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A ATUAÇÃO DE MÚSICOS LICENCIADOS EM PROJETOS SOCIAIS DA

MICRORREGIÃO DE SÃO JOÃO DEL REI

Marcos Vinicius Barbosa, graduando do Curso de Música


Sofia Leandro, Departamento de Música

RESUMO

Este trabalho apresenta um mapeamento da atuação de professores licenciados em


música em projetos sociais em vigência na microrregião de São João del Rei. Foram
inquiridos os responsáveis por 11 projetos de 9 municípios. Apurou-se a atuação de 23
profissionais ministrantes de atividades de música nesses 11 projetos. Concluiu-se que a
grande maioria dos ministrantes tem formação específica em música. Dos 23
ministrantes, verificou-se que 9 concluíram a licenciatura em música. Averiguou-se ainda
a importância das instituições de ensino de música de São João del Rei na formação
destes profissionais, uma vez que a maior parte dos ministrantes a atuar nos projetos
sociais investigados são egressos do Curso Técnico do Conservatório Estadual de Música
ou do Curso de Música da Universidade Federal da cidade.

Palavras-chave: Projeto social. Educação musical. Educação não-formal.

INTRODUÇÃO

Este projeto de pesquisa teve como desafio principal mapear a atuação de


professores licenciados em música em projetos sociais em vigência na cidade de São
João del Rei e microrregião.
A pesquisa na academia brasileira tem vindo a dar cada vez mais atenção àquilo
que são os projetos sociais em música, levantando questões sobre o posicionamento do
músico (ou do que podemos entender como músico-educador) dentro dos mesmos. Uma

1
linha de investigação discute o potencial inclusivo e até humanizador da educação
musical (BRITO, 2011; COSTA, 2013; KATER, 2004; KLEBER, 2011; MENEZES, 2010;
SANTOS, 2004), questionando-se sobre o seu público-alvo, sobre o valor de cada aula e
a individualidade de cada aluno e também sobre qual música - ou músicas - têm lugar nos
espaços de aprendizagem musical. Carlos Kater sintetiza essas questões, numa reflexão
sobre o papel da educação musical em projetos sociais:
Nesse sentido nos perguntamos: o que seria uma educação musical hoje? Para
que, para quem, como? Educação para ou pela música (Música ou músicas)? Que
alunos temos em mente e que natureza de relação estamos habilitados a propor
entre eles e o que estamos chamando “música”? (KATER, 2004, p. 44)

Esta corrente de investigação vem justificar a necessidade de abrir diversos


caminhos para o ensino da música, ao serviço do desenvolvimento social, em qualquer
contexto educativo. Para isso, o professor de música - que também pode ser um
animador sociocultural, um regente, ou um oficineiro - é chamado a pensar como alcançar
cada aluno partindo do universo social e cultural em que está inserido. Teca Alencar de
Brito demonstra como uma das grandes referências da educação musical atual no Brasil,
Hans-Joachim Koellreutter, entendia esse processo:
Koellreutter guiava-se, prioritariamente, pela observação e respeito ao universo
cultural do aluno com seus conhecimentos prévios, necessidades e interesses,
buscando, assim, viabilizar processos significativos de educação musical. (BRITO
2011, p. 3)

Outra linha de pesquisa centra-se na democratização do ensino da música e nas


várias dimensões e espaços em que o músico-educador pode atuar profissionalmente
(ALMEIDA, 2005; DEL BEN, 2003; GOHN, 2009; GROSSI, 2003; MORAES, 2006;
PENNA, 2006, 2007; PENNA; BARROS; MELLO, 2012; TOURINHO, 2006). Dentro dessa
linha, tem vindo a crescer o número de publicações acadêmicas direcionadas à
observação de dinâmicas de ensino da música no contexto de projetos sociais.
Um exemplo é o trabalho de Cristiane Galdino de Almeida (2005), que observou as
oficinas de música de um programa da Prefeitura de Porto Alegre (RS) durante a sua
pesquisa de mestrado. Demonstra que tanto as premissas da criação do programa como
as perspectivas dos oficineiros coincidiam em olhar para as oficinas como uma proposta
2
de educação não-formal, cujo objetivo não era a formação de músicos (p. 52). No entanto,
o critério inicial para a contratação de oficineiros era serem músicos com experiência
profissional comprovada (p. 54). À data, não era exigida a licenciatura em música e um
dos oficineiros chega mesmo a considerar que “a academia não prepara os egressos para
a atuação em projetos sociais, pois a tônica das licenciaturas é a escola” (p. 55).
Trabalhos como o de Almeida têm contribuído para o encontro entre as duas linhas
de pesquisa, uma mais dirigida à preocupação as individualidades daquele que faz aula
de música e outra à abertura de espaços para a educação musical. Surgem então os
debates sobre a formação do educador na área da música (HENTSCHKE, 2003; SOUZA,
2003). Dentre eles, discute-se, por exemplo, a preparação dos próprios docentes em
cursos superiores de música, nomeadamente nas licenciaturas, para formar músicos
capazes de ensinar em vários contextos:

