You are on page 1of 14

DOCUMENTOS TÉCNICO-CIENTÍFICOS

O Turismo e sua Influência no Comércio,


Comunidade e Desenvolvimento Local do
Sítio Histórico de Olinda-PE

RESUMO Danielle Mesquita da Costa Silva


• Mestre em Administração e
Identifica a atuação do turismo no sítio histórico
Desenvolvimento Rural pela Universidade
de Olinda, destacando a influência que exerce nos
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
residentes, no comércio e no desenvolvimento local.
Contou com informações de pesquisas empíricas • Especialista em Gestão Empreendedora
realizadas em dois espaços de tempo. Nestas do Turismo pela Faculdade Integrada do
Recife (FIR).
condições, compararam-se os resultados de pesquisa
realizada em 2010 com outra pesquisa realizada entre • Bacharel em Turismo pela Faculdade de
2006 e 2007 com os moradores e comerciantes Ciências Humanas de Olinda (FACHO).
daquele sítio histórico. De acordo com os dados, Maria Gilca Pinto Xavier
é crescente a atuação do turismo e do seu efeito
• Doutora em Desenvolvimento Urbano
multiplicador sobre a geração de emprego e renda,
pela UFPE.
divulgação e valorização de Olinda e investimentos na
infraestrutura e urbanização. Por outro lado, o turismo • Mestre em Sociologia pela Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP).
também causa a elevação nos preços de diversos
produtos e serviços que também são utilizados pela • Graduada em Ciências Sociais pela
comunidade. O impacto negativo ocorre, sobretudo, Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
na época de carnaval, com o aumento dos problemas • Professora Adjunta III da UFRPE.
sociais como insegurança, prostituição e se observa • Pesquisadora Líder do Grupo de
uma sobreutilização da infraestrutura urbana com a Pesquisa para Caracterização de
expansão de lixo e falta de água. Privilegia a dimensão Aglomeração Produtiva, Inovação e
territorial no desenvolvimento turístico salientando, de Empreendedorismo (CARISMA).
um lado, as especificidades do crescimento regional e, • Docente do Curso Pós-Graduação em
de outro, o crescimento do turismo do ponto de vista Administração e Desenvolvimento Rural
local. (UFRPE).

Samuel Lincoln Bezerra Lins


PALAVRAS-CHAVE
• Doutorando em Psicologia pela
Desenvolvimento Local. Influência do Turismo. Universidade do Porto;
Olinda. • Mestre em Psicologia Social pela UFPB;
• Graduado em Psicologia (Licenciatura e
Formação) pela UFPB;
• Graduado em Psicologia (Formação)
pela UFPB.
• Graduado em Administração pela UFPB.
1 – INTRODUÇÃO Mercado Eufrásio Barbosa, antiga fábrica de doces e
que, atualmente, recebe diversos eventos culturais.
O turismo é resultante do deslocamento de pessoas (CONTINENTE TURISMO, 2005). No Alto da Sé, há a
para lugares diferentes do seu entorno habitual, Igreja do Nosso Senhor Salvador do Mundo (Igreja da
exercendo, a partir do seu desenvolvimento no local, Sé), construída em 1535, sendo a primeira paróquia do
influências no surgimento de benefícios e impactos Nordeste e, desde 1676, é a Catedral da Arquidiocese
negativos para o destino. de Olinda e Recife.

A atividade turística se destaca pela possibilidade A cidade é sede de eventos culturais, como “Arte
de proporcionar o crescimento e desenvolvimento local em Toda a Parte”, que contempla uma exposição de
a partir do momento em que agrega melhorias para centenas de obras de artistas plásticos e artesãos,
os seus atores sociais. Nesse sentido, o planejamento sobretudo na Rua do Amparo, por concentrar
turístico torna-se indispensável para minimizar os uma enorme quantidade de ateliês; e a Mostra
impactos negativos e potencializar os positivos Internacional de Música em Olinda (Mimo), com
decorrentes da atividade. diversas apresentações culturais regionais, nacionais
e internacionais e habilidades musicais diversas. Na
Em Olinda, um dos destinos mais conhecidos de
gastronomia, há destaque para a tapioca, considerada
Pernambuco, observa-se o turismo como agente de
patrimônio imaterial da cidade, bem como os
diversas mudanças sociais, econômicas, psicológicas,
estabelecimentos que oferecem pratos regionais e
entre outras, de forma mais acentuada no sítio
internacionais.
histórico.
Devido ao vasto e rico acervo arquitetônico, civil,
Diante disso, este trabalho visa identificar a atuação
religioso e militar, com monumentos datados dos
do turismo no Sítio Histórico de Olinda, destacando a
séculos XVI, XVII, XVIII e XIX, Olinda foi intitulada,
influência que exerce nos residentes, no comércio e
em dezembro de 1982, “Cidade Patrimônio Histórico
no desenvolvimento local. Para isso, foram utilizadas
e Cultural da Humanidade”, pela Organização para
as pesquisas realizadas em 2010 e entre 2006 e
Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Já em 2006,
2007, mantendo-se o número de entrevistados
a cidade ganhou ainda mais destaque, por ser uma
(50 comerciantes e 80 residentes) e variáveis nas
referência cultural no país, no Projeto Capital Brasileira
categorias comerciantes (contribuição do turismo para
da Cultura (CBC). Estes títulos levam a uma maior
o comércio, preços cobrados pelos produtos e serviços
divulgação e valorização do seu conjunto arquitetônico,
oferecidos e estratégias de venda na época de baixa
atraindo turistas de várias partes do mundo.
estação) e moradores (aspectos positivos e negativos
na atuação do turismo no Sítio Histórico, percepção Uma das grandes atrações de Olinda é o carnaval,
sobre o turista, relação dos residentes com os conhecido pelos bonecos gigantes, como “O Homem
visitantes e o fornecimento de informações da cidade) da Meia Noite” e “A Mulher da Tarde”, além dos blocos
nas duas pesquisas. “Pitombeira dos Quatro Cantos” e o “Bacalhau do
Batata”, que são embalados ao som de ritmos como o
2 – O SÍTIO HISTÓRICO DE OLINDA E SUA frevo e o maracatu. É nesse período que há o aumento
RELAÇÃO COM O TURISMO no número de turistas e, para atender a essa demanda,
a cidade dispõe de diversos estabelecimentos
Olinda, distante 6km da capital, Recife, é conhecida hoteleiros.
por suas ladeiras, casarões, mercados, museus
e ateliês, localizados no sítio histórico. Entre os Com o desenvolvimento do turismo, houve
monumentos, há o Mosteiro de São Bento, sede do a formação do comércio no local, constituído,
primeiro curso de Direito do Brasil, inaugurado em predominantemente, de pequenos comerciantes e
1827; o Mercado da Ribeira, edificação característica prestadores de serviços ligados direta e indiretamente
do Brasil Colônia que abriga galerias de arte, e o ao turismo, bem como o surgimento de diversos

