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Revista

Aeronáutica
ISSN 0486-6274 Número 302
2019
Expediente
PRESIDENTE Maturacá (AM).
Maj Brig Ar Marco Antonio Soldado do 5º
Pelotão Especial
Carballo Perez de Fronteira ladeado
1º Vice-Presidente Jan. a Mar. 2019
por dois brasileiros
de ascendência
Cel Av Paulo Roberto Miranda indígena Ianomami
Machado
2º Vice-Presidente
Brig Ar Paulo Roberto de Oliveira
Pereira

www.caer.org.br revista@caer.org.br ISSN 0 4 8 6 - 6 2 74

SUPERINTENDÊNCIAS Sede Central

Índice
Praça Marechal Âncora, 15
Sede Central
Rio de Janeiro - RJ - CEP 20021-200
Cel Av Pedro Bittencourt de Almeida
• Tel.: (21) 2210-3212
Sede Barra
3ª a 6ª feira de 8h às 12h e 13h às 17h
Brig Ar Paulo Roberto de Oliveira Pereira 4 MENSAGEM DO PRESIDENTE 25 A PREVIDÊNCIA MILITAR
Sede Barra Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez UMA RESENHA
Rua Raquel de Queiroz, s/nº Renato Paiva Lamounier
CONSELHO DELIBERATIVO
Rio de Janeiro - RJ - CEP 22793-710 Cel Av
Presidente - Ten Brig Ar Paulo Roberto Cardoso Vilarinho
• Tel.: (21) 3325-2681
CONSELHO FISCAL 5 PALAVRAS DO NOVO
Presidente - Maj Brig Int Manoel José Manhães Ferreira 4ª a domingo de 9h às 17h30 COMANDANTE DA AERONÁUTICA
Ten Brig Ar Carlos Moretti Bermudez
COMISSÃO INTERCLUBES MILITARES
Assessores Clube de Aeronáutica
28 PENSAR EM PORTUGUÊS
SEDE CENTRAL Ricardo Vélez Rodríguez
Maj Brig Ar Venancio Grossi Ministro da Educação
Diretor Cultural
Cel Av Araken Hipolito da Costa
Cel Av Araken Hipolito da Costa
Cel Av Ajauri Barros de Melo
7 UM HOMEM COMPLETO
Carlos Alberto G. Miranda
Contato pelo tel.: (21) 2220-3691 Cel Av
Diretor Social, Tecnologia da Informação e Hotel
Cel Av Ajauri Barros de Melo
REVISTA DO CLUBE DE AERONÁUTICA 34 RELATO HISTÓRICO
Diretor Administrativo e Chefe Secretaria Geral Tel.: (21) 2220-3691 DOS ACONTECIMENTOS
Cel Av Théo Salgado Falcão 8 NOTÍCIAS DO CAER AGOSTO 1961 - MARÇO 1962
Diretor e Editor Brig Ar Luiz Carlos Baginski Filho
A Redação
Diretor Beneficente Cel Av Araken Hipolito da Costa
Cap Adm Ivan Alves Moreira
Conselho Editorial
Diretor Jurídico Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez
Dr. Francisco Rodrigues da Fonseca Cel Av Renato Paiva Lamounier 10 A REINTERPRETAÇÃO HISTÓRICA 38 RELATO HISTÓRICO
Cel Av Manuel Cambeses Júnior DA GEOPOLÍTICA DOS ACONTECIMENTOS
Assessores Manuel Cambeses Júnior
Financeiro e Patrimonial - Cel Int Genibaldo Bezerra de Cel Av Araken Hipolito da Costa Cel Av
MARÇO 1962 - ABRIL 1964
Oliveira Brig Ar Luiz Carlos Baginski Filho
Assessor Secretaria Geral- Cap Adm Ivan Alves Moreira
Produção Editorial e Design Gráfico

SEDE BARRA
Rosana Guter Nogueira
12 VIAGEM DE ESTUDOS
Produção Gráfica DO IX CURSO DO 44 SE POUSAR UM
Diretor Desportivo Luiz Ludgerio Pereira da Silva PENSAMENTO BRASILEIRO NORTH-AMERICAN T-6
Brig Ar Paulo Roberto de Oliveira Pereira Revisão AMAZÔNIA OCIDENTAL JÁ NÃO ERA FÁCIL,
Araken Hipolito da Costa IMAGINE (QUASE) SEM
Diretor Aerodesportivo,Técnico e Operações Ten Cel QFO Dirce Silva Brízida
Cel Av - Editor da Revista Aeronáutica
Cel Av Romeu Camargo Brasileiro Administrativo
COMANDOS DE VOO...
Vicente Cavaliere
Assessores Gabriela da Hora Rangel Cel Av
Social - Brig Ar Carlos José Rodrigues de Alencastro Ricardo Luiz Georgiadis Germano
Administrativo e de Pessoal - Cel Av Luiz dos Reis Domingues 22 PENSAMENTO ESTRATÉGICO
Financeiro - Cel Int Carlos Eduardo Costa Mattos As opiniões emitidas em entrevistas e em matérias MILITAR DO PODER
Infraestrutura - Ten Cel Av Alfredo José Crivelli Neto assinadas estarão sujeitas a cortes, no todo ou em parte, AEROESPACIAL NA AMAZÔNIA
a critério do Conselho Editorial. As matérias são de inteira GUERRA AÉREA 48 O VOO DO 2º GTE
responsabilidade de seus autores, não representando, PARA BRASÍLIA
SEDE LACUSTRE Luiz Fernando Póvoas da Silva
necessariamente, a opinião da revista. As matérias não
Cel Av Maj Brig Ar Carlos Sergio S. Cesar
Assessor - Cap Esp Met José Renato do Nascimento serão devolvidas, mesmo que não publicadas.
CLUBE DE AERONÁUTICA
SEDE CENTRAL
PALAVRAS DO NOVO COMANDANTE DA AERONÁUTICA
MENSAGEM TENENTE BRIGADEIRO O mundo passa por transformações.
Assim como na evolução natural, também
tecnologias embarcados em nossas aero-
naves KC-390 e F-39 Gripen, plataformas
DO AR ANTONIO
DO PRESIDENTE
vale para as instituições o pensamento de estas que darão especial realce à prioridade
que não são os mais fortes que sobrevivem, conferida à Amazônia e ao Atlântico Sul,
CARLOS MORETTI e sim, os que se adaptam mais rapidamente regiões que ostentam potencialidades e
às mudanças. atraem cobiças que conflitam com os inte-
BERMUDEZ Ainda nesse contexto, a palavra Gover- resses maiores do povo brasileiro.

I
niciamos o 61º ano de vida da nossa conceituada Revista Aeronáutica, em sua nança ganhou destaque na Administração, e Assim, prosseguiremos conscientes de

A
302ª edição, num clima de otimismo entre os brasileiros de bem, com os novos o assumir o honroso cargo de Co- a FAB, por sua vez, continuará aperfeiçoan- que o leque de responsabilidades das For-
rumos que o país vem tomando. Certo é que uma pequena parte da população mandante da Aeronáutica, quero, do seus processos operacionais, logísticos ças Armadas vai além das lides puramente
continua remando contra essa melhoria, na já conhecida estratégia do “quanto pior, como minhas primeiras palavras, e administrativos, empregando sofisticados castrenses, e impõe o engajamento nos
manifestar que me sinto privilegiado em re- sistemas de TI, corrigindo rumos e resul- grandes projetos desta Nação.
melhor”. Mas, a despeito desses, este Brasil, adormecido e maltratado, há de continuar
ceber a maior missão da minha carreira das tados, de forma que nossas organizações Nesse sentido, estaremos sempre
despontando, novamente, como uma Nação pujante e coesa, mercê do trabalho, da mãos do Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo militares continuem mais focadas em suas prontos para interagirmos, de forma
coragem moral e da honestidade de propósitos da maioria dos brasileiros – e isto tem Luiz Rossato, Oficial General que, com es- atividades-fim. sinérgica, com todos os segmentos ver-
que dar certo, pois, errado, já vinha dando! pírito empreendedor e vivaz, dedicou meio Outro objetivo a ser perseguido será o dadeiramente comprometidos com o
Nesta edição, os autores nos brindam com excelentes artigos, aeronáuticos século de vida aos assuntos da Aeronáutica. de garantir o aporte de investimentos nos desenvolvimento do país, sendo um dos
ou não, dentre eles uma extensa cobertura da viagem realizada por comitiva de Nesse instante, quando ocorrem as afirmar que Vossa Excelência cumpriu com projetos estratégicos que suportam a nossa vetores da pronta-resposta aos clamores da
integrantes do IX Curso do Pensamento Brasileiro, do CAER, pela Amazônia Oci- naturais mudanças no âmbito da Adminis- êxito e muito sucesso a sua missão. efetiva atuação num cenário tridimensional sociedade, pois nossa missão é defender a
tração Pública, e novos rumos são estabele- Que Deus o proteja na nova fase da vida fabuloso que a Força Aérea protege, a cha- Pátria, garantir os poderes constituídos e,
dental, passando por Manaus, São Gabriel da Cachoeira e Maturacá. O nosso Brig
cidos, cabe-me agradecer-lhe pela distinção que hoje tem início! mada Dimensão 22. por demanda destes, assegurar a garantia
Ar Baginski, brilhante ex-Comandante da Academia da Força Aérea, também nos
com que fui brindado ao ser designado para Da minha parte, após mais de quatro Temos certeza de que somente com da lei e da ordem.
presenteia com dois históricos artigos, que relatam importantes momentos vividos décadas de serviços prestados no cumpri-
o cargo de Comandante-Geral do Pessoal, a incorporação de novas tecnologias, Como parte dessa visão, continuare-
nos idos de agosto de 1961 a abril de 1964, testemunha ocular que foi, em Unidades no qual pude compartilhar, juntamente mento das múltiplas tarefas comuns aos novas plataformas e a capacitação do nosso mos a modernizar nosso sistema integrado
da FAB no sul do país. com o Alto Comando da Aeronáutica, de que se dedicam ao serviço da Pátria, vejo- efetivo é que seremos capazes de controlar, de controle do espaço aéreo, garantindo a
Com a devida autorização do nosso Comandante, Ten Brig Ar Bermudez, a nossa um ambiente de amizade e camaradagem, -me rejuvenescido diante da missão de dar defender e integrar esta fabulosa área de defesa dos nossos céus e a qualidade da
Revista passará a ser distribuída nas bolsas das poltronas das aeronaves do Grupo deliberando sobre complexas situações continuidade ao primoroso legado deixado 22 milhões de quilômetros quadrados. prestação de serviços no principal modal
de Transporte Especial (GTE) e do 1º/2º GT – Esquadrão Condor, para o deleite dos afetas aos destinos da nossa Instituição. por oficiais visionários que me antecederam Isso nos impulsiona e nos dá certeza de transporte e meio de desenvolvimento do
Prezado Tenente-Brigadeiro Rossato, nessa posição, muitos dos quais aqui se de que estamos no caminho certo. país, cujos padrões são internacionalmente
nossos passageiros.
No momento em que inicia uma nova encontram e abrilhantam esta cerimônia Minha prioridade será a de aumentar reconhecidos.
Esperamos poder continuar contando com a prestimosa colaboração dos auto-
fase em sua vida, permita-me transmitir-lhe, com suas presenças. a qualidade dos nossos cursos, a fim de De forma especial, é imperioso que em-
res, na confecção das matérias para a nossa Revista Aeronáutica, que está voltando a Sinto-me desafiado, todavia, muito à
e também à estimada esposa Rosa, o reco- garantir a formação de profissionais que preguemos a melhor de nossas energias em
ser trimestral, e não mais quadrimestral, ressaltando que estamos com uma tiragem nhecimento dos que fazem a Força Aérea vontade, justamente por ver, na minha ala, saibam aliar inteligência multifacetada, apoio ao homem, a nossa gente, o bem mais
de 5.000 exemplares, distribuídos para os sócios em todo o Brasil, para o Congresso Brasileira, formulando-lhes votos de saúde homens e mulheres, que, atuando nos mais comunicação construtiva, trabalhar em precioso que temos. Para que cada vez mais
Edição: Agência Força Aérea

Nacional, o STM, o STF, bem como para autoridades e Organizações da FAB. e de muitas felicidades junto a sua família. diversos setores, voando e fazendo voar, equipe e, principalmente, realizar várias tenham, além de moradias condizentes, um
Uma boa leitura a todos. Crendo que os vencedores da batalha constituem um terreno fértil;que portam tarefas simultaneamente. real suporte de saúde, trabalhem em insta-
da vida são os homens perseverantes que, todas as qualidades habilitadoras para o Cada vez mais precisaremos de pesso- lações adequadas e, principalmente, sejam
Fonte: GABAER

Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez sem se julgarem gênios, se convenceram exercício das demandas operacionais e ad- as que transformem habilidade e esforço em reconhecidos pela dedicação aos rigores da
de que só pela constância e pelo esforço ministrativas inerentes ao cenário dinâmico desempenho e eficácia, que estejam aptos a profissão militar, uma carreira de Estado que
Presidente do Clube de Aeronáutica
poderiam chegar ao fim almejado, posso que vivenciamos na FAB e no Brasil. operarem equipamentos de finas e sensíveis detém características únicas e especiais.
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A esperança, a alegria e as expectativas dimento da importância da comunicação. Estado da Defesa, General-de-Exército
UM HOMEM COMPLETO
26 de setembro de 1942
prenunciam sinais claros de novos tempos, O trato operacional indicará o norte Fernando Azevedo e Silva, Nasce uma pequena luz com o nome de Manuel Cambeses Júnior

valores distintos e mentalidade diferente – para que intensifiquemos o preparo de Ao mesmo momento em que agradeço 13 de fevereiro de 2019
Apaga-se a grande luz de um homem completo baixar a taça depois que a levantasse e não po-
uma outra visão de mundo. nossa Força, com vistas ao seu pronto a confiança na investidura do cargo maior da dia babar, infrações desclassificatórias. Muitos
Nós somos daqueles que acreditam e emprego. Aeronáutica brasileira, coloco-me à disposi-
E le nasceu e se criou no ambiente dos subúr- tentavam, mas afinal ficava invariavelmente com
apostam no futuro deste país. Quanto maior for o zelo com a higidez ção de Vossa Excelência, em cujos ombros bios cariocas, onde pôde se deliciar com as dois fortes contendores, cujas alcunhas eram
Por isso, continuaremos a investir e a intelectualidade de nosso efetivo, maior pesa agora a salutar responsabilidade de atrativas brincadeiras de rua, sempre renovadas Galo Forte e Urso Branco da Taquara. Este último
na capacitação dos centros de pesquisa, será o retorno para a sociedade que por ele definir as diretrizes para o emprego comum em épocas determinadas: o envolvente jogo nunca perdeu e, diga-se, ganhava humilhando os
dos campos de provas, das bases de é protegida. de nossas Forças Armadas. de bola de gude, o furioso racha das peladas adversários ao beber imediatamente e de uma só
com pés descalços, a batalha aérea das pipas, vez, após a vitória, mais uma cerveja entornada
lançamento de veículos destinados ao Haveremos de continuar incentivando Sabemos que o Brasil tem pressa.
o lançamento do pião. E tinha a conversa da pelo gargalo. E quem era o imbatível Urso Branco
aeroespaço, delineando, desse modo, a perfeita relação com a mídia, que tanto Possuímos um excelente instrumento da Taquara? Sim, ele, Cambeses, o intelectual,
esquina, com os contadores de piadas, das
a intensa participação do Comando da contribuiu para a construção da reputação para quem viverá o afã de concretizar ob- o mesmo dos sérios artigos, opúsculos e con-
estórias fantásticas (muitas mentiras, as sobre
Aeronáutica no Programa Nacional de de nossa Força nestes 78 anos de exis- jetivos com urgência e precisão. fantasmas eram as preferidas), o disse-me-disse ferências no Brasil e no exterior.
Atividades Espaciais. tência, criando conteúdos relevantes, pois Temos fé no trabalho de Vossa Exce- da vizinhança. Enfim, muita coisa para enriquecer Pois é, tinha esse lado intelectual que nos
O Instituto de Tecnologia da Aero- relevante é nossa missão, assim como é lência, gerando assim a esperança que se uma infância gostosa de viver. Àquela época as surpreendia. Como era isso? Quais as áreas
náutica, o ITA, orgulho da FAB e do Brasil, determinante o papel da imprensa nesta transformará em perseverança e, esta, em ruas do subúrbio ensinavam algumas linhas do de atuação? História, estratégia, geopolítica,
mal, mas as do bem prevaleciam, inspirando os relações internacionais. Em que veículos de
continuará formando profissionais de nossa conexão com a sociedade. bom êxito.
jovens a serem grandes, fortes e admirados, via divulgação publicava seus trabalhos? Entre
altíssima qualificação, para impulsionar o Meus comandados, Excelentíssimo Senhor Presidente da jornais e revistas, mais de vinte. Em quantas
honestidade, firmeza de caráter e honradez. Que-
desenvolvimento de atividades conjuntas, Resta que nos disponhamos, cada República, Jair Messias Bolsonaro, instituições atuou como conferencista? Mais
rer ser um herói era muito comum. Esse padrão
dentro e fora do Brasil, no sentido de am- um no âmbito de sua responsabilidade, a O documento que define a conduta ético era resultado da influência da postura das de vinte, também. Além disso, participou como
pliar a capacitação científico-tecnológica da tratar de defender os objetivos maiores da do Governo Federal, nesta sua fase inicial, próprias famílias, aí incluída a família do menino comentarista em várias emissoras de rádio e
Aeronáutica no campo aeroespacial. Aeronáutica, pois são eles parcela de sig- deixa claro que dificuldades irão surgir, seja e depois adolescente Cambeses, que ingressou televisão. Só tem penetração em um universo
A implementação do Projeto Estra- nificado mais do que palpável no interesse pelo receio às mudanças, seja pela escas- na Força Aérea pelas portas de suas escolas assim tão amplo quem se impõe pela contínua
tégico de Sistemas Espaciais trará uma do desenvolvimento nacional. sez de recursos, ou mesmo provenientes da de formação, já moralmente bem formado e comprovação de alta competência. Ele o fez.
ostentando sua atraente aura de simpatia, boa Construiu uma família sobre a qual estendeu
significativa mudança nos conceitos das Rogo para que todos persigam os itens reação corporativa, ou do inconformismo
de fazer amigos, alguns que ali já se tornariam Obsoletas. Anos depois, a situação mudou para um manto de proteção. Deu-lhes a confortável
operações das Forças Armadas. Simulta- colimados sem timidez e sem descuido, com um governo verdadeiramente diferente. certeza de que nele encontrariam sólido amparo
inseparáveis ou separáveis somente pela inevi- melhor e foi apresentado a aeronaves modernas
neamente, permitirá seu uso em aplicações mantendo suas mentes voltadas para a Entretanto o próprio documento evi- de emprego tático com as quais estabeleceu material e espiritual. Se, por um lado foi exigente,
tabilidade do fim da vida.
para a sociedade brasileira nas áreas de missão constitucional da defesa do solo dencia que nada disso será suficiente para Aí, formado, tenente aviador, surge o entusiástico convívio por muitos anos, tendo se por outro foi compreensivo. Se alguma vez foi
comunicações, meteorologia, navegação e que os seus pés pisam. impedir o avanço de nosso país. Cambeses instrutor de voo, aquele que levava tornado um dos pilotos mais voados no C-130 ríspido, em outras foi terno, emotivo, gentil. As
monitoramento do espaço. Companheiros do meu Alto-Comando, Notórias já se tornaram as prioridades muitos cadetes a rezar, pedindo aos santos que Hércules na FAB. variantes do caráter humano sempre se expres-
Continuaremos a fomentar e priorizar Trabalharemos, por vezes, diante de di- que o Governo Federal dará ao desenvolvi- o fizessem seu instrutor. Porque, com ele, só Ao mesmo tempo em que impunha aus- saram nele com o vigor do sangue espanhol de
não aprendia quem não tivesse nascido com a teridade ao comportamento profissional e ao origem, como ele mesmo reconhecia. Como
nossa indústria de defesa, gerando em- lemas, teóricos e práticos, enfrentando no- mento social, procurando estender a toda
mínima predisposição genética para ser piloto. desempenho intelectual, quando era a hora, resultado, emergiu um líder familiar invejável
pregos e fortalecendo a soberania do país. vos desafios que haverão de se apresentar. a população do país os bens do progresso. e uma família que lhe deu incansável suporte
Primeiro a decolar, último a pousar, sempre abria a guarda para brincar, saborear a vida. Nas
O A-29 Super Tucano e o KC-390 Mas tenho certeza de que o colegiado maior Para tanto, a Nação continuará preci- rodas de contadores de piadas, as suas fluíam em seus últimos e sofridos dois anos de vida.
figurando entre os primeiros do pau-de-sebo,
são exemplos para o mundo da eficiência da Aeronáutica brasileira saberá alcançar o sando que levemos o que falta àqueles que, dando cansativos brifins e debrifins, usando todo com graça, energia. Os ouvintes explodiam em Colheu o que plantou, recebendo da esposa
e do sucesso de parceria da FAB com a consenso entre a certeza e a verdade. de outra forma que não o avião, dificilmente o tempo disponível para garantir a seu cadete o gargalhadas, querendo mais. Se por acaso entrava Sônia e dos filhos André e Danielle muito mais
EMBRAER. Excelentíssimos Senhores, Almirante poderiam ser apoiados, quer no atendi- preparo teórico completo. Quando na instrução num botequim pé sujo logo puxava ou atraía uma que retribuição. Deram-lhe o indispensável apoio
Da mesma forma, o F-39 Gripen, que de Esquadra Ilques Barbosa Júnior e General mento às necessidades básicas, quer na prática de voo, muitas vezes cometia pequenos conversa. Integrava-se fácil, como se fosse um para enfrentar com dignidade o padecimento
deslizes voando mais tempo do que o previsto velho conhecido daqueles frequentadores modes- causado pela doença que acabou por levá-lo. Foi
será a espinha dorsal da Defesa Aérea do de Exército Edson Leal Pujol, iminência de infortúnios ou calamidades.
para aquele cadete que apresentava dificuldades tos. Essas passagens nunca eram desperdiçadas. o equilíbrio da família moldada por ele que lhe
Brasil, representará o maior salto tecnoló- Vossas Excelências, a partir da próxima Por diversas vezes, tivemos a grata permitiu prosseguir como o Cambeses altivo de
no aprendizado. (Se tem alguém que foi aluno Entravam em seu arquivo de aventuras pitorescas
gico dos últimos 40 anos. semana, assumirão seus comandos, po- oportunidade de constatar a confiança sempre até seus últimos dias.
dele e está me lendo agora, diga aí se estou men- para serem relatadas, posteriormente, a grupos
A FAB tem se preparado intensamente dendo contar com a certeza de que a Força que Vossa Excelência deposita no elevado tindo!). O Comandante da Academia da época era que se encantavam com sua prosa saborosa, Lá se foi o homem pleno que fez muito,
para receber esses vetores e operá-los no Aérea continuará empenhada, corajosa- propósito que nos anima. bravo, às vezes exagerado, duro nas punições momento em que aproveitava para expor sua fez bem feito e com entusiasmo tudo o que
limite de suas potencialidades. As parce- mente, no tríplice propósito de nossas res- Assim, voando nas aeronaves da sua que aplicava aos casos mínimos de indisciplina, convivência com personalidades ricas em crenças escolheu fazer ou que lhe foi atribuído. Cresceu
rias com EMBRAER e SAAB consolidarão ponsabilidades, e que une nossas Forças: Força Aérea, ao olhar para baixo, contem- especialmente as de voo. Mas, com o Cambeses, e costumes e com uma bagagem de sofrimentos sempre, amealhou amigos, admiradores, trouxe
nosso parque industrial de defesa, criarão uma, colimada para a segurança nacional; plará a imensidão desta terra que tanto se não era doce, era mais dócil. Não deixava de e alegrias muito diferentes das do contexto usual. satisfação por onde passou, encantou pessoas
ser um tratamento merecido e compatível com o Havia um Cambeses para cada ambiente. simples, influenciou muitas outras positivamen-
inúmeros postos de trabalho, e dilatarão outra, voltada para o desenvolvimento; e a amamos, e haverá de ratificar o seu orgulho
valor daquele jovem profissional que exagerava Era presença requisitada e certa nas reuniões te, representou muito bem e engrandeceu a Força
as fronteiras do conhecimento científico. terceira, para o bem-estar social. de buscar fazê-la tão grande quanto à sua Aérea. No tempo de vida que lhe foi conferido
na dedicação à instrução, algo essencial para dos Filhos da Pauta na Base Aérea dos Afonsos,
Essa é a nossa Força. Temos orgulho do que Entendemos que a superposição de vastidão. onde ficava inteiramente à vontade no meio do fez-se um homem completo. O que mais pode-
servir como referência aos demais instrutores
fomos; temos orgulho do que somos; mas nossos empreendimentos e a interoperabi- Ao olhar para cima, haverá de reafirmar, no ambiente de formação militar. samba, churrasco e cerveja. Na praia do Leme ria fazer? Não saiu devendo nada. Deixou suas
inquieta-nos o que poderemos ser. lidade de nossas Forças, sob a regência do junto àquele que paira acima de todos, o Além do voo de instrução ele também voava sempre à tarde dos dias 31 de dezembro do ano, marcas entre nós, uma referência boa, alegre,
Pautei minha carreira em uma tríade de Ministro da Defesa, ao atender às neces- seu fiel propósito de que o Brasil continuará outras aeronaves, a maioria aeronaves antigas entre grande número de amigos próximos, era respeitável, querida. O que mais poderia ser? Vai
distintas atividades: sidades do primeiro objetivo (a segurança sempre acima de tudo. de emprego na Segunda Guerra Mundial, que feita uma festa de congraçamento que se tornou em paz e permanece em paz para sempre, que a
teimavam em permanecer na ativa. Brincava que tradicional, conhecida como A Farofa. Muita cer- sua memória vamos guardar para citá-lo como
– o viés operativo, com longa perma- nacional), estarão, ao mesmo tempo, forta- Muito obrigado!
iria mandar confeccionar (não sei se o fez) cartão veja, mutirão de quitutes variados, durava muitas exemplo. O que mais poderia querer? Obrigado,
nência na Aviação de Caça; lecendo as do segundo (o desenvolvimento)
de apresentação para distribuir entre as moças horas. Seu momento de clímax era o campeonato amigo, por ter sido o que foi para nós n
– a gestão do tão determinante recurso e, em prosseguimento, realizando o terceiro TENENTE BRIGADEIRO DO AR de chope a metro. O atleta tinha que sorver a
que pretendia impressionar modestamente. Tal
humano; e (o bem-estar social). ANTONIO CARLOS MORETTI BERMUDEZ cerveja contida naquela imensa taça de um metro
cartão ostentaria seu nome, telefone e, abaixo, Carlos Alberto G. Miranda
– a vivência, com o decorrente enten- Excelentíssimo Senhor Ministro de Comandante da Aeronáutica a especialidade operacional: Piloto de Aeronaves de comprimento. Não podia interromper, nem Cel Av
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HOMENAGEM
NOTÍCIA do CAER
AO EX-MINISTRO DA AERONÁUTICA DIPLOMAÇÃO DO IX CURSO DO PENSAMENTO BRASILEIRO
TEN BRIG AR MAURO GANDRA
O Curso do Pensamento Brasileiro IX foi
concluído na manhã do dia 30 de no-

