação de Sentidos.

2 ANÁLISE DE CONTEÚDO: HISTÓRIA E CONCEITUAÇÃO

A Análise de conteúdo surgiu no início do século XX, num cenário em que predominava o
behaviorismo.

A estratégia de análise de conteúdo – que passou por várias formas de efetivação ao longo do
século passado – inicialmente era concebida a partir de uma perspectiva quantitativa.

Após a primeira metade do século passado, observamos muitas controvérsias sobre a técnica
propriamente dita, seu grau de cientificidade e sobre sua eficácia. As discussões dividiram
teóricos e pesquisadores, entre os que defendiam a perspectiva quantitativa da técnica e os
que defendiam a perspectiva qualitativa. Contudo, alguns autores também buscavam uma
conciliação dos termos.

A história da análise de conteúdo se encontra muito bem sistematizada por Bardin (1979). O
uso da análise de conteúdo é bastante variado. Bardin (1979) menciona a análise de conteúdo
como um conjunto de técnicas, indicando que há várias maneiras para analisar conteúdos de
materiais de pesquisa. Destacam-se: a) análise de avaliação ou análise representacional; b)
análise de expressão; c) análise de enunciação; d) análise temática.

Unidades de registro e unidades de contexto

Pode-se optar por vários tipos de unidades de registro para analisar o conteúdo de uma
mensagem.

Além das unidades de registros, numa análise de conteúdo de mensagens, faz-se necessário
definirmos as análises de contexto, situando uma referência mais ampla para a comunicação.

Procedimentos metodológicos

Dentre os procedimentos metodológicos da análise de conteúdo utilizados a partir da


perspectiva qualitativa (de forma exclusiva ou não), são destacados os seguintes:
categorização, inferência, descrição e interpretação. Esses procedimentos necessariamente
não ocorrem de forma sequencial.

O caminho a ser seguido pelo pesquisador vai depender dos propósitos da pesquisa, do objeto
de estudo, da natureza do material disponível e da perspectiva teórica por ele adotada.

Nesse cenário, na visão de Bardin (1979), pode-se considerar a categorização como “uma
operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e,
seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente
definidos. As categorias são rubricadas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos
(unidades de registro) sob um título genérico”.
As categorias devem ser: a) exaustivas; b) exclusivas; c) concretas; d) adequadas. As
categorizações podem partir de vários critérios: semânticos; sintáticos; léxicos; expressivos.

Outro procedimento importante é a inferência. Contudo, se o pesquisador não tiver um


conhecimento sobre o contexto do material a ser analisado e se não formular perguntas
baseadas em estudos ou experiências prévias com o assunto, dificilmente conseguirá fazer
inferências de seus achados de pesquisa.

Por último, se tem a interpretação. Com esse procedimento é procurado ir além do material.
Chega-se a uma interpretação quando é conseguido realizar uma síntese entre: as questões da
pesquisa: os resultados obtidos a partir da análise do material coletado, as inferências
realizadas e a perspectiva teórica adotada.

Trajetória da análise de conteúdo temática

Mostra que inicialmente, é feita uma leitura de primeiro plano para atingir os níveis mais
profundos. Nesse momento, deixa-se impregnar pelo conteúdo do material. Na segunda
etapa, realiza-se uma exploração do material. Trata-se aqui da análise propriamente dita.
Como etapa final, é elaborada uma síntese interpretativa através de uma redação que possa
dialogar temas como objetivos, questões e pressupostos da pesquisa.

3 EXEMPLO DE ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE CONTEÚDOS

Ilustram-se passos da técnica de análise de conteúdo temático. Trata-se de uma tentativa de


concretizar conceitos ou ideias que, para quem está iniciando no ofício da pesquisa, são
abstratos de seu campo perceptivo.

