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RELATÓRIO DE PESQUISA EM NÍVEL DE PÓS-DOUTORADO

NOS TERMOS DA #INTERDIÇÃO


UMA REDE SIGNIFICANTE DE PALAVRAS PROIBIDAS

SUPERVISÃO: PROFA. DRA. MAYRA RODRIGUES GOMES


BOLSISTA: DRA. ANDREA LIMBERTO LEITE

Projeto de pós-doutorado vinculado ao Eixo de Pesquisa


Liberdade de Expressão: Manifestações no Jornalismo,
sob responsabilidade da Profª Drª Mayra Rodrigues
Gomes, parte integrante do Projeto Temático, com apoio
da FAPESP, Comunicação e Censura – análise teórica e
documental de processos censórios a partir do Arquivo
Miroel Silveira da Biblioteca da ECA/USP (processo
08/56709-0) sob coordenação da Profª Drª Maria Cristina
Castilho Costa.

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

SÃO PAULO
MAIO/2015
Nos termos da #interdição

POSTDOCTORAL RESEARCH SCIENTIFIC REPORT

IN TERMS OF THE #INTERDICT


A SIGNIFIER NETWORK AMONG FORBIDDEN WORDS

SUPERVISOR: PROF. DR. MAYRA RODRIGUES GOMES


FELLOWSHIP HOLDER: DR. ANDREA LIMBERTO LEITE

Postdoctoral project related to the research stream


Freedom of Expression: Manifestations in Journalism,
under the responsibility of Prof. Dr. Mayra Rodrigues
Gomes and also part of the major FAPESP Thematic
Research Project, Communication and Censorship –
theoretical and documental analysis of censorship
processes present in the Miroel Silveira Files of the
library of the School of Communication and Arts of the
University of São Paulo, under coordination of Prof. Dr.
Maria Cristina Castilho Costa.

SCHOOL OF COMMUNICATION AND ARTS


UNIVERSITY OF SÃO PAULO

SÃO PAULO
MAY/ 2015

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Nos termos da #interdição

SUMÁRIO

DADOS INICIAIS / P. 4
RESUMO / P. 4
ABSTRACT / P. 7

I - NOS TERMOS DA #INTERDIÇÃO / P. 9

PALAVRA / P. 18

PALAVRAS E TABUÍSMOS LINGUÍSTICOS / P. 31

PALAVRAS E SISTEMAS DE INDEXAÇÃO / P. 40

PALAVRAS EM REDE / P. 48

ARQUIVO / P. 53

POSSIBILIDADE DO ARQUIVO NÃO LINEAR / P. 55

DO NÍVEL DA PALAVRA AO ARQUIVO / P. 62

CONEXÃO E UNIDADE DE SENTIDO / P. 65

REDE / P. 71

SENTIDO DA INTERLIGAÇÃO / P. 73

POSSIBILIDADE DA TOTALIDADE / P. 81

PERMANÊNCIA DAS CONEXÕES / P. 85

II - DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS / P. 90

III - PLANO DE TRABALHO PARA O PERÍODO DE RENOVAÇÃO / P. 162

IV - ATIVIDADES REALIZADAS / P. 166

V - BIBLIOGRAFIA / P. 247

VI – ANEXOS / P. 257

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Nos termos da #interdição

DADOS INICIAIS

RESUMO

A presente proposta de pós-doutoramento, a ser apresentada à Escola de


Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), será desenvolvida
sob o eixo temático de pesquisa Liberdade de Expressão: Manifestações no Jornalismo,
responsabilidade da Profª Drª Mayra Rodrigues Gomes, vinculando-se ao projeto temático
apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) Comunicação
e Censura – análise teórica e documental de processos censórios a partir do Arquivo Miroel
Silveira da Biblioteca da ECA/USP, coordenado pela Profª Drª Maria Cristina Castilho Costa.
Propomos a análise da circulação de palavras consideradas tabuísmos
linguísticos tomando como base sua presença em publicações (posts) nas redes sociais
que adotam o sistema de marcação indexical através da eleição de palavras-chave no
sistema de hashtag. O recorte dos termos a serem observados terá como objetivo
repercutir os ecos daqueles que foram censurados nas peças teatrais submetidas, entre as
décadas de 30 e 60, ao Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo, às
quais temos acesso através do material armazenado no acervo de peças teatrais do
Arquivo Miroel Silveira (AMS).
O trabalho tomará como base o levantamento já realizado dos trechos com
restrição textual constantes nas peças parcialmente liberadas do referido Arquivo,
produto da pesquisa de doutorado Coincidências da Censura – Figuras de linguagem e
subentendidos nas obras teatrais do AMS voltada para a busca de implícitos e figuras de
linguagem apresentada à Escola de Comunicações e Artes da USP.
Assim, observaremos, num primeiro nível, a recorrência dos termos de outrora
nas redes sociais hoje e, num segundo nível, a manutenção ou deslocamento dos
sentidos que eles enredam/enredavam. Entendemo-los dentro de uma perspectiva
discursiva, realizando uma análise que se suporta também sobre uma perspectiva
etimológica, linguística, histórica e social. Na medida em que escrutinamos os termos
censurados ontem e a validade de sua circulação atual, pretendemos informar sobre os
contornos de sua condição como termos tabu identificada nas articulações em que se
inserem.
O tipo de análise assumido para este exercício irá considerar tais palavras
interditas sempre num estado de relação, através de sua forma significante e/ou de seu

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Nos termos da #interdição

significado, conectadas numa rede em que são ressaltadas suas filiações e


encadeamentos, visando a uma análise do tipo discursiva. Tais conexões serão base para
discutirmos a possibilidade da aproximação entre termos feita de duas maneiras: na
forma da constituição de um arquivo, que é a forma documental mais tradicional
(inclusive que institui o próprio AMS) e, por outro lado, o acumulo de informações
possibilitado na internet; e, num segundo momento, na forma de constituição de uma
rede, como pode ser entendida a criação de banco de dados para a catalogação de
documentos e, por outro lado, a própria rede mundial de computadores através da
existência de marcadores (indexadores de busca).
Assim, como ponto de partida, entendemos o estatuto da palavra de forma
complexa, em sua relação formal com outras numa rede significante (J. Lacan), em seu
engendramento de poder na relação com a identidade do que define (M. Foucault) e na
possibilidade de ser ligada a outras (definições sobre o hipertexto, com P. Lévy).
Nossa análise deverá concentrada no estudo das construções realizadas com as
mesmas palavras, anotando o reforço/manutenção ou o inusitado/reorganização dos
termos censurados sob a insígnia do interdito. Herdamos do trabalho em nível de
doutorado a hipótese de que a maior parte dos termos recuperados relaciona-se com a
proibição a conteúdos considerados moralmente ofensivos.
Tais observações deverão permitir, concomitante ao estudo no nível da palavra,
elaborar os pontos de contato entre a noção de arquivo e de rede a partir da seguinte
articulação teórica: 1- a noção de rede significante, como forma de evidenciar as
articulações de sentidos que relacionam os mesmos termos em momentos diversos (na
diacronia) a partir de um ponto de ligação (sincronia) na rede; 2- partindo do debate
foucaultiano, a discussão sobre as possibilidades de estruturação de um arquivo como
unidade, tratando sobre o que lhe oferece coesão; 3 – o traçado sobre as possibilidades
de organização de arquivos associados às novas tecnologias e novas mídias de acordo
com o pensamento sobre rede.
De maneira mais abrangente, o presente estudo procura identificar onde se
manifesta a vontade de censura hoje, na sua forma de constrangimento à fala e
interdição à expressão. Tem, ainda, em seu horizonte o objetivo de repor conteúdos
sociais que, de outro modo, poderiam ser considerados datados e ultrapassados, mas que
consideramos vivos e determinantes da forma como nos comunicamos sobre temas
tabu. Ainda, quando tratamos da circulação de termos e, na mesma equação, incluímos
ideia de que estes sejam interditos, estamos almejando a observação do movimento de

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Nos termos da #interdição

emergência destes mesmos termos à superfície da frase, de maneira tortuosa para


satisfazer seus desígnios informativos. E, ao invés de pensarmos existir um sentido
original a ser resgatado, privilegiaremos tratar da marca que é a característica de tais
termos.

Palavras-chave: Liberdade de expressão, rede significante, interdito.

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Nos termos da #interdição

ABSTRACT

The present postdoctoral proposal is to be developed at the School of


Communication and Arts of the University of São Paulo (ECA-USP). It is specifically
related to the research stream Freedom of Expression: Manifestations in Journalism,
responsibility of Prof. Dr. Mayra Rodrigues Gomes and also part of the major FAPESP
Thematic Research Project, Communication and Censorship - theoretical and
documental analysis of censorship processes present in the Miroel Silveira Files of the
library of the School of Communication and Arts of the University of São Paulo, under
coordination of Prof. Dr. Maria Cristina Castilho Costa.
We shall perform an analysis of the circulation of words that are considered
linguistic taboos pursuing their presence in current social media postings which support
the use of hashtags as a keyword indexical parameter. Our intent is to echo the terms
censored on the playwrights submitted to the Public Entertainment Division of the State
of São Paulo (Departamento de Diversões Públicas) between 1930 and 1960, to which
we have access trough the Miroel Silveira Files.
Our research will be nurtured from the data collection of censored text excerpts
present in the partially released playwrights of such Archive, which was one the results
of the doctoral research presented to the School of Communication and Arts of USP,
Coincidences of Censorship - Figures of speech and implications in the AMS
playwrights, then focused on the search for implications and figures of speech. We will
primarily observe the recurring words from yesterday in the social media today.
Afterwards, as second step of the research we are to observe the permanence or
shift in the meaning such terms carry(ied). We understand them within a discourse
driven theoretical perspective, performing an analysis that is at one time etymologic,
linguistic, historic and social. As we study the censored words of yesterday and check
for the legitimacy of their circulation today, we intend to draw the limits of their
condition as taboo, given the formal articulation in which they are presented.
So, as our theoretical breaking point we assume words as a complex notion, in
its formal relationship with others in a signifier network (J. Lacan), representing the
result of a power battle in the relationship with the identity of what it defines (M.
Foucault) and the possibility of being connected amongst each other (definition of
hypertext in P. Lévy).

