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2 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

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A Lavoura
A Lavoura
ANO 114 - NO 687
DIRETOR RESPONSÁVEL
Antonio Mello Alvarenga Neto
PESQUISA
Raça bovina americana é foco de
EDITORA melhoramento pela Embrapa
Cristina Baran
editoria@sna.agr.br
O senepol é uma raça adaptada
ENDEREÇO
Av. General Justo, 171 - 7º andar
20021-130 - Rio de Janeiro - RJ
ao calor, fértil e sua carne
é de boa qualidade 38
Tel.: (21) 3231-6350
Fax: (21) 2240-4189 HORTICULTURA
ENDEREÇO ELETRÔNICO
Tomate: produção integrada com milho
www.sna.agr.br
ganha força
e-mails: alavoura@sna.agr.br Um novo aumento da produção de
redacao.alavoura@sna.agr.br
tomate poderá ocorrer em 2012
DIAGRAMAÇÃO / EDITORAÇÃO ELETRÔNICA nas propriedades onde o
Paulo Américo Magalhães
Tel: (21) 2580-1235 / 8126-5837
e-
mail:pm5propaganda@terra.com.br
cultivo é alternado com
o plantio de grãos 40
IMPRESSÃO: LEITE
Central Indústria Gráfica Novos desafios da produção leiteira
Tel.: (32) 3215-8988 O mercado leiteiro é um setor de
www.centralindustriagrafica.com.br
grande impacto no agronegócio
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: com uma produção média
Aguinaldo José de Lima
Ana Carolina Miotto
Antonio Mello Alvarenga Neto
Carla Gomes
estimada de 32 bilhões
para 2011 49
Daniela Miyasaka S. Cassol
Eduardo Pinho Rodrigues
Eliana Cezar Silveira
Fernanda Domiciano
VINICULTURA
Gabriela Afonso Prado
Gastão Crocco
Vinhos, tradição e modernidade 14
Ibsen de Gusmão Câmara
Ivani Cunha ALGODÃO
Isabella Vincoletto
Jacira Collaço Avanços e recordes do algodão
João Eugênio
Juliana Caldas
no Brasil 21
Liliane Castelões
Luís Alexandre Louzada VITICULTURA
Marcos Esteves Produção integrada de uva: maior valor
Paulo Sader
Pietro Massari agregado no processamento
Regina Flores
Renato Ponzio
à cadeia vitivinícola 29
Ronaldo Spirlandelli
Samar Velho da silveira VITICULTURA SNA 114 ANOS 06
Sérgio de Marco
Silvia Palhares Cultivo protegido de uva aumenta
Sophia Gebrim produtividade em 100% 35 PANORAMA 10
É proibida a reprodução parcial ou total de
qualquer forma, incluindo os meios
eletrônicos, sem prévia
SILAGEM SOCIEDADE RURAL
autorização do editor. É tempo de pensar na silagem 44
ISSN 0023-9135 BRASILEIRA - SRB 22
Os artigos assinados são de responsa- COOPERATIVISMO
bilidade exclusiva de seus autores, não
traduzindo necessariamente a opinião
Exportações das cooperativas crescem SOBRAPA 25
da revista A Lavoura e/ou da Socie-
dade Nacional de Agricultura
34,6% entre janeiro e outubro 46
BIOTECNOLOGIA 34
Capa: Uva da variedade grenache,
DESENVOLVIMENTO
da fazenda vinícola “La Vieille Ferme”,
em Vinsobres, Provence, França, AGRÍCOLA ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO 42
de propriedade da Família Perrin As Câmaras Setoriais e Temáticas
Foto de Cristina Baran
editoria@sna.agr.br do Ministério da Agricultura 54 EMPRESAS 48

A Lavoura DEZEMBRO/2011 3

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DIRETORIA EXECUTIVA DIRETORIA TÉCNICA COMISSÃO FISCAL
ALBERTO WERNECK DE FIGUEIREDO MARCIO SETTE FORTES DE ALMEIDA CLAUDINE BICHARA DE OLIVEIRA
ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO PRESIDENTE ANTONIO FREITAS MARIA HELENA FURTADO MARIA CECÍLIA LADEIRA DE ALMEIDA
ALMIRANTE IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA 1O VICE-PRESIDENTE
CLAUDIO CAIADO MAURO REZENDE LOPES PLÁCIDO MARCHON LEÃO
OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA 2O VICE-PRESIDENTE
JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON PAULO PROTÁSIO ROBERTO PARAÍSO ROCHA
JOEL NAEGELE 3O VICE-PRESIDENTE
FERNANDO PIMENTEL ROBERTO FERREIRA S. PINTO RUI OTAVIO ANDRADE
TITO BRUNO BANDEIRA RYFF 4O VICE-PRESIDENTE
FRANCISCO JOSÉ VILELA SANTOS DIRETOR JAIME ROTSTEIN RONY RODRIGUES OLIVEIRA
HÉLIO MEIRELLES CARDOSO DIRETOR JOSÉ MILTON DALLARI RUY BARRETO FILHO
JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES DIRETOR KATIA AGUIAR
LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS DIRETOR
RONALDO DE ALBUQUERQUE DIRETOR
SÉRGIO GOMES MALTA DIRETOR

FUNDADOR E P AT R O N O : O C TAV I O M E L L O A LVA R E N G A


Academia Nacional
de Agricultura CADEIRA PATRONO TITULAR

01 E NNES DE S OUZA R OBERTO F ERREIRA DA S ILVA P INTO


02 M OURA B RASIL J AIME R OTSTEIN
03 C AMPOS DA P AZ E DUARDO E UGÊNIO G OUVÊA V IEIRA
04 B ARÃO DE C APANEMA F RANCELINO P EREIRA
05 A NTONINO F IALHO L UIZ M ARCUS S UPLICY H AFERS
06 W ENCESLÁO B ELLO R ONALDO DE A LBUQUERQUE
07 S YLVIO R ANGEL T ITO B RUNO B ANDEIRA R YFF
08 P ACHECO L EÃO
09 L AURO M ULLER F LÁVIO M IRAGAIA P ERRI
10 M IGUEL C ALMON J OEL N AEGELE
11 L YRA C ASTRO M ARCUS V INÍCIUS P RATINI DE M ORAES
12 A UGUSTO R AMOS R OBERTO P AULO C ÉZAR DE A NDRADE
13 S IMÕES L OPES R UBENS R ICUPERO
14 E DUARDO C OTRIM P IERRE L ANDOLT
15 P EDRO O SÓRIO A NTONIO E RMÍRIO DE M ORAES
16 T RAJANO DE M EDEIROS I SRAEL K LABIN
17 P AULINO F ERNANDES
18 F ERNANDO C OSTA
19 S ÉRGIO DE C ARVALHO S YLVIA W ACHSNER
20 G USTAVO D UTRA A NTONIO D ELFIM N ETTO
21 J OSÉ A UGUSTO T RINDADE R OBERTO P ARAÍSO R OCHA
22 I GNÁCIO T OSTA J OÃO C ARLOS F AVERET P ORTO
23 J OSÉ S ATURNINO B RITO
24 J OSÉ B ONIFÁCIO
25 L UIZ DE Q UEIROZ A NTONIO C ABRERA M ANO F ILHO
26 C ARLOS M OREIRA J ÓRIO D AUSTER
27 A LBERTO S AMPAIO A NTONIO C ARREIRA
28 E PAMINONDAS DE S OUZA A NTONIO M ELLO A LVARENGA N ETO
29 A LBERTO T ORRES I BSEN DE G USMÃO C ÂMARA
30 C ARLOS P EREIRA DE S Á F ORTES JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON
31 T HEODORO P ECKOLT J OSÉ C ARLOS A ZEVEDO DE M ENEZES
32 R ICARDO DE C ARVALHO A FONSO A RINOS DE M ELLO F RANCO
33 B ARBOSA R ODRIGUES R OBERTO R ODRIGUES
34 G ONZAGA DE C AMPOS J OÃO C ARLOS DE S OUZA M EIRELLES
35 A MÉRICO B RAGA F ÁBIO DE S ALLES M EIRELLES
36 N AVARRO DE A NDRADE L EOPOLDO G ARCIA B RANDÃO
37 M ELLO L EITÃO A LYSSON P AOLINELLI
38 A RISTIDES C AIRE O SANÁ S ÓCRATES DE A RAÚJO A LMEIDA
39 V ITAL B RASIL D ENISE F ROSSARD
40 G ETÚLIO V ARGAS E DMUNDO B ARBOSA DA S ILVA
41 E DGARD T EIXEIRA L EITE E RLING S. L ORENTZEN

SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA · Fundada em 16 de janeiro de 1897 · Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918
Av. General Justo, 171 - 7º andar · Tel. (21) 3231-6350 · Fax: (21) 2240-4189 · Caixa Postal 1245 · CEP 20021-130 · Rio de Janeiro - Brasil e-mail:
sna@sna.agr.br · http://www.sna.agr.br
ESCOLA WENCESLÁO BELLO / FAGRAM · Av. Brasil, 9727 - Penha CEP: 21030-000 - Rio de Janeiro / RJ · Tel. (21) 3977-9979

4 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

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Carta da S NA

Segurança alimentar para 9 bilhões de bocas


população mundial atingiu, no início de no- As exportações da agropecuária brasileira atin-

AN vembro, sete bilhões de pessoas. Até 2050,


a ONU estima que chegaremos a nove bi-
lhões de habitantes. São 213 mil novas bo-
cas por dia, ou 78 milhões por ano.
giram a cifra recorde de US$ 92 bilhões no período
de 12 meses, entre novembro de 2010 e outubro de
2011. O valor representa uma expansão de 25% em
relação ao mesmo período do ano anterior.
O maior desafio a ser enfrentado nas próximas Considerando que as importações do setor alcan-
décadas será equacionar a oferta de alimentos para çaram o montante de US$ 16,8 bilhões no mesmo pe-
os novos habitantes do planeta. Não é tarefa fácil, ríodo, o superávit da balança comercial do agrone-
principalmente se levarmos em conta que temos atu- gócio alcançou a extraordinária cifra de US$ 75 bi-
almente cerca de um bilhão de pessoas subnutridas. lhões!
Caberá ao Brasil desempenhar importante papel É difícil imaginar o que seria da economia brasi-
na solução dessa equação, que envolve segurança ali- leira se não fosse esse vigoroso sucesso de nosso agro-
mentar e sustentabilidade. Principalmente nos pró- negócio.
ximos 20 ou 30 anos, enquanto novas áreas de pro- Há muitos interessados em investir no desenvol-
dução no mundo não venham a ser desenvolvidas. vimento do setor. No entanto, precisamos supe-
Além de produzir alimentos em quantidade, qua- rar alguns obstáculos. O primeiro deles é propor-
lidade e preço para a sua população, o Brasil precisa- cionar mais segurança aos investidores, resolven-
rá responder, cada vez mais, ao desafio de suprir do a questão do novo Código Florestal e a legisla-
as necessidades de alimentação do mundo. Isso sem ção sobre a venda de terras para estrangeiros.
falar na produção de energia verde. Outro problema é a precariedade de nossa in-
Para atender a essa demanda, a expansão virá fraestrutura de transporte, armazenagem e logís-
com o aumento da produtividade de nossas pasta- tica de exportação. Somos muito eficientes “da
gens e com a incorporação, ao processo produtivo, porteira para dentro”, mas nossa infraestrutura não
de novas áreas no cerrado. É inevitável. acompanhou o crescimento do agronegócio, afe-
O Brasil tem conseguido aproveitar suas vanta- tando duramente a competitividade dos produtos
gens comparativas para tornar-se referência no agro- brasileiros no exterior, e reduzindo a renda dos pro-
negócio global. Temos terra, água, clima, tecnolo- dutores. Para se ter uma ideia, o custo do frete
gia e mão-de-obra qualificada para satisfazer a cres- no Brasil chega a ser quatro vezes maior que em
cente demanda global por produtos de origem agro- outros países exportadores do agribusiness, como
pecuária. é o caso dos EUA e da Argentina.
Há tempos estamos aumentando nossa produção As oportunidades são claras e devemos
a taxas maiores do que aquelas alcançadas em ou- aproveitá-las. Somos uma nação que precisa cres-
tras regiões do planeta. Com isso, vamos consolidan- cer, proporcionar emprego e boas condições de
do nossa posição de grande player nos mercados do vida aos brasileiros. Não podemos impedir o pro-
agronegócio mundial. gresso de nosso agronegócio. O Brasil precisa
Somos o maior produtor de café, cana-de-açú- produzir alimentos e energia renovável para os
car e laranja do mundo; o segundo maior produtor novos habitantes do planeta. Uma questão de
de soja e o maior exportador mundial de carnes. Em segurança alimentar e sustentabilidade.
pouco tempo, seremos o principal polo mundial de
algodão e de biocombustíveis e um dos principais for-
necedores de madeira, papel e celulose. Antonio Mello Alvarenga Neto

A Lavoura DEZEMBRO/2011 5

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SNA comemora a Semana
Mundial da Alimentação
Durante evento,

DANIELLE MEDEIROS
instituição assina acordo
com a Organização das
Cooperativas Brasileiras

Até 2050, a população mundial será de nove


bilhões de habitantes, segundo estimativas da ONU.
Organismos internacionais apontam que há cerca
de um bilhão de pessoas mal alimentadas no mun-
do. Com o objetivo de debater os desafios que o
planeta terá de enfrentar na produção de alimen-
tos, nos próximos anos, bem como o papel do Bra-
sil na solução deste problema, a Sociedade Nacio-
nal de Agricultura, para comemorar a Semana
Mundial da Alimentação, promoveu, em seu audi-
tório, no dia 19 de outubro, uma reunião com Marcos Diaz (presidente da OCB-RJ), Márcio Lopes de Freitas (presidente da
OCB-Nacional) e Antonio Alvarenga (presidente da SNA)
membros da diretoria e da Academia Nacional de
Agricultura. O encontro contou ainda com a participação de au- lação, vem se tornando responsável por garantir boa parte das ne-
toridades representativas do setor agrícola. cessidades de alimentação do mundo”.
Na abertura do evento, o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, Segundo o presidente da SNA, o Brasil vem respondendo bem
saudou os presentes e falou sobre a importância de promover um a este desafio, aumentando sua produção a taxas maiores do que
debate de qualidade, reunindo personalidades de vários segmentos os índices de crescimento em outras regiões do planeta. “O país
do agronegócio. Citando números da FAO - que prevê, até 2050, a está ganhando participação cada vez maior no mercado interna-
necessidade do mundo em aumentar a produção de grãos em cerca cional, consolidando-se como um grande player do agronegócio
de 50%, e de carnes, em quase 100% -, Alvarenga abordou a questão mundial”, salientou, acrescentando que, mesmo com um cená-
de futuras demandas globais. rio positivo, “é necessário melhorar a pauta exportadora, com o
“Nos próximos anos, a crise de alimentos estará cada vez mais incremento de produtos de melhor valor agregado”.
presente nos fóruns internacionais e em nosso dia-a-dia. A preocu- Em seguida, o diretor da SNA, Fernando Pimentel, disse que,
pação mundial se voltará com grande intensidade para a segurança apesar do bom momento pelo o qual o agronegócio vem passando, o
alimentar. E o Brasil deverá desempenhar um papel cada vez mais setor não está imune à crise internacional. Na ocasião, traçou um
importante nesse sentido. Além de produzir alimentos em quantida- painel geral do Brasil no contexto geoeconômico que, para ele,
de, qualidade e preço para atender às necessidades de sua popu- apresenta estabilidade, ao lado de países como China e Austrália.
Fábio Meirelles, presidente da Federação de
Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp), afirmou
DANIELLE MEDEIROS

que as lideranças do campo devem se empenhar


para defender o produtor, a cultura agrícola e a
sociedade brasileira. “É necessário estabelecer uma
política de defesa da nossa economia, dentro da
realidade nacional”.
Cooperativismo
O movimento cooperativista ganhou destaque
durante o encontro, que foi finalizado com a assi-
natura de um convênio entre a SNA e a Organiza-
ção das Cooperativas Brasileiras (OCB), para promo-
ver ações de ensino e capacitação, bem como pro-
jetos de sustentabilidade e segurança alimentar. Es-
tiveram presentes à ocasião Márcio Lopes de
Freitas, presidente da OCB-Nacional, Marcos Diaz,
presidente da OCB-RJ, Jorge Barros, superintenden-
te técnico do Sescoop-RJ, e Renato Nobile, supe-
rintendente da OCB-Brasília.
Fábio de Salles Meireles (presidente da FAESP); Antonio Alvarenga (presidente da O vice-presidente da SNA, Joel Naegele, consi-
Sociedade Nacional de Agricultura), e o vice-presidente da SNA, Osaná de Araújo Almeida derou o acordo histórico. “O documento garante

6 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

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DANIELLE MEDEIROS

Joel Naegele (vice-presidente da SNA), Márcio Lopes de Freitas (presidente da OCB-Nacional), Antonio Alvarenga (pres. SNA),
Marcos Diaz (presidente da OCB-RJ), Cesário Ramalho (presidente da SRB), Renato Nobile (superintendente da OCB-Brasília) e
Jorge Barros (superintendente do Sescoop-RJ) comemoram a parceria SNA/OCB

a permanência das práticas cooperativistas,


DANIELLE MEDEIROS

para que os produtores tenham maior assis-


tência e ganhos”.
Márcio Lopes de Freitas informou que,
atualmente, o país conta com 1612 coopera-
tivas, respondendo por 44% da produção bra-
sileira. “Cooperativa é negócio, é estruturada
para ganhar dinheiro”, afirmou, sugerindo,
como estratégias para o setor, maior
interatividade entre cooperativas e empresas,
e a formação de uma sociedade anônima para
captar recursos do exterior.
Ao anunciar a estruturação de um gran-
de centro de formação cooperativista em São
Paulo, Freitas declarou que “as cooperativas
devem ter um compromisso maior nas comu- O empresário e produtor rural Ruy Barreto e o presidente da FAESP, Fábio de Salles
nidades em que estão presentes”. Meireles, durante almoço comemorativo, ao lado da diretoria da SNA: Antonio
Alvarenga (presidente), almirante Ibsen de Gusmão Câmara (vice-presidente), Ronaldo
Cesário Ramalho, presidente da Socieda- de Albuquerque (diretor) e Roberto Paraíso Rocha (membro da Comissão Fiscal)
de Rural Brasileira, destacou o papel da SRB
neste setor. “Temos um relacionamento profundo com várias asso- setor “é uma espécie de rede onde pequenos, médios e grandes
ciações rurais. O agricultor deve ter a capacidade de gerir seu produtores dependem um do outro e das comunidades que utili-
negócio, com o apoio das cooperativas”, declarou, ressaltando a zam os produtos”. “Nesse âmbito”, disse a coordenadora, “é im-
luta da SRB por uma renda e apoio maior ao homem do campo. portante saber o que o consumidor deseja”. Sylvia observou ainda
Produção e consumo a falta de marcas genuinamente brasileiras no agronegócio, em com-
Para falar sobre a produção cafeeira, Ruy Barreto Filho, dire- paração às multinacionais.
tor da SNA, denunciou o abandono do setor nos últimos 25 anos, Também presente ao encontro, o diretor da SNA, Márcio
lembrando a extinção, pelo governo, do Instituto Brasileiro do Café Sette Fortes de Almeida, argumentou que “o produto rural é
(IBC). O diretor também chamou a atenção para a falta de políticas competitivo até a porteira da fazenda, mas vai perdendo com-
de exportação. “Não exportamos café solúvel e, ao mesmo tem- petitividade quando chega ao consumidor final”. O diretor atri-
po, somos importadores de café brasileiro industrializado. Nossa bui este problema a falhas de infraestrutura, incluindo fatores
política vesga beneficia o produtor e prejudica a exportação com como transporte e armazenamento (neste caso, a carência de
valor agregado”, alertou. silos). De acordo com Márcio Fortes, “30% da safra se perde no
Já na visão de Ruy Barreto, “o café não é um produto primário próprio trajeto”. Segundo ele, “falta investimento e diálogo”
e tornou o Brasil um dos maiores países do mundo”. Ampliando o para resolver esses gargalos.
debate, o produtor frisou que “o mundo tem, atualmente, uma Ao introduzir no debate a questão ambiental, o vice-presiden-
enorme responsabilidade para alimentar sete bilhões de pessoas”. te da SNA, almirante Ibsen de Gusmão Câmara, reconheceu que
Representando a Embrapa, Regina Lago, chefe da área de ali- há dificuldades em conciliar a produção de alimentos com a rea-
mentos da instituição, abordou as oscilações nos preços de mer- lidade das mudanças climáticas. “O clima onde as regiões são frias
cado, chamou a atenção para o aumento do valor da cesta básica, será atenuado, mas nas regiões temperadas e tropicais, será mais
e falou sobre a importância da produção alimentar. “Atualmente, quente. O panorama agrícola será totalmente modificado. Portan-
não basta produzir o alimento; é preciso que haja qualidade e se- to, as próximas décadas serão cruciais para a preservação da hu-
gurança”, declarou, citando a atuação da Embrapa nas áreas de manidade”.
nutrição, biotecnologia e saúde. Ao final da reunião, o diretor da SNA, Alberto de Figueiredo,
Com o foco voltado para a cadeia do agronegócio, a coorde- apresentou aos representantes da OCB um programa destinado à
nadora do Projeto OrganicsNet, Sylvia Wachsner, ressaltou que o melhoria da pecuária leiteira no Estado do Rio

A Lavoura DEZEMBRO/2011 7

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Sociedade Nacional de Agricultura
lança nova publicação
A Sociedade Nacional de Agricultura promo-

DANIELLE MEDEIROS
veu, no dia 6 de outubro, a festa de lan-
çamento de sua nova publicação, Animal
Business Brasil.
Participaram do evento, no auditório da
SNA, mais de 80 pessoas, entre membros da
diretoria, lideranças empresariais, autoridades
e representantes do setor agropecuário.
Na ocasião, o presidente da Sociedade Na-
cional de Agricultura, Antonio Alvarenga, dis-
se que, apesar da notável liderança do Brasil
como maior exportador de carne bovina e de
frango do mundo, é preciso avançar mais em
termos de produtividade. “Nos últimos anos ti-
vemos grandes progressos nos setores de grãos
e cana de açúcar. Agora é preciso cuidar do au-
mento da produtividade de nossa pecuária”. Embaixador Flávio Perri, Antonio Alvarenga (presidente da SNA), Roberto Paulo Cézar de
Alvarenga ressaltou ainda a importância da Andrade, membro da Academia Nacional de Agricultura, e o ex-deputado Márcio Fortes
tecnologia para o desenvolvimento da pecuá-
DANIELLE MEDEIROS

ria - aspecto que constitui um dos principais


focos da nova revista da SNA, também volta-
da para a ampliação da inserção internacional
das cadeias produtivas do segmento animal.
Ao abordar os propósitos da publicação,
seu editor, Luiz Octavio Pires Leal, informou
que a Animal Business Brasil é uma revista de
negócios, direcionada a atrair investimentos
para o setor. “Divulgar internamente e no ex-
terior as tecnologias avançadas e as oportuni-
dades de investimentos constituem também
objetivos da nova publicação, e para isso con-
tamos com a colaboração de especialistas”.
O diretor da SNA, Márcio Sette Fortes de
Almeida, que assina um artigo no primeiro nú-
mero da revista, destacou que a publicação é
voltada para o produtor que pretende adotar
novas tecnologias, e elogiou os esforços do em-
Cristina Baran, editora da revista A Lavoura; Márcio Sette Fortes de Almeida, diretor da
presariado e do governo brasileiro para incre- SNA; e os representantes da Animal Business Brasil: Marcelo Thadeu Rodrigues
mentar a qualidade dos produtos de origem (diagramador) e Luiz Octavio Pires Leal (editor)
animal.
DANIELLE MEDEIROS

Especializada em tecnologia da criação, re-


produção, industrialização e comercialização de
animais, a revista Animal Business Brasil, em seu
número de estreia, publica matérias sobre re-
produção high tech, avicultura brasileira, mer-
cado de saúde animal, comércio internacional
de cavalos, exportação de carne, entre outros.
Com 72 páginas em cores, periodicidade
bimestral e forte distribuição no Brasil e no ex-
terior, a publicação bilíngue (português e in-
glês) tem por objetivo estimular as exportações
e os investimentos em tecnologia no segmen-
to animal do agronegócio brasileiro.
Durante o coquetel de lançamento da re-
vista, o público assistiu a uma apresentação do
pianista Osmar Milito e da cantora Sanny Alves, Antônio Carlos de Andrade (economista); Antonio Alvarenga (presidente da SNA), e
que mostraram clássicos da música brasileira. os diretores Francisco Vilela e Sérgio Malta

8 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

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OrganicsNet debate orgânicos na panificação
O projeto OrganicsNet, da Sociedade Nacional de Agri-
cultura, participou do 3º Workshop de Cooperação Inter-
nacional - Gestão & Inovação na Panificação, realizado em
orgânica do Brasil, a Molino D´Oro, localizada em Itaipava
- região de Petrópolis (RJ). O estabelecimento, que per-
tence ao Sítio do Moinho, utiliza fermento natural sem co-
outubro, na Federação das Indústrias do Estado Mato Grosso adjuvantes no processo produtivo, e desenvolve conheci-
do Sul. mento e técnica próprios para garantir a qualidade e a ras-
O evento mostrou aos empresários do setor de panifica- treabilidade de seus produtos, fabricados com matéria pri-
ção do estado as novas práticas de gestão, além das tecno- ma italiana.
logias e inovações que visam à melhoria do processo produ- Dias antes de sua palestra, Sylvia fez uma visita a Itaipava
tivo, com o incremento da qualidade. e teve a oportunidade de conversar com os técnicos respon-
Na ocasião, a coordenadora do projeto OrganicsNet, sáveis pela Molino D‘Oro e acompanhar todas as etapas da
Sylvia Wachsner, apresentou o case da primeira padaria produção de pães.