4 BASES DO MÉTODO

Bruyne et al. (1991) situam o método para além da técnica. Um método envolve quatro polos:
a) epistemológico; b) teórico; c) morfológico; d) técnico.
A proposta de interpretação de dados de pesquisa qualitativa – aqui denominada de Método
de Interpretação de Sentidos – trata de uma perspectiva das correntes compreensivas das
ciências sociais (GOMES et al., 2005). Para efeito desta analise, destacam-se duas concepções.
A Interpretação da cultura sistematizada por Clifford Geertz (1989) e o diálogo entre as
concepções: Hermenêutica e Dialética.

5 CAMINHOS PARA A INTERPRETAÇÃO

A trajetória analítico-interpretativa não são excludentes, nem sequenciais, podendo haver uma
interpenetração entre elas. No limiar destes caminhos são favorecidos: Leitura compreensiva
do material selecionado (Com essa etapa, busca-se, de um lado, ter uma visão de conjunto e,
de outro, apreender as particularidades do material. Podem-se adotar várias classificações
para distribuir o material da pesquisa. Duas delas são as mais comuns: por segmentos de
atores, de ações ou de depoimentos da pesquisa e por gênero dos atores); Exploração do
material (É de fundamental importância ser capaz de ir além das falas e dos fatos ou, em
outras palavras, caminharmos na direção do que está explícito para o que é implícito, do
revelado para o velado, do texto para o subtexto); Elaboração de síntese interpretativa (Nesta
procura-se caminhar na direção de uma síntese. Para que se tenha êxito nessa síntese
interpretativa devemos principalmente fazer uma articulação entre os objetivos do estudo, a
base teórica adotada e os dados empíricos).

6 EXEMPLO DE INTERPRETAÇÃO DE SENTIDOS

As etapas do método de interpretação de sentidos partem de depoimentos de uma pesquisa


(GOMES, 2004), observando os seguintes aspectos: a) Primeira etapa (foi feita uma leitura
compreensiva, visando a: impregnação dos depoimentos; visão de conjunto; e apreensão das
particularidades do material da pesquisa original. após a leitura, identificaram-se os temas);
Segunda etapa (com base na estrutura de análise montada por temáticas, recortamos trechos
de depoimentos e neles identificamos as ideias explícitas e implícitas); Terceira etapa
(buscaram-se sentidos mais amplos que articulam modelos subjacentes às ideias).

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A primeira vista, a Análise de conteúdo e o Método de Interpretação de Sentidos são duas


propostas de pesquisas qualitativas que podem ser vistas como parecidas. Contudo, não se
pode fazer um olhar apressado em relação a ambas.
Mostra-se que para obter um maior domínio da Análise de conteúdo, é importante destacar
como referências os textos de Bardin (1979) e Bauer (2002). Já no que se refere ao Método de
Interpretação de Sentidos, destacam-se os textos de Minayo (2006) e Gomes et al. (2005).

CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES DO RESENHISTA

No contexto das observações, serão feitas considerações que girarão em torno da formação e
vivências acadêmicas dos autores e das suas contribuições frente à “pesquisa social: teoria,
método e criatividade”.

Do ponto de vista formacional, os três autores, respectivamente: Maria Cecília de Souza


Minayo, Suely Ferreira Deslandes e Romeu Gomes tem intimas relações acadêmicas. Todos
tem formação no campo das ciências sociais com atuação notória em saúde pública. Outro
destaque que deve ser feito é que os autores tem envolvimento direto com pesquisas e
métodos qualitativos, daí a importância empregada a temática em questão. Face ao que foi
postulado pelos autores na pesquisa vigente, no teor deste documento são vistas
considerações e caracterizações sobre os capítulos: 1) Desafio da pesquisa; 2) O Projeto de
pesquisa como exercício científico e artesanato intelectual; 3) Trabalho de campo: contexto de
observação, interação e descoberta; 4) Análise e interpretação de dados de pesquisa
qualitativa.