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Nos termos da #interdição

Such theoretical articulation is to help us develop a study on the formal level of


the word, then articulate the notion of archive and of network according to the following
intended theoretical trajectory: 1- the concept of signifier network, as ways to portray
meaning connections that can enclose the same words in different time periods (in
diachrony) bonded through a connection point of the network (in sinchrony); 2 - to
recover Foucault's debate on the possibilities of constituting an archive according a
given unity, approaching what offers cohesion to it; 3- to associate the structuring of
archives and its current availability to reorganization based on a communicational
network taking into consideration new technologies and the new media.
In a more general perspective, our work is to identify where the drive for
censorship is manifested today in its form of speech constraint and interdiction to free
expression. It has also the objective of recovering social content that otherwise could be
considered out of date and irrelevant, but that we very much consider to be alive and
determining of the way we communicate over taboo subjects.

Keywords: Freedom of expression, signifier network, interdict.

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Nos termos da #interdição

NOS TERMOS DA #INTERDIÇÃO

A presente pesquisa tem o objetivo de conectar o passado da produção artístico-


cultural nacional com as atuais formas desta mesma produção, ontem as peças teatrais,
hoje a circulação nas mídias sociais. Nosso trabalho tem mais uma especificidade, que é
lidar com as marcas da interdição. Acreditamos que este seja o avesso da moeda de toda
a produção artística, pelo fato dela existir. Se há uma obra artística em operação, há o
acionamento de limites sociais, culturais, políticos próprios do fazer artístico.
Poderemos discutir paralelamente até que ponto a arte mantém seu limiar contestatório,
mas nos limitamos neste momento a tomar esta ideia como princípio.
A presente pesquisa vincula-se aos estudos desenvolvidos no âmbito do projeto
temático apoiado pela Fapesp, Comunicação e Censura – análise teórica e documental de
processos censórios a partir do Arquivo Miroel Silveira da Biblioteca da ECA/USP1, sob
coordenação da Profª Drª Maria Cristina Castilho Costa, especificamente dentro do eixo
temático de Pesquisa Liberdade de Expressão: Manifestações no Jornalismo, sob
responsabilidade da Profª Drª Mayra Rodrigues Gomes, indicada como supervisora. Trata-se de
um seguimento dos estudos realizados pela autora em nível de doutorado 2, no mesmo grupo, em
que se concentrou especificamente sobre os trechos censurados nas obras teatrais do Arquivo
Miroel Silveira3 e, de maneira geral, sobre a lógica da censura.
Justifica-se a relevância do trabalho proposto aqui, na continuidade do vínculo da autora
com o grupo, pela possibilidade de desenvolvimento de novos horizontes e novo escopo de
análise – o trabalho sobre a censura na atualidade – e a aprovação e implantação de uma nova
fase das pesquisas para o grupo como um todo, com a instauração do Observatório da
Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (OBCOM). Ressaltamos, ainda, o
desenvolvimento qualificado de uma metodologia apropriada ao objeto e a construção de um

1
Processo de número 08/56709-0, com vigência de 01 de setembro de 2009 a 31 de agosto de 2013. A partir de 2002
três grandes projetos de pesquisa ligados ao AMS passaram a ser desenvolvidos. O primeiro foi A Censura em Cena
– O Arquivo Miroel Silveira, cujos objetivos eram a organização e análise dos processos e a criação de uma base de
dados informatizada, realizando um processo de catalogação e análise de seu acervo. O segundo é A Cena Paulista,
que estudou a produção cultural paulista do período abarcado pelo Arquivo, seu dinamismo e profusão cultural e
intelectual.
2
A tese intitulada “Coincidências da Censura – figuras de linguagem e subentendidos nas peças teatrais do Arquivo
Miroel Silveira” foi apoiada pela Fapesp (processo 07/51070-8) e defendida na Escola de Comunicações e Artes da
USP (Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação) em junho de 2011, recebendo menção de distinção
e louvor.
3
A Escola de Comunicações e Artes da USP guarda um arquivo que contabiliza 6.137 processos de censura ao teatro
no Estado de São Paulo entre 1920 e 1968. Trata-se dos documentos da censura prévia ao teatro, solicitações de
companhias, ofícios e pareceres dos censores e da burocracia da censura arquivados pela Divisão de Diversões
Públicas (DDP) da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Esse material, de inegável valor
histórico, contém a organização das emissões de liberações e vetos da censura às produções teatrais do Estado. Para
saber mais sobre o histórico das pesquisas, sobre o Arquivo Miroel Silveira e a atuação do Observatório da
Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura, acessar: www.usp.br/obcom.

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Nos termos da #interdição

arcabouço de especialidade em relação ao tema que devem beneficiar tanto a candidata quanto o
grupo.
Naquele momento tratava-se de escrutinar o material rico das peças teatrais.
Agora propõe-se conceber a circulação dos mesmos conteúdos censurados, permitindo
que sejam associados intertextualmente na tessitura com material contemporâneo
disponível nas redes. Assim, neste momento, propõe-se um trabalho que promova uma
perspectiva sobre as dinâmicas de restrição hoje através da observação da circulação de termos
considerados polêmicos e/ou que tenham seu uso de alguma forma restringido. Trata-se, assim,
de uma pesquisa:

- vinculada ao presente debate sobre liberdade de expressão nos mídia;


- associada às práticas comunicacionais e seus discursos;
- nutrida pelo desenvolvimento das novas tecnologias.

Trata-se de um saber fazer, de uma técnica. Trata-se, ainda, de uma relação


histórica e social. O discurso é o lugar da comunicação e da mídia.

Dessa forma, a realidade social, nesta perspectiva das ciências da linguagem,


é constituída pelo entrelaçamento de vários discursos, organizados a partir da
função significante. Instaura-se como uma ordem simbólica instituída por
meio da linguagem, ordem determinante, autônoma e independente, à qual o
humano acede a partir do momento que se instaura como falante/faltante, ou
seja: substitui as coisas do mundo pelas coisas da linguagem (SOARES,
2008, p.130).

Situado numa perspectiva teórica mais geral das pesquisas alinhadas com o eixo
temático em que nos inserimos, o ímpeto por estudar a circulação de termos outrora
censurados “Dedica-se à recuperação, como interdiscurso, de outras formações, às vezes
momentâneas, que atingem os discursos, atravessando-os e modificando-os, conforme
as relações de poder se desenham em um momento” (GOMES, 2008: 16).
Buscaremos reconhecer e recuperar, desta forma, articulações discursivas que
indiquem um efeito relevante da alteração dos desenhos nas relações de poder. Assim,
apontamos como hipótese primordial de nosso trabalho a possibilidade de que a palavra
possa engendrar tais relações de poder instauradas não em qualquer campo, mas
discursivamente.

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Nos termos da #interdição

Nisto não há nada de espantoso, visto que o discurso – como a


psicanálise nos mostrou – não é simplesmente aquilo que manifesta
(ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que e o objeto do desejo; e
visto que – isto a história não cessa de nos ensinar – o discurso não é
simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação,
mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos
apoderar (FOUCAULT, 1999, p. 10).

Estabelecendo hipóteses mais específicas, assumimos a possibilidade de que as


mesmas palavras censuradas nas peças teatrais de outrora possam ainda levantar
polêmica, ecoando hoje o mesmo ou outro caráter de interdito ou tabu. Nossa segunda
hipótese, à continuidade da primeira, é de que muitos dos sentidos das palavras
censuradas devem ter sido desengajados ou deslocados no tempo, observação que
também nos interessará.
Pontuamos uma distinção entre o tipo de interdição sofrido pelos textos das
peças teatrais e aqueles encontrados nas redes sociais: os primeiros foram alvo de
censura prévia estatal com determinação expressa para o corte de palavras, enquanto
hoje não existe tal sobreposição oficial e explícita sobreposta aos processos discursivos
de interdição à palavra.

Em uma sociedade como a nossa, conhecemos, é certo, procedimentos


de exclusão. O mais evidente, o mais familiar também, é a interdição.
Sabe-se bem que não se tem o direito e dizer tudo, que não se pode
falar de tido em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não
pode falar de qualquer coisa. Tabu do objeto, ritual da circunstância,
direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala: temos ao o jogo
de três tipos de interdições que se cruzam, se reforçam ou se
compensam, formando uma grade complexa que não cessa de se
modificar (FOUCAULT, 1999, p. 9).

Observaremos, então, as articulações e as condições sob as quais os mesmos


termos são admitidos hoje e de que forma representam a sombra de uma marca de
interdição que recai sobre eles. Privilegiaremos o âmbito da palavra como ponto de
partida e ponto nodal para a realização das ligações entre os textos que serão

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Nos termos da #interdição

atravessados horizontalmente, trechos censurados de ontem e textos publicados de hoje.


