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RESUMO
INTRODUÇÃO
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linha de investigação discute o potencial inclusivo e até humanizador da educação
musical (BRITO, 2011; COSTA, 2013; KATER, 2004; KLEBER, 2011; MENEZES, 2010;
SANTOS, 2004), questionando-se sobre o seu público-alvo, sobre o valor de cada aula e
a individualidade de cada aluno e também sobre qual música - ou músicas - têm lugar nos
espaços de aprendizagem musical. Carlos Kater sintetiza essas questões, numa reflexão
sobre o papel da educação musical em projetos sociais:
Nesse sentido nos perguntamos: o que seria uma educação musical hoje? Para
que, para quem, como? Educação para ou pela música (Música ou músicas)? Que
alunos temos em mente e que natureza de relação estamos habilitados a propor
entre eles e o que estamos chamando “música”? (KATER, 2004, p. 44)
A reflexão de Hentschke ilustra uma preocupação que vai para além da adequação
da atuação dos docentes às especificidades dos cursos de licenciatura em música: a
preocupação com os currículos. Se a atuação profissional de um músico pode
desenvolver-se em cada vez mais espaços e desdobrar-se em atividades diversas,
também será essa a realidade do músico-educador.
Apesar do crescente cuidado na elaboração dos currículos das licenciaturas com a
aquisição de competências para atuação em espaços formais e não-formais, a pesquisa
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ainda não se debruça fortemente sobre as possibilidades de atuação profissional dos
egressos em ambientes não-formais, como são os projetos sociais. No entanto, verifica-se
um crescimento da demanda de profissionais em educação musical em projetos voltados
para a formação humana (CORUSSE; JOLY, 2014).
O Curso de Música da UFSJ oferece a possibilidade de jovens músicos
desenvolverem as suas competências de educadores e concluírem a sua graduação na
qualidade de licenciados. Apesar de ainda se verificar a carência de licenciaturas em
música em várias regiões do Brasil, devemos admitir que esta é “a formação profissional
por excelência para o educador musical: não apenas é ela que lhe dá formal e legalmente
o direito de ensinar, como é a formação ideal, aquela que nossa área tem defendido e
construído, em um árduo processo” (PENNA, 2007, p. 50).
Diferentemente do bacharelado, a licenciatura em música surge com o objetivo de
preparar o músico licenciado para saber atuar em áreas diversas, o que vai além da
prática de um instrumento. Os currículos das licenciaturas procuram dar aos seus
formandos a possibilidade de lidar com vários perfis de alunos, respeitando as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada em Nível Superior de
Profissionais do Magistério para a Educação Básica, que se aplicam:
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2005 p. 49). Dentro desses espaços de educação não-formais encontram-se os projetos
sociais.
O currículo da licenciatura permite ao aluno articular conhecimentos dos campos
teóricos e práticos, particularmente através das experiências de observação e atuação
durante o estágio supervisionado. Essas experiências ocorrem geralmente no contexto de
escola regular e do ensino artístico especializado. No entanto, o Projeto Pedagógico do
Curso de Música da UFSJ prevê que as atividades de estágio supervisionado se
desenrolem “em diversos ambientes formais e não formais de ensino“ (UFSJ, 2008, p.
77). Para além dessa oportunidade privilegiada de contatar com ambientes de ensino
não-formal no contexto de observação/atuação supervisionada, o licenciando é também
convidado a entrar nesses espaços através da dinamização de atividades artístico-
pedagógicas:
Também a resolução que regula a política de estágio dos discentes da UFSJ prevê
que o estágio deve:
Esse cuidado com a vida humana e a adequação à realidade social deveria abrir
mais espaço a que os educadores musicais em formação pudessem, no âmbito do
estágio supervisionado, realizar observações e atuações em projetos sociais. Porém,
questões legais e burocráticas acabam por tornar difícil o desenvolvimento de programas
de estágio dentro de instituições com essas características e nem sempre o licenciando
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em música está preparado para enfrentar desafios profissionais dentro de projetos
sociais.
A consciência da necessidade de oferecer uma vasta gama de experiências ao
graduando da licenciatura em Música da UFSJ, também se reflete no seu projeto
pedagógico, quando este prevê dar aos alunos a oportunidade de adquirirem ferramentas
para o desenvolvimento de trabalhos em vários espaços educativos, através de atividades
acadêmicas que incluam “a reflexão, o pensamento, a crítica, a criação, o planejamento, a
execução, a gestão e a avaliação do trabalho pedagógico e projetos educacionais na
escola e em outros contextos educativos” (UFSJ, 2008, p. 56).
Podemos verificar que o estudo do mercado de trabalho para egressos dos cursos
de música do país, sejam licenciaturas ou bacharelados, é ainda um campo em
desenvolvimento. Os resultados deste projeto, que não tem a pretensão de entrar em
qualquer uma dessas discussões de forma aprofundada, poderão ser uma valiosa
contribuição para as mesmas, uma vez que apresenta dados estatísticos sobre a
demanda e a oferta de profissionais da educação musical no contexto dos projetos sociais
de uma área geográfica específica – a microrregião de São João del Rei.
OBJETIVOS E METODOLOGIA
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A figura 1 mostra as perguntas feitas aos responsáveis pelos projetos indicados
pelas instituições acima nomeadas, ligadas às prefeituras dos municípios. O inquérito
continha perguntas de resposta fechada e aberta, e ainda um espaço de observações
livres, para registro de informações não contempladas pelas questões.