No primeiro capítulo é possível observar que “o desafio da pesquisa” qualitativa está


diretamente relacionado às ciências sociais onde se utiliza de investigações que contemplem o
dinamismo da vida individual e coletiva com toda a sua riqueza. Para isso devem ser
valorizados os motivos, as aspirações, as crenças, os valores e atitudes. Nessa relação esta
metodologia que valoriza as questões qualitativas, além de uma técnica, uma ferramenta
capaz de articular a teoria com a realidade. Nesse cenário a autora observa uma pesquisa
qualitativa que lança mão de abordagens metodológicas como: a) Positivismo; b) Objetividade;
c) Compreensivismo; d) Marxismo. Entretanto, é importante salientar que devem ser feitas
algumas ressalvas, primeiro quanto ao positivismo por ter como característica básica, aspectos
matemáticos de análise e em segundo, ao marxismo que traz uma abordagem que em alguns
aspectos, torna-se limitada enquanto aplicação e cobertura.

Ao segundo capítulo destaca-se o projeto como um artefato intencionalmente criado para


analisar e/ou resolver um problema. Traz consigo dimensões significantes que faz do projeto
uma cartografia metodológica para abordar uma dada realidade. Desta forma, a autora
informa que o projeto ajuda a mapear e esclarecer a que caminho seguir, contudo, o mesmo
não pode ferir a ética, especialmente o plágio, a fraude e o desrespeito ao anonimato.
No capítulo três, a autora chama a atenção para uma pesquisa social que deve ser nula, pois é
visto que tanto o pesquisador como os seus interlocutores interferem no contexto a qual a
investigação está ocorrendo. Um segundo aspecto que é importante frisar é como são
empregados procedimentos aos grupos focais. E um amplo processo coletivo e democrático de
construção. Muito próximo a isto, esta a observação participante, que traz um diferente olhar
para tratar das construções investigativas, onde busca fazer com que o pesquisador social,
quando estiver em campo possa, “aprender a se colocar no lugar do outro”. Isto é significante
numa relação de “via dupla” onde um é dependente do outro e que na convivência do
pesquisador com o seu fenômeno ou objeto, o mesmo possa fazer do seu trabalho de campo,
“uma porta de entrada para o novo”.

No quarto e último capítulo, que trata da análise e interpretação é possível visualizar num
primeiro momento, uma diferencial contribuição da analise de construção para pesquisa social
e para Ciência da Informação (C.I.), principalmente quando esta análise trata da questão
“temática”, discussão interdisciplinar muito presente e próxima da organização da informação
e representação temática, disciplina estratégica para C.I. Contudo, quando o autor trata dos
procedimentos metodológicos, o mesmo cita “categorização, inferência, descrição e
interpretação”, mas em nenhum momento o termo “descrição” é tratado ou discorrido. O
termo fica subutilizado no processo, enquanto procedimento metodológico. Já no que diz
respeito a interpretação de sentidos, chama a atenção a forma como são definidas as etapas.
Cria-se um encadeamento lógico de tal forma que se consegue perceber uma análise do
explícito e do implícito fazendo com que se compreenda que o “método vai para além da
técnica”. Por fim, é possível considerar que a pesquisa social proporciona ser um grande
campo metodológico a ser percorrido e utilizado. O pesquisador social tem sobre suas mãos
uma infinidade de possibilidades metodológicas a seu favor para produzir uma investigação
capaz de gerar frutos e contributos significativos para “fazer ciência”, possibilitando assim,
inovação científica para o desenvolvimento social e transformação humana a partir de novas
ações metodológicas.
Resumo: O desafio da pesquisa social (MINAYO, Maria Cecília de
Souza)
O PET-SSO deu início a um grupo de estudos sobre a temática da juventude. Esta é
uma atividade que tem por objetivo aprofundar conceitos fundamentais para a formação
acadêmica, além de apreender elementos teóricos que propiciem a compreensão da temática.
Os estudos ocorrem sob a coordenação da tutora ou outros convidados e são abertos
aos alunos da graduação. Pretendemos intercalar o estudo de textos relacionados à juventude
com materiais que subsidiem a construção de pesquisas. Os encontros acontecem todas
as segundas-feiras as15h30min na sala de reuniões do Departamento de Serviço Social.