Fagram forma sua última turma de Zootecnia


DANIELLE MEDEIROS

A Faculdade de Ciências Agro-ambi-


entais (FAGRAM) realizou, no último dia
20 de outubro, no auditório da SNA, a
cerimônia de formatura de sua última
turma de Zootecnia. Após quinze anos
de funcionamento, a FAGRAM encerrou
suas atividades no campus da Penha.
O presidente da SNA, Antonio Al-
varenga, lamentou o término do cur-
so “por falta de demanda no Rio de
Janeiro” e ressaltou a importância da
Zootecnia na segurança alimentar de
futuras gerações.
“Até 2050, teremos dois bilhões de
pessoas a mais no mundo para alimen-
tar, e a Zootecnia é a área que cuida
da produção de alimentos de origem
animal com qualidade e respeito ao
meio ambiente e ao homem. O mundo
espera que Brasil consiga aumentar sua
produção para suprir esta demanda,
pois ainda podemos crescer em eficiên-
cia e em área, de forma sustentável e
responsável” – declarou Alvarenga.
Formandos posam para a foto clássica
A coordenadora do curso de

Zootecnia, Christianne Perali, lembrou a história da FAGRAM e chamou a atenção para os deveres a atitudes dos novos
profissionais. “Apesar de ser a última turma, a responsabilidade de cada um dos zootecnistas formados nesta data e nas
turmas anteriores está centrada na produção com ética e responsabilidade ambiental e social”. A professora recomendou
aos formados que se dediquem constantemente ao aprimoramento profissional e trabalhem com afinco para atingir seu
sucesso.
Os demais professores agradeceram ao período de convivência com os alunos e as experiências trocadas em sala de
aula, e manifestaram pesar pelo fim do curso.
Colaram grau, durante a cerimônia, os alunos Leonardo Gonçalves, Flávio Bindi, Amanda Arêa, Ildecir Sias, Ellen Simas,
Gustavo Mattozinhos da Rosa, Eruana Santos, Marcos Nalin, Marcos Provetti e Mário Tremura.
Estiveram presentes à mesa o professor Olavo David Filho, Christianne Perali, Antonio Alvarenga, Dione Firmino (paraninfa),
professor Markus Budjinsky e Marcos Aronovich.

A Lavoura DEZEMBRO/2011 9

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EMBRAPA TRIGO

Safra de trigo em 2011 é menor,


mas com excelente qualidade
A safra de trigo em 2011, em áreas As cultivares BRS 264 e BRS 254 são duas aplicações de fungicidas e duas de
irrigadas com pivô central, no Distrito indicadas para região do Cerrado do inseticida, o que baixou os custos das
Federal, Minas Gerais e em Goiás acom- Brasil Central, que compreende os es- lavouras.
panhou a redução de produtividade tados de Minas Gerais, Goiás, Mato A brusone continua sendo a doença
verificada em todo o país. Em compa- Grosso, Bahia e o Distrito Federal. Atu- que mais causa prejuízos na triticultura
ração à safra anterior, a produtividade almente, 90% da área plantada com do Cerrado. Segundo o pesquisador da
foi 10% inferior, embora algumas lavou- trigo irrigado nessa região utiliza as Embrapa Cerrados, no caso do plantio
ras tenham alcançado em torno de 115 variedades lançadas pela Embrapa. do trigo irrigado, a doença se agrava
sacos por hectare com a cultivar BRS As unidades da Empresa Brasilei- com a ocorrência de chuvas no estágio
264, quando a média foi de 90 sacos por ra de Pesquisa Agropecuária - Embra- de espigamento. Isso diminui conside-
hectare. Levantamento da Companhia pa Cerrados e Embrapa Trigo são as ravelmente a produtividade da lavou-
Nacional de Abastecimento (Conab) in- responsáveis pelo desenvolvimento do ra e a qualidade de grãos. Os grãos
dica que a produção nacional deverá ser programa de melhoramento do trigo. infectados apresentam-se enrugados,
de 5.129,9 mil toneladas, 12,8% menor Somado à boa produtividade, o tri- pequenos, deformados e com baixo
do que a colhida em 2010. go produzido na região é todo de alta peso específico. Para as lavouras per-
A área total cultivada com trigo ir- qualidade, comparável ao das melho- manecerem livres desta doença, os tra-
rigado no Distrito Federal, Minas Gerais res regiões produtoras do mundo, como tamentos com fungicidas, indicados
e em Goiás também teve uma redução o Canadá. Todas as variedades planta- pela pesquisa, devem ser preventivos.
neste ano. Em relação a 2010, a cultu- das no Cerrado são de trigo pão e A Embrapa possui projetos em an-
ra foi plantada em menos 20% das áre- melhorador, conforme a demanda da damento que visam identificar fontes
as. As condições climáticas favorece- indústria moageira. “No Brasil, o trigo de resistência à brusone, mas ainda não
ram o bom desenvolvimento das plan- de melhor qualidade industrial é o do foram desenvolvidas cultivares resis-
tas de trigo na região do Brasil Central. Cerrado, em função de sua alta força tentes ao fungo Pyricularia grisea, cau-
“A maioria das lavouras foi colhida no de glúten e estabilidade”, acrescenta sador da doença. Experimentos em
período seco, sem a ocorrência de chu- o pesquisador. rede estão sendo desenvolvidos em
vas, o que favoreceu a qualidade dos Menos perdas Planaltina-DF, Dourados-MS e Londrina-
grãos e, consequentemente, favoreceu O ataque de pragas e doenças não PR. Nos campos experimentais da
a comercialização. Os produtores estão foi significativo nesta safra, o que con- Embrapa Cerrados, em Planaltina-DF,
vendendo a sua produção entre R$ tribuiu para a produtividade e a quali- estão sendo testados vários genótipos
37,00 e R$ 42,00 por saco de 60 kg”, dade do trigo nessa região. Dessa for- anualmente. O objetivo é selecionar
explica o pesquisador da Embrapa Cer- ma, muitos produtores conseguiram materiais que apresentem baixo nível
rados Júlio Cesar Albrecht. chegar até o final do ciclo com apenas de incidência da doença.
LILIANE CASTELÕES - EMBRAPA CERRADOS

10 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-10-13-Panorama.pmd 10 4/11/2011, 09:30


SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
Bois confinados em Minas
produzem 80 mil ton de carne
Rebanho mantido nos currais tem apresentado cotações
e piquetes aumentou 20% crescentes desde janeiro.
Segundo análise da
Iniciado o período das águas, os Subsecretaria do Agronegó-
pecuaristas de Minas Gerais que mantiveram cio da Secretaria da
bois em confinamento durante a seca de Agricultura, no período de
2011 estão levando o gado gordo para os janeiro a outubro de 2011,
abatedouros. Neste ano, cerca de 400 mil o preço médio subiu
animais (volume 20% superior ao de 2010) 19,92%. Há sinais de que a
ficaram nos currais ou piquetes durante um tendência de alta seguirá
período de até três meses para cada lote, até janeiro/fevereiro.
Confinamento é rentável para produtores que cuidam bem
recebendo alimento e água, informa a De agora em diante, da gestão do negócio
Emater-MG, vinculada à Secretaria de Agri- acrescenta o assessor da se-
cultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). cretaria, a procura pela carne deve aumen- va que vem aprimorando o confinamento
“Os animais de confinamento ofere- tar, sendo a oferta quase exclusivamente do desde 1979, quando adotou essa alterna-
cem carne em quantidade e com a quali- produto de confinamentos. Começa um novo tiva de manejo do gado utilizando ape-
dade exigida pelos frigoríficos e os consu- ciclo de engorda de animais centralizado nos nas cem bois. No ano seguinte engordou
midores, um produto muito valorizado”, pastos que já apresentam sinais de recupe- mil animais e depois continuou expandin-
diz o coordenador estadual de ração. do a produção.
Bovinocultura da Emater, José Alberto de Números positivos Para 2012, Queiroz confirma que vai tra-
Ávila Pires. Considerado um dos pioneiros do balhar com 40 mil bois, pois em sua opinião
Ele estima que pelo menos 90% dos bois confinamento de bois no Brasil, o pecuarista a engorda de um grande volume de animais
confinados em Minas neste ano já foram ofe- Adalberto José de Queiroz, do município de possibilita renda ao produtor inclusive nos
recidos no mercado. Segundo o balanço re- Frutal (Triângulo Mineiro), manteve em cur- períodos de baixa cotação da carne. “Prin-
alizado pela Emater, o volume total de ani- rais, desde março, um total de 12 mil bois e cipalmente quando se pode contar com uma
mais preparado à base de ração deve possi- ainda conta com 25% desse plantel. Para o boa safra de milho no dstado, como a esti-
bilitar o aproveitamento de 80 mil tonela- produtor, os resultados deste ano foram po- mada para 2012, e a possibilidade de pro-
das de carne. Este volume é suficiente para sitivos porque ele conseguiu fechar bons duzir na propriedade uma parte dos compo-
o abastecimento de 6,7 milhões de pessoas contratos de venda a termo, isto é, comer- nentes da ração”, finaliza.
em quatro meses, consumindo cada uma a cialização dos animais à base de acertos que Cenário do boi
média de 12 quilos. independem dos preços praticados geral- Dados da Emater mostram que, em Mi-
O agrônomo Renato de Assis Porto de mente pelo mercado. Predominam nas ne- nas Gerais, um grupo de 63 produtores tra-
Melo, assessor técnico do programa Minas gociações as condições dos animais ofereci- balha com plantéis confinados de mil a cin-
Carne, criado pela Secretaria da Agricultura, dos, o cumprimento de prazos e outros as- co mil cabeças, respondendo por 56,5% dos
também ressalta a importância do pectos. “Estamos entregando boi por R$ animais dentro do sistema. Para completar
confinamento de bovinos e diz que os produ- 98,50 a arroba e um mês atrás vendíamos a oferta da carne confinada no Estado, há
tores estão aderindo ao sistema com por um preço acima da cotação atual do um contingente de 658 pecuaristas que tra-
profissionalismo. “Eles fazem altos investi- mercado”, enfatiza. balham na faixa inferior a 150 e até mil bois.
mentos principalmente na compra de ração Queiroz ressalta que o confinamento De acordo com Ávila Pires, a presença des-
para os animais confinados e, por isso, sem- é uma prática rentável sobretudo para os se número de pequenos produtores é um
pre têm a expectativa de obter uma remu- produtores que cuidam bem da gestão do bom suporte à atividade, que garante o abas-
neração melhor ao vender esse gado do que negócio. “É necessário aproveitar bem as tecimento do mercado interno em extenso
obteriam com a comercialização de animais oportunidades para vender o boi gordo e período, possibilitando a oferta de carne
engordados no pasto”, explica. também para comprar os bezerros que bovina de qualidade a preços estáveis.
A arroba do boi, comercializada atual- iniciarão um novo ciclo nos currais ou pi- IVANI CUNHA - SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA,
mente em Minas Gerais por cerca de R$ 100, quetes”, esclarece. O pecuarista obser- PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

Bezerros de laboratório mente no Laboratório de Reprodução Animal do Campo Experimen-


tal Santa Mônica, em Valença-RJ, mais um fruto da parceria entre
a Pesagro-Rio e a Embrapa Gado de Leite. O resultado foi come-
A Pesagro-Rio dá mais um passo para o domínio da tecnologia de
produção de embriões in vitro de bovinos de leite.
Nasceram entre os dias 21 e 24 de junho passado, as três primei-
morado pelo presidente da Pesagro, Sílvio Galvão, que destacou a
parceria estratégica, a dedicação e o profissionalismo das equipes
ras bezerras desenvolvidas a partir de embriões produzidos integral- e dos pesquisadores responsáveis pelo trabalho.
De acordo com a pesquisadora Raquel Varella Serapião, da
Pesagro-Rio, os embriões foram produzidos a partir de óvulos
PESAGRO-RIO

coletados de vacas doadoras de alto valor genético da raça Gir e


fecundados com sêmen de touro Holandês, sendo então transferi-
dos para vacas receptoras (barrigas de aluguel) do rebanho do
Campo Experimental, sendo todas as etapas executadas pela equipe
da empresa.
A técnica vem sendo utilizada para a produção de matrizes que
resultem em animais de alta qualidade genética, permitindo a
melhoria do rebanho fluminense e o aumento da produtividade do
leite, informou o pesquisador da Pesagro Agostino Jorge dos Reis
Camargo, que integra a equipe do projeto.
Bezerras produzidas
“in vitro” pela A Lavoura DEZEMBRO/2011 11
Pesagro-Rio

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Pesquisa avalia

ESALQ/USP
transferência de renda
do agronegócio para
outros setores da
economia
O agronegócio brasileiro, nos últimos 15 anos, aumentou
sua produção e cresceu mais do que o PIB do País, permi-
tindo que se expandissem o consumo interno e a exportação de
seus produtos. Analisando esse contexto, uma pesquisa desen-
volvida no programa de Pós-graduação em Economia Aplicada,
da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP),
observou o papel do agronegócio no processo de transferência
de renda para os demais setores da economia doméstica e tam- Setor pecuarista: queda de preços devido ao aumento da produção
bém para o mercado externo.
De autoria de Adriana Ferreira Silva e orientação do pro-
fessor Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, do Departamento setor teve participação relevante nesta trajetória”, explica
de Economia, Administração e Sociologia (LES), o estudo Adriana.
intitulado “Transferências Interna e Externa de Renda do Agro- Setor pecuarista
negócio Brasileiro” apontou que a redução da concentração Segundo a pesquisadora, devido à queda de preços dos pro-
de renda e da pobreza no Brasil também teve suas raízes no dutos agropecuários, a sociedade absorveu, entre os anos de
agronegócio. “Ao assumir posição estratégica para o contro- 1995 a 2009, uma renda de R$ 837 bilhões do agronegócio, prin-
le da inflação e geração de divisas no comércio exterior, esse cipalmente do setor pecuarista, e dos segmento primário e in-

Alho: Minas aposta na qualidade para concorrer


Safra estadual deve alcançar volume A colheita mineira prevista para este ano equivale a
16,6% da safra nacional, garantindo a vice-liderança do
5,3% superior ao do ano passado ranking brasileiro do alho, atrás apenas de Goiás. Para o su-
perintendente de Política e Economia Agrícola da
Apesar das importações crescentes de alho pelo Brasil – Subsecretaria do Agronegócio da Secretaria da Agricultura
entre janeiro e agosto de 2011 entraram no país 109,9 mil de Minas Gerais, João Ricardo Albanez, o aumento da safra
toneladas do produto argentino e chinês –, os agricultores estadual é consequência principalmente da intensa utiliza-
mineiros investem no aumento da safra. O IBGE estima que a ção de tecnologia nas lavouras. “Por isso, a produtividade
produção de alho em Minas Gerais neste ano vai alcançar 19,7 média de alho no Estado é de 12,1 toneladas de alho por
mil toneladas, volume 5,3% maior que o registrado no ano hectare. Há dez anos, a produtividade era de 8,1 toneladas
passado. por hectare”, explica Albanez.
Primeiro colocado na produção estadual de alho, o Alto
Paranaíba tem uma safra estimada de 13,8 mil toneladas, volu-
BARAN
CRISTINA

me correspondente a cerca de 70% da safra estadual. Albanez


avalia que o plantio, principalmente na região líder de produção,
foi estimulado em 2011 pela recuperação de preço registrada em
2010, como consequência de uma redução temporária das im-
portações de alho chinês.
Qualidade reconhecida
O agricultor familiar Oswaldo Júnior, que mantém o cultivo
de alho em 18 hectares no município de São Gotardo, no Alto
Paranaíba, diz que o produtor deve sempre investir na qualida-
de, independente da importação. “É necessário produzir sem-
pre o nosso alho com qualidade, exista ou não a importação. Além
disso, o volume das compras externas do produto pelo Brasil pode
cair, e nesse caso os preços internos serão mais compensadores.”
Oswaldo concorda que o alho nacional, especialmente o co-
lhido nas lavouras mineiras, tem a preferência dos consumidores
que valorizam a qualidade. A observação é compartilhada pelo
extensionista Dener Henrique de Castro, que atua no município.

Alho: colheita mineira equivale a 16,6% da safra nacional, ficando


atrás apenas de Goiás

12 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-10-13-Panorama.pmd 12 4/11/2011, 09:30


dustrial da agricultura. “Essa queda de preços se dá devido ao

EDUARDO PINHO
aumento da produção, gerado pela aquisição de novas tecnolo-
gias. Isso significa que a renda perdida pelo agronegócio não Milho BRS
afetou sua sustentação. Além disso, o fato da produção apre-
sentar crescimento nesse cenário é um indicador de que as
quedas de preço não representaram perda total da rentabilida-
Caatingueiro
de das novas tecnologias”, afirma.
Adriana expõe ainda outro motivo para a queda dos pre-
melhora a produção
ços no País: o avanço da tecnologia e o aumento da produ-
ção em escala internacional. “Aliados ao protecionismo dos
países mais desenvolvidos, eles geraram uma baixa dos pre-
no Semiárido
ços em grandes proporções. Ou seja, o desempenho do Bra-
sil não se deu de forma isolada, ele apenas ajustou seus cus-
tos ao movimento dos demais países”, explica. O trabalho
conclui que a redução dos preços reais dos produtos agrope-
cuários foi fator primordial na capacidade do poder aquisiti-
vo dos consumidores, em especial, para as famílias de baixa
renda - nas quais grande parcela da renda é despendida em
alimentos. Por outro lado, há que se garantir que os preços
pagos aos produtores remunerem seus esforços, para que
desestímulos à produção de alimentos não surjam e no futu-
ro ocasionem uma redução da oferta e consequente eleva-
ção dos preços.
Esta pesquisa de Adriana Ferreira Silva ganhou o Prêmio
Edson Potsch Magalhães de melhor tese em economia rural,
durante a realização do 49º Congresso da Sociedade Brasi-
leira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER),
realizado em julho.
ANA CAROLINA MIOTTO - ESALQ/USP BRS Caatingueiro: superprecoce

com produto importado A colheita do milho começou em junho no Nordeste bra-


sileiro, e os produtores da região, principalmente os pe-
quenos agricultores familiares do Semiárido, já comemo-
“O produto de Minas Gerais tem qualidade reconhecida em todo ram o aumento da produção. Na região de Irecê, no cen-
o país, especialmente nos mercados de São Paulo, Recife e Ama- tro norte da Bahia, que integra cidades como Ibititá,
zonas”, explica. Canarana, Lapão e João Dourado, a produtividade desta
A preferência do consumidor brasileiro pelo alho nacional safra foi três vezes maior do que a dos últimos seis anos.
também é citada por Eduardo Sekita, diretor do grupo Sekita, de A média, que era de 40 mil toneladas, subiu para 142 mil
São Gotardo, que trabalha com a parceria de 49 produtores em toneladas de milho este ano.
190 hectares da propriedade. Esse contingente de agricultores Boa parte desse sucesso se deve à utilização do BRS
familiares deve garantir ao grupo, em 2011, uma produção da Caatingueiro, desenvolvido pela Embrapa Tabuleiros Costei-
ordem de 3,7 mil toneladas, ele informa. ros, em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo, e
“O grande problema é que as importações permitidas pelo comercializado pela Embrapa Transferência de Tecnologia,
governo federal possibilitam a venda do acho chinês por R$ 40,00 unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
a caixa de dez quilos, enquanto no Alto Paranaíba o preço varia Superprecoce
de R$ 42,00 a R$ 45,00, porque abaixo disso seria insuficiente para A cultivar apresenta grãos semiduros amarelos e é
cobrir os custos de produção”, explica o executivo. adaptada especialmente ao Semiárido nordestino. Sua
Segundo Sekita, outro aspecto que dificulta a situação dos principal vantagem é o ciclo superprecoce, o que per-
produtores brasileiros é que o alho importado está presente em mite boas colheitas mesmo em períodos de pouca chu-
todo o país durante o ano inteiro. Já o produto colhido nas lavou- va. Como o florescimento do BRS Caatingueiro ocorre
ras da maioria dos Estados chega ao consumidor em um período entre 41 e 50 dias, diminui o risco de estresse hídrico
definido, de agosto a fevereiro, sendo que em Minas Gerais o no momento em que o milho é mais sensível à falta de
abastecimento predomina numa faixa de tempo ainda menor, de água.
agosto a janeiro. Após o plantio, a cultivar precisa de apenas 90 dias para
Organização da produção atingir a época da colheita. Mas se a distribuição das chuvas
“Diante do cenário da importação de alho pelo Brasil, os agri- for regular, a safra já está garantida com 65 a 70 dias de plan-
cultores devem buscar orientação junto às associações e coope- tio. Na região mais seca do Semiárido, a produtividade do BRS
rativas para desenvolver a produção programada”, recomenda o Caatingueiro varia em torno de 2 a 3 toneladas de grãos por
superintendente do Mercado Livre do Produtor (MLP) da hectare.
CeasaMinas pela Subsecretaria de Agricultura Familiar da Secre- Em condições mais regulares de precipitação, a produti-
taria da Agricultura, Lucas de Oliveira Scarascia. Ele diz que é vidade pode chegar a 6 toneladas de grãos por hectare. Por
fundamental para os produtores o acesso a informações sobre as isso, a cultivar é ideal para os pequenos produtores, que
tendências do mercado, política de abastecimento do país, situ- geralmente dispõem de poucos recursos, encontram dificul-
ação do câmbio e interesse de outros países em colocar seus pro- dades para ter acesso ao crédito e não têm tipo algum de
dutos no Brasil. orientação técnica.
IVANI CUNHA - SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO DE MINAS GERAIS EDUARDO PINHO RODRIGUES - EMBRAPA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

A Lavoura DEZEMBRO/2011 13

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VINICULTURA
VINICULTURA

Vinhos, tradição
e modernidade
A NTONIO A LVARENGA
CRISTINA BARAN

PRESIDENTE DA SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA - SNA

A família Perrin produz


vinhos desde 1909, na
região da Provence, e
hoje é uma das maiores
podutoras da França

Uvas para a produção dos vinhos


Château de Beaucastel: os “galets”
(pedras arredondadas no solo),
retém o calor do dia e aquecem
14 DEZEMBRO/2011 A Lavoura as videiras durante a noite

!ALAV687-14-20-Vinicultura.pmd 14 4/11/2011, 09:32


VINICULTURA

E m recente viagem à França,


tivemos a oportunidade de co-
nhecer as propriedades viní-
colas da tradicional família Perrin,
que se passa em suas propriedades,
caves e instalações industriais, é vi-
sível seu amor pela terra, videiras e
pela produção do vinho.
blage” é sempre diferente em cada
safra, tendo em vista que anualmen-
te as características das uvas são
diferentes conforme o clima e épo-
gente simples, elegante e muito aco- O reconhecimento desse trabalho ca da colheita, que interferem no re-
lhedora. apaixonado vem, dentre outros resul- sultado final após sua maturação e
A família Perrin dedica-se à pro- tados relevantes, por meio da avali- fermentação. É François Perrin quem
dução de vinhos desde 1909, na re- ação dos críticos especializados. Re- define a data de início da colheita e
gião da Provence, sendo atualmente centemente, um dos vinhos – Château dá a palavra final no “assemblage”
uma das maiores produtoras de vinho de Beaucastel, branco, velhas vinhas de cada um dos vinhos produzidos
da França. – obteve a nota máxima - 100 - do pelas vinícolas da família.
François Perrin dirige o grupo de renomado crítico norte-americano Linha de produtos
empresas da família com extrema de- Robert Parker, uma das maiores au- Há uma extensa linha de produ-
dicação e eficiência, adotando mo- toridades mundiais em vinhos, cuja tos, desde o especialíssimo Châ-
dernas técnicas de gestão - desde o crítica favorável pode lançar o preço teauneuf-du-Pape – Château de
manejo das videiras, colheita das de um vinho às alturas. É a primeira
uvas e produção dos vinhos até sua vez que um vinho branco da região de

CRISTINA BARAN
comercialização, incluindo toda a Châteauneuf-du-Pape recebe 100
complicada logística envolvida no pro- pontos.
cesso e o marketing dos produtos. O “Assemblage”
ambiente é bastante informal, mas Um dos principais segredos de um
tudo funciona perfeitamente. Aqui bom vinho é o “assemblage”, ou seja,
vale nosso ditado: “o olho do dono é o percentual de cada tipo de uva em
que engorda o gado”. Atento a tudo sua composição final. Esse “assem-
CRISTINA BARAN

Propriedade da família Perrin, na Provence,


França, onde são produzidos e armazenados
os vinhos Château de Beaucastel (detalhe) A Lavoura DEZEMBRO/2011 15

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PERRIN ET FILS VINICULTURA

Obedecendo o método tradicional de produção, a colheita do Château de Beaucastel é manual

Beaucastel – até vinhos mais sim- altitude de cerca de 300 m e clima


ples, como os La Vieille Ferme ou bastante adequado para a uva syrah;
Côtes du Rhone, de boa qualidade, e o Vacqueyras, produzido em solos
honestos e adequados para os seg- argilosos pesados com cascalho de
mentos de mercado aos quais se pro- Ouvèze, onde uma combinação das
põem atender. uvas grenache com syrah produz um
Há também os excelentes vinhos vinho aromático e de muito boa re-
PERRIN ET FILS

Gigondas, produzidos a partir de putação na França.


uvas grenache, cultivadas em solos A linha de produtos inclui vinhos
muito arenosos; o Vinsobres, um dos tintos, brancos, roses e até um
melhores Crus do sul do Vale do Rhone, doce. Também há vinhos orgânicos
cujo vinhedo está localizado ao nor- – como é o caso do Château de Beau-
te de Châteauneuf-du-Pape, a uma castel e Côtes du Rhone Rouge

Primum Familae Vini (Grandes Famílias do Vinho)


petitividade no mercado internacional.
A vinícola Perrin e Fils faz parte de uma associa-
ção exclusiva que reúne 12 empresas pertencen-
tes a famílias tradicionais produtoras de vinhos, com
Atualmente, os membros da Primum Familae Vini
são as vinícolas: Champagne Pol Roger, Joseph Drouin
o objetivo de manter a tradição e transmitir às ge- (Borgonha), Hugel & Fils (Alsácia), Perrin & Fils
rações futuras a paixão que eles têm com a produ- (Rhone), Château Mouton Rothschild (Bordeaux), to-
ção do vinho. A associação realiza reuniões periódi- dos da França; Torres e Vega Sicilia (Espanha); Tenuta
cas com as famílias associadas e também promove San Guido e Antinori, ambos da Toscana, Itália; Egon
programas de cooperação mútua, sobretudo na divul- Müller Scharzhof, da Alemanha; e Grupo Symington,
gação de seus produtos, visando ganhar maior com- de Portugal.