60 Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013


projetos, que funcionam principalmente no sitio segundo, ao significado emocional e avaliativo atribuído
histórico: a Companhia Independente de Apoio ao Turista a essa integração. Logo, quando os turistas (os
(Ciatur), grupo da Polícia Militar, que atua em áreas de outros) vêm, representam uma ameaça à identidade
especial interesse turístico e disponibiliza um serviço local, pois não fazem parte dela e não expressam as
de orientação e informações turísticas, além de atuar mesmas emoções e sentimentos dos moradores,
em ocorrências que envolvem os visitantes; e a surgindo o preconceito e sentimentos negativos frente
Associação dos Condutores Nativos de Olinda (Acno), aos turistas. Quando se comportam de maneira mais
contendo 60 profissionais com domínio de vários desinibida, ousada e dispostos a correr riscos, cria-se
idiomas, que oferecem serviços de orientação em city nos residentes uma apatia aos turistas. (DIAS, 2005).
tours.
O turismo também pode acentuar problemas
A cidade também tem sido contemplada com como criminalidade, prostituição, congestionamentos,
melhorias na infraestrutura, como a instalação de 20 poluição e falta d’água, causando o descontentamento
postes decorativos com formatos de sombrinha de nos residentes e visitantes, levando ao surgimento
frevo, revitalização e construção do estacionamento de experiências negativas, envolvendo sentimentos,
e calçadão no Fortim de São Francisco (Fortim do percepções e memórias que podem fugir do controle
Queijo), embutimento da fiação de 40 ruas do Sítio ou vontade do ego − complexo de inferioridade, de
Histórico e requalificação do Largo do Varadouro superioridade e de ambição. (SILVA, 2001).
(MONUMENTA, 2010), além das obras para a
estruturação da orla de Olinda, com investimentos do Na economia, o turismo sempre apresenta
Ministério do Turismo, para a recuperação da faixa destaque, pela criação de inúmeros empregos diretos e
de terra localizada a beira-mar e readequação da via indiretos e pelo incentivo à diversidade econômica local
e dos estacionamentos com travessias de pedestres. a partir do desenvolvimento dos setores em iniciativas
(OLINDA, 2010). baseadas em sinergias locais, com o surgimento e
ampliação de oportunidades de negócios envolvendo
diversos segmentos locais e gerando benefícios
3 – O TURISMO E SEUS EFEITOS NO
de forma mais equânime a todos os envolvidos na
LOCAL VISITADO atividade. (RODRIGUES, 2007). Em geral, o turismo se
Enquanto atividade social, política, ambiental, constitui num tipo de serviço (CANO, 1998) prestado
cultural e, sobretudo, econômica, o turismo pode atuar à sociedade, com fins lucrativos, que abrange vários
de forma positiva e negativa. (OLIVEIRA, 2010; CUNHA; outros tipos de insumos para a realização da atividade.
CUNHA, 2010; FERNANDEZ, 1974a, 1974b). Em No entanto, Swarbrooke (2000) atenta que a
relação à autoestima da comunidade anfitriã, estimula excessiva dependência financeira da atividade turística
o orgulho pela cidade através do fortalecimento torna a economia mais vulnerável a mudanças no
da imagem local na mídia. Os investimentos em mercado de turismo. Além disso, a atividade pode
infraestrutura básica e de apoio turístico melhoram as gerar o aumento no custo de vida local, quando,
condições de vida dos moradores, ao mesmo tempo na formação dos preços dos produtos e serviços
que favorecem os visitantes. (DIAS, 2005). existentes, levam em consideração o poder aquisitivo
Por ser um fenômeno de interação entre o turista e dos turistas, que, geralmente, apresenta-se maior que
o núcleo receptor, o turismo oferece um intercâmbio o da população autóctone. A especulação imobiliária
cultural entre visitante e residente, aumentando a também desfavorece os residentes a partir do aumento
compreensão e o respeito às diferenças, através do significativo do valor do solo local em decorrência da
conhecimento de outras culturas. (BARRETTO, 2007). sua utilização para o turismo. (SANCHO, 2001).
Tajfel (1972) considera que a identidade social tem O destino “sol e mar” sempre foi o mais procurado
dois aspectos: o primeiro diz respeito ao sentimento pelos turistas visando buscar o descanso e lazer em
de pertencer ao grupo em que se está inserido; e o áreas litorâneas. No entanto, é visto o aumento do

Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013 61


interesse no conhecimento das características do local possível crise pela falta de fornecimento de matéria-
visitado, como gastronomia, manifestações culturais, prima para elas. (MARSHALL, 1985 apud SILVA, 2010).
patrimônios históricos e artesanato, tornando-as
atrativos turísticos. Este fato incentiva uma maior Neste contexto, o turismo tem sido um instrumento
atenção por parte dos moradores, pela sua cultura, na geração de divisas para o local através da geração
incentivando a conservação de monumentos históricos de emprego e renda e maior arrecadação de impostos,
e obras de arte. (BENI, 2006). além de ser considerado por muitos autores como uma
indústria (BARRETTO, 2007; GASTAL, 2000; SERRANO;
Ao explanar sobre essas questões de identidade BRUHNS; LUCHIARI, 2000.), dentre diversos fatores,
cultural, Hall (2010) afirma que vivemos numa época pelas transformações ocorridas em uma região, já
pós-moderna onde as identidades são fragmentadas que consiste em uma atividade de integração entre a
e não existe uma cultura fechada e absoluta. Desse produção, distribuição e o consumo de bens e serviços
modo, o turismo tem a característica de interagir e visando à satisfação da demanda. Esta percepção
influenciar diversas pessoas, grupos e comunidades, enquadra-se no ponto de vista dos neoclássicos
modificando o pensamento e valores sociais. a partir da visão de integração, cooperação e
centralização, levando em conta a concepção de polo.
Contudo, é importante lembrar que a cultura é parte (BALANZÁ, 2003).
integrante da identidade local e sua mercantilização
pode resultar na descaracterização do patrimônio O turismo funciona como polo, pela
cultural, perdendo a sua originalidade quando descentralização de atividades que são atraídas
sacrificadas em função de promover o turismo. pela força integradora das diversas partes que
Conforme afirma Lanfant; Allcock e Bruenr (1995 apud compõem o espaço. O polo tende a organizar a
BARRETTO 2000b, p. 47-48): “O legado cultural, assim atividade pela integração e, desta forma, o turismo
transformado em produto para o consumo, perde seu pode ser um instrumento na geração de renda para o
significado. A história não é importante porque mostra desenvolvimento local.
as raízes, mas porque traz dinheiro”. Nesse sentido, a
cultura deixa de ser importante por suas implicações Souza (2009), quando explana a respeito da teoria
econômicas e, geralmente, reconfigura-se para atender da polarização (processo que ocorre entre as unidades
as exigências da atividade econômica do turismo. produtivas regionalmente, propagando-se através de
impulsos econômicos desequilibrados), cita o incentivo
no surgimento de polos secundários e da Indústria motriz,
4 – CRESCIMENTO ECONÔMICO VERSUS
que exerce empenhos motores significativos sobre o
DESENVOLVIMENTO LOCAL: crescimento local e regional, surgimento e atração das
CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA empresas satélites, fornecedoras de insumos para a
ATUAÇÃO DO TURISMO atividade principal, ocorrendo a indução significativa sobre
o crescimento no interior do complexo.
O crescimento econômico é extremamente
importante, pois atrela diversos benefícios, Um determinado destino pode transformar-se em
como aumento da renda. No entanto, não leva um polo turístico utilizando os insumos (características
necessariamente ao desenvolvimento local, já que é locais) para o crescimento local, o que possibilita
um resultado relacionado a diversos fatores, como a criação de atividades secundárias provenientes
a dispersão, composição e a sustentabilidade deste do turismo. É importante ressaltar que crescimento
crescimento. (THOMAS et al., 2002). econômico em cada região deve ser baseado em
diversos setores, pois indústria motriz não é o único
O surgimento de polos secundários e empresas
elemento de desenvolvimento regional.
satélites descentraliza o crescimento e promove o
desenvolvimento. A existência de diversas indústrias Outro fator importante abordado na Teoria do
diversifica a economia local e auxilia indiretamente crescimento endógeno e teoria dos polos deve-se
umas as outras, evitando a sua fragilização e uma ao fato de a região possuir as fontes de seu próprio