F aleceu, no dia 24 de dezembro de


2018, o Ten Brig Ar Mauro José
Miranda Gandra, em sua residência
vembro de 2018, com a realização de um
belo evento.
Iniciado em agosto de 2018, o Curso
no Rio de Janeiro. teve seu ápice com a realização da viagem de
Nascido na mesma cidade, em estudos à Amazônia Ocidental, com a finali-
16 de abril de 1933, o Ten Brig Gandra dade de conhecer melhor as nossas origens,
foi Ministro da Aeronáutica no perío- colocando em prática todos os estudos e
do de 1º de janeiro a 20 de novembro avaliações da conjuntura nacional.
de 1995, durante o governo do Pre- A solenidade foi aberta com o hastea-
sidente Fernando Henrique Cardoso. mento da Bandeira Nacional, ao som do Hino Autoridades perfiladas para o hasteamento da bandeira. Da esquerda para a direita, Cel Av Miranda, Maj Brig Ar Perez, Maj Brig Ar Vinicius,
Iniciou sua carreira na Aeronáutica da Bandeira. Em seguida, os integrantes do Ten Brig Ar Baptista, Embaixador Jerônimo Moscardo, Brig Ar Bohrer e Cel Av Póvoas
em 1949, na Escola de Aeronáutica. Curso e convidados se dirigiram à sala de
Dentre as organizações onde serviu, Autoridades são agraciadas com o distintivo do Pensamento Brasileiro. Da esq. p/a dir.
convenções para a entrega dos diplomas Maj Brig Ar Vinicius, Embaixador Jerônimo Moscardo, Brig Ar Bohrer, Ten Brig Ar Baptista
destacamos as seguintes: 1° Grupo aos 47 participantes. Nesse momento foram e o atual Presidente do Clube de Aeronáutica, Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez
de Aviação Embarcada, Gabinete feitas as considerações finais, apresentando
Militar da Presidência da República o relatório sucinto da viagem de estudos
e Grupo de Transpor te Especial. ocorrida na semana anterior.
Como Oficial-General esteve à frente A Mesa Diretora foi composta pelo atual
da Escola de Comando e Estado- Instituto Histórico-Cultural da Ae- presidente do Clube de Aeronáutica, Maj Brig
Maior da Aeronáutica, da Diretoria ronáutica (INCAER), do Conselho Ar Perez, e pelos ex-presidentes do Clube, Maj
de Material Aeronáutico e Bélico, da de Administração da Companhia Brig Ar Vinicius e Ten Brig Ar Baptista, este
Secretaria de Economia e Finanças Eletromecânica GE (GE/Celma), do ex-comandante da Aeronáutica. Havia várias
da Aeronáutica e, também, do então Conselho de Turismo da Confede- autoridades presentes, dentre elas podemos
O mascote da turma, Henrique Taulois Trompowsky Silveira
Soares, filho de Camilla Trompowsky e bisneto do falecido
Departamento de Aviação Civil. ração Nacional do Comércio, bem destacar o Ten Brig Ar Seixas, o embaixador Cel Av Ivan Trompowsky (também participou do Curso do
Como Ministro da Aeronáutica, o como Diretor-presidente do Instituto Jerônimo Moscardo e o conselheiro do IN- Pensamento Brasileiro), recebe das mãos do Ten Brig Ar
Baptista seu diploma especial de participação.
Ten Brig Gandra foi responsável pelo do Ar da Universidade Estácio de Sá, CAER, Brig Ar Bohrer.
ingresso das primeiras mulheres na além de Vice-presidente do Conselho Após a entrega dos diplomas, o Cel Av Sala de Convenções – Cerimônia de diplomação
Academia da Força Aérea, no Quadro Empresarial de Assuntos Estratégi- Araken, coordenador do Curso, proferiu al-
de Oficiais Intendentes (1995); incen- cos da Associação Comercial do Rio gumas palavras sobre o que é o Pensamento
tivou importantes projetos, como a de Janeiro. Brasileiro e como foi introduzido no CAER;
modernização dos caças F-5 e o Publicou as seguintes obras: agradecendo em particular aos presidentes
desenvolvimento da aeronave Super Transformando crise em oportuni- do Clube por aprovar e manter ao longo de
Tucano; e foi um dos responsáveis dade: diagnóstico e bases para um nove anos o Curso do Pensamento Brasileiro.
pela implantação do Sistema de Vi- plano de desenvolvimento da avia- O Ten Brig Ar Baptista pediu então para que o
gilância da Amazônia (SIVAM). ção brasileira (com segurança), em Brig Ar Bohrer encerrasse a solenidade com
Em 1998, já reformado da Força coautoria com João Paulo dos Reis algumas palavras. Emocionando a todos, o
Aérea Brasileira, foi eleito Dire- Veloso; e Logística e transporte no discurso de encerramento foi espetacular,
tor-presidente do Sindicato Nacional processo da globalização. pela importância do Brig Bohrer, que viveu o
das Empresas Aeroviárias (SNEA) Foi casado com Iara Maria de início da Força Aérea Brasileira e que continua
para um mandato de três anos, Miranda Cezimbra Gandra, com até hoje engajado e atualizado nos assuntos
encerrado em 2000. Tornou-se quem teve um casal de filhos, além da Aeronáutica brasileira.
membro do Conselho Superior do de netos e bisnetos.
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A REINTERPRETAÇÃO
HISTÓRICA DA GEOPOLÍTICA
Manuel Cambeses Júnior na Alemanha no alvorecer do século XX consolidada no Tratado de Defesa do Atlân-
Cel Av e atingiu grande difusão durante a prima- tico Norte (Otan) e foi sobejamente testada
Membro emérito do Instituto de Geografia
e História Militar do Brasil, membro da Academia
zia do regime nazista. O general alemão com a crise dos mísseis, ocorrida em 1962.
de História-Militar Terrestre do Brasil, pesquisador Karl Haushofer (1869-1946) modernizou Fica bastante claro que, sem os parâmetros
associado do Centro de Estudos e Pesquisas de
História Militar do Exército e conselheiro do Instituto a Geografia Política utilizando-a como ordenadores da Geopolítica, o mundo teria
Histórico-Cultural da Aeronáutica. instrumento que justificasse a expansão sido arrasado por uma hecatombe nuclear.

A
s grandes transformações que ocor- da Alemanha durante o Terceiro Reich e Após a queda do Muro de Berlim,
reram no mundo nas três últimas desenvolvendo as teorias do espaço vital do em 9 de novembro de 1989, que pôs
décadas, dentre as quais tem um geógrafo e etnólogo alemão Friedrich Ratzel fim à Guerra Fria, a Geopolítica passou
grande peso a expansão universal do es- (1844-1904) – que se notabilizou por ter a retomar, paulatinamente, o interesse
paço cibernético, carrearam, como conse- criado o termo Lebensraum – apoiadas pelo perdido e voltou a crescer ao amparo das
quência natural, notáveis transformações professor sueco Rudolf Kjellen. Países como tensões internacionais surgidas com o
na geografia humana do planeta. Mudanças a Rússia, a China e o Japão também deram desmembramento da União Soviética. É
que se traduzem em uma reinterpretação grande importância a esta ciência durante nesse cenário que emergem os Estados
histórica da Geopolítica e no questiona- os anos trinta e quarenta do século passado, Unidos como a superpotência única, sem
mento de muitos de seus pressupostos, como meio para atingir o poder global. contrapesos imediatos. Esta situação os
os quais eram conceituados de forma A utilização propagandística da Geo- incentiva a iniciar o desenvolvimento de
determinística pelo discurso clássico das política acarretou, após a derrota alemã na uma política de poder tendente ao controle
ciências políticas. Segunda Guerra Mundial, seu descrédito e do mundo, e que tenta legitimar sobre as
Denominamos de Geopolítica a ciência esquecimento, sobretudo no âmbito aca- bases de ser o vencedor da Guerra Fria e de
que pretende interpretar os fenômenos que dêmico. Não obstante, alguns segmentos, sua superior qualidade econômica, cultural
permeiam a política nacional ou interna- principalmente militares e diplomatas, e militar. Dissipa-se assim o tradicional
cional no estudo sistemático dos fatores seguiram interessados por este ramo da conflito Leste-Oeste e começam a ser mais
geográficos, econômicos, raciais, culturais Geografia, no qual se podiam ler os acordos notórias as diferenças no que concerne a
e religiosos. Desde a criação do termo pelo explicitados na Conferência de Yalta, onde níveis culturais e de desenvolvimento do
renomado cientista político sueco Rudolf ditaram as premissas ordenadoras do mundo eixo Norte-Sul.
Kjellen (1864-1922), em 1916, em seu pós-guerra e que, certamente, moldaram os O Estado-Nação continua sendo o ele-
famoso livro em que consagra o Estado paradigmas mantenedores da Guerra Fria. mento básico do sistema internacional que
como organismo vivente, a Geopolítica Entretanto as condições que emoldu- aglutina a identidade nacional, a coesão
desenvolveu seu conceito básico segundo ravam o conflito Leste-Oeste e os ideais de um povo e mantém a sua soberania.
o qual os Estados possuem muito das democráticos do mundo ocidental fizeram Entretanto já não constitui o único ator
características dos organismos viventes. modificar substancialmente seus funda- relevante, e a soberania muitas vezes deve
Ao mesmo tempo, se anuncia a ideia mentos e objetivos. Daí, originaram-se subordinar-se à conveniência de acatar as
de que um Estado teria de crescer, expan- novas teorias emanadas por potências regras impostas pela globalização. No ce-
dir-se ou morrer dentro das fronteiras vivas. como Inglaterra, França e Estados Unidos, nário atual surgem novos e atuantes atores.
Devido a isso é que tais fronteiras têm que se orientaram basicamente em exercer Entre estes podemos enumerar os blocos
uma natureza dinâmica e são susceptíveis o controle em determinados espaços ter- econômicos regionais, as reagrupações
a mudanças. A Geopolítica é uma ciência restres e marítimos considerados chaves, de Estados objetivando a defesa mútua,
que por meio da Geografia Política, da o que se materializa por meio de uma as grandes empresas multinacionais e
Geografia Descritiva e da História, estuda gravitação estratégica e econômica, sem as organizações não governamentais. A
a causalidade espacial dos acontecimentos necessidade de perpetrar uma anexação Geopolítica segue, portanto, vigente, com
políticos e seus futuros efeitos. territorial do tipo formal. novos atores e cenários, porém em franco
A Geopolítica teve grande aceitação A expressão prática desta visão está desenvolvimento n
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VIAGEM DE ESTUDOS DO IX CURSO DO PENSAMENTO BRASILEIRO
Araken Hipolito da Costa
Cel Av
Editor da Revista Aeronáutica AMAZÔNIA OCIDENTAL
O Clube de Aeronáutica marcou presença na Amazônia
Ocidental com a participação dos integrantes CINDACTA IV – Manaus
do IX Curso do Pensamento Brasileiro. No período
de 19 a 23 de novembro de 2018 foi cumprido o
planejamento para conhecer o trabalho
das Forças Armadas na Região Amazônica e, também,
das instituições culturais e científicas.

O
Maj Brig Perez, Presidente do As etapas foram do Aeroporto
Clube de Aeronáutica, planejou Santos-Dumont a Confins e, após
e solicitou apoio do Comando abastecimento, prosseguimos com
da Aeronáutica para proporcionar destino a Cachimbo e, ao final da
aos 31 participantes da comitiva do tarde, pousamos em Ponta Pelada
CAER observar a Amazônia. A comi- (Manaus). As boas-vindas do co-
tiva foi composta pelos participantes mandante da Ala 8, Brig Ar Mauricio
do IX Curso do Pensamento Brasileiro, Carvalho Sampaio, e de seus auxi-
coordenado pelo Cel Av Araken Hipolito
da Costa, Diretor do Departamento
liares foram extremamente gentis
e, no transcurso de nossa estadia,
N o segundo dia de viagem, 20 de no-
vembro, terça-feira, a nossa primeira
visita foi ao Quarto Centro Integrado de
e telecomunicações aeronáuticas. O
CINDACTA IV atua em uma área de 5,2
milhões de quilômetros quadrados, cerca
Cultural do CAER. foram de inestimável ajuda com apoio
Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo, de 60% do território nacional, abrangendo
O Curso do Pensamento Brasileiro preciso e fundamental para que nos
mais conhecido como o CINDACTA da os estados do Amazonas, Pará, Roraima,
tem como objetivo dedicar estudos ao sentíssemos em casa. Pernoitamos
Amazônia. Seu comandante é o Cel Av Rondônia, Amapá, Acre, Mato Grosso,
Pensamento Brasileiro, que nos permita no agradável e remodelado Hotel
Nilo Sérgio Machado de Azevedo, que Tocantins e parte do Maranhão.
tomar consciência do que de fato é Tropical, sendo as despesas com
brindou a comitiva com uma apresen- Terminada a palestra, o Cel Av Miran-
ser brasileiro, além de nos estimular a hospedagem pagas individualmente
tação detalhada sobre a organização da, 1º Vice-Presidente do CAER, fez os
preservar a cultura e os valores morais pelos participantes da viagem.
subordinada ao DECEA e responsável agradecimentos do Grupo do Pensamento
e nacionais, partes singulares de nossa
pelo controle e gerenciamento do espaço Brasileiro, após os participantes percor-
brasilidade, daquilo que nos constitui
aéreo do Norte do país. reram as instalações e, em especial, as
como Nação.
Mais de trezentos mil movimentos salas de operações. O grupo do Pensa-
O início da missão foi marcado pela
aéreos recebem anualmente o apoio mento Brasileiro apreendeu a relevância
ansiedade em poder atingir pontos do
dos serviços dessa Unidade, tais como: do CINDACTA IV, pois este representa um
nosso Brasil que somente são possíveis
gerenciamento de tráfego aéreo, defesa marco de fundamental importância para a
pelas asas da Força Aérea, principal-
aérea, meteorologia, aeronáutica, busca integração soberana do espaço da Região
mente para a maioria dos participantes
e salvamento, informações aeronáuticas Amazônica.
civis. No primeiro dia, 19 de novembro,
segunda-feira, deixamos a sede central
do CAER e nos dirigimos a pé para a
estação de passageiros do DECEA
(antigo III COMAR), de onde decolamos
às 10 horas, sob o comando do Cap
Av Marangon, na aeronave C-99 do
Esquadrão Condor, do 1º/2º GT sediado
no Galeão.
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ALA 8 – Manaus
TEATRO INPA – Manaus

AMAZONAS
N a parte da tarde nos dirigimos a um símbolo da cidade de
Manaus, o Teatro Amazonas, cuja construção iniciou-se em
1882, na época áurea da borracha, em que os barões viveram
uma época de ostentação e sonhavam em construir uma cidade
europeia em plena Floresta Amazônica. Depois de observarmos
a sua imponente fachada rosa, adentramos no Teatro e contem-
Cel Av Miranda, 1º Vice-Presidente do CAER entrega o opúsculo do
plamos sua cúpula composta de 36 mil peças de escamas em Pensamento Brasileiro à bióloga Rita Mesquita, junto aos membros da
cerâmica esmaltada e telha vitrificada, representando a bandeira comitiva: da esq. p/a a dir. Antônio Paulo, Cel Av Cutrim e Alcides Carneiro

brasileira. Domenico de Angelis, Giovani Capranesi e Crispim do


Amaral, grandes nomes de artistas trazidos da Europa, foram
responsáveis pelas belas pinturas do salão nobre e da sala de
A o final da tarde, chegamos ao INPA (Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia). Criado em 1952 e implantado em
1954, vem ao longo dos anos realizando estudos científicos do
espetáculos. Tem capacidade para 701 pessoas na plateia e nos
meio físico e das condições de vida da Região Amazônica para
três andares de camarote. A restauração foi realizada em 1990,
assim promover o bem-estar humano e o desenvolvimento socio-
e contou com a participação de um dos membros da comitiva, o
econômico regional. Atualmente o INPA é referência mundial em
Sr. Fernando Bicudo, Presidente do Theatro Municipal do Rio de
Biologia Tropical. Os primeiros anos do INPA foram caracterizados
Janeiro, que narrou as modificações introduzidas naquele período.

E m seguida nos dirigimos à Ala 8, de helicópteros H-60L (Sikorsky UH-60L por pesquisas, levantamentos e inventários sobre fauna e flora.
Atualmente o Teatro sedia o Festival Amazonas de Ópera, evento
antiga Base Aérea de Manaus, onde Black Hawk). Esquadrão de Transporte Hoje o desafio é expandir de forma sustentável o uso dos recursos
anual que movimenta o cenário musical da cidade.
o Comandante, Brig Ar Sampaio, nos Aéreo (7º ETA), Esquadrão Cobra, com naturais da Amazônia. Para cumprir essa meta, o Instituto dispõe
saudou com um briefing sobre essa vital aeronaves C-95 e C-95B (Embraer BEM-110 das seguintes coordenações: Capacitação, Administração, Ações
organização, responsável por todo o estado Bandeirante), C-98 (Cessna 208 Caravan) e Estratégicas, Extensão e, ainda, quatro Coordenações de Pesquisa
do Amazonas, embora realize também C-97 Brasília (Embraer EMB-120 Brasília); focadas em: Dinâmica Ambiental; Sociedade, Ambiente e Saúde;
missões em toda a Amazônia Ocidental e – 1º Esquadrão do 4º Grupo de Avia- Entrega do símbolo do Pensamento Brasileiro Tecnologia e Inovação; e Biodiversidade. Nossa visita se iniciou
nas demais unidades da Federação, quando ção (1º/4º GAv), Esquadrão Pacau, que e Revista Aeronáutica do CAER, pelo Bosque da Ciência, inaugurado em 1º de abril de 1995, con-
pelo 2º Vice-Presidente, Brig Ar Paulo,
acionada. Discorreu sobre suas Unidades marca para a Base Aérea de Manaus o ao Cmt da Ala 8, Brig Ar Sampaio
cretizando o sonho da instituição de abrir as portas à comunidade.
subordinadas: início de uma nova empreitada, pois soma O Bosque da Ciência tem aproximadamente 13 (treze)
– 1º Esquadrão do 9º Grupo de esforços com as demais Unidades Aéreas hectares e está situado na Zona Central-Leste da cidade de
Aviação (1º/9º GAv), Esquadrão Arara, sediadas, no sentido de cumprir com mais Manaus. Criado para fomentar e promover programas de difusão
o último esquadrão da FAB a utilizar os eficácia a missão de manter a soberania do científica e educação ambiental do INPA, o Bosque preserva
C-115 (De Havilland DHC-5 Buffalo), tendo espaço aéreo nacional, com vistas à defesa simultaneamente a biodiversidade do local. Após uma rápida
já recebido as primeiras aeronaves CASA/ do Brasil, em consonância com a Estratégia apresentação sobre parte da flora e fauna locais, a bióloga Rita
EADS C295, fabricadas na Espanha, aqui Nacional de Defesa; Mesquita nos encaminhou para uma sala (Casa da Ciência) no
denominados C-105 Amazonas. Até 15 de – Hospital de Aeronáutica de Ma- próprio Bosque, onde fez uma apresentação mais formal sobre
outubro de 2007 havia chegado um total de naus, Batalhão de Infantaria da Aeronáu- o INPA. Agora já familiarizada com o grupo, detalhou o tortuoso
oito aeronaves. O esquadrão é reconhecido tica Especial de Manaus (BINFAE-MN), caminho atualmente vivenciado pela instituição. Esta se encon-
pelo valioso trabalho desenvolvido nas Esquadrão de Material Bélico (EMB) e tra na eminência de perder parte significativa de seu corpo de
asas do C-115 Búfalo, desativado em 2008 Destacamento de Suprimento e Manu- técnicos (aposentadoria), sem que possam transferir o conhe-
e substituído pelo C-105 Amazonas, no tenção de Manaus (DSM-MN). cimento construído a duras penas. Como em grande parte das
cumprimento de missões de transporte e Após a apresentação percorremos instituições públicas, as privações do INPA não se restringem
de evacuação aeromédica junto às comu- uma exposição estática das aeronaves e ao corpo técnico. A infraestrutura básica para funcionamento
nidades mais longínquas da Amazônia, aos seus equipamentos, pertencentes à Ala 8, do Bosque encontra-se também comprometida pela redução
Pelotões de Fronteira do Exército Brasileiro no Hangar de Ponta Pelada. Prosseguimos de repasses federais. Como todo órgão público, o INPA sofreu
(PEF), à Fundação Nacional de Saúde, à para o Rancho, onde almoçamos um gos- ao longo das décadas com as restrições orçamentárias, o que
Polícia Federal e aos demais órgãos go- toso peixe tucunaré. Foi nesse momento vem comprometendo seus projetos estratégicos. Por outro
vernamentais; que o Brig Ar Paulo, 2º Vice-Presidente lado, a dedicação ao trabalho permite ainda que o Instituto se
Cmt da Ala 8, Brig Ar Sampaio, ladeado mantenha como referência quando o objeto de estudo é a Região
– 7º Esquadrão do 8º Grupo de Avia- do CAER, agradeceu ao Brig Ar Sampaio a
pelo Diretor Social, Cel Av Ajauri,
ção (7º/8º GAv), Esquadrão Harpia, dotado simpática acolhida pela Ala 8. e pelo Diretor Cultural, Cel Av Araken Amazônica. A palestrante nos apresentou um cenário que vem se
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COMANDO MILITAR DA AMAZÔNIA – Manaus