Mesmo havendo consciência, por parte dos educadores musicais, da necessidade


de mudanças, os cursos de licenciatura não são ministrados exclusivamente por
“educadores musicais” (stricto sensu), mas por músicos instrumentistas, regentes,
compositores, que, na sua maioria, não possuem uma formação pedagógica. É
inegável que existe uma disparidade de formação pedagógica entre o que
denominamos de “educador musical” e o músico instrumentista ou musicólogo que
atua como docente nos cursos de graduação. Os educadores musicais, além de
terem uma formação pedagógica sólida, estão continuamente atualizando-se, no
sentido de buscar formas mais adequadas e contextualizadas para a sua prática
docente. Por outro lado, tradicionalmente, o músico docente universitário (daí falo
enquanto estereótipo) tem praticado uma proposta educacional mais tecnicista e
tradicional de educação. O objetivo desses docentes é a formação do músico
profissional (erudito, na maioria dos cursos), baseado em critérios absolutos de
perfil de profissional. (HENTSCHKE 2003 p. 54)

A reflexão de Hentschke ilustra uma preocupação que vai para além da adequação
da atuação dos docentes às especificidades dos cursos de licenciatura em música: a
preocupação com os currículos. Se a atuação profissional de um músico pode
desenvolver-se em cada vez mais espaços e desdobrar-se em atividades diversas,
também será essa a realidade do músico-educador.
Apesar do crescente cuidado na elaboração dos currículos das licenciaturas com a
aquisição de competências para atuação em espaços formais e não-formais, a pesquisa

3
ainda não se debruça fortemente sobre as possibilidades de atuação profissional dos
egressos em ambientes não-formais, como são os projetos sociais. No entanto, verifica-se
um crescimento da demanda de profissionais em educação musical em projetos voltados
para a formação humana (CORUSSE; JOLY, 2014).
O Curso de Música da UFSJ oferece a possibilidade de jovens músicos
desenvolverem as suas competências de educadores e concluírem a sua graduação na
qualidade de licenciados. Apesar de ainda se verificar a carência de licenciaturas em
música em várias regiões do Brasil, devemos admitir que esta é “a formação profissional
por excelência para o educador musical: não apenas é ela que lhe dá formal e legalmente
o direito de ensinar, como é a formação ideal, aquela que nossa área tem defendido e
construído, em um árduo processo” (PENNA, 2007, p. 50).
Diferentemente do bacharelado, a licenciatura em música surge com o objetivo de
preparar o músico licenciado para saber atuar em áreas diversas, o que vai além da
prática de um instrumento. Os currículos das licenciaturas procuram dar aos seus
formandos a possibilidade de lidar com vários perfis de alunos, respeitando as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada em Nível Superior de
Profissionais do Magistério para a Educação Básica, que se aplicam:

à formação de professores para o exercício da docência na educação infantil, no


ensino fundamental, no ensino médio e nas respectivas modalidades de educação
(Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional e
Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação à
Distância e Educação Escolar Quilombola), nas diferentes áreas do conhecimento e
com integração entre elas, podendo abranger um campo específico e/ou
interdisciplinar (BRASIL, 2015, p. 3).