62 Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013


crescimento e que o meio cria as condições para a que levam a uma melhoria da qualidade de vida da
atração de capitais de outras áreas. (BARQUERO, população local.
2002). No entanto, a ampliação progressiva de
segmentos e setores de mercados diferentes do original 5 – O PLANEJAMENTO COMO
ocorre através do alcance do nível suficientemente ESTRATÉGIA NA MANUTENÇÃO DA
elevado de desenvolvimento do sistema produtivo local. ATIVIDADE TURÍSTICA A LONGO
(GAROFOLI, 1994). PRAZO
O turismo pode impulsionar o desenvolvimento de
De fato, o turismo é importante para o
aproximadamente 52 setores da economia (BRASIL,
desenvolvimento de um local. Definido como a soma
2010), gerando o efeito multiplicador em setores
das operações, sobretudo de natureza econômica,
ligados direta e indiretamente à atividade. Exemplifica
diretamente relacionadas com a entrada, permanência
Dias (2010) que o viajante poderá utilizar os serviços
e deslocamento de estrangeiros em um país, cidade ou
de hospedagem, alimentação, entretenimento,
região (VON SHULLERN, 1991 apud BENI, 2004), há
transportes, os de saúde e comércio em geral.
a dificuldade na identificação da sua influência em sua
Por outro lado, o turismo pode concentrar-se a uma totalidade. Este fato dá-se ao seu caráter multissetorial,
pequena parcela de pessoas, excluindo a comunidade atuando direta e indiretamente em diversas áreas,
dos benefícios gerados, e o lugar central (polo envolvendo uma estrutura composta por diversos
turístico) pode centralizar as mudanças estruturais serviços e equipamentos do local.
apenas para beneficiar a atividade. Vale salientar
No entanto, pelo fato de gerar impactos negativos
que o turismo é sazonal e que o desenvolvimento
na localidade, o planejamento deve estar inserido no
no capitalismo é desigual e combinado e, como
processo do desenvolvimento turístico através da
tal, observa-se um crescimento “polarizado” e as
formulação sistemática de um conjunto de propósitos
“atividades econômico-sociais restringem-se em
e decisões devidamente integrados, condicionando
“alguns pontos do espaço”, segundo a percepção
os meios para alcançá-los. (BARRETO, 2000a;
de Perroux (1977 apud WILTGEN, 1991). Este fato
RUSCHMANN, 1999). Um fator importante a ser
confirma a existência de uma unidade motriz através
considerado no planejamento turístico é o controle
da existência de polos principais, concentração
da capacidade de carga, tanto social como cultural
dos investimentos em infraestrutura e de atividades
e ambiental, evitando que o número de visitantes
diretamente produtivas em determinadas regiões. No
provoque alterações significativas nos meio físico e
entanto, o polo principal deve favorecer a formação de
social, gerando impactos para a comunidade anfitriã e
polos secundários e o surgimento das indústrias nas
na expectativa dos turistas. (DIAS, 2008).
regiões periféricas. (PERROUX, 1977).
O planejamento busca a prática do turismo
O desenvolvimento local consiste em um modelo
sustentável e atenta aos efeitos no destino. A respeito
participativo, com o incentivo de iniciativas endógenas
disso, Butler (1980 apud BARRETTO, 2000a)
e exógenas, que utilizam as potencialidades da região
alerta em relação ao Ciclo de Vida das Destinações
favorecendo o desenvolvimento espontâneo planejado
Turísticas em cinco fases: exploratório (recebimento
ou forçado (JESUS, 2007) e a melhoria dos indicadores
de pequeno número de visitantes no destino devido a
sociais e econômicos. (SOUZA, 2009).
indisponibilidade de infraestrutura para recebê-los);
Nesse sentido, o crescimento não leva a um envolvimento (implantação de serviços turísticos e
desenvolvimento local, principalmente se ocorrer a infraestrutura pelo empresariado local no objetivo
acumulação de capital para uma pequena parcela de receber os turistas); desenvolvimento (mercado
da população. Por isso, é necessário identificar se definido, com divulgação local em diversas mídias e
o turismo constitui-se um polo de crescimento ou controle dos serviços turísticos por empresas não-
desenvolvimento a partir do fomento de iniciativas locais); consolidação (número de turistas superando

Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013 63


a capacidade de carga local; dependência do turismo pesquisas (50 comerciantes e 80 moradores) visando
pela economia local); e estagnação (ociosidade do identificar a atuação do turismo no Sítio Histórico de
destino e utilização de recursos artificiais na atração de Olinda, destacando a influência que exerce nos residentes,
turistas. no comércio e no desenvolvimento local da cidade.