N a manhã do terceiro dia de viagem,


21 de novembro, quarta-feira, após
o café bem variado e típico da cozinha
das? Qual será a opinião da sociedade
local, dos brasileiros de uma maneira geral
e da comunidade internacional?
cações. Tudo isso funciona no regime de
24x7x365, ou seja, uma prontidão sideral.
Os militares atuam, pois, com o lema
amazonense, no Hotel Tropical, nos Outro desafio diz respeito à Questão Braço Forte, Mão Amiga desenvolvendo
dirigimos à sede do Comando Militar da Ambiental, em que buscamos respostas operações permanentes e episódicas e
Amazônia, onde tivemos a oportunidade para as seguintes perguntas: Como pre- apoiando, de maneira quase irrestrita e
ímpar de assistir a apresentação do Gen servar? Como explorar? Como desenvol- total, a população local, em especial nos
Brig Edson Skora Rosty, Chefe do Esta- ver? A área possui 660 mil quilômetros Pelotões de Fronteira sob o trinômio Vida
do-Maior do CMA, sem interferência do quadrados de Unidades de Conservação, – Combate – Trabalho que envolve a pro-
politicamente correto. com diferentes graus de regulamentação teção que se deseja para aquela área espe-
alterando ao longo do tempo. Fenômenos público e citado pela bióloga são as Plantas O Comando Militar da Amazônia mais ou menos permissivos sobre o que cífica. As Forças Armadas têm ido muito
como estiagem ou chuvas torrenciais ti- Alimentícias Não Convencionais (PANC’s), (CMA) foi criado no ano de 1956 e esta- é ou não é permitido fazer. Cinquenta por além de seus deveres, desempenhando o
nham até pouco tempo atrás seu momento que como seria esperado, têm seu paraíso Gen Bda Rosty, Chefe do Estado-Maior do CMA
belecido em Belém do Pará. No ano de cento desta área encontra-se na faixa de papel da Polícia Federal (na repressão a
de ocorrência previamente conhecidos. na extensa, desconhecida e diversificada 1969, a sede foi transferida para Manaus, a Questão Indígena. Esta possui alguns fronteira. Por outro lado, as dificuldades crimes e no acolhimento de refugiados);
Hoje, no entanto, esses episódios ocorrem Floresta Amazônica. no Amazonas. A partir de 2013, após a pontos polêmicos a considerar. Integrar logísticas para os deslocamentos na área realizando ações cometidas ao Ministério
de forma cada vez mais acirrada, ou seja, Em relação à distribuição das terras criação do Comando Militar do Norte, ou segregar o índio? A extensão das suas impõem maiores servidões se quisermos da Saúde; e promovendo a integração das
tanto as enchentes quanto as secas são pretas na Amazônia, em conversa com a com sede em Belém, os dois Grandes terras e a demarcação em áreas contínuas o desenvolvimento sustentável. tribos com os representantes do Estado,
mais frequentes e catastróficas. bióloga Rita, o pesquisador do Pensamento Comandos Operacionais foram separa- ou em ilhas? E como explorar as riquezas E, como último desafio, a área é tendo desenvolvido atividades que provam
Essas mudanças climáticas podem Brasileiro Alcides Carneiro levantou a ques- dos: um ficou responsável pela Amazônia no âmbito das terras indígenas? Qual a deficiente na produção e distribuição aos índios a leal amizade, a tal ponto que
estar associadas à questão dos rios tão referente a esse fenômeno, citando o Oriental; e o outro, pela área da Amazônia política que o governo brasileiro vai definir de energia elétrica, aí incluída a capital eles ensinam as novas gerações a serem
voadores que, segundo a bióloga, têm livro 1499 – O Brasil antes de Cabral, de Ocidental. para cada uma das questões apresenta- Manaus, dependente da transmissão de gratas pela atuação dos militares, que
sentido a perda significativa do que seria o Reinaldo Lopes, que entre outras afirma- A área sob a responsabilidade do Tucuruí ou da energia fornecida desde a eles percebem ter ido para ficar e para
manancial do Pará, onde o desmatamento ções supõe que a população indígena da CMA estende-se pela extensa faixa de Venezuela. defendê-los.
já comprometeu a maior parte do território. região seria compatível com a atual, e as fronteira que totaliza 9.762 quilômetros, Acrescente-se a isso, o fato de a área Devemos citar o lema que guia, há
O comportamento desse caudaloso rio de terras pretas seriam a principal evidência sendo limítrofe com cinco países do já sofrer com a problemática que atinge muitos anos, os homens de farda que
vapor aéreo vai encher os reservatórios de do fato, pois estas são sabidamente de continente sul-americano, extensão três todo o país: as facções criminosas, que servem na área: Árdua é a missão de
água das regiões ao sul da Amazônia, que origem humana, no que foi corroborado vezes maior que a fronteira dos EUA com lá se instalaram, são um ingrediente a desenvolver e defender a Amazônia.
por sua vez gerarão a principal fonte da pela pesquisadora. o México. Possui 26 mil quilômetros de mais na criminalidade das cidades, além Muito mais difícil, porém, foi a de
matriz energética brasileira e que, poste- Concluindo, acreditamos que para o vias navegáveis, e o regime das águas da imensa dificuldade dos típicos crimes nossos antepassados de conquistá-la e
riormente, irrigarão com o precioso líquido nosso grupo de Estudos do Pensamento determina a vida do ribeirinho. Há uma praticados na faixa de fronteira. mantê-la. De autoria do General Rodrigo
os lares da imensa maioria da população. Brasileiro essa viagem pode ser entendida diversidade enorme na área, a saber: Pode-se, pois, concluir, que a Ama- Otávio, Comandante eterno do CMA, essa
A dificuldade para obtenção de uma como um divisor de águas, em que passa- o pólo industrial de Manaus e cidades zônia Ocidental tem uma precariedade frase baliza a atual missão síntese deste
patente foi outro fato pontuado pela remos necessariamente a olhar de frente vizinhas, com mais de 550 indústrias, gigantesca no que diz respeito à infraes- Grande Comando: preparar e empregar,
palestrante, já que a burocracia brasileira a Região Norte (todos os palestrantes suporta uma população que é a metade trutura, colaborando para que haja um prevenir e reprimir, desenvolver e apoiar.
impede a efetiva utilização pela sociedade observaram a necessidade dessa mudança de toda a população do estado, tendo imenso vazio do poder, estando a presen- Para tal, tem como visão de futuro estar
de resultados obtidos por meio da pes- de postura da população). Já foi citada por consequência um imenso vazio de- ça do Estado limitada ao trabalho hercúleo efetivamente presente e elevar a opera-
quisa. Outro produto pouco conhecido do anteriormente a premente preservação das mográfico nas demais áreas; há também das Forças Armadas desdobradas nesse cionalidade em toda a área de atuação até
florestas, a fim de manter caudalosos nos- os lavrados de Roraima; a área da Cabeça imenso território. Isso exige uma neces- 2022. É por isso que homens e mulheres
sos rios voadores. Outro fator de segurança do Cachorro; o Alto Solimões; e o estado sidade de permanente prontidão das Uni- seguem firmes nos seguintes princípios
nacional e tão monumental como tudo que de Rondônia. dades subordinadas ao Comando Militar: e valores: comprometimento, camarada-
ocorre na Amazônia é o Aquífero Alter do A importância da Amazônia pode ser desde os Pelotões de Fronteira na imensa gem, simplicidade e segurança.
Chão, este genuinamente nacional, e com sintetizada em três aspectos principais, linha de fronteira, até aos órgãos de apoio Ao deixarmos o CMA, nos dirigimos
reserva superior ao internacional e mais dentre outros: maior banco genético do estabelecidos mais à retaguarda; desde para a Ala 8, onde almoçamos, embarcan-
popular Aquífero Guarani, mesmo estando planeta; maior província mineralógica as sedes dos Comandos de Brigada, até do em seguida na aeronave C-105 Ama-
distribuído por um território pelo menos da Terra; e 1/5 da água doce do planeta. Manaus, onde se localizam as instalações zonas, do 1º/9º GAv, Esquadrão Arara,
três vezes menor. No gráfico ao lado são Assim, podemos afirmar que a Amazônia mais significativas para o apoio logístico, com destino a São Gabriel da Cachoeira,
Comandante Militar da Amazônia, Gen Ex César
apresentadas informações e referências tem vários desafios. O primeiro deles é Augusto Nardi de Souza incluindo aí os meios aéreos e as embar- distante uma hora e vinte minutos de voo.
sobre o Aquífero Alter do Chão.
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SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA sideráveis secas, causa impacto considerável
na logística e nas operações, exigindo planeja-
voltadas para o desenvolvimento sócio-
-econômico de sua imensa área de atuação,
obter um conhecimento mais aprofundado
sobre a Amazônia.

D epois do pouso, seguimos em direção à senta um inestimável valor geopolítico, o que mento meticuloso e ações bastante peculiares realizando diversos e importantes apoios em No início da noite, rapidamente nos
sede da 2ª Brigada de Infantaria e Selva, a transformou, historicamente, desde quando para o cabal cumprimento da missão pela 2ª prol das comunidades de brasileiros de as- dirigimos aos nossos alojamentos para o
com sua importante missão de defender a descoberta e conhecida até aos dias atuais, Bda Inf Sl. Estando permanentemente des- cendência indígena. No ano de 2017, as ações pernoite. Devemos destacar o esmero com
região denominada Cabeça de Cachorro. em um importante e cada vez mais crescente dobrada ao longo dos 1.700 quilômetros de cívico-sociais, em parceria com a Secretaria que os quartos foram preparados. O jantar foi
Lembramos que a Região Amazônica foi uma alvo da cobiça internacional. fronteira com a Colômbia e a Venezuela, a 2ª Especial de Saúde Indígena/Distrito Sanitário uma agradável surpresa, pela hospitalidade,
conquista portuguesa feita durante o período E como bem declarou o grande escritor Bda Inf Sl controla as principais penetrantes Especial Indígena do Alto Rio Negro, estiveram calorosa recepção, apetitosa gastronomia e
de união das Coroas Ibéricas, por ordem do Euclides da Cunha, a imensidão da Amazônia fluviais e terrestres, sendo esta missão levada presentes nas calhas dos principais rios da música ambiente.
próprio Rei da Espanha, Felipe IV, preocupado é tão majestosa que de súbito a inteligência a cabo pela presença diuturna e permanente região, realizando quase 2.000 atendimentos Na manhã do dia 22 de novembro,
com as infiltrações inglesas, francesas e humana não lhe suporta o peso (...). bordinada ao Comando Militar da Amazônia, e por operações reais ininterruptas, inibindo médicos, 1.500 atendimentos odontológicos, quinta-feira, nos encaminhamos ao refeitório
holandesas no Vale do Rio Amazonas. Tais fatores, aliados à transnacionalidade possui seu Quartel-General em São Gabriel e ou reprimindo ilícitos transfronteiriços e beneficiando cerca de 10.000 pessoas de 23 da Brigada de São Gabriel da Cachoeira para
Em 1763, os portugueses construíram e à supranacionalidade das questões relativas da Cachoeira (SGC), uma cidade do estado ambientais em sua área de responsabilidade. etnias indígenas. o saboroso café da manhã. Desse ponto
o Forte São Gabriel. Em 1784, o engenheiro à preservação do Meio Ambiente e à proteção do Amazonas privilegiada por belíssimas Cabe à Brigada Rio Negro o cumprimento das Prosseguindo no trabalho de antepas- avistamos um belíssimo panorama da cidade
militar Manuel da Gama Lobo d´Almeida é de povos indígenas, aspectos esses com- paisagens naturais, situada às margens do seguintes missões: contribuir para a defesa da sados e antecessores, com incomensurável embaixo margeada pelo Rio Negro; a sensa-
nomeado para assumir o Comando Militar plementados pela crescente militarização da Rio Negro. Cabe mencionar que SGC é o Pátria como Força de Vigilância Estratégica; e estóico esforço de cada um de seus inte- ção era semelhante à de uma cidade praiana,
do Alto Rio Negro, composto pelos fortes de ecologia, notadamente por parte de potências município com a maior população de cida- atuar na Garantia da Lei e da Ordem (GLO), de grantes, a 2ª Bda Inf Sl vem cumprindo os ob- pela imensidão do rio e pela grande faixa de
São Gabriel e São José de Marabitanas, atual militares e econômicas, colocam a região em dãos brasileiros de ascendência indígena, forma preventiva e operativa, particularmente jetivos estabelecidos pelo Exército Brasileiro, areia em seu entorno.
Cucuí, distrito de São Gabriel da Cachoeira, expressiva e permanente evidência no âmbito o que obrigatoriamente torna a 2ª Bda Inf Sl na faixa de fronteira; e cooperar com o desen- o invicto Exército de Caxias, nesta estratégica No caminho do refeitório para o campo
além de um quartel na Vila Mariuá, atual Bar- da conjuntura mundial, mantendo a temática uma das mais legítimas herdeiras das tropas volvimento sustentável econômico e social região, patrimônio inalienável do Brasil, man- de pouso tivemos outra surpresa, quando o
celos. Sua missão era orientar o povoamento, amazônica constantemente presente em im- que galhardamente expulsaram os invasores em sua área de responsabilidade. tendo sempre como foco o seguinte lema, de Gen Omar nos encaminhou para a sala onde a
promover a defesa e desenvolver a região. portantes foros internacionais de discussão. estrangeiros em Guararapes, quando nasceu A vigilância avançada é realizada, em autoria do General de Exército Rodrigo Octávio banda de música nos esperava para executar a
A comitiva foi recebida pelo Comandante Por tudo isso, cabe ressaltar que a ma- a nacionalidade brasileira e o próprio Exército uma primeira linha, pelos sete pelotões de Jordão Ramos: Árdua é a missão de desen- famosa Peça 1812, de Tchaikovsky, deixando
da 2ª Bda Inf SL, Gen Brig Omar Zendim, ao nutenção da ordem e a proteção da Amazônia Brasileiro. É importante assinalar então que há fronteira e, em profundidade, com o CFRN/5º volver e defender a Amazônia. Muito mais a todos inebriados pela riqueza melódica da
som da banda de música, com dobrados e dos cidadãos brasileiros de ascendência relação e ligação simbólica entre os indígenas BIS e 3º BIS, tudo para efetivamente se fazer difícil, porém, foi a de nossos antepassados obra desse grande músico e, sobretudo,
em homenagem à Força Aérea. Os soldados indígena que nela habitam são misteres indis- daquela época e o grande número de soldados presente e atuante no sentido de manter de conquistá-la e mantê-la. Selva! pela técnica expressiva dos integrantes da
incorporados são indígenas da região e são pensáveis e intangíveis, posto que tais ações de ascendência indígena que hoje integram, expressiva capacidade dissuasória. Além da Durante a apresentação os integrantes banda, mormente por estarem em local tão
conhecedores da selva, de todos os seus pe- são importantes medidas que fortalecem, em quase sua totalidade, os efetivos da Briga- missão constitucional de Defesa da Pátria, a da comitiva tiveram a oportunidade de dirimir distante de nossos centros culturais. Foram
rigos e de suas limitações. Seis deles, sendo sobremaneira, a soberania do Brasil nessa da Rio Negro. Trata-se de militares altamente 2ª Bda Inf Sl também tem suas prioridades suas inúmeras dúvidas, o que permitiu a todos aplaudidos de pé!
uma mulher, prestaram honra à comitiva com estratégica parte do território nacional. aguerridos, profundos conhecedores dos
gritos de guerra relativos às seis diferentes Cabe referenciar por oportuno o des- rios e da selva, disciplinados e cumpridores
etnias de cidadãos brasileiros de ascendência tacado amazonólogo Samuel Benchimol, da missão e que constituem atualmente uma
indígena. A recepção foi um momento ines- quando disse que a Amazônia tem um valor excepcional força de combate, da mesma
quecível naquele final de tarde em São Gabriel incomensurável, mas jamais terá um preço, forma que em tempos de outrora.
da Cachoeira, deixando a todos da comitiva seja ele qual for, seja preço de moeda, seja A área de responsabilidade da 2ª Bda
emocionados e com sentimento de brasilidade preço de acordo, seja preço de tratado. Ela é Inf Sl abriga cerca de 91.333 habitantes,
à flor da pele. inegociável, porque está intimamente ligada inserindo-se nesse contingente as vinte e
Nos momentos seguintes nos dirigimos ao futuro e ao presente deste país. três distintas etnias que enquadram os ci-
ao auditório da Brigada, onde o Gen Omar Nesse sentido, a manutenção da ordem dadãos brasileiros de ascendência indígena,
proferiu uma palestra abordando o trabalho, e a proteção de grande parte desta imensa englobando os municípios de São Gabriel da
sedimentado pelo amor à Pátria, desenvolvido Floresta e de toda a riqueza tangível ou não Cachoeira e Barcelos (respectivamente o 3º
pelo Exército na região. Em síntese, ele disse nela contida, incluindo os milhares de habi- e o 2º maiores do Brasil em extensão), Santa
que a Amazônia é a maior floresta tropical do tantes autóctones ou não, está confiada à 2ª Isabel do Rio Negro, perfazendo o total de
mundo, e nela encontra-se também a maior Brigada de Infantaria de Selva (2ª Bda Inf Sl), 294.507 quilômetros quadrados, superfície
biodiversidade do planeta. A parte brasileira, denominada Brigada Rio Negro, em home- maior do que o estado de São Paulo, ou que
Patrimônio do Brasil, cobre mais da metade nagem ao principal rio de mesmo nome que, a soma dos territórios dos estados brasileiros
do território nacional e abriga incomensurá- com seus afluentes, banha sua vasta área de de Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Espí-
veis riquezas naturais e minerais, juntamente responsabilidade, localizada no extremo noro- rito Santo, Rio de Janeiro, Alagoas e Sergipe.
com as diversidades étnica e cultural repre- este do país, na estratégica região conhecida A complexa fisiografia da região, carac-
sentadas pelos diversos grupos de cidadãos como Cabeça do Cachorro. terizada por selva densa, elevadas serras,
brasileiros de ascendência indígena. Além A 2ª Bda Inf Sl, grande Unidade Opera- inexistência de estradas e rios bastante
disso, cabe aduzir que a região em tela repre- cional do Exército Brasileiro, diretamente su- pedregosos, encachoeirados e sujeitos a con-
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CONSIDERAÇÕES
O Grupo de Estudo do Pensamento
Brasileiro, refletindo sobre a viagem
de estudos à Amazônia, fez as seguintes
amor, os quais estão na base da ação prática
do nosso povo e no desejo de construir de
uma Nação mais justa. Tais valores repudiam,
mundo atual, em que os avanços científicos
e tecnológicos são fatores primordiais não
somente para a Defesa Nacional, como, tam-
considerações: em sua essência, todas as formas de mate- bém, para a melhoria da qualidade de vida da
– As Forças Armadas são a base do rialismo e totalitarismo, típicos das ideologias sociedade, fica evidente a necessidade de o
desenvolvimento, da integração e da defesa nazistas, fascistas e comunistas. Governo investir em política na área cientifica,
da Amazônia. O uso do potencial humano – Visitando o belíssimo Teatro Amazo- a fim de atender sua dimensão estratégica.
para este trabalho são os brasileiros natos nas constatamos a importância da Ópera e Concluindo, nota-se que, no Brasil, a
da região e os ascendentes indígenas de da Música como manifestação do espírito falta de uma Filosofia Política tem gerado,
diversas etnias, possibilitando a formação e, junto à cultura popular, traduzem a sen- ao longo da História, contradições internas e
e manutenção da identidade nacional, mor- sibilidade da alma nacional. Observamos externas, o que faz com que a prática política
mente para inserir os valores éticos, morais, na cultura popular da região, fortemente deixe as improvisações empíricas ao sabor
culturais do que constitui a nossa brasilidade. inspirada no folclore, bases essencialmente emotivo dos governantes.
Assim, mesmo com a população rarefeita lusitanas, embora o indígena e o negro, Na atualidade brasileira, pensar uma
da Amazônia, conseguem manter os pontos evidentemente, tenham influenciado essa Filosofia Política para esta permanência,
sensíveis das nossas fronteiras e uma circu- formação, contribuindo com seus rituais, que contemple a paz, o desenvolvimento,
lação necessária à vida econômica e social. seus cantos, suas músicas e suas danças. a justiça, a prosperidade para o maior

MATURACÁ – Um fator importante encontrado nesta


região é a fé em Deus, por intermédio das
Atualmente é intensamente mestiçado. O
perfil da Amazônia de hoje é dotado de múl-
número de cidadãos, modelo exemplar de
convivência com as outras nações amigas,
religiões cristãs que valorizam a união da tiplas facetas culturais e do sentimento de é tarefa para os pensadores que trabalham
P rosseguimos para o campo de pouso,
embarcamos e decolamos para Maturacá,
com duração de voo prevista de trinta minutos
ao Pelotão, caminhou de mãos dadas com o
Chefe indígena Yanomami, pois ambos se
conheciam há mais de quinze anos. Esta ima-
gena da etnia Yanomami, perfilados, entoaram
o Hino Nacional Brasileiro. Todos os membros
da comitiva perceberam a grandiosidade do
família e da sociedade. A filosofia social no
Brasil norteia-se pela busca do bem comum
liberdade e de vida comunitária dos ritmos e
danças indígenas.
para tal finalidade. Devem ser observados
os conceitos básicos, que são: a liberdade,
a bordo do C-105. A visão do alto é sempre gem simboliza o amor, o respeito, a amizade, ato, pois representou o amor à Pátria e a dis- dos cidadãos, alicerçada pela orientação – Após a visita ao INPA, constatamos a igualdade, a propriedade e a segurança
estonteante, graças à imagem do Pico da a confiança entre o Exército Brasileiro e os posição de prontamente defendê-la. São exem- da filosofia tomista. Os valores nacionais que os estudos científicos do meio físico e dos indivíduos como pessoas, sem perder o
Neblina, do lagos e das verdes florestas. Após brasileiros indígenas. Este momento marcará plos de coragem, determinação e altruísmo. fundamentam-se na ética cristã e nos valores das condições de vida da Região Amazônica objetivo final, que é a própria liberdade como
o pouso em Maturacá, caminhamos cerca de de modo indelével os corações dos membros Depois de voltarmos à calma, pudemos absolutos do cristianismo como verdade, continuam a sofrer restrições e, em decor- limitação do poder político e o estímulo do
um quilometro na própria pista até ao Pelotão da comitiva. visitar as instalações do Pelotão. Acompa- justiça, bondade, honestidade, abnegação e rência, comprometendo seus projetos. No poder econômico.
de Fronteira. Este Pelotão surgiu em 1989, Os Estudos do Pensamento Brasileiro nhados por brasileiros indígenas, provamos Símbolo de amizade.
como Destacamento, com a finalidade de mostram como a ideia do Marquês de Pombal diversos doces e salgados produzidos interna- Gen Bda Omar Zendim, Comandante
preparar a base para a futura instalação do 5º deixou marcas, pois a decisão portuguesa mente, e nos refrescamos com água de coco de Infantaria de Selva junto aos
Pelotão Especial de Fronteira. Em 1994, dando de conviver em paz com todos que quises- e sucos das frutas locais. brasileiros de ascendência Ianomami
prosseguimento à ocupação militar denomina- sem viver nestas terras foi a base de nossa Com muitas fotos e fortes impressões,
da Projeto Calha Norte, foi inaugurado no sopé miscigenação, e perdurou com os povos que caminhamos para o retorno a aeronave. Decola-
do Parque Nacional do Pico da Neblina, em migraram para o Brasil. mos para São Gabriel da Cachoeira na aeronave
Maturacá, o 5º Pelotão Especial de Fronteira. Fortes emoções foram sentidas na visita C-105 Amazonas. O voo teve a duração de
Durante a caminhada na pista, tivemos a ao Pelotão de Fronteira de Maturacá. Um mo- trinta minutos, ao final dos quais pousamos no
oportunidade de presenciar algo inédito para mento especial foi quando a tropa composta Destacamento da Aeronáutica de SCC.
nós da cidade: o Gen Omar, que nos conduziu por soldados brasileiros de ascendência indí- Este Destacamento é utilizado como
base aérea operacional e de desdobramento,
tendo por objetivo apoiar as Unidades aéreas
deslocadas para o município, além de fornecer
apoio logístico, normalmente com o Plano
de Apoio à Amazônia, em conjunto com o
Exército Brasileiro, na logística de suprimen-
tos aos sete pelotões especiais de fronteira:
Yauaretê, Querari, São Joaquim, Cucuí,
Maturacá, Pari-Cachoeira e Tunuí-Cachoeira.
Após nossa refeição no Destacamento,
regressamos a Manaus, completando o nos-
so ciclo de palestras e visitas, nesta missão
repleta de conhecimentos e aventuras.
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GUERRA AÉREA
Luiz Fernando Póvoas da Silva

PENSAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR


Cel Av
Líder de Esqd Caça (PifPaf Espadas – Jaguar 33 – Ex-Pampa 01) - Oficial Sistema DA (CINDACTA I) - Chefe do COA (GDA /1a ALADA)
– Chefe do COA (1oGAVCA /BASC) - Diretor Ops (CISCEA) – SubCmte Opl (CINDACTA II) – Cmte 1o /14o GAV (BACO) – Chefe FAe
(NuCOMDABRA) – CHEM (COMAT) – Professor Doutor em Ciências Aeroespaciais (PPGCA – UNIFA)
lfpovoas@globo.com

DO PODER AEROESPACIAL NA O objetivo deste artigo, que faz parte do


CURSO DO PENSAMENTO BRASILEIRO, visa relembrar
os conceitos apresentados no Seminário Guerra Aérea,
2. COLD WAR 1/GUERRA FRIA 1 (1945)
Ao término da World War II, os Estados
aumento de forte COERÇÃO. Essas estraté-
gias, na maioria dos casos, não obtiveram o
Irã e Coreia do Norte (ameaça nuclear);
Conflitos armados de alta intensidade
– Síria, Rússia /ISIS;

