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REFERENCIAL TEÓRICO

Inovação na Gestão Pública

O tema inovação tem estado na roda das discussões, é assunto atraente,


levando em conta que se trata de uma pauta-chave para a competitividade das
organizações. Pesquisadores, acadêmicos e empresários têm-se debruçado sobre o
assunto de modo a entender o seu significado e o seu impacto onde a estratégia é
implementada.

Em seu sentido mais amplo, os conceitos de inovação são variados,


considerando a perspectiva que inúmeros autores têm do que vem a significar
inovação. Seguem alguns conceitos do termo, sob a ótica do setor privado e que
podem ser aplicados ao setor público:

No Manual de Oslo, material elaborado pela Organização para Cooperação e


Desenvolvimento Econômico – OCDE (OCDE, 2005, p. 57), inovação diz rspeito à
"introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que
concerne a suas características ou usos previstos", o que inclui "melhoramentos
significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares
incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais". Este manual traz,
além de conceitos e tipologias da inovação, um conjunto de orientações e
instrumentos para a mensuração da inovação em escala global.

Bautzer (2009) esclarece a importância das inovações para as empresas,


afirmando que elas permitem o aumento do valor de suas marcas e a percepção de
novos nichos de mercado, acrescentando que o processo de inovação é um caminho
sem volta e que é preciso desenvolver a capacidade de aprendizado e investimento
em conhecimento.

Ribeiro e Farias (2012, p. 54) citam o conceito de inovação aplicado ao setor


público, do Canada School of Public Service, que considera inovação como “a geração
e a aplicação criativa de novas ideias que produzam uma melhoria significativa em um
produto, serviço, atividade, iniciativa, estrutura, programa ou política”.

De acordo com Mulgan & Albury (2003), a inovação no setor público visa criar
e pôr em execução novos processos, produtos, serviços e métodos de entrega de
serviços que tragam para a sociedade melhoria significativa de eficiência, efetividade
e eficácia de resultados. A inovação é uma ferramenta para atingir os propósitos do
serviço público, e ela só será efetiva se houver uma relação sinérgica entre liderança,
gestão, recursos humanos e tecnologia deve existir.

Segundo os autores Ferrarezi e Amorim (2007), o ENAP define inovação


como mudanças em práticas anteriores, por meio da incorporação de novos
elementos da gestão pública ou de uma nova combinação dos mecanismos de gestão
existentes, que produzam resultados significativos para o serviço público e para a
sociedade.

A base conceitual é bastante ampla, todavia, a partir de todos estes conceitos


apresentados, é possível concluir que a inovação, como nova postura organizacional,
é sempre despertada em face das mudanças, de novas relações entre fatores que
rompem ou melhoram a ordem existente (SCHUMPETER, 1988).

Reforçando esta posição, Grizendi (2011) defende que a inovação surge em


decorrência de um fator que a induz, não se manifestando sem uma causa, tampouco
isoladamente. O autor enfatiza que é preciso trazê-la ao contexto da organização,
conjugando-a a procedimentos que estimulam a criatividade, aprendizado e
conhecimento, promovendo a formação de parcerias e o desenvolvimento
organizacional orientado pelo pensamento estratégico da organização. Bessant e Tidd
(2009) seguem a mesma linha de pensamento.

Indutores da inovação no setor público

O cenário atual, com suas mudanças de ordem social e econômica em ritmo


acelerado, faz com que organizações dos setores público e privado tenham que se
adequar para atender às demandas de bens e serviços orientados pela oferta, da
globalização da produção e da economia do conhecimento. Inovações relacionadas
com produtos, serviços, processos, dentre outras variáveis e em formatos
organizacionais surgem para definir a ação organizacional. A inovação chega como
fator-chave para a criação e sustentação de vantagens competitivas ou mesmo como
base para a compreensão de muitos dos problemas básicos da sociedade (HAGE,
1999).
A globalização vem carregada de complexidade, dificultando o papel do
Estado em sua principal função: promover a coesão social.

No Brasil, a década de 80 foi marcada, em um primeiro momento, pela


formulação de uma agenda pública de reformas orientada para a democratização das
políticas do ponto de vista das decisões e da extensão do acesso – uma vez que se
tem, como um dos principais pontos de estrangulamento na condução das políticas, o
fraco desempenho do governo quanto à execução de metas coletivas.

No Quadro 1, abaixo, estão elencadas várias posturas básicas para as


organizações que almejam alcançar a inovação levarem em consideração, bem como
os fatores ambientais que contribuem para a asfixia da inovação e que devem ser
eliminados.

Quadro 1: Questões básicas para inovação e fatores que asfixiam.


Questões básicas para alcançar a Fatores ambientais que asfixiam a
inovação: inovação:
Promover a criatividade dentro da Falta de entrosamento por conta de
equipe escala hierárquica
Organizar a inovação, passo a passo Má comunicação entre os
colaboradores
Reinventar a gestão para direcioná-la Ordens de cima para baixo
para a inovação
Tudo que é novo assusta, deve saber Falta de criatividade nas mudanças
administrar as mudanças
Administrar e compartilhar os Não dar atenção aos conhecimentos
conhecimentos mútuos dos colaboradores internos
Gerenciar a diversidade entre a equipe de Atividade inovadora sem foco
forma eficaz e responsável
Práticas contábeis que não apoiam a
inovação
Fonte: Dias (2014, p. 76 e 77).

A análise dos fatores acima, permite concluir que não se pode inovar sem uma
postura criativa, de modo que a organização, seja ela pública ou privada, deve assumir
os riscos e desafios necessários para que as ideias se concretizem por meio de
decisões que funcionem com êxito, trazendo o resultado último que é a inovação.