Nesse mesmo contexto, Doxey (1975 apud A pesquisa realizada com os comerciantes baseou-
BARRETTO, 2000a) estabelece as fases da relação se no levantamento de informações referentes à
entre residente e turista: euforia (sentimentos de contribuição do turismo para o comércio, preços
satisfação mútua, entusiasmo e vibração com o cobrados pelos produtos e serviços oferecidos,
desenvolvimento do turismo); apatia (contatos estratégias de venda na época de baixa estação. Na
formalizados através do pensamento do turista como pesquisa com os residentes, foram abordados os
um meio de obtenção de lucro fácil e rentabilidade aspectos positivos e negativos na atuação do turismo
local); irritação (saturação do local e incapacidade no Sítio Histórico, percepção sobre o turista, relação
de atender as necessidades dos turistas); dos residentes com os visitantes e o fornecimento de
antagonismo (surgimento de sentimentos como informações da cidade.
irritação e hostilidade aos turistas, considerados
culpados pelos impactos surgidos no local); e final As entrevistas foram quali-quantitativas, através
(destino modificado e busca na atração de outros da utilização de um formulário composto por
tipos de turismo, com ou sem autorização da perguntas fechadas e mistas. A amostragem foi não-
população local). probabilística por conveniência. Os resultados obtidos
serão apresentados através de tabelas e a tabulação
O turismo leva à procura dos destinos. No e interpretação de dados foi realizada com a análise
entanto, também pode levá-lo à decadência. (DIAS, descritiva dos dados cruzados visando conhecer as
2008). Diante disso, é indispensável a presença do relações entre as várias categorias de informação.
planejamento em todo processo turístico e a avaliação
dos seus efeitos no local, ressaltando que o seu 7 – PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS
êxito também dependerá do grau de envolvimento e ENTREVISTADOS
integração dos interesses dos agentes relacionados ao
seu desenvolvimento. 7.1 – Comerciantes
Nas entrevistas com o comércio, foram
6 – MÉTODO consultados diversos profissionais das áreas de
Uma das contribuições da pesquisa em artes, administração, vendas, gastronomia e outros
turismo consiste na explicação do contexto do seu que atuam direta e indiretamente no turismo no Sítio
desenvolvimento, na fundamentação das bases de Histórico.
controle através do estabelecimento de indicadores, Dos entrevistados, 64% foram do sexo feminino e
entendimento das situações específicas que envolvem 36% do sexo masculino, com faixa etária em média de
o setor e na preparação das mudanças requeridas, 34 anos e grau de escolaridade do ensino fundamental
permitindo a intervenção dos stakeholders locais e ao superior completo. 95% dos entrevistados possuem
proporcionando informações para auxiliar os atores faixa de renda entre 1 a 5 salários mínimos e 85%
sociais do turismo e os planejadores de políticas. trabalham em horário integral.
(SANCHO, 2005).
Os comerciantes possuem, em média, 12 anos de
Dentro dessa perspectiva, este estudo adotou como atuação no Sítio Histórico. Na primeira pesquisa, todos
metodologia a comparação dos resultados da pesquisa os comerciantes trabalhavam diretamente na atividade
realizada em 2010 com outra pesquisa realizada entre turística e, na segunda, pelos motivos anteriormente
2006 e 2007, mantendo-se o número de entrevistados mencionados, procurou-se entrevistar 25 pessoas que
nas categorias comerciantes e moradores nas duas lidam diretamente; e 25, indiretamente com o turismo.

64 Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013


7.2 – Comunidade para a comunidade. Nesta nova pesquisa, 8% dos
comerciantes atendem exclusivamente a turistas.
Dentre os entrevistados, 43,75% eram mulheres e (Tabela 2).
56,25% homens, com faixa etária, em média, de 37
anos e grau de escolaridade do ensino fundamental a Na primeira pesquisa, quando perguntados sobre
pós-graduação. Os moradores residem, em média, 18 a relação dos preços com a demanda turística,
anos no sítio histórico. Em relação à faixa de renda, 60% responderam que há o aumento nos preços
86,9% dos residentes possuem entre 1 a 5 salários; dos produtos/serviços oferecidos na alta estação;
10,6%, entre 6 a 10 salários; e 2,5%, entre 10 ou mais e 40% afirmaram que os preços são tabelados. Na
salários mínimos. segunda pesquisa, 38% dos entrevistados (31% atuam
indiretamente com o turismo) alteram os preços na
8 – RESULTADOS alta estação; e 62% (51% trabalham diretamente com
o turismo) não alteram os preços, por serem tabelados
8.1 – Comércio (80,7%); e pela dependência de outros fatores, como
fornecedores e custos de produção (19,3%). (Tabela 3).
Quando perguntados a respeito da importância
do turismo para o comércio, 52% dos entrevistados Na nova pesquisa, dos 50 entrevistados, 44%
responderam que a atividade auxilia no aumento das afirmaram os preços dos produtos e serviços
suas vendas; 28% complementam a renda familiar; consideram a renda dos residentes na formação de
10%, na divulgação do empreendimento; e 10%, preços, sendo estes acessíveis (45,5%); e pelo fato
contribui em todos os aspectos. Na pesquisa realizada de atenderem mais residentes que turistas (54,5%).
em 2010, 78% afirmaram que o turismo contribui no (Tabela 3).
aumento das vendas; 6% em todos os aspectos; e
16%, na divulgação dos estabelecimentos. (Tabela 1). Na pesquisa realizada em 2010, 56% dos
entrevistados (57% deste percentual trabalha
A respeito da relação econômica com o turismo, na diretamente com o turismo) não consideram a renda
primeira pesquisa, 50% dos entrevistados afirmaram dos residentes na formação dos preços, por focarem
depender exclusivamente e 50% fazem da atividade os turistas como público-alvo (56%); e por calcularem
o complemento da sua renda familiar. Na segunda os preços finais de acordo com os custos (13%). 7,9%
pesquisa, 20% dos comerciantes afirmaram que vivem dos comerciantes afirmaram que o preço cobrado é
exclusivamente da atividade. Dos demais (80%) que acessível aos dois públicos; e 10% afirmam que este
fazem do turismo um complemento para a renda preço é justo pelos produtos e serviços oferecidos;
familiar (19% trabalham diretamente com a atividade), 38% dos entrevistados afirmaram que já houve
61% possuem outras atividades complementares, reclamações por parte dos moradores sobre os preços
20% exercem, independentemente da atividade, o seu cobrados; no entanto, apenas 30% diminuíram os
trabalho o ano inteiro e 19% investem nas vendas preços.

Tabela 1 − Importância do Turismo para o Comércio


Complemento da renda Divulgação do Todos os
Período Aumento nas vendas
familiar estabelecimento aspectos
Set. 2006 a Jan. 2007 52% 28% 10% 10%
Jan. a Mar. de 2010 78% 0% 16% 6%
Fonte: Pesquisa em Campo/2006 a 2007 e 2010.