A recolha de dados foi subsequente a cada uma das fases. Após a elaboração de
uma lista de projetos e contatos, foram efetuados os inquéritos, catalogadas as respostas
e analisados os resultados quantitativa e qualitativamente.
RESULTADOS
1 Não serão divulgados, nesta pesquisa, dados que permitam a identificação dos projetos sociais e dos
envolvidos - responsáveis, ministrantes e participantes - cujos dados foram recolhidos.
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A maior parte dos projetos atende público em geral. Um dos projetos só atende
crianças e jovens e outro só atende jovens e adultos a partir dos 12 anos. A figura 2
mostra as faixas etárias que integram as atividades musicais promovidas, permitindo-nos
concluir que a maioria abrange todas as idades.
2 O número entre parêntesis representa o número de projetos que recebe a faixa etária indicada.
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Nº de participantes
Projeto
(aprox.)
1 20
2 ca. 30
3 126
4 S/R3
5 16-17
6 ca. 160
7 ca. 30
8 20-50
9 ca. 50
10 ca. 80
11 ca. 65
A frequência das atividades de música por projeto ocorre entre 1 a 4 dias por
semana. No entanto, verifica-se, através das observações, que o público é rotativo nos
projetos com mais sessões semanais. Por exemplo, agrupamentos como bandas têm
ensaios várias vezes por semana, mas com músicos diferentes, assim como aulas de
música decorrem ao longo de toda a semana com turmas e/ou alunos diferentes. As
respostas sobre a duração das atividades de música foram de um mínimo de 60 minutos
até ao máximo de 180 minutos.
Quanto ao número de ministrantes, foi aferida uma variação entre 1 e 4 em todos
os projetos. Porém, dois deles relatam a colaboração de monitores - membros dos
agrupamentos musicais ou alunos mais avançados - que atuam também como
ministrantes, apesar de não terem formação musical específica. Excluindo os monitores,
foi determinada a atuação de 23 ministrantes no total.
A figura 3 apresenta a habilitação dos 23 ministrantes e revela que a maioria tem
formação específica em música:
3 Sem resposta.
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Figura 3 - Habilitação musical dos ministrantes.
Além dos dados sobre os cursos concluídos pelos ministrantes, foi possível
averiguar que 5 dos ministrantes egressos do curso técnico do CEM de São João del Rei
cursam atualmente o curso de licenciatura em música da UFSJ.
A figura 6 ilustra o número de projetos em que determinado tipo de práticas
musicais são dinamizadas pelos ministrantes nos seus projetos:
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Quanto à avaliação da manutenção das atividades de música em cada projeto, 10
dos 11 responsáveis a considera “indispensável” e apenas 1 a classifica como “muito
importante”. A avaliação do desempenho dos ministrantes em relação à preparação,
adequação e diversidade das atividades, bem como a organização do tempo das sessões
é ilustrada na figura 7, variando entre “média” e “muito boa”:
Figura 7 - Avaliação do desempenho dos ministrantes nas atividades de música dos projetos.
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Que outras práticas gostaria que o(s) ministrante(s) desenvolvessem ou
dinamizassem?
“Mais recitais.”
“Mais tempo de aula para ouvir e conversar. Gostaria de atingir um público maior e uma
maior variedade de instrumentos.”
“Banda jovem.”
“Ensaios de naipe.”
“Coral.”
“Banda infantil.”
Tabela 2 - Respostas à última pergunta do questionário: ”Que outras práticas gostaria que o(s)
ministrante(s) desenvolvessem ou dinamizassem?”
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRITO, Teca Alencar de. O humano como objetivo da educação musical: o pensamento
pedagógico-musical de Hans Joachim Koellreutter. In: XVII Seminario Latinoamericano de
Educación Musical-FLADEM, 2011, Cidade da Guatemala. Anais… Disponível em:
<http://www.galileo.edu/esa/files/2011/12/3.-O-HUMANO-COMO-OBJETIVO-DA-EDUCA
%C3%87%C3%83O-MUSICAL-Teca-Brito.pdf>. Acessado em: 23 de setembro de 2017.
CORUSSE, Mateus Vinicius; JOLY, Ilza Zenker Leme. A educação musical em projetos
sociais: concepções do desenvolvimento das funções humanas e sociais da música.
Revista de Educação, Ciência e Cultura, v. 19, n. 2, jul./dez. 2014.
HENTSCHKE, Liane. Dos ideais curriculares à realidade dos cursos de música no Brasil.
Revista da ABEM, v. 8, p. 53–56, mar. 2003.
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KATER, Carlos. O que podemos esperar da educação musical em projetos de ação
social? Revista da ABEM, v. 10, p. 43–51, mar. 2004.
PENNA, Maura. Não basta tocar? Discutindo a formação do educador musical. Revista da
ABEM, v. 16, p. 49–56, mar. 2007.
PENNA, Maura; BARROS, Olga Renalli Nascimento E; MELLO, Marcel Ramalho De.
Educação musical com função social: qualquer prática vale? Revista da ABEM, v. 20, n.
27, p. 65–78, jun. 2012.
SANTOS, Regina Marcia Simão. “Melhoria de vida” ou “Fazendo a vida vibrar”: o projeto
social para dentro e fora da escola e o lugar da educação musical. Revista da ABEM, v.
10, p. 59–64, mar. 2004.
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SOUZA, Cássia Virgínia Coelho De. Atuação profissional do educador musical: a
formação em questão. Revista da ABEM, v. 8, p. 107–109, mar. 2003.
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