Um dos textos discutidos foi "O desafio da pesquisa social" de Maria Cecília de Souza
Minayo, e além do debate que ocorreu no grupo de estudos, foi elaborado um resumo sobre o
artigo em questão.

RESUMO

No artigo “O desafio da pesquisa social”[1], encontrado no livro “Pesquisa social: teoria,


método e criatividade”, Minayo[2] (2008) é dividido em quatro partes. A primeira parte do texto
aborda questões relacionadas a “Ciência e Cientificidade” e a autora afirma que o homem
sempre se preocupou com o conhecimento da realidade, sendo que historicamente fez uso da
religião, da filosofia, da arte para buscar esse conhecimento, e a ciência seria mais um dos
instrumentos nessa procura. Porém na sociedade ocidental, a ciência tornou-se uma forma
hegemônica de construção da realidade, tanto que alguns críticos a consideram como um novo
mito, já que afirma ser a única promotora da verdade. A ciência se estabeleceu como
hegemônica por que respondeu questões técnicas que se colocaram com o desenvolvimento
industrial e por que estabeleceu uma linguagem fundamental através de conceitos, métodos e
técnicas para compreender o mundo, os fenômenos, os processos e as relações.
A ciência é permeada por conflitos e contradições, e uma das controvérsias é o embate
entre ciências sociais X ciências naturais. Alguns defendem a existência de uma uniformidade,
sendo que o social deve se equiparar ao natural para receber o título de ciência; e outros
afirmam a necessidade da diferença e da especificidade entre eles. Minayo (2008) cita Bruyne
et al. (apud Minayo, 2008) que defende que o campo científico possui ao mesmo tempo dois
pólos: um de unidade, pois pode existir a semelhança em todas as atividades que partem da
idéia do conhecimento construído por meio de conceitos; e outro dediversidade, pois o campo
da ciência não pode ser reduzido a uma única forma de conhecer, mas ela contém maneiras
diversas re realização.
Diante de diversos questionamentos sobre a configuração das ciências sociais como
conhecimento científico, a autora propõe a reflexão dos seguintes dilemas: “(...) seguir os
caminhos das ciências estabelecidas e empobrecer seu próprio objeto? Ou encontrar seu
núcleo mais profundo, abandonando a idéia de cientificidade?” (MINAYO, 2008, p.11). E para
falar das Ciências Sociais dentro de sua peculiaridade a autora utiliza cinco critérios[3] que as
diferenciam, mas que não as desvinculam dos princípios da cientificidade.
O primeiro é que o objeto das Ciências Sociais é histórico, ou seja, cada sociedade
humana se constrói de maneira diferente, porém aquelas que vivenciam o mesmo período
histórico possuem traços em comum devido à influência das comunicações, e as sociedades
presentes são marcadas pelo seu passado e constroem o seu futuro. O segundo é que o objeto
das Ciências Sociais possui consciência histórica, ou seja, não é apenas o investigador que
tem capacidade de dar sentido ao seu trabalho intelectual, mas todos os seres humanos dão
significados as sua ações, explicitam suas intenções, projetam e planejam o seu futuro,
portanto o nível de consciência historia das Ciências Sociais se refere ao nível de consciência
histórica da sociedade de seu tempo.
O terceiro critério é que nas Ciências Sociais existe uma identidade entre sujeito e
objeto, pois lida com seres humanos, que por seus traços como classe, faixa etária, etc., se
aproximam do investigador. O quarto critério é que as Ciências Sociais são intrínsecas e
intrinsecamente ideológicas, pois não existe ciência neutra, de forma mais veemente nas
Ciências Sociais, onde a visão de mundo implica em todo o processo de conhecimento desde a
escolha do objeto, a aplicação e o resultado, e isso ocorre também nas Ciências Naturais, de
forma diferente, mas que aparecem quando se escolhe ou descarta temas, métodos e técnicas.
E o último critério é que o objeto das Ciências Sociais é essencialmente qualitativo, pois elas
possuem instrumentos e teorias que permitem a aproximação da existência dos seres
