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Processo: 0032817-72.2018.8.16.0000
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27/03/2019 Jurisprudência - TJPR
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27/03/2019 Jurisprudência - TJPR
RELATÓRIO
Maria Augusta Packer Hintz opôs Embargos de Terceiro com pedido liminar em face de Milton Antônio de
Oliveira Digiácomo.
Narrou que fora casada com o embargado, sob regime de comunhão parcial de bens, mas divorciara-se.
Destacou que não é parte em nenhum dos processos da denominada “Operação Publicano”, na esfera cível
e/ou criminal, que envolvem seu ex-marido.
Arguiu que o decreto cautelar de indisponibilidade de bens recaíra sobre bens de sua propriedade, pois não
observada a meação dos bens adquiridos na constância do matrimônio e aqueles considerados “produto” e/ou
“fruto” de seu patrimônio particular, inclusive herança.
Noticiou que o imóvel objeto da Matrícula n. 26.145 do Cartório de Registro de Imóveis da 6ª Circunscrição
de Curitiba/PR, a que Milton Digiácomo informa ser proprietário da cota parte de 16,66% e que o Ministério
Público pretende a manutenção da indisponibilidade sobre 33%, fora adquirido em condomínio tão-somente
entre si e seus irmãos.
Aduziu que, apesar de casada à época da aquisição, seu esposo não participara do condomínio formado.
Argumenta que os recursos utilizados pertenciam ao seu patrimônio pessoal e não integravam o patrimônio
comum do casal. Sustentou que o bem em questão não poderá responder por eventual condenação imposta ao
seu ex-marido, ora embargado.
Requereu a concessão de medida liminar para suspender o procedimento de Alvará proposto por Milton de
Oliveira Digiácomo até o julgamento dos presentes embargos de terceiro e suspender os efeitos da
indisponibilidade sobre o imóvel objeto da Matrícula n. 26.145 do 6º CRI de Curitiba.
No mérito, a procedência dos pedidos para afastar a indisponibilidade que recai sobre o imóvel e declarar sua
propriedade exclusiva da quota-parte de 33% do imóvel, em condomínio com seus irmãos.
Determinada a emenda à petição inicial (mov. 19.1), a embargante anexou cópia atualizada a matrícula do
imóvel e esclareceu que não houve a alienação do imóvel e ainda é sua legítima proprietária. Destacou que
não promovera a partilha por causa da existência de ações de improbidade contra seu ex-marido, de maneira
que mantém a condição de terceiro para propor os embargos. Requereu o regular prosseguimento do feito,
com análise do pedido liminar (mov. 22.1).
Intimada sobre a pretensão de depósito do valor equivalente a 33,33% do imóvel (mov. 24.1), a embargante
não concordara com o pedido (mov. 27.1).
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Intimado, o Ministério Público postulou a rejeição dos pedidos liminares, a revogação da indisponibilidade
sobre o imóvel ante o depósito integral da quantia equivalente à quota-parte bloqueada e a intimação da
embargante para juntar o formal de partilha (mov. 30.1).
O magistrado , Dr. Emil T. Gonçalves, deferiu a quo “(...) em parte inaudita altera parte pela parte
embargante para suspender o procedimento de alvará judicial, autos nº 0016446-25.2017.8.16.0014 em
(mov. 33.1).trâmite neste 2ª Vara da Fazenda Pública até decisão final nestes autos”
Contra essa decisão, Maria Agusta Packer Hintz interpõe o presente recurso.
Argumenta que, diferentemente do alegado por seu ex-marido no procedimento de Alvará n.
16446-20.2017.8.16.0014, o imóvel objeto da matrícula n. 26.145 foi adquirido exclusivamente por si e seus
irmãos, em condomínio, sem a participação de seu então esposo. Sustenta que o nome de Milton de Oliveira
Digiácomo consta do registro somente porque eram casados no regime da comunhão parcial de bens à época
da aquisição do imóvel.
Aduz que adquiriu o imóvel com recursos exclusivos, sem a participação de seu ex-marido e, embora já
decretado o divórcio, a partilha somente não se efetivara por causa da indisponibilidade de bens determinada
na ação civil por ato de improbidade administrativa. Destaca que, independentemente da partilha, o imóvel
sequer integra a comunhão de bens do casal.
Assevera que possuía recursos suficientes para adquirir a cota-parte de 33,33% do imóvel, em condomínio
com seus irmãos, consoante demonstra sua declaração de Imposto de Renda, juntada aos autos. Registra,
inclusive, que o imóvel não integra a declaração de bens de seu ex-marido.