Criando percursos através da matéria significante anotaremos contrastes e manutenções.
Para trabalhar, estamos diante do Arquivo Miroel Silveira, guardado pela escola
de Comunicações e Artes da USP e que contém as peças teatrais que passaram pelo
processo de censura entre 1920 e 1960 no Estado de São Paulo. Trata-se de uma fonte
riquíssima de informação histórica e cultural. Chama-nos mais a atenção a possibilidade
de recortar as palavras marcadas pelo censor. Já em nosso trabalho de doutorado
realizamos pesquisa, também com financiamento Fapesp, sobre as figuras de linguagem
e os subentendidos presentes nestes trechos censurados.
Nossa proposta, neste momento, é oferecer um objeto completamente novo a
partir de um recorte sobre o conjunto inicial de peças teatrais. E são as mídias digitais
que nos permitirão tomar os trechos censurados e transformá-los: atualizando-os,
colocando-os em circulação e, especialmente, observando os deslocamentos de sentido
ocorridos. Entendemos que, dessa forma, temos na mão um trabalho que lida com
deslocamentos de sentido no tempo (na via sintagmática) e na atribuição de valor social
(na via paradigmática). É relevante, ainda que marquemos este trabalho como
relacionado aos estudos sobre a memória, por um campo teórico, e pelas mídias digitais,
por outro campo teórico. Estes cruzamentos estão assentados, de modo geral, na grande
área da comunicação.
Como um dos resultados da pesquisa de doutorado mencionada, saímos com um
levantamento de todos os trechos censurados das peças parcialmente liberadas do AMS
(incluímos como anexo). Tal levantamento não havia sido totalmente utilizado na
pesquisa prévia, que executou, ao invés disso, uma seleção qualitativa de 11 peças para
análise. Somente a possibilidade da coleção destes termos censurados em meio digital
permitiria a empreitada conceitual, metodológica e de extensão dentro da unidade de
arquivo que propomos agora.
Pretendemos abordar nosso objeto, agora definido com a circulação de termos
interditos nos meios digitais, através de três pontos teóricos chave e uma experiência de
articulação digital resultante. O primeiro dos pontos, centramos no estatuto da palavra: a
palavra como marca na cadeia sígnica e na rede; a circulação de tabuísmos
ling6uísticos, os processos de indexação baseados na palavra e a palavra como base para
a formação da rede. O segundo dos pontos teóricos está centrado sobre o nível do
arquivo: a passagem da palavra ao arquivo como complexificação de nível, a instância
de doação de uma unidade de sentido, a possibilidade de formação de um arquivo não

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Nos termos da #interdição

linear. O terceiro e último ponto a ser abordado é a consequência da estruturação de


uma rede: a natureza da interligação, a vontade de totalidade presente em tal
estruturação e a possibilidade de permanência ou volatilidade destas conexões.
Apresentamos uma relação inicial entre os termos censurados ontem e a
possibilidade de sua atualização hoje, que nos servirá como possibilidade metodológica
sintética. Esquematicamente separamos em três níveis o salto de sentido que
pretendemos dar, os mesmo três patamares teóricos que anunciamos anteriormente.
Assim, no nível da palavra, temos um sentido que foi marcado ontem no texto da peça
teatral e que hoje procuraremos seu deslocamento. No nível do arquivo, os termos de
outrora se apresentavam organizados isoladamente em cada peça e sua conexão feita no
âmbito discursivo, pelo ato da leitura e pelos textos que se sobrepuseram ao arquivo
(inclusive aqueles de pesquisa). Pretendemos observar sua reconexão a partir da
formalização de uma conexão entre eles. No nível da rede, a relação entre os termos das
peças teatrais puderam ser conectados a partir de categorias que associamos à falta (e
que foram apontadas no trabalho anterior de doutorado). Na proposta atual,
privilegiaremos o percurso de sentido apresentada na conexão entre os termos, ora
privilegiando sua faceta significante, ora privilegiando significado.

QUADRO METODOLÓGICO SINTÉTICO

TERMO-CHAVE TERMO-CHAVE
DISTANCIAMENTO DISCURSIVO LÁ/ONTEM AQUI /AGORA/HOJE
NÍVEL (CONCEITO)

PALAVRA Sentido marcado Deslocamento

ARQUIVO Relação paralela entre Lugar na rede


sentidos

REDE Categorias da falta Privilégio do sentido


o significado Eleição das palavras mais indexadas
formas de interdição

Nosso intento é fazer uma passagem teórica dos termos caros aos estudos na área
de ciências de linguagem e fazê-los conversar com aqueles conceitos que estão sendo
correntemente utilizados para a descrição dos fenômenos na área de tecnologia da

13
Nos termos da #interdição

informação. Adicionalmente, pretendemos apresentar formas de disponibilizar


publicamente os conteúdos das palavras censuradas nas peças teatrais do AMS a partir
dos meios digitais. A forma da visualização e da organização de tais informações fará
parte da execução da presente pesquisa.
Três conceitos e suas respectivas raízes teóricas são fundamentais para
possibilitar a realização da presente pesquisa: a palavra tomada em sua potencialidade
de representação sígnica, o arquivo como instância de doação da articulação de uma
unidade de sentido e a rede como forma de experimentação, com base nas nomeadas
novas tecnologias, sobre possíveis combinações significativas.
Considerando-os nesta confluência específica pretendemos teoricamente instruir
a problemática levantada sobre nosso objeto: lidar com a circulação de tabuísmos
linguísticos a partir de trechos de obras teatrais censuradas e publicações nas redes
sociais disponíveis na internet (e que suportam o uso de hashtags) em que a palavra tem
destaque como ponto nodal4; retirá-las de uma situação de arquivo, em que as palavras
proibidas não são privilegiadas5 e fazer emergir possíveis ligações e identidades em
direção a plurais unidades de sentido apontadas a partir da combinatória permitida na
rede. Estamos trabalhando com um tipo de leitura de texto no nível da formalidade
possível para a produção de sentido, mas reconhecemos o trajeto da palavra ao nível
discursivo, e de todo modo, o despontar, a partir deste exercício, para a dinâmica das
formações discursivas, como estamos pleiteando desde o início.

A escrita deixa pistas, vestígios do percurso da pulsão, rastos do


pensamento. Possibilita alguma ligação com o mundo compartilhado,
inscreve o sujeito em algum laço social já que quem escreve deixa provas,
evidências do desejo de que alguém o leia (MANSO; CALDAS, 2013.
online).

4
Podemos dizer aqui também, como ponto de discórdia, de polifonia de vozes, que impulsiona a
geração de textos ou ainda, atendo-nos à ideia de articulação de sentido e recuperando palavras de
Jacques Lacan, point de capiton ou ponto de estofo.
5
O material a que referenciamos como trechos censurados não existe organizado separadamente, mas
no interior de cada peça a partir das marcas feitas pelo censor. Há um sistema de busca pelo qual
podemos pedir uma listagem do campo catalogado como “palavras censuradas”, em que se pode ler um
trecho após o outro – e dessa forma um passo mais distante da unidade das peças teatrais. Porém,
entendemos que tanto o formato como registro numa base de dados, sem conexão entre si, como a
listagem impressa não satisfazem a possibilidade de aproximação que efetivamente existe entre os
excertos de texto, mantendo-se lineares.

14
Nos termos da #interdição

Repetir o momento da tomada da machadinha como exemplo de comunicação


com os outros é o primeiro ato de escrita. De uma escrita se desenvolve um discurso.
Não temos acesso ao que é, mas ao que se articula, como nó diante de nossos olhos.
Aquele que vê, que ouve e que fala, fala num lugar alheio a si. Este lugar é, de alguma
forma, midiatizado. Por isso pode existir a duplicidade na leitura de um vestido de duas
cores.

O debruçar-se sobre uma escritura implica, conforme a natureza do texto, a


recuperação de seu processo de constituição, tanto do ponto de vista da
construção textual quanto da produção de sentido. Trata-se de uma técnica
de leitura que vê estes dois processos em interligação e, por isso, privilegia a
tarefa de fazer emergir o que lhes dá sustentação, a saber, as diversas
formações discursivas (GOMES, 2008, p. 16).

Temos, assim, uma base para o estudo das redes que está ainda na cultura
escrita. O signo é confundido com a dimensão da palavra. A palavra funciona como
unidade de sentido privilegiada para o estabelecimento de conexões. Podemos partir
desde a obra dos linguistas mais estabelecidos, como Saussure, Benveniste, Chomsky,
que nos ajudam a pensar mais a dimensão do signo do que da palavra. Na busca desse
signo, dessa unidade mínima na rede continuamos nos voltando para a palavra.
Quando falamos das mídias digitais pensamos o nível do código/ matemática,
linguagem binária (1), o da inscrição literária, noção de texto (2), aquela das páginas em
relação, como unidades de um banco de dados, noção de arquivo (3) e a relação
horizontal da rede, noção de rede (4). Esta subdivisão nós estamos fazendo, como
proposta para podermos trabalhar.

Para os textos poéticos da modernidade, poderíamos afirmar sem risco de


exagero, que é uma lei fundamental: eles se constroem absorvendo e
destruindo, concomitantemente, os outros textos do espaço intertextual; por
assim dizer, alter junções discursivas (KRISTEVA, 1974, p. 187).

A palavra na rede é a base para a criação de links dentro de uma mesma página e
apontando para fora dela (Existe um dicionário próprio de domínios que tentam
organizar verticalmente a rede). A palavra é uma forma de organização horizontal.

15
Nos termos da #interdição

Podemos relacionar sua atuação como o conceito de intertextualidade (termo como


cunhado com J. Kristeva olhando os russos e recuperado na obra de Bakhtin como
abertura dialógica). A dimensão da palavra combina com a pretensão sintética da
linguagem da rede. A palavra catalogada marca a primeira dimensão que queremos
pretender para a rede, nascida como código e como pretensão de ser um grande banco
de dados.

Mas para Bakhtin, saído de uma Rússia revolucionária preocupada com


problemas sociais, o diálogo não é só a linguagem assumida pelo sujeito; é
uma escritura onde se lê o outro (sem nenhuma alusão a Freud). Assim, o
dialogismo bakhtiniano designa a esc1itura simultaneamente como
subjetividade e como comunicatividade, ou melhor, como intertextualidade;
face a esse dialogismo, a noção de pessoa-sujeito da escritura começa a se
esfumar para ceder lugar a uma outra, a da ambivalência da escritura
(KRISTEVA, 1974, p. 71).

A circulação da poesia na rede obrigada a voltar aos códigos para experimentar


outros tipos de conexão. A circulação do som e da imagem são desafios de indexação e
circulação. Existe um desafio em manter essa ligação com a palavra e a possibilidade de
linkagem. Experimentamos outros parâmetros para a indexação que possam marcar as
produções, como os traços do rosto. O quando precisamos voltar ao código e à palavra
para marcar as produções audiovisuais. Serão sempre dependentes de um texto para
uma postagem que a faça circular. Esse desmembramento já está acontecendo por conta
da maneira de produzir nas redes sociais: trechos de vídeo, mixagens de sons e os
domínios dos programas de produção.
Pretendemos somar a linguagem binária do código com a estrutura de base da
língua, a linguagem que é matemática para a indexação, com o lapso que faz uma marca
transformar-se em viral. A disparidade do nível do código da língua com o código de
programação, a convivência de ambos no nível da linguagem.

O contágio é um fenômeno cuja presença é fácil estabelecer e difícil


explicar. Deve ser classificado entre aqueles fenômenos de ordem hipnótica
que logo estudaremos. Num grupo, todo sentimento e todo ato são
contagiosos, e contagiosos em tal grau, que o indivíduo prontamente
sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo. Trata-se de aptidão

16
Nos termos da #interdição

bastante contrária à sua natureza e da qual um homem dificilmente é capaz,


exceto quando faz parte de um grupo” (FREUD, 1976, p.33).