humanos em sociedade, abordando o conjunto das expressões humanas nas estruturas,
processos, representações, símbolos e significados.
Na segunda parte do texto, Minayo (2008) traz o “Conceito da metodologia de
pesquisa”, afirmando que “(...) a metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o
método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade
do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade).” (MINAYO,
2008, p.14). A autora afirma que a metodologia é muito mais que técnicas, mas é a articulação
da teoria, da realidade dos pensamentos sobre a realidade, utilizando palavras de Lenin, “o
método é a alma da teoria” (LENIN apud MINAYO, 2008, p.15). Ela salienta ainda que nada
substitui a criatividade do pesquisador, e que tanto segundo Feyerabend quanto Kuhn (apud
MINAYO, 2008, p.15) o progresso da ciência ocorre de forma mais veemente quando as regras
são violadas e não quando são seguidas. Dilthey (apud MINAYO, 2008) complementa que
apesar de precisarmos de determinados parâmetros para produzirmos conhecimento, a
criatividade é o mais fundamental.
Ainda dentro desta segunda parte do texto, a autora descreve de maneira breve quatro
elementos importantes para a pesquisa nas Ciências Sociais. A pesquisa é uma atividade
basilar da ciência e que indaga e constrói a realidade, e que mesmo sendo uma prática teórica
ela vincula o pensamento e a ação. Qualquer pesquisa é iniciada com uma pergunta, uma
dúvida, que para ser respondida se coloca a necessidade de articular conhecimentos
anteriores ou então criar novos conhecimentos.
E é nesse aspecto, que se expressa a necessidade do segundo elemento, a teoria, que
é “(...) construída para explicar ou para compreender um fenômeno, um processo ou um
conjunto de fenômenos e processos.” (MINAYO, 2008, p.17), e que tem como funções
esclarecer melhor o objeto de pesquisa, fornece elementos para questionamentos e o
estabelecimento de hipóteses, colabora na organização dos dados com mais nitidez e, guia a
análise dos dados. A teoria pode ser o conhecimento de um determinado assunto construído
cientificamente por outros pesquisadores e que fornecem elementos para novas pesquisas,
como por exemplo, as grandes teorias (macroteorias) que são narrativas ou escritas por
autores de referência, sendo que as quatro principais são o positivismo, o marxismo, a teoria
da ação e o compreensivismo, mas há também as teorias menores, que normalmente se
baseiam em alguma grande teoria e especificam a explicação e a interpretação de um
fenômeno. Porém, muitas vezes, surgem problemas que as teorias já desenvolvidas não dão
conta de explicar, para isso inicia-se uma “pesquisa exploratória”, na qual é proposta uma nova
interpretação. A autora salienta que nenhuma teoria, por mais bem formulada que seja, ela dá
conta de explicar todos os fenômenos e processos.
A teoria é feita através de um conjunto de proposições, um terceiro elemento
fundamental para a pesquisa social, que são as hipóteses comprovadas, que devem ser claras
e de fácil entendimento, apresentarem as relações abstratas e nortear para questões reais. E
por último, os conceitos, que são os temas mais significativos num discurso científico, são eles
que focalizam e delimitam o tema de estudo e, são carregados de sentido, já que uma mesma
palavra pode ter conceitos diferentes em teorias distintas. Minayo (2008) aponta quatro
características do conceito que devem estar claras para o pesquisador: o conceito tem que ser
valorativo (explicitação da corrente teórica onde os conceitos foram concebidos), pragmático
(descrição e interpretação da realidade) e comunicativo (nítidos, inteligíveis, abrangente e
específico ao mesmo tempo). Os três tipos de conceitos são os teóricos (compõem o discurso
da pesquisa), de observação direta (definem os termos para serem trabalhados em campo ou
nas análises documentais), e de observação indireta (relacionam o contexto da pesquisa com
os conceitos da observação direta). A autora afirma que tanto as teoria como os conceitos são