Tabela 2 − Relação Econômica dos Comerciantes com o Turismo


Período Dependem exclusivamente Complemento para a renda familiar
Set. 2006 a Jan. 2007 50% 50%
Jan. a Mar. de 2010 20% 80%
Fonte: Pesquisa em Campo/2006 a 2007 e 2010.

Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013 65


Tabela 3 − Preços dos Produtos e Serviços Comer- Tabela 5 − Atuação do Turismo no Sítio Histórico
cializados de acordo com a Demanda Período Traz benefícios Traz malefícios
Turística Set. 2006 a Jan. 2007 83,8% 16,2%
Jan. a Mar. de 2010 87,5 % 12,5%
Aumento na alta Permanência do
Período
estação preço Fonte: Pesquisa em Campo/2006 a 2007 e 2010.
Set. 2006 a Jan. 2007 60% 40%
Jan. a Mar. de 2010 38% 62% Na segunda pesquisa, 87,5% dos residentes
Fonte: Pesquisa em Campo/2006 a 2007 e 2010. responderam que o turismo contribui na geração de
emprego e renda (43%); aprendizagem da cultura local
e do visitante (17%); divulgação da cidade e de seus
Tabela 4 − Estratégia de Venda na Baixa Estação atrativos (13%); atração de visitantes (10%); melhoria
Diminuição
dos preços/
Partici- da infraestrutura (8,5%); valorização de Olinda (5,7%);
Período pação em Outras Nada e aumento das casas para aluguel para época de alta
Oferecimento
feiras
de descontos estação (2,8%). Já 12,5% dos moradores afirmaram
Set. 2006 a que o turismo resulta no aumento da poluição sonora
56% 16% 0% 28%
Jan. 2007
Jan. a Mar.
(40%); insegurança (20%); custo de vida local
20% 6% 32% 42% (20%); sujeira (10%); e depredação dos monumentos
de 2010
Fonte: Pesquisa em Campo/2006 a 2007 e 2010. históricos (10%). (Tabela 5).

Em relação à percepção do que é um turista, na


Em épocas de baixa estação, 56% dos entrevistados pesquisa realizada em 2006 e 2007, 73,75% dos
da primeira pesquisa oferecem descontos e diminuição entrevistados consideram que é aquele que se desloca
de preços; 16% participam de feiras; e 28% não de outros lugares para conhecer Olinda; 15%, que ajuda
investem em nenhuma estratégia de venda. Já na financeiramente a cidade; e 11,25% disseram outras
segunda pesquisa, 20% dos entrevistados afirmaram respostas: precisa ser bem recepcionado (8,75%); e
que oferecem descontos e diminuição de preços; visita rapidamente Olinda e se hospeda em outro lugar
6% participam de feiras; 32% investem em outras (2,5%). (Tabela 6).
estratégias (atividades complementares, vendas para
Na segunda pesquisa, 43,8% responderam
a comunidade e produção de estoque); e 42% não
que turista é aquele que vem de outros lugares
alteram a sua ocupação, por não haver, segundo os
para conhecer Olinda; 7,5% afirmaram que ajuda
comerciantes, o período de baixa estação e diminuição
financeiramente a cidade; e 48,75% disseram outras
na venda dos seus produtos e serviços. (Tabela 4).
respostas: (16,25% − procuram diversão; 13,75%
8.2 – Comunidade − interagem e conhecem a cultura da comunidade
local; 10% − pessoa muito agradável; 2,5% − sente-
A respeito da atuação e benefícios do turismo
se inseguro quando desconhece o local visitado;
para a cidade, 83,8% dos entrevistados na primeira
1,25% − valoriza o local visitado); e 5% não souberam
pesquisa citaram a geração de emprego e renda (70%);
responder). (Tabela 6).
aumento nas vendas do comércio (7,5%); valorização
de Olinda (7,5%); divulgação da cidade e seus atrativos Tabela 6 − Percepção do Turista para a Comunidade
turísticos (6%); investimento na infraestrutura (4,5%); Desloca-se
de diversos Contribui fi-
e em todos os aspectos (4,5%). Por outro lado, 16,2% Período lugares para nanceiramente
Outras
dos entrevistados alegaram que a atividade incentiva Respostas
conhecer com a cidade
o aumento no consumo de drogas (31%); prostituição Olinda
Set. 2006
(23%); sujeira (15%); bagunça (15%); depredação dos a Jan. 73,8% 15 % 11,2%
monumentos históricos (8%); e aumento na população 2007
flutuante, causando incômodo para os residentes (8%). Jan. a Mar.
43,8% 7,5% 48,8%
de 2010
(Tabela 5).
Fonte: Pesquisa em Campo/2006 a 2007 e 2010.