Existe um abismo entre o que se programa e o que engaja socialmente. Podemos


recuperar aqui diversos autores que pensam a linguagem nesse patamar do sentido,
destacamos aqueles que já numa perspectiva da pragmática fazem essa distinção no
nível da fala, da palavra em ato, como em Oswald Ducrot. Nesse ponto de tomada da
fala entre o grupal e seu ato de indidualização recuperamos, ainda, uma já celebre
citação de S. Freud em referência à obra de G. Le Bon, Psicologia das massas
(Psychologie des foules), de 1855. Interessa-nos a perspectiva de que a palavra em ato
desnevolve poderes mágicos e é capaz de acionar sentidos. A profusão na circulação de
termos nos atira, deste modo, na imagem desta tempestade numa mente grupal.

Um grupo, ainda, está sujeito ao poder verdadeiramente mágico das


palavras, que podem evocar as mais formidáveis tempestades na
mente grupal, sendo também capazes de apaziguá-las (ibid., 117). “A
razão e os argumentos são incapazes de combater certas palavras e
fórmulas. Elas são proferidas com solenidade na presença dos grupos
e, assim que foram pronunciadas, uma expressão de respeito se torna
visível em todos os semblantes e todas as cabeças se curvam. Por
muitos, são consideradas como forças naturais ou como poderes
sobrenaturais” (Ibid., 117). A esse respeito, basta recordar os tabus
sobre nomes entre os povos primitivos e os poderes mágicos que
atribuem aos nomes e às palavras (FREUD, 1976).

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Nos termos da #interdição

PALAVRA MARCADA

Estaremos concentrados na palavra como unidade de sentido para que, a partir


da observação da recorrência de sua aparição, possamos expandir a análise para outros
campos lexicais, como o frástico, dos textos e dos discursos. Ela será nossa articulação
nodal na medida em que possibilita discutir a unidade de uma coleção de arquivo e
conexões possíveis em rede. Ao mesmo tempo em que a palavra marca um sentido ela
concomitantemente se coloca em relação ou, podemos dizer, ligada a outras. É assim
que entendemos a palavra como o termo que uma equação capaz de engendrar a
abertura e a ambiguidade necessária para nossa análise como indicativo de sua
articulação com o todo.
Tanto no processo de censura a peças teatrais quanto na maneira de apontar para
conteúdos nas redes sociais, foi ela o elemento destacado no escrutínio censório, na
catalogação e nas buscas. No primeiro caso, a palavra era extirpada como forma de
desestruturar a articulação enunciativa realizada – ao que podemos discutir se com
sucesso ou não. No segundo caso, como uma herança da indicação de palavras-chave
para definir um determinado texto ou tentar circundar seu escopo, temos a utilização das
tags.
Assim reforçamos que a palavra é usual quando utilizada como modelo de base
para a indexação e catalogação dos textos onde se inserem: na elaboração de fichas
catalográficas, na pontuação das palavras-chave de um artigo, entre outros sistemas.
Ainda, com a internet, ela continua sendo base para a retomada de conteúdos: nas
pesquisas em sites de busca (inclusive com a utilização de articuladores lógicos para
somar mais de uma palavra concomitantemente) e, mais recentemente, como etiquetas
eleitas para marcar textos (tags e a construção de nuvens de palavras ou word clouds).
De uma perspectiva teórica como entendemos a função-palavra, assumimos que
o movimento de apontar uma delas para a indexação de um certo conteúdo trata-se de
um processo de nomeação e de atribuição de sentido. Ou seja, ele é um ato constrangido
por interdições de fala que implicam escolhas na elaboração discursiva, o que
entenderemos, com M. Foucault a partir da noção de rituais da palavra.

Bem sei que é muito abstrato separar, como acabo de fazer, os rituais
da palavra, as sociedades do discurso, os grupos doutrinários e as
apropriações sociais. A maior parte do tempo, eles se ligam uns aos

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Nos termos da #interdição

outros e constituem espécies de grandes edifícios que garantem a


distribuição dos sujeitos que falam nos diferentes tipos de discurso e a
apropriação dos discursos por certas categorias de sujeitos. Digamos,
em uma palavra, que são esses os grandes procedimentos de sujeição
do discurso (FOUCAULT, 1998, p. 44).

Nosso interesse nos sistemas de indexação, desta forma, é partir das


ambiguidades inerentes aos termos para observar sobre a marcação de um sentido que
promove sua identificação e circulação em contraste a outros termos da língua.
Assim, estabeleceremos uma articulação conceitual voltada aos campos em que
a palavra mesma foi a unidade de partida para que se repensasse a dinâmica da língua,
para que se deslocasse o entendimento sobre os processos de elaboração textual e de
produção de sentido entendendo-os como processos sociais dados no discurso. Duas
perspectivas nos serão essenciais: a de que é inerente aos termos da língua um eco que
faz reverberar discursivamente e, ainda, que esse processo tem relação menos com uma
essencialidade do pensamento, mas com a materialidade dos termos empregados.

É o mesmo trait d'esprit que é dado em outra história que concerne


este primeiro vôo da águia do qual se fez um mot d'esprit a respeito
de uma operação bastante vasta que foi o confisco dos bens dos
d'Orléans por Napoleão III quando subiu ao trono. "É o primeiro vôo
da águia". O encanto foi geral sobre esta ambigüidade. Não
preciso insistir. [Águia era o emblema da família napoleônica]. Eis
aqui mais alguma coisa na qual não se trata de espírito do
pensamento mas sim de espírito das palavras, alguma
coisa absolutamente similar ao
que nos é apresentado, uma palavra tomada em outro sentido
(LACAN, 1957).

Partindo desta base, assumimos uma contribuição da psicanálise, na


aproximação que pode ser feita com a noção lacaniana e o entendimento da palavra
numa rede significante, então resgatando também, neste âmbito, a herança de Sigmund
Freud e o exercício de livre associação, que aqui serão para nós sinônimos de
enredamento.

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Nos termos da #interdição

Devemos, assim, apresentar a primeira de nossas hipóteses sobre a palavra que


nos conduzirá a defender que uma estrutura de rede era passível de ser marcada entre os
termos da língua antes de falarmos estritamente do conceito de rede (capítulo 3 deste
trabalho). Trata-se da ideia já canonizada da relação possível entre palavras através de
sua instância significante ou de significado.
Consideramos o caso em que a palavra se relaciona com outras através da
associação (livre ou não) entre seus significados. Consideramos, ainda, que uma outra
forma possível de conexão entre elas é pela instância significante, em que a grafia e
sonoridade de uma lembra a de outra.
A fixação está claramente colocada aqui neste trabalho em torno da palavra
como unidade mínima de sentido sobre a qual vamos trabalhar. Reconhecemos frações
mais elementares ou mais complexas, mas nossa pretensão é a de marcar o nível da
palavra. É este termo marcado para os processos de indexação, de circulação e de
arquivamento. Aproveitamos ainda indistinção muitas vezes conveniente entre a palavra
e o signo. Os limites das diversas definições de signo abarcam noções mais abrangentes
e mais precisas que a da palavra. Ao mesmo tempo, a possibilidade de fazer sentido
começa sua popularização com a palavra.
Para nós é importante marcar o início dos trabalhos com a marcação da palavra
pela questão teórica que vimos discutindo e também pelo caráter de nosso material de
partida. Vamos recuperar as palavras marcadas por censores no caso das peças teatrais
que passaram pelo Departamento de Diversões Públicas entre as décadas de 20 e 60 no
estado de São Paulo. Os originais destes processos de censura estão guardados na
Escola de Comunicações e Artes da USP sob o nome de Arquivo Miroel Silveira 6.
Uma primeira aproximação em relação às palavras marcadas pelos censores foi
realizada durante o trabalho em nível de doutorado Coincidências da Censura: figuras
de linguagem e subentendidos nas obras teatrais do Arquivo Miroel Silveira. Tal
trabalho foi a primeira oportunidade de recuperar a marcação sobre palavras existentes
em diversas das peças do referido Arquivo. Numericamente as peças classificadas como
parcialmente liberadas contabilizavam 1.314 delas, cifra reduzida a 436 peças quando
consideramos estritamente a restrição sobre texto.
Ao realizar a coleção de palavras passamos a nos descolar da referência de cada
uma das peças específicas e a encontrar relações entre os termos-palavra extraídos de
6
O Arquivo Miroel Silveira reúne mais de 6.000 processos de censura prévia ao teatro, incluindo o texto original das
peças e os documentos do processo, submetidos entre 1928 e 1968 no estado de São Paulo. Uma consulta geral sobre
os materiais disponíveis em tal arquivo pode ser realizada em: www.usp.br/obcom.

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Nos termos da #interdição

cada uma delas. A marcação inicial não havia sido nossa, mas sim a possibilidade de
relação através da interpretação no âmbito da pesquisa. Uma costura horizontal entre os
processos de censura começou a ser estabelecida para além da ordenação numérica
disponível como entrada inicial ao Arquivo. Está aí a origem do trajeto que iremos
propor, passando da palavra, à sua relação em arquivo, às possibilidades de conexão de
termos em rede.
Não há exatamente um manual que regulasse a exclusão de palavras e que assim
orientasse o trabalho de censores. No entanto, reconhecemos uma lógica nos cortes que
remete a limites na cultura, desenhando as impossibilidades e até mesmo tabus
especialmente nos campos cultural, social, moral, político e artístico.
Tanto o referido trabalho de doutorado, quanto a presente pesquisa de pós-
doutorado estão ligadas às pesquisas desenvolvidas no eixo dedicado à pesquisa sobre
palavras proibidas desenvolvido pela pesquisadora Profa. Dra. Mayra Rodrigues
Gomes, supervisora deste trabalho, dentro do Observatório de Comunicação, Liberdade
de Expressão e Censura da Universidade de São Paulo.
Nosso primeiro passo para o trajeto nomeado é retornar então à base das
palavras marcadas pelos censores. Corremos sempre o risco de sermos acusados de
descontextualização de termos ao justapormos aqueles recortados de uma peça e outro.
Assumimos, de outro modo, que este é o risco de nossa pesquisa mesma. E acreditamos
na possibilidade de reconexão entre eles no terreno do visível.
Os termos censurados foram uma vez ocultados, já que não puderam ter a
circulação pretendida na época de sua desejada publicação ou encenação. Mas não o
consideramos ocultos no sentido de que a marca do censor os recoloca numa outra
cadeia para a circulação, aquela dos termos que foram marcados. Eles entram, assim, na
verdade, numa ordem de visibilidade e circulação. Consideramos que ela seja de uma
entrada perversa, mas ainda assim evidenciada, acesa por tangenciar algum limite
estabelecido em padrões vigentes. Quando estivermos então traçando um paralelo entre
os termos encontrados nas peças teatrais e aqueles circulantes nas redes sociais, é de
um ambiente de visibilidade que estaremos tratando.
Existem algumas categorias estabelecidas após as análises no referido trabalho
de doutorado que pretendemos reavivar como uma possibilidade de entrada na coleção
dos termos censurados nas peças teatrais. Nossa pretensão é refinar e dar densidade a
estas categorias inicialmente separadas. Acreditamos que elas dão conta de traços
centrais nos discursos sobre a falta.