fundamentais para qualquer pesquisa, porém eles não podem ser camisas de força.
Na terceira parte do texto, Minayo (2008) aborda a questão da pesquisa qualitativa e da
pesquisa quantitativa, dando ênfase a primeira. A pesquisa qualitativa responde a questões
que não podem ou não devem ser quantificados, tanto que o objeto desse tipo de pesquisa
raramente pode ser expresso em números. Não deve existir uma hierarquia entre os dois tipos
de pesquisa, pois a diferença entre elas refere-se a natureza da pesquisa. As divergências
sobre esses tipos de pesquisa geralmente ocorrem no debate entre as correntes do
pensamento, sendo que a autora cita quatro delas.
O positivismo utiliza de conceitos filosóficos e matemáticos para explicar a realidade, e
se utiliza de fundamentos quantitativos nas ciências sociais iguais aos utilizados nas ciências
naturais, tais quais, “o mundo social opera de acordo com leis causais. O alicerce da ciência é
a observação sensorial. A realidade consiste em estruturas e instituições identificáveis ‘a olho
nu’ (...). São reais os ‘dados visíveis e identificáveis’. Valores e crenças (...) devem ser
desprezados como objetos específicos de pesquisa. Os dados recolhidos da realidade empírica
das estruturas e instituições são suficientes para explicar a realidade social.” (MINAYO, 2008,
p.23).
A objetividade defende o método quantitativo como suficiente para explicar a realidade
social, com instrumentos padronizados e “neutros”. O compreensivismo que manifesta-se na
fenomenologia, na etnometodologia, no interacionismo simbólico, considera a subjetividade o
fundamento da vida social e que é inerente à construção da objetividade nas Ciências Sociais.
A autora acrescenta que “compreender” é o verbo da pesquisa qualitativa, ou seja,
compreender e interpretar a realidade.
O marxismo considera a historicidade, as condições sócio-econômicas, as contradições
sociais. Possui uma abordagem dialética, e teoricamente faria um “desempate” entre o
positivismo e o compreensivismo. A dialética trabalha tanto com quantidade como com
qualidades. Segundo Minayo (2008), o marxismo quase não considera em suas análises os
valores, as crença, os significados e as subjetividades.
A autora acaba por fazer uma crítica às quatro teorias citadas: o positivismo pela
objetividade sem sujeito e a restrição do conhecimento da realidade àquilo que pode ser
observado ou quantificado; o compreensivismo devido à tendência de considerar que aquilo
que as pessoas falam é a realidade e o subjetivismo que confunde a ciência com a percepção
do investigador; o marxismo pela dificuldade de criar instrumentos de compreensão e a
presença de respostas prontas baseadas na interpretação teórica deixando de lado a realidade
empírica.
Na quarta e última parte de seu texto, Minayo (2008) apresenta o ciclo de uma
pesquisa qualitativa, afirmando que é um processo em “espiral”, pois se inicia com uma
pergunta que ao ser respondida cria novos questionamentos e dúvidas. O processo de trabalho
de uma pesquisa qualitativa divide-se em três partes: a primeira é a fase exploratória, quando o
pesquisador se prepara para entrar em campo, definindo o objeto, organizando teórica e
metodologicamente, cria hipóteses, descreve os instrumentos de trabalho, pensa o cronograma
e faz os procedimentos para a definição do espaço e da amostra; a segunda fase é o trabalho
de campo, quando combinas os instrumentais de observação, comunicação, levantamento de
dados, confirmação ou não da hipótese; a terceira etapa é a analise e tratamento do material
empírico e documental, quando ocorre a compreensão e interpretação dos dados levantados
na segunda fase, articulando com a teoria, ou seja, ordenam-se os dados, classifica-os e então
ocorre a análise propriamente dita.
Para encerrar o texto, a autora afirma que a análise qualitativa é mais do que a
classificação de opiniões, mas sim a descoberta de códigos sociais a partir do levantamento
dessas opiniões. Alega também, que a pesquisa não se encerra, pois toda investigação produz
conhecimento e indagações novas.