Afirma que o imóvel foi adquirido em 2003, antes da deflagração da denominada Operação Publicano e
sequer poderia ter sido adquirido com o produto de ilícitos praticados por seu então esposo. Salienta que não
existe vínculo entre os fatos em apuração no âmbito da ação civil pública por ato ímprobo e o imóvel objeto
da indisponibilidade de bens.
Requer a concessão da tutela provisória recursal para suspender os efeitos da indisponibilidade que recai sobre
o imóvel de matrícula 26.145 6º CRI Curitiba. No mérito, a reforma da decisão agravada.
O efeito almejado não foi concedido (mov.6.1 – Projudi 2).
Foram apresentadas as contrarrazões (mov.29.1 – Projudi 2).
A douta Procuradoria Geral de Justiça, pela lavra do Procurador, Dr. Saint-Clair Honorato Santos, se
manifestou pelo (mov.35.1 – Projudi 2).
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VOTO
Trata-se de agravo de instrumento interposto por Maria Augusta Packer Hintz contra decisão que, nos autos de
embargos de terceiro promovidos pela ora embargante contra Milton de Oliveira Digiácomo, indeferiu a
liminar almejada para afastar a indisponibilidade que recai sobre o bem, deferida nos autos de ação civil por
ato de improbidade administrativa a que responde o embargado.
Registre-se, inicialmente, o cabimento do presente agravo de instrumento, por se tratar de recurso dirigido
contra decisão que versa sobre tutela provisória, além de proferida em sede de embargos de terceiro, nos
termos do art. 1.015, I e parágrafo único, CPC:
“Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
(...)
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no
processo de execução e no processo de inventário.”
Os embargos de terceiro são admissíveis sempre que, quem não for parte no processo, sofrer constrição em
bem do qual seja possuidor ou de que tenha o domínio. Insere-se no conceito de terceiro, para fins de
legitimidade para propor os embargos de terceiro, a esposa do executado, para resguardar sua nomeação, ex vi
do art. 674, § 2º, I, do CPC:
“Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de
constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o
ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de embargos
de terceiro.
(...)
§ 2º Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos:
I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou de sua
meação, ressalvado o disposto no art. 843;”
Compete ao embargante, já na petição inicial, fazer prova sumária posse ou do domínio, assim como da
condição de terceiro, conforme prevê o art. 677 do CPC:
“Art. 677. Na petição inicial, o embargante fará a prova sumária de sua posse ou de seu
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É irrelevante se a aquisição do bem é anterior ou posterior ao ato ímprobo atribuído ao agente, pois no caso de
condenação em penas pecuniárias, a integralidade do seu patrimônio responderá pela futura execução e, por
conseguinte, poderá ser tornado indisponível por força da cautelar.
Nesse sentido:
“PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. BENS
ADQUIRIDOS ANTES DO ATO IMPROBO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. DEMONSTRAÇÃO.
PROVIMENTO DO RECURSO. 1. A jurisprudência do STJ abona a possibilidade de que a indisponibilidade,
na ação de improbidade administrativa, recaia sobre bens adquiridos antes do fato descrito na inicial. A
medida se dá como garantia de futura execução em caso de constatação do ato ímprobo. Irrelevante se a
indisponibilidade recaiu sobre bens anteriores ou posteriores ao ato acoimado de ímprobo. (Cf. AgRg no Ag
1.423.420/BA, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 28.10.2011; REsp 1.078.640/ES, Rel. Min.
Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 23.3.2010." e AgRg no REsp 937.085/PR, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, Segunda Turma, DJe 17/09/2012.0. 2. Configurado o dissídio jurisprudencial, com o acórdão
recorrido em dissonância com a jurisprudência desta Corte, impõe-se o provimento do recurso especial. 3.
Recurso especial provido.”(REsp 1301695/RS, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/10/2015, DJe 13/10/2015).
Por derradeiro, registre-se que a agravante alienou o imóvel em comento na fração de 1/3 em favor da JNC
Administração e Participação S/A., pelo valor ajustado de R$ 900.000,00.
Nesse contexto, no julgamento do agravo de instrumento nº 0034818-30.2018.8.16.0000, concedeu-se alvará
judicial para liberar o gravame com relação ao imóvel adquirido pela empresa, recaindo a indisponibilidade
sobre o preço depositado.
O fato, contudo, em nada prejudica a discussão do presente recurso, ao considerar que a meação passa a recair
sobre o valor total pactuado no compromisso de compra e venda.
Com isso, a discussão em torno da titularidade não mais cinge-se com relação ao imóvel, mas sim sobre o
valor depositado pela JNC Administração e Participação S/A.
Do exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso interposto por MARIA AUGUSTA PACKER
HINTZ.
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