Verifica-se assim que a formação do músico licenciado é necessariamente voltada


para a atuação nas escolas do ensino básico, não exclusivamente Conservatórios
Estaduais de Música, mas principalmente escolas do ensino regular. Porém, existe “a
necessidade de reconhecimento dos espaços não-formais como contextos de atuação
profissional que, como tais, demandam uma formação também profissional” (ALMEIDA,

4
2005 p. 49). Dentro desses espaços de educação não-formais encontram-se os projetos
sociais.
O currículo da licenciatura permite ao aluno articular conhecimentos dos campos
teóricos e práticos, particularmente através das experiências de observação e atuação
durante o estágio supervisionado. Essas experiências ocorrem geralmente no contexto de
escola regular e do ensino artístico especializado. No entanto, o Projeto Pedagógico do
Curso de Música da UFSJ prevê que as atividades de estágio supervisionado se
desenrolem “em diversos ambientes formais e não formais de ensino“ (UFSJ, 2008, p.
77). Para além dessa oportunidade privilegiada de contatar com ambientes de ensino
não-formal no contexto de observação/atuação supervisionada, o licenciando é também
convidado a entrar nesses espaços através da dinamização de atividades artístico-
pedagógicas:

Além de instituições tradicionais de ensino, essa variação [artístico-pedagógica] do


estágio supervisionado poderá ser realizada em instituições diversas, como
hospitais, creches, asilos, organizações não governamentais (ONGs) de fins
sociais, indústrias etc. Trata-se, portanto, de uma atuação que irá ampliar a futura
atuação profissional do estagiário na sociedade, envolvendo espaços culturais mais
amplos, mas não menos importantes do que a própria sala de aula (UFSJ, 2008, p.
80).

Também a resolução que regula a política de estágio dos discentes da UFSJ prevê
que o estágio deve:

XVI – conceber-se como ato educativo, reconhecendo seus princípios de relação


entre teoria e prática, reflexão do processo de formação profissional, construção de
responsabilidade social e, sobretudo, construção da concepção do trabalho na área
de formação, como o cuidado com a vida humana, nas condições de nossa
realidade social (UFSJ, 2015, p. 2).

Esse cuidado com a vida humana e a adequação à realidade social deveria abrir
mais espaço a que os educadores musicais em formação pudessem, no âmbito do
estágio supervisionado, realizar observações e atuações em projetos sociais. Porém,
questões legais e burocráticas acabam por tornar difícil o desenvolvimento de programas
de estágio dentro de instituições com essas características e nem sempre o licenciando
5
em música está preparado para enfrentar desafios profissionais dentro de projetos
sociais.
A consciência da necessidade de oferecer uma vasta gama de experiências ao
graduando da licenciatura em Música da UFSJ, também se reflete no seu projeto
pedagógico, quando este prevê dar aos alunos a oportunidade de adquirirem ferramentas
para o desenvolvimento de trabalhos em vários espaços educativos, através de atividades
acadêmicas que incluam “a reflexão, o pensamento, a crítica, a criação, o planejamento, a
execução, a gestão e a avaliação do trabalho pedagógico e projetos educacionais na
escola e em outros contextos educativos” (UFSJ, 2008, p. 56).
Podemos verificar que o estudo do mercado de trabalho para egressos dos cursos
de música do país, sejam licenciaturas ou bacharelados, é ainda um campo em
desenvolvimento. Os resultados deste projeto, que não tem a pretensão de entrar em
qualquer uma dessas discussões de forma aprofundada, poderão ser uma valiosa
contribuição para as mesmas, uma vez que apresenta dados estatísticos sobre a
demanda e a oferta de profissionais da educação musical no contexto dos projetos sociais
de uma área geográfica específica – a microrregião de São João del Rei.