66 Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013


Na primeira pesquisa, 27,5% dos residentes presença do turista em Olinda. Na nova pesquisa,
afirmaram manter contato frequente com os visitantes; 91,2% responderam que se sentem à vontade: auxílio
41,25%, ocasionalmente; e 31,25% não têm contato ao turista nas informações dos pontos turísticos da
com os turistas. Na segunda pesquisa, 38,75% dos cidade (19,8%); os turistas são pessoas agradáveis
residentes afirmaram que mantêm contato frequente (18,4%); gostam da interação com os visitantes
com os turistas; 48,75%, ocasionalmente; e 12,5% não (17,1%); vocabulário interessante dos turistas (7,9%);
têm contato. (Tabela 7). valorização do Patrimônio Histórico por parte dos
turistas (7,9%); consumo dos turistas na cidade
Na nova pesquisa, 90% dos entrevistados (2,6%). Os demais entrevistados, não se sentem à
afirmaram que já conversaram com turistas. Deste vontade, pelo fato de os visitantes serem barulhentos
percentual, 54,16% relataram que este contato (57,1%); e depravados (42,9%). (Tabela 9).
resultou na aprendizagem de outras culturas, troca de
informações a respeito de locais turísticos; 22,2%. Tabela 9 − Presença do Turista no Local
na oportunidade de conhecer pessoas. 4,16%, no Se sente a Não se sente a
Período
aumento da receptividade e apoio aos turistas; e vontade vontade
Set. 2006 a Jan. 2007 95% 5%
19,44% afirmaram que não houve contribuição. Jan. a Mar. de 2010 91,2% 8,8%
Fonte: Pesquisa em Campo/2006 a 2007 e 2010.
Tabela 7 − Contato dos Residentes com os Turistas
Frequente- Ocasional- Não têm Em relação às informações aos turistas, na
Período
mente mente contato
Set. 2006 a Jan. primeira pesquisa, 53,7% dos entrevistados se
27,5% 41,2% 31,3% consideram qualificados em seu fornecimento pelo
2007
Jan. a Mar. de fato de residirem há vários anos no sítio histórico
38,7% 48,8 % 12,5%
2010 e conhecerem os pontos turísticos (67,4%); e pela
Fonte: Pesquisa em Campo/2006 a 2007 e 2010. procura de informações sobre a cidade (32,6%).
Já 31,3% dos residentes responderam que,
Quando perguntados a respeito das mudanças geralmente, não são qualificados no fornecimento de
em seus hábitos devido à atuação do turismo no Sítio informações, por não conhecerem todos os pontos
Histórico, 60% dos entrevistados responderam que turísticos (92%); e outros idiomas (8%). 15% dos
não houve mudanças para recepcionar os turistas; e entrevistados alegaram não serem qualificados, por
40% pesquisam informações da cidade. Já na segunda não terem domínio em outros idiomas (50%); por não
pesquisa, 68,8% dos residentes pesquisam a história conhecerem todos os pontos turísticos (33,3%) e
e cultura de diversos locais (54,5%); interessam-se pela insegurança na orientação aos turistas (16,7%).
no aprendizado de idiomas (12,8%); tornaram-se mais (Tabela 10).
propícios a intercâmbios (23,6%); transformaram as
Na segunda pesquisa, 72,5% dos entrevistados
suas casas em uma opção de meio de hospedagem
responderam que se sentem qualificados por residirem
(5,5%); e melhoraram as fachadas das suas casas
a vários anos no sítio histórico e conhecê-lo bem
(3,6%). (Tabela 8).
(56%); por dominarem idiomas (5%); pelo interesse
Na primeira pesquisa, 95% dos residentes no conhecimento das informações turísticas da cidade
responderam que se sentem à vontade com a (8,5%); e por terem trabalhado como guias de turismo
na cidade (3%). Dos demais, 68,7% afirmaram que
Tabela 8 − Modificação da Rotina para a Recepção conhecem parcialmente o Sítio Histórico; e 31,3% não
de Turistas sabem outros idiomas. Já dos 20% que responderam
Período Não houve que não são qualificados, 67% desconhecem outros
Houve mudança
mudança idiomas; e 33% não conhecem o sítio histórico em
Set. 2006 a Jan. 2007 60% 40% sua totalidade, o que impede no fornecimento das
Jan. a Mar. de 2010 31,2% 68,8%
informações. (Tabela 10).
Fonte: Pesquisa em Campo/2006 a 2007 e 2010.

Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013 67


Tabela 10 – Fornecimento de Informações aos Turis- No que pode ser observado, a dependência
tas exclusiva do turismo não resulta na elevação da
É Ás vezes é Não é renda dos comerciantes, se comparados aos demais
Período
qualificado qualificado qualificado empreendedores que possuem os residentes como
Set. 2006 a público-alvo. Por isso, faz-se necessário o investimento
53,7% 31,3% 15%
Jan. 2007
em atividades complementares para garantir a
Jan. a Mar. de
2010
72,5% 7,5% 20% manutenção dos negócios em períodos de baixa
estação, o que confirma a teoria de Marshall a respeito
Fonte: Pesquisa em Campo/2006 a 2007 e 2010.
da necessidade da diversificação da economia local,
para evitar a crise diante da falta de fornecimento de
9 – DISCUSSÃO matéria-prima (turista) para a indústria (turismo). Nesse
sentido, a ausência do visitante torna vulneráveis os
A partir dos resultados das pesquisas com negócios que dependem economicamente do seu
os comerciantes, nota-se a presença e consumo consumo.
dos turistas nas atividades relacionadas tanto
direta como indiretamente com o turismo, o que Na pesquisa com a comunidade, o tempo de
possibilita o surgimento de empresas, aumento das vivência no sítio histórico e o conhecimento do turismo
vendas e complemento da renda dos trabalhadores. auxiliam na observação e identificação dos impactos
Nesse sentido, observa-se a atuação do turismo provenientes da atuação da atividade naquele Sítio.
na economia e o seu efeito multiplicador no Sítio Do ponto de vista econômico, a geração de emprego
Histórico, exercendo o papel de Indústria Motriz, e renda continua sendo a melhor contribuição. No
já que atua na atração de emprego (mão de obra) entanto, tem incentivado o aumento do custo de vida
e no desenvolvimento e expansão de atividades local a partir do aumento nos preços de diversos
existentes no local, que supram a necessidade da produtos e serviços que podem ser e são utilizados
atividade turística, bem como da sua população, pela comunidade.
dinamizando a economia local, e na expansão e
O crescimento do turismo levou a uma iniciativa
no desenvolvimento de diversas atividades. Alguns
da criação da ACNO e à melhoria da qualificação dos
comerciantes obtêm o sustento exclusivamente
seus profissionais. A imagem negativa dos condutores,
do turismo durante todo o ano, proporcionando
também observada na primeira pesquisa, levou a uma
rentabilidade de algumas empresas e garantia de
reciclagem desses profissionais e à busca de parcerias
emprego e renda nos períodos considerados como
para melhorar a sua capacitação.
baixa estação.
O intercâmbio entre turista e residente tem resultado
No entanto, a intensificação do turismo também
na busca, pelos moradores, por aprendizagem de
exerce efeitos econômicos negativos, sendo
idiomas e conhecimento das características de
identificado o “preço de turista” em segmentos que
Olinda e outras cidades e suas respectivas culturas,
trabalham direta e indiretamente com a atividade.
incentivando a valorização do patrimônio histórico e
Embora exista a tabelação dos preços dos produtos e
cultural. Sem a presença do turismo, possivelmente,
serviços, residentes e visitantes têm-se queixado de
não haveria esse interesse. O fato de os residentes
preços praticados por alguns comerciantes, chegando
se sentirem à vontade com a presença dos turistas
a torná-los inviáveis para ambos. Um dos fatores
também promove uma melhor recepção dos visitantes
que levam à prática desses preços é o aumento
em Olinda.
do número de turistas provenientes da Europa e a
criação do estereótipo de que o visitante que vem de O carnaval tem atraído uma grande quantidade de
fora é o “turista rico”. No entanto, vale salientar que visitantes para o sítio histórico, o que leva ao aumento
muitos turistas são “mochileiros”, ou seja, costumam da taxa de ocupação hoteleira, à criação de diversos
deslocar-se para outros locais a custos baixos. meios de hospedagens, à geração de empregos