AMAZÔNIA
Unidos e a União Soviética emergiram como resultado desejado, por falta de um sistema
utilizando o método exploratório hipotético dedutivo,
potências nucleares num novo confronto, a cha- de inteligência competente. Conflitos armados de baixa intensidade
em que foram levantadas as questões sobre o problema,
as quais envolvem o estabelecimento do pensamento mada Guerra Fria/Cold War 1 – mundo bipolar. Pape (2006) ainda argumenta que o – Afeganistão, África;
estratégico militar do poder aeroespacial na Amazônia, Após a World War II, as relações in- poder aéreo, o terrestre e o naval devem ser Venezuela - Bolivarianismo/Socialismo
privilegiando a guerra aérea. Este trabalho não se ternacionais entre os Estados perderam a integrados e utilizados em conjunto como – América do Sul (Foro de São Paulo – FSP).
esgota em si mesmo, inclusive por não ser abrangente, característica específica de poder (Estado martelo e bigorna.
sendo uma forma de contribuição sobre a Guerra Aérea. 5. GUERRA IRREGULAR 4GW /5GW
Westfaliano), passando a ser relações Organismo vivo/paralisia estratégica
Imagina-se Sun Tzu como o grande influenciador
institucionais, com arbítrio de organismos - Fuller, pensador inglês, postulava três – TECNOLOGIA E EFETIVIDADE
dos estrategistas militares do Ocidente, inclusive de
Clausewitz. Entretanto Sun Tzu somente passou a ser internacionais (UE, ONU, OEA) – descons- esferas da guerra: física, mental e moral. DE RESULTADOS/TERRORISMO
conhecido no Ocidente após as guerras napoleônicas. trução da noção de soberania. (Nação/ Essas esferas tratam, respectivamente, da (FUNDAMENTALISMO)
Vegetius, general romano, foi quem influenciou Estado – PODER) destruição da força física do inimigo (poder A quarta geração de guerra – 4GW
o pensamento estratégico militar do Ocidente, se utiliza de todas as mudanças, de uma
A lógica da arma nuclear é sempre de combate); da desorganização de seus
enfatizando a estratégia de dissuasão.
dissuasória. Para que exista uma estratégia processos mentais (poder de pensamento); sociedade mecanizada rumo a uma so-
“Portanto, quem deseja a paz, prepara a guerra; quem de dissuasão nuclear, a mesma somente é e da desintegração de sua vontade moral de ciedade de informação eletrônica para
aspira a vitória, adestra seus soldados diligentemente; válida se os dois lados tiverem capacidade resistir (poder de resistência). Acrescenta maximizar o poder das insurgências. Esta
quem deseja determinar o resultado dos eventos, luta de retaliação – MAD. que as forças que operam nessas esferas fa- continua a evoluir juntamente com nossa
se valendo da arte e não da sorte. Ninguém provoca, zem isso de maneira sinérgica, não isolada: sociedade como um todo, fazendo a 4GW
ninguém se atreve o ofender, quem percebe como sendo se tornar cada vez mais perigosa e difícil de
3. PÓS COLD WAR 1 a força mental, a força moral, a força física
superior em combate.”
Campanha contra o VLS e a assinatura não ganham a guerra isoladamente, mas o ser controlada pelas nações ocidentais. A
Vegetius, século IV
do Tratado de não Proliferação de Armas que ganha a guerra é a combinação dessas 5GW será resultado de uma continua troca
1. WORLD WAR I E WORLD WAR II Nucleares (TNP) seria para evitar que o três forças, agindo como uma força única. de lealdades políticas e sociais por causas.
No início do século XIX, com a chegada Brasil se tornasse uma potência nuclear – Esta ordem tríplice revela-se útil para se Será marcada pelas entidades cada vez
e o emprego da arma aérea, o avião veio Brasil NAÇÃO. compreender a essência de que a destruição menores e pela explosão da biotecnologia.
modificar todos os cenários de guerra; as 1989 – Queda do Muro de Berlim, os ou o enfraquecimento de uma delas é a (Hammes, T.X. 2007)
guerras nunca mais seriam as mesmas. Des- Estados Unidos se tornam potência militar causa da paralisia estratégica. GUERRA CIBERNÉTICA 4GW – o
de o conflito da Turquia e, principalmente na hegemônica mundial. Ambiente Cibernético (Network) é tratado
World War I e na World War II, a arma aérea NATO/OTAN (allied forces – coalisão) 4. EVOLUÇÃO GEOPOLÍTICA SÉCULO XXI como um novo teatro de guerra, juntamente
teve seu emprego baseado nos teóricos do 1990/1991 – Guerra do Golfo/Iraque – – INTELIGÊNCIA – AMEAÇAS com mar, ar, terra e espaço. Integração de
poder aéreo: Douhet, Trenchard e Mitchell. Desert Storm 2015 – A China, segunda economia comunicações e inteligência operacional
Douhet, na sua segunda obra (1927), 1992/2000 – Ioguslávia /Kosovo (es- mundial, com a Ásia/Pacífico vivendo mo- baseada em veículos espaciais, aéreos e
defendeu a criação de uma força aérea tratégia de coerção) mentos de paz e prosperidade, estabelece terrestres. Seleção de alvos diretamente
independente. A primeira força aérea inde- 2011 – EUA/Líbia (Kadafi) um programa de crescimento militar para ligados às lideranças e à estrutura de Co-
pendente a ser criada foi a Royal Air Force. A Estratégias a partir de operações in- aspirar a uma posição hegemônica no mar mando e Controle C2.
Defesa Nacional somente poderia ser asse- dependentes do emprego do poder aéreo, do sul da China – controle marítimo (Maha- GUERRA HÍBRIDA - Combinação de
gurada por uma Força Aérea dimensionada utilizando sistemas de armas e bombas nismo) numa faixa até 2.000 quilômetros, múltiplos instrumentos de guerra conven-
e com capacidade de, em caso de guerra, inteligentes de alta precisão eliminariam a gerando corrida armamentista na região cional e não convencional como: forças
conquistar e manter o domínio do ar. (Gen. liderança inimiga de forma cirúrgica e pelo Ásia/Pacífico; militares regulares, forças irregulares,
Giullio Douhet, 1927) forças especiais, ataques cibernéticos,
A World War II foi rica em ensinamentos PODER AEROESPACIAL – CAPACIDADE DE DISSUASÃO diplomacia, econômica (guerra assi-
no emprego das teorias dos estrategistas VON CLAUSEWITZ – a análise trinitária e a gramática da dissuasão métrica), informações e propaganda de
militares (Vegetius, Maquiavel, Clausewitz e Dissuasão IRREGULAR guerra, ataques a suportes locais de
Dissuasão NUCLEAR estratégica
Jomini) e dos teóricos do poder aéreo (Douhet, Paixão, Ódio – POVO interesse etc.
Punitiva
Trenchard, Mitchell e Seversky). A Batalha da Razão – POLÍTICA CONFLITOS ARMADOS NA ERA DA
Inglaterra foi um dos episódios marcantes DISSUASÃO
INFORMAÇÃO - Muitos estadistas e sol-
sobre o emprego do poder aéreo na World dados se portam como o personagem
Dissuasão CONVENCIONAL
War II, pela visão da política e estratégia. de Cervantes, em uma época de grandes
Por negação, coercitiva ou punitiva
A revolução nuclear – Hiroshima e Naga- Capacidade Opl MILITAR transformações, lutando contra monstros
zaki (a dissuasão falhou) – ago. 1945. A arma que eram simples moinhos de vento, negan-
Guerra Aérea – pensamento estratégico militar PAepc
absoluta acabou com a guerra total – ruptura. do-se a admitir que talvez exista “algo novo
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no front”. Os conflitos atuais têm se carac- 8. PENSAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR O Arco Amazônico - Amazônia Brasileira
terizado por uma significativa dissonância BRASILEIRO DO PAEPC - AMAZÔNIA 5.200.000 quilômetros quadrados - Cenários
entre as expectativas da opinião pública, a A PND/END (LBDN) - estabelece para o Cenário da Conjuntura Atual (pontos
intenção no nível político e a percepção dos Brasil a estratégia de Dissuasão, estratégia fortes x vulnerabilidades do PAepc/Arco

A PREVIDÊNCIA MILITAR
líderes militares. Nada deve levar a confundir baseada em capacidades – EBC. Amazônico) – meios aéreos e de comando
vitória militar com êxito político (conflito ar- Segundo o Ten Brig Murillo Santos, teórico e controle C2
mado nas comunidades cariocas – tráfego do PAepc – toda a estratégia de dissuasão é Proposta de modificação de paradig-
de drogas e armas). coercitiva, exige capacidade de ataque, coer- ma, considerando adquirir capacidade de

Uma resenha
ção, seja de pronta-resposta ou não, senão dissuasão crível, coercitiva; para tanto, o
6. COLD WAR 2/GUERRA FRIA 2 passa a ser estratégia de resistência - defensiva. PAepc, tendo em vista seus pontos fortes e
A2/AD – Anti-Access/Area Denied – Pensamento estratégico é muito mais vulnerabilidades, deveria adequar sua estru-
Negação de Acesso e Área uma filosofia, uma atitude e uma cultura, tura organizacional/operacional de comando
Os novos atores da Guerra Fria do sé- processo evolutivo que trata política – poder e controle C2, inteligência operacional e seus
culo XXI – Cold War 2, A2/AD – antiacesso – estratégia – bem comum - geopolítica. meios aéreos (DA, ATQ, SEAD, C-SAR, REVO
Renato Paiva Lamounier
e negação de área são os EUA/RÚSSIA/ (Bergo, 2008) etc.), na Região Amazônica. Cel Av
CHINA/NATO. As áreas de interesse cor- É um processo importante, em que a Cenário Nacional (oportunidades x
rplamounier@gmail.com
respondem: Ásia/Pacífico Ocidental, Mar instituição precisa atingir maturidade estra- ameaças)
Sul e Leste da China, Mar Negro, Síria, tégica para avaliar seu comportamento em Cobiça Internacional; Biodiversidade,
Kaliningrado (entre Polônia e Lituânia), Mar ambientes competitivos (FGV). Trabalhar Riquezas Naturais e Minerais, Bacia fluvial – Estudo 01/2007 da Secretaria de Economia e Finanças da Aeronáutica
Báltico, Mar Ártico. Os meios são sistemas seus pontos fortes e suas vulnerabilidades, Ameaças de Intervenção, Destruição Flores- (SEFA), de autoria do Cel Int Benedito Bortoletto
móveis antimíssil de pequeno e médio enxergar as oportunidades e neutralizar/ tas Tropicais, Proteção das Minorias Étnicas. (encaminhado ao Comandante da Aeronáutica
alcance, mísseis superfície – ar (SAM), eliminar as ameaças. Extensão Territorial, Limitações e Ausên-
pelo Ofício nº 1.062/SUCONT, de 20 de novembro de 2007)
cruisemissilesanti-ship (ASCM), radares Informação é a maior riqueza estraté- cia do Estado, Ilícitos transnacionais.
OTH (over de horizon radar) móveis que gica existente e as informações conectadas Cenário Internacional (qualificação
detectam mísseis na fase de lançamento constituem as oportunidades – a cultura e da ameaça) Causas e consequências.
e voo, submarinos e fragatas, meios de a inteligência do grupo são essenciais no Globalização sem fronteiras, a nova ordem
guerra eletrônica – ISR e AEW, drones e processo estratégico. (Bergo, 2008) internacional, a banalização do conceito de
satélites de reconhecimento, aeronaves de Pensamento estratégico é um conceito soberania. Os novos atores, os movimentos
caça, caça-bombardeiro e bombardeiros abstrato de construção da realidade, fruto da sociais – minorias étnicas, intervenções
estratégicos nucleares etc. Utiliza-se de análise dos cenários e, assim, transfere vida humanitárias. Os ilícitos transnacionais
medidas assimétricas. Vantagens de ope- aos objetivos geoestratégicos, validados ou (contrabando de drogas/armas, terrorismo,
rar nas proximidades do território. Eficiên- não pelos planejamentos estratégicos na sua pedras preciosas e lavagem de dinheiro,
cia determinada pela doutrina de emprego análise de viabilidade (APA). dentre outros). Relações Internacionais – A
e velocidade na tomada de decisão (Ciclo Análise do Cenário da Conjuntura Atual instabilidade político-ideológica e estra-
AODA, Boyd). – situação presente – pontos fortes x vulne- tégica dos países vizinhos, na Amazônia
rabilidades do PAepc Ocidental – socialismo bolivariano/cubano.
7. PENSAMENTO ESTRATÉGICO O processo decisório do pensamento
NORTE-AMERICANO PARA A AMÉRICA estratégico segue alguns passos (método 9. CONCLUSÃO
DO SUL/NICHOLAS SPYKMAN - HENRY SWOT): focando os objetivos nacionais de Pensamento estratégico nacional –
KISSINGER defesa – construir e analisar o cenário da Reflexão
Kissinger seguiu religiosamente o conjuntura atual, levantando no ambiente No caso brasileiro, as questões da
espírito de Spykman. Segundo Kissinger: interno os pontos fortes (strengths) do PAepc defesa, segurança e soberania exigem o
A América do Sul segue sendo essencial e as suas vulnerabilidades ou fraquezas engajamento da sociedade a partir de um
para os interesses americanos e deve ser (weaknesses), deduzindo daí a amplitude do pensamento estratégico nacional consistente
mantida sob a hegemonia dos EUA (Kissin- poder nacional, referente ao PAepc. e coerente, para que sejam entendidos os
ger “apud” Fiori). Análise do Cenário de Visão Prospectiva jogos de poder, ganhos e perdas no plano
Área Mediterrânea – compreendida pelo –situação futura – oportunidades x ameaças internacional. O discurso estratégico, quando
México, pela América Central e pelo Caribe, E, então, construir e analisar um cenário existe, não raramente se reveste de mera
pela América do Sul na região da Colômbia e futuro, identificando no ambiente interno e retórica, sem força de execução. No plano
Venezuela – zona em que a supremacia dos externo as oportunidades (opportunities) e da defesa interna e da segurança internacio-
EUA não pode ser questionada; ameaças (threats) existentes ou potenciais nal, o Estado brasileiro diminui o seu poder
Cone Sul – América do Sul, região para neutralizá-las ou eliminá-las. de interlocução e de presença no cenário
Preâmbulo e sexta à noite) feitas por um almirante precioso conteúdo da sua exposição. A

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do ABC (Argentina/Brasil/Chile) – uma Estas análises de cenários possibilitam regional e mundial. á alguns anos, não sei quantos, da Reserva sobre o tema Pensão Mili- maneira competente com que mostrou
ameaça à hegemonia norte-americana definir o pensamento estratégico militar do Falta vontade política e, assim, falta tam- assisti no Clube Naval, no Centro tar. Lamentavelmente não me recordo todos os seus aspectos, especialmente
nesta região deverá ser respondida através PAepc e seus objetivos geoestratégicos, bém projeto de força – Dissuasão é demons- do Rio de Janeiro, a uma série do nome de tão insigne oficial, mas o fato de que a mesma era superavitária
de ações de guerra. numa região definida. (Bergo, 2008) tração de Poder. (Figueiredo, Eurico, 2006) n de três apresentações (segunda, quarta dele guardo lembrança pelo preciso e (como ainda o é), se lhe fossem apli-
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cadas as regras atuariais e os devidos nar que, apesar da complexa e extensa como um benefício, uma vantagem ou sionais da Saúde é permitido o acúmulo Eis aí a grande questão!
princípios da boa e correta administra- natureza do tema, o seu Autor o fez com mesmo uma compensação, pois não é de dois cargos da mesma natureza. Eis O referido Estudo nº 01/2007 contém
ção financeira, mormente quando se muita competência, objetividade e con- uma dádiva do Estado. Na verdade, a aí uma situação em que o Constituinte 21 páginas, com 15 planihas, donde a
trata de bens de terceiros confiados à cisão, não deixando de considerar todos dádiva que existe e quem a faz são os entendeu que o princípio da Igualdade necessidade desta Resenha para, em
gestão de outrem. Em se tratando de, os seus aspectos relevantes. Ao argu- Militares ao Estado, pois demonstrado do Art. 5º não é absoluto e deve ser benefício da brevidade e do espaço
e apesar de ser o seu gestor um Agente mentar de forma inquestionável, com está, à exaustão, de que, considerando regido por peculiaridades que assim disponível, levá-lo ao conhecimento de
Público, esta administração não tem base nas Ciências Contábil-Financeira a vida média do brasileiro, a Pensionista, o exigirem. Este mesmo raciocínio se quem interessar possa e, sobretudo, dos
sido eficiente e, tampouco, transpa- e Atuarial, à luz da Razão e da Justiça, se sobrevive ao instituidor da Pensão, aplica aos Militares pela atipicidade aludidos Tomadores de Decisão, Formula-
rente, pois, para o Fundo em pauta a afasta o véu da ignorância de muitos e o é por um período muito inferior ao da sua atividade, em que muitos dos dores de Políticas, Formadores de Opinião
NOTAS
União com nada contribui (ao contrário da deliberada má intenção de alguns, os suficiente para usufruir do montante direitos gozados por todos os demais e, acima de tudo, ao cidadão brasileiro 1
O Direito não é pura Teoria, mas uma
do que generosamente faz para outras quais se aventuram irresponsavelmente por este a ela legado. Simples assim, cidadãos lhes são negados por uma lúcido e esclarecido, como contribuinte e
Força Viva. Também a Justiça mantém
entidades) e os únicos e verdadeiros em meandros por eles desconhecidos e pura aritmética e, nela, os números não natural e óbvia exigência da profissão. beneficiário do serviço que lhes prestaram
numa das mãos a Balança em que pesa
instituidores da Pensão Militar não de vital importância na estrutura de um mentem jamais! Profissão esta com a qual se identificam as suas Forças Armadas num passado já
o Direito, enquanto na outra sustenta
participam da sua administração. Por país devidamente organizado. Ademais, Voltando ao tema da Igualdade, os Militares e livremente abraçam, acei- tri-centenário, o fazem na atualidade e, a Espada com que o defende. A Espada
opor tuno, registre-se que, também, forneceu aos Comandantes Militares, é necessário invocar a Constituição tando consciente e espontaneamente se for esta a vontade soberana do povo, sem a Balança é a força bruta, a Balança
nos Fundos de Saúde das três Forças, especialmente ao Presidente da Re- Federal de 1988 (CF 88) em alguns as restrições impostas. por reconhece- continuarão a fazê-lo no futuro promissor sem a Espada é a impotência do Direito.
os contribuintes não são informados de pública, como Comandante Supremo dos seus mandamentos: o seu Art. 1º, rem a total incompatibilidade entre os que ajudarão a construir. Não pode uma estar sem a outra, e só há
quanto é arrecadado, quanto é gasto e das Forças Armadas, os elementos Parágrafo único estatui: Todo o Poder propósitos inconciliáveis entre ambos, Por último, mas não menos impor- Ordem Jurídica Perfeita quando a energia
como é gasto, além de não participarem necessários para a tomada de decisão emana do povo, que o exerce por meio ou seja, plenos e igualitários direitos, tante, o Secretário da SEFA apresentou com a qual a Justiça usa a Balança
das decisões quanto ao que somente adequada. Decisão esta calcada nos (...). Daí o acertadíssimo entendimento benefícios e regalias sem as obrigações o Estudo para servir de comparação com é igual à habilidade com que maneja a
a eles pertence, uma vez que também Formuladores de Políticas e nos Forma- de que as Forças Armadas se subordi- inerentes e indispensáveis à profissão. os Fundos de Previdência e Aposentado- Espada. (Rudolf Von Jhering. A Luta pelo
para estes Fundos o Tesouro Nacional dores de Opinião, cuja voz de seus re- nam ao Presidente da República como Por isto, por uma questão de lógica e ria Complementar, como os instituídos Direito. Viena, primavera de 1872)
com nada contribui. presentados ressoa nos parlamentares seu Comandante Supremo e como coerência com os fundamentos do Ideal pelo Banco do Brasil e PETROBRAS,
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Coroando este cenário, pairam sobre do Congresso Nacional. Diferente disto representante da soberana vontade da como base da carreira, nada reivindi- assim como pelas numerosas Empresas Senhor! Não Vos hei de pedir pedindo,
ele os fantasmas da Orçamentação e do é leviandade e desprezo ao preceito da maioria da população. Inexiste, pois, a cam além do reconhecimento e a devida Estatais, Autarquias e alguns órgãos da senão protestando e argumentando,
Contingenciamento, os quais, quando Isonomia, cuja definição é a Igualdade chamada sociedade civil e, tão somente compensação, jamais privilégios, como Administração Direta. Entretanto o faz pois esta é a licença e a liberdade que
feitos sobre bens alheios, constituem de todos perante a Lei como princípio a sociedade brasileira composta por ora vigente na Previdência dos Militares. sem mencionar a generosa contribuição tem quem não pede favor, senão justiça.
uma apropriação indébita, configurada constitucional. Entretanto, o que se todos os seus variados segmentos e Mas, também, não podem abrir mão do do Tesouro Nacional para esses Fundos. Se a causa fora só nossa, pedira favor
como crime para os empresários que não entende por igualdade? Segundo os nela, como todos os demais, os Milita- indispensável como justificativa para a Este é o argumento final para derrubar, e misericórdia, mas como a causa é
recolhem aos devidos destinos os valo- ensinamentos jurídicos do grande Ruy, res conforme definido pela CF 88 (Tít. dedicação sem limites ao citado Ideal. entre outras distorções, a nefasta in- mais Vossa do que nossa e como venho
res descontados de seus funcionários. a Igualdade é o tratamento desigual para V, Cap. II) e o Estatuto dos Militares Faz-se necessário entender que a natu- tenção de jogar a população contra as a requerer por Vossa honra e glória e
Finalizando este breve preâmbulo, os desiguais na medida em que eles se (Lei nº 6.880/80). Sociedade civil é reza da profissão militar fundamenta-se, Forças Armadas, como parte do plano pelo crédito do Vosso nome, razão é
faz-se necessário registrar a brilhante desigualam. Também do consagrado tão-somente um termo jurídico para como em outras atividades humanas, na permanente de esfacelamento da Nação que peça razão, justo é que peça justiça!
comparação feita pelo citado almirante Águia de Haia foi a tese vitoriosa naquele definição de uma agremiação que se Vocação e na Motivação. para, ao demolir o sólido pilar por elas (Padre Antônio Vieira. Sermões – A
Apóstrofe Atrevida. Salvador, Bahia,
naquelas palestras no Clube Naval, Tribunal internacional sobre A Força do organiza de acordo com um preceito Caberá, então, à sociedade brasilei- representado, reinar sobre o caos e
século XVIII, por ocasião da invasão
com os vultosos valores legados pelo Direito e, não, o Direito da Força. Vê-se legal a ela aplicável, e esta expressão ra decidir que tipo de Forças Armadas estabelecer o poder que buscam desde
holandesa)
cientista sueco Alfred Bernhardt Nobel no primoroso e completo estudo do Cel. geralmente encabeça o Regulamento deseja e que precisa o país dentro da 27 de novembro de 1935.
ao Prêmio que leva o seu nome, cujo Int. Benedito Bortoletto que, justamente destas agremiações, sociedades etc. própria Nação, diante do mundo e em COM A PALAVRA, POIS, O POVO
REFERÊNCIAS
Fundo é administrado há mais de 100 o segmento da sociedade brasileira, Não cabe ela, pois, na formação do Es- face da História. Esta decisão não cabe BRASILEIRO! n
O Resgate Justo de uma Dívida
anos, com tal eficiência e lisura que supostamente detentor da Força e que tado Democrático de Direito, de acordo aos Militares, para quem, sem hipocri-
Nobre/Os Descaminhos da Isonomia/
lhe foi conferida a perenidade até hoje nunca dela prevaleceu em seu proveito, com as primeiras letras da nossa Carta sia e como seres humanos que são, OBSERVAÇÃO
Reivindicar é Preciso I/Reivindicar
desfrutada pela Ciência e pelo Bem Co- confia e recorre à Justiça e ao Direito, Magna. Passemos ao Art. 5º da CF 88, o dinheiro não é importante. Ele é, na O Estudo em epígrafe está a aguardar, é Preciso II/Sindicalismo Militar/
mum. Se fossem aplicados os mesmos como nos ensinam Rudolfvon Jhering 1 e em que reza: Todos são iguais perante a verdade, muito importante; mas não é paciente e esperançosamente, há Co-Gestão Sim e Urgente/Fundação
princípios e a mesma prática à nossa Antônio Vieira 2, para o reconhecimento Lei, sem distinção de qualquer natureza a mais importante das coisas. O mais mais de onze anos, a apreciação por Previdenciária Militar – Uma
mais do que bicentenária Pensão Militar de um direito conquistado mediante o (...). Não obstante, o Art. 37, inciso XVI importante é acreditar no que se faz. Aos quem de direito, para ser acatado ou Necessidade. (Renato Paiva Lamounier.
(originada em 1795 a partir do lendário pagamento durante toda uma vida, em estabelece que nenhum servidor público Militares de hoje e, possivelmente aos refutado, desde que com argumentação Revista Aeronáutica (202), jan./fev.
Montepio Militar), não haveria agora média por cerca de 65 anos e muito poderá acumular dois cargos, exceto: de amanhã, cabe, tão-somente, avaliar condizente. Para conhecimento geral 1995; (205), jul./ago. 1995; (214), jan./
estes questionamentos infundados. além do tempo de serviço ativo, diferen- dois cargos de professor, ou um cargo se vale a pena oferecer tanto e receber e maior divulgação encontra-se fev. 1997; (215), mar./abr. 1997; (233),
Abordando então o Estudo da SEFA, temente de todos os demais cidadãos. de professor com outro de natureza tão pouco, se compensa os sacrifícios e, disponível, na íntegra, no site do Clube maio/jun. 2002; (238), mar./abr. 2003; e
objeto desta Resenha, cumpre mencio- Este direito não pode ser confundido técnica ou científica e, ainda, aos profis- dentre estes, o do bem supremo da vida. www.caer.org.br. (242), nov./dez. 2003, respectivamente.
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A aventura do pensamento filosófico percorreu, na modernidade, o caminho das Filosofias
Nacionais. Antes do advento dos tempos modernos, pensava-se em Grego ou em Latim.
Com o surgimento dos Estados Nacionais e a substituição do Latim pelas línguas vernáculas,
a Filosofia Ocidental passou a ser pensada nestas novas variantes da comunicação humana.
Os pensadores deram renda solta às vivências locais, regionais e nacionais que se consolidaram
Ricardo Vélez Rodríguez na língua respectiva. O Pensamento Ocidental tingiu-se, definitivamente, com as cores
Ministro da Educação da problemática humana vivenciada pelas Nações modernas. É meu propósito, neste artigo,
Professor emérito do Curso do Pensamento Brasileiro do Clube de Aeronáutica. discorrer sobre o tema, chamando a atenção, na parte final, para algumas características inéditas
rive2001@gmail.com da aventura do pensar em Português, mais concretamente do Português falado no Brasil.
Dividirei a minha exposição em três partes:
1. As Filosofias Nacionais e o Estudo da Filosofia;

PENSAR EM 2. Filosofias Nacionais e Pensamento Moderno;


e 3. Características da Aventura do Pensar em Português no Brasil.