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Nos termos da #interdição

Cabe esclarecer aqui que estamos entendendo a interdição em geral e também a


censura especificamente como um discurso sobre a falta e a restrição, mas não como a
falta ou a limitação em si. Como referenciamos na introdução, isso faz toda a diferença
quando tratamos das palavras que carregam consigo a insígnia da interdição.
Entendemos, assim, do mesmo modo, que mais do que existir a palavra interdita, temos
uma participação interditada na enunciação.
Dessa forma, há um conjunto de termos que usualmente marcam as seguintes
categorias:

Ordem da privação: trata da restrição associada à falta material mundana, a falta


financeira, a fome e a pobreza.

Ordem da provação: trata da falta relacionada aos mistérios, tudo aquilo que é associado
ao divino, ao lendário, à suspensão da expectativa.

Ordem do tabu e do sexo: trata daquilo que está presente na vida cotidiana, mas faz
parte dos dilemas de privacidade. Estes termos são limítrofes e apontam para os limites
do que não poderia ser dito.

Da ordem do estranhamento do outro: trata dos desafios da diferença, do não saber em


relação ao outro.

Todas as categorias mencionadas dizem respeito a um tipo de ausência que


conforma a enunciação e a circulação do termo-chave que a representa. Mais do que
uma possibilidade de identificar a própria enunciação, acreditamos que o tipo de falta
que recuperamos são geradoras de narrativas que identificam a contemporaneidade.
Entendemos que a força motriz narrativa está baseada justamente numa falta que
deflagra a ação, pensamento que está na base do desenvolvimento dos estudos de
semiótica, especialmente com J. Greimas.
Inicialmente a subdivisão que apresentamos tinha uma base temática e a partir
da coleção dos termos censurados pudemos reunir campos de sentido mais abrangentes
associados a um conjunto maior de termos. Pretendemos que ela nos sirva também na
coleção de termos encontrados circulando nas redes sociais. Como anunciamos, nosso

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Nos termos da #interdição

maior intento é relacionar a seleção de palavras censuradas nas peças teatrais com
aquelas em circulação nas redes sociais.
Devemos então especificar melhor o percurso realizado na direção dos termos
censurados apresentando variados exemplos para cada categoria determinada. Não será
possível analisar cada peça teatral em particular, mas privilegiar a conexão entre os
termos de uma peça a outra.
A palavra “amante” foi uma daquelas individualmente mais censuradas nas
peças teatrais colecionadas. A busca por este termo na base de dados do Arquivo Miroel
Silveira nos retorna 84 registros de diferentes peças em que tal palavra estava em
circulação. Na maioria dos casos apenas ela era cortada do contexto da frase. Isso
significa que o que estava sendo excluída era a referência à condição de amante. O
mesmo não acontece com a palavra adultério, por exemplo, cuja busca na mesma base
de dados retorna 7 ocorrências de peças. Podemos supor poeticamente que a relação
entre a existência de um amor que seja polígamo é socialmente perturbadora e capaz de
acender o desejo pelo corte. A palavra é tanto usada para expressar o amor por alguém
que se tem ao lado como parceiro, mas também como referência à infidelidade.
Separamos algumas das frases em que frases com a palavra amante foram
excluídas das peças teatrais.

“amante da minha mulher vai à minha casa as quatro horas” (DDP0025 O homem que
perdeu a vergonha)
Vemos um deslocamento da palavra amante nas marcações feitas nas redes
sociais em relação àquela encontrada nas peças teatrais. Enquanto nas peças ela se
refere à mulher infiel e indica um gesto sobre a manifestação do desejo feminino. Nas
redes sociais ele está atrelado à manifestação de uma parceria (#amante, #parceira), ou
ao escancaramento de uma verdade que seria da vida privada, o fato de que uma mulher
tem um amante.

“Que dizes? Teu amante?/ Sim mãezinha...E há muitos anos...” (Caixeirinha da


rua direita, p.17). Em tom de confissão a personagem Alice confirma para a mãe, Maria,
o fato de que tem um amante. E o diálogo segue com a preocupação de que Alice não
fosse confundida com mulheres jovens descaradas, desonradas.

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Nos termos da #interdição

Separamos ainda, referências atuais retiradas da rede social Twitter a partir da


busca pela #amante. Essa pesquisa inicial com um dos termos mais censurados a partir
do Arquivo Miroel Silveira nos pareceu interessante como uma prévia de como
estabelecer uma base de comparação entre os dois ambientes discursivos. Entendemos
que são dois tipos de materiais diversos, duas situações diversas, mas unidas por uma
marcação significante reveladora. De modo que ensaiamos neste trabalho todo observar
a manutenção ou deslocamento, a partir disso, na ordem do significado.
Na publicação que privilegiamos, retirada da rede social mencionada, vemos os
dois processos ocorrendo paralelamente: tanto um movimento de manutenção, quanto
de deslocamento. Há manutenção, por um lado, da marcação e do realce sobre a
existência do ser amante. Consideramos que o fato da marcação deste termo, por si só, é
reveladora de um retorno também de uma preocupação cultural e social com o adultério.
Ao mesmo tempo, enxergamos um processo de deslocamento, no entendimento de que
o que se propõe é a valorização do ato de amar em primeiro plano.

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Nos termos da #interdição

Deste modo, há separação ente uma sociedade que pensa o casamento por
interesse, por dinheiro, por status, por arranjo familiar e social em oposição a uma
sociedade que valoriza a escolha amorosa e a reforça como opção válida e libertadora.

#AMANTE DO AMOR* on Twitter

lerda @maaribacelar4 h
Quase acabamos com o relacionamento do casal e do amante #sefudeuotario #amante
#perdeuamulher

Podemos observar, assim, que o lugar de valorização (pensado como o reforço


de um nó na rede estabelecida socialmente) se estabelece no reforço da opção pelo
amor. O valor do amor está colocado de tal forma de maneira privilegiada que pode
acabar com um compromisso de casamento matrimonial ou mesmo com o compromisso
de uma relação afetiva. Neste último caso, o compromisso seria com o próprio amor, até
que ele se acabe e, assim, o ser amante também acaba. A palavra amante, nesse sentido,
amplia seu espectro: sua preocupação vale tanto para homens quanto para mulheres (e
não somente para estas últimas) e ela abriga as relações que se erigem em nome de um
amor.
É interessante notar, ainda, a manutenção da ideia de que um homem que se
separa de uma mulher numa relação de amor perdeu uma posse. Podemos ver nas
hashtags associadas que o homem que perde a mulher é classificado como otário, diante
de outro perfil masculino que a ganha. Ainda que na frase publicada haja um plural,
“acabamos com o relacionamento”, a ideia de passagem da personagem feminina
permanece.
Podemos anotar, ainda, que em relação à palavra utilizada temos, assim, um
deslocamento de algo que surgia como encenação da vida privada, o que ocorria
especialmente pela via da comédia e do teatro de revista. A mesma palavra em
circulação nos leva à apresentação pública da informação da existência do amante, nas
redes sociais e com o indicativo de que se trata de um caso real e individualizado. O
laço social que se estabelece é através da indexação da palavra entre as publicações que
a utilizaram.
Podemos estabelecer uma relação entre o ato de extirpar a palavra das peças
teatrais e marcá-la como palavra indexada nas redes sociais. No primeiro caso trata-se
de um processo de eliminação de relevos que o censor percebe no texto e que acionam

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Nos termos da #interdição

conteúdos considerados potencialmente perigosos ou indesejáveis. Um processo


semelhante acontece com o processo de indexação, existe um relevo no texto que o
autor decide por marcar. A principal diferença é que no primeiro caso, a verve é de
eliminação, enquanto no segundo, existe um desejo de ênfase e circulação.
A presença de um relevo no texto e o ato de sua marcação é um processo que se
dá na esfera dos discursos circulantes. Existe uma topografia do texto que resulta na
marca física do lápis vermelho sobre o papel ou o acompanhamento pelo símbolo #.
Pretendemos colecionar palavras censuradas que tenha relação de sentido entre
si, agrupando-as num conjunto sendo sinônimos, antônimos ou com ligação justificável
no código da língua. Seremos nós, dessa forma, a operar a conjuntura proposta e
embasaremos teoricamente nossas escolhas. Esse movimento parece de certa forma
arriscado pois ele retira das diversas peças teatrais os termos e os combina de outro
modo, tira-os do contexto, recombinando-os.
No entanto, indicamos anteriormente que tais termos se destacam do todo do
texto, e assim por si mesmos apresentam essa aparente descontextualização. Dito bem,
eles são marcados para se reconectarem numa outra cadeia de sentidos, acessível
metaforicamente.
Processamos esse movimento também porque ele nos direciona um dos nossos
objetivos de pesquisa, que é a associação entre os termos marcados num arquivo em
rede de forma não linear. Nosso trabalho assim produzirá uma recuperação teórica sobre
tal possibilidade e a apresentação prática da recombinação pretendida entre os termos.
Entendemos que a própria apresentação da ligação entre os termos por escrito nos
obrigará a oferecer uma tessitura que os recobre e adensando imaginários sobre sua
condição de tabu.
Podemos partir de uma classificação temática para então em seguida tratarmos
do tipo de ausência a que cada categoria de temas se refere.