[1] MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza;
GOMES, Suely Ferreira Deslandes Romeu (orgs.).Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 27ª ed.
Petrópolis: Vozes, 2008, p.9-29.

[2] Minayo é graduada em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Ciências Sociais
pela State University of New York, possui mestrado em Antropologia também pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro e doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Atualmente é
pesquisadora dessa fundação e editora científica da revista Ciência & Saúde da Associação Brasileira de
Saúde Coletiva.

[3] Minayo (2008) utiliza de critérios citados por ela na obra “O desafio do conhecimento”, publicado em
2006, e por Demo (1985) em “Metodologia científica em Ciências Sociais”.
RESENHA

Pesquisa Social: teoria, método e criatividade

Vera Lucia Martiniak

MINAYO, M. C. S. ( Org ); DESLANDES, S.F.; CRUZ NETO, O . GOMES, R.


Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

A obra, aqui comentada, traz as contribuições de quatros autores sobre o percurso


da investigação social e da pesquisa qualitativa.

No primeiro capítulo, basicamente teórico, Maria Cecília de Souza Minayo nos


coloca o embate sobre a cientificidade das ciências sociais em relação as ciências da
natureza. A interrogação em torno da cientificidade das ciências sociais se desdobra
em várias questões: o tratamento de uma realidade da qual somos agentes, a
busca pela objetivação descaracteriza a subjetividade e por último, que método
geral trataria de uma realidade marcada pela especificidade e pela diferenciação.

Outro aspecto das Ciências Sociais é o fato de que ela é intrínseca e


extrinsecamente ideológica, pois a ciência veicula interesses e visões de mundo
historicamente construído, e seu objeto é essencialmente qualitativo, na medida
em que a realidade social é mais rica que qualquer teoria, pensamento e discurso
que possamos elaborar sobre ela. Desta forma, a autora destaca a metodologia
como o caminho do pensamento e a prática exercida sobre a realidade, porém,
nada substitui a criatividade do pesquisador.

Toda investigação se inicia por um problema, articulados a conhecimentos


anteriores, denominado de teoria. Portanto a teoria é um conhecimento que nos
servimos no processo de investigação com um sistema organizado de proposições,
que orientam a obtenção de dados, na análise e de conceitos que veiculam seu
sentido. Na utilização de um conjunto de proposições relacionados, a teoria busca
uma ordem e uma tentativa de ser compreendida pelos membros de uma
comunidade que seguem o mesmo caminho de reflexão e ação.

A autora também faz uma diferenciação entre a pesquisa qualitativa e a


quantitativa. A primeira se preocupa com um nível de realidade que não pode ser
quantificado ou reduzidos á operacionalizações de variáveis, a outra, se opõem a
esta na utilização dos termos do tipo matemático para a compreensão da realidade.

No segundo capítulo, Suely Deslandes nos coloca as várias fases da construção do


projeto. Ao elaborarmos um projeto científico estamos trabalhando com pelo menos
três dimensões que são interligadas: a dimensão técnica, a dimensão ideológica e a
dimensão científica. Neste capítulo é dada a ênfase á dimensão técnica, pois
viabiliza o acesso ao conhecimento. O projeto também é utilizado para o
pesquisador comunicar seus propósitos de pesquisa para sejam aceitos na
comunidade científica e para obter financiamentos.

A autora apresenta os elementos constitutivos de um projeto de pesquisa. Iniciando


pelo tema da pesquisa que indica uma área de interesse a ser investigada e a
formulação de perguntas ao tema proposto constituindo-se na problematização. O
segundo elemento diz respeito a definição da base teórica e conceitual, sendo
imprescindível a definição clara dos pressupostos teóricos das categorias e
conceitos a serem utilizados. O terceiro elemento é a formulação de hipóteses,
como tentativa de criar indagações a serem verificadas na investigação. A
justificativa, descreve os motivos da realização da pesquisa, contribuições,
intervenção ou solução para o problema.