A Lavoura DEZEMBRO/2011 17
16 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-14-20-Vinicultura.pmd 16 4/11/2011, 09:32


VINICULTURA

e forte, que chega a atingir 100 km/ zados 30% de mourvedre, 30% de
hora. Todos estes componentes – in- grenache, 10% de syrah, e 5% de
clusive as diferenças entre altas e muscardin, vaccarese e cinsault
baixas temperaturas – se combinam cada. O restante é composto de pe-
e se complementam pa-ra dar às vi- quenas quantidades de sete outras
nhas de Beaucastel excepcionais qua- variedades permitidas em Château-
lidades e originalidade neuf-du-Pape, que proporcionam uma
reconhecidas mundial- complexidade graciosa que fazem o

PERRIN ET FILS
mente. Château de Beaucastel ser um vinho
A propriedade cobre extraordinário.
um total de 130 hecta- O período de colheita é fundamen-
res, dos quais apenas tal, porque as uvas são colhidas e vi-
100 hectares são planta- nificadas separadamente, permitin-
dos com vinhas: 75% do-lhes expressar suas próprias per-
são dedicados à produ- sonalidades no produto final.
ção do Châteauneuf-du- A colheita e a classificação são
Pape – Chateau de Beau- manuais. As peles das uvas são aque-
castel, e 25% para produ- cidas rapidamente para 80°C e, em
ção do Côtes-du-Rhone seguida, resfriado a 20°C antes de le-
denominado Coudoulet var os cachos para cubas de
de Beaucastel. Os res- maceração onde ficam durante 12
tantes 30 hectares, são dias. O suco é, então, drenado.
utilizados na rotação de A partir do método de aquecimen-
culturas para preparar to flash, Beaucastel Rouge segue uma
Produção do vinho Château de Beaucastel: novos plantios de vinha, vinificação mais ou menos clássica. A
maturação, envelhecimento e guarda... porque, a cada ano, um maioria das variedades são fermen-
ou dois hectares de vi- tadas separadamente. O vinho jo-
nhas velhas são desati- vem, em seguida, amadurece em
Nature. Desde 1962, os vinhedos de vadas e uma área equivalente é barricas de carvalho por cerca de 12
Château de Beaucastel produzem replantada em terreno onde não hou- meses. As castas das uvas - vinifi-
vinhos orgânicos. ve produção dura*nte, pelo menos, cadas separadamente - são mistura-
Há vinhos produzidos a partir de dez anos. Desde 1962 o cultivo dos das após a fermentação e uma série
vinhas antigas, algumas com 90 vinhedos de Beaucastel é orgânico. de degustações. O vinho resultante é
anos. Em determinados anos, depen- Château de Beaucastel tinto então amadurecido por um ano em
dendo da característica da safra, são O vinho é resultado de 13 varie- grandes barricas de carvalho e depois
produzidos alguns vinhos especiais, dades de uvas. As videiras têm em engarrafado. Finalmente, o vinho é
como é o caso do “Hommage à média 50 anos e o rendimento é de, maturado em garrafas e guardado
Jacques Perrin”, que também já re- no máximo, 30 hectolitros por hecta- nas caves Beaucastel por mais um
cebeu a pontuação máxima do críti- re. Essa é uma vinha saudável e vi- ano antes de ser colocado à venda.
co Robert Parker. brante, devido a anos de cultivo Château de Beaucastel branco
A produção total das propriedades orgânico. Na produção do vinho tin- Os vinhos brancos do Château de
da família Perrin é de 10 milhões de to Château de Beaucastel, são utili- Beaucastel estão entre os melhores
garrafas por ano, sendo 500 mil gar-
rafas do Châteauneuf-du-Pape.
PERRIN ET FILS

Galets
No Château de Beaucastel, o mé-
todo de produção é tradicional: co-
lheita manual e sistemas artesanais
de prensagem, maturação, envelhe-
cimento, engarrafamento e guarda
em barris de carvalho.
O terreno em Beaucastel – entre
as cidades de Avignon e Orange - é
marcado pela presença de um gran-
de número de pedras arredondadas,
conhecido como “galets” Estes
“galets” retêm o calor do dia e aque-
cem as videiras durante a noite. O
clima tem um papel importante: bai-
xa precipitação, o vento Mistral, seco

... em barris de carvalho

17 DEZEMBRO/2011 A Lavoura A Lavoura DEZEMBRO/2011 17

!ALAV687-14-20-Vinicultura.pmd 17 4/11/2011, 09:32


CRISTINA BARAN VINICULTURA

PERRIN ET FILS
Engarrafamento do vinho rosé “La Vieille Ferme” (detalhe), da Perrin et Fils

vinhos brancos da França. Produzidos Há uma pequena quantidade do


a partir de uvas cultivadas em clima “Vieilles Vignes” cuvée, produzido in- cestos. A classificação também é
quente, sendo 80% roussanne, 15% teiramente a partir de vinhas manual, para separar as uvas verdes
grenache blanc e 5% de outras vinhas. roussanne, com cerca de 100 anos de ou danificadas. Trinta por cento do
As vinhas datam entre 10 e 40 anos. idade. vinho é fermentado em barris e o
A vinha que produz o Château de restante em temperatura controla-
Beaucastel Blanc possui apenas sete da, em cubas de aço inoxidável. Uma
hectares para uma produção de vez que a fermentação é concluída,
François Perrin na cave
em Beaucastel, onde estão 6.000 garrafas por ano. A extraordi- a metade do vinho novo amadurece
guardadas garrafas de nária qualidade e reduzida produção em pequenos barris de carvalho e
vinho de diversas safras. tornam esse vinho uma raridade no metade em cubas por cerca de oito
No detalhe, o vinho meses. O Vieilles Vignes cuvée é
branco Château de
mercado.
Beaucastel, que foi As uvas são colhidas à mão e le- mantido em carvalho por um perío-
recentemente premiado vadas para a adega em pequenos do mais longo.
com a nota máxima

BARAN
CRISTINA
FILS
ET
PERRIN

18 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

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VINICULTURA

Os vinhos franceses
A França é referência mundial na produção de vinhos. É
lá que se produz os mais famosos vinhos do mun-
do e a maior variedade de vinhos de alta qualidade.
A vinicultura existe na França há mais de 2.000
anos. A partir de 1905, o governo começou a controlar
e regulamentar a produção do vinho no país. Em 1935
foi criado o Institut National des Appellations d’Origine
(INAO), que fiscaliza toda a produção de vinhos na
França.
Cada região produtora tem sua própria regulamen-

CRISTINA BARAN
tação e classificações diversas. As principais regiões
produtoras são Bordeaux, Borgonha, Champagne,
Alsácia, Rhone e Loire.
São cerca de 110 mil vinhedos espalhados pelo país,
com os “terroirs” mais diversos, nas mãos de cerca
de 69 mil produtores/negociantes e cooperativas. Só
em Bordeaux, são mais de 7.000 châteaus e cerca de Vinhos produzidos na Provence, França, pela Perrin et Fils
13.000 vinhedos.
A legislação é rigorosa no controle da produção dos
vinhos, sendo os vinhos classificados conforme sua VDQS, vinho delimitado de qualidade superior
qualidade: Na teoria, um degrau antes de um vinho ou região
“Vin de Table”, ou vinho de mesa alcançar o nível AOC, ficando situado entre esta clas-
sificação e o “Vin de Pays”. Corresponde a aproxima-
São vinhos básicos, simples e mais baratos. É o damente 2% do total da produção.
vinho produzido pelas comunidades onde, mais ou me-
nos, se faz o que quer. Representam cerca de 17% do “Vin d’Appellation d’Origine Contrôlée” - AOC
vinho produzido na França e é, quase que totalmente, (Vinho de Denominação de Origem Controlada)
consumido localmente. A região de origem não é men- Nesta categoria estão os grandes vinhos franceses.
cionada no rótulo. As normas de produção são estabelecidas pelo Institut
“Vin de Pays” ou vinho regional National des Appellations d’Origine (INAO). A AOC pos-
sui regras rígidas de controle e fiscalização, determinando
São vinhos regionais em que as regras de produ- desde as uvas que podem, ou não, ser produzidas na re-
ção são menos rígidas do que nas AOC, especialmen- gião, procedimentos de controle do vinhedo, uvas que
te no que se refere às cepas de uvas que podem ser
podem ser usadas na elaboração dos vinhos, porcentuais
usadas. Existe uma maior liberdade e é aqui que os dos cortes, teores de álcool, etc. Daqui saem a grande
produtores deixam fluir sua criatividade e experimen- maioria dos grandes vinhos da França. São mais de 450
tação na busca de novos vinhos. Apesar de existir muito
diferentes AOC espalhadas por todas as regiões produ-
vinho de baixa qualidade, pode-se encontrar bons pro- toras, respondendo por cerca de 50% da produção nacio-
dutos com esta denominação. Correspondem a cerca nal. A denominação é estampada no rótulo e pode ser
de 30% da produção total.
usada sozinha, ou em conjunto com o nome da região.

Produção Mundial de Vinhos


O mercado mundial de vinhos 1. Itália – 47.700.000 hl (um hectolitro = 100 litros)
2. França – 45.600.000 hl

A França rivaliza com a Itália como maior produtor e com


a Espanha em termos de área plantada. Sua produção
anual alcança cerca de 5.8 bilhões de garrafas. O consumo
3. Espanha – 35.200.000 hl
Consumo Mundial de Vinhos
1. França – 29.900.000 hl
per capita está hoje ao redor de 60 litros anuais, uma signifi- 2. Estados Unidos – 27.300.000 hl
cativa redução em relação aos 150 litros da década de 1950. 3. Itália – 24.500.000 hl
Enquanto o consumo na França vem se reduzindo, na China 4. Alemanha – 20.300.000 hl
está em franca expansão. 5. China – 14.000.000 hl
Superfície de Vinhedos Exportação Mundial de Vinhos
1. Espanha – 1.113.000 ha (hectare) 1. Itália – 18.600.000 hl
2. França – 840.000 ha 2. Espanha – 14.400.000 hl
3. Itália – 818.000 ha 3. França – 12.500.000 hl
4. China – 470.000 ha 4. Austrália – 7.700.000 hl

A Lavoura DEZEMBRO/2011 19

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VINICULTURA

Châteauneuf-du-Pape
produz vinhos de fama mundial
CRISTINA BARAN

Châteauneuf-du-Pape, uma das regiões de terra mais caras da França...

N uma pequena região, no coração da região sul do Rhone,


fica a área de produção de Châteauneuf-du-Pape, en-
tre as cidades de Avignon e Orange. Situada no topo de uma
colina, possui 3.000 hectares de vinhedos. Nesta área o solo
é coberto de pequenas pedras que absorvem calor durante
o dia e aquecem as raízes das videiras de noite, os chama-
dos “galets”. Uma das regiões de terras mais caras na Fran-
CRISTINA BARAN

ça, em Châteauneuf-du-Pape o hectare custa em média o equi-


valente a R$ 1 milhão e as propriedades medem em torno de
5 hectares.
A estória desses vinhedos tem as suas raízes num dos capí-
tulos mais curiosos da História da França, que é a chegada dos
papas à Avignon durante a Idade-Média. Nesta cidade, seis pa-
pas se sucederam ao longo de um período de setenta anos.
Denominação
Em 1929, a denominação de origem, Châteauneuf-du-Pape,
foi sacramentada.
A denominação permite a utilização de 13 tipos de uvas
diferentes para constituir esse vinho. Contudo, nos
“assemblages”, a proporção de uva grenache noir costuma
ser de 80%, sendo complementada em geral pela syrah e a
mourvèdre. As outras variedades são usadas como tempe- ... e as vinhas com as quais são produzidos os vinhos com alto
ro: cinzault, muscardin, vaccarèse, terret noir, picpoul noir, valor no mercado
counoise.
Vale mencionar também as castas brancas que produzem
vinhos, cuja qualidade vem aumentando a cada ano, e cuja A sua cor mais característica é um rubi escuro com refle-
uva dominante é a grenache blanc, seguida pela clairette, a xos granada. Os seus aromas, por tradição, são extremamen-
bourboulenc, a picardan e a roussanne. te sedutores. Entre eles, predominam toques pronunciados
Fama mundial de frutas vermelhas maduras, de especiarias e de ervas aro-
De fama mundial, conhecido pelas suas garrafas amplas e máticas, sempre de grande intensidade.
bojudas, que trazem o selo das armas dos papas estampado No paladar, há equilíbrio entre acidez e álcool, sendo que
no vidro, o Châteauneuf-du-Pape possui grande força e volu- o seu corpo aveludado e volumoso tem um final longo e
me, graças à uva grenache que proporciona a sua consistên- frutado, com um amargor leve e amadeirado.
cia característica de um vinho de guarda. Assim, os seus Para os tintos: mourvedre, grenache, syrah, cinsault,
melhores vinhos podem esperar de 10 a 12 anos até serem counoise, muscardin, vaccarese.
consumidos, alguns dos quais podem ser guardados por até Para os brancos: grenache blanc, bourboulenc, clairette,
25 anos. roussanne, picpoul, picardan.

20 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

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ALGODÃO

Avanços e recordes do algodão no Brasil


SÉRGIO DE MARCO RONALDO SPIRLANDELLI
PRESIDENTE DA ABRAPA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE ALGODÃO PRESIDENTE DA APPA – ASSOCIAÇÃO PAULISTA DOS PRODUTORES DE ALGODÃO
CARLOS RUDINEY

O
setor agropecuário é uma das molas propulsoras da
economia brasileira. Respondendo por quase 1/3 do
nosso PIB (Produto Interno Bruto), compete de igual
para igual com o setor automobilístico e, mais recentemente,
com os empreendimentos imobiliários. Somente nos primeiros
três meses de 2011, a agricultura foi responsável pelo aumen-
to de 1,3% do PIB, e o algodão foi uma das culturas que mais
contribuíram para esta ampliação.
A indústria nacional consome 1 milhão de toneladas/ano de
pluma, e nos primeiros 5 meses de 2011 as vendas estiveram
concentradas basicamente nesse mercado. A safra 2010/2011,
que já começou a ser colhida, deverá abastecer o mercado
externo, prevendo-se novos recordes de exportação, cujo vo-
lume de 2010 esteve próximo de meio milhão de toneladas.
Os números relativos à exportação fizeram com que o Bra-
sil ganhasse destaque entre os outros países que cultivam a
fibra, como China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. E tam-
bém está impulsionando os produtores brasileiros no sentido Com melhoramento genético e maquinário adequado, a área
de fomentar a atuação comercial em Hong Kong e Cingapura, cultivada no Brasil aumentou 66% em 2011
que integram os Tigres Asiáticos. As expectativas são grandes
em relação a esses dois países, e os números a serem alcança-
dos giram em torno de 60 mil toneladas. É mais um grande passo setor industrial, como o desenvolvimento de maquinários agrí-
para os agricultores brasileiros, pois o horizonte continua pro- colas e novas tecnologias, os quais, se agregados corretamen-
missor, haja visto o crescimento de 66% da área plantada, re- te, contribuem para que o processo de colheita e industrializa-
sultando numa safra 74% maior do que a do ano passado, se- ção sejam aperfeiçoados, tanto para o grande, como para o
gundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e médio e para pequeno produtor do algodão.
Estatística (IBGE). Diante destes dois exemplos - esforços em pesquisa e
Esforços em pesquisas avanços da indústria - fica evidente como a fibra é impor-
Este espaço alcançado no cenário nacional e internacional tante para o cenário interno, pois faz com que corporações
corresponde a uma série de esforços em pesquisas. Vale res- de diversos setores participem do processo e comecem a se
saltar ações de entidades como a Embrapa Algodão, os desenvolver também. Evidentemente estas ações são tam-
Institutos Agronômicos de Campinas e do Paraná, o Instituto bém positivas para a geração empregos, seja no campo ou
Mato-Grossense do Algodão, a Fundação de Apoio a Pesquisa e na cidade.
Desenvolvimento do Oeste Baiano e a Fundação Goiás, Cabe-nos refletir como o avanço positivo da cultura algo-
entre outras, que colaboram para o aperfeiçoamento genético dão não se trata de uma ação isolada e que também
da fibra, do cultivo e do controle de pragas, assim como para a não traz frutos e méritos somente para o setor produtivo do
seleção de plantas mais resistentes a doenças. Todas estas ações algodão. Há o envolvimento de toda uma cadeia de empresas e,
se configuram como colaborações relevantes para o produtor portanto, eles são partilhados. E para o crescimento ininter-
de algodão, o qual passa a receber orientações e diretrizes que rupto é preciso que haja continuidade do fortalecimento
culminam na rentabilidade dos negócios. dessa cadeia, seja com pesquisas ou estudos, ou com a ge-
Além destes estímulos ou contribuições das pesquisas para ração de novos negócios, pois isto fará com que o Brasil te-
o progresso do setor, destacamos importantes avanços no nha destaque sempre.

A Lavoura DEZEMBRO/2011 21

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A citricultura brasileira em Anuga 2011
Diretor de Citricultura da Rural, Gastão Crocco, visitou a feira de Anuga,
em Colônia, Alemanha. Considerada a maior do mundo, ela recebeu 6.500 expositores.
A agenda de trabalho também contou com visitas a vários importadores do suco
brasileiro, às grandes cadeias de supermercados do continente e aos terminais da
Citrovita e da Cutrale em portos da Bélgica e da Holanda, respectivamente
GASTÃO CROCCO PAULO SADER
DIRETOR DE CITRICULTURA DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA COLABORADOR DA RURAL E CITRICULTOR

E ntre 8 e 12 de outubro, aconteceu em Colô-


nia, Alemanha, a Feira de Anuga. O evento é
o maior do gênero alimentício no mundo e é re-
o diretor Paulo Celso Biasioli, a FGV/MB Associ-
ados, com Roberto Perosa e a Cutrale, com seu
Diretor Corporativo Carlos Viacava.
substituição desses produtos rapidamente ul-
trapassados, em primeiro lugar, por bebidas
energéticas e isotônicos, que vendem quase 17
alizado a cada dois anos. Apresentaram-se cer- A agenda de trabalho também contou com bilhões de litros/ano, com crescimento médio
ca de 6.500 expositores de diversos países, visitas a vários importadores do suco brasilei- de 7,1% a.a., de 2004 a 2010***. Nos últimos dois
compradores e vendedores. ro, às grandes cadeias de supermercados do anos, enquanto o consumo de refrigerantes
A fim de mostrar e vender produtos da ca- continente e aos terminais da Citrovita e da cresceu 2 bilhões de litros, o de sucos caiu 71
deia produtiva, a participação da Citrovita, Cutrale em portos da Bélgica e da Holanda, res- milhões.
Citrosuco e Dreyfus como expositores - com pectivamente. O consumo de FCOJ 100% natural é o que
estandes - foi especialmente interessante para A satisfação dos europeus em receber, de apresenta maior queda. Dentre outros fatores,
a citricultura nacional. Além disso, a Cutrale re- modo inédito, uma comitiva organizada com em função da concorrência acirrada de produ-
cebeu clientes e convidados paralelamente à representantes de produtores do Brasil foi evi- tos com marketing de intenso apelo à diversão
feira. dente e se manifestou na franqueza das consi- e esportividade, cujas embalagens diferencia-
Como está em curso a negociação de novo derações e respostas dadas aos questionamen- das atraem os segmentos infantil e jovem. O
padrão de relacionamento e negócios entre os tos elaborados pelo grupo e por produtores con- NFC tem condição mais vantajosa em relação
elos da cadeia produtiva - o Consecitrus - a So- sultados pela Rural, antes da partida. Foi a for- ao concentrado e é com ele que se fazem as
ciedade Rural Brasileira (SRB) entendeu ser na- ma que a Rural encontrou de ampliar a partici- guerras promocionais nas gôndolas dos super-
tural e importante que o setor agrícola buscas- pação e incluir os que não puderam viajar. Os mercados.
se conhecer, com profundidade, todo o trajeto brasileiros expuseram preocupação em relação No caso do NFC, o principal concorrente
que perfaz a laranja brasileira, dos pomares até aos custos de produção, à necessidade de apro- do Brasil no mercado europeu é a Espanha. A for-
o consumidor final. Pensando nisso, a Rural pre- ximar os elos da cadeia produtiva na busca de ça de sua concorrência deve-se à pequena dis-
parou-se para visitar a Anuga 2011 e fazer con- eficiência e remuneração equilibrada para to- tância dos mercados consumidores e do curto
tatos com os principais agentes do mercado de dos, e as impressões colhidas foram as que se- lapso entre a colheita e a mesa do consumidor,
suco de laranja no mundo, de modo a extrair guem abaixo. contado em poucas horas. A qualidade deste
informações valiosas que possam orientar as O mercado e a concorrência – O suco de produto, embora bastante inferior ao que ofe-
negociações de criação do futuro conselho. laranja tornou-se um produto velho, ou desa- recemos, não parece incomodar o consumidor,
Além da Rural, representada pela diretoria tualizado. O consumo de bebidas cresce com a uma vez que seu consumo cresce em detrimen-
de Citricultura, estiveram em atividades con-
juntas a Faesp, com seu diretor Marco Antonio A notícia de que os produtores rurais têm
dos Santos; a CitrusBR, representada por seu sofrido fortes pressões de custos não se
presidente Christian Lohbauer e o Coordena- configurou novidade para os engarrafadores,
dor do Consecitrus, João de Almeida Sampaio. que já há cinco anos sentem essa influência
Estiveram com o grupo, também, a Alicitrus, com

DIVULGAÇÃO / SRB

22 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-22-24-SRB.pmd 22 4/11/2011, 09:35


to do nosso. res aos engarrafadores.

DIVULGAÇÃO / SRB
Entre os sucos, o de maçã, produ- A guerra de preços e o marketing
zido em larga escala na Polônia e na Chi- agressivo parecem ter contribuído para
na, é o principal concorrente da laran- a aceleração do “envelhecimento” do
ja. São os dois “sucos base” utilizados suco de laranja puro, concentrado ou
para misturas. Na lógica de mercado, o não, que vai sendo ultrapassado por uma
que estiver mais barato terá preferên- série impressionante de bebidas de
cia no mix. No momento, o suco de maçã baixíssimo teor de suco, embaladas em
vem acompanhando a alta da laranja. frascos coloridos, sem clareza a respei-
Aliás, nos últimos 5 anos, a alta de pre- to das características do conteúdo ou
ços das frutas em geral tem deixado os de sua origem e que atendem a um pú-
engarrafadores e supermercados sem blico sem muita condição de avaliação
muita referência de preço. Desta for- crítica sobre o que está bebendo como,
ma, os contratos de fornecimento fe- por exemplo, o kit lanche (pequenas em-
chados têm sido de curto prazo, um ano. balagens) vendido e promovido em su-
Do ponto de vista da distribuição, permercados ingleses.
os engarrafadores têm sofrido forte Como se negocia – O suco não é
pressão das grandes cadeias varejis- armazenado pela indústria nacional na
tas/supermercados que vendem cada Europa, apenas nas fábricas no Brasil,
vez mais produtos com marca própria segundo as conversas na ocasião. Há
em vez de comercializarem as marcas uma estocagem mínima e breve para
tradicionais que receberam anos e mi- distribuição aos engarrafadores.
lhões de investimentos em logística e Quando os preços estão altos,
marketing. Os produtos de marca pró- como no momento, US$ 2.700,00/ t, o
pria dos supermercados vendem-se em comprador adquire em contratos de
giro rápido a preços inferiores aos das curto prazo, “da mão para a boca”,
marcas dos engarrafadores. Com as com preços fixos, nunca renegociáveis.
margens caindo, os engarrafadores Quando há queda muito expressiva de
substituem seus produtos adaptando- preço, maior do que US$ 200,00/t,
os para não perder mercado. ocorre do comprador suspender a com-
O que se observa, na ponta do con- “O consumo de bebidas cresce, mas com a substituição pra de longo prazo, no que é, em geral,
sumo, portanto, são duas guerras: uma pelos energéticos e isotônicos, que vendem quase 17 atendido pela indústria que procura
bilhões de litros/ano”, ressalta Crocco
de preços e promoções em que o renegociar a entrega mais à frente.
engarrafador tem de reduzir constan- As grandes cadeias varejistas, por
temente suas margens para manter mercado e vendas de orgânicos ou produtos com apelo de sua vez, negociam volumes certos de entrega.
não inviabilizar seu próprio negócio; outra en- sustentabilidade. Não há identificação de ori- Se os preços estão altos elas reduzem ou suspen-
tre as bebidas mix, que levam cada vez mais gem. No máximo vê-se estampado um “suco tipo dem as compras, colocando outras bebidas nas
água e outras frutas na composição. Essas guer- Florida”, por exemplo. Neste quesito, muitos prateleiras. Os engarrafadores, por seu turno,
ras são alimentadas pelas barreiras psicológi- engarrafadores veem como positivo o apelo de estão obrigados a suspender, também, suas com-
cas de preço que imperam entre os consumido- origem brasileira como tática de marketing. pras, fazendo com que a indústria a estoque ou
res finais. Entre a infinidade de produtos que Para os intermediários europeus importa baixe preços. Os movimentos dos varejistas e
pretendem atender a este consumidor sensível que haja um bom relacionamento ao longo da dos engarrafadores são sentidos durante a sa-
ao preço estão muitos cuja composição apre- cadeia produtiva, mas os efeitos da concentra- fra no Brasil, principalmente quando eles pedem
senta até 2% de suco natural. ção sobre os produtores não são considerados um suco com característica especial como mai-
Os novos mercados – O consumo de suco por eles quando se mencionou o alto grau de con- or ou menor acidez.Ao negociar suas compras,
de laranja no Leste Europeu ainda é muito bai- centração de poder econômico das indústrias todos os engarrafadores dizem consultar os pre-
xo e vem sendo afetado pela crise econômica. produtoras de suco e seu impacto sobre os elos ços das quatro grandes indústrias, sem usar qual-
Na China o consumo é crescente, mas o que estão do lado de dentro da porteira. quer outra referência, alegando, ainda, que não
carro chefe na preferência do consumidor é o A visão dos engarrafadores europeus – há correlação entre os preços da Bolsa em Nova
“Pulpy”, com baixíssimo teor de suco embora A visita de produtores, considerada muito posi- York e o que se pratica na Europa, posto que a
com grande quantidade de polpa. Este produto tiva por todos, reforçou a noção de que a alta Bolsa carrega preços afetados por especuladores
é destaque da Coca Cola no país asiático, onde dos preços do suco nos últimos anos é estrutu- e grandes investidores, tais como fundos de pen-
foi lançado em 2005, e foi responsável por fa- ral. A notícia de que aqueles, nas propriedades são, que distorcem o mercado.
zer do Minute Maid Pulpy o terceiro braço de rurais, têm sofrido fortes pressões de custos, Por fim, a questão formulada com intenção
US$ 1 bilhão da companhia. Em todo caso, o não se configurou novidade para os de ajudar na elaboração do CONSECITRUS: os
baixo uso de suco na fórmula produz pouco im- engarrafadores que já há cinco anos sentem a engarrafadores estariam dispostos a criar um
pacto nas exportações brasileiras. No Japão, o pressão, não só da laranja, mas das frutas em índice em que, preservando a identidade das
consumo está estagnado há anos e já foi alcan- geral. Tal fato é atribuído a um conjunto de pro- partes, seriam abertos os valores negociados
çado pelos chineses (80 mil ton/ano). blemas cambiais, fitossanitários e climáticos. em suas compras de suco? A resposta foi nega-
As novas tendências mercadológicas – O consumidor não está disposto, contudo, tiva em face de limitações empresariais e legais
Os operadores do mercado parecem conserva- a pagar preços altos e tem um constante inte- para a divulgação destes dados, por causa do
dores e tradicionais no que diz respeito à influ- resse por novidades. O comprador tradicional risco de alterar de modo significativo o funcio-
ência das tendências e das grandes causas am- de suco FCOJ vem substituindo suas compras namento do mercado.
bientais e sociais sobre o consumo de suco de por NFC, experimentando, aos poucos, as mar- ***Fonte: Markestrat a partir de Tetra Pak e
laranja: fundamental é o preço! cas próprias dos varejistas, cujos preços são Euromonitor
Ninguém parece apostar no incremento das mais baixos e impõem margens de ganho meno-