PORTUGUÊS 1. AS FILOSOFIAS NACIONAIS


E O ESTUDO DA FILOSOFIA
O problema das Filosofias Nacionais
é tema importante na evolução do pen-
a essas circunstâncias, apregoando um
tipo prático e revolucionário de libertação.
Tal parece ser, por exemplo, a proposta de
Enrique Dussel, ao formular a sua filosofia
assim a contribuição de Reale: Ao antigo
espírito polêmico, que alimenta como
valor primordial a conquista da vitória
no combate, sobrepôs-se o empenho de
samento contemporâneo. Não foi fácil da libertação ou analéctica da liberdade. aprofundamento dos temas e problemas
chegar ao estágio atual de análise desa- (Cf. Vélez Rodrígues, 1987) suscitados. A par disto, o professor Miguel
paixonada dessa questão. No contexto Entre esses dois extremos, situa-se o Reale, presidente do Instituto, elaborou
latino-americano, poderíamos encontrar esforço desenvolvido pacientemente, ao um método para o exame do pensamento
duas posições conflitantes: a dos que longo dos últimos decênios, por crescente brasileiro, de comprovada eficácia. Con-
simplesmente negaram a possibilidade número de pensadores, no sentido de estu- siste: primeiro, em identificar o problema
da existência das Filosofias Nacionais, dar a forma sob a qual a tradição filosófica (ou os problemas) que tinha pela frente o
a partir do pressuposto de que o pensar ocidental é retomada e recriada no contexto pensador, prescindindo da busca de filia-
filosófico ocidental já teria sido formulado das diferentes culturas da América Latina. ções a correntes; segundo, em abandonar
pelos pensadores europeus, cabendo-nos Seria difícil fazer, neste momento, uma o confronto de interpretações e, portanto,
simplesmente a missão de reproduzir os enumeração completa dos autores mais o cotejo das ideias do pensador estudado
seus ensinamentos. Tal é, por exemplo, a representativos. Remeterei simplesmente com outras possíveis, para eleger entre
forma em que era entendido o estudo da a estudos que têm sido feitos a respeito, uma ou outra; e, terceiro, em ocupar-se
Filosofia nas Universidades Católicas no como a publicação, patrocinada pela Or- preferentemente da identificação de elos
mundo hispano-americano, até meados ganização dos Estados Americanos, em e derivações que permitam apreender
do século passado. A Ratio Studiorum 1972, da obra intitulada Los fundadores de as linhas de continuidade real de nossa
jesuítica, vigente até então, praticamente la filosofia en la América Latina (Pacheco meditação. Com semelhante espírito, al-
excluía a possibilidade de uma abordagem [org.]), ou a coletânea de ensaios publicada guns estudiosos conseguiram preencher
direta da Filosofia em termos de problemas pela Sociedad Venezolana de Filosofia, em lacunas, promover a reedição de textos e
culturais nacionais. 1980, sob o título de La filosofia en América estabelecer novas hipóteses de trabalho.
De outro lado, encontramos a posição (Mayz [org.]). (Paim, 1979b: 11)
dos que valorizam excessivamente as Restringindo a análise ao campo Em segundo lugar, merece destaque a
possibilidades da meditação nacional, che- brasileiro, poderia salientar as três con- contribuição ensejada pela obra de Antônio
gando ao extremo de colocá-la como algo tribuições que acho mais importantes, a Paim. Alicerçado na metodologia traçada
totalmente original, desligado, portanto, da fim de esclarecer o objetivo e os métodos por Miguel Reale, Paim desenvolveu ampla
tradição filosófica ocidental. Pretender-se- para a elaboração de uma história nacional pesquisa tentando identificar os mais im-
-ia, nas versões mais radicais, identificar, das ideias. O lugar de destaque cabe, sem portantes problemas com que se defrontou
nas culturas pré-colombianas, longínquos dúvida, a Miguel Reale (1910-2006), cujo o pensamento brasileiro. Em relação à
vestígios para uma meditação autóctone; trabalho à frente do Instituto Brasileiro de importância que, na época hodierna, no
ou, também, assinalar o elo entre as con- Filosofia desde 1949, ensejou o cultivo do seio da cultura brasileira, ganhou o estudo
dições peculiaríssimas do nosso subde- pensamento nacional, livre de uma atitude das filosofias nacionais, Paim frisa: Com o
senvolvimento e um discurso filosófico que polêmica e aberto às mais diversas ten- processo de consolidação das nações e o
emergisse como original resposta dialética dências. Antônio Paim (1927-) sintetizou abandono do Latim como língua oficial no
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mundo do saber ocorre, simultaneamente, Referindo-se ao primeiro item, assim É sabido que, ao logo da Idade Média, forma que a conjugação dos verbos. Na riência e, sem rejeitar as verdades da fé, unidade cultural da Europa é a progressiva
a emergência das filosofias nacionais, o explica Soveral: A determinação de o Latim que se falava nas Universidades sintaxe, a livre colocação dos termos da consideram-nas, em geral, heterogêneas e preferência dos pensadores pela língua
estruturadas em torno de determinada filosofemas, ou seja, de problemas que, não correspondia à versão clássica de proposição cedeu lugar a um sistema inacessíveis à razão. (Bréhier, 1978: 183-4) nacional. Ao passo que um filósofo da
temática que as singulariza. A par do que equacionados a partir das interrogações Horácio, Tito Lívio, Virgílio e Cícero. construtivo, que não permitia a separação A crítica ensejada pelos Nominalistas, projeção de Leibniz (1646-1716) escreve as
tem lugar na Inglaterra, Alemanha, França mais amplas e radicais que se abrem ao Assim como a Língua Grega conheceu arbitrária dos vocábulos. (Cf. Erradonea, notadamente por Guilherme de Ockham suas primeiras dissertações em Latim (De
ou Itália, formam-se igualmente as filo- espírito do homem, exigem soluções inte- duas versões, o elegante Dialeto Ático 1954: 956-8. v. II) Ao elegante período (1280-1349) ao peripatetismo, especial- principio individui, 1663; Dissertatio de arte
sofias portuguesa e brasileira. Estas, em ligíveis e exaustivamente fundamentadas. em que escreveram os grandes poetas ciceroniano: Quousque tandem abutere, mente à doutrina dos universais, marca combinatoria, 1666; Hypothesis de physica
seus momentos mais destacados, acabam (Soveral, 1979: 63). e a versão tardia conhecida como Koiné Catilina, patientia nostra?, sucede o co- o início da crise da escolástica. Alguns nova, 1671; Theoria motus abstracti, 1671),
sempre privilegiando o tema da moral e O ponto de partida da metodologia ou Língua Comum (em que foi vertido o tidiano: Respondeo dicendum quod das Nominalistas como Nicolau Oresme (que reserva para a língua vulgar os seus mais
deixando marcas profundas em outras apresentada pelo pensador português Novo Testamento e em que foi escrita a Summas medievais. estudava Teologia em Paris em 1348, e importantes tratados (Discours de Méta-
esferas do pensamento, como a medita- coincide, em essência, com a metodologia obra de Aristóteles), o Latim conheceu O Latim Vulgar permaneceria, ao longo faleceu em 1382, como bispo de Lisieux) physique, 1686; Système nouveau de la
ção acerca da política, da pedagogia, do assinalada por Reale para o estudo do duas variantes: a Clássica e a denominada da Idade Média, vinculado às necessidades começaram a escrever os seus tratados em nature, 1695; Considérations sur la nature
direito etc. Deste modo, a discussão dos pensamento brasileiro. Trata-se de não de Latim Vulgar. Este último constituiu o pedagógicas da Igreja. A estabilidade do língua vulgar. Oresme escreveu o Comentá- d’un esprit universel, 1697; Nouveaux es-
fundamentos da moralidade, na Filosofia prejulgar acerca da filosofia de determinado veículo de comunicação nas Universidades saber estava garantida pela prelação que rio aos livros do céu e do mundo em que, sais sur l´entendement humain, 1701-1704;
Moderna e Contemporânea, e a formação autor, mas de ouvi-lo, tratando de entender Medievais, e nele foram escritas as princi- tinha a Teologia sobre outras formas de co- além de criticar a física que se ensinava na Essais de Théodicée sur la bonté de Dieu,
das filosofias nacionais constituem núcleo a problemática a que pretende responder. pais obras da Filosofia Escolástica. Assim, nhecimento. O papel do Latim Vulgar como Idade Média, formulava conceitos como o la liberté de l´homme et l´origine du mal,
não exclusivo, mas de importância capital Pedro Abelardo, Alberto Magno, Tomás de veículo para o acesso ao conhecimento da de coordenadas (que posteriormente foi 1710; Monadologie, 1714; e Principes de
em nossa cultura. (Paim, 1983a: 1). 2. FILOSOFIAS NACIONAIS Aquino, Boaventura, Duns Scot, Guilherme tradição eclesial e da liturgia, vinculava-se desenvolvido por Descartes) e descobriu la nature et de la grâce fondés en raison,
Na obra já citada, O estudo do pensa- E PENSAMENTO MODERNO de Ockham etc. utilizaram essa forma da a essa alta finalidade teológica e religiosa. a fórmula exata do espaço percorrido por 1719).
mento filosófico brasileiro, Paim sintetiza Existe uma Filosofia Brasileira? A Língua Latina. O trivium e o quadrivium medievais, longe um corpo que cai em movimento uniforme- Fenômeno semelhante encontramos
os principais resultados alcançados no esta pergunta pode-se dar dois tipos de O Latim Vulgar (Cf. Erradonea, 1954: de serem um tirocínio na cultura clássica mente acelerado. Galileu posteriormente num contemporâneo de Leibniz, Sir
relativo ao estudo dos principais problemas respostas positivas: a primeira, arrolando 956. v.II) é uma variante da clássica Língua em si, estavam destinados, basicamente, trabalhou sobre esta fórmula. (Cf. Koiré, Isaac Newton (1642-1727). Sabe-se da
sobre os que se debruçou a meditação os autores que, desde o período colonial, se Latina, inspirada no seu sistema vocálico, a manter viva a tradição da Igreja. (Cf. 1966: 60-94) Vê-se, neste caso, de que for- importância que o grande físico dava às
filosófica no Brasil. têm ocupado em discutir a problemática do mas diferente desta, porque a expressão Bréhier, 1978: 38) ma, ao passo que a problemática filosófica questões teológicas. Este autor escreveu
Em terceiro lugar, é importante lembrar existir do homem e do mundo, numa pers- cuidadosamente polida dos grandes poetas O caráter instrumental que desem- muda (conferindo autonomia à observação em Inglês justamente a parte da sua obra
a contribuição do pensador português pectiva filosófica. A segunda, inquirindo e prosistas não era entendida pela massa, penharam o Latim e, em geral, a cultura científica), evolui também a forma de se relativa a esse item, sobressaindo o livro
Eduardo Abranches de Soveral (1927- acerca da forma assumida pela meditação que falava uma língua menos cuidada. Não clássica, ao longo da Idade Média, abriu comunicar essa problemática: passa-se Observations on the prophecies of Daniel
2003) ao estudo do tema das filosofias filosófica no início da Idade Moderna, após devemos, no entanto, buscar a origem do as portas para a paulatina substituição da do Latim à língua vernácula. and the Apocalypse of St. John (publicado
nacionais e suas implicações metodoló- a dissolução da unidade linguística, reli- Latim Vulgar no chamado Baixo Latim dos Língua do Lácio pelas vernáculas, quando Esfacela-se a unidade cultural da em 1733). A parte científica da sua obra
gicas. Alicerçado em aprofundada análise giosa e filosófica, que campeou na Europa notários merovíngios. Assinalar uma data entrou em crise a síntese da escolástica Europa medieval, representada na unidade foi escrita em Inglês (Optick, 1704) e em
fenomenológica, Soveral traçou as linhas ao longo da Idade Média. Esta resposta para fixar a Antiguidade do Latim Vulgar medieval. Elemento fundamental dessa de temática e de perspectiva das grandes Latim (Philosophiae naturalis principia
mestras do que, no seu entendimento, mostraria que o pensamento moderno é empresa muito difícil. De uma maneira crise foi, sem dúvida, o espírito do Nomi- sínteses da Escolástica. Ao lado do surgi- mathematica, 1687).
seria fundamental na metodologia filosófica emergiu tingido de Filosofias Nacionais. geral, pode-se assinalar como período em nalismo que, de forma análoga aos antigos mento das línguas nacionais como formas 2. As novas questões emergentes no
para o estudo das filosofias nacionais (Cf. Aplicando o princípio escolástico de que que aconteceu a sua difusão, o século II do céticos, se insurgiu contra a hegemonia de comunicação no mundo da cultura, pensamento moderno
Soveral, 1979: 63-73). Soveral considera ab esse ad posse valet illatio teríamos que, Império. Contribuíram para isso a criação dos grandes sistemas metafísicos e aderiu aparecem problemáticas bem típicas das À perda da unidade cultural da Eu-
sete itens essenciais para tal estudo: a) se as Filosofias Nacionais são um fato, a de colônias com veteranos das legiões, à dúvida perante essa realidade. Assim diferentes nacionalidades. Poderíamos ropa, ensejada pela ascensão das línguas
a determinação dos filosofemas; b) o questão da Filosofia Brasileira se insere naquelas regiões dominadas por Roma e, caracterizou Bréhier essa reação: Temos mencionar alguns aspectos desse novo vernáculas e o recuo do Latim corre-
estudo das formações históricas desses nesse contexto. de outro lado, a pregação do Cristianismo. pela frente, nos séculos XIV e XV, ao lado perfil cultural: o primado da experiência no spondeu, também, outro fenômeno: os
problemas; c) a análise do desenvolvimento A questão da possibilidade da Filosofia Esta nova religião, tendo buscado os seus de espirituais e místicos, homens práticos mundo anglo-saxão; a questão religiosa da pensadores passaram a se questionar, nos
lógico historicamente dado à vigência Brasileira tem sido debatida de forma sis- prosélitos entre pessoas de humilde con- e lógicos, de espírito frio e sóbrio, que interpretação das Escrituras na Alemanha diversos países, acerca de problemáticas
dessas soluções nos vários contextos temática pela Corrente Culturalista, nota- dição principalmente, obrigou os primeiros perderam o entusiasmo religioso animador de Lutero; a virtù, entendida como dimen- até então desconhecidas, desvinculadas
sociais; d) a consideração do desenvol- damente, como foi frisado no item anterior, escritores cristãos a se comunicarem no das gerações das grandes cruzadas, e são puramente humana e a visão do Estado da questão teológica que encampou o
vimento histórico dado à vigência dessas por Miguel Reale e Antônio Paim. Ilustrarei, dialeto popular e a introduzirem, assim, adquiriram, na complicada diplomacia que como obra de arte, na Itália de Maquiavel; discurso ao longo da Idade Média. O novo
soluções nos vários contextos sociais; e) a seguir, dois aspectos que acompanham uma fala cheia de vulgarismos, ao lado do exige nessa época o menor assunto, esse o agravamento da polêmica acerca das re- espírito do tempo pode muito bem ser ex-
a apreensão das novidades implicadas na o surgimento das filosofias nacionais: Latim literário da decadência do Império. espírito claro e positivo que caracteriza lações entre fé e razão (em decorrência do emplificado na descrição que Leonardo da
formulação de novos filosofemas e/ou a 1. A crise da unidade cultural, decorrente A relação das duas línguas, a clássica sua doutrina. O nominalismo dessa época legado dos averroistas latinos e dos ques- Vinci (nascido em 1452) faz da sabedoria:
reformulação de filosofemas já existentes; da paulatina substituição do Latim pelas e a vulgar, se revela no sistema vocálico, é algo muito diferente de uma solução tionamentos dos Nominalistas), na Univer- ela não se encontra no antigo saber esco-
f) a explicação das articulações lógicas que línguas vernáculas; e 2. As novas questões que conservou a acentuação na penúltima particular do problema dos universais: é sidade de Paris; e o sentido de missão que lástico, mas nos conhecimentos obtidos da
determinaram os novos filosofemas ou a emergentes no pensamento moderno. ou antepenúltima vocal, mesmo depois de um espírito novo que desconfia das reali- empolga os nascentes impérios espanhol e experiência. A respeito disso, frisa o artista
sua reformulação; e g) a determinação da 1. A crise da unidade cultural decor- perdida a quantidade, na mesma vocal. Na dades metafísicas que os peripatéticos e os português, consolidados numa luta secular e pensador renascentista: Mesmo que eu
vigência dos novos filosofemas e/ou as rente da paulatina substituição do Latim morfologia, foi simplificada a declinação platônicos acreditavam haver descoberto, contra o invasor muçulmano etc. não soubesse (...) invocar o testemunho
suas modificações. pelas línguas vernáculas dos substantivos e adjetivos, da mesma que se atém, tanto quanto possível, expe- Um fenômeno que mostra a perda da dos autores, citarei algo muito maior e mais
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digno, invocando o testemunho da experi- uso da violência. Maquiavel formulou uma pela modernidade da situação histórica da damos vazão às nossas crenças fun- ser referido todo o arcabouço do saber, a conde de Araguaia, que deitou os alicerces
ência, mestra dos mestres mesmos. Estes nova moral de cunho político, que olhava Espanha, ou seja, pela exigência com que damentais. Ora, quais seriam, no caso ser administrado por um líder, no contexto doutrinários para a obra civilizacional e a
andam envaidecidos e pomposos, vestidos para o resultado da ação e não tanto para se defrontava de conciliar uma racionalida- da meditação filosófica brasileira, essas da concepção do despotismo ilustrado. construção das Instituições do governo
e enfeitados, não com as suas próprias as intenções do agente. É o que Max Weber de para um Estado moderno com as afirma- crenças que deram ensejo às nossas ideias Velha reencarnação do Iluminismo abso- representativo, consolidadas no Segun-
fadigas, mas com as alheias, e não querem (1864-1920) denominou posteriormente ções de uma ordem mundial ecumênica, ou mestras? Considero que, no caso, entra- lutista ensejado na França por Luís XIV do Reinado. A crença fundamental que
conceder as mesmas a mim mesmo. E de ética de responsabilidade, que se de adaptar os requerimentos da vida cristã ram na torrente da nossa reflexão duas que, em Portugal, encontrou o seu ponto alimenta o arcabouço doutrinário desta
se menosprezam a mim, inventor, quanto diferencia da ética de convicção. (Cf. à tarefa de incorporar povos não cristãos séries de convicções alicerçadas sobre alto no reinado de Dom José I e do seu tendência foi a de que somente na defesa
mais não poderiam ser censurados eles, Weber, 1986) Para o homem da Renascen- à civilização europeia. (Morse, 1982: 47) crenças profundas: primeiro, retomando a primeiro-ministro, o marquês de Pombal, intransigente da liberdade e da consciência
que não são inventores, mas pregoeiros ça Italiana, como frisou Jacob Burckhardt O caso de Portugal era, no sentir do herança portuguesa da filosofia da sauda- Sebastião José de Carvalho e Mello, na individual seria possível construir, de forma
e recitadores das obras alheias? (Apud: (Cf. Burckhardt, 1877: 7-17), o Estado citado autor, semelhante ao da Espanha, de, uma linha de pensamento com raízes segunda metade do século XVIII. A mani- duradoura, as instituições que garantissem
Mondolfo, 1967: 21-22) é uma obra de arte que responde a um embora o papel cartorial do Estado fosse neoplatônicas e barrocas, que terminou festação contemporânea de tal tendência a dignidade humana. Afinou-se, assim,
Sem dúvida alguma que a Reforma projeto individual do príncipe. Este deve, mais marcante. A respeito, frisa Morse: desaguando na denominada Escola de na meditação brasileira se dá na corrente esta tendência com as modernas versões
Protestante significou um passo de antes de tudo, ser virtuoso, no sentido (...) A maior homogeneidade do país, a sua São Paulo. Constitui o núcleo doutrinário do cientificismo marxista que, misturada do liberalismo clássico de Locke, Kant,
importância capital no surgimento das greco-romano do termo, ou seja, capaz consolidação mais antiga, a monarquia dessa tendência, a crença radical de que a formas agressivas de leninismo, como o Jefferson, Tocqueville etc., constituindo
novas questões que empolgariam, do- de governar e de garantir segurança e mais centralizada, as aventuras “civili- há um arquétipo preexistente ao qual tudo pensamento gramsciano, encontrou canais versão política alternativa ao democratismo
ravante, a meditação filosófica. O movi- tranquilidade para a Polis. zadoras” menos ambiciosas do país em deve ser referido para ter validade e, pa- de realização política na era lulopetista (Cf. rousseauniano.
mento empreendido por Martinho Lutero Essa mudança fundamental realizada ultramar, tudo se combinava para limitar os ralelamente, de que houve uma queda da Paim, 2002), que se assenhoreou do poder A partir da crítica de Tobias Barreto
(1483-1546) na Alemanha, além de ter na Itália renascentista, ao desvincular a horizontes efetivos da atividade intelectual. atual feição da realidade, que constituiria, a partir de 2002. Na seara doutrinária, tal e Sílvio Romero (os mais destacados
representado a primeira grande tentativa de moral política da religião, foi continuada (Morse, 1982: 47) assim, cópia imperfeita da plenitude ôntica corrente encontrou adequado canal de representantes da denominada Escola
valorização da língua alemã, ensejou, com posteriormente na Inglaterra. A partir do Os dois aspectos analisados revelam de um passado primordial que cumpre manifestação na teologia da libertação do Recife) ao cientificismo de inspiração
a tradução do texto sagrado para a língua século XVI vamos encontrar, nas Ilhas que, no início da Idade Moderna, ficou reviver, mediante um processo catártico de (Cf. Vélez Rodríguez, 1987), um de cujos pombalina e positivista, estruturou-se a
vernácula e a instituição do livre exame, o Britânicas, a preocupação com a funda- aberta a porta para uma forma diferente de índole pitagórico-platônica. Constitui esta arautos, no terreno filosófico, foi o padre Corrente Culturalista que enriqueceu a
primeiro passo de independência do indiví- mentação de uma moral independente- fazer filosofia, a partir das peculiaridades variante uma retomada do neoplatonismo. Henrique Cláudio de Lima Vaz (Cf. Paim, convicção do ecletismo espiritualista em
duo em relação à tradição controlada pela mente da religião e que fosse formulada assumidas pela meditação dos autores Essa linha de pensamento se formou ho- 1979a). A manifestação mais abrangente prol da liberdade e da consciência indivi-
Igreja. O primeiro direito individual a ser pela sociedade, através de um consenso. sobre novas questões emergentes, no seio diernamente, no caso brasileiro, ao redor dessa tendência do cientificismo no século dual com o desenvolvimento doutrinário de
conquistado no mundo moderno foi este: As figuras mais importantes desse em- das várias nações. A quebra da unidade lin- do pensamento de Vicente Ferreira da Silva XX foi, na realidade brasileira, a vertente Kant (1723-1804) e do neokantismo. Esta
o de se relacionar pessoalmente com Deus penho foram Anthony Ashley Cooper, guística e a adoção das línguas vernáculas (1916-1963) (Cf. Silva, 1964), que elaborou conhecida como segunda geração cas- escola de ideias, cujos máximos repre-
e o de interpretar, no silêncio da própria conde de Shaftesbury (1671-1713), John favoreceram o processo diferenciador, na uma filosofia com tintes órficos e numino- tilhista (Cf. Vélez Rodríguez, 2010), que sentantes na atualidade são Miguel Reale
consciência, as Sagradas Escrituras. É a Locke (1632-1704), David Hume (1711- discussão dos problemas. A pesquisa ini- sos de intuição do mistério do Ser, dando encontrou em Getúlio Vargas (1883-1954) e Antônio Paim é, sem dúvida, a que maior
primeira grande conquista do individua- 1776) e Adam Smith (1723-1790). Outros ciada pelos culturalistas, no Brasil, em re- continuidade, na nossa meditação, à rica o seu mais importante demiurgo, o qual envergadura tem mostrado no que tange à
lismo, que será continuada, nos séculos representantes dessa tendência foram lação ao pensamento nacional, alargou-se tradição ensejada pela metafísica da sau- se alicerçou no positivismo gaúcho e no sua vitalidade e à função crítica, tanto dos
vindouros, por outras conquistas, até se Francis Hutcheson (1664-1746), Joseph ao pensamento português, tarefa de que se dade, tão densa na meditação portuguesa saint-simonismo, bem como na doutrina dogmatismos quanto do autoritarismo que,
chegar à formulação dos direitos inaliená- Butler (1692-1752) e Bernard de Mandeville desincumbiu, ao longo dos últimos trinta moderna e contemporânea, que aflora do autoritarismo instrumental formulada no ciclo republicano, forjou-se nos vários
veis dos indivíduos à vida, à liberdade e às (1670-1733). A discussão da moral social anos, a geração de pesquisadores forma- hoje na tendência denominada de filosofia por Oliveira Vianna (1883-1951), da qual se momentos em que se tentou reeditar a
posses, de que se desincumbiria a filosofia acompanhou, na Inglaterra do século XVII, dos na Universidade Gama Filho, no início portuguesa, fartamente estudada por An- louvou, outrossim, o regime militar (1964- ditadura científica (Cf. Paim, 2006) n
inglesa dos séculos XVII e XVIII com Locke, as questões da representação e da tolerân- da década de 80 do século passado, por tônio Braz Teixeira e, mais recentemente, 1985) para a sua ação reformista (Cf. Vélez
Shaftesbury, Hume etc. cia, amplamente formuladas por Locke nas Antônio Paim e Eduardo Abranches de So- por uma geração de jovens pensadores, Rodrigues, 1997).
ENSAIO - 5
Produzido por Ricardo Vélez Rodríguez
Outra questão emergente é a dicoto- suas Cartas sobre a tolerância (Cf. Locke, veral, ao ensejo do Programa de Pós-gra- aglutinados ao redor da revista Nova Águia, Uma terceira linha de pensamento
para os estudos do Pensamento
mia moral-religião e a formulação da moral 1996) e o Segundo tratado sobre o governo duação em Pensamento Luso-brasileiro. editada no Porto sob os cuidados da jovem consolidou-se a partir da nossa experiên-
Brasileiro no Clube de Aeronáutica.
social de cunho consensual na Inglaterra. civil (1690). (Cf. Locke, 1998). Leonardo Prota, na Universidade Estadual pensadora Celeste Natário. cia como Nação, que tentava construir o Leia no site www.caer.org.br
Quanto ao primeiro aspecto da questão, a Outra questão emergente foi colocada de Londrina e nos Encontros Nacionais de A segunda linha de pensamento Estado como instrumento de integração
dicotomia entre moral e religião, um passo pelo projeto ibérico de alargar as fronteiras Professores e Pesquisadores da Filosofia passou a girar ao redor de outra herança dos clãs esparsos na vastidão continental
fundamental é dado na Itália, ao longo dos culturais sobre os outros Continentes, no Brasileira (por ele organizados no período portuguesa: a do Iluminismo consolida- das fronteiras, que foram estrategicamente
séculos XV e XVI. Maquiavel (1467-1517) contexto do magno esforço colonizador compreendido entre 1989 e 2001), fez do na obra pombalina e na sua reforma alargadas sobre o Império espanhol, à luz
será o grande formulador dessa mudança. ensejado pela Espanha e por Portugal ao amplo balanço do caminho tomado pelas educacional, que afetou profundamente do Tratado de Tordesilhas, mantendo a
Contrapondo-se à tentativa ensejada por longo dos séculos XVI e XVII. Consoante principais filosofias nacionais, destacando as nossas instituições de ensino e a me- unidade nacional e a identidade linguística.
Savonarola (1452-1498), no sentido de or- Richard Morse, (...) A guinada espanhola as semelhanças e as diferenças em face ditação filosófica, tendo-as condicionado Essa experiência foi forjada pelos estadis-
ganizar a República de Florença em bases em direção ao tomismo no século XVI – ou da meditação brasileira. (Cf. Prota, 1989- ao que se denominou de paradigma do tas do Império e pela elite denominada por
teocráticas, Maquiavel considerava que seja, em direção a uma visão do mundo do 2003. 7 v.) empirismo mitigado e da postura cienti- Oliveira Vianna de Homens de Mil. A partir
uma nova ordem de valores devia presidir século XIII, que unicamente tinha conquis- 3. Características da Aventura do ficista. Consolidou-se tal tendência à luz de tal instância cultural foi formulado o
a construção do Estado. Este possui, entre tado adesões esparsas nos três séculos Pensar em Português no Brasil da crença de que haveria uma ciência ecletismo espiritualista do século XIX por
as suas características fundamentais, o intermediários – explica-se precisamente Quando falamos à luz do Logos, primordial de índole prática, à qual deveria Domingos Gonçalves de Magalhães, vis-
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ainda me recuperando da jornada do dia No dia 27 de agosto de 1961, domingo, tionando as instruções do Maj Cassiano,
anterior, fui informado em minha residên- a Rede da Legalidade estava em grande ati- com a intenção de desmoralizá-lo perante