68 Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013


temporários em setores diretos e indiretos, para atender tendem a melhorar a qualidade de vida da população.
a demanda turística, promovendo a geração de renda Todavia, afirmam que não têm sido recompensados,
para muitos desempregados. Em 2010, por exemplo, já que visam atender, prioritariamente, a atividade
Olinda recebeu 70.000 turistas. (OLINDA, 2010a). Vale turística, concentrando-se no Sítio Histórico e seu
ressaltar que a população da cidade, em 2009, era de entorno. Nesse sentido, é necessário questionar o papel
397.268 habitantes. (IBGE, 2010). Acredita-se que do turismo no desenvolvimento local; já de acordo com
grande parte desses turistas passou o carnaval no sítio as observações pontuadas pela comunidade, não tem
Histórico, visto que a festividade na cidade concentra- trazido mudanças socioeconômicas significativas.
se nessa área.
10 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse aumento do número de turistas em Olinda
causa irritação nos residentes, pela acentuação da O turismo constitui-se uma atividade intrínseca
insegurança, prostituição, sujeira, quedas de energia em Olinda, estando presente tanto na vida dos seus
e falta de água. Esses fatores originam a hostilidade residentes como do comércio, promovendo diversos
dos residentes ao turista, que é considerado o efeitos na cidade. Dessa forma, recomendam-se
responsável pelo agravamento desses problemas, além algumas ações com vistas à atuação do turismo na
do deslocamento forçado dos residentes para outros promoção no desenvolvimento local.
locais e do desejo de saírem definitivamente do sítio
Histórico. Do ponto de vista econômico, é clara a contribuição
do turismo através do surgimento e diversificação
Nesse contexto, identificaram-se as quatro das atividades econômicas locais, utilizando
primeiras fases da relação entre residente e turista suas potencialidades, gerando um crescimento
proposta por Doxey (1975): existência de moradores econômico. Para tanto, sugere-se que os comerciantes
satisfeitos com a presença do turista na cidade e desenvolvam atividades complementares, evitando,
desejosos da interação entre ambos, justificada desta forma, o comprometimento de suas rendas
pelos benefícios advindos da sua presença na cidade em épocas de baixa estação, já que a atividade
(Euforia), possibilidade de ganhos econômicos através turística não é suficiente para promover a sustentação
do consumo do turista no local a partir da geração econômica de grande parte dos comerciantes de
de empregos oriundos da presença do visitante, bem Olinda. Nesse sentido, os preços dos produtos e
como com o surgimento do “preço do turista” (Apatia); serviços oferecidos, que, atualmente, são destinados
comprometimento da capacidade de carga local aos turistas, devem ser disponibilizados à comunidade,
devido ao número de turistas no período de carnaval, público este presente durante todo o ano na cidade.
provocando a expulsão de diversos residentes para
outras áreas (Irritação); e, conforme descrito pelos O turismo requer uma estrutura turística e de
residentes, em alguns casos, o turismo tem acentuado apoio, que atenda a necessidade do visitante. Por
diversos problemas sociais (Antagonismo). isso, uma cidade que deseja investir no turismo
necessita de meios de hospedagens, opções de lazer
Do mesmo modo, em Olinda, o ciclo de vida e entretenimento, além de boas condições de acesso,
das destinações turísticas descrito por Butler é transporte e saneamento básico. No caso de Olinda,
diagnosticado a partir da melhoria e/ou implantação o turismo tem trazido investimentos para a melhoria
de infraestrutura voltada à atividade turística de sua infraestrutura. Entretanto, vale salientar que,
(Envolvimento), dependência econômica do turismo prioritariamente, estes investimentos devem favorecer
por algumas atividades do comércio local e superação a comunidade anfitriã, sendo fator decisivo para o
da capacidade de carga local no período de carnaval sucesso da atividade turística.
(Consolidação).
Outro aspecto a ser considerado é o número de
Segundo os residentes, o turismo incentiva os pessoas que não identificam os aspectos negativos
investimentos na infraestrutura e urbanização local, que da atividade, mesmo em períodos como o carnaval,

Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013 69


quando o número de turistas é demasiadamente maior. KEY WORDS
É necessário saber se há a análise do custo-benefício
da atividade entre os comerciantes e residentes a partir Local Development. Influence of Tourism. Olinda.
da verificação dos aspectos positivos, como a geração
de emprego, e renda e sua relevância frente aos REFERÊNCIAS
prejuízos que ocorrem no local resultantes do turismo.
BALANZÁ, I. M. Marketing e comercialização
É importante uma intervenção no que se refere
de produtos turísticos. São Paulo:
ao número de turistas em Olinda, principalmente em
Pioneira Thompson Learning, 2003.
épocas como o carnaval. Recomenda-se a avaliação,
monitoramento do grau de envolvimento e foco nos
BARQUERO, A. V. Desenvolvimento
turistas, além de estudo da capacidade de carga
endógeno em tempos de globalização.
do local, de modo que se evitem ou minimizem os
Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2002.
impactos negativos e o declínio do turismo no local.

Diante desse contexto, o planejamento é uma BARRETTO, M. Cultura e turismo: discussões


ferramenta para a manutenção da atividade em Olinda, contemporâneas. Campinas: Papirus, 2007.
a longo prazo, com a criação de metas visando a
manutenção da sua atratividade e para que a atividade ______. Planejamento responsável do
turística proporcione benefícios que contemplem toda turismo. Campinas: Papirus, 2000a.
população.
______. Turismo e legado cultural.
ABSTRACT Campinas: Papirus, 2000b.

This paper identifies the role of tourism in the BENI, M. C. Análise estrutural do turismo.
Historic Site of Olinda, highlighting the influence it 10. ed. São Paulo: Senac, 2004.
has on residents, commerce and local development.
The analysis relied on information from empirical ______. Política e planejamento de turismo
research conducted in two time slots. Under these no Brasil. São Paulo: Aleph, 2006.
circumstances the results of research conducted in
2010 were compared with another research conducted BRASIL. Ministério do Turismo. Estudos da
between 2006 and 2007 with the residents and competitividade do turismo brasileiro: o mercado
merchants of the Historic Site of Olinda. According de trabalho na área de turismo. Brasília, DF, [20--
to the data, it is increasing the performance of ]. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/.../
tourism and its multiplier effect on employment and turismo/.../O_MERCADO_DE_TRABALHO_NA_xREA_
income, dissemination and appreciation of Olinda, DE_TURISMO.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2010.
and investments in infrastructure and urbanization. On
the other hand, tourism also causes a rise in prices CANO, W. Introdução à economia: uma abordagem
of various products and services which are also used crítica. São Paulo: Editora Unesp,1998.
by the community. The negative impact occurs mainly
at the time of carnival, with the increase of social CONTINENTE TURISMO. Pernambuco de todos
problems such as insecurity, prostitution, and there os encantos. Recife: CEPE, n. 3, 2005.
is an overuse of urban infrastructure by expanding
of waste and lack of water. This article focuses on CUNHA, J. C. da; CUNHA, S. K. da. Competitividade
the territorial dimension in tourism development, e sustentabilidade de um cluster de turismo: uma
emphasizing, on the one hand, the of regional proposta de modelo sistêmico de medida do impacto
particularities growth and, on the other, the growth of do turismo no desenvolvimento local. Revista de
tourism activity from the local point of view..