OBJETIVOS E METODOLOGIA

Esta pesquisa teve como objetivo geral averiguar a existência de licenciados em


Música a atuar profissionalmente em projetos sociais da microrregião de São João del
Rei. Procurou também compreender as funções desses profissionais dentro dos projetos,
a carga horária que lhes é atribuída, o tipo de atividades dinamizadas, o público-alvo dos
projetos, a concentração de músicos licenciados a atuar nestes projetos por município,
em que instituições os profissionais obtiveram o grau de licenciado, e qual a proporção de
licenciados em Música pela UFSJ a atuar profissionalmente em projetos sociais da área
geográfica selecionada.
A coleta de dados foi feita em duas fases. Na primeira fase, foram identificados os
projetos sociais com atividades de música em vigência, na microrregião de São João del
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Rei. Essa identificação foi feita através de contatos por meio telefônico com os Centros de
Referência de Assistência Social (CRAS), Secretarias de Cultura e/ou Educação e
Prefeituras Municipais das 15 cidades da microrregião. Algumas indicações foram
conseguidas através de contatos pessoais e posteriormente confirmadas pelos órgãos
municipais. Não foram contemplados projetos de extensão universitária nesta pesquisa,
pelo entendimento de que os ministrantes nesses contextos não atuam profissionalmente.
Na segunda fase, foi feito, também por via telefônica, um inquérito semiestruturado
aos responsáveis pelos projetos identificados. O inquérito incluía um conjunto de
perguntas agrupadas por assuntos relacionados com as atividades de música
dinamizadas dentro dos projetos sociais. O primeiro grupo questionava sobre quantidade
e tipo de atividades; o segundo sobre o público-alvo; o terceiro sobre o número de
participantes; o quarto sobre os ministrantes; o quinto sobre frequência e duração das
atividades; o sexto sobre as práticas musicais propostas pelos ministrantes; e o sétimo
sobre a avaliação das atividades de música e da atuação dos ministrantes.

Figura 1 - Inquérito semiestruturado.

7
A figura 1 mostra as perguntas feitas aos responsáveis pelos projetos indicados
pelas instituições acima nomeadas, ligadas às prefeituras dos municípios. O inquérito
continha perguntas de resposta fechada e aberta, e ainda um espaço de observações
livres, para registro de informações não contempladas pelas questões.
A recolha de dados foi subsequente a cada uma das fases. Após a elaboração de
uma lista de projetos e contatos, foram efetuados os inquéritos, catalogadas as respostas
e analisados os resultados quantitativa e qualitativamente.

RESULTADOS

A primeira fase da coleta de dados, identificação de projetos sociais com atividades


de música em vigência nos 15 municípios da microrregião de São João del Rei,
apresentou resultados menos satisfatórios do que o esperado, uma vez que não foi
possível estabelecer contato com todos os municípios. Os órgãos municipais, incluindo
CRAS e Prefeituras, que não responderam às tentativas de contatos telefônicos foram
Dores de Campos, Piedade do Rio Grande e Santana do Garambéu. Os municípios que
indicaram a não existência ou não conhecimento de projetos com estas características
foram Conceição da Barra de Minas e Coronel Xavier Chaves. Santa Cruz de Minas
forneceu o contato de uma associação, mas averiguou-se que o projeto não estava mais
em vigência. Assim sendo, foram recolhidos 11 inquéritos a responsáveis por projetos 1 de
9 municípios: Lagoa Dourada, Madre Deus de Minas, Nazareno, Prados, Resende Costa,
Ritápolis, São João del Rei, São Tiago e Tiradentes.
Todas as instituições entrevistadas relataram a existência de duas ou mais
atividades envolvendo a prática musical. A descrição das atividades variou entre aulas de
instrumento individuais e/ou coletivas, aulas de teoria musical, bandas, orquestras e
corais. Uma entidade relatou a existência de um projeto de resgate de música nas escolas
do ensino regular.

1 Não serão divulgados, nesta pesquisa, dados que permitam a identificação dos projetos sociais e dos
envolvidos - responsáveis, ministrantes e participantes - cujos dados foram recolhidos.
8
A maior parte dos projetos atende público em geral. Um dos projetos só atende
crianças e jovens e outro só atende jovens e adultos a partir dos 12 anos. A figura 2
mostra as faixas etárias que integram as atividades musicais promovidas, permitindo-nos
concluir que a maioria abrange todas as idades.

Figura 2 - Público abrangido pelos projetos2, por faixa etária.

O número aproximado de participantes foi estabelecido por todos os inquiridos, exceto


um. Apresenta grande variação, como se pode observar na tabela 1. Vários inquiridos
apontaram para uma frequente flutuação do número de participantes nas atividades.

2 O número entre parêntesis representa o número de projetos que recebe a faixa etária indicada.
9
Nº de participantes
Projeto
(aprox.)