A Lavoura DEZEMBRO/2011 23

!ALAV687-22-24-SRB.pmd 23 4/11/2011, 09:35


Ministro Mendes Ribeiro Filho Tela da Rural será
visita a Sociedade Rural Brasileira exposta no maior festival
de artes da Europa
RENATO PONZIO/SRB

SILVIA PALHARES/SRB
O presidente da SRB, Cesário Ramalho (esq) recebe o ministro da Agricultura
Mendes Ribeiro

N o dia 3 de outubro, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abaste-


cimento, Mendes Ribeiro Filho, participou, na sede da Socieda-
de Rural Brasileira, de um almoço-reunião com o presidente da enti-
dade Cesário Ramalho da Silva e as principais lideranças do agronegó-
cio nacional.
A sede da Rural tem um vasto e rico acervo, que narra a história da agricultura
Na abertura do encontro, Cesário Ramalho enfatizou que a pre- e pecuária no Brasil. Os destaques são a biblioteca com milhares de obras,
sença do ministro na “Casa da Agricultura Brasileira”, valoriza e muitas do começo do século XX, e os quadros dos pintores paisagistas Antonio
apoia o setor que é formado pelo pequeno, médio e grande pro- Ferrigno, Rosalbino Santoro e Oscar Pereira da Silva
dutor. Destacou, também, que a presidente Dilma Rousseff tem
feito um trabalho de sinergia que vai ao encontro das causas prin-
cipais do agro brasileiro, a exemplo das novas medidas de apoio
contidas no Plano Safra 2011/2012.
O Brasil será homenageado no maior festival de artes da
Europa, a Europalia. Nesta 23ª edição, serão apresen-
tados 130 shows, 60 apresentações de dança e 40 de tea-
Em nome da agropecuária nacional, o presidente da Rural pe- tro, 20 exposições de artes visuais e 90 palestras e confe-
diu a Mendes Ribeiro que olhasse com atenção para algumas ques- rências literárias em cinco países: Bélgica, Luxemburgo,
tões que atrapalham o desenvolvimento e o crescimento do se- França, Alemanha e Holanda. O evento iniciou em outubro
tor: “O novo Código Florestal, no qual estamos trabalhando há deste ano e segue até fevereiro de 2012.
quase dois anos, e entendemos que deve ser aprovado ainda este Um dos quadros que embarcarão para a Europa é “A
ano. A segunda questão que perturba o nosso setor e que está Florada do Café”, do italiano Antônio Ferrigno (1863 - 1940),
inibindo investimentos importantes é o da regulamentação da venda que pertence ao centenário acervo da Sociedade Rural Bra-
de terras para estrangeiros”. sileira. Discípulo da Scuola di Maiori (Itália/ 1863 - 1920),
Durante seu discurso, Mendes Ribeiro salientou que não en- Ferrigno morou em São Paulo por 12 anos, de 1893 a 1905.
tende a razão de a agricultura não ter a importância da qual é Nesse período, reproduziu paisagens paulistanas, do inte-
digna no dia-a-dia dos brasileiros. E, esclareceu, que “se eu te- rior e do litoral.
nho alguma coisa que fazer na agricultura é emprestar minha ex- Por ter retratado diversas fazendas de café, a pedido
periência política para o reconhecimento do setor, o seu fortale- dos proprietários que queriam fixá-las em telas, ficou co-
cimento, para que as pessoas possam perceber que ao ajudarmos nhecido como o “pintor do café”. Um de seus trabalhos
a agricultura, ela vai ajudar o Brasil”. mais conhecidos é a série de seis telas sobre a atividade
O ministro da Agricultura finalisou ressaltando que “queremos cafeeira, que ele pintou na Fazenda Santa Gertrudes, loca-
ser, até a metade de 2013, um país livre de aftosa, mas para isso há lizada no atual município de Santa Gertrudes/SP e de pro-
que se ter o comprometimento e a disposição dos estados e mu- priedade de um dos fundadores e ex-presidente da Rural,
nicípios, dos integrantes da cadeia, e a participação concreta da Conde de Prates.
iniciativa privada”. As seis telas que compõe a série – A Florada, A Colheita,
Sobre os pedidos do presidente da Rural, Mendes Ribeiro co- Lavadouro, O Terreiro, Ensacamento do Café e Café para a
mentou que tem o novo Código Florestal como objetivo, bem como Estação – foram enviadas pelo governo brasileiro à famosa
a definição da AGU em relação a terras para estrangeiros. Outra Exposição Universal de Saint Louis (EUA), em 1903, e será
prioridade apontada pelo ministro é a construção, junto de sua uma delas que voltará a encantar o mundo 108 anos depois.
equipe, de um seguro de renda para os produtores. RENATO PONZIO

SILVIA PALHARES E RENATO PONZIO

Sociedade Rural Brasileira


Rua Formosa, 367, 19O andar – Anhangabaú - Centro
CEP 01049-000- São Paulo – SP
Tel: (11) 3123-0666 – Fax: (11) 3223-1780
www.srb.org.br
Jornalista Responsável: Silvia Palhares – silviapalhares@srb.org.br
Corredator: Renato Ponzio

24 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

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Carta da S O B R A P A
S O C I E D A D E B R A S I L E I R A D E P R O T E Ç Ã O A M B I E N TAL

Um futuro sombrio
O notável sucesso do agronegócio brasileiro pode ser Bacia do Amazonas .............................. 88%
comprovado por ter sido capaz de suprir as necessidades Bacia do Tocantins ................................ 83%
alimentares decorrentes do acréscimo da população na- Bacia do Paraguai ................................ 68%
cional havido nos últimos 60 anos, da ordem de 140 mi- Bacia do Paraná .................................... 80%
lhões de pessoas, além de permitir ao País tornar-se atu- Bacia do Parnaíba ................................ 69%
almente um grande exportador de alimentos. Grãos e Bacia do S. Francisco ........................... 73%
carnes, juntamente com minérios, formam hoje a maior Outros rios da Região Sul .................... 95%
parte da base de nossa receita de exportação, a ser pro-
vavelmente reforçada dentro de algum tempo pelo petró- Embora se reconheça que o estudo é apenas uma pri-
leo do pré-sal. Grande parte da indústria brasileira, em meira abordagem do tema, constata-se que todas as baci-
especial a de manufaturados, tornou-se pouco ou não com- as pesquisadas evidenciam tendência para diminuição de
petitiva, prejudicada que foi pelas exportações agressivas fluxo, decorrente de redução das precipitações e do aumen-
dos países asiáticos, notadamente a China, nos quais o to da evapotranspiração, acentuada esta pela maior tem-
baixo custo da mão-de-obra os torna imbatíveis, peratura do planeta. Serão especialmente afetadas as ba-
vulnerabilidade essa à qual se acrescem a vigência de cias do Nordeste e do Centro-oeste, enquanto as do Sul
nossa legislação trabalhista e tributária complexa e ul- sofrerão menor alteração. No período seguinte, de 2041-
trapassada, a carência crônica de vias de transporte mo- 2100, as previsões ainda mais se agravam; na bacia do S.
dernas e eficientes, e todos os demais problemas do “cus- Francisco, por exemplo, no final do Século, o fluxo poderá
to Brasil”. reduzir-se para 43%, passando toda a região a ter clima
Assim, tudo leva a crer que, embora seja indesejável, semiárido. Assim, vale ponderar sobre as consequênci-
nossa receita de moedas estrangeiras continuará por lon- as para os cultivos irrigados ao longo do rio e para o
go tempo baseada na exportação de produtos primários, polêmico e caríssimo Projeto de Transposição, hoje em
com destaque naqueles derivados do labor nos campos. E andamento.
isto dependerá de forma crucial dos impactos das mudan- Claro está que as reduções de fluxo não serão rigida-
ças climáticas e de sua evolução. mente proporcionais a menores índices de precipitação
Os cenários futuros das alterações de clima já em cur- hídrica posto que, com o aumento de temperatura e, con-
so ainda são precários, mas mesmo assim precisam ser sequentemente, incremento da evapotranspiração, em al-
considerados com muito cuidado pelos agricultores e guns casos poderá haver diminuição de fluxo de alguns rios
pecuaristas, e o que já se pode prever justifica graves pre- mesmo sem haver redução de chuvas. Há também a reco-
ocupações. nhecer que as previsões se baseiam em modelos matemá-
Estudo elaborado em 2008 – e revisto em 2009 – por ticos e que estes são passíveis de alterações e de aperfei-
equipe da Fundação Brasileira para o Desenvolvimen- çoamento, afetando as previsões. Uma das recomendações
to Sustentável (FBDS), denominado Economia das do estudo é justamente que futuras versões sejam
Mudanças Climáticas no Brasil – Estimativas das efetuadas, mediante constante aperfeiçoamento desses
Ofertas de Recursos Hídricos no Brasil em Cenários modelos.
Futuros de Clima 2015-2100, com base em dados con- Contudo, mesmo com tantas incertezas, seria pruden-
tidos em 15 diferentes cenários, levou a conclusões te levar em conta que, em decorrência das mudanças cli-
merecedoras de considerações com profunda serieda- máticas, cuja realidade já não mais pode ser negada, há
de. Ele é longo e complicado, mas adiante menciona- clara tendência de agravamento das condições hídricas no
se parte de seus resultados e recomendações. Uma das País e, por óbvio, as atividades agrícolas deverão preparar-
mais significativas dessas conclusões diz respeito à se para uma provável redução da disponibilidade de água.
variação do fluxo das principais bacias hidrográficas Nesta oportunidade, lembre-se que, justamente quan-
do País, intimamente ligado às variações de precipi- do esse cenário sombrio se vislumbra, as alterações propos-
tações hídricas. tas no novo Código Florestal favorecem redução de flores-
Considerando como base de referência (100%) as tas, indispensáveis para a alimentação das bacias e dos
médias dos fluxos das diferentes bacias no período de aquíferos.
1961-1990, abaixo são indicados os respectivos futu-
ros valores percentuais previstos para o período 2011- Ibsen de Gusmão Câmara
2040: Presidente

A Lavoura DEZEMBRO/2011 25

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SOBRAPA
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Citações Os peixes e a floresta


A imprensa atribuiu o seguinte pensamento ao Dr. Britaldo Já se sabia que alguns peixes amazônicos comedores de
Silveira Soares Filho, professor do Instituto de Geociências da frutos são importantes na distribuição de sementes e no
Universidade de Minas Gerais, que, dentre outros temas de consequente rejuvenescimento da floresta, mas pesquisas re-
pesquisa, atua em análise e modelagem de Sistemas Ambien- centes permitiram melhor avaliar seu verdadeiro papel nesta
tais e em Meteorologia Agrícola, e desenvolve modelos mate- função ecológica.
máticos de mudanças no uso e na cobertura do solo: A pesquisadora Jill Anderson, da Universidade de Duke,
North Carolina, e sua equipe instalaram radiotransmissores
“O País precisa parar de ver as áreas protegidas como cus- em 24 tambaquis (Colossoma macropomum) durante três chei-
to e enxergá-las como um investimento para garantir equilíbrio as na região e monitoraram o tempo que os peixes mantinham
climático, chuvas e produção agrícola (...) O Brasil dá uma ingeridas as sementes. Os dados obtidos indicaram que as se-
contribuição para o mundo com suas florestas; isto precisa ser mentes podem ser carregadas até 5,5 km, uma das maiores
reconhecido e apoiado.” distâncias conhecidas para animais que dispersam sementes.
Uma vez expelidas em águas rasas, elas germinam quando as
Essas observações são extremamente oportunas numa oca- águas refluem e ajudam a reflorestar as margens dos rios.
sião em que muitos, sem os conhecimentos necessários, defen- A pesca excessiva dos tambaquis de grande tamanho, no
dem mudanças do Código Florestal para reduzir as áreas com entanto, pode estar comprometendo esse meio natural de dis-
florestas nas reservas legais, em margens de rios e nos terre- persão de sementes, de considerável importância para a ma-
nos acidentados, sem atentar para o que preceitua o conheci- nutenção e regeneração das florestas ripárias da região.
mento científico. Outro peixe amazônico comprovadamente responsável por
dispersão de sementes na Amazônia é o cachorro-de-padre
Natureza em perigo (Auchenipterihthys longimanus), segundo foi constatado por
Um dos mais conhecidos produtos extraídos das flo- pesquisa realizada na Universidade Federal do Pará, financi-
restas nativas é a castanha-do-pará, semente da casta- ada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
nheira (Bertholletia excelsa), ou castanheira-do-pará, Fonte: Nature 31-03-2011 e Ciência Hoje 01-06-2011
árvore da Família Lecythidaceae e única espécie do gê-
nero. O fruto da castanheira é uma cápsula lenhosa ex- Costa Rica cria enorme parque marinho
tremamente dura e aproximadamente esférica, com 10 A pequena Costa Rica, reconhecida como um dos países
a 15 centímetros de diâmetro, provida de uma abertura mais preocupados com a conservação de sua flora e fauna,
com uma espécie de tampa; as castanhas se desenvolvem expandiu uma área marinha já protegida no Pacífico para cerca
arrumadas dentro dessa cápsula. Quando os frutos ama- de um milhão de hectares.
durecem e caem, alguns roedores, especialmente as Centrada na ilha de Cocos, que se situa a 550 km do con-
cotias, roem a tampa e liberam as sementes, comendo tinente, e denominada Área de Manejo dos Montes Subma-
parte delas e enterrando as demais, que assim germinam rinos, a nova reserva é rica em tartarugas-de-couro
e regeneram a planta. (Dermochelys coreacea), hoje fortemente ameaçadas de
As castanheiras são polinizadas somente por um tipo de extinção, e em tubarões-martelos, bem como outros tipos de
abelha, que por sua vez depende para sua reprodução de de- tubarões, atuns e espécies endêmicas, agora completamente
terminada orquídea. Dessa forma, a regeneração das casta- protegidas nas áreas de exclusão de pesca recentemente cri-
nheiras é condicionada à existência dessas abelhas e da orquí- adas. O número das tartarugas-de-couro havia caído 40% na
dea, num encadeamento ecológico extremamente interessan- região, em virtude principalmente da coleta de seus ovos, e
te, mas que constitui uma vulnerabilidade para a existência os tubarões-martelos também se encontram em acentuado
da espécie. declínio devido às capturas visando à exportação de suas
As castanheiras são árvores monumentais, encon- nadadeiras para o Oriente.
tradas dispersas nas florestas de terra firme da Ama- Segundo um representante da ONG Conservation
zônia, e são nativas das Guianas, Venezuela, Brasil e International, que ajudou Costa Rica na criação da Área Ma-
parte leste da Bolívia e do Peru. No Brasil, existem no rinha Protegida, ela contribuirá fortemente para conservar o
Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará ecossistema único das montanhas submarinas existentes na
e Rondônia, mas devido aos extensos desmatamentos região.
vêm-se tornando muito raras em vastas regiões do País, É auspicioso constatar-se que a criação de Áreas Mari-
embora estejam supostamente protegidas pela legisla- nhas Protegidas de grande extensão é uma forte tendência
ção. Hoje, a árvore somente é relativamente comum no em várias regiões do globo. Somente neste século, já foram
Suriname, Bolívia e Acre. Apesar de seu nome popular, criadas as seguintes: Monumento Nacional Marinho
atualmente metade da produção total da castanha-do- Papaanaumokuakea (2006, EUA, 360.000 km2), Área Ma-
pará vem da Bolívia. Sabe-se da existência de planti- rinha Protegida Ilhas Phoenix (2008, Kiribati, 408.250 km2),
os, em pequena escala, pelo menos no estado do Acre, Monumento Nacional Marinho Fossa das Marianas (2009,
mas a quase totalidade da produção de castanhas pro- EUA, 246.608 km2), Monumento Nacional Marinho Ilhas
vém das florestas nativas. Remotas do Pacífico (2009, EUA, 210.000 km2), Área Mari-
A castanheira é considerada ameaçada de extinção e clas- nha Protegida Ilhas Príncipe Edward (2009, África do Sul,
sificada na categoria de “Vulnerável”, tanto na lista oficial 180.633 km2), Área Marinha Protegida Chagos (2010, Ter-
brasileira quanto na da IUCN. ritório Britânico do Oceano Índico, 544.000 km2) e Parque

26 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

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Marinho Motu Motiro Hiva (2010, Chile, 150.000 km2). Aumenta a quantidade de carbono na
Encontram-se propostas ou em planejamento: Reserva atmosfera
Marinha da Comunidade Britânica Comer Sudoeste (Pro-
No decorrer de 2010, o carbono atmosférico originado pe-
posta para 2011, Austrália, 322.000 km2), Área Marinha
las atividades humanas alcançou o nível recorde de 30,6 bilhões
Protegida das Ilhas Cook (1.000.000 km2) e Área Marinha
de toneladas, de acordo com estimativas divulgadas pela
Protegida em águas internacionais no Mar de Sargaços
Agência Internacional de Energia, em maio último. Esse to-
(? 5.000.000 km2).
tal é superior em 5% ao recorde anterior, estabelecido em
À vista desses exemplos, quando o Brasil, que se com-
2008. Em 2009, devido à crise econômica mundial, havia ocor-
prometeu internacionalmente a proteger 10% de suas águas
rido uma pequena queda .
jurisdicionais, vai envolver-se nesse esforço de proteger a vida
Verifica-se portanto que, apesar das repetidas advertências e
marinha?
conferências internacionais sobre aquecimento global, a economia
Fonte:Science 11-03-20 e MPA News
mundial continua desprezando-as e aumentando as emissões de
As florestas do mundo CO2, o mais importante gás do efeito estufa. A situação asseme-
lha-se à de um carro que, aproximando-se de um precipício, con-
Levantamento realizado pela FAO em 2010, abrangendo
tinuasse a acelerar o motor ao invés de usar os freios.
233 países , indicou que existem no mundo um pouco mais de
Outros dados podem ser obtidos no endereço eletrônico
quatro bilhões de hectares de florestas, representando cerca
go.nature.com/rtgd7f.
de 30% das terras do planeta, o que corresponde a aproxima-
damente 0,6 hectares por habitante humano. Rússia, Brasil, A importância dos insetos
Estados Unidos da América, Canadá e China possuem mais Segundo informação divulgada pelas Nações Unidas e
de metade da área total de florestas. publicada na edição de 18-03-2011 da revista Science, a con-
Embora 30% das terras do planeta seja uma extensão con- tribuição dos insetos para a produção anual de alimentos,
siderável, é necessário levar em conta que a FAO define como consequente de sua ação como polinizadores, corresponde a 153
floresta quaisquer terras abrangendo mais de meio hectare, bilhões de euros. O informe decorreu de um estudo em que se
dotadas de vegetação com altura superior a cinco metros e uma examinou o fenômeno de diminuição das abelhas em muitas
cobertura de copa superior a dez por cento, ou de árvores com regiões do mundo e suas conseqüências para a agricultura. Não
capacidade de atingir esta altura in situ. Assim, plantações foram indicados os parâmetros utilizados para chegar-se a tal
homogêneas de árvores para fins comerciais podem ser inclu- montante.
ídas na área total de florestas indicadas acima. Embora elas Essa notícia faz lembrar que as diferentes espécies de abe-
contribuam com a efetivação de alguns serviços ambientais lhas nativas sem ferrão, existentes nos nossos ambientes na-
prestados pelas florestas naturais, pouco significam em termos turais, estão em processo de acentuada redução em muitas
de preservação da diversidade biológica. regiões em virtude do desmatamento. Se outras razões não
Fonte: FAO, 2010. Global Forest Resources Assessment. Forestry Paper 163. houvesse, isto bastaria para justificar a preservação de áreas
com vegetação nativa próximas aos cultivos.
Pesca destrutiva
Segundo constatou um estudo patrocinado pela prestigio- Como se distribui a energia usada pelo
sa Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, em homem
inglês), a pesca desordenada não apenas dizimou as popula- Em 2008, a energia total usada pelo homem para todos os
ções de várias espécies, tais como bacalhaus e atuns, mas tam- fins derivou de fontes muito díspares. A queima de combustí-
bém alterou drasticamente a constituição da biomassa nos veis fósseis correspondeu, em conjunto, a 85,1%, distribuídos
oceanos do mundo. da seguinte forma: petróleo – 34.6%, carvão - 28,4% e gás –
Uma equipe da Universidade da Colúmbia Britânica, do 22,1%. A energia nuclear contribuiu com apenas 2,0% e aque-
Canadá, analisou os modelos matemáticos de mais de 200 las ditas renováveis, com 12,9%. No entanto, se excluirmos
cadeias alimentares marinhas em torno do mundo, abrangendo destas o uso tradicional de biomassa (6,3%), as demais formas
o período de 1880 a 2007, avaliou a distribuição de biomassa de energia renovável ficariam com apenas 6,6% do total, as-
nesses ecossistemas e extrapolou os resultados para todos os sim repartidas: biomassa não tradicional – 3,9%,
oceanos. O resultado evidenciou dados alarmantes: a biomassa hidroeletricidade – 2,3%, energia eólica – 0,2%, energia solar
total de peixes predadores – como, dentre outros, os atuns - e geotérmica – cada uma com 0,1%, e energia oceânica –
despencou em mais de dois terços nos últimos cem anos, sen- 0,002%.
do que 40% somente desde a década dos anos 70, enquanto que Esses números mostram que os combustíveis fósseis – res-
a biomassa de suas presas, tais como sardinhas e afins, aumen- ponsáveis pela maior parte do efeito estufa - geraram mais de
tou globalmente cerca de 130%, a despeito de reduções regio- quatro quintos da energia total utilizada em 2008 e, assim,
nais. evidenciam a enorme dificuldade para serem substituídas, em
A conclusão é que hoje temos um oceano diferente, no qual curto prazo, as fontes produtoras do carbono atmosférico. No
o desequilíbrio nas cadeias alimentares não é saudável nem que pesem as ameaças do aquecimento global, em todos os
sustentável. Mesmo que novos procedimentos de pesca susten- cenários imaginados como viáveis os combustíveis fósseis con-
tável sejam adotados mundialmente – algo improvável – não tinuarão a ter um papel importante nas próximas décadas, a
poderemos prever quais serão as futuras condições de equilí- não ser que se reduza substancialmente o uso de energia, o que
brio a serem atingidas com a evolução dos ecossistemas hoje levaria nosso tipo de civilização ao colapso.
afetados. Qual, então, poderá ser a saída?
Fonte: Science, 25-02-2011 Fonte dos dados numéricos: Nature 12-05-2011

A Lavoura DEZEMBRO/2011 27

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SOBRAPA
S O C I E D A D E B R A S I L E I R A D E P R O T E Ç Ã O A M B I E N TAL

Geologistas debatem se devemos criar A Usina de Tapajara, prevista no PAC, dependia da alte-
uma nova época para marcar a atuação ração dos limites do P.N. Campos Amazônicos, e está prevista
humana no planeta para gerar 350 megawatts. O Parque perdeu 340 km2, mas foi
compensado por um aumento de 1.500 km2. O P.N. da Amazô-
O tempo geológico é dividido em eóns, eras, períodos e
nia e o P.N. Mapinguari perderam respectivamente 70 km2 e
épocas, separadas por fatos geológicos ou biológicos que as
280 km2, com a justificativa de que antes haviam recebido
distinguem e deixam marcas nos sedimentos. Desde 11.700
ampliações.
anos atrás, quando se convencionou o fim da última
Embora, no caso, as alterações de limites tenham sido
glaciação, vivemos na época denominada Holoceno. Contu-
compensadas com acréscimos, o precedente é perigoso
do, os profundos impactos causados pela atuação humana
porque o princípio de perpetuidade foi negligenciado. Se
sobre o planeta estão levando alguns geólogos a proporem
for reduzido o território já estabelecido, mesmo compen-
o início de uma nova época, que seria denominada
sando a perda com inclusão de outra área, o ecossistema
Antropoceno. Esta denominação, sugerida no ano 2000, ain-
sofrerá. Parques Nacionais podem receber acréscimos,
da não está formalmente aceita, mas já vem sendo usada
mas não devem estar trocando de lugar. Além disto, o
repetidamente.
desrespeito à inviolabilidade serve de exemplo para ou-
Alguns acham a idéia prematura, ou mesmo sem sen-
tros casos futuros, em que compensações sejam ignora-
tido, mas outros a defendem, uma vez que a presença hu-
das.
mana evidentemente está deixando marcas muito profun-
Lamentavelmente, o descaso flagrante com as unida-
das em todo o globo. A produção de alimentos, a urbaniza-
des de conservação e a falta de compreensão de sua enor-
ção e outras formas de utilização dos espaços já alteraram
me importância biológica vêm motivando disputas entre
mais de metade das terras não cobertas pelo gelo. A movi-
ambientalistas e ruralistas. Recentemente o deputado
mentação do solo e das rochas já ultrapassou em volume
federal Moreira Mendes (PPS-RO) propôs uma “grande
os efeitos das alterações naturais, tais como erosão e
campanha” para que novas unidades só sejam criadas
vulcanismo. Espera-se que no final deste século, devido às
com autorização do Congresso Nacional. Se for aceita a
maciças emissões de dióxido de carbono, a acidez devida
estapafúrdia proposta, com a “eficiência” conhecida do
ao CO2 tenha alterado em 0,3 a 0,4 pontos o pH da água
nosso Congresso, o Brasil não cumprirá os compromis-
do mar, afetando significativamente a composição dos se-
sos assumidos por ocasião da Conferência de Nagoya
dimentos oceânicos.
para ampliar suas áreas naturais protegidas, uma ten-
Seja como for, o estabelecimento de uma nova época
dência mundial em um mundo cada vez mais
vai depender de sua aceitação e oficialização pela Comis-
antropizado.
são Internacional de Estratigrafia, mas, de qualquer
forma, aceita ou não a ideia, é indiscutível que a passa-
gem do homem sobre a Terra, dure ela quanto durar,
deixará uma impressão indelével.