- Referências depreciativas à figura feminina: Entre as mais comuns dela estão, “puta”,
“putinha”, “puta que o pariu”, “cafetona”, “fêmea”, “gostosa”, “leviana” (DDP0216),
“confiadas/ as confiadas é que se perdem na ingreja” (DDP0235)

- Referência escatológicas: A maior parte delas está relacionada aos excrementos que
saem do corpo humano. “Merda”, “bosta”, “caga”, “mijo”;

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Nos termos da #interdição

- Referências ao ato sexual: “dar para ele”, “manda sua mulher lá em casa”, “descer o
pau”, “leva o ferro”, “trepar”, “fazer troca troca”, “trocar o óleo”, “mandar brasa”;

- Referências a partes do corpo humano: neste quesito estão arrolados os órgãos sexuais
masculino e feminino e suas várias denominações, além de orifícios do corpo em geral.
“caralho”, “pau”, “cu”, “pescoço em francês”, “mandioca”, “pistão”, “rolha”, “pinto”,
“entortar a caneta”, “viciar a pena”, “Ponta Grossa”, “banana”, “ovos”, linguiça”,
“rabo”, “espeto”, “pincel”;

- Referências ao casamento a ao adultério: “amante”, “cornear o marido”, “filho do


adultério”;

- Palavras de baixo calão: Palavras cujo uso é identificado como pertencendo a uma
linguagem menos nobre: “ir a merda”, “porra”;

- Palavras de profanação: Profanação de alguma fé ou crença socialmente reconhecida.


“Que ótimo Deus na verdade” (DDP0815), “É a democracia” (DDP0250), “Si existe um
Deus, ele não pode perdoar ao homem que matou meu filho” (DDP0293), “Deus não
existe, Deus é o dinheiro” (DDP0347).

Em nosso entendimento, dizer uma destas palavras não significa encontrar um


sinônimo idêntico na outra seguinte da sequência. Justamente nosso trabalho é trabalhar
sobre estes vazamentos entre as palavras, em que o sentido extrapola a categoria
determinada para nos levar em direção ao indizível, ao tabu. Ou, consideramos, ainda,
minimamente, que ela nos leva a uma outra linhagem de termos para qual a
extrapolação realizada apela.
Há ainda palavras que pode ser arroladas em categorias por seu uso. Uma
expressão como “puta que o pariu” não diz respeito somente à imagem de uma figura
feminina, mas ao ato de usar o que chamamos de “palavrão” no enunciado.
Temos colecionado os termos recortados das diversas peças teatrais e aqui
propomos um novo alinhamento para eles, uma nova categorização. Eles se filiam a
uma cadeia de sentidos que só pode ser organizadas de uma perspectiva autoral desta
pesquisa. Reconhecemos, assim, que outras aproximações poderiam ser oferecidas sobre

27
Nos termos da #interdição

os mesmos termos. No entanto consideramos que estamos alinhavando os sentidos que


relevantes para pensar a extirpação dos mesmos, seu caráter tabu.
Neste movimento topológico de levantamento dos termos censurados, ao mesmo
tempo executamos uma conexão entre eles. Nossa hipótese é a de que esta é, em
primeiro lugar, desafiadora da unidade do Arquivo Miroel Silveira. E, em segundo
lugar, inspira a novas conexões em rede.
Nossa proposta é, então, buscar nas palavras indexadas hoje uma similaridade no
desvio de sua publicação. Além de um trabalho de pesquisa pretendemos que seja
poético e relevante sobre os temas considerados tabus encontrados. De um lado, teremos
os tipos de falta que enumeramos, de outro os temas a que elas se acoplam:

Estamos considerando aqui:


- a condição social da mulher
- a referência a minorias étnicas
- a valorização da unidade da família
- a preservação da intimidade

Reconhecemos, ainda, que tais temas podem ser entendidos como questões
colocadas hoje sobre os conteúdos marcados de ontem. Embora nossa resposta para isso
seja positiva, acreditamos que a passagem de um tempo a outro será feita justamente
pelo deslocamento dos sentidos e das formas das palavras estudadas. Tal tempo é lógico
e sua passagem depende de um evento-enunciação, como estamos procurando.
Apresentamos, junto com este trabalho, uma catalogação dos trechos censurados
nas peças teatrais do Arquivo Miroel Silveira. No total de mais de 6.137 processos que
ele abriga, cerca de 1.300 deles foram parcialmente liberados pelo Departamento de
Censura do estado. Nesta categoria, há ainda mais uma subdivisão, que é justamente a
que nos interessa: aquela das peças parcialmente liberadas com trechos de textos
cortados. Elas são cerca de 400 peças.
Nossa catalogação das peças segue a ordem numérica herdada do departamento
citado e tem base na recuperação das peças feitas pela equipe do Arquivo Miroel
Silveira durante os anos de trabalho desde o início do primeiro projeto individual
assumido pela profa. Maria Cristina Castilho Costa. Especificamente a relação das
palavras censuradas como conjunto é de nossa autoria, justamente o traçado procurado

28
Nos termos da #interdição

tanto para a pesquisa de doutorado já concluída, como para a presente pesquisa de pós-
doutorado.
Consideramos que este tenha sido o primeiro passo para relacionar os termos
entre si a partir da relação possível entre eles. No Arquivo Miroel Silveira a organização
a que as peças respondem dupla, aquela do processo de censura e a da produção artística
que é a própria peça teatral. No primeiro caso o material é entendido como processo
administrativo e tem seu resultado nas chaves da aprovação, reprovação ou liberação
com restrições. Os documentos necessários que acompanham cada processo legitimam
essa organização. No segundo, caso que é a tomada da produção artística, as peças são
categorizadas principalmente segundo título dado e autoria.
Há um momento de cruzamento entre essa dupla entrada dos materiais do
Arquivo Miroel Silveira, que é justamente a anotação no certificado de censura sobre
cortes feitos na peça teatral. Este é o texto, que em nossa análise, representa a
particularidade do referido Arquivo e permite a abertura para um outro texto. Tal texto
se realiza na escritura da censura, na marcação sobre as palavras censuradas.
Não defenderemos que exista uma escrita unívoca da censura no sentido do que
deve ser censurado. Nem tampouco entendemos que o texto da censura seja oculto.
Defendemos sim que há uma lógica na determinação dos cortes, que ancoramos em
outros lugares discursivos: aquele de um tempo cultural, político e econômico.
Dessa forma é que propomos a reorganização dos materiais de arquivo estudados
para compor para eles uma nova ordenação. Entendemos que seu desenho seja dado
autoralmente, em relação a um percurso de pesquisa que estamos propondo. Seremos
guiados pela aproximação linguística e histórica que pode ser feita entre os termos. E
então, num terceiro, passo reconectar tais palavras estabelecendo uma rede entre elas,
combinando-as com os conteúdos que circulam hoje nas redes sociais.
Devemos justificar ainda o fato de que percorreremos um amplo período
histórico, concentrado no período do arquivo (1920 a 1960) e a relação que pode ser
estabelecida com a atualidade. Justificaremos, mais uma vez, a possibilidade deste salto
em favor do deslocamento que estamos perseguindo em relação ás palavras censuradas.
Podemos pontuar que a questão da desonra é uma que permeia muitos dos
cortes, sendo relativa a um homem ou mulher desonrados. Na peça O Misterioso Roubo
do Colar, de Harris e Chic Chic (DDP0015), foi excluída a frase “o noivo estava
desonrado”.

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Nos termos da #interdição

A interligação de palavras em rede, como estamos pleiteando, depende de um


percurso sobre a palavra que pretendemos iniciar aqui. Ele recupera a palavra como
possibilitadora de encarnar um signo linguístico. Estamos interessados no que da noção
de signo aponta para a conexão entre termos na linguagem. Nesse nível é podemos
conectar as palavras recortadas das peças.
Entendemos que as relações que a palavra estabelece dentro da frase enunciada
na peça teatral é importante para o sentido do que está sendo contado. Mas se quisermos
realizar um trabalho que se desprende da particularidade de cada textos teatral, para
escrever um outro texto, precisaremos confiar na relação deste, como dizíamos, numa
lógica dos termos censurados.
Procuramos a implicação política de tais palavras e do julgamento feito sobre
elas que permitem circular numa ordem de um valor assumido socialmente. É assim que
o censor pode isolar termos ou frases.
Acreditamos que este tema tão bem associado aos estudos da sociolinguística,
pode nos ajudar a pensar sim o caráter social e político da inserção destas palavras
censuradas. Mas o que queremos é manter a dimensão de que sua forma material (como
imagem sonora) é que a reconecta com as outras que indicamos numa mesma cadeia.
O trabalho de J. Coetzee sobre a ofensa nos coloca num ambiente em que o
termo carrega a marca da ofensa, mais do que a identificação do termo ofensivo em si.
O termo censurado tem caráter de queixa, que parte do censor para autor, tendo o
público como terceiro elemento de reforço na demanda por reparo. Isso vemos em P.
Burke, com História Social da Linguagem.
O trabalho sobre a indexação de palavras na rede é importante hoje tendo em
vista que os parâmetros de despregam dela em direção à forma concisa da recuperação
de informações através dos binarismos. A presença de fotos e vídeos são cada vez mais
constantes e há, por exemplo, a recuperação de dados de fisionomia transformados em
dados indexáveis. O nível da marca através da palavra está sendo a prova com a
migração de dados para os sistemas em códigos e de linguagem binária. Ainda assim,
consideramos relevante que este nível inteligível do código da língua seja estudado
como a apresentação mais amigável ao usuário. Situamos, ainda, que os nós dessa rede
e sua popularização estão no vínculo com a palavra.
Interessa-nos pensar que a forma condensada da palavra, transformada em
código inteligível para aqueles que dominam o jargão da área, mantém a dinâmica que
entendemos na linguagem. A atribuição de sentido faz circular o conteúdo específico. A

30
Nos termos da #interdição

popularização, por sua vez, nos interessa pela possibilidade de circulação ampliada
desse mesmo código. Pensamos, por exemplo, nas frases construídas de forma sintética
na mídia social Twitter.