1 20

2 ca. 30

3 126

4 S/R3

5 16-17

6 ca. 160

7 ca. 30

8 20-50

9 ca. 50

10 ca. 80

11 ca. 65

Tabela 1 - Número aproximado de participantes nas atividades de música, por projeto.

A frequência das atividades de música por projeto ocorre entre 1 a 4 dias por
semana. No entanto, verifica-se, através das observações, que o público é rotativo nos
projetos com mais sessões semanais. Por exemplo, agrupamentos como bandas têm
ensaios várias vezes por semana, mas com músicos diferentes, assim como aulas de
música decorrem ao longo de toda a semana com turmas e/ou alunos diferentes. As
respostas sobre a duração das atividades de música foram de um mínimo de 60 minutos
até ao máximo de 180 minutos.
Quanto ao número de ministrantes, foi aferida uma variação entre 1 e 4 em todos
os projetos. Porém, dois deles relatam a colaboração de monitores - membros dos
agrupamentos musicais ou alunos mais avançados - que atuam também como
ministrantes, apesar de não terem formação musical específica. Excluindo os monitores,
foi determinada a atuação de 23 ministrantes no total.
A figura 3 apresenta a habilitação dos 23 ministrantes e revela que a maioria tem
formação específica em música:
3 Sem resposta.
10
Figura 3 - Habilitação musical dos ministrantes.

Registra-se ainda a não conclusão de um curso técnico e de uma licenciatura, no


caso de dois ministrantes que efetivamente abandonaram essa formação. Foi também
declarada a ausência de informação sobre a habilitação de dois ministrantes de um
projeto, embora tenha sido possível apurar que ambos são militares.
No que diz respeito às instituições frequentadas pelos egressos quer dos cursos
técnicos, quer das licenciaturas, verifica-se que a grande maioria dos ministrantes
concluiu os seus estudos na cidade de São João del Rei - no Conservatório Estadual de
Música “Padre José Maria Xavier” (técnico) e no Curso de Música da UFSJ (licenciatura).

Figura 4 - Instituições frequentadas pelos egressos de cursos técnicos.


11
Figura 5 - Instituições frequentadas pelos egressos de cursos de licenciatura.

Além dos dados sobre os cursos concluídos pelos ministrantes, foi possível
averiguar que 5 dos ministrantes egressos do curso técnico do CEM de São João del Rei
cursam atualmente o curso de licenciatura em música da UFSJ.
A figura 6 ilustra o número de projetos em que determinado tipo de práticas
musicais são dinamizadas pelos ministrantes nos seus projetos:

Figura 6 - Tipo de práticas musicais dinamizadas.

Pode observar-se que todos os projetos incluem a prática instrumental - tocar - e


que uma minoria de projetos inclui atividades de criação musical.

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Quanto à avaliação da manutenção das atividades de música em cada projeto, 10
dos 11 responsáveis a considera “indispensável” e apenas 1 a classifica como “muito
importante”. A avaliação do desempenho dos ministrantes em relação à preparação,
adequação e diversidade das atividades, bem como a organização do tempo das sessões
é ilustrada na figura 7, variando entre “média” e “muito boa”:

Figura 7 - Avaliação do desempenho dos ministrantes nas atividades de música dos projetos.

Percebe-se que os responsáveis pelos projetos avaliam maioritariamente de forma


positiva o desempenho dos ministrantes, sendo a organização do tempo das sessões o
aspecto com avaliação menos satisfatória. Não foi estabelecida nenhuma relação entre a
formação dos ministrantes e o seu desempenho.

13
Que outras práticas gostaria que o(s) ministrante(s) desenvolvessem ou
dinamizassem?

“Aulas de outros instrumentos.”

“Projeto de cordas e orquestra; banda rock.”

“Mais recitais.”

“Mais tempo de aula para ouvir e conversar. Gostaria de atingir um público maior e uma
maior variedade de instrumentos.”

“Banda jovem.”

Coral e orquestra de cordas.

“Ensaios de naipe.”

“Coral.”

“Banda infantil.”

Tabela 2 - Respostas à última pergunta do questionário: ”Que outras práticas gostaria que o(s)
ministrante(s) desenvolvessem ou dinamizassem?”