Perigoso precedente
Os Parques Nacionais são uma das mais rígidas cate-
gorias das áreas naturais protegidas, conhecidas oficial-
mente no Brasil como Unidades de Conservação. Sua ra-
SOBRAPA
zão de ser é proteger áreas onde o impacto humano seja o
Sociedade Brasileira de Proteção Ambiental
menor possível, de modo a permitir que nelas a natureza
siga seu curso, viabilizando a sobrevivência dos CONSELHO DIRETOR
ecossistemas em sua integridade. Para isto, é indispensá-
vel que seus limites sejam mantidos imutáveis. A criação PRESIDENTE
Ibsen de Gusmão Câmara
das Unidades de Conservação é prevista na Constituição
Federal, que determina em seu Artigo 225 a definição, em DIRETORES
todas as unidades da Federação, de “...espaços territoriais Maria Colares Felipe da Conceição
e seus componentes a serem especialmente protegidos, sen- Olympio Faissol Pinto
do a alteração e a supressão permitidas somente através de Cecília Beatriz Veiga Soares
lei...” . A verdadeira razão de ser das Unidades de Conser- Malena Barreto
Flávio Miragaia Perri
vação é constituírem bancos genéticos, onde a diversidade
Elton Leme Filho
da vida seja preservada em perpetuidade.
Em agosto de 2011, porém, a Presidente Dilma, por Me- CONSELHO FISCAL
dida Provisória, alterou a demarcação dos denominados Luiz Carlos dos Santos
Parques Nacionais da Amazônia, Campos Amazônicos e Ricardo Cravo Albin
Mapinguari, todos na Amazônia, e liberou a exploração mi-
neral no entorno de dois deles. Com a mudança, as SUPLENTES
Jonathas do Rego Monteiro
empreiteiras recebem autorização para estabelecer cantei-
Luiz Felipe Carvalho
ros de obras das usinas hidrelétricas de Tapajara, Santo Pedro Augusto Graña Drummond
Antônio e Jirau.

28 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-25-28-Sobrapa.pmd 28 4/11/2011, 09:36


VITICULTURA

Produção integrada de uva:


maior valor agregado
no processamento
vitivinícola

A Produção Integrada de
Frutas irá atender à
sustentabilidade social
e à rentabilidade da
produção, tornando o
produtor mais competitivo
em um cenário de
economia globalizada
e mercados exigentes
em qualidade e segurança
do alimento

A Lavoura DEZEMBRO/2011 29

!ALAV687-29-33-Viticultura.pmd 29 4/11/2011, 09:39


VITICULTURA

S AMAR V ELHO DA S ILVEIRA


ENGENHEIRO AGRÔNOMO, MESTRE E DOUTOR EM FITOTECNIA
PESQUISADOR EMBRAPA UVA E VINHO

A viticultura ocupa uma área de aproximadamente


82,5 mil hectares no Brasil e produz 1,34 milhão
de toneladas de uva/ano. Deste volume, cerca da
metade (50,39%) é destinada ao processamento para a elabo-
ração de vinhos, sucos e outros derivados, sendo o restante
(49,61%) comercializado como uva de mesa.
Do total da uva processada, estima-se que 77% sejam usa-
das na produção de vinho de mesa e 9% na de suco de uva,
ambas elaboradas a partir de uvas de origem americana, es-

AMAR VELHO DA SILVEIRA/EMBRAPA UVA E VINHO


pecialmente as cultivares de Vitis labrusca e Vitis bourquina, e
híbridos interespecíficos diversos; e que cerca de 13% seja des-
tinada à produção de vinho fino e espumante, elaborados com
cultivares Vitis vinifera.
A produção de uva para processamento, conclui-se, é um
importante segmento gerador de emprego e renda no país,
capaz de fornecer um produto com valor agregado – suco, vi-
nho e espumante – que atrai divisas à nação. Prova disso é que,
segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), ex-
portamos vinho para 22 países, destacando-se os Estados Uni-
dos, Alemanha, Inglaterra e República Tcheca.
Essa condição só foi alcançada devido ao desenvolvimento
de tecnologias de ponta no Brasil. Todavia, ela está ameaçada
devido ao rigor crescente do mercado externo em relação a
produtos de qualidade e saudáveis, em conformidade com os
requisitos da sustentabilidade ambiental e da segurança alimen-
tar, mediante a utilização de tecnologias não-agressivas ao meio
ambiente e à saúde humana.
Sistema da Produção Integrada de Frutas - PIF
A adoção do sistema PIF por parte dos viticultores e viníco-
las é uma forma segura de vencer esses desafios. A Produção
Integrada da Uva é definida como a produção econômica de
uvas de alta qualidade, dando prioridade a métodos seguros
do ponto de vista ecológico, os quais minimizam os efeitos se-
cundários nocivos do uso de agroquímicos, de modo a salva-
guardar o ambiente e a saúde humana. Além disso, a PIF sur-
giu para atender, também, à sustentabilidade social e à renta-
bilidade da produção, tornando o produtor mais competitivo
em um cenário de economia globalizada e mercados exigentes
em qualidade e segurança do alimento.
A adoção da PIF, adicionalmente, proporciona outros be-
nefícios aos produtores, por abranger princípios de sustenta-
bilidade ambiental, permitindo o ajustamento de conduta jun-
to a órgãos ambientais. Traz, ainda, uma grande contribuição
para a gestão da propriedade, já que direciona o produtor a
organizar e registrar suas informações, possibilitando análises
econômicas mais pertinentes e confiáveis.
Para o consumidor, os produtos da PIF garantem a re-
dução dos riscos de contaminação, sejam de ordem quí-
mica (resíduos de agrotóxicos, micotoxinas, nitratos e
outros), física (solo, vidro, metais e outros) ou biológica
(dejetos, bactérias, fungos e outros). Para atingir esses certificação que é aceita internacionalmente.
objetivos é preciso seguir normas, desde o manejo do O processo de certificação envolve a auditoria da empresa
vinhedo até a embalagem do produto processado, passan- ou produtor rural que produz a uva, o vinho e/ou o suco por
do pelo cuidado na colheita e no transporte. uma empresa certificadora, a qual deve ser acreditada pelo
Qualidade e segurança Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
Em sintonia com uma preocupação setorial, diversas ações (Inmetro) para esta finalidade. Dessa forma, a Produção Inte-
vêm sendo organizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa grada preconiza que todo o sistema de produção, desde a pro-
Agropecuária (Embrapa), para que seja possível se produzir com dução da uva no campo, até a elaboração do vinho ou do suco,
melhor qualidade e maior segurança para o produtor e para o passe por um processo de avaliação de conformidade com os
consumidor. Desde 1997, a Embrapa Uva e Vinho tem atuado critérios descritos nas Normas da Produção Integrada de Uva
com o sistema de Produção Integrada (PI), possibilitando uma para Processamento, permitindo receber o selo da Produção
Integrada somente aqueles produtores ou vinícolas que aten-
30 DEZEMBRO/2011 A Lavoura dem todos os pré-requisitos.

!ALAV687-29-33-Viticultura-correção.pmd 30 16/11/2011, 08:11


VITICULTURA

nhedos da Serra Gaúcha e da Campanha. Os primeiros resulta-


dos foram obtidos na safra 2011, culminando no processamento
da matéria-prima – elaboração de suco ou vinho, de acordo com
a cultivar – e na realização de análises multirresíduos na uva,
no suco e no vinho.
A análise multirresíduo visa detectar a eventual presença
de resíduos químicos na uva e em seus produtos, sendo que a
relação de moléculas químicas analisadas segue a legislação
vigente. Nesse sentido, o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) atualiza periodicamente os limites má-
ximos de resíduos e de contaminantes tolerados para fins de
monitoramentos de agrotóxicos, através da publicação, no
Diário Oficial, de Instruções Normativas. Dessa forma, sabe-
se quais os princípios ativos proibidos, os permitidos e em que
níveis podem estar presentes nos alimentos.
Manuais técnicos
Neste ano, foram instaladas novas parcelas de validação
das Normas da Produção Integrada de Uva para Processamento
no Vale do São Francisco e no Estado do Paraná. Em comple-
mentação a estas atividades, estão sendo preparados manu-
ais técnicos a serem utilizados em futuros cursos de capacita-
ção para técnicos que atuarão junto a produtores de uvas e a
vinícolas. Estes manuais contêm a informação técnica neces-
sária para implantar o sistema de Produção Integrada, desde a
instalação do vinhedo – passando pelo manejo do solo e da plan-
ta – e a colheita, até o processamento da uva na vinícola.
Estruturação do Projeto da Embrapa
O Projeto da Embrapa irá elaborar, validar e disponibilizar à
sociedade brasileira as Normas Técnicas da Produção Integra-
da de Uva para Processamento – Vinho e Suco (Normas PIUP).
Ele contempla vinte e duas atividades, distribuídas em quatro
planos de ação (Gestão do Projeto; Elaboração e Harmonização
das Normas; Transferência de Tecnologia via Unidades de Vali-
dação; Articulação e Sensibilização de Agentes de Mídia para
Externalização do Sistema PIUP). O projeto abrangerá quatro
regiões – Serra Gaúcha, Campanha (RS), Vale do São Francisco
e Estado do Paraná.
Nestas regiões, está prevista a instalação de parcelas ex-
perimentais, onde serão avaliadas as cultivares mais impor-
tantes de uva, de acordo com sua representatividade de culti-
vo, seguindo o seguinte esquema:
- Grupo 1: Vinhos finos (Vitis vinifera) – Serra Gaúcha,
Campanha, Lagoa Grande (PE) e Casa Nova (BA);
Uva da cultivar Merlot, na vinícola - Grupo 2: Vinhos de mesa e suco (Vitis labrusca) – Serra
Luiz Argenta, no município de
Flores da Cunha/RS Gaúcha e Paraná.
No Rio Grande do Sul, foram instaladas, em meados de
2010, quatro parcelas experimentais, também denominadas
Exigência do mercado unidades demonstrativas, localizadas em:
A avaliação de conformidade é uma exigência de mercado, - Flores da Cunha: vinhedo cultivar Merlot, da Vinícola Luiz
a qual assegura a qualidade e a inocuidade do produto, possi- Argenta; Caxias do Sul: vinhedo cultivar Isabel, de Rodrigo
bilitando o controle e a rastreabilidade hábil e permanente de Formolo, viticultor associado à Cooperativa Vitivinícola Nova
todo o sistema e do processo produtivo. O processo de certifi- Aliança; Garibaldi: vinhedo cultivar Concord, de Selmar Cor-
cação permite, portanto, o acesso a mercados externos, os bellini, viticultor associado à Empresa Tecnovin e Santana do
quais são reconhecidamente exigentes em termos de segurança Livramento: vinhedo cultivar Cabernet Sauvignon, da Vinícola
alimentar. Almadén.
Após diversos outros processos de certificação para frutas, No Estado do Paraná e no Vale do São Francisco, as unida-
como a maçã, o pêssego, a uva de mesa, a manga e o mamão, des demonstrativas já estão sendo instaladas de acordo com a
a uva para processamento está sendo trabalhada em um pro- seguinte localização:
jeto coordenado pela Embrapa e com a parceria de diversas - Araucária (PR): vinhedo cultivar Bordô, de Nelson Bertu-
instituições e empresas privadas. Este projeto abrange os polos lucci, viticultor assistido pela Emater-PR; Almirante Tamandaré
de viticultura de clima temperado, tropical semiárido e sub- (PR): vinhedo cultivar Bordô, de Mauro S. Perussi, viticultor as-
tropical do Brasil, representados, respectivamente, pelo Esta- sistido pela Emater-PR; Lagoa Grande (PE): vinhedo cultivar
do do Rio Grande do Sul, pelo Vale do São Francisco e pelo Es- Tempranillo, da Vinícola Ducos; e Lagoa Grande (PE): vinhedo
tado do Paraná. cultivar Syrah, da Vinícola Santa Maria.
No Rio Grande do Sul, o projeto iniciou-se na metade de
2010, com a instalação de quatro áreas de validação em vi-
31 OUTUBRO/2011 A Lavoura A Lavoura DEZEMBRO/2011 31

!ALAV687-29-33-Viticultura-correção.pmd 31 16/11/2011, 08:11


VITICULTURA

Ações previstas
• Elaboração e Harmonização das Normas - a elaboração das Normas PIUP e que
Esta etapa do projeto visa à elaboração e têm como principais características:
harmonização das Normas Técnicas da Produção In- • O manejo da cultura deve
tegrada de Uva para Processamento. Para este maximizar a entrada de luz no dossel
fim, pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho e vegetativo, promover o desenvolvi-
Embrapa Semiárido elaboraram as referidas mento equilibrado das plantas, per-
Normas, as quais foram posteriormente mitir a produção de fruta de alta
apresentadas ao setor produtivo para sua qualidade e regular a produção de
discussão e harmonização. acordo com a capacidade das
As Normas Técnicas da Produção In- plantas;
tegrada de Uva para Processamento con- • Os agroquímicos somen-
templam 15 áreas temáticas, as quais te podem ser utilizados quan-
abrangem todas as etapas do sistema do indicados pelos resultados
de produção da uva e do seu processa- de análises, do monitoramento
mento. Cada área contém práticas obri- de pragas e moléstias ou quan-
gatórias, recomendadas, permitidas, do recomendados pelos técnicos
com restrição e proibidas. Sua impor- responsáveis, mas desde que este-
tância reside no fato de constituir-se jam registrados para a cultura no
em documento regulamentador espe- Mapa e que sejam respeitadas as do-
cífico para a cultura da uva para proces- ses de aplicação e os prazos de carência
samento, vindo a nortear todas as prá- constantes do rótulo do produto. Nas fo-
ticas adotadas dentro do sistema. Por- tos abaixo, é possível visualizar o moni-
tanto, o documento, além de dar as toramento de pragas e moléstias que é
diretrizes para a produção de ali- adotado nas parcelas da Produção In-
mentos seguros à saúde hu- tegrada de Uva para Processamento;
mana, conterá as leis que re- Colheita de uva da variedade Cabernet Sauvignon em parcela • Adoção de práticas que
gem a Produção Integrada de da Produção Integrada, na Vinícola Almadén, minimizam o impacto ambiental
Frutas no Brasil. Nele, as em Santana do Livramento, em 2011
e de critérios (relevo, clima, solo,
empresas certificadoras de- segurança ambiental e alimentar) desde a escolha da área
verão se basear para estabelecer a conformidade, ou não, das para plantio do vinhedo até o processamento da uva na vi-
práticas adotadas no vinhedo e na vinícola por aqueles que de- nícola, visando à redução dos riscos de contaminação quí-
sejarem receber o selo da PI. mica (resíduos de agrotóxicos, micotoxinas, nitratos e ou-
• Transferência de Tecnologia via Unidades de Valida- tros), física (restos de vidro, metais e partículas de solo)
ção - A experiência da Embrapa em projetos de produção e biológica (fungos, bactérias, dejetos e outros).
integrada tem demonstrado que a forma mais eficiente de Externalização do Sistema de Produção Integrada de Uva
transferir tecnologia aos produtores rurais é através da ins- para Processamento - Após a conclusão da etapa de elabora-
talação de unidades de validação, onde o produtor observa ção e validação das normas, o sistema será transmitido à ca-
e vivencia diariamente a aplicação do sistema. Nesse con- deia produtiva da uva e do vinho e à sociedade brasileira, atra-
texto, o viticultor adquire confiança e sente-se seguro para vés da realização de cursos de capacitação de técnicos, dias
adotá-lo na sua propriedade. Por outro lado, as unidades de de campo, seminários e distribuição dos manuais técnicos que
validação também servem para detectar e corrigir as possí- orientam e embasam a adoção do sistema, bem como por meio
veis falhas do sistema, as quais somente são detectadas da publicação de artigos na mídia.
quando o Sistema da Produção Integrada está sendo aplica- Duração do projeto e parceiros
do no campo. O projeto tem previsão de duração de três anos e meio:
No Sistema da Produção Integrada, prevalecem as normas teve início em meados de 2010 e término no final de 2013.
e critérios de manejo definidos na Instrução Normativa MAA Um importante conjunto de instituições, empresas pri-
20/2001 e Instrução Normativa MAA 11/2003, as quais norteiam vadas e cooperativas do setor vitivinícola aporta a este pro-
AMAR VELHO DA SILVEIRA/EMBRAPA UVA E VINHO
AMAR VELHO DA SILVEIRA/EMBRAPA UVA E VINHO

AMAR VELHO DA SILVEIRA/EMBRAPA UVA E VINHO

Monitoramento de pragas e doenças na PI: à esquerda, armadilha modelo do tipo McPhail, para captura dos adultos da mosca-das-
frutas do gênero Anastrepha; no centro, armadilha modelo Delta, para captura de adultos da traça-dos-cachos (Cryptoblabes gnidiella);
à direita, dano do besouro desfolhador (Maecolaspis aenea) nas bagas

32 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-29-33-Viticultura.pmd 32 4/11/2011, 09:39


AMAR VELHO DA SILVEIRA/EMBRAPA UVA E VINHO
VITICULTURA

AMAR VELHO DA SILVEIRA/EMBRAPA UVA E VINHO


AMAR VELHO DA SILVEIRA/EMBRAPA UVA E
Processo de microvinificação da uva feita na Cantina Experimental da
Embrapa: à esquerda, as uvas despejadas na desengaçadeira... vão para o
minitanque de fermentação, onde se inicia o processo de maceração... e os
garrafões de vidro onde ocorrem os processos de fermentação (tumultuosa à
esq e lenta à dir) em Bento Gonçalves, RS

jeto o apoio do setor produtivo, disponibilizando suas áre-


as de vinhedos ou de seus fornecedores e associados para
a implementação das Estações de Validação das Normas
PIUP, além de vários insumos empregados na produção de a validação das Normas PIUP a campo, são os responsáveis por
uvas, de mão-de-obra especializada e de logística de trans- dar continuidade aos procedimentos legais até a publicação das
porte. Também o meio acadêmico e a área de extensão, Normas no Diário Oficial da União.
além do governo federal, oferecem suporte. Compõem tal Mais competitividade
grupo a Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Gran- A concretização deste projeto proporcionará mais compe-
de do Sul (Fecovinho), a União Brasileira de Vitivinicultura titividade ao setor da uva e do vinho, seja pelo aumento da
(Uvibra), o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e o Insti- qualidade de seus produtos, seja pelo marketing positivo que
tuto do Vinho do Vale do São Francisco (Vinhovasf); a em- o sistema possibilita. Com isso, busca-se atender à satisfação
presa Tecnovin, além das vinícolas Almadén, Luiz Argenta, do consumidor, que está cada vez mais exigente, e o acesso a
Ducos e Santa Maria; a Cooperativa Central Nova Aliança novos mercados.
(Coocenal); e ainda a Universidade Federal do Rio Grande No entanto, para a manutenção destes benefícios, após
do Sul (UFRGS), Emater-PR e Ministério da Agricultura, Pe- a publicação das Normas da Produção Integrada de Uva
cuária e Abastecimento (MAPA). para Processamento no Diário Oficial, torna-se necessá-
Ao MAPA, representado por seus agentes federais, cabe ria a criação de um comitê a fim de atualizar o sistema
acompanhar todas as etapas do projeto, analisar as questões anualmente, principalmente quanto à Grade de Agroquí-
que envolvem a legislação do país e a conformidade dos proce- micos, à adoção de novas práticas ao sistema e à
dimentos a serem preconizados nas Normas PIUP e os adota- harmonização dessas Normas com as adotadas pelos prin-
dos na realização das análises multirresíduos. Além disso, após cipais países importadores.

Embrapa inicia pesquisa do. O projeto vai aperfeiçoar a técnica de separação do caroço
sobre compostos bioativos em do bagaço e os processos de extração e refino do óleo da se-
mente da uva, garantindo seu aproveitamento. Os resíduos da
bagaço de uvas indústria vinícola e de sucos ganharão aproveitamento econômi-
co e para os produtores, mais opções de renda.
A Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ) ini-
ciou atividades de pesquisa que visam “extrair do bagaço
de uvas compostos bioativos, como o resveratrol e outras mo-
Fases
Na primeira fase, serão realizados estudos de extração de
léculas, que possam contribuir para saúde e desenvolver bebi- compostos com atividade biológica (bioativos) dos bagaços por
das lácteas e sucos de frutas com estes compostos funcionais meio de extração com solvente e enzimática, além de estu-
de interesse comercial e industrial”, explica a pesquisadora dos de extração de óleo das sementes presentes no bagaço.
Lourdes Maria Correa Cabral, líder do projeto extração e uso Pretende-se, no primeiro ano do projeto, aperfeiçoar o pro-
de substâncias de interesse comercial e industrial a partir de cesso de extração no que diz respeito à atividade antioxidan-
coprodutos gerados na produção de te em cada um dos extratos. Será verificado o nível de ativida-
vinhos e suco de uva. O projeto vai de antioxidante e o teor de antocianinas para saber qual é o
trabalhar com resíduos do proces- mais interessante do ponto de vista funcional.
samento de suco de uva, vinho tin-
Em uma segunda fase, as instituições parceiras vão realizar
to e vinho branco e também vai es-
estudos e testes com os extratos e desenvolver os produtos.
tudar a extração de óleo dos caro-
Participam do projeto pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho
ços presentes no bagaço. O óleo da
(Bento Gonçalves, RS), Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral, CE)
semente de uva tem alto valor agre-
e quatro grupos de pesquisa da Universidade Federal do Rio
gado e é muito utilizado na indús-
de Janeiro – Escola de Química, Grupo de Bioquímica Médica,
tria de cosméticos, cada vez mais in-
Instituto de Microbiologia e Grupo Ciência de Alimentos. Além
teressada em utilizar ingredientes
da parceria de instituições de ensino e pesquisa, o projeto
naturais, mas ainda não é extraído
conta com a participação da Vinícola Aurora e da Tecnovin,
do resíduo da uva, sendo descarta-
empresas produtoras de vinhos e suco de uva com expressiva
O óleo do resíduo da uva participação no mercado, sediadas no Rio Grande do Sul.
ainda é descartado, mas pode JOÃO EUGÊNIO - EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS
ter aproveitamento econômico
A Lavoura DEZEMBRO/2011 33

!ALAV687-29-33-Viticultura.pmd 33 4/11/2011, 09:39


Brasil se torna centro de na Justiça Federal contra a liberação do
feijão transgênico da Embrapa, que ocor-
reu em 15 de setembro. “Estamos
negócios para transgênicos aguardando prazo de 30 dias que as en-
tidades de registro e fiscalização possu-
Em cinco anos, o Brasil se consolidou Brasil vive um novo momento desde em para possível apresentação de recur-
como segundo maior produtor de grãos 2005. A CTNBio tem feito um trabalho so junto ao CNB (Conselho Nacional de
transgênicos do mundo, atrás apenas dos exemplar na avaliação e liberação de se- Biossegurança)”.
EUA, e se transformou em um centro de mentes seguras para o consumidor e o O próprio Conselho Nacional de Se-
negócios para as indústrias de sementes meio ambiente”, disse a diretora-exe- gurança Alimentar (Consea) colocou em
geneticamente modificadas (GMs). cutiva do CIB, Adriana Brondani. Ela de- xeque a liberação do feijão. Para o pre-
Quem elogia as mudanças que fize- fende que o país se tornou referência não sidente do Consea, Renato Maluf, faltam
ram da produção transgênica uma ban- apenas por tomar decisões mais rapida- estudos para provar que a semente re-
deira nacional são os representantes das mente, mas também por ter adotado um sistente ao mosaico dourado – principal
indústrias e os pesquisadores, que criti- marco regulatório estruturado. doença do feijoeiro – é segura para a saú-
cavam a lentidão na aprovação das se- Apesar de ter aprovado a importação de e o ambiente. Na votação da CTNBio,
mentes. Eles comemoram o quadro atu- de 36 tipos de transgênicos para consu- 15 membros foram favoráveis, dois se
al como uma vitória de organizações mo humano e produção de ração animal, abstiveram e cinco disseram que falta-
como o Conselho de Informações sobre a maior parte da União Europeia proíbe vam estudos, pedindo diligências. Mes-
Biotecnologia (CIB) que ctem entre seus o cultivo de transgênicos, informa Sylvia mo assim, a liberação foi considerada
29 associados as indústrias multinacio- Burssens, pesquisadora da Universidade válida.
nais Monsanto, Syngenta, Basf e Bayer, de Gent (Bélgica). Por outro lado, as 33 liberações de se-
principais investidores do setor. Cobranças à CTNBio - Contudo, a mentes permitiram que os transgênicos
O país aprovou 33 sementes GMs atuação da CTNBio)vem sendo forte- passassem a cobrir mais da metade dos
desde 1998 – 23 delas nos últimos três mente questionada por pesquisadores e 50 milhões de ha destinados pelo país à
anos. O sistema de avaliação deslanchou representantes de organizações que de- produção de grãos (2/3 da área da soja
depois da criação da Comissão Técnica fendem o ambiente e os direitos dos con- e 2/3 do plantio de milho de inverno,
Nacional de Biossegurança (CTNBio), em sumidores. “A CTNBio nunca negou um além de metade da área do milho de ve-
2005. Os 27 membros da organização pedido de liberação comercial de um rão). A tecnologia facilita o controle de
estão levando menos de um ano para li- transgênico”, questiona Ana Carolina ervas daninhas e insetos, mas não im-
berar a produção comercial de organis- Brolo de Almeida, advogada da Terra de plica necessariamente em redução de
mos geneticamente modificados. “O Direitos, organização que estuda entrar custos ou no uso de agrotóxicos.
Fonte: Agrolink