RELATO HISTÓRICO
cia, de que a Base estava entrando em vidade, particularmente com as palavras do a tropa, tornando a situação mais tensa
estado de Prontidão e que eu deveria me Governador Brizola se despedindo do Povo dessa forma. Com a atitude do Cap Daudt
apresentar imediatamente. Apresentei-me Gaúcho, porque estava sendo chamado e de um sargento que se dizia parente do

DOS ACONTECIMENTOS
no 1º/14º GAv, equipado com macacão de a comparecer ao Comando do Terceiro Governador, e pelo fato de que ambos
voo e com a arma de defesa pessoal (Colt Exército e que provavelmente não sairia não pertenciam ao efetivo da Base, ficou
45), conforme previsto nas Normas para vivo de lá! Puro ato demagógico, apelo evidente a interferência política no quartel.
tal situação. Os pilotos permaneciam na aos sentimentos, porque o Governador do Por volta das 19h, chega ao Esquadrão

AGOSTO 1961-MARÇO 1962 Sala dos Pilotos sem saber o que estava
ocorrendo. As informações oriundas dos
estado não é subordinado ao Comandante
do Terceiro Exército e, também, porque
o Comandante da Base, Cel Av Honório
Pinto Magalhães, que reúne os oficiais do
Brig Ar Luiz Carlos Baginski Filho noticiários, transmitidas pelas rádios, desde o dia anterior já era do conhecimento 1º/14º na Sala dos Pilotos, para informar
loise.b@terra.com.br eram muito vagas e contraditórias sobre público a posição do General Machado Lo- que ele tinha sido mal assessorado pelo Maj
a renúncia do Presidente! De acordo com pes, favorável à posse do Vice-Presidente. Av Carlos Barcelos Guimarães, responsável
as Normas Operacionais, na situação de Ainda, nesse domingo, assistimos a deco- pela segurança da Unidade. O Maj Av Gui-
Prontidão, as aeronaves deveriam ser lagem do C-47 2077 para o Rio de Janeiro marães havia assegurado que a situação
municiadas e estacionadas no pátio com transportando o Comandante da 5ª Zona estava sob controle, quando na realidade
a proa para o sul, por medidas de segu- Aérea, Maj Brig João Arelano dos Passos, os suboficiais e sargentos já tinham se
rança. Dedicados à operacionalidade do e seu staff. Em consequência, o QG ficou apoderado de todo o armamento da Base.
Esquadrão, sem nos envolvermos com acéfalo, tendo então assumido o Comando Em face desta situação e não tendo mais
atividades políticas, desconhecíamos o o Ten Cel Av Alfeu de Alcântara Monteiro, nada a fazer, disse-nos que iria ao Coman-
que estava ocorrendo no Quartel-General oficial mais antigo que permaneceu no QG. dante do Terceiro Exército se apresentar
da 5ª Zona Aérea, e mesmo no interior Os boatos continuavam circulando preso. Situação ridiculamente confortável!
da Base. Notícias sobre o impedimento com maior intensidade! O mais polêmico Seguindo a atitude do Comandante, a gran-
da posse do Vice-Presidente e a criação falava que um radioamador teria intercep- de maioria dos oficiais da Base abandonou
da Rede da Legalidade comandada pelo tado uma mensagem que determinava que a Unidade! Destacamos a permanência na
Governador Leonel Brizola, apelando para os aviões do Esquadrão bombardeassem Organização dos seguintes oficiais: Maj Av
os sentimentos do Povo Gaúcho, tomaram o Palácio Piratini! Uma mensagem desta Mário de Oliveira I, Maj Av Jaime da Silveira
conta dos radinhos. O Comandante do natureza somente é transmitida por meio Peixoto, Cap Av Danton Pinheiro Machado,
Terceiro Exército, Gen Machado Lopes, de criptografia e nunca via fonia. Além do Ten Av Gunther Hans Stolzmann e Ten Av
logo se pronunciou favorável à posse do mais, a maioria dos pilotos do Esquadrão José Alfredo Sobreira de Sampaio.

BASE AÉREA DE
I
niciei minha carreira como oficial aviador Curso de Tática Aérea, o qual iria realizar Vice-Presidente, definindo a posição do era de gaúchos e tinham seus familiares Ainda atônitos pelas palavras do Co-
na Base Aérea de Fortaleza, em 1957, somente sete anos mais tarde, em 1968. Terceiro Exército. residindo em Porto Alegre! Outro boato que mandante da Base, e sem imaginar o que
CANOAS (BACO) no 1°/4° GAv, onde realizei o Curso de Para manter as qualificações de Voo No dia 26 de agosto, à noite, surgiu fizeram circular, com o objetivo de provocar nos esperava na área externa do Esqua-
Formação de Pilotos de Caça voando as por Instrumentos, concorria às Escalas de no Esquadrão, a informação de que uma a insubordinação dos subalternos, dizia drão, eu, juntamente com o Ten Reinisch
O presente documento aeronaves F-47 e T-6. Ao final do ano fui Voo de T6-G e de C-45 Beechcraft, da Base Unidade do Exército estaria tomando que se os aviões decolassem, a Vila Resi- e o Ten Sergio Santos Pinto, fomos até ao
elaborado pelo então transferido para o 1º/14° GAv, sediado Aérea e do Quartel-General. posição, com blindados, na cabeceira dencial dos suboficiais e sargentos seria pátio de estacionamento das aeronaves
Ten Av Luiz Carlos na Base Aérea de Canoas, para voar as Em 24 de agosto de 1961, fui acionado da pista 30 para impedir a decolagem bombardeada pelas Unidades do Exército! para verificar se as Normas de Segurança
aeronaves Gloster Meteor TF-7 e F8, as às 3h para realizar a missão de transporte do das aeronaves do Esquadrão, caso fosse Neste ambiente de incertezas e boatos, as estavam sendo cumpridas. Neste momen-
Baginski Filho é
primeiras aeronaves a jato da Força Aérea. Subcomandante da BACO, Ten Cel Evaristo, necessário. Resolvemos, por iniciativa tensões iam aumentando. to, o Ten Reinisch observou a presença,
um relato dos O período em que servi no Esquadrão para Cachoeiro do Itapemirim, em virtude própria, pagar para ver! Peguei o Jeep do No dia 28 de agosto (segunda-feira), não prevista, de um soldado armado
acontecimentos ocorridos foi extremamente gratificante, pois con- do falecimento de seu pai. O outro piloto Esquadrão e, juntamente com o Ten Egon pela manhã, o Comandante do Esquadrão junto aos aviões. Interrogado sobre a sua
em agosto de 1961, segui galgar as qualificações de Líder de escalado foi o Ten Sidiney O. Azambuja Reinisch, nos deslocamos até à Torre de recebeu ordem do Ministro para deslocar presença naquele local, e se a sua arma
decorrentes da renúncia Elemento, de Esquadrilha e de Esquadrão. e a aeronave foi o C-45 2827 (D-18S). Controle, e prosseguimos caminhando até as aeronaves para a Base Aérea de Cumbi- estava municiada, o soldado respondeu
do presidente do Brasil Esta última qualificação foi em uma Missão Ao retornar para a BACO, após 11h20 de à cabeceira da pista 30. Não vimos nada de ca. Reuniu então os subalternos no interior que havia recebido ordem de um sargento
Operacional em Cumbica, sendo checado voo, verificamos que já estava montada anormal, somente o ruído dos caminhões do Hangar para transmitir as ordens para da IG e que seu fuzil não estava municiado.
Dr. Jânio Quadros. Os pelo Comandante do Esquadrão. Tive, a área para receber no dia seguinte, 25 de de carga transitando pela estrada Porto o deslocamento. Nessa ocasião, surge o O Reinisch então tomou a arma do soldado,
fatos aqui narrados também, a oportunidade de participar de agosto de 1961 (sexta-feira), o Presidente Alegre/Taquara. Assim foi desfeito mais um Cap Alfredo Ribeiro Daudt, do efetivo do verificando que a mesma estava municiada,
foram vivenciados pelo quatro Manobras da Força Aérea/EAOAR, da República, Dr. Jânio Quadros. dos inúmeros boatos que circulam nestes QG-5, conhecido por suas atividades e contrariando ordens expressas. Durante
autor do texto. que me deram muitos conhecimentos do Em 25 de agosto de 1961, pela manhã, momentos de crise política. ligações com o Governador Brizola, ques- este diálogo o 3S IG Crispim Antônio
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Inácio, portando uma submetralhadora comandados por um sargento Músico, com tratamos de inspecionar nossas aeronaves, dos nossos aviões era feita por nós, fato gentos da Aeronáutica promovessem mais palavra, assumiu o comando da BACO. Em
INA, aproximou-se de nós e com atitude os fuzis apontados para nós. Por sorte não que tinham sido sabotadas. Todas as 11 este que não agradou o Comandante da uma revolta! Novamente o Exército teve de pouco tempo restabeleceu a organização
agressiva começou a questionar o Ten ocorreu qualquer disparo acidental, o que aeronaves que estavam no pátio tiveram Base que estava nos hospedando. Os intervir com a Unidade de Paraquedistas e a disciplina militar na Unidade. O Cel
Reinisch. Próximo ao hangar do Esquadrão poderia ter gerado um morticínio. seus pneus esvaziados, carenagens sol- demais oficiais do Esquadrão, os dezoito para sufocar os revoltosos. Pereira Pinto permaneceu no Comando até
estava o Ten Sobreira (José Alfredo), do 2º Voltamos para o Hangar e determina- tas, traqueia de oxigênio sob a cadeira de cabos de nossa confiança e o material de Após este longo período de indefi- 1965. Como Oficial Ajudante do Esquadrão,
ECA, que percebendo o desentendimento, mos que todas as portas fossem fechadas. ejeção desconectada. Além disso, todas as apoio foram transportados em um C-47 nições, decidiram pelo nosso retorno a responsável pelo controle do pessoal e pela
juntou-se a nós. O Sobreira estava com Cerca de dezoito cabos que eram de nossa cablagens do sistema de armamento foram colocado à disposição da Unidade. No dia Canoas. Tratamos, então, de como seria a disciplina militar, foi muito difícil tratar os
uma submetralhadora INA e nós estávamos confiança ficaram nos acompanhando e, cortadas. Pelo risco que tais atos envol- 30 de agosto, o Ten Petersen juntou-se a convivência com os subalternos, pois não problemas surgidos com total isenção de
com a Pistola Colt 45. Neste cenário, no- posteriormente, recuperaram nossos avi- viam, temos a certeza de que foram plane- nós com o décimo segundo Gloster, que seria fácil o dia a dia com pessoas que ânimo! No período de 18 de dezembro de
turno, com os holofotes iluminando o pátio ões, que tinham sido sabotados. No QG do jados e não fruto de emoção momentânea. se encontrava em revisão no Esquadrão. nos tinham apontado armas e sabotado 1961 a 23 de janeiro de 1962, respondi
de estacionamento, ouvimos os suboficiais Terceiro Exército, o Maj Ex Léo Etchegoyen Em consequência, os militares envolvidos Passados alguns dias, na data de 5 de as aeronaves que voávamos, colocando pelo Comando do Esquadrão, devido ao
e sargentos que estavam homiziados no tomou conhecimento da revolta dos subal- nos atos de sabotagem deveriam ter sido setembro (terça-feira), com muitas apreen- em risco nossas vidas. Em face dessas período de Férias. Para minha surpresa,
bosque de eucaliptos, ao lado do hangar, ternos da Base Aérea de Canoas. Decidiu, enquadrados por crime, conforme prevê o sões e incertezas o Comandante do Esqua- preocupações e cientes dos problemas recebo uma mensagem informando que
gritarem para que soltássemos o soldado então, se deslocar para a Base Aérea com Código Penal Militar. A atitude destemida drão nos informou que nos deslocaríamos de convivência que teríamos de enfrentar, eu estava sendo transferido para Forta-
e o sargento, caso contrário, mandariam dois Carros de Combate, tendo o cuidado e corajosa do Maj Etchegoyen permitiu que para a Base Aérea de Santa Cruz. Tomadas o Cap Av Jorge Frederico Bins nos trans- leza. Fiquei muito decepcionado com tal
bala. Em ato contínuo ouvimos o engatilhar de não entrar no perímetro da Unidade, a fosse restabelecida a ordem e a disciplina todas as providências para o deslocamento, mitiu a orientação do Maj Av Cassiano fato, pois dois meses antes eu havia me
de uma centena de fuzis! Ruído que não dá fim de evitar melindres, como o ocorrido na Base Aérea. com o Esquadrão pronto para iniciar o táxi, (Comandante) que nos dava a opção de comprometido a permanecer na Unidade
para esquecer! O Ten Sobreira reagiu de em 1954, na Base Aérea de Santa Cruz. Da Ao clarear do dia 29 de agosto, o Maj surge no pátio de estacionamento um Jeep transferência da Unidade ou de retorno à mesmo sabendo da desagradável tarefa
imediato encostando o cano de sua INA entrada da Base até ao Prédio do Comando o Cassiano nos reuniu para informar que com o Cel Av Roberto Faria Lima, Coman- sede do Esquadrão. Apenas dois oficiais que teria de enfrentar com a convivência
no peito do Sargento Crispim, dizendo: – Maj Etchegoyen deslocou-se a pé, acompa- por ordem do Ministro nos deslocaríamos dante da Base Aérea de São Paulo (BASP), pediram para serem movimentados. Vol- com os suboficiais e sargentos que me
Pode mandar bala, que eles vão conosco! A nhado apenas por seu Ordenança. O oficial para a Base Aérea de Cumbica. Alertou- fazendo sinal para cortarmos as turbinas. O tamos para a sede da Unidade (BACO) no haviam apontado armas e sabotado o avião
resposta foi que eles morreriam pela causa! mais antigo presente na Base era o Maj Av -nos, também, que deveríamos redobrar motivo desta ordem foi mais um daqueles dia 26 de outubro de 1961 (quinta-feira), em que eu voava! Aguardava o retorno
Ao perceber o tumulto, e o ruído das Mário de Oliveira I, Comandante do 2º ECA. os cuidados para o deslocamento, porque boatos de que o Exército nos abateria caso praticamente dois meses após os tristes dos oficiais de férias para iniciar o meu
armas sendo engatilhadas, o Maj Av Jaime Após tomar conhecimento da real situação não contávamos com informações meteo- decolássemos. No dia 6 de setembro 1961 acontecimentos da noite de 28 de agosto desligamento. Tal transferência, da forma
da Silveira Peixoto, ex-Comandante do Es- pelo Comandante do ECA, o Maj Etchegoyen rológicas, nem com os auxílios rádio para a (quarta-feira), finalmente nos deslocamos de 1961. Este período ficou muito marca- como ocorreu, eu atribuí à minha atitude
quadrão, que se encontrava junto à porta do dirigiu-se ao alojamento onde os subofi- navegação nem com o controle de tráfego para a Base Aérea de Santa Cruz, onde do em nossas vidas, pois nos sentíamos estritamente militar e que, certamente, não
hangar, partiu em direção ao bosque onde ciais e sargentos estavam concentrados. aéreo. Por volta das 10h decolamos com ficamos sediados até o dia 26 de outubro abandonados, cheios de incertezas, sem agradava aos subalternos que não tinham
estavam ocultos os militares revoltosos, Ordenou, então, com voz alta e clara, que destino a Cumbica, onde pousamos após (quinta-feira). Neste período as Autoridades definição das Autoridades e sem notícias sofrido qualquer punição em consequência
sendo seguido pelo Maj Cassiano Pereira, o suboficial mais antigo se apresentasse. 1h25 de voo. Estacionamos nossos aviões da Aeronáutica ficaram decidindo qual a so- dos familiares, que ficaram no Sul. Somen- dos atos de insubordinação e sabotagem.
Comandante do 1º/14º, pelo Cap Danton Com a apresentação deste determinou que no antigo pátio do CAN, nosso conhecido lução que seria dada para o Esquadrão, pois te saíamos da Base, quando algum colega No dia 20 de janeiro de 1962, partici-
Pinheiro Machado, da Base, e por nós, ele reunisse todos os militares, juntamente pela participação em quatro Manobras todos os suboficiais e sargentos tinham se nos emprestava um traje civil, pois saímos pava da cerimônia militar pelo aniversário
que estávamos sendo ameaçados. O Maj com o armamento tomado da Base, no prazo da EAOAR. Alojamo-nos no velho prédio envolvido em atos de insubordinação e de de Porto Alegre apenas com o macacão de Criação do Ministério da Aeronáutica,
Peixoto, ao passar entre os militares revol- de 30 minutos, caso contrário, entraria na de madeira dos Serviços Gerais da Base. sabotagem, ações caracterizadas como de voo. No dia imediato ao nosso retorno, no QG-5, quando o então Maj Av Silas
tosos, abriu a camisa da farda, disse alguns Unidade com seus carros de combate. De Depois do que havíamos passado na noite crimes pelo Código Penal Militar. Lamen- o Maj Cassiano passou o comando do Rodrigues me convidou para trabalhar com
palavrões e pediu para atirarem se fossem imediato a ordem do Maj Etchegoyen foi anterior, e pelo conhecimento de fatos tavelmente, as Autoridades da Aeronáutica Esquadrão para o Maj Alberto Bins Neto. ele, na 2ª Seção do EM do QG-5, Seção de
homens! Ao sairmos no final do bosque cumprida. A tropa foi mantida em forma até históricos, decidimos montar pilhas de esqueceram de aplicar a lei. Esta omissão Em setembro de 1961, o Cel Av João Informações. De pronto aceitei o convite e,
nos deparamos, ainda, com um pelotão de à nossa decolagem para Cumbica. tijolos na cabeceira de nossas camas certamente serviu de estímulo para que Paulo Pereira Pinto, oficial brilhante, sério, no dia 2 de março de 1962, fazia a minha
recrutas, com apenas sete dias de quartel, Com a situação sob controle na Base, (para proteção). A guarda deste prédio e em 1963, em Brasília, os suboficiais e sar- discreto, educado e militar na acepção da apresentação no QG-5 n

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RELATO HISTÓRICO DOS ACONTECIMENTOS
Brig Ar Luiz Carlos Baginski Filho
loise.b@terra.com.br

MARÇO 1962 - ABRIL 1964


O presente documento elaborado pelo então Ten Av Luiz
Carlos Baginski Filho é um relato dos acontecimentos
ocorridos no período de março 1962 a abril de 1964. Os
fatos aqui narrados foram vivenciados pelo autor do texto.
Além disso, para que houvesse uma composição dos
QUARTEL-GENERAL ligado ao Governador Brizola, liderava o
grupo dos a favor.
Sergio Santos Pinto, Osvaldo França Jr. e
Guimarães.
acontecimentos, foi inserido um trecho do relato DA 5ª ZONA AÉREA Os oficiais da confiança do Cel Colla-
res no QG-5, eram: Ten Cel Av Carlos Du-
Durante o comando do Maj Brig
Cantalice, a convivência no QG-5 era boa,
do Maj Av Lutke redigido pelo próprio.