No quadro seguinte, podemos observar uma série de fatores que induzem à


inovação, bem como suas definições:
Quadro 2. Indutores de inovação
Indutor Definição
Orientado a Introdução de inovações para responder a um ou mais
problema problemas específicos, tais como fatores demográficos,
envelhecimento da população, obesidade infantil, entre
outros
Não orientado a Necessidade de melhorias em relação a uma situação
problema anterior em vez do tratamento de um problema específico
Impulso político Mudanças estratégicas no serviço público que requerem
decisões fortes do topo par a base. Pode ser baseada em
ideologia ou em resposta a eventos críticos e pressões e
também pode se refletir através da imposição de metas de
desempenho
Fatores tecnológicos Surgimento ou disponibilidade de novas tecnologias que
proporcionam oportunidades de inovação
Imposição legal Criação de regulação, lei, decreto, emenda constitucional
ou ação governamental que induzem inovação

Fonte: Adaptado de Halvorsen et al. (2005), Koch e Hauknes (2005) e Agolla e Lill (2013)

No quadro seguinte, pode-se observar, de acordo com Valladares et al.


(2014), sete capacidades de inovação, evidenciando com isto as inúmeras
possibilidades de trazer resultados inovadores no setor público.

Quadro 3. Capacidades de inovação


Capacidade Definição
Aquela que torna seus seguidores mais conscientes da
Liderança importância e do valor do trabalho, ativa suas necessidades
transformadora de ordem superior, e os induz a transcender seus interesses
pessoais em prol da organização
Grau que a organização está disposta a assumir riscos para
Intenção estratégica
favorecer a mudança, o desenvolvimento tecnológico e a
de inovar
inovação, estabelecendo-os por meio de sua estratégia
Orientação da gestão de pessoas para a inovação,
provendo a concessão de liberdade ou autonomia de
Gestão de pessoas atuação aos empregados, estabelecendo metas
para inovação desafiadoras, permitindo que decidam como alcança-las e
favorecendo a autorrealização e o comprometimento com
os objetivos da organização
Conhecimento do Habilidade para detectar os eventos, necessidades,
usuário e do expectativas, mudanças significativas e tendências dos
ambiente usuários e do ambiente
Gestão do processo de criação e desenvolvimento de
Gestão estratégica tecnologias, visando à criação de valor. O processo de
da tecnologia gestão tecnológica compreende cinco etapas: identificação,
seleção, aquisição, exploração e proteção
Grau em que a estrutura é caracterizada pela concessão de
autonomia, controles flexíveis, comunicação horizontal
Organicidade da desimpedida, valorização do conhecimento e da
estrutura experiência e informalidade nas relações pessoais.
organizacional Estrutura ditas orgânicas permitem resposta mais rápida às
mudanças no ambiente externo do que as denominadas
mecanicistas
Planejamento, provisão dos recursos, execução e controle
do processo de inovação. Inclui cuidadosa avaliação dos
projetos, análise e planejamento visando, principalmente,
Gestão de projetos
ganhar compreensão, compromisso e apoio tanto
corporativo quanto do pessoal que estará envolvido no
projeto
Fonte: Adaptado de Valladares et al. (2014).

As organizações públicas só têm a ganhar, aplicando processos gerenciais


inovadores, substituindo antigos sistemas que não mais dão sustentação sólida à
eficaz gestão administrativa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Agolla, J. E., & Van Lill, J. B. (2013). Public Sector Innovation Drivers: A
Process Model. Journal of Social Sciences, 34(2), 165-176.

BAUTZER, D. Inovação: repensando as organizações. São Paulo: Atlas,


2009.

BESSANT, J.,& TIDD, J. (2009). Inovação e empreendedorismo. Porto


Alegre: Bookman.

DIAS, R. Eco. Inovação: Caminho para o crescimento sustentável. São


Paulo: Atlas, 2014.

ENAP – ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Balanço de


cinco anos do concurso organizado pela Enap. Brasília: Enap, 2001.

FERRAREZI, E.; AMORIM, S. N. Concurso Inovação na Gestão Pública


Federal: análise de uma trajetória (1996-2006). Brasília: Enap, 2007. p. 1-53.
(Cadernos Enap, n. 32).

GRIZENDI, E. (2011). Manual de orientações gerais sobre inovação.


[Brasília, DF]: Ministério das Relações Exteriores. Departamento de Promoção
Comercial e Investimentos. Divisão de Revista Brasileira de Gestão e Inovação –
Brazilian Journal of Management & Innovation v.3, n.2, Janeiro/Abril – 2016 ISSN:
2319-0639. Disponível em http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/RBGI/index.
Acesso em 18 de fevereiro de 2019.

HAGE, J. T. Organizational innovation and organizational change. Annual


Review of Sociology, 1999. p. 597-622.

Halvorsen, T., Hauknes, J., Miles, I., & Roste, R. (2005). On the

differences between public and private sector innovation. Oslo: NIFU STEP.

Koch, P., & Hauknes, J. (2005). Innovation in the Public Sector. Publin
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MULGAN, G., & ALBURY, D. (2003). Innovation in the public sector.


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OCDE. Manual de Oslo. 3ª ed. FINEP/OECD, 2005.

RIBEIRO, J. C. de M.; FARIAS, R. A. Inovação no setor público. In:


MACHADO, N. et al. GBRSP – Gestão baseada em resultado no setor público:
uma abordagem para implementação em prefeituras, câmaras municipais,
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SCHUMPETER, J. Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo:


Abril Cultural, 1988.

Valladares, P. S. D. de A., Vasconcellos, M. A. de, & Di Serio, L. C. (2014).


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VIEIRA, Lear Valadares. Inovação no setor público: indutores,


capacidades, tipos e resultados de inovação. 2016. 85 f., il. Dissertação (Mestrado
em Administração) Universidade de Brasília, Brasília, 2016.

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