Monsanto multiplica soja inédita


A Monsanto está em fase de multiplicação de uma semente ampliar o potencial produtivo, com a expectativa de um
de soja transgênica inédita no mundo, resistente a ervas da- aumento da produtividade em função dessas caracterís-
ninhas e a insetos, desenvolvida especialmente para o Brasil, ticas”, pondera.
e poderá lançá-la comercialmente nas próximas safras. A soja Segundo a estimativa do diretor da consultoria Céleres,
Intacta RR2 Pro foi aprovada em 2010 pela Comissão Técni- Anderson Galvão, a Monsanto tem prometido um ganho de pro-
ca Nacional de Biossegurança (CTNBio). dutividade de 8% com a nova soja, que deverá ser plantada
“A nova soja foi desenvolvida pensando na produção no Bra- para multiplicação em cerca de 60 mil hectares em 11/12.
sil, onde as plantas daninhas e as pragas são os principais entra- Berger afirma ainda que a forma de trabalho com a soja
ves para a produção agrícola. Nesta fase de desenvolvimento, Roundup Ready, resistente ao herbicida glifosato, repetiu-se:
fazemos melhoramento genético de novas cultivares para ter o o estabelecimento de parcerias entre a Monsanto, outras em-
registro. Em paralelo, começamos a produção de sementes para presas de melhoramento genético e produtores de sementes
disponibilizar ao agricultor,” afirmou Geraldo Berger, diretor de para desenvolver o novo produto, que oferece, além do RR, a
Regulamentação da empresa. Segundo ele, a Monsanto já está tecnologia Bt, de proteção contra insetos. Segundo a Céleres,
multiplicando as sementes para conseguir ter um volume que na safra 11/12 a soja RR, plantada em larga escala no Brasil
considera suficiente para as principais regiões produtoras, e so- há vários anos, estará presente em 82,7 % das lavouras do
mente depois fará o lançamento no país. “Logo que tiver- Brasil, em uma área de 20,8 milhões de hectares, contra 18,4%
mos volume suficiente, a soja será lançada em 2012/13”, esti- na temporada 2011.
Fonte: Agrolink
ma Berger. “Vamos fazer um trabalho bastante grande na próxi-
ma safra com agricultores, para que eles conheçam a tecnolo-
gia” acrescentou.
Quando chegar ao mercado, a soja será mais uma al-
ternativa para produtores reduzirem os gastos com de-
fensivos na lavoura. O diretor evitou comentar sobre
eventuais ganhos de produtividade com a nova soja, di-
zendo apenas que os testes são “promissores”: “se al-
guém tem o controle de plantas daninhas e resistência a
insetos, protegendo a planta desses fatores, é possível

À direita, a soja RR2 foi desenvolvida para resistir a ervas


daninhas e insetos no Brasil

34 OUTUBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-34-Biotecnologia.pmd 34 19/11/2011, 07:09


VITICULTURA

Cultivo protegido de uva

IAC
ARQUIVO
aumenta produtividade
em 100%

Sistema que utiliza cobertura


impermeável reduz também
incidência de doenças em até 70%
A Lavoura DEZEMBRO/2011 35

!ALAV687-35-37-Viticultura.pmd 35 4/11/2011, 09:42


VITICULTURA

ARQUIVO IAC
Ao proteger as folhas da incidência direta da chuva, a
cobertura diminui o ataque dos fungos e outras doenças

A
umento de 100% na produtivi- senvolvimento de doenças fúngicas”, uma cerca com três fios de arame) para
dade e redução de 70% na apli- diz José Luiz Hernandes, pesquisador do o cultivo da uva niagara rosada. Neste
cação de defensivos agrícolas. IAC, da Secretaria de Agricultura e Abas- método, as parreiras ficam um pouco
Esses são os resultados do uso do cul- tecimento do Estado de São Paulo. mais baixas e são distribuídas pelas ruas
tivo protegido em “Y” com cobertura Ainda segundo Hernandes, a cober- de maneira uniforme. Os ramos anuais
impermeável para plantio de videiras. tura impermeável funciona como um são conduzidos na vertical e precisam
A técnica, introduzida e adaptada pelo guarda-chuva sobre a videira e os fun- ser amarrados aos fios de arame para
Instituto Agronômico (IAC), de Campi- gos não têm como se instalar, já que não não serem derrubados ou quebrados
nas, para as condições do Estado de São há água livre sobre as plantas. “Em pelos ventos ou pelo peso da uva. “No
Paulo, poderá substituir, mesmo que ensaios que foram conduzidos sem ne- sistema em Y, os ramos ficam quase na
gradativamente, a condução em nhuma pulverização para controle de horizontal e deitam-se naturalmente
espaldeira a céu aberto para cultivo da antracnose, míldio, mancha-das-folhas sobre os arames. Com isso, reduz-se a
uva niagara rosada, sistema muito uti- e podridão, que são as principais doen- necessidade de amarrio para que eles
lizado pelos produtores paulistas. ças da uva niagara rosada, constatou- não caiam e ainda os desestimula a bro-
A nova técnica, resultante de traba- se a redução de 60% a 70% da ocorrên- tar – por não ficarem mais na horizon-
lho do IAC, melhora ainda a qualidade cia de enfermidades”, afirma o pesqui- tal – reduzindo também a necessidade
dos frutos, gera cachos de uva maiores sador do IAC. de desbrota das plantas, uma operação
e protege a plantação contra chuvas de Neste mesmo percentual é a queda que demanda muitas horas de trabalho
granizo e ataque de pássaros, que po- do uso de defensivos agrícolas. “Essa no vinhedo”, diz o pesquisador do IAC.
dem acabar com toda a produção ou pre- redução, além do retorno financeiro de- Na videira, no sistema usual, os
judicar seriamente a qualidade das uvas vido à baixa do uso de defensivos, eco- cachos ficam a uma altura entre 80 cen-
atingidas. O estudo é inédito no Estado nomia de mão-de-obra, combustível e tímetros a um metro do solo, enquanto
de São Paulo. diminuição do desgaste de equipamen- no “Y”, ficam entre 1,5 m e 1,8 m. De
Diminuição de pragas tos, gera ainda um retorno que, em ge- acordo com o pesquisador do IAC, a di-
A principal contribuição do cultivo ral, não é capitalizado, como a prote- ferença na altura das parreiras também
protegido está na diminuição da ocor- ção do meio ambiente e também um reflete na ocorrência de doenças.
rência das principais doenças da viticul- ganho humano, tanto para a saúde dos “Quanto mais próximo do chão, mais
tura. “O uso de cobertura de plástico ou aplicadores como dos consumidores fi- perto a planta fica da umidade e do
de outro material impermeável prote- nais”, explica Hernandes. calor refletido e, com isso, há maior
ge as folhas e cachos da incidência di- Normalmente, os produtores utili- incidência de doenças. Se a planta fica
reta da chuva e, consequentemente, zam o sistema de condução em mais alta e mais ventilada, esse índice
reduz as condições que favorecem o de- espaldeira a céu aberto (parecido com vai diminuir”, explica.

36 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-35-37-Viticultura.pmd 36 4/11/2011, 09:42


VITICULTURA

Os cachos no sistema

ARQUIVO IAC
protegido são maiores,
mais atraentes para
o consumidor

Redução no custo de produção


Os cachos das uvas também ficam
mais afastados por conta da disposição
dos ramos, separados com metade para
cada lado do “Y”. Segundo o pesquisador
do IAC, essa característica também influ-
encia a aplicação de defensivos e a pro-
dutividade. “Na uva, se os cachos ficam
muito próximos, quando você aplica o
defensivo, um vai impedir que o outro
receba o produto aplicado. Quanto à pro-
dutividade, se os ramos estão mais aber-
tos, as gemas ficam mais expostas à luz
solar. Isso altera a fisiologia da uva e es-
timula a produção”, explica Hernandes.
Com a diminuição no número de
aplicação de defensivos, redução da
desbrota e amarrio, o cultivo protegido
em “Y” otimiza o tempo para o cuida-
do com a plantação, reduzindo signifi-
cativamente a mão de obra utilizada e
influenciando positivamente no custo de
produção.
“A circulação dentro do vinhedo é
facilitada possibilitando a mecanização
de diversas operações, desde a aplica-
ção de defensivos por turbina, aduba-
ções, até a circulação de pequenos ve- as tarefas com o corpo em posição mais O material utilizado para colocar em
ículos na colheita. Some-se ainda o ereta, na sombra e protegido da chu- cima da estrutura é o filme plástico
maior conforto do agricultor ao realizar va”, acrescenta. impermeável, a ráfia plastificada ou o
O sistema já está sendo implanta- telado plástico. Este último não é im-
do em alguns municípios paulistas, permeável e perde a principal vantagem
ARQUIVO IAC

A maior exposição ao sol


estimula a produção
como Louveira, Jundiaí, Indaiatuba e que é a diminuição de doenças.
Itupeva. “Há um aumento da procura de O pesquisador do Instituto Agronômi-
informações por parte dos produtores. co alerta para a necessidade do uso de
Eles estão percebendo a vantagem do quebra-ventos nos vinhedos que adotam
cultivo protegido em “Y” e querem im- a técnica. “Devido à altura de 1,5m do
plantar em seus vinhedos, por isso já telado, é necessário utilizar quebra-ven-
estamos trabalhando na edição de um to que pode ser tanto natural, como a
boletim técnico sobre o assunto”, co- plantação de renques de plantas altas,
menta Hernandes. como artificial, com a colocação de tela.”
Investimento Qualidade das uvas
O custo inicial para implantação do As uvas cultivadas em sistema pro-
sistema é elevado. Para plantar um hec- tegido têm qualidade superior às plan-
tare de espaldeira a céu aberto o pro- tadas a céu aberto. Com o aumento no
dutor investe em média R$ 30 mil. No tamanho das bagas, os cachos também
sistema protegido em “Y” com cober- ficam maiores, e com menos resíduos
tura impermeável, o valor pode chegar de defensivos, deixando o produto mais
a R$ 70 mil. “Pelo valor mais elevado atraente para o consumidor.
do investimento, a recomendação é que O Estado de São Paulo é o maior pro-
o produtor faça a conversão aos poucos, dutor e consumidor de uvas de mesa no
ao longo dos anos”. Hernandes ressal- Brasil. A niagara rosada, destinada ao
ta que o investimento é recuperado em consumo in natura, é a mais cultivada
pouco tempo por conta da maior produ- no Estado – cerca de cinco mil hectares
tividade e menores gastos com defen- plantados.
sivos e mão-de-obra. CARLA GOMES – ASSESSORA DE IMPRENSA DO IAC E
FERNANDA DOMICIANO – ESTAGIÁRIA

A Lavoura DEZEMBRO/2011 37

!ALAV687-35-37-Viticultura.pmd 37 4/11/2011, 09:42


PESQUISA

Raça bovina americana é foco de melhor am


Depois de formar seu primeiro rebanho adaptado da raça caracu, a Embrapa
Gado de Corte, com sede em Campo Grande, MS, agora investe no resultado
da cruza entre as raças red poll e senegal n’dama: o gado senepol

O
senepol foi desenvolvido nos Estados Unidos e tem mais), doaram o sêmen de reprodutores, de materiais uti-
pelagem curta, cor avermelhada, resistente a lizados na sincronização das receptoras. Depois, fizeram
parasitoses, carne marmorizada, precocidade sexual parceria para a realização da maturação dos ovócitos e co-
e bom acabamento. A venda de sêmen tem crescido nos briram custos diversos, como o de transporte para a cole-
últimos anos, o que indica um resultado satisfatório obti- ta e de mão-de-obra especializada. Esta foi utilizada para
do pelos usuários. O senepol é uma raça adaptada ao ca- realizar trabalhos como de acasalamentos das doadoras,
lor, resistente às doenças tropicais, fértil, que apresenta inoculação dos embriões, diagnóstico de gestação e
Rebanho Senepol
bom acabamento de carcaça e carne de boa qualidade - sexagem
da fazendaembriões.
dos CMI “Coube à Embrapa disponibilizar
macia e suculenta, bem ao gosto do consumidor. as matrizes utilizadas como receptoras e executar o ma-
Formação do rebanho nejo dos animais durante o processo de implantação. Sem
Esta nova opção em trabalhos de melhoramento gené- dúvida, uma parceria digna dos resultados proporciona-
tico em rebanhos adaptados da Embrapa teve a colabora- dos”, declara Roberto Torres. O pesquisador informa tam-
ção de dois criadores da raça em Mato Grosso do Sul, os bém que foram implantados 121 embriões. Destes, resul-
pecuaristas Roberto Coelho, da fazenda San Francisco, e taram 31 prenhezes de machos e 22 de fêmeas. Estas pre-
de Ivo Reich, da fazenda CMI. “A colaboração desses cri- nhezes, explica Torres, são oriundas de 17 das 24 vacas
adores foi fundamental para a formação do rebanho puro coletadas e de 10 touros diferentes. “Se considerarmos
de origem importada (POI). Os animais serão utilizados em também os “avôs” maternos, temos um total de 19 touros
pesquisas da Embrapa e como unidade demonstrativa do diferentes o que ajudará o rápido estabelecimento do re-
programa de melhoramento da raça senepol”, informa o banho senepol da Embrapa”.
pesquisador Roberto Torres, supervisor dos trabalhos. Se- Os animais oriundos destas prenhezes se unirão àque-
gundo Torres, a Embrapa Gado de Corte já fez pesquisas les provenientes do cruzamento absorvente com o senepol
com a raça senepol, tendo sido utilizada em avaliações de que serão apresentados para registro. A expectativa da Em-
cruzamentos de raças taurinas adaptadas e um teste de brapa é estabelecer um rebanho de 100 matrizes puras da
touros em parceria com a associação americana de cria- raça senepol.
dores de senepol. O crescimento da raça no Brasil
Os pecuaristas que se dispuseram a colaborar com a Em- A raça senepol foi introduzida no Brasil em 1999 e hoje
brapa colocaram suas melhores matrizes para coleta de a estimativa é de que existam 15 mil animais registrados
ovócitos (células sexuais produzidas nos ovários dos ani- no país. O número de animais dessa raça tem crescido no
ARQUIVO EMBRAPA

38 DEZEMBRO/2011 A Lavoura Senepol: raça foi introduzida no Brasil em 1999

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PESQUISA

hor amento pela Embrapa Vaca da raça senepol


Brasil e prestado uma importante contribuição na melhoria
genética da raça nelore via cruzamento. A informação é do bate recorde na
pesquisador Gilberto Romeiro Menezes, que trabalha no
Núcleo do rebanho da Embrapa juntamente com Roberto
produção de embriões
Torres. “A Embrapa começou a trabalhar com melhoramento

LIMPA
genético da raça há dois anos, trabalho no qual são avali-
adas características de reprodução, desempenho e quali-

ÁGUA
dade de carne”, explica Menezes. Ainda segundo pesqui-

SENEPOL
sadores, um aspecto positivo é de que esses animais con-
seguem, com certa facilidade, montar nas vacas nelore e
assim fazer o cruzamento sem problema.
Espaço conquistado pela raça: vários fatores
O espaço na pecuária brasileira conquistado pela raça
está ligado a uma série de fatores, entre eles a fertilida-
de, adaptabilidade, eficiência reprodutiva, produtividade
e qualidade da carne, características necessárias para o
sucesso na pecuária moderna.
O cruzamento entre raças, quando bem elaborado, ofe-
rece aumento de rentabilidade para o produtor, isso por-
que os produtos cruzados normalmente superam os de ra-
ças puras.
A procura por animais adaptados tende a aumentar,
bem como o trabalho de cruzamento entre elas. A busca é
por animais mais produtivos, que produzam carne saboro- Tácita: vaca recordista em embriões
sa e de boa qualidade, além de outros atributos.
A pesquisa deverá comprovar as qualidades da raça por
meio de trabalhos científicos, indicando-a para o cruza-
mento industrial com zebuínos como o nelore e animais de
T ácita de quatro anos é o nome da vaca da raça senepol,
recordista mundial na produção de embriões. Enquanto as
outras vacas produzem em média de seis a dez embriões, Tá-
1/2 sangue britânicos e/ou continentais. Isso aproveita- cita produz de 60 a 100. Isso representa prolificidade em
ria a heterose maternal, produzindo 100% heterose nos pro- bovinocultura.
dutos com essas cruzas. Esse recorde é o resultado da explosão genética exclusi-
ELIANA CEZAR SILVEIRA – EMBRAPA GADO DE CORTE va presente no rebanho bovino senepol. De acordo com Jair
dos Santos, que trabalha há mais de cinco anos com a raça,
é visível a alta performance dos animais seja a pasto ou em
confinamento.
“O senepol tem características muito peculiares. Um dos
grandes exemplos disso é a vaca Tácita. Ela representa o
resultado do investimento que fazemos em agregar tecno-
logia de ponta com excelência em melhoramento genético,
seleção e produção. Não é a toa que ela produz dez vezes
mais embriões que vacas de outras raças”, relata o pecua-
rista.
A vaca super produtiva faz parte do rebanho da senepol
Água Limpa, onde há muitos outros animais campeões da
raça. O criatório disponibiliza para venda aspirações de
novilhas selecionadas criteriosamente e com classificação
máxima da fazenda. Além disso, a senepol Água Limpa ofe-
rece touros selecionados, criados a campo e aprovados em
testes levados ao extremo.
A raça
O senepol combina a tolerância ao calor e a resistência
aos insetos e enfermidades do gado n’dama com a
docilidade, qualidade da carne e alta produção leiteira do
gado red poll. O cruzamento dessas duas raças originou o
senepol. Longevidade, habilidade materna, fertilidade, dis-
posição, pelo zero, caráter mocho, rendimento da carcaça,
facilidade de manejo são outras características marcantes
da raça senepol.

A Lavoura DEZEMBRO/2011 39

!ALAV687-38-39-Pesquisa.pmd 39 4/11/2011, 09:44


ABASTECIMENTO
HORTICULTURA

E
PECUÁRIA
AGRICULTURA,
DE
ESTADO
DE
SECRETARIA
Tomate: previsto novo aumento da produção em 2012

Tomate: produção integrada com


milho ganha força
Agricultor mineiro colhe a hortaliça o ano Rotação de culturas
“Uma das vantagens da rotação de culturas é que os resí-
inteiro e vende também para outros Estados duos orgânicos mantidos no solo depois da colheita do toma-
te substituem parte da adubação para o novo plantio”, expli-
ca o produtor Marcos Nascimento. Ele ainda fará uma colhei-

P
rodutores de tomate de Minas Gerais produziram 441,8 ta da hortaliça neste ano para completar a safra estimada de
mil toneladas da hortaliça em 2011, volume 8,7% superior 4,2 mil toneladas e em seguida vai ocupar o espaço com milho
ao do ano passado, informa a Secretaria de Agricultura, Pe- ou soja.
cuária e Abastecimento com base em dados do IBGE. Boa parte Integrante de um grupo de cinco produtores que se de-
deles faz uma rotação da cultura com o milho e a soja, que es- dicavam exclusivamente ao cultivo de grãos no município,
tão em fase inicial de plantio. Para quem cultiva tomate, é tem- Nascimento enfatiza que o rodízio das lavouras é uma boa
po de avaliar o mercado, sobretudo o comportamento da de- alternativa. “Inclusive porque existe um limite para a utili-
manda, para programar o reinício do plantio da hortaliça em zação das áreas de tomate. Elas não devem atender ao
janeiro ou fevereiro. cultivo da hortaliça em safras seguidas”, informa. O produ-
Um novo aumento da produção de tomate poderá ocorrer tor diz que vem obtendo resultados satisfatórios com a pro-
em 2012, principalmente nas propriedades onde o cultivo da dução de tomate iniciada em 2010 e acrescenta que está
hortaliça segue alternado com a produção de grãos, o que pode animado com a possibilidade de aumento da receita para
resultar em equilíbrio na administração das contas da propri- compensar os investimentos em tecnologia, sobretudo irri-
edade. “Atualmente, a receita gerada pelas lavouras de to- gação e adubação.
mate em Minas Gerais é da ordem de R$ 7 mil por hectare”, “O clima da região é um dos fatores que ajudam na produção
informa Georgeton Silveira, coordenador estadual de de tomate”, observa o agricultor. Neste ano, segundo Nascimen-
Olericultura da Emater-MG, vinculada à Secretaria. to, o cultivo foi de 70 hectares. Para a próxima safra a programa-
Em Lagoa Formosa, na região do Alto Paranaíba, a produção ção é de uma área 50% maior. Ele estima que a produção vai alcan-
alternada é utilizada em grande escala. A safra de tomate do muni- çar 6,3 mil toneladas.
cípio, em 2011, alcançou 28 mil toneladas (40,7% da produção regi- Além de ser destinado ao atacado e varejo de diversas regiões
onal). Agora o milho e feijão podem ser cultivados até a definição de Minas Gerais, o tomate também reforça a participação de La-
de outros espaços para a hortaliça. goa Formosa no entreposto da CeasaMinas, localizado na Região

40 DEZEMBO/2011 A Lavoura

!ALAV687-40-41-Horticultura.pmd 40 16/11/2011, 13:19


HORTICULTURA

Tomate do segmento (Macrosiphum euphorbiae). O BRS Couto

mini-italiano atende novo é ainda resistente aos fungos que cau-


sa a Murcha de Fusário raça 1 e 2 e
Murcha de Verticílio raça 1.
nicho de mercado Sementes

HORTALIÇAS
O tomate BRS Couto é também o
A tender um novo segmento do mercado que busca produtos
com sabores diferenciados. Essa é a meta da Embrapa Hor-
taliças com o BRS Couto, recentemente lançado pela empresa.
primeiro material lançado pela Embrapa
Hortaliças sob os termos da Lei de Ino-

EMBRAPA
vação (lei nº 10.973/04). De acordo com
O híbrido do segmento mini-italiano ou mini-saladete, pos- o chefe-adjunto de Transferência de
sui frutos alongados e peso variando entre 50g e 80g, um pou- Tecnologia, Warley Marcos Nascimen-
co mais graúdos que os segmentos cereja e cerejão. to, o material foi desenvolvido
De acordo com o pesquisador Leonardo Boiteux, o mate- numa cooperação técnica com a
rial vai atender um novo nicho de mercado, que busca por empresa de sementes Agrocinco,
produtos com características e sabores diferenciados. “O que detém a exclusividade de co-
segmento mini-italiano apresenta expansão de consumo nos mercialização do BRS Couto por um pe-
grandes centros urbanos como Rio de Janeiro, Belo Horizonte ríodo de cinco anos.
e São Paulo”, afirma. Ele explica que a produção de se-
Características mentes do híbrido será coordenada
Entre as características da nova cultivar, destaca-se a múl- pela Embrapa Transferência de Tec-
tipla resistência a doenças. Segundo o pesquisador, o material nologias, e as sementes do tomate
é um dos poucos híbridos deste segmento com tolerância a BRS Couto estarão disponíveis até o
geminivírus, um dos principais problemas da cultura do toma- final de dezembro de 2011 para os pro-
teiro no Brasil. “O BRS Couto é tolerante a algumas das princi- dutores brasileiros.
pais espécies de geminivírus ou begomovírus que infectam o MARCOS ESTEVES - EMBRAPA HORTALIÇAS

tomateiro nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Bra-


sil”, explica. Tomate BRS Couto, mini
Além disso, o material possui resistência ao nematóide-das- italiano: um pouco mais
graúdo que o cereja e o
galhas (Meloidogyne incognita, M. javanica e M. arenaria), além cerejão
de tolerância a populações do pulgão que atacam as solanáceas

pois de cada safra, devolver aos proprietários as áreas


enriquecidas com os resíduos orgânicos do tomate. Essas áreas
serão utilizadas no período das águas para a produção de mi-
SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

lho e outros grãos, e após a safra os pequenos produtores


vão reiniciar mais um período com as hortaliças.
José Nelson Martins é um dos 12 agricultores que se bene-
ficiam há quatro anos do cultivo de lavouras de tomate no Sí-
tio São João, localizado em Turvolândia e está entusiasmado
com as perspectivas do produto para 2012. “Os resultados
obtidos até agora com tomate são animadores”, ele diz. “Nes-
te ano, colhemos em cinco hectares. Até o final de dezem-
bro ou início de janeiro vamos fazer o primeiro plantio para a
safra de 2012 e em junho o segundo, completando a ocupa-
ção de 10 hectares”, prevê o agricultor.
Produção
A produção será destinada principalmente a atacadistas
e varejistas de São Paulo, que parecem dispostos a adquirir
até um volume maior que o previsto atualmente”, acrescenta
Tomate mineiro é destinado José Nelson. Ele ainda explica que, neste ano, a cotação do to-
principalmente a atacadistas mate produzido no Sítio São João variou de R$ 17 a R$ 33 a caixa
e varejistas de São Paulo
de 23 quilos.
Metropolitana de Belo Horizonte. “Uma parte do produto é envi- Segundo o agricultor, o grupo de produtores do Sítio São João
ada para outros Estados, como Goiás, São Paulo e Distrito Fede- consegue administrar os negócios sem dificuldade porque está bem
ral”, finaliza Nascimento. organizado. “Os equipamentos de irrigação que utilizamos nas la-
Agricultura familiar vouras e também os insumos foram comprados em conjunto, com
No Sul de Minas, agricultores familiares participam da pro- orientação da Emater, que ajuda também a organizar a comerci-
dução de hortaliças com assistência da Emater-MG. Eles traba- alização do tomate”, finaliza.
lham em terras cedidas sem custo, com o compromisso de, de- IVANI CUNHA - SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