70 Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013


Administração Contemporânea, Curitiba, v. 9, n. 2, LANFANT, M. F.; ALLCOCK, J. B.; BRUENR,
2005. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rac/v9nspe2/ E. M. International tourism: identify
v9nesp2a06.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2010. and sage. London: Sage, 1995.

DIAS, F. S. Poder público, iniciativa privada MARSHALL, A. Princípios de economia: tratado


e comunidade: união para o desenvolvimento introdutório. São Paulo: Nova Cultural, 1985. V. 2.
sustentável do turismo. [S.l.], [20--]. Disponível em:
<www.amigosdanatureza.org.br/noticias/.../694. MONUMENTA. Olinda recebeu o Largo do Varadouro
fernandatur.doc.doc>. Acesso em: 20 maio 2010. restaurado 28 de janeiro de 2010. [S.l.], [20-
-]. Disponível em: <http://www.monumenta.gov.
DIAS, R. Introdução ao turismo. br/site/?p=566>. Acesso em: 10 fev. 2010.
São Paulo: Atlas, 2005.
OLINDA. Prefeitura Municipal. Olinda divulga balanço
______. Turismo sustentável e meio do carnaval 2010: os números reafirmam o sucesso
ambiente. São Paulo: Atlas, 2008. das ações desenvolvidas pela Prefeitura durante a folia
de Momo. Olinda, 2010. Disponível em: <http://www.
DOXEY, J. Development of tourism olinda.pe.gov.br/carnaval-de-olinda/olinda-divulga-
destinations. London: Torbay, 1975. balanco-do-carnaval-2010>. Acesso em: 15 abr. 2010a.

FERNÁNDEZ, F. L. Teoría y técnica del ______. Revitalização da orla. Olinda, 2010. Disponível
turismo. Madri: Nacional, 1974a. V. 1. em: <http://www.olinda.pe.gov.br/voce-faz-olinda/
revitalizacao-da-orla>. Acesso em: 20 jan. 2010b.
______. ______. Madri: Nacional, 1974b. V. 2.
OLIVEIRA, E. S. Impactos socioambientais e
GAROFOLI, G. Los sistemas de pequeñas empresas: econômicos do turismo e suas repercussões
un caso paradifmático de desarrollo endógeno. In: no desenvolvimento local: o caso de Itacaré–
BENKO, G.; LIPIETZ, A. Las regiones que ganan: Bahia. 2008 153 f. Dissertação (Mestrado em
distritos y redes: los nuevos paradigmas de la geografia Cultura e Turismo) - Universidade Estadual de
económica. Valência: Alfons El Magnánim, 1994. Santa Cruz, Universidade Federal da Bahia, Ilhéus,
2008. Disponível em: <http://www.uesc.br/cursos/
GASTAL, S. (Org.). Turismo: 9 propostas para um pos_graduacao/mestrado/turismo/dissertacao/
saber-fazer. Porto Alegre: EdiPucRS, 2000. mono_elton_silva.pdf >. Acesso em: 20 maio 2010.

HALL, S. A identidade cultural na pós- PERROUX, F. O conceito de polo de crescimento.


modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. In: SCHWARTZMAN, J. Economia regional. Belo
Horizonte: Cedeplar, 1977. (Textos escolhidos).
IBGE. Cidades. [S.l.], [20--]. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow. RODRIGUES, A. B. Território, patrimônio e
htm?1>. Acesso em: 16 abr. 2010. turismo de base local: uma relação inequívoca.
In: SEABRA, G. (Org.) Turismo de base local:
JESUS, P. de. Sobre desenvolvimento local e identidade cultural e desenvolvimento regional.
sustentável: algumas considerações conceituais e João Pessoa: Universitária UFPB, 2007.
suas implicações em projetos de pesquisa. In: MACIEL
FILHO, A. R. et al. Gestão do desenvolvimento RUSCHMANN, D. V. M. Turismo e planejamento
local sustentável. Recife: Edupe, 2007. sustentável. 4. ed. Campinas: Papirus, 1999.

Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013 71


SANCHO, A. Introdução à metodologia da 2009. Disponível em: <http://revistaseletronicas.
pesquisa em turismo. Traduzido por Dolores pucrs.br/fo/ojs/index.php/face/article/
Martin Rodrigues. São Paulo: Roca, 2005. viewFile/266/215>. Acesso em: 20 maio 2010.

______. Introdução ao turismo. Traduzido por SWARBROOKE, J. Turismo sustentável: conceitos


Dolores Martin Rodrigues. São Paulo: Roca, 2001. e impacto ambiental. São Paulo: Aleph, 2000. V. 1.

SERRANO, C.; BRUHNS, H.; LUCHIARI, M. TAJFEL, H. La catégorisation sociale. In:


(Org.). Olhares contemporâneos sobre o MOSCOVICI, S. (Ed.). Introduction à la Psychologie
turismo. 2. ed. Campinas: Papirus, 2000. Sociale, Paris: Larousse, 1972. V. 1.

SILVA. F. B. da. A psicologia aplicada no turismo THOMAS, V. et al. A qualidade do


e hotelaria. 3. ed. São Paulo: Cenaun, 2001. crescimento. São Paulo: UNESP, 2002.

SILVA, J. R. da. A teoria da polarização como VON SHULLERN, H. Fremdenverkehr und


instrumento de programação econômica a nível volkwirtschaft. jahrbuch für nationalöconomie
regional. Revista de Desenvolvimento Econômico, und statistike. Jena, v. 3, p. 433-491, 1991.
Salvador, ano 1, n. 2, jun. 1999. Disponível em:
<http://www.revistas.unifacs.br/index.php/rde/ WILTGEN, R. S. Notas sobre polarização e
article/view/567/409 >. Acesso em: 18 abr. 2010. desigualdades regionais. Ensaios FEE, Porto
Alegre, v. 12, n. 2, p. 532-539, jul.1991.
SOUZA, N. J. Desenvolvimento econômico.
5. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

______. Teoria dos polos, regiões inteligentes


Recebido para publicação em 12.01.2011.
e sistemas regionais e inovação. Análise,
Porto Alegre, v. 16, n. 1, p. 87-112, jan./jul.

72 Volume 44 | Nº 01 | Janeiro - Março | 2013

You might also like