Entender o código digital como uma forma de escrita é assumir que


ele resulta de certas convenções que permitem ao par “0” e “1”, em
suas infinitas e complexas combinações, geral igualmente infinitas e
complexas combinações de linguagem. Para isso, no entanto, é
necessário evocar a diferença entre código e linguagem. A linguagem
surge num espaço entre, no intervalo entre os elementos do código.
Assim como as 26 letras do alfabeto não fariam supor a diversidade de
textos existente na história da escrita, o par ‘0’ e ‘1’ não faz supor a
diversidade e fenômenos possíveis na cultura digital, pois a linguagem
digital não é o código binário mas sim seu fluxo, movimento triádico e
instável: ‘0’, ‘1’ e ‘entre’ (CARAMELLA, 2009, p. 198).

Pretendemos entender como a palavra tem sua importância renovada nos


sistemas de indexação atuais e nas dinâmicas de marcação na rede. Retomar como o
estatuto da palavra pode ser retomado através do percurso dos estudos sobre discurso.
Ela é um ponto nodal na construção da frase e, ao mesmo tempo, a estruturação
discursiva se descola dela, para além e para aquém. As reflexões sobre linguagem vão
ajudar a entender o processo de inscrição na linguagem e o segundo nível de inscrição
nas redes. As palavras têm sido privilegiadas como ponto de linkagem e conexão
intertextual. Discutir a presença de vídeos, fotografias e sua relação com a indexação
pela palavra ou independência dessa fixação. Devemos introduzir o que entendemos por
linguagem e qual a perspectiva que podemos adotar sobre a entrada na ordem simbólica,
e da escrita, da inscrição. E também separar e unir as possibilidades de escrita fora e
dentro das mídias digitais.

Palavra e tabuísmos linguísticos

O nascimento de cada palavra para a linguagem implica um recorte de sentidos


possíveis e a uma só vez um campo de sentidos possíveis não ditos. Para tratar do não
dito levamos em consideração a relevância dos trabalhos de Oswald Ducrot na

31
Nos termos da #interdição

perspectiva de que tais sentidos não ditos existem e movimentam a comunicação


humana. Partindo de uma perspectiva da pragmática linguística, entende que há marcas
enunciativas que marcam a fala e informam sobre ela. Da mesma forma entendemos que
os termos considerados tabu sofrem dessa dinâmica de marcação sobre palavra que os
fazem circular como tabu. Isso antes mesmo de que haja algo em sua constituição que
justifique essencialmente tal marcação, a não ser por uma conjunção social, histórica e
cultural.
“Não se trata mais do que se faz quando se fala, mas do que se considera que a
fala, segundo o próprio enunciado, faz” (DUCROT, 1987, p.163). Este argumento é
importante para pensarmos que a atuação do censor sobre as palavras excluídas dos
textos teatrais tem mais relação com um ambiente discursivo que envolve texto, autor e
censor, do que com a temática do enunciado.
Perseguir a marcação sobre palavras a partir de temas censuráveis nos parece,
desse modo, menos efetivo do que buscar retraçar a lógica da qualificação destes
mesmos enunciados como censuráveis. Na qualificação de sua enunciação eles se
conectam numa rede de sentidos entre conteúdos indesejáveis. “(...) todo enunciado traz
consigo uma qualificação de sua enunciação, qualificação que constitui para mim o
sentido do enunciado” (DUCROT, 1987, p. 164).
A marca que estamos perseguindo é aquela dos tabus linguísticos. São aqueles
termos considerados melhor não ditos. O tabu é um tipo especial de enunciado não dito,
ele carrega a insígnia da interdição. Além de não estar expresso no enunciado, não é
desejável que ele apareça. Podemos entender esse processo de emergência é um
acontecimento linguístico. O recorte de temas tabus mantém uma relação com
enunciados não ditos e se conformam na relação com os discursos na cultura.
Podemos retornar à S. Freud, em Totem e Tabu, para resgatarmos a característica
imponderável dos tabus. Tais termos fazem acessar uma dimensão mágica, no sentido
de que não sabemos exatamente em que ponto e o motivo por que foram acordadas. No
entanto, sabemos bem seus termos. “A palavra ‘tabu’ denota tudo — seja uma pessoa,
um lugar, uma coisa ou uma condição transitória — que é o veículo ou fonte desse
misterioso atributo. Também denota as proibições advindas do mesmo atributo. E,
finalmente, possui uma conotação que abrange igualmente ‘sagrado’ e ‘acima do
comum’, bem como ‘perigoso’, ‘impuro’ e ‘misterioso’” (FREUD, 1974).
Mais uma vez podemos reforçar a ideia de que existe uma dimensão social para
a determinação da esfera do tabu. Isso se reflete na marcação e circulação das palavras

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Nos termos da #interdição

que acionam tal esfera. Não atribuímos, dessa forma, a condição de tabu aos termos
analisamos. Mas podemos sim dizer que elas são dotadas de uma descarga de sentido
que faz sentir o imaginário dessa esfera do tabu. Toca em sua magia, jogando o leitor
num ambiente quase imponderável e indizível. Ao mesmo tempo retribui e reconstitui
sua viagem ao limite da realidade com a materialidade de uma palavra. Tal palavra o
agarra no simbólico e faz arrastar pela circulação social de tais termos.
O estudo dos tabus se desenvolve no campo da sociologia e da antropologia,
especialmente. Na possibilidade de conexão interdisciplinar com os estudos linguísticos
reconectamos a esfera do tabu com sua manifestação enunciativa. “Assim, o tabu
lingüístico nada mais é do que modalidade do tabu em geral, ou é um prolongamento
dos demais tabus. Se uma pessoa, coisa ou ato é interditado, o nome ou a palavra que se
lhes refere, é-o igualmente” (MANSUR, 1956, p.11).
Podemos aproximar, com D. Garrioch, a relação do insulto com o tabu. Alguns
insultos são considerados tabus dependendo das circunstâncias em que emergem,
enquanto outros são melhor aceitos. De todos modo, defendemos a energia linguística
que carregam de serem, por si só, uma marca na enunciação. Mais do que acrescentar
um sentido, eles agregam um valor, por exemplo, de agressividade à enunciação. Nesse
sentido acreditamos que trabalham dos termos tabu.
“Se as palavras escolhidas estão estreitamente relacionadas às condições
políticas, sociais e econômicas, e se a maneira como são usadas – sua função social –
reflete similarmente as formas de organização social, então não existe algo como um
insulto universal. De um lugar para o outro, e em séculos diferentes, as mudanças nas
condições e na organização social conduzirão a transformações no vocabulário e no uso
dos insultos, bem como em seu significado total” (GARRIOCH, 1997, p. 139).
As palavras estão marcadas socialmente e a configuração do insulto, dessa
forma, varia. A perspectiva adotada por D. Garrioch é a partir da sociolinguística,
valorizando a contextualização dos termos num dado tempo e lugar, no caso específico
na Paris do século XVIII. Nossa tentativa, de outro modo, é a de realizar a conexão
entre os termos de forma a recompor seu laço em termos da mudança na sua forma e
num certo campo que recobrem, mais do que a atenção dada às suas situações de uso
exatamente.
Nos trechos censurados do Arquivo Miroel Silveira temos duas categorias de
marcação, que consideramos associadas à insígnia do tabu. Num momento, a palavra
excluída do texto da peça teatral é ela mesma considerada um tabu social. Enquanto, em

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Nos termos da #interdição

outro momento, uma palavra que normalmente não seria considerada tabu é marcada
pelo censor e, assim, acaba por agregar o sentido da marcação indesejável.
Citamos, como exemplo, o processo DDP5987, referente à peça A canção da
rua, de autoria de Manoel da Nóbrega. Foram recortadas as seguintes palavras e trechos:
“tomar atrás; de pau duro; de pau grande; ela ficava segurando o pinto; e quando o pinto
é limpo ela inté beija o pinto; ocê fica beijando os pinto e dispois vem bejá eu; vê o
pinto cresce na mão dela; E o meu leite é bão; Se eu não vivo o cabo de engate, rápido,
era um desastre na certa. Mas o diabo é que eu quase que arrebento o túnel; eu vou
experimentá o seu rabo; (Entra, ajeitando o suspensório); maionese que caiu no lençol;
mexendo nele que ele endurece; Encosta a rôsca, que ele endurece; está custando a
subir; subiu ou não subiu; É ela me tocar com os dedos e eu gritar de dor; e não se
levanto mesmo; Quer um conselho? Se êle te pedir prá tu descascá a banana dêle, num
aceita. Se ele te pedir pra tu dar uma dentadinha na banana dele, num tópa. Num tópa
que é espeto”.
Nesse trecho fica bem marcado o caráter direto da relação dos termos utilizados
com o órgão sexual masculino e nas referências ao ânus. Em alguns momentos, o texto
da peça teatral se encaminha para uma relação figurada, mas ainda assim, a
consideramos muito presa ao referente, como no caso da relação entre o órgão sexual
masculino e a fruta “banana” e ao objeto “espeto”.
Um exemplo de peça em que a marcação é valorizada a partir do corte
promovido pelo censor é o processo DDP2319, referente à peça teatral Marcada pelo
destino, autoria de Rogério Lima Câmara. Nela, censurou-se: “Os homens condenam a
prostituição e são eles que alimentam a mesma, são os únicos culpados de existir tanta
perdição pelo mundo afora; O peito bem saliente, como se ocultasse um casal de
pombos prontos para voar; Santa”.
Há maior sutileza na realização deste corte, que visualiza a situação de homens
que com sua atitude incentivariam a prostituição. A prostituição, por sua vez, está
associada à perdição do mundo. Tal relação do comportamento masculino não é
desejável em associação com a imagem de homens de bem, de boa índole.
Uma terceira nuance de procedimento de interdição pode ainda acontecer a partir
destas duas primeiras. Uma imagem censurada que está encontrada na relação entre um
termo e uma figura em que ele se torna linguisticamente polêmico. Foi nesse sentido
que separamos termos que teriam um corte seco (forma que reduz a polissemia dos
termos, aumentando sua energia linguística e reforçando seu aspecto denotativo) e, por

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Nos termos da #interdição

outro lado, termos censurados que apresentam a forma de figuras de linguagem, com
abertura polissêmica.
Estes tabuísmos, especialmente aqueles com os quais entramos em contato nas
peças teatrais do Arquivo Miroel Silveira, advém do jogo de palavras e da estreita
relação com o vocabulário humorístico circulante. Recuperamos, com Saliba:

(...) a mistura lingüística, a incorporação anárquica de ditos e refrões


conhecidos por ampla maioria da população, a concisão, a rapidez, a
habilidade dos trocadilhos e jogos de palavras, a facilidade na criação
de versos prontamente adaptáveis à música, aos ritmos rápidos da
dança e aos anúncios publicitários (SALIBA, 2002, p. 228).