A Lavoura DEZEMBRO/2011 41

!ALAV687-40-41-Horticultura.pmd 41 16/11/2011, 13:19


Pele e pelo,
proteção e beleza
do animal
A pele é o maior órgão do corpo e uma barreira natu-
ral de defesa, fornecendo proteção contra agentes ex-
ternos e refletindo muito do que se passa no organismo
do animal. Devido a esses fatores, a pele merece uma
atenção especial. Já o pelo, além de seu elemento es-
tético e característico das raças, também possui sua
importância, ao proporcionar isolamento térmico e atu-
ar como um meio protetor entre o animal e o habitat.
São vários os fatores que podem ocasionar mu-
danças na pele e no pelo dos animais de estimação;
alguns são fisiológicos, como as diversas fases da
vida. Por exemplo, quando deixam de ser filhotes e
se tornam adultos, a pelagem torna-se mais espes-
sa. Já os mais idosos podem ter seus pelos
embranquecidos ao longo do tempo, principalmente na
região do focinho. Outra mudança normal e frequente
é a troca do tipo de pelagem no verão e no inverno. Con-
tudo, é possível que algumas alterações de coloração e
queda de pelos sejam decorrentes de fatores que neces-
sitam de cuidados médicos. As doenças de pele/pelagem
podem ser causadas por pulgas, carrapatos, piolhos, fungos, Alterações de coloração e queda de pelo devem ser
bactérias, vermes, desnutrição, alergias, desequilíbrios observadas pelo proprietário do cão
hormonais, entre muitos outros fatores.
Problemas de pele prejudicando o animal so para determinar as causas dos problemas dermatológicos.
Nem sempre o proprietário percebe, mas coceiras, Além do tratamento, que pode envolver vacinas manipuladas
lambeduras e mordeduras nas patas são os primeiros e medicamentos para diminuir a inflamação e a coceira, é de
indicativos de que o animal precisa de avaliação dermatológica extrema importância realizar a assepsia (desinfecção) do
de um médico veterinário. Sobre a pele dos seres vivos existe ferimento ou lesão.
uma população de bactérias. Geralmente inofensiva, a flora Atenção aos sinais
de microorganismos não faz com que esse órgão perca suas Apesar da dificuldade de evitar as causas do aparecimen-
funções de barreira natural e eficaz às infecções bacterianas. to dos problemas de pele, principalmente nos animais com pre-
Por isso, arranhaduras ou irritações que prejudiquem a inte- disposição, é importante tomar alguns cuidados, dentre os
gridade da pele podem torná-la mais susceptível a infecções. quais limpar frequentemente o local onde o animal costuma
Nos animais de estimação, a coceira pode se tomar um gran- dormir, escovar diariamente a pelagem do animal e evitar que
de sofrimento e também aflige o dono do pet. Neles, os proble- ele ande ou permaneça sobre superfícies molhadas. Vale lem-
mas de pele estão mais relacionados à estrutura do tecido do brar também que, em condições normais, os donos de ani-
que à quantidade de bactérias que o animal tem sobre o corpo. mais de estimação não precisam evitar o contato com o bi-
Os sintomas clínicos mais comuns dos problemas dermatológicos cho de estimação, pois, na maioria das vezes, não estarão
nos animais de estimação são os três já citados, além da perda sob o risco de contágio.
de pelos e odor desagradável. Nos casos mais severos, entre- Isso mostra que são muitos os aspectos envolvidos com a
tanto, é aflitivo ver o bichinho coçando-se, lambendo-se sem saúde da pele e dos pelos dos pets. Um outro fator relaciona-
parar e até mordendo as patas. Porém, as causas das alergias do, de extrema importância, é a alimentação. Esta deve ser
e dos problemas de pele muitas vezes têm origem genética, balanceada e suplementada com nutrientes específicos para
dificultando a prevenção. É aconselhável, ao detectar primei- proporcionar uma pele saudável e uma pelagem bonita e ma-
ros sintomas, procurar um médico veterinário para diagnosti- cia. As rações de boa qualidade cumprem este papel adequa-
car a causa do problema, para que a coceira não se agrave e o damente, mas “lanchinhos” como bolachas, pães e outras gu-
animal não chegue a machucar-se, ferindo a pele e, assim, per- loseimas devem ser evitados: alguns animais podem ter rea-
mitindo a contaminação e a infecção do tecido. ções alérgicas e até mesmo intoxicação ao ingerir esses ali-
Ainda que existam algumas raças mais predispostas, qual- mentos. A higiene também é muito importante, principalmen-
quer animal pode manifestar os sintomas e desenvolver pro- te no que diz respeito ao combate de pulgas e carrapatos, pois
blemas de pele. Hoje em dia, já existem exames eficazes, estes parasitas, além de trazerem problemas para a pele e o
como raspados de pele, citologia e exames de sangue, que pelo, podem causar doenças aos nossos amigos.
auxiliam o médico veterinário a um diagnóstico mais preci- ISABELLA VINCOLETTO - MÉDICA VETERINÁRIA DA VETNIL (ADAPTADO)

42 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-42-43-Animais.pmd 42 4/11/2011, 09:47


O
AD
UR
DO
HO
CIN
FO
Papai Noel
também
visita os pets
Cada vez mais frequente nos lares
brasileiros e considerados membros da família, Cama com
brinquedo:
os pets também estão inclusos nas listas de conforto e
presentes de fim de ano diversão

Os pets hoje são mais do que animais de companhia. Tor- Arranhadores e Kit com Cama, Arranhador e Brinquedo
naram-se membros da família, recebendo todos os mi- Diversão garantida para gatos, os arranhadores foram
mos e regalias que merecem, afinal, a felicidade do pet confeccionados em MDF forrados com pelúcia. O kit con-
reflete e influencia na do dono. E com a chegada das fes- tendo cama, arranhador e brinquedo garantem conforto e
tas de fim de ano, os bichinhos de estimação são pre- diversão para gatos em qualquer lugar, já que o kit se trans-
sença garantida nas listas de presentes. Para os que nunca forma numa prática bolsa que pode ser levada para onde
pensaram nesta possibilidade, o mercado oferece produ- quiser. É importante que o gato tenha um local para arra-
tos variados que prometem agradar. Veja algumas dicas nhar pois com esse ato, além de se divertir, ele apara e afia
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design é moderno e são fáceis de lavar.
Coleiras caninas e felinas
De couro ecológico, as coleiras possuem design moder-
no e são adornadas com pedras de strass, pérolas ou me-
tal. São acessórios de luxo que seguem as últimas tendên-
cias da moda pet.

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Remédio mais fácil O Snack Equilíbrio, da Total Alimen-


tos, além de ser um petisco saboroso,
possui uma abertura especial desenvol-
Snack especial para vida especialmente para acomodar a
comprimidos ajuda na maioria das cápsulas, comprimidos e
administração de remédios pílulas. Ele pode ser facilmente engoli-
TOTAL ALIMENTOS

para os cães do por cães de pequeno, médio e gran-


de porte, assim seu pet consome o re-
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refa de fazer seu cãozinho engolir O produto é vazado e possui uma
aquele comprimido indicado pelo ve- tampa (feita do próprio petisto) para
terinário - algo mais eficaz que o mi- manter o remédio em seu interior. “O
olo de pão no qual você tentou, sem design especial unido à alta palatabili-
sucesso, esconder o remédio - agora dade do alimento ajudam na eficácia
você não precisa mais gastar a sola O petisco é oco para inserir o medicamento dos tratamentos, que muitas vezes são
dos seus sapatos à toa: a solução che- interrompidos devido à dificuldade na
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A Lavoura DEZEMBRO/2011 43

!ALAV687-42-43-Animais.pmd 43 4/11/2011, 09:47


SILAGEM

É tempo de pensar
na silagem
NOTÍCIAS

O plantio
DE
AGÊNCIA

de milho, cana e das


diversas gramíneas, agora
MOREIRA/AGROPRESS

na primavera para o verão,


permite ao produtor planejar o
fornecimento de comida para os períodos
NELSON

rigorosos do ano. A melhor forma de preservar


o alimento é ensilando, pois evita a perda de peso
em tempos de escassez de pasto

Trator distribuindo silagem no cocho aberto

H
á um costume entre os pro-
dutores que trabalham com
rebanhos de corte de forma
extensiva em não produzirem e guar-
é a forma mais eficiente e barata que
se conhece para garantir suprimento de
volumoso ao rebanho durante o perío-
do de entressafra. “É ideal para siste-
Carmelindo Tomielo, uma boa silagem
precisa ser complementada com a adi-
ção de inoculantes biológicos que são
“bons micro-organismos” que auxiliam
darem alimento para os períodos crí- mas de produção que buscam na fermentação da ensilagem. Uma
ticos do ano, onde a natureza não maximizar o uso da terra, do trabalho silagem sem adição de inoculantes de-
disponibiliza comida farta e de quali- e do tempo”, afirma a diretora técnica mora de 25 a 40 dias para chegar a um
dade para a manutenção do peso dos da Kera Nutrição Animal, Regina Flores. pH menor que 4,5; isto significa que,
animais. Desta maneira, o que geral- Segundo a diretora, o processo de neste período, também se desenvolve-
mente ocorre é o emagrecimento e conservação da forragem baseia-se na rão bactérias láticas, coliformes e
perda de tempo, pois quando a época redução do pH (aumento da acidez) gra- clostrídios. “Este processo faz perder o
de bons pastos retorna o rebanho tem ças à produção de ácido lático a partir valor nutritivo da silagem. Para inativar
que primeiro recuperar os quilos per- do açúcar. “A forragem se conserva estes micro-organismos, o inoculante
didos para depois começar a ganhar porque levamos para o silo toda a flo- deverá baixar o pH abaixo de 4,5 o mais
peso. ra microbiana que está aderida à for- rapidamente possível. Com altas concen-
Uma das formas de evitar este ragem na lavoura. Esta flora está com- trações de bactérias por grama de
“efeito sanfona” é fazer ensilagem, que posta por um universo muito grande, silagem, pode-se conseguir que a silagem
é um processo de conservação dos ali- mas os que podem influir na maior ou esteja ‘pronta’ em três dias”, avalia
mentos em locais hermeticamente fe- menor qualidade da silagem são os Tomielo.
chados, livres de oxigênio. Seu objeti- fungos, leveduras, bactérias láticas, Vantagens
vo é preservar ao máximo o valor nu- (que são as responsáveis pela conser- O custo de produção para silagem
tritivo original da forragem escolhida vação da silagem), clostrídios e varia muito, porque há diferenças na
para isto, seja ela cana, capim ou mi- coliformes”, explica Regina. escala, tipo de cultura a ser ensilada,
lho e sorgo (planta inteira). A ensilagem Para o consultor técnico da empresa, fertilidade do solo, etc. Mas, em geral,

44 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-44-45-Silagem.pmd 44 4/11/2011, 09:49


SILAGEM

AGROPRESS AGÊNCIA DE NOTÍCIAS


uma silagem tem entre R$35 a R$90 por
tonelada de matéria original (matéria
úmida). É importante salientar que a
silagem produzida e bem armazenada
dura por muitos anos. Fazendo silagem,
é possível a manutenção de um maior
número de animais ou unidades ani-
mais (450 kg) por unidade de terra;
permite a manutenção ou maximiza-
ção da produção (carne ou leite); per-
mite, através do confinamento, ofertar
animais bem nutridos em épocas de
melhor preço; permite armazenar gran-
de quantidade de alimento em pouco
espaço. Cortando a silagem para colocar no distribuidor

Propriedades microbiológicas ideais para a silagem


A pesar das vantagens deste processo, são
necessários cuidados para sua compo-
sição ideal em termos de equilíbrio de
Porque os coliformes consomem
energia e proteínas da forragem e pro-
duzem chorume, um líquido poluente
tudo, o problema mais grave é a morte de
animais por silagem deteriorada, algo que
está sendo cada vez mais frequente e tem
micro-organismos. O universo da flora que que baixa o valor nutritivo da silagem. duas causas principais: primeiro, o grande
integra a pastagem é vasto, sendo compos- Além disso, o chorume causa a formação desenvolvimento de clostrídios e seus pro-
to, dentre outros, de fungos, leveduras, butírica que dá sabor e cheiro repulsi- dutos tóxicos, listados acima. Depois, o de-
clostrídios, coliformes e bactérias láticas, vos à silagem, diminuindo o consumo pelo senvolvimento de fungos na silagem. Eles se
sendo as últimas as responsáveis pela con- animal. Outro grave problema é a produ- desenvolvem na presença de ar, o que sig-
servação da silagem. A proporção entre os ção de toxinas, muito prejudiciais à saú- nifica que a compactação é fundamental
componentes da flora influirá na maior ou de animal, como a histamina – responsá- para dar estabilidade à silagem.
menor qualidade da silagem. vel pela laminite, entre outras doenças – Presença de fungos
Fermentações a cadaverina, putrescina, triptamina além O sinal mais evidente da presença de
Logo após o fechamento do silo, as de outras toxinas, que podem causar fungos é o aquecimento da silagem, que
fermentações se iniciam. Dentre elas, a que abortos, lesões hepáticas, renais e intes- geralmente acontece logo após o fecha-
mais interessa é a lática: as bactérias láticas tinais e diarreia, cuja gravidade depen- mento do silo. Neste momento, o ar esta-
transformam os açúcares em ácido lático, de do teor das mesmas. Como não é pos- rá presente, e, quanto melhor for a com-
o qual aumenta a acidez da forragem, res- sível evitar que elas se desenvolvam, pactação, o processo ocorrerá com me-
ponsável por sua conservação. A acidez é pode-se, pelo menos, diminuir seu tem- nor intensidade. Porém, o aquecimento
medida por pH, uma medida de acidez que po de multiplicação com o uso do retornará quando o silo for aberto para
vai de zero a 14, sendo que o quanto me- inoculante. Este produto deverá possuir utilização. Os fungos produzem micotoxi-
nor for o pH, mais ácido será o meio. As- um alto teor de bactérias por grama de nas altamente tóxicas: aflatoxina, cuja
sim, quando a forragem entra no silo, ela silagem, dados que que estão no rótulo dose letal é igual à estricnina;
tem um pH de 6,0 a 6,5 e ele precisa ficar de todos os produtos comerciais. zearalenona, abortiva e até mortal; DON;
abaixo de 4,5 para que coliformes e Nem toda silagem será aproveitada vomixina e uma lista de mais de 500 subs-
clostrídios parem de se desenvolver. E por Todo o alimento que passa por um pro- tâncias. Para evitá-las, o primeiro passo
que é preciso que eles se desenvolvam o cesso de conservação – neste caso, uma fer- sempre será a compactação, facilitada
mínimo possível? mentação – perde valor nutritivo. O que o pelo corte da forragem em partículas pe-
inoculante faz é diminuir ao máximo esta quenas, observação do teor de matéria
Silagem: esmo com o cuidado do produtor, perda e também em termos físicos, com mau seca e as particularidades de cada silagem,
ocorrem perdas naturais de ordem química cheiro, aquecimento no cocho, etc. Con- por exemplo, bolas de pré-secado sempre
ou física terão mais ar em seu interior.
Porém, às vezes uma boa compactação
será impossível, como na presença de pro-
blemas climáticos, quando a matéria seca da
silagem estiver muito alta. Neste caso, o
produtor deve também utilizar uma bacté-
ria propiônica, que produz o ácido de mes-
mo nome e que inativa fungos e leveduras.
Desta forma, apesar de não poder impedir
a presença de ar, eles se manterão inativos
graças à presença do ácido propiônico.
REGINA FLORES
DIRETORA TÉCNICA DA KERA NUTRIÇÃO ANIMAL

A Lavoura DEZEMBRO/2011 45

!ALAV687-44-45-Silagem.pmd 45 4/11/2011, 09:49


APPA – ADMINISTRAÇÃO DOS PORTOS DE PARANAGUÁ E ANTONINA
COOPERATIVISMO

Soja em grão: um dos principais produtos exportados pelas cooperativas

Exportações das cooperativas


crescem 34,6% entre janeiro e outubro
ser explicada, de acordo com o gerente de Ramos e Mercados da
Resultado recorde retrata profissionalismo OCB, Gregory Honczar, pelos mesmos condicionantes já observados
do setor e qualidade dos produtos no passado, principalmente pela forte demanda do etanol brasileiro
aliada aos bons preços.

A
s cooperativas brasileiras registraram um novo recorde em Mercados
exportações. Nos primeiros dez meses de 2011, o setor A China se mantém como o principal mercado de destino dos
contabilizou crescimento de 34,6% em relação ao mesmo produtos cooperativistas. De janeiro a outubro, os chineses com-
período de 2010, alcançando US$ 4,4 bilhões em vendas ao exterior. praram US$ 661 milhões. O valor corresponde a 12,9% das expor-
Para o intervalo avaliado, esse foi o melhor resultado registrado des- tações do segmento. Os Emirados Árabes ocuparam a segunda
de 2005. Os dados fazem parte de um estudo elaborado pelo Minis- colocação, com US$ 497,2 milhões e 9,7%. Na sequência, estão
tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O Estados Unidos (US$ 483,5 milhões; 9,4%), Alemanha (US$ 384,9
resultado positivo se repetiu no saldo da balança comercial do seg- milhões; 7,5%) Holanda (US$ 265,1 milhões; 5,2%) e Japão (US$
mento, que fechou em US$ 4,9 bilhões nos primeiros dez meses do 243,5 milhões; 4,7%).
ano, outro recorde, superando em 34,7% o de 2010, quando atingiu Estados exportadores
US$ 3,6 bilhões. Na relação dos estados exportadores, São Paulo, mais uma vez,
Para o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras registrou o maior valor, com US$ 1,7 bilhão, representando 33,4% dos
(OCB), Márcio Lopes de Freitas, os indicadores comprovam que o negócios do setor. O Paraná, por sua vez, fechou com US$ 1,6 bilhão
movimento cooperativista está respondendo às exigências de mer- e 33% do total. Na terceira colocação, está Minas Gerais (US$ 666,8
cado com produtos e serviços de qualidade. “O profissionalismo marca milhões; 13%), seguido do Rio Grande do Sul (US$ 331,4 milhões; 6,5%)
a gestão das cooperativas brasileiras e isso reflete nos resultados e Santa Catarina (US$ 248,9 milhões; 4,8%).
alcançados. Por isso, trabalhamos com um cenário positivo e a indi- Importações
cação é de que chegaremos a praticamente US$ 6 bilhões no final Também houve expansão de 33,8% nas compras externas
de 2011”, disse. efetuadas por cooperativas de janeiro a agosto deste ano, se com-
Produtos paradas ao mesmo período do ano passado, passando de US$ 165,6
No grupo de produtos exportados pelas cooperativas, conti- milhões para US$ 221,6 milhões. Sob a ótica das importações, a par-
nua em primeiro lugar o complexo sucroalcooleiro, com US$ 1,9 ticipação na pauta é 0,3%. Entre os principais produtos importados
bilhão, respondendo por 37,2% do total. Em seguida, aparece o pelas cooperativas nos primeiros oito meses de 2011, destacam-se
complexo soja, com US$ 1,1 bilhão e 22,4%. Café em grão fechou os seguintes: cloretos de potássio (com compras de US$ 39,5 mi-
o período com US$ 623,7 milhões, representando 12,1% das vendas. lhões, representando 17,8% do total importado pelas cooperati-
A carne de frango também está entre os principais itens, registran- vas); cevada cervejeira (US$ 23,8 milhões, 10,7%); malte não torra-
do US$ 461,2 milhões e correspondendo a 9%. Vale citar ainda o tri- do (US$ 17,7 milhões, 8,0%); e diidrogeno-ortofosfato de amônio (US$
go, com US$ 241,5 milhões e 4,7% das exportações. 17,2 milhões, 7,7%).
A permanência do complexo sucroalcooleiro na liderança pode GABRIELA AFONSO PRADO - OCB

46 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-46-47-Cooperativismo.pmd 46 4/11/2011, 12:42


COOPERATIVISMO

Cooperativas mostram força estado de São Paulo, dentro do proje-


to Implantar, realizado pelo Instituto

no campo com exemplo Nacional de Processamento de Embala-


gens Vazias (InpEV). Durante todo o ano

de boas práticas de 2010, a Coplacana realizou ações


itinerantes no estado de São Paulo para
receber embalagens vazias. Nessas oca-

F omentar boas práticas agrícolas é


fundamental para pautar um futuro
de sucesso no Brasil, reconhecido in-
atendidas outras 64 mil pessoas em ou-
tros projetos realizados pela coopera-
tiva, que alcançou desde propriedades
siões, aproveitou para falar sobre a im-
portância da aplicação segura de de-
fensivos, abordando o uso de EPIs,
ternacionalmente pelo seu potencial rurais até comunidades inteiras. tríplice lavagem e devolução em local
para ser o celeiro do mundo. Algumas Já a Coplana (cooperativa dos correto.Resultados em eficácia e ges-
cooperativas brasileiras já aderiram à Plantadores de Cana da Zona de tão foram notórios – a Coplacana ficou
ideia e demonstram engajamento à cau- Guariba) foi pioneira na implementação em terceiro lugar no programa, princi-
sa, apresentando resultados sensíveis de uma Central de Recebimentos de palmente por causa da redução dos
na valorização da educação e sustenta- Embalagens de Defensivos. A unidade, custos no processamentos das embala-
bilidade no campo. coordenada pela Divisão Agrícola, com- gens em 60%, um índice e tanto.
No ano passado, dezenas de proje- pletou16 anos de trabalho em prol da Responsabilidade social
tos realizados por produtores e associ- preservação ambiental e da saúde da Quando o assunto é responsabilida-
ados conscientes atingiram milhares de população rural. Com sua estrutura re- de social, a Cocari também se sobres-
pessoas em seus diversos grupos, irra- cém modernizada e ampliada, a Central sai. Por meio da campanha Cocari Soli-
diando oportunidades e conscientiza- teve capacidade de processamento dária, em atividade desde 2005, a coo-
ção à população rural e urbana de di- aumentada de 20 para 90 toneladas perativa estimula o voluntariado, unin-
versas faixas etárias. mensais. do forças de cooperados, familiares e
Iniciativas Resultados colaboradores em prol da população
São iniciativas assim que tornam Os resultados obtidos pela Central carente. Além disso, a instituição orga-
possível ao Brasil ser uma potência em da Coplana são modelo no mundo, ao niza promoções para arrecadar recur-
alimentos e energia limpa. “Ao difundir atingir a marca de 100% de devolução sos, para distribuição integral em asilos,
os hábitos sustentáveis, é possível ins- das embalagens de defensivos utilizadas creches e escolas. A partir de 2008, o
tituir uma nova mentalidade voltada à por seus cooperados. Desde a implan- projeto passou a incentivar o envolvi-
adoção de boas práticas e diminuir de tação, a unidade já retirou do meio mento a comunidade na preservação
maneira significativa os danos à saúde, ambiente 3,1 mil toneladas de embala- ambiental, distribuindo mudas de árvo-
ambiente e qualidade de vida dos pro- gens (o equivalente a 2,8 mil caminhões res produzidas por alunos da Associação
fissionais envolvidos, bem como minimi- carregados). O descarte adequado co- de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE)
zar os impactos ao meio ambiente”, afir- meça com o trabalho do produtos ain- de Mandaguari – esses alunos foram con-
ma José Annes Marinho, gerente de da no campo, com a tríplice lavagem. Ao tratados pela Cocari, a fim de contri-
educação da ANDEF (Associação Nacio- chegar à Coplana, as embalagens são buir para a inclusão social de portado-
nal de defesa Vegetal), complementando inspecionadas e separadas. Após pren- res de necessidades especiais.
que diversas iniciativas produtivas e efi- sagem e enfardamento, são levadas à
cazes foram apresentadas à entidade indústria de reciclagem.
esse ano, ao longo do XIV Prêmio Andef Outra referência no setor é a ativi-
– que destaca atividades de responsa- dade desenvolvida pela Coplacana, Co-
bilidade social e ambiental. operativa dos Plantadores de Cana do
Projeto
Um dos projetos que chamou a aten-
ção foi a iniciativa da Cooperativa
COPLACANA

Cooxupé, que em 2010 realizou 231


eventos educacionais, envolvendo mais
de 26,5 mil participantes em debates e
palestras sobre o uso correto e seguro
de defensivos agrícolas.
Tal conscientização já surtiu efeitos.
Com os eventos, as vendas dos equipa-
mentos de proteção individuai (EPIs) au-
mentou em 28% nas lojas Cooxupé. além
das palestras e treinamentos, foram

Embalagens de defensivos
utilizadas: 100% de devolução

A Lavoura DEZEMBRO/2011 47

!ALAV687-46-47-Cooperativismo.pmd 47 4/11/2011, 09:50


Tronco de contenção e medição
para o rebanho

COIMMA
A Coimma, tradicional fabricante de Balanças e Troncos
de Contenção para a pecuária, colocou no mercado o ‘Tron-
co Americano Supremo’.
Segundo o fabricante, o equipamento conta com novo
sistema push-lock, imobilização hybrid-wall e sistema de
travamento dos por tões e pode ser conjugado às diversas
linhas de balanças eletrônicas da empresa. O novo modelo
conta com avançado sistema de contenção, mensuração,
castração, acionamento por pistões e dispositivo salva-vi-
das como itens de série. Todos estes dispositivos facilita-
rão sobremaneira qualquer tipo de tratamento fitossanitário,
além de evitar estresses e lesões nos animais, explica a Tronco americano Supremo
Coimma.
• Mais informações sobre a Coimma podem ser obtidas no telefone 0800 11 2555 ou no site www.coimma.com.br.