O quinto elemento trata dos objetivos, buscando responder ao que se pretende na


pesquisa, que metas almeja-se alcançar ao término da investigação, e a
metodologia, como a definição de instrumentos e procedimentos para a análise dos
dados.

O cronograma é utilizado para traçar o tempo necessário para a realização de cada


uma das etapas propostas. Em seguida, encontramos as referências bibliográficas e
para finalizar os anexos.

No terceiro capítulo, Otávio Cruz Neto, nos coloca que após definirmos o projeto,
devemos selecionar as formas para investigar esse objeto. Destaca a entrevista e a
observação participante como componentes importantes da pesquisa qualitativa.
Também traz algumas pistas para que sejam observadas durante a aplicação
destas técnicas.

No capítulo final, Romeu Gomes, chama a atenção para os dados insuficientes,


dificultando o estabelecimento de conclusões. Quando o projeto de pesquisa é
estruturado ou os problemas mencionados são resolvidos, poderemos iniciar a fase
de análise e interpretação dos dados. Mas para que esta análise seja eficiente,
temos que estar atentos para não se iludir com aquilo que se apresenta aos nossos
olhos. Outro aspecto importante refere ao fato do pesquisador não esquecer os
significados presentes em seus dados e a dificuldade em articular as conclusões que
surgem dos dados concretos com conhecimentos mais amplos ou mais abstratos.

As orientações presentes nesta obra auxiliam os iniciantes em pesquisa científica, a


ampliarem seu conhecimento no mundo da investigação social e da pesquisa
qualitativa. Para compreendermos o significado da pesquisa é necessário
considerarmos as duas tônicas: a parte teórica e a parte técnica. Nesse sentido os
autores expõem de uma forma clara e compreensível os conceitos básicos da
pesquisa social.

O livro é bastante prático, sem no entanto, ignorar aspectos mais teóricos,


abordados na primeira parte. Na segunda parte os autores orientam a elaboração
da pesquisa, desde a escolha do tema, a metodologia, até a análise dos dados.
Desta forma esta obra se apresenta como um norteador para a elaboração de um
projeto que atenda as necessidades do pesquisador na sondagem da realidade.
RESUMO DO LIVRO PESQUISA SOCIAL : TEORIA, MÉTODO E CRIATIVIDADE*

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Ciência, Técnica e Arte: o desafio da Pesquisa Social. In:
________ (Org.) Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. 9ª Ed. Ed. Vozes; Petrópolis,
1998.

Este capítulo nos mostra a complexidade de estudar o ser humano e conhecê-lo, pois, à
medida que o estudamos , estamos investigando a nós mesmos e percebemos assim, o quanto
é difícil conhecer nossos pensamentos, nossas idéias, e que, apesar de sermos semelhantes
(fisicamente), temos personalidade diferente, pois cada ser é dotado de particularidades. O
homem sempre procurou explicações convincentes para alguns fenômenos, tentando explicá-
los por meio da Filosofia, da Religião, da Ciência, da Arte, etc. A ciência e a Religião são mais
aceitas pela sociedade como modelos de explicação para a existência, no entanto, a Ciência
tem mais supremacia, por basear-se em fatos e prová-los. Contudo, ainda existem situações
que a Ciência não pode explicar, assim como podemos encontrar nela muitas contradições (a
exemplo da cientificidade das ciências sociais, que busca a objetividade no homem, ao mesmo
tempo em que afirma que ele é subjetivo). O objeto de estudo das ciências sociais é o homem
e este é histórico, porque tem tempo e espaço; tem consciência histórica, porque tem noção
de quem ele é. As ciências sociais, à medida que se aprofundam na ideologia, distanciam-se
dela (da ideologia). O capítulo nos adverte que é necessário termos consciência histórica,
conhecendo a nós mesmos, vendo nossa posição no mundo e assumindo-a.

*protegida por direitos autorais.

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