N
o dia 2 de março de 1962 me arte Neto, Ten Cel Av Pantoja, Maj Av Silas porque ele não permitia o desenvolvimen-
apresentei no Quartel-General e Rodrigues, Maj Av José Rabiço Jr., Maj Méd to de assuntos políticos no quartel. Em
logo assumi diversas funções, por Carlos Maia de Assis, Maj Av Eng Cláudio março de 1963, assume o comando da
ser um dos poucos tenentes aviadores Moreira Sá, Maj Av Odony de Almeida Ra- 5ª Zona Aérea, o Brig Ar Othelo da Rocha
da Unidade. Fui designado para assumir mos, Maj Av Carlos Lutke Filho, Ten Av Luiz Ferraz, pessoa ligada ao Brig Francisco
o cargo de Adjunto da Seção de informa- Carlos Baginski Filho, Ten Av Guilherme Teixeira e as atividades pró Jango/Brizola
ções, Chefe do Posto CAN, Chefe da Seção Sarmento Sperry, Ten Adm Octaviano, e tornaram-se mais intensas.
de Aviões, Chefe da 3ª Seção do EM-5 e mais alguns oficiais da 3ª ELO, comanda- No 1º/14º assume o comando o Maj
ainda outras funções relacionadas à área dos pelo Cap Av Carlos Treptow. Da parte Av Mello, filho do Ten Brig Corrêa de Mello,
de Informações (PLD e SZAER) ligadas do Ten Cel Alfeu destacavam-se: Ten Cel Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica.
diretamente ao EMAER. Av João Baptista Monteiro Santos Filho, Mellinho, como era conhecido, em sua
Inicialmente, a adaptação ao traba- Maj Av Oscar da Silva, Cap Alfredo Ribeiro primeira reunião com os oficiais do Esqua-
lho burocrático foi difícil, pois estava Daudt e o pombo correio do Brig Francisco drão, transmitiu suas orientações e alertou
acostumado a voar quase todos os dias Teixeira, Ten Esp Av Adão Silveira. Sempre que quem trouxesse política para dentro
e agora, estava encerrado numa sala que as atividades políticas em Brasília da Unidade seria punido com 30 dias de
lendo pilhas de documentos sigilosos, ficavam mais acirradas, percebia-se uma cadeia, além de ser transferido imedia-
fazendo Termos de Incineração para intensa movimentação deste grupo. tamente. Acabaram-se as doutrinações
depois destruí-los. Após um mês, reco- Continuando no trabalho de limpeza políticas no Esquadrão!
mecei a voar bastante graças às minhas dos arquivos da Seção de Informações Em maio de 1963, fui chamado pelo
qualificações operacionais: instrutor de determinado pelo Maj Silas, recebi três Cel Collares para me informar que eu seria
C-45 e posse de Cartão de Voo por Ins- cofres imensos, duas máquinas de crip- designado Ajudante de Ordens do Coman-
trumentos, credencial não muito comum tografar manuais e uma elétrica para me dante. Ponderei que eu não era o oficial
naquela época. distrair! Desta forma, me especializei em indicado para tal função, por ser contrário
O Maj Brig Adamastor Beltrão Canta- trocar o segredo dos cofres e, também, na politicamente ao grupo do Comandante.
lice comandava a 5ª Zona Aérea. Era uma manutenção das máquinas de criptografia. Ele me disse então que eu fora indicado
pessoa de trato agradável, o que facilitou Seis meses após sair do Esquadrão, justamente por este motivo, e que minha
em muito o trabalho na Unidade, em um voltei lá para fazer um voo da saudade. Ao missão seria dificultar o acesso de certos
período muito conturbado politicamente. chegar na Sala de estar dos Pilotos, vi uma oficiais ao Comandante. Tal designação
O Chefe do Estado-Maior era o Cel Av grande quantidade de recortes de jornais, deu-se também pela minha qualificação
Leonardo Teixeira Collares, outra pessoa todos de caráter político! Esse fato me operacional.
admirável e tranquilo, que me transmitiu deixou surpreso e muito apreensivo, em No segundo semestre de 1963, co-
muitos ensinamentos e do qual me apro- virtude do que ocorrera meses antes, no meçaram as transferências. Meu chefe,
ximei muito pelos momentos difíceis que Esquadrão, com os mesmos oficiais, e por Ten Cel Silas, e o Maj José Magalhães
vivemos nos anos 1962-1964. não ser permitida atividade política no in- Rabiço Jr. são transferidos para São José
Após os acontecimentos políticos de terior do quartel. Essa observação pessoal dos Campos. Assim, foram sendo removi-
agosto de 1961, ficou marcante a divisão estava reforçando informes que havíamos dos os obstáculos ao grupo Jango/Brizola.
entre os militares da FAB: um grupo era recebido do Terceiro Exército sobre o Antes de passar a chefia da 2ª Seção, o
contra Jango/Brizola e, o outro, a favor. No envolvimento de oficiais do Esquadrão em Ten Cel Silas me passou a guarda de 12
QG-5, o Cel Collares liderava o grupo con- atividades políticas ligadas ao Governador metralhadoras Thompson e 12 granadas
tra, e o Ten Cel Alfeu Alcântara Monteiro, Brizola. Destacavam-se nestas atividades destinadas ao nosso uso pessoal. Todo
politicamente muito ativo e intimamente os tenentes aviadores Reino Pecala Rae, este armamento ficaria guardado em um
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dos grandes cofres, cujo segredo de aber- GAv, o Comandante, Maj Av Mello, determi- dentes João Goulart e Leonel Brizola, que ao registro dos acontecimentos no QG-5 para que aguardássemos no Clube de Maj Brig Lavenère-Wanderley disse: “Bri-
tura ficaria sob a minha responsabilidade e nou que o Esquadrão operasse em esforço nada mais poderia ser feito, uma vez que as em abril de 1964: Aeronáutica uma eventual convocação. gadeiro está na hora de mudarmos a rota,
de conhecimento, também, do Cel Collares. máximo, por dois dias, não permitindo que principais Divisões sediadas no interior do No dia 3 de Abr, após cumprirem a Por volta das 13h quando almoçávamos no vou dar instruções ao piloto”. Foi à cabine e
O Ten Cel Oscar da Silva, pessoa ligada seu pessoal ficasse ocioso e se envol- estado teriam definido suas posições pró missão de transporte do Gen Ladário para restaurante do Clube, chegou junto a nossa ao retornar transmitiu ao Brigadeiro as ins-
ao Ten Cel Alfeu, assumiu o A-2 (Seção de vesse em assuntos políticos. Havia uma contrarrevolução, declarando-se solidárias o Rio, os pilotos se hospedaram no hotel mesa o Cel Roberto Hippolyto da Costa truções que havia dado, isto é, que daquele
Informações). A convivência com o meu preocupação muito grande com a Base ao Comandante da 3ª DI, de Santa Maria, de trânsito do Clube da Aer. À noite, quando trazendo consigo sua inseparável bolsa de ponto a rota deveria ser alterada para Porto
novo chefe ficou muito difícil, a ponto de Aérea de Canoas pelo que tinha ocorrido Gen Mário Pope Figueiredo. Após essa já estávamos recolhidos, o Maj Ramos foi paraquedas que era seu “pequeno arsenal”, Alegre e que as mensagens de controle de
ele me levar ao Comandante e pedir a minha em 1961. Entretanto o excelente trabalho reunião, o Gen Ladário, desejando retornar chamado ao telefone, tendo recebido ins- determinando que nos preparássemos tráfego e também, para a sua Companhia
saída da Seção. Foi quando o Comandante disciplinador realizado pelo Cel Pereira ao Rio, solicitou transporte aéreo para o dia truções do Cel Av Délio Jardim de Mattos imediatamente para retornar a Porto Alegre. deveriam ser reportadas como se para
explicou a ele que eu havia sido designado Pinto produziu os resultados esperados. seguinte. Foram escalados para realizar para que comparecêssemos às 9 h do dia “Sim senhor”, respondi-lhe, “vou avisar Belém fôssemos (na época o Controle de
para aquelas funções (PLD e SZAER) pelo Dias antes de eclodir a contrarrevolução a missão os majores Odony de Almeida seguinte (sábado, 04/04/64) na sala de aos sargentos para prepararem o avião”. Tráfego ainda não contava com os Dacta
Estado-Maior da Aeronáutica, e que ele não ele foi procurado por um grupo de subo- Ramos e Carlos Lutke Filho, no C-47 2077. reunião do Estado-Maior da Aeronáutica, “Nada disso”, retrucou o Cel; vamos com 1, 2 e 3). O voo prosseguia sem qualquer
tinha autoridade para me afastar da Seção. ficiais, que lhe asseguraram a absoluta no prédio do Ministério. Conforme deter- outros meios. O 2077 é muito conhecido anormalidade, auxiliado por um “céu de
tranquilidade no meio dos subalternos, e Nota 1 - O movimento revolucio- minado, na hora estabelecida chegamos da rota. Estamos seguindo com o Maj Brig Brigadeiro” da decolagem ao destino.
Fato hilário - Nos primeiros dias que se houvesse alguma anormalidade eles nário iniciado na madrugada do dia 31 ao Estado-Maior, já encontrando alguns Nelson Freire Lavenère-Wanderley que está
de março de 1964 fui chamado pelo Cel próprios o informariam. de março foi considerado encerrado e Brigadeiros e Coronéis que logo solicita- aqui nos aguardando. Reunidos todos na Nota 3 - Neste dia, 4 de abril de
Collares que me informou que teríamos se- Comandava o Terceiro Exército o Gen vitorioso em todos os estados, na noite ram que fizéssemos um relatório verbal da portaria do Clube, apresentamo-nos ao Maj 1964 (sábado), o Superior de Dia ao QG-5
rão: – Avise em casa! A minha missão seria Benjamim R. Galhardo. Entretanto no dia de 1º de abril, com a saída de Brasília do real situação das Unidades da Aeronáutica Brig partindo em seguida para o Aeroporto era o Maj Av Jaime da Silveira Peixoto e eu,
tentar impedir a vinda, para Porto Alegre, 2 de abril chega a Porto Alegre, designado Chefe do Governo para destino ignorado, sediadas em Canoas (QG-5, Base Aérea, do Galeão (Galeão Antigo). Lá chegando, Ten Baginski, seu Adjunto. Dia muito mo-
de uma aeronave Paris C-41 que estava pelo Ministro do Exército, o Gen Ladário dando ensejo ao Presidente do Congresso 1º/14º GAv e Hospital de Canoas), posição o Cel Hippolyto solicitou a presença do vimentado, com vários pedidos de busca
pousada em Curitiba, e que transportava Pereira Telles, com o objetivo de montar Nacional de declarar vago o cargo de Pre- dos respectivos Comandantes, o estado funcionário do DAC responsável pelo ae- oriundos do Terceiro Exército, acionamento
emissários do Brig Francisco Teixeira. Sa- um dispositivo de resistência e proteção ao sidente da República. O mesmo não ocorria da tropa face ao desfecho já vitorioso do roporto, pedindo que lhe informasse qual de voos de helicóptero para atender tais
bendo da pequena autonomia da aeronave e já então ex-Presidente. De imediato, o Gen no Rio Grande do Sul pela presença do movimento, etc. relato este feito pelo Maj o primeiro avião e a respectiva empresa, a pedidos, informes sobre possíveis levantes
da pouca experiência dos pilotos em aerona- Ladário convocou para uma reunião todos ex-Presidente em Porto Alegre, pelo apoio Ramos. Ao que parece, havia a intenção decolar para uma viagem programada. Le- por parte dos subalternos, dentre outros.
ves a reação, sugeri ao Cel Collares que eu os oficiais generais comandantes de Bagé, do Comandante do Terceiro Exército, e de substituir o Cmt da 5ª Zona Aérea, mas vantada a informação, dirigiu-se ao balcão Em face da preocupante situação com
emitiria boletins meteorológicos falsos com Uruguaiana, Santa Maria e Santiago. Para pelo poder de arregimentação de massas havia um certo constrangimento em fazê- da Cruzeiro do Sul, cujos funcionários es- as atividades do grupo liderado pelo Ten
forte aproximação de nevoeiro! O plano foi tal, solicitou à 5ª Zona o transporte aéreo de Leonel Brizola, tentando fazer ressurgir -lo uma vez que o Brig Othelo era sogro do tavam despachando um voo de rotina para Cel Alfeu, informei ao Cel Collares que as
aprovado e, nos horários previstos para os dos comandantes, com a ressalva de que a Cadeia da Legalidade e, mais uma vez, Cmt do 1º/14º GAv, Maj Av Aroldo Corrêa de Salvador no equipamento Caravelle, onde metralhadoras Thompson estavam muni-
boletins, saía um pior do que o outro! Às deveriam ser transportados, individualmen- transformar o Rio Grande do Sul na última Mello, filho do então Chefe do Estado-Maior apresentou ao gerente local da empresa um ciadas e prontas para serem distribuídas
21h30, a etapa Curitiba/Porto Alegre, com a te, ou seja, um em cada avião! Esta ressalva trincheira da resistência à deposição do da Aeronáutica e Ministro em exercício da documento de “Requisição de Aeronave” para os oficiais indicados por ele.
vinda dos emissários, foi cancelada. Contei serviu para reforçar a informação que o Presidente. Em consequência, as ações do pasta, Ten Brig Francisco de Assis Corrêa para cumprimento de “Missão Militar”. Foi
com a ajuda do 1S RT-TE Queiroz, que foi Cel Collares havia recebido pouco antes, movimento revolucionário se prolongaram de Mello, que não estava presente à Reu- então solicitada a presença do Comandante Nas proximidades do Aeroporto Salga-
colocado de serviço por nós. Constante- de que se algum general discordasse do por mais dois dias no estado. nião. Entre várias sugestões apresentadas da aeronave o qual foi informado sobre a do Filho, conforme instruções recebidas, o
mente recebíamos na Estação Rádio a visita Gen Ladário, ficaria preso em Porto Alegre. pelos Oficiais-Generais, o Brig Afonso Cel- requisição do equipamento inclusive de sua primeiro e único contato rádio do Coman-
do Ten Cel Alfeu para saber informações O Cel Collares determinou que eu acionasse Nota 2 - Deve também ficar regis- so Parreiras Horta dizendo-se muito amigo tripulação. O piloto prontamente aquiesceu dante do Caravelle com a torre de controle
sobre o voo. Lembro que, naquela época, as as missões, com o cuidado de escalar pilo- trado que o Ten Cel Alfeu já estava desli- do Brig Othelo prontificou-se a ir ao Sul e perguntando: Para onde vamos, Cel? “Para foi estabelecido já na Zona de Tráfego, dei-
comunicações eram muito precárias, e os tos da nossa confiança e que eles, ao che- gado do QG-5 por ter recebido Ordem de convencer o colega a se afastar do cargo, Belém”, respondeu-lhe o Cel Hippolyto. xando o Operador atônito e confuso, pois
boletins meteorológicos eram transmitidos gar nos respectivos destinos, informassem Matrícula no Curso Superior de Comando, sem trauma, dando tempo para que fosse Neste caso devemos reabastecer o avião não havia notícia de qualquer tráfego aéreo
por telegrafia por intermédio da Estação aos generais sobre as intenções do novo com início previsto para o dia 6 de abril de indicado seu substituto definitivo. Pedindo a pleno, completou o Comandante. “Pois com destino à capital gaúcha naquela hora.
Rádio do QG. Comandante do Terceiro Exército. Apenas 1964, conforme Boletim Interno nº 46 da a palavra, fiz ver aos presentes que, em tome as providências necessárias e nos avi- Por sua vez, o sargento da torre cumprindo
um general atendeu à convocação para a ECEMAR, de 10 de abril de 1964. O refe- minha opinião, face a presença no QG-5 se quando poderemos embarcar finalizou o instruções recebidas, comunicou-se ime-
O Cel Collares mantinha um relacio- reunião. Foram empregadas três aeronaves rido militar estava em trânsito para o Rio do TCel Alfeu que exercia certa influência Cel. O Maj Ramos e eu ficamos sem enten- diatamente com o chefe do EM do QG-5,
namento muito bom com os oficiais do C-45 e um C-64 Nordween. de Janeiro, por meios próprios. Ao chegar sobre o Cmt da Zona, caso viesse a ser der este destino, mas como estávamos ali informando-o do que estava ocorrendo.
Terceiro Exército e, desta forma, estava Em reunião na residência oficial do em Curitiba, tomando conhecimento do definida a substituição do Brig Othelo, esta apenas “cumprindo ordens”, calamo-nos. Estacionado o avião em frente à estação
sempre bem informado sobre os aconte- Comandante do Terceiro Exército, o Gen agravamento da situação política no país, deveria ser feita imediatamente, de forma Em seguida fomos conduzidos ao pátio de passageiros o Cel Hippolyto desceu só,
cimentos na cidade de Porto Alegre. Com o Ladário, após um rápido Exame da Situa- decidiu retornar a Porto Alegre, apresen- determinada e positiva, sem rodeios e, de manobras, embarcamos e partimos para certificar-se de que havia segurança
agravamento da situação política nacional ção, pelo não atendimento à convocação tando-se como adido ao QG-5! se possível, por um Oficial-General com com mais tripulantes a bordo do que pas- para o desembarque do Brigadeiro. O fator
no dia 31 de março de 1964 (terça-feira), dos generais comandantes das grandes A seguir, será apresentado um trecho ascendência hierárquica bem definida, isto sageiros. O voo transcorria normalmente “surpresa” fora alcançado, pois estava
todas as Unidades da 5ª Zona Aérea en- Unidades do interior do Rio Grande do Sul, do relato do Maj Av Lutke, redigido pelo é, por um Maj Brig. A seguir, o Maj Ramos quando, ao passarmos na vertical de Belo tudo normal. Deixamos então o avião e
traram em estado de prontidão. No 1º/14º teria declarado aos presentes, ex-presi- próprio, com o intuito de dar continuidade e eu fomos dispensados com instruções Horizonte o Cel Hippolyto dirigindo-se ao enquanto nos dirigíamos para o saguão do
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aeroporto, surgiu um helicóptero circulan- Passava das 20:30, com a presença de de insubordinação, o Maj Brig Wanderley passado durante a revolta dos suboficiais te esta missão teve pequena duração, e estava exausto, depois que dormi durante
do sobre o aeródromo, deixando o grupo ambos os Brigadeiros e a maioria dos determinou que o Maj Phyrro chamasse e sargentos, na BACO, em 1961, e dos logo fomos dispensados da missão de um depoimento!
um pouco apreensivo; no entanto, logo que Oficiais Superiores da Guarnição, dei início o Cel Collares. Mandei chamá-lo porque informes sobre a possibilidade de outra carcereiros. No dia seguinte, 6 de abril de 1964,
foi identificado como sendo da própria área à leitura do Boletim Interno da Unidade o estou, neste momento, prendendo o Ten revolta por parte dos subalternos, tratei O Ten Cel Alfeu sofreu ferimentos retornei a Porto Alegre pelo voo do Electra
do QG-5, tudo voltou à calma. Tratava-se qual na III Parte transcrevia o documento Cel Alfeu por ato de insubordinação. In- imediatamente de pegar a minha metra- gravíssimos na região abdominal, sendo da Varig. Tratamos de colocar a casa em
do Maj Av Jaime da Silveira Peixoto, A3 do assinado pelo Ministro Interino, Ten Brig continente, o Ten Cel sacou seu revólver lhadora Thompson, que estava na sala ao encaminhado para um hospital de Porto ordem, recolher as Thompson que haví-
QG-5, naquele dia também Superior de Corrêa de Mello que exonerava de suas e, apontando para o Comandante, decla- lado (Seção de Informações), levando outra Alegre que dispunha de mais recursos amos distribuído na noite anterior, entre
Dia e do Ten Hélio Bernd da 3ª ELO que, funções o Brig Othelo e designava para rava que não aceitava a prisão! De nada para o Cel Hippolyto que, inicialmente, médicos. Cerca de uma hora após os outras atividades.
por determinação do Cel Collares se des- Comandante da 5ª Zona Aérea o Maj Brig adiantavam as palavras do Maj Brig e do ficou um pouco surpreso, porque estava acontecimentos, recebemos a notícia do No dia 11 de abril, eu e minha espo-
locaram para o aeroporto para tomarem Lavenère-Wanderley. Finda a leitura, com Cel Collares para demovê-lo dessa atitude me conhecendo naquele instante. falecimento do Ten Cel Alfeu. Conversei en- sa fomos convidados pelo Cel Collares
conhecimento de quem estaria chegando os dois Brigadeiros perfilados, um em insana. Cada vez mais exaltado dizia: – Ou O socorro médico chegou rápido tão com o Cel Collares sobre a necessidade para almoçar em sua residência com o
naquele voo sem prévio aviso. O Maj Brig frente ao outro, houve a clássica passagem o Senhor relaxa a prisão ou lhe atiro! Na devido à proximidade do HACO. Após uma de informarmos aos subalternos o que Maj Brig Wanderley, já recuperado, e
Lavenère-Wanderley após manter contato de Comando. Encerrada a curta cerimônia, sala do Ajudante de Ordens, ao lado, e com primeira avaliação, os médicos verificaram realmente tinha ocorrido, isto para evitar com sua esposa, a Sra. Sophia Helena,
com o Cel Collares dando-lhe ciência de ambos se cumprimentaram. a porta ligeiramente aberta, ouvíamos em que os ferimentos do Maj Brig, por um mi- que os boatos tomassem conta do Quartel. recém-chegada do Rio.
sua missão, pediu-me que o colocasse em Neste ponto, volto a seguir com o meu altos brados as palavras do Ten Cel Alfeu. lagre, não eram muito graves. Quando os Como as horas estavam passando e o Cel No dia 17 de abril de 1964, fui escalado
contato com o Brig Othelo. Dirigimo-nos relato, por estar envolvido e participado Nessa hora o Cel Pereira Pinto ingressa médicos tentaram colocá-lo em uma maca, Collares estava muito assoberbado com para uma viagem ao Rio transportando o
ao balcão do CAN de onde liguei para a diretamente dos acontecimentos ocorridos na sala do Comandante, deixando a porta para levá-lo ao Hospital, ele não aceitou e todos os acontecimentos, lembrei-lhe uma Maj Brig Wanderley, no C-47 2077. Tripu-
residência oficial do Cmt da Zona Aérea, na noite de 4 de abril de 1964. aberta, e se depara com um quadro as- disse que iria caminhando! O Cel Hippolyto, vez mais da minha preocupação. Determi- lação Maj Lutke e Ten Baginski. Ficamos
tendo sido atendido pelo taifeiro de serviço. Encerrada a curta cerimônia, o Maj sustador: o Maj Brig Wanderley à frente já com a sua Thompson, e eu fomos dando nou-me, então, que reunisse os subalternos hospedados no hotel do Clube de Aero-
Identifiquei-me informando-o ainda que Brig Wanderley acompanhou o Brig Othelo de sua mesa sob a mira de uma arma, e proteção ao Maj Brig, no deslocamento e fizesse um relato dos fatos ocorridos, náutica. À noite, o Maj Lutke recebeu uma
desejava um contato pessoal e direto com até ao automóvel que o levaria a sua resi- o Cel Collares próximo à porta da sala de do QG até o Hospital. Ficamos bastante pois eu tinha presenciado todos os acon- ligação telefônica do Maj Brig Wanderley
o Brig Othelo. Enquanto esperava para ser dência. O Collares e eu acompanhamos os Reuniões. Todos estavam desarmados. O preocupados neste deslocamento, porque tecimentos. Aproximadamente às 23h30, para que comparecêssemos a sua resi-
atendido, percebi um intenso vozerio e gar- oficiais generais até à entrada do prédio Cel Pereira Pinto tenta, ainda, dialogar com o nevoeiro era muito intenso, até para me dirigi ao alojamento dos suboficiais e dência, no Flamengo, a fim de recebermos
galhadas que, naquele momento ali estaria do QG. Quando estávamos retornando o Ten Cel Alfeu que lhe responde: – Não caminhar! sargentos para fazer uma comunicação novas instruções. Lá chegando, o Maj
acontecendo uma reunião muito festiva; para o Gabinete do Comando, o Maj Brig se meta nisto Pinto! As coisas estavam oficial do que havia ocorrido. O alojamento Brig Wanderley nos informou que havia
reunião esta, posteriormente confirmada, Wanderley parou no meio do primeiro lance neste elevado grau de tensão quando o Cel Nota 4 - Por muito pouco não se era dotado de camas beliche, com pouco recebido do Presidente Castelo Branco o
destinada a festejar pelos liderados do Ten de escadas e dirigindo-se ao Cel Collares Hippolyto, que fazia um lanche no andar repetia a tragédia que havia ocorrido com o espaço e com um mínimo de iluminação; convite para assumir o Ministério da Aero-
Cel Alfeu a falsa notícia de que o Brig Othe- disse: – Preciso falar com o Ten Cel Alfeu, térreo, é informado por um oficial do que pai do Maj Brig Wanderley, Gen Brig Alberto ambiente tétrico! Com muitas preocupações, náutica, e que deveria seguir para Brasília
lo seria confirmado no cargo. Ao atender mande-o ao meu Gabinete. Eu segui para estava ocorrendo na Sala do Comandante. Lavenère-Wanderley, morto com um tiro falando de forma segura e franca, transmiti a no dia seguinte. Nesta ocasião, determinou
o telefone, o Brig foi muito cordial comigo a sala do Ajudante de Ordens, que ficava O Cel Hippolyto entra na sala pela Sala do no peito, disparado pelo Tenente getulista eles o que realmente tinha ocorrido. Minhas que retornássemos a Porto Alegre, e nos
e após cumprimentá-lo informei-o de que ao lado da sala do Comandante, onde en- Ajudante de Ordens, se depara com uma Juracy Montenegro Magalhães, que, com palavras foram muito bem aceitas, sem convidou para trabalharmos com ele no
o Maj Brig Lavenère-Wanderley que estava contrei o Comandante da Base, Cel Pereira cena assustadora e recua rapidamente Juarez Távora e Agildo Barata, assaltavam questionamentos, e ao final recebi agrade- Gabinete do Ministro.
ao meu lado no Aeroporto Salgado Filho, Pinto; o Comandante do 1º/14º, Maj Mello; para sacar a sua pistola. No momento em o 22º Batalhão de Caçadores, sediado na cimentos pela atenção a eles dispensada. Designado Ajudante de Ordens do
desejava falar-lhe. Após passar o telefone e o Ten Sperry. Somente estes oficiais e eu que o Ten Cel Alfeu percebeu a presença capital da Paraíba. Pela manhã do dia 5 de abril de 1964 Ministro da Aeronáutica, em 29 de abril de
ouvi o seguinte monólogo: “Othelo, é (Ten Baginski) é que assistiram ao início do do Cel Hippolyto, fez dois disparos contra (domingo), depois de uma noite estres- 1964, me apresentei logo em Brasília, ten-
Wanderley. Trago instruções para assumir atentado ao Maj Brig Wanderley. o Maj Brig: um atingiu a região orbicular e, Retornando do Hospital para o QG-5, sante, mais uma surpresa! O Cel Collares do em vista a situação tumultuada do país.
o Comando da 5ª Zona Aérea. Quando Logo após o Ten Cel Alfeu apresentar- o outro, o ombro. Ato contínuo o Cel Hip- ainda perplexos com o que havia ocorrido, me chama determinando que eu deveria Foi um período muito difícil para minha
poderá transmiti-lo?” Após a resposta o -se ao Maj Brig Wanderley, este lhe deu polyto reagiu disparando sua arma contra eu e o Ten Flávio da Rocha Fraga recebe- comparecer ao EMAER, no Rio, para fazer família, pois minha esposa estava grávida
Maj Brig Lavenère-Wanderley prosseguiu: instruções para que seguisse destino para o Ten Cel Alfeu. Foram disparados cerca mos ordem do Cel Hippolyto para prender um relato dos acontecimentos ocorridos no de oito meses e eu tendo de permanecer
“Então às 20h30 no prédio do Comando, a sua nova Unidade, a ECEMAR para fazer de dez a doze tiros! Quando cessaram e fazer uma revista minuciosa nos militares QG-5. Isto depois de ter passado a noite em em Brasília ou no Rio de Janeiro. Somente
obrigado.” Olhei para o relógio e eram exa- o Curso Superior de Comando. Neste mo- os disparos, entrei na Sala do Comando. do grupo Jango/Brizola mais envolvidos claro e sob tensão! Peguei o voo do Electra no final de junho é que consegui levar minha
tamente 18h40 do dia 04/04/64. A seguir, mento, ingressou na Sala do Comandante, A cena era dantesca: a sala totalmente politicamente. A 3ª Seção do EM-5 nos foi da Varig e fui para o Rio. Lá chegando, me família para Brasília.
nos dirigimos ao QG-5 em Canoas onde eu, via Salão Nobre, o Maj IG Phyrro, que de- enfumaçada; o Maj Brig Wanderley em indicada para servir como cárcere. Após dirigi ao prédio do Ministério e ao sexto Permaneci na função de Ajudante de
como responsável pelo setor administra- sejava apresentar-se ao novo Comandante. frente à sua mesa, levantando-se com pouco tempo o Cel Hippolyto nos traz o andar, onde funcionava o EMAER. Subindo Ordens do Ministro da Aeronáutica, Ten Brig
tivo da Unidade, dei início às providências Enquanto ouvia a apresentação do Maj, o o rosto todo ensanguentado; e o Ten Cel primeiro e único prisioneiro: o Ten Cel Av as escadarias, encontrei o Cel Délio Jardim do Ar Nelson Freire Lavenère-Wanderley
para a solenidade de transmissão do cargo, Ten Cel Alfeu interrompeu a apresentação Alfeu caído no tapete, junto ao armário, Oscar da Silva, meu chefe do A-2, nos de Mattos que de imediato me pediu um até dezembro de 1964, quando o Ministro
convocando os oficiais do próprio QG-5 deste oficial e, dirigindo-se ao Maj Brig, tentava, ainda, pegar sua arma que estava mostrando como deveria ser feita a revista relato verbal dos acontecimentos. Lembro pediu exoneração do cargo, por discordar
e da Base Aérea e também a preparação disse: – Mande dizer ao Estado-Maior que caída sobre o tapete! pessoal. O fato foi bastante constrangedor que vários outros oficiais do EMAER pedi- da decisão do Presidente Castelo Branco
do Boletim Interno que iria transcrever o se alguém me prender estará praticando Em face do ato insano que acabava para nós, que não estávamos preparados ram para que relatasse os acontecimentos com relação ao emprego da Aviação
documento oficial da troca de Comando. o último ato de sua vida. Diante deste ato de presenciar, lembrando pelo que havia psicologicamente para tal ação. Felizmen- novamente. Creio que perceberam que eu Embarcada n
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SE POUSAR UM NORTH-AMERICAN T-6
JÁ NÃO ERA FÁCIL, IMAGINE (QUASE)
SEM COMANDOS DE VOO... T-6 após o acidente