Quase todos os inquiridos manifestaram a vontade de ampliar as atividades de


música dos projetos, como mostra a tabela 2. Através das observações, foi registrado o
descontentamento de dois deles pela falta de verbas e ainda o destaque de um terceiro
sobre a importância da manutenção das atividades de música: “É importantíssimo, a
música é um meio de educação.4”

CONCLUSÃO

Neste trabalho, além do mapeamento dos projetos sociais em música vigentes na


microrregião de São João del Rei e da atuação de professores licenciados em música, foi
possível verificar a importância que a UFSJ tem exercido em formar professores
capacitados para dar aulas de alguns instrumentos específicos, ou de teoria musical, mas
também de alcançar um público mais abrangente através dos projetos sociais. Abre as
portas a um melhor entendimento sobre a atuação profissional de músicos em projetos

4 Citação de inquérito feito ao responsável por um dos projetos.


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sociais da microrregião de São João del Rei, através da recolha de informações sobre a
sua habilitação acadêmica e desempenho.
Pode concluir-se que São João del Rei cumpre um papel fundamental na formação
de profissionais nesta área, uma vez que a grande maioria dos ministrantes são egressos
das duas instituições públicas de ensino de música sediadas na cidade - o Conservatório
Estadual de Música “Padre José Maria Xavier” (Curso Técnico) e a Universidade Federal
de São João del Rei (Licenciatura). Destaca-se ainda o fato de um número significativo de
egressos do curso técnico estar atualmente cursando a licenciatura, demonstrando a
importância da oferta formativa de ambas as instituições.
Os dados colhidos alimentam a percepção de uma necessidade de capacitar
profissionais para lidar com vários perfis de alunos, ou públicos, uma vez que se verifica a
existência de faixas etárias muito variadas nos projetos sociais investigados. Nesse
sentido, cabe ao ministrante entender que o objetivo dos projetos sociais vai além da
formação de músicos profissionais ou instrumentistas de excelência. Pelo contrário, estes
têm como objetivo principal a formação humana e a integração social, procurando tornar
cada indivíduo mais consciente de seu espaço e da sua importância na sociedade. Para
responder a essa necessidade, os currículos da licenciatura precisam de continuar a
promover o conhecimento teórico e prático de dinâmicas de aprendizagem cada vez mais
reflexivas e diversificadas.
Uma vez estabelecida uma formação, durante a graduação, que incentive essa
variedade de experiências pedagógicas, a promoção e ampliação dos próprios projetos
sociais podem beneficiar da oportunidade do músico licenciado atuar neles
profissionalmente. Teca Alencar de Brito (2011) sustenta essa perspectiva: “processos de
educação musical que tenham como objetivo a formação integral do ser humano só
podem acontecer em contextos que respeitem e estimulem os alunos a explorar,
experimentar, sentir, pensar, questionar, criar, discutir, argumentar...” (p. 3).
Apesar de não ter sido aferida uma diferença na avaliação do desempenho dos
ministrantes de acordo com a sua formação acadêmica, pode esperar-se que a
preparação de músicos para atuar nesse tipo de ambientes não-formais seja mais própria
15
de um currículo de licenciatura do que de bacharelado. É inclusive relevante observar
que, mesmo nestes contextos de projetos sociais, as atividades de criação continuam
sendo menos recorrentes do que atividades tradicionalmente ligadas ao ensino formal de
música - ouvir, tocar e cantar.
Através da análise dos inquéritos, foi também possível registrar o desejo dos
responsáveis pelos projetos sociais contactados de manter e, por vezes, até expandir as
atividades de música. Isso pode significar o aumento das oportunidades de trabalho para
licenciados em música, o que vai de encontro a uma tendência de abertura de mercados
alternativos para os mesmos. Esta pesquisa é demonstrativa dessa realidade na
microrregião de São João del Rei, onde podemos encontrar um número significativo de
licenciados em música atuando em projetos sociais.
Por fim, espera-se que este trabalho possa contribuir para futuros estudos dentro
da mesma temática, como por exemplo um melhor entendimento sobre as necessidades
dos projetos sociais da região no que se refere à inclusão de atividades musicais, ou
novas reflexões por parte dos docentes do Curso de Música da UFSJ sobre os seus
programas educacionais, em particular no que se refere às experiências de estágio
supervisionado.

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