Nutrição sob medida para a fase Misturador de ração


pré-inicial dos pintinhos Equipamento é destinado a produtores
Produto de alta performance nutre os pintinhos em de médio e pequeno porte
seus primeiros dias de vida Um vagão misturador de pequeno para médio porte é o novo
lançamento que a Casale Equipamentos, de São Carlos, SP. O
A Presence, nova marca da Evialis, lançou Unimix é um novo produto que traz como vantagem o forneci-
uma novidade em nutrição para os primeiros mento de uma ração homogênea aos animais, evitando que con-
PRESENCE

dias dos pintinhos: a ração Préforte. suma uma dieta desbalanceada. Isto é possível porque o Unimix
De acordo com a Presence, diversos são os foi projetado para realizar uma perfeita mistura entre o volumo-
fatores que influenciam o desempenho das aves so e o concentrado.
em seus primeiros momentos de vida. Um dos O fabricante explica que o equipamento processa entre 500 a
principais influenciadores é o tempo decorrido 600 kg por mistura sendo ideal para produtores de leite, ovinos,
entre a eclosão e o início da ingestão de alimen- caprinos ou bovinos de corte que tenham rebanhos pequenos.
to e água, que reflete diretamente na dependên- Ele vem com um opcional: uma balança eletrônica que permite
cia que o pintinho terá das reservas contidas do pesar e dosar de forma independente os elementos que compõem
saco vitelino. A manutenção dos pintinhos em a dieta, o que o transforma num equipamento de precisão na hora
jejum por períodos prolongados após a eclosão de distribuir a comida no cocho.
determina menor habilidade para absorção de De acordo com a Casale, o Unimix é um produto que agrega valor
aminoácidos e outros nutrientes pelo intestino à produção, pois seu custo/benefício é bem significativo. No momen-
Préforte: para os
primeiros dias quando as aves passam a ser realimentadas. to em que a dieta é balanceada e o animal come aquilo que realmente
dos pintinhos Pintinhos em condição de subnutrição inicial de- necessita, o retorno em produção de leite e/ou carne é garantido, em
vido ao jejum prolongado e à inadequada dispo- consequência, o lucro também, esclarece o fabricante.
nibilidade de nutrientes no primeiro alimento têm perdas no potencial de
ganho de peso que jamais são recuperadas, quando comparados a pinti-
nhos que foram nutridos de forma adequada após a eclosão. Préforte
Presence chega ao mercado para suprir essa necessidade, utilizando o
que há de mais moderno e eficaz em nutrição pré-inicial, explica o fabri-
CASALE

cante.
Benefícios
Com o objetivo de maximizar a digestibilidade, a Préforte apresen-
ta formulação apurada e ingredientes funcionais que melhoram a efici-
ência alimentar, integridade intestinal e balanço hídrico. A Préforte ain-
da inova ao combater o estresse térmico recorrente nas regiões mais
quentes do país, por meio da inclusão de vitamina C protegida e espe-
cífico balanço eletrolítico para esta fase, esclarece a Presence. Misturador de ração Unimix

48 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-48-Empresas.pmd 48 4/11/2011, 09:52


LEITE
LEITE

GUSTAVO PANHOS
GUSTAVO PANHOS

Instalações adequadas previnem contaminações e facilitam o manejo

D ANIELA M IYASAKA S. C ASSOL E


P IETRO M ASSARI
MÉDICOS VETERINÁRIOS

Ainda há muito a fazer para a adequação da IN 51.


Como o agronegócio brasileiro é persistente, apesar dos obstáculos,
a participação do mercado é crescente

O
agronegócio é a principal locomotiva da econo- Com a criação do Plano Nacional da Qualidade do Lei-
mia brasileira: próspero e rentável. O leite é um te (PNQL), em 1996, por meio do Ministério da Agricultu-
dos alimentos de maior importância para o ho- ra, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e com apoio de ór-
mem e o mercado leiteiro é um setor de grande impacto gãos de ensino e pesquisa, houve muitos debates e dis-
no agronegócio, com uma produção média estimada de cussões para implantar novos regulamentos técnicos e
30,6 bilhões de litros em 2010 (IBGE) e 32 bilhões para critérios para produção de leite. Este foi o ponto de par-
2011. Cerca de 90% dos produtores são considerados pe- tida de uma série de normativas e portarias que viria a
quenos e apenas 10% são médios e grandes, que geram culminar com a criação do Conselho Brasileiro de Quali-
aproximadamente 4,2 milhões de empregos diretos e 42 dade do Leite (CBQL) pela Instrução Normativa (IN) 37.
milhões indiretos. A exportação do alimento é de 455 mi- Instrução Normativa 51
lhões de litros e é um importante componente para o equi- Com a publicação da IN 51 definiu-se parâmetros técni-
líbrio da balança comercial brasileira. cos sobre a qualidade do leite (regulamentos técnicos de

A Lavoura DEZEMBRO/2011 49

!ALAV687-49-53-Leite.pmd 49 4/11/2011, 09:53


LEITE

produção, identidade e qualidade dos leites tipos A, B e C, nhecimento com clareza, não só sobre as mudanças,
do leite pasteurizado e do leite cru refrigerado e o regula- mas também o modo correto de se adaptar as exigên-
mento técnico da coleta de leite cru refrigerado e seu trans- cias da IN 51.
porte a granel). Cuidados contra a contaminação do leite
Antes da criação e publicação da IN 51 não existiam O produtor deve ter o conhecimento de que a quantidade
parâmetros para contagem de células somáticas e de con- de microorganismos presentes no leite varia de acordo com a
tagem bacteriana total para o leite C, somente ao leite A e contaminação inicial, o tempo e temperatura de armazena-
B. Da data de sua publicação até 1o de julho de 2005 para as mento, podendo variar em decorrência de processos inflama-
regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, o limite máximo era tórios do úbere ou de enfermidades no rebanho.
de 1 milhão de CCS e de CBT e para as regiões Nordeste e Para a obtenção da produção de leite com qualidade, higi-
Norte com a data de 1o de julho de 2007. Atualmente o teto enização no processo de obtenção, resfriamento do leite (4oC)
está em 750 mil células/ml para CCS e CBT. e controle da mastite são de fundamental importância. Na
Parâmetros prorrogados higienização destaca-se a limpeza das mãos dos ordenhado-
Os parâmetros atuais estão em vigor até 1o de dezem- res, dos equipamentos e do úbere da vaca com água potável.
bro de 2011 por motivo de prorrogação, já que deveriam O ordenhador deve estar com roupas limpas, ser organizado,
ter sido novamente modificados em 1o de julho de 2011, manter uma rotina e seguir processos de higienização.
onde passariam de 750.000 cél./ml para 400.00 cél./ml e Sala de ordenha
100.000 cél./ml de CCS e CBT, respectivamente. Veja o A sala de ordenha deve ser um local sem agitação, limpo
quadro comparativo: e fresco. Os equipamentos devem ser lavados com água
Atual Exigência Redução
morna de 70o a 7oC e detergente alcalino clorado na dosa-
IN 51 de: gem indicado pelo fabricante. Depois, é preciso passar de-
tergente ácido diluído em água a 45ºC. A sala de ordenha
CBT 750.000 100.000 86%
deve fornecer conforto térmico às vacas. Materiais como
(Contagem Bacteriana Total) cél./mL cél./mL
latões, caneca de fundo preto, papel toalha, frascos para
CCS 50.000 400.000 46% imersão dos tetos, escova para limpeza do material, deter-
(Contagem de Células 7cél./mL cél./mL
Somáticas)
gente, soluções desinfetantes, todos devem sempre estar
disponíveis para uso. Para desinfecção dos equipamentos,
Fonte: IN 51 (MAPA)
Outras informações estão disponíveis no site do MAPA (www.agricultura.gov.br)
materiais e até no pré e pós-dipping pode ser utilizada uma
solução à base de cloreto de alquil dimetil benzil amônio (de-
A CCS deve ser alcançada com o tempo, tentando sinfetante) + poliexietilenonilfenileter (tensoativo).
baixar cada vez mais as concentrações. Outro fator a Resfriamento do leite
ser corrigido é a assistência, capacitação técnica, di- Em relação ao resfriamento do leite, o tanque de resfri-
vulgação de informações de modo mais abrangente, amento deve ficar próximo ao local da ordenha e ser de fá-
que deve chegar a todos os produtores, oferecendo co- cil acesso para o veículo coletor. O local deve ser coberto,

GUSTAVO PANHOS
O exame CMT pode detectar
a mastite subclínica, sem
sintomas tão aparentes

50 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-49-53-Leite.pmd 50 4/11/2011, 09:53


EMBRAPA GADO DE LEITE LEITE

A água utilizada na higienização e materiais é sempre potável

pavimentado, com energia elétrica e água de boa qualida- Ainda há muito a fazer até a adequação da IN 51. Como
de. Deve haver um bom isolante térmico a fim de evitar o o agronegócio brasileiro é persistente, apesar dos obstá-
aquecimento do leite. A instalação do tanque deve ser feita culos, a participação do mercado é crescente. Como van-
perfeitamente em nível para facilitar o escoamento do leite tagens brasileiras, temos terras abundantes, potencial de
e da água de lavagem aproveitando o desnível que já existe produção, climas favoráveis, imensa disponibilidade de
no fundo do tanque. A potência do resfriador deve ser sufi- água doce e energia renovável, capacidade empresarial,
ciente para permitir rápido abaixamento da temperatura do tudo isso faz do agronegócio um importante componente
leite sem que tenha alterações em sua qualidade. da balança comercial que permite ao Brasil comemorar o
Controle da mastite superávit primário.
A mastite bovina deve ser entendida como uma inflama-
SURGE

ção da glândula mamária. As principais causas são bactérias,


fungos, leveduras e algas. A mastite pode ser clínica ou
WESTFALIA

subclínica, podendo aquela ser detectada pelo exame da ca-


neca de fundo escuro ou caneca telada, em que é identifica-
da a presença de grumos. Já a forma subclínica não apresen-
ta sinais clínicos e por isso é assim chamada, mas pode facil-
mente ser detectada por meio do California Mastitis Testis
(CMT). Outros métodos, como a análise da CCS (contagem
de células somáticas), cultura bacteriológica e condutividade
elétrica são também muito eficazes para a identificação des-
tas mastites. Pode ser diferenciada pelo agente causador na
forma contagiosa ou ambiental; sendo a contagiosa mais
comum durante toda lactação por Staphycoccus aureus,
Streptococcus agalactiae, Corynebacterium bovis,
Streptococcus uberis e ambiental, que ocorre principalmente
no pré-parto e início da lactação, causada por Escherichia coli,
Klebsiella sp, Enterobacter sp, Streptococcus dysgalactiae.
Para o tratamento da vaca em lactação com mastite
recomenda-se a utilização de um antibiótico eficaz e se-
guro à base de gentamicina associado a um mucolítico
(bromexina), administrado pela via intramamária associ-
ado a penicilinas, estreptomicina, oxitetraciclina +
diclofenaco de sódio, ou de acordo com a orientação do
médico veterinário. Na secagem é recomendada a utiliza-
ção de gentamicina em alta concentração.

O treinamento dos empregados também inclui


o uso correto e eficiente dos equipamentos

A Lavoura DEZEMBRO/2011 51

!ALAV687-49-53-Leite.pmd 51 4/11/2011, 09:53


LEITE

Pesquisas sobre produção

EMBRAPA AGROBIOLOGIA
de leite orgânico podem
fortalecer a cadeia
produtiva
Sem conter resíduos químicos de qualquer
espécie, o leite orgânico é mais saudável do que o
convencional, embora ambos possuam o mesmo
valor nutritivo. Contudo, o que seria uma opção
de consumo esbarra na baixa produção
brasileira, cerca de 0,01% do total

Observando esta demanda crescente, foi implantada


uma rede de pesquisa interinstitucional coordenada pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-
lógico (CNPq), da qual a Embrapa Cerrados, Unidade da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), faz
parte. A meta do projeto, cuja expectativa de investimen-
to é de R$ 1 milhão, também visa ao desenvolvimento e
fortalecimento da cadeia produtiva do leite orgânico no país
a partir da disponibilização de tecnologias – e os trabalhos
da Embrapa Cerrados já começaram.
Com a pesquisa localizada neste bioma, será estudada
a produção de biomassa de forragem para sistemas agro-
ecológicos de leite. A pastagem será avaliada durante três
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

A média brasileira da produção orgânica é de 9 litros de leite


por dia

anos. “Plantamos braquiária consorciada com estilosantes


e, nas faixas, vamos plantar feijão guandu”, informa o pes-
quisador responsável João Paulo Guimarães. Segundo ele,
para uma pastagem ser orgânica, não deve ser utilizado
nenhum insumo químico, as fontes de adubo têm de ser
substituídas por fontes naturais e o sistema de pastejo tem
de ser do tipo rotativo (conforme a Lei 10.831/03 e a Ins-
trução Normativa 64/08, que entrou em vigor em janeiro
de 2011).

Substituição da ureia
O pesquisador explica que, para substituir a ureia, que
não é permitida no sistema orgânico por ser obtida a par-
tir do petróleo, utiliza-se adubação verde, com legumino-
sas fixadoras de nitrogênio, como é o caso do estilosantes
e do guandu. “Para aumentar a absorção de nutrientes pelas

Na produção orgânica de leite, não são permitidos


conservantes ou aditivos

52 DEZEMBRO/2011 A Lavoura

!ALAV687-49-53-Leite.pmd 52 4/11/2011, 09:53


LEITE

raízes das gramíneas e leguminosas, também vamos


utilizar fungos micorrízicos, desenvolvidos em labora-
tório. Como fonte de fósforo, são usados fosfatos de
rochas naturais e, para suprir de potássio, no lugar do
cloreto de potássio, usamos o pó de rocha. Tudo é
Leite orgânico

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA


natural e não tem nada de adubo químico”.
As pastagens foram instaladas na sede da Embra-
aumenta
pa Cerrados, localizada em Planaltina (DF), e também
na escola agrícola do município de Unaí (MG), que
a renda do
possui um projeto ligado a agricultores familiares sen-
do desenvolvido por pesquisadores da Unidade. O es-
produtor
tudo das pastagens levará 36 meses. Em seguida,
segundo o pesquisador, serão avaliadas as condições
de pastejo e, por fim, validada a pesquisa junto aos
agricultores familiares do DF e entorno. “O projeto de
agricultura orgânica é direcionado à agricultura fami-
liar, que é responsável por quase 60% de toda a produ-
ção de leite do país”, informa.
O pesquisador destaca, ainda, que para implemen-
tar esse projeto buscou-se estabelecer parceiras com
os outros trabalhos já em andamento na Embrapa
Cerrados. “Além da parceria com o Projeto Unaí, tam- O leite orgânico não contém resíduos químicos
bém estamos trabalhando em conjunto com o projeto
de rochas potássicas e com o de melhoramento de le- A bebida pode remunerar até 50% a mais
guminosas. Quero agregar todos os grupos que pos- em relação ao produto convencional,
sam trabalhar com agricultura orgânica. Acredito num cujo valor pago é de R$ 0,80 por litro,
sistema diferenciado que ofereça produtos de quali- enquanto com o orgânico o produtor pode ser
dade com segurança alimentar”, enfatizou o pesqui- remunerado com até R$ 1,20 por litro
sador. A produção de leite orgânico registrada em 2010 chegou a
quase 5,5 milhões de litros, o equivalente a 1% do comércio
Projetos total do produto. Produzido em sistema diferente do processo
habitual, representa uma fonte de renda alternativa para o
O pesquisador João Paulo Guimarães Soares é lí-
agricultor, a preços atrativos.
der do projeto componente Sistemas Orgânicos de
“A mudança do sistema produtivo pode ser bastante posi-
Produção Animal (iniciado em outubro de 2007) do tiva, já que estudos mostram que o leite orgânico é valorizado
Macroprograma 1 da Embrapa - Bases Científicas e no mercado e o preço chega a ser 50% maior do que o conven-
Tecnológicas para o Desenvolvimento da Agricultura cional em algumas regiões”, explica o pesquisador da Empre-
Orgânica no Brasil. Além do projeto de pesquisa apro- sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), João Paulo
vado em dezembro pelo CNPq, o pesquisador também Guimarães Soares, zootecnista da unidade Cerrados da Em-
coordenará a partir deste ano, com previsão de tér- brapa, no Rio de Janeiro.
mino para 2013, um trabalho de estruturação da ca- A produção de leite no sistema orgânico ainda é em peque-
deia produtiva do leite orgânico no Distrito Federal e na escala (a média diária varia entre oito e dez litros). Isso
municípios do entorno. acontece porque existem poucos produtores certificados no
Brasil adequados à Lei 10.831 e à Instrução Normativa nº 64 do
Serão priorizados os seguintes locais: Paranoá (DF),
Ministério da Agricultura. Os custos de produção são menores,
PAD-DF, Padre Bernardo (GO), Luziânia (GO), Formo-
pois o produtor usa menos insumos. Esse sistema evita a uti-
sa (GO), Cristalina (GO) e Unaí (MG). O trabalho con- lização de máquinas agrícolas, trabalha com plantio direto e
ta com recursos do programa Mais Alimentos, do Mi- compostos orgânicos, porém, exige mão-de-obra maior e mais
nistério do Desenvolvimento Agrário (MDA). qualificada.
“Com esses dois projetos aprovados externamen- Para adotar o sistema orgânico de produção é necessário
te queremos apoiar financeira e tecnicamente o de sis- ter, no mínimo, um período de 12 meses de manejo sustentá-
temas orgânicos de produção animal, que está inseri- vel necessário para a conversão, principalmente das pastagens.
do no projeto em rede de agricultura orgânica”, ex- Somente depois desse período o produto é considerado orgâ-
plica o pesquisador. nico.
SOPHIA GEBRIM – MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
JULIANA CALDAS

A Lavoura DEZEMBRO/2011 53

!ALAV687-49-53-Leite.pmd 53 4/11/2011, 09:53


DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA

As Câmaras Setoriais e Temáticas Versões eletrônicas desses docu-


mentos estão disponíveis no site do
do Ministério da Agricultura MAPA (www.agricultura.gov.br). A inten-
ção é disseminar este trabalho, permi-
Sua importância no entendimento Agropecuários e Relações Internacionais tindo não só a participação de pessoas
entre o setor privado do Para garantir a máxima eficiência dos traba- ligadas às cadeias que não fazem parte
Agronegócio e o governo lhos das Câmaras, o MAPA conta uma estrutura es- das Câmaras como, ao mesmo tempo,
pecífica para acompanhá-las: a Coordenação-Ge- balizar a atuação dos diversos agentes

A
s Câmaras Setoriais e Temáticas se con- ral de Apoio às Câmaras Setoriais e Temáticas. For- da Cadeia em suas ações, tendo como
solidaram, ao longo dos últimos anos, mada por uma equipe de vários profissionais, a objetivos, prioridades e metas aquelas
como o principal foro de interlocução CGAC tem como principal função coordenar e elencadas nas Agendas Estratégicas.
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste- apoiar os trabalhos das Câmaras. Nesse sentido, foi proposta a criação de
cimento com o setor produtivo. São ferramen- Agendas estratégicas uma Visão de Futuro e a indicação de Indi-
tas indispensáveis para a identificação de opor- Ao longo de 2010, as Câmaras Setoriais do cadores e Metas para 2015. A Visão de Fu-
tunidades ao desenvolvimento das cadeias pro- MAPA se dedicaram à construção das agendas es- turo corresponde à manchete que os se-
dutivas, definindo ações prioritárias de interes- tratégicas de seus diversos setores. O objetivo tores gostariam de ver estampadas nos ca-
se para o agronegócio brasileiro e seu relacio- foi estabelecer um plano de trabalho para cada dernos de Economia dos grandes jornais do
namento com os mercados internos e externos. cadeia representada por Câmara, para os pró- país. Os indicadores e metas permitirão ava-
Este elo entre governo e setor privado resulta ximos cinco anos (até 2015), além de facilitar e liar, com o passar do tempo, se as ações ado-
em um mecanismo democrático e transparente organizar a ação conjunta das Câmaras nos as- tadas tanto pelo Governo quanto pelo se-
de participação da sociedade na formulação de suntos de interesse comum e fortalecê-las como tor produtivo estão sendo efetivadas. Des-
políticas públicas. ferramentas de construção de Políticas Públicas sa forma, as Agendas Estratégicas atuam
As Câmaras Setoriais, ligadas à ideia de ca- e Privadas para o Agronegócio. como instrumentos para facilitar a celebra-
deias produtivas, e as Temáticas, que tratam de Para tanto, foi definida uma metodologia ção de compromissos mútuos entre Gover-
temas transversais, são constituídas por repre- única, a fim de que os assuntos transversais (que no e setor privado, pelo fortalecimento da
sentantes de entidades de caráter nacional: for- perpassam diversas cadeias) fossem claramen- Agropecuária brasileira.
necedores de insumos, produtores, trabalhado- te identificados e o conjunto das propostas pu- A participação da SNA
res, indústrias, exportadores, importadores, en- desse compor uma Agenda Estratégica do Agro- A Sociedade Nacional de Agricultu-
tidades de assistência técnica e extensão rural, negócio Nacional. ra - SNA tem atuado como membro efe-
instituições financeiras, supermercados e órgãos De acordo com a metodologia adotada, as tivo das Câmaras Temáticas, cujos temas
públicos ligados ao setor, entre eles, Ministério Agendas se estruturaram em torno de 11 gran- perpassam por todas as cadeias produ-
da Agricultura, Ministério de Desenvolvimento des temas: Estatísticas, Pesquisa e Desenvolvi- tivas. A participação ativa de sua dire-
Agrário (MDA), Ministério de Desenvolvimento In- mento, Inovação, Assistência Técnica
toria e do presidente Antonio Alvarenga,
dústria e Comércio Exterior (MDC), Ministério da (Capacitação, Difusão e Extensão), Defesa Agro-
pecuária, Marketing e Promoção, Gestão da Qua- nas Câmaras Temáticas de Infraestrutu-
Fazenda, Planejamento, da Integração, Relações
Internacionais, Ciência e Tecnologia, dos Trans- lidade, Governança da Cadeia, Crédito e Segu- ra e Logística do Agronegócio e de Se-
portes, EMBRAPA, SEBRAE, entre outros. ro, Comercialização, Relações Internacionais e guros do Agronegócio, tem fortalecido
As Câmaras Setoriais e Temáticas contribu- Legislação. a representatividade destes fóruns, con-
em com análises e informações que permitem a Para cada tema foram identificados, inici- ferindo maior peso de legitimidade nas
identificação de prioridades de atuação do Go- almente, itens de agenda e diretrizes, compon- decisões tomadas em plenário e enca-
verno, resultando em contribuições para os pla- do um documento inicial para discussão. Após a minhadas ao governo. Recentemente,
nos agrícolas e pecuários do Governo Federal e aprovação da Agenda, foram estabelecidos os a SNA foi convidada a participar como
busca de consenso para conflitos e negociações itens prioritários e, a partir daí, foram definidas membro efetivo da recém criada Câma-
internas e externas que promovam o desenvol- as Ações a Tomar, com seus respectivos respon- ra Temática de Crédito e Comercializa-
vimento, agregação de valor e aumento de com- sáveis e prazos de execução. ção do Agronegócio, cujos objetivos são
petitividade dos diversos setores do agronegó- As Agendas Estratégicas, assim, passaram a discutir e debater a melhor adequação
cio brasileiro, hoje responsável por 26,4% do PIB orientar a elaboração das pautas das reuniões, e modernização do crédito agrícola
nacional, por 36% das nossas exportações, e que de forma que cada Câmara pudesse acompanhar existente, tanto o público como o pri-
responde por 39% dos empregos gerados no mer- a evolução das questões elencadas. No que se vado, e criar inovações em mecanismos
cado interno. refere aos assuntos comuns, foi feito um traba- de comercialização.
Atualmente existem 34 Câmaras que repre- lho de consolidação dessas Agendas, para iden-
Aguinaldo José de Lima atua na Coordenação Geral de
sentam diferentes setores e temas do agrone- tificar quais as questões que afetariam as cadeias Apoio às Câmaras Setoriais e Temáticas (GCAC) do Minis-
gócio nacional: Açúcar e Álcool, Algodão e deri- produtivas. Esta fase foi fundamental na ela- tério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
vados, Arroz, Aves e Suínos, Biodiesel, Borracha boração da Proposta do MAPA para o Pla-
Natural, Cacau, Cachaça, Caprinos e Ovinos, Car- no Plurianual 2011-2015, onde se buscou
ne Bovina, Citricultura, Culturas de Inverno, alinhar as prioridades do MAPA com aque-
Equideocultura, Feijão, Fibras Naturais, Flores las apontadas pelas Agendas.
e Plantas Ornamentais, Fruticultura, Hortaliças,
Leite e derivados, Mandioca e derivados, Mel e
Produtos Apícolas, Milho e Sorgo, Palma de Óleo,
Silvicultura, Soja, Tabaco, Viticultura, Vinhos e
derivados, Agricultura Orgânica, Agricultura Sus-
tentável e Irrigação, Crédito e Comercialização
do Agronegócio, Seguros do Agronegócio, Infra-
estrutura e Logística do Agronegócio, Insumos

Atualmente, existem 34 Câmaras que representam


diferentes setores do agronegócio. A SNA participa
como membro efetivo desses fóruns. Na foto, o diretor
Francisco Vilela Santos (em primeiro plano) repre-
senta a SNA na Câmara de Seguros do Agronegócio

54 DEZEMBRO/2011 A Lavoura m

!ALAV687-54-Desenv.Agrícola.pmd 54 4/11/2011, 16:02


A Lavoura OUTUBRO/2009 55

!!ALAV687-3ªe4ªCapas.pmd 55 4/11/2011, 09:54


56 OUTUBRO/2009 A Lavoura

!!ALAV687-3ªe4ªCapas.pmd 56 4/11/2011, 09:54

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