Vicente Cavaliere
Cel Av
cavalierev2002@yahoo.com.br

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assaram-se cinquenta anos, mas algumas manobras mais simples similares detes, realizando uma série de touneaux
lembro-me do fato como se o es- àquelas utilizadas em voos de caça. Para barril3 e, após, de loopings4. Em todos os
tivesse vivenciando agora. tanto, os Cadetes deveriam, além de voar touneaux e no primeiro looping, permaneci
Eu era um Cadete Aviador da FAB, com com qualidade nas formaturas, demonstrar firme e corretamente na ala. No entanto, no
apenas vinte e um anos de idade e com que tinham determinação e coragem para segundo looping, deixei meu avião atrasar
pouca experiência de voo, mas pilotando permanecer na ala – em outras palavras, e fiquei um pouco recuado na posição na
solo um T-61 na final para pouso na pista do garra e sangue para brigar pela posição ala, ou seja, fora da posição correta. Por
Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro (RJ). correta do avião na formatura. Assim, causa da pressão psicológica, pensei:
Lembro-me que a manete de acelera- North-American T-6 qualquer erro ou vacilo significava ser des- Vou ser desligado da Caça! Não posso
ção do motor já estava toda reduzida, os ligado da possível indicação para a Caça. E atrasar mais!... E faltava apenas um mês
flapes baixados no máximo e o manche do líder e do ala. Essas missões, assim transferência de local de instrução também a crença nessa assertiva exercia uma forte e meio para a cerimônia de Declaração de
totalmente colado atrás. Porém, sem como as próximas, compostas por quatro aconteceu porque, outrora, em 1959, já pressão psicológica. Aspirantes... Assim, no início do próximo
conseguir levantar um milímetro sequer aviões – esquadrilha, reunião de dois havia ocorrido a colisão de um avião de O avião do líder do elemento era looping, procurei me antecipar e acelerei
do nariz do avião, no intuito de diminuir elementos – seriam as últimas do Curso treinamento de Cadetes com uma aeronave pilotado pelo meu instrutor de voo, um indevidamente o motor do avião um pouco
a velocidade de 130 milhas/hora para a de Formação de Oficiais Aviadores. Elas Viscount da VASP, fazendo 41 vítimas entre Tenente Aviador. Eu voava solo em sua ala, mais que o necessário para acompanhar o
ideal na final, que era de 100 milhas/hora, tinham como objetivo, além de ensinar tripulantes, passageiros e pessoas no solo. pilotando o T-6 1501. No decorrer do voo, líder. Esse foi o meu erro...
e de, principalmente, modificar a atitude a voar em formatura, selecionar aqueles Após a conclusão do curso na Escola de como eu havia demonstrado capacidade Durante a subida do looping, por minha
agressiva – em relação à arfagem2 – em Cadetes que tinham condições de serem in- Aeronáutica, os Cadetes eram declarados de permanecer na ala durante a execução inexperiência em acrobacias na ala, deixei
que o avião se encontrava. dicados, após a conclusão do curso, para a “Aspirantes a Oficiais Aviadores”. A seguir, de manobras mais difíceis – considerando meu avião ir adiantando por baixo da asa
Com certeza, iria entrar voando pelo Aviação de Caça. Nessa época, os Cadetes os Aspirantes selecionados para a Caça as condições e a experiência de pilotagem do líder, perdendo então as referências
chão a dentro... Seria morte certa! Aviadores recebiam instrução acadêmica eram movimentados para Fortaleza (CE), a de um simples Cadete Aviador – o instrutor visuais com o outro avião, necessárias
Mas como cheguei a tal ponto e como de nível superior e de voo na antiga Escola fim de realizarem o Curso de Piloto de Caça. julgou que poderia ir além das manobras para o voo de ala, e o ultrapassei bem no duas aeronaves. Ambos – eu e o instrutor
me saí dessa? de Aeronáutica, no Campo dos Afonsos, Os demais seguiam para Natal (RN), para previstas para a missão e para um Cadete topo da manobra, com ambos os aviões – poderíamos ter falecido nessa ocasião.
No dia 14 de janeiro de 1969, estava Rio de Janeiro. Após 1970, a formação realizarem o Curso de Bimotor de Transpor- inexperiente em voo (menos de 100 horas), na posição de dorso. Perdi de vista o avião Os danos causados, como apurei mais
executando mais uma missão de forma- passou a ser efetuada na Academia da te. A Aviação de Caça era cobiçada pelos conforme o próprio instrutor narrou após do líder e, simultaneamente, ouvi o barulho tarde, foram apenas a perda do profundor
tura composta por dois aviões voando Força Aérea – AFA, em Pirassununga Cadetes Aviadores, mas apenas poucos o incidente. Então, ele decidiu partir para típico e inconfundível de hélice destruindo direito e de parte do leme de direção de
lado a lado – elemento, unidade básica de (SP), em virtude do congestionamento do eram selecionados. a execução de acrobacias na ala, embora o alumínio da cauda de meu avião... minha aeronave. No avião do líder, apenas
combate aéreo –, constituída pelos aviões tráfego aéreo sobre o Rio de Janeiro. Essa Nessas formaturas, eram realizadas estas não estivessem previstas para Ca- Felizmente, não ocorreu o choque das algumas mossas na hélice.
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A próxima visão era a de um avião o líder já havia acionado o esquema artilharia antiaérea. Estava sem bússola cabine para regular o centro de gravidade especialistas em aerodinâmica. Tive êxito
mergulhando na vertical em direção ao de emergência pelo rádio. Mas, conside- e perdido, voando cada vez mais para e usou apenas os motores e os flapes para em minha empreitada, tudo passando em
autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Ja- rando a situação adversa em que eu esta- dentro do território inimigo (Alemanha). controlar a arfagem e, assim, efetuar o segundos, e fiz um pouso de pista, ou seja,
neiro. A minha decisão imediata foi saltar va – voando em direção ao chão – decidi Seu piloto lutava com o que lhe restava pouso em segurança. tocando-a apenas com as rodas dianteiras
de paraquedas. Para mim, não haveria o que a única saída possível seria arremeter dos comandos para conseguir manter o Uma terceira história poderia ser con- e mantendo a bequilha no ar. Porém, já no
menor problema e nenhum receio, uma para tentar novamente a aproximação para avião voando nivelado. O piloto de caça tada aqui, mas, infelizmente, seu desfecho chão, ao perder velocidade, o que restou NOTAS
1 Avião monomotor a pistão, de fabricação
vez que, na época, mesmo sendo apenas pouso, talvez em melhores condições. Se, alemão – Franz Steigler – designado para foi trágico. Por ironia do destino, o Tenente de comando no profundor foi perdendo norte-americana (North American Aviation, Inc.),
Cadete, eu realizava saltos de paraque- em situação normal, já era difícil efetuar abater a B-17G, descreveu a situação Aviador Marcos Alexandre Cavaliere, meu a eficácia, e o nariz do avião foi ficando com capacidade para dois tripulantes (instrutor
das no Clube de Oficiais Paraquedistas um pouso com o T-6 5, quanto mais agora, da seguinte forma: “Nunca vi um avião sobrinho, pilotava uma aeronave Bandei- mais pesado que a cauda, culminando e aluno) e destinado à aprendizagem de voo
mais avançada, utilizado pela FAB na instrução
do Exército – COP. Seria apenas mais em situação adversa. Empurrei a manete naquele estado. A seção traseira, leme e rante cargueiro e efetuava lançamento de na pilonagem 6. Este ainda deslizou uma aérea para Cadetes desde após a Segunda
um salto. A nacele já estava aberta, pois para a frente, a fim de acelerar o motor e profundores muito avariados, artilheiros paraquedistas militares no Rio de Janeiro, boa distância pela pista nesta posição Guerra Mundial até ao final do ano de 1969.
voávamos com esta totalmente aberta arremeter... feridos, a proa do quadrimotor danificada em maio de 1998. Um destes militares, ao esdrúxula, até à parada total. 2 Arfagem é a posição relativa da aeronave
para facilitar a saída do avião em caso Nessas horas, segundos representam e furos por toda a fuselagem”. Este piloto saltar do avião, colidiu com o profundor, Porém, os sustos ainda não tinham em torno do eixo transversal, eixo imaginário
de necessidade, pois este não possuía anos e tudo passa pela nossa cabeça. alemão, num gesto de nobreza, em vez de arrancando-o totalmente. Neste caso, os acabado... que vai da ponta da asa direita à ponta da asa
esquerda. Definido também como o movimento
cadeira de ejeção. Assim é que, de imediato, em função da dar o golpe de misericórdia, escoltou o pilotos não conseguiram controlar a ae- Após a parada do avião, ao olhar em torno do eixo transversal de uma aeronave,
Entretanto, senti que ainda havia reação do avião com a aceleração do mo- avião avariado e indicou um rumo seguro ronave, ocorrendo o falecimento dos três para a frente, a primeira pessoa com relacionado ao efeito de subir (cabrar – puxar,
por meio do manche, o nariz do avião para cima
algum comando da aeronave. Puxei o tor, lembrei-me de uma história real que de volta para a Inglaterra. tripulantes (dois pilotos e um mecânico que me deparei foi o Comandante da
da linha do horizonte) e descer (picar – empurrar
manche e consegui voar nivelado. Con- havia lido na revista Seleções do Reader’s A outra ocorreu em 1986, quando um de voo), além do paraquedista. Os demais Escola de Aeronáutica, Brigadeiro do o nariz do avião para baixo da linha
cluí que poderia preservar a aeronave Digest quando eu ainda era criança, em C-47 foi atingido por um míssil terra-ar paraquedistas se salvaram, pois conse- Ar Geraldo Labarthe Lebre, famoso por do horizonte).
da destruição. Olhei para trás, pelo lado torno de dez anos de idade. Uma aero- SA-7 ao sobrevoar Ondagwa (Namíbia). A guiram sair do avião, mesmo estando sua severidade. Era conhecido também 3 O touneaux barril é um tipo de acrobacia
esquerdo da nacele, para verificar as nave de passageiros, quadrimotor, havia C-47 este em condições adversas, totalmente por ser um líder atuante, sempre pre- aérea que consiste em combinar um roll (giro
condições estruturais do avião, e vi o colidido em voo com outra aeronave de descontrolado. sente na instrução aérea dos Cadetes, completo de 360º em torno do eixo de tração)
com uma trajetória helicoidal (Observação: não
profundor inteiro, sem nenhum dano. Se pequeno porte. Esta última teve perda to- Voltando à minha história... zelando pela sua qualidade, inclusive em confundir helicoidal com espiral), ou seja,
tivesse olhado pelo lado direito, seria bem tal, com falecimento do piloto. A aeronave Surpreendentemente, após acelerar voos noturnos e em voos nos finais de o touneaux é como uma rosca, enquanto o roll
simples é apenas um giro de 360º executado
diferente. Teria visto que não havia mais maior perdeu os profundores e o leme de o motor, o nariz de meu avião mudou semana. Nesse momento, não poderia
na mesma linha de voo. É chamado de touneaux
nada de profundor nesse lado..., e aí o direção, mas o piloto conseguiu efetuar de atitude e elevou-se. Percebi que, em ser diferente. Ele estava lá, presente, de barril, pois é como se o avião descrevesse
susto seria bem maior... Mas eu não olhei um pouso de emergência, controlando a assim procedendo e tendo por base a pé bem à frente do avião, para ver o que uma trajetória circular em torno de um barril
imaginário, iniciando a trajetória em uma base
para trás por esse lado... Entretanto, eu atitude do avião – em relação à arfagem história que recordei, conseguiria atingir tinha acontecido com um de seus Cade- do barril e concluindo-a na base oposta.
estava consciente de que a sequência do – apenas com a variação da potência dos a pista em uma atitude favorável, menos tes. Ele havia pegado carona em um dos
voo seria com restrições, pois algo havia quatro motores. agressiva, para efetuar o pouso. Mantive carros contra-incêndio. 4 O looping é um tipo de acrobacia aérea
que consiste em descrever uma trajetória
acontecido, algo havia sido destruído lá Hoje, pesquisando sobre o assunto, o manche puxado para trás, colado ao Na hora, ao vê-lo, pensei: estou preso perfeitamente circular na vertical. O avião vem
atrás... Só não conseguia ver direito o descobri mais duas situações similares. corpo, e acelerava o motor a fim de ou fora da Caça, ou pior ainda, desligado em voo nivelado, com plena potência,
que era... A primeira ocorreu no final da Segun- explosão arrancou a maior parte da cauda, corrigir a ar fagem, para que ficasse da Escola de Aeronáutica. Aí sim, tremi
e começa a subir descrevendo um arco perfeito
até ficar completamente de dorso. Neste ponto,
A seguir, fiquei uns 10 minutos pro- da Guerra Mundial. Um B-17G dos Estados deixando-a em frangalhos. O piloto dimi- com o nariz mais elevado. Antes que de medo. o piloto coloca o motor em marcha lenta,
curando pelo avião do líder em todas as Unidos foi seriamente danificado, atingido nuiu a velocidade para 100 nós, ordenou a velocidade aumentasse, eu reduzia a Desci do avião com a ajuda dos solda- completando a circunferência de modo que a
aos passageiros para se moverem pela semicircunferência de descida tenha o mesmo
direções, no nível de voo, acima e abaixo pelas balas dos caças inimigos e pela aceleração para que o avião continuasse dos bombeiros e me dirigi ao Comandante. raio da semicircunferência de subida. O ponto de
de mim, mas não consegui achá-lo. Não a descer em direção à pista. E assim Porém, este tinha um senso de justiça entrada e o de saída do looping devem coincidir.
consegui ver também se, pelo contrário, sucessivamente. incomum e, após ouvir de mim o ocorri-
5 O T-6 tinha a característica de ser
o líder já estava me seguindo. Decidi Cabe lembrar que, considerando a do, chegou à conclusão de que aquelas instável no pouso, requerendo muito cuidado
retornar para pouso no Campo dos Afon- redução de velocidade e a pouca atuação acrobacias na ala não estavam previstas nos comandos, sob pena de efetuar um
“cavalo-de-pau”, situação em que a aeronave
sos. Tentei falar pelo rádio com a torre do que restava dos profundores, o avião na instrução aérea para Cadetes, e muito muda bruscamente de direção e gira no solo
de controle dos Afonsos para solicitar poderia ter entrado em parafuso a baixa menos estava previsto um inexperiente sem controle até parar por si só.
“emergência”, mas não consegui, pois a altura, sem chances de recuperação. Mas, Cadete pousar (quase) sem comandos de
6 Pilonagem é o ato de encostar o eixo
antena do rádio havia sido cortada pela na época, eu tinha pouca noção sobre voo. E, no entanto, eu tinha conseguido da hélice e o motor do avião no chão, ou seja,
hélice do líder. esse aspecto. controlar o avião e efetuar o pouso. E “embicar” o nariz do avião (que tem bequilha
traseira) contra o solo. Normalmente, isto
Na final para pouso, encontrei-me na Não sei dizer se as reações aerodinâ- ele reconheceu a minha proeza – não fui
ocorre pelo uso excessivo dos freios após um
situação narrada no início deste relato. micas ocorridas em meu avião foram as preso, nem desligado!... E fui indicado pouso com muita velocidade. A figura de uma
Vi que, para minha felicidade, os carros mesmas que ocorreram na aeronave de para a Caça... pilonagem é o avião apoiado no solo em três
pontos (as duas rodas dianteiras e o nariz
de bombeiros estavam posicionados na passageiros mencionada anteriormente. No dia seguinte, já estava voando do avião), ficando a cauda com a bequilha
lateral, ao longo da pista. Concluí que B-17 e Caça alemão Deixo a explicação do fenômeno para os novamente... n apontada para o alto.

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O VOO DO 2º GTE PARA BRASÍLIA
ver ao efetivo do 2º GTE, o qual passaria
a abrigar.
Havia que fazer ainda a interface com
a Prefeitura de Aeronáutica de Brasília
Maj Brig Ar Carlos Sergio S. Cesar (PABR), com o objetivo de estabelecer
Assessor de Relações Internacionais GOL/VRG uma forma de acolher as inscrições e o
carlos.sergioc@gmail.com provimento de residências para o efetivo
que viria, uma vez que Brasília, na sua
primeira década de existência, não possuía
oferta de residências para todo o efetivo

A
História da Força Aérea Brasileira, do Governo Federal que a demandava,
em Brasília, tem início ainda duran- enquanto eventual moradia para aluguel,
te a gestação da cidade, quando, igualmente escassa, estava fora da faixa
em 27 de novembro de 1957, foi criado o salarial dos militares. Na época, uma por-
Destacamento de Base Aérea de Brasília taria ministerial disciplinava que a liberação
para dar apoio ao deslocamento de pessoal pela OM de origem, da Guia de Transferên-
e material necessários à sua construção. cia para militar destinado a Organização
Três meses após a inauguração da com sede em Brasília, só poderia ocorrer
então nova capital, o Destacamento deu após a liberação de um próprio nacional
lugar à GUARNAER BR (Guarnição de existentes, enquanto os prédios destinados esta estória, valendo-me apenas de minha a ele destinado pela PABR. Com o apoio
Aeronáutica de Brasília), que passou a à instalação da Base mal começavam a ser memória, já octogenária, para dar lugar das OM envolvidas (BABR, GTE e PABR)
abrigar o Comando e o 1º Esquadrão do edificados. O então Comandante da Base, a esta narrativa que, consequentemente, e com um ou outro socorro do GABAER
GTE (Grupo de Transporte Especial), Uni- Cel Av Roberto Hipólito da Costa, ao tempo pode conter alguma impropriedade de (Gabinete do Ministro) aquele Grupo Pre-
dade Aérea encarregada do transporte do bem conhecido por sua determinação e nomenclatura, mas é fiel aos fatos. cursor pôde encerrar sua missão, e liberar
presidente da República, do Ministro da voluntariedade, decidiu ocupar parte do O nominado Grupo Precursor, pela o deslocamento do Grosso da Tropa dentro
Aeronáutica, seus pares, outras autorida- porque a mudança dos ministérios e de Oficial de Operações. No dia seguinte, 25 hangar com seu efetivo, na verdade, trans- NPA (Norma Padrão de Ação) que regulava do prazo previsto.
des governamentais e visitantes ilustres, outros órgãos do governo para Brasília de agosto, o Presidente Janio Quadros ferindo a BABR para lá, e o fez de forma, no a matéria, era comandado pelo Maj Av Daqueles distantes tempos vividos em
quando solicitado. se fazia lentamente, e o atendimento às renunciaria... mas esta já é outra estória. mínimo, atípica. Utilizando a mão de obra Gandra (Mauro José Miranda Gandra) e Brasília para a adequação da nova sede,
A origem do GTE remete à Seção de autoridades assistidas se dava lá e cá, Em 17 de dezembro de 1964, passei do efetivo, fez as adaptações provisórias integrado pelo Cap Av Cesar (Carlos Sergio guardo a recordação do dia a dia compar-
Aviões do Comando, criada em 4 de junho com intenso movimento na ligação entre a pertencer ao efetivo do GTE, sendo necessárias: transportou os móveis e de Sant’Anna Cesar), pelo Cap Av Castilho tilhado com o Gandra e o Castilho, na pe-
de 1941, para receber as aeronaves advin- a antiga e a nova capital. designado para o 2º Esquadrão, no Rio utensílios nas viaturas da própria Base; e, (Oziris Castilho) e por um subalterno (subo- quena sala a nós destinada no hangar, e no
das da Aviação do Exército, que tinham Com a aquisição e chegada de seis de Janeiro, o que me faz não somente como grand finale, solicitou a interdição ficial ou sargento) de cada área de atividade quarto do alojamento que compartíamos,
por missão o transporte do presidente. aeronaves Avro-748, denominadas C-91 testemunha como participante do episódio da pista por alguns minutos, cruzando-a do Esquadrão. O Grupo deslocou-se para no mínimo de segunda a sexta, quando não
Sua localização era a Ponta do Calabouço, na FAB, que ocorreu ao longo de 1963 – o tema deste artigo. com o efetivo em formatura, com a banda a BABR 120 dias antes da data prevista por quinze dias, emendando um fim de se-
atual Aeroporto Santos-Dumont, e seu primeiro C-91 2500 chegou às vésperas do Sem medo de estar atrasando a nar- à testa e, como último pelotão, o prédio para o início das operações na nova Base, mana, naquela estranha rotina, diversa da
primeiro comandante foi o Cap Av Nero Natal de 1962 – estas passaram à dotação rativa principal, não posso deixar de assi- da cadeia, que era um pré-fabricado de e dedicou-se à preparação da infraestrutura que exercíamos no Rio de Janeiro, hangar
Moura. do 1º Esquadrão do GTE, junto com os dois nalar um episódio anterior, por inusitado e madeira, transportado pelos próprios pre- para recebimento do efetivo, designado por do III COMAR, Aeroporto Santos-Dumont,
Em 31 de março de 1954, a Seção de VC-90, enquanto os C-47 se concentraram contrastante com o deslocamento em tela. sos. Estava criada uma nova norma para Grosso da Tropa. cidade que também abrigava nossas
Comando foi transformada em Esquadrão no 2º Esquadrão. Até 1965, as instalações da Base Aérea de Deslocamento de Unidades. Este período foi dedicado a efetivar, famílias. Minha memória se compraz, ao
de Transporte Especial, passando a contar Julguei oportuno fazer este preâmbulo Brasília (BABR), como as do GTE, eram Já nossa estória propõe-se a nar- na infraestrutura do hangar destinado às relembrar o entusiasmo e a dedicação que
com aeronaves C-47 e C-45 para logo sobre o tema central de nossa estória com no lado norte da pista, nas mesmas edi- rar o processo de deslocamento do 2º instalações do 2º GTE, as adequações ne- entregávamos, todos, àquela missão, não
depois receber os dois Viscount (VC-90), este histórico, a fim de que houvesse a ficações da antiga GUARNAER; a maioria Esquadrão do GTE, do Rio de Janeiro cessárias ao funcionamento dos diversos somente pelo ineditismo, mas pelo espírito
que marcariam a época do presidente compreensão pelos companheiros mais improvisada, em alvenaria e madeira, ainda para Brasília, sem interrupção de suas setores, como oficinas de manutenção, que animava os integrantes daquela nossa
Juscelino Kubitschek, e serviriam a mais novos, que não conhecem o desdobramen- da época da construção da cidade. O Plano atividades, dentro do preconizado pela armazéns de suprimento, áreas adminis- então pequena Força Aérea, em que podiam
quatro de seus sucessores, sendo substi- to de nossa Força naquela década. Diretor, no entanto, previa a alocação da NPA (Norma Padrão de Ação) de Desloca- trativas, salas operacionais etc. Isso tudo faltar recursos e conhecimentos atualiza-
tuídos pelos BAC-111, em 1968. A minha ligação com Brasília, quase nova Base no lado sul da pista, em posição mento de Unidades Táticas, a qual aquela foi feito em estreita coordenação com o dos, em comparação com Forças Aéreas
Há que assinalar aqui que, em que tão antiga quanto a cidade, tem lugar em frontal à antiga. geração conhecia do Curso Tático da EAO Comando do Grupo e com o 1º Esquadrão, de países desenvolvidos, mas sobravam
pese o Comando e o 1º Esquadrão do GTE 24 de agosto de 1961, quando, 1º Ten Av, A primeira edificação a ficar pronta (Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais). que lá já se encontravam. Além disso, garra e paixão, que acredito persistam
terem ido para Brasília nos idos de 1960, recém-promovido, me apresento à então foi o hangar destinado ao GTE, estrutura Seria oportuno lembrar que não efetivei foram realizados os ajustes das atividades também no efetivo de nossos dias.
o 2º Esquadrão permaneceu no Rio, até GUARNAER, sendo minha função a de moderna e gigantesca em relação às então qualquer busca documental para resgatar administrativas que caberiam à BABR pro- Há agora que exercitar os restantes
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Clube de Aeronáutica
neurônios de então, para descrever o des- porto Santos-Dumont, antes mesmo do aerovia, a aeronave líder, sob o comando
locamento aéreo e terrestre na rota SBRJ/ horário previsto para nossa decolagem. do Ten Cel Rabiço, Comandante do GTE,
SBBR, que ocorreu naquele longínquo julho Cumpridos o briefing e os pré-voos, encontrou condições visuais e, via rádio,
de 1967. O deslocamento do Grosso da
Tropa compreendia um grupamento terres-
restava-nos a coordenação com o Serviço
Meteorológico e o de Controle Aéreo para
comandou a reunião do Grupo, iniciando
uma orbita sob aquele RF. Reunidas as
SEJA SÓCIO!
tre, composto pelas viaturas orgânicas do conhecer as condições do aeródromo, de três esquadrilhas, aproou Brasília, onde, Para você e seus dependentes!
Esquadrão, e um grupamento aéreo, com maneira a permitir a decolagem do nosso em chegando, efetivou uma passagem
todas as aeronaves disponíveis, que deve- Grupo e, do mesmo modo, manter a BABR baixa sobre a Base e completou o pouso ISENÇÃO DE JOIA por tempo limitado
riam convergir para a BABR transportando e o Comando do GTE informados sobre do Grupo, em torno das 14:00P e, taxiando Militares e seus ex-dependentes - R$140,00
material e pessoal, e que ali adentrariam os ajustes na solenidade de recepção. No lentamente, proporcionou a reunião do Civis sem vínculo - R$230,00

www.caer.org.br
ao mesmo tempo. Assim, o planejamento briefing foram revistos e enfatizados os Grupamento Terrestre. Aeronaves esta-
da missão, a cargo do setor de operações, procedimentos de decolagem, o intervalo cionadas, tripulações formadas sobre as
viveu o interessante desafio de coordenar em rota, a posterior reunião em caso de asas, Grupamento Terrestre anexado em
quadros horários de diferentes modais. condições visuais, o pouso e as comunica- idêntica postura, o Ten Cel Rabiço apre-
O Grupamento Terrestre deslocou-se ções para deslocamento em voo de grupo senta o 2º GTE ao Comandante da Base,
em três dias pelas rodovias que interligam por instrumentos (IFR), por não serem Cel Av Hipólito, a cujo comando admi-
o Rio de Janeiro a Belo Horizonte e Brasília, habituais em nossas atividades aéreas. nistrativo passaríamos a nos subordinar,
tendo pernoitado no Parque de Lagoa Santa Após a abertura do campo para ope- declinando: – Missão cumprida n
(PALS); e, em Paracatu, em coordenação ração IFR, e exaustivas tratativas com o
via rádio, cruzou os portões da BABR, ao Controle de Tráfego, logramos dar início à
Nota 1: Na reta final do pouso do Grupo,
tempo que o Grupamento Aéreo pousava decolagem do Grupo em torno das 10:00P. o C-47 2011 (número 2, da segunda
suas aeronaves. Já o Grupamento Aéreo, Hoje creio ser impossível encontrar registro esquadrilha) pipocou o motor direito.
constituído por um Esquadrão de duas es- da hora exata, com o procedimento pre- Pé bobo, motor bobo, identifica...,
quadrilhas de três C-47 e uma esquadrilha visto para formaturas se deslocando em quando se ouve aquela exclamação:
de três C-45, era previsto decolar de SBRJ condições de voo por instrumentos, isto – “M....., não desliguei o aquecimento
do carburador!” Motor normal, pouso
às 08:00P, de 31 de julho de 1967 para, é, com intervalo de três minutos entre as
normal... susto anormal. Tripulação?
após o percurso estimado em três horas decolagens de suas aeronaves; posiciona- Cap Cesar/Cap Hermano;
e quarenta minutos, pousar em SBBR e, mento lateral alternado em relação ao eixo
em taxiando, incorporar-se, junto com seu da aerovia; altitudes defasadas e contiguas Nota 2: Às 16:00P, um C-47 do 2º GTE
Grupamento Terrestre, à tropa da BABR, (300m), por esquadrilha; contato rádio de decolou para SBRJ, a fim de cumprir OM
formada em homenagem aos seus novos cada aeronave com órgãos de controle; e (Ordem de Missão) exarada pelo GABAER,
que teria início naquela localidade,
integrantes. As condições meteorológicas interformatura, por frequência militar.
comprovando que a Unidade Tática
daquela chuvosa manhã de segunda-feira, Ao aproximar-se de Paracatu, local havia se deslocado, sem interromper o
contudo, levaram ao fechamento do Aero- provido de um radiofarol balizador da cumprimento de sua missão.

Aeronave e automóvel presidenciais,


SEDE BARRA
que podem ser vistos no
Museu Aeroespacial (MUSAL) LAZER E ESPORTE
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