A característica que certos termos carregam nos interessa como marcação na


linguagem e seus consequentes desdobramentos na forma do privilégio de sua
circulação. Sua emergência pontua a cadeia da fala e pode favorecer o desenrolar de um
encadeamento de sentido. Localizamos a característica de tabu como uma marca no
nível do enunciado e que perpetra seus efeitos no nível da enunciação. No nível do
enunciado, ressaltamos o movimento de escolha sobre palavras como forma de acesso
ao ambiente do tabu ou seu desvio na forma de eufemismo.
Podemos dizer, com Benveniste, que:

Cada enunciado, e cada termo do enunciado, tem assim um


referendum, cujo conhecimento está implicado pelo uso nativo da
língua. Ora, dizer qual é o referendum, descrevê-lo, caracterizá-lo
especificamente é uma tarefa distinta, freqüentemente difícil, que não
tem. nada de comum com o manejo correto da língua (BENVENISTE,
1995, p.137).

Inclui-se nas possibilidades de uso referendado dos termos a sua atuação no


ambiente do tabu. Assim, podemos distinguir o âmbito do uso referendado e o uso
indesejável. O uso dos termos tabu pode ser entendido e referendado, mas ter seu uso
limitado a certas circunstâncias discursivas específicas. Entendemos, desse modo, que a
seleção de termos tabu é um caso de ligação direta entre o nível do enunciado e da
enunciação. Cada escolha de termo, especialmente aqueles considerados tabuísmos,

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Nos termos da #interdição

interfere e altera a cadeia de sentido até então organizada. E, em seguida, cria efeitos no
nível da enunciação. Tais termos podem ser considerados provocativos, por forçarem a
cadeia de sentido para si, realizando uma curvatura topográfica a seu favor.
A figura do eufemismo aplica-se de maneira interessante quando pensamos em
tabuísmos linguísticos como a maneira de contornar e dar contorno ao discurso do tabu.
Ao mesmo tempo em que o enunciado eufemizado desvia do conteúdo tabu, reduzindo
a energia de afronta na enunciação, lhe dá contorno, evidenciando exatamente onde o
tema tabu se localiza em relação ao que estamos chamando de topografia de sentidos.
Eufemismos são muitas vezes entendidos como o inverso na relação direta com
os termos tabu. De outra maneira, pretendemos que sejam processo concomitantes,
aquele de acionar o tabu e eufemizar sua aparição no enunciado.

The need for euphemism is both social and emotional, as it allows


discussion of 'touchy' or taboo subjects (such as sex, personal
appearances or religion) without enraging, outraging, or upsetting
other people, and acts as a pressure valve whilst maintaining the
appearance of civility (LINFOOT-HAM, K., 2005, p.228).

Há trabalhos que justificam a relação de desvio que ocorre em favor do


eufemismo como uma das formas de comportamento socialmente adequado. Podemos,
mais contundentemente, dizer com Foucault da ordem do discurso que se estabelece
sobre as circunstâncias de fala.
Neste ponto estamos interessados em reforçar o mecanismo pelo qual
relacionamos dois termos, aquele que circunscreve mais diretamente o tabu e aquele que
aceitamos como seu substituto informativo. “under what circumstances are we willing
to link a word with a novel category of referents. It will be revealed that we accept a
word as adequately used provided it implies the new type of referent or constitutes a
description of it” (WARREN, 1992, p.122).
Veremos que há uma abertura para tais variações quando acessamos os termos
marcados com o símbolo hashtag. Para além de sua marcação indexadora, existe a
possibilidade de criação sobre termos. Como veremos, no primeiro caso ganhamos em
chance de circulação e replicação de conteúdos. No segundo caso, ganhamos em
variação comunicativa dos termos. Tal é o caso do uso da forma “#seks” no lugar de

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Nos termos da #interdição

“#sex”, como temos recuperado nas redes sociais, para fugir do apagamento das
publicações marcadas por este teor.
Nosso objetivo aqui não é buscar maneiras de categorizar conteúdos na rede,
mas de outro modo, fazer ver a exposição de conteúdos que provocariam uma vontade
de indicação e sua circulação nas redes sociais. A marcação dá a ideia do que é ou
deveria ser barrado, interdito de alguma forma. Entendemos, para defender essa
hipótese, que as redes sociais têm se estabelecido como um lugar de fala
descomprometida com o crivo de certos tabus sobre a palavra.

(...) a acontecimentos, a instituições, a práticas; as palavras


empregadas, com suas regras de uso e os campos semânticos por elas
traçados, ou, ainda, a estrutura formal das proposições e os tipos de
encadeamento que as unem (FOUCAULT, 2008, p.12).

Recuperamos a restrição que Foucault identifica de acordo com a situação de


enunciação para dizer que, especificamente neste quesito, nas redes sociais ela é
principalmente limitada a um número de caracteres, linkada a outras e identificada a um
perfil, seja ele falso ou não. Noutro nível, da relação entre o que está dito e o não dito, a
palavra se apresenta como sugestiva e ao mesmo tempo encobridora do conteúdo a ser
descoberto na interação com o leitor, estando por vezes disponível a partir de um click
ou não incluso na sequencia articulada.
Há certos conteúdos que reorganizam o que está estabelecido no suporte e
chamam para a novidade. Eles podem beirar o que é o limiar da entrada na ordem. Nas
mídias digitais esse mecanismo é mais rápido. Há sempre algo que irrompe da estrutura.
Respeita a regra da linguagem, do discurso, do suporte, mas desafia para gerar novos
sentidos.

(...) o gesto que consiste em inscrever o discurso em tal ou tal série, a


incorporá-lo a um ‘corpus’, corre o risco de absorver o acontecimento.
A noção de ‘formação discursiva’ emprestada a Foucault pela análise
do discurso derivou muitas vezes para a idéia de uma maquinaria
discursiva de assujeitamento dotada de uma estrutura semiótica e por
isso mesmo voltada à repetição: no limite, esta concepção estrutural
da discursividade desembocaria em um apagamento do

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Nos termos da #interdição

acontecimento, através da absorção em uma sobreinterpretação


antecipadora (Pêcheux, 1983, p. 56).

De acordo com a perspectiva de análise que propomos, mais do que recuperar


tabuísmos linguísticos, temos como retraçar aqueles termos que geraram polêmica por
sua inserção. Assim, mais do que uma recuperação do imponderável como objeto,
temos o objetivo de retraçar o caminho de palavras encarnadas na ordem do discurso e
que por seu local e forma de inserção incitam o debate sobre sua própria condição. A
diferença que estamos pleiteando é entre o irrepresentável e a remetência ao próprio
jogo da representação, observando termos que fazem ver sua condição limítrofe.
Nesse sentido, dizer que trabalhamos com termos limítrofes significa checar o
desenho da normalização moral, social e política através de um quadro discursivo. A
Classificação Indicativa se apresenta como uma das importantes instituições apontando
e sistematizando os cenários e cenas específicas possíveis de causar perturbação à
ordem. Embora, em todos os casos, possamos, ainda com Foucault, identificar a atração
e o reforço a cada momento em que a indicação de tais termos limítrofes (já
incorporados) são acionados.
A relação entre a dinâmica de suspensão do momento de completude do sentido
em uma única postagem se coaduna com a estrutura ramificada da rede, fazendo com
que a intelecção seja feita na ligação entre dois termos ou mais. Ainda, tais termos
pertencem a níveis diferentes, sendo que um tem caráter de abertura e o último de
conclusão. Consideramos, assim, com Pierre Lévy, que percorremos uma cartografia.

Tal é o trabalho da leitura: a partir de uma linearidade ou de uma platitude


inicial, esse ato de rasgar, de amarrotar, de torcer, de recosturar o texto para
abrir um meio vivo no qual possa se desdobrar o sentido. O espaço do
sentido não preexiste à leitura. É ao percorrê-la, ao cartografá-la que o
fabricamos, que o atualizamos (LÉVY, 1996, p.20).

Destacamos nessa cartografia o caráter de atualidade lógica dos termos, sendo


que a comunicação é realizada ao mesmo tempo segundo uma repetição histórica e uma
presentificação que empenha o termo dito. Nesse sentido, é palpável uma virtualidade
do sentido atualizado já que ele pertence ao momento da ativação da ação da leitura.

38
Nos termos da #interdição

Já o virtual não se opões ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao


possível, estático e já constituído, o virtual é como o complexo
problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação,
um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um
processo de resolução: a atualização (LÉVY, 1996, p.5).

Entedemos que a fragilidade do rastro deixado por um documento se acirra


quando tratamos dos novos meios, no eco ainda mais longínquo do ato de sua criação
em favor de uma força pelo enredamento de seus termos tomados em conjunto.

(...) reconstituir, a partir do que dizem estes documentos - às vezes


com meias-palavras -, o passado de onde emanam e que se dilui,
agora, bem distante deles; o documento sempre era tratado como a
linguagem de uma voz agora reduzida ao silêncio: seu rastro frágil
mas, por sorte, decifrável” (FOUCAULT, 2008: p.7).

Concentramo-nos assim na determinação da existência de um tabu sobre a


palavra articulado como base para os estudos de discurso, já que esta mesma interdição
será conformadora da dinâmica social (Foucault, 2008a). Entretanto, dizer de um tabu
sobre as palavras não implica relacionar os termos interditados em si, já que não há
acesso ao que seria sua forma original. Deparamo-nos nos discursos, então, com uma
forma de termos sobre os quais apostamos uma confluência polêmica. São termos que,
em primeiro lugar, nasceram para a ordem da linguagem e, em segundo lugar, são
ambíguos o suficiente para levantar polêmica sobre sua colocação: no sentido de onde e
como são ditos.
É nesse sentido que temos acesso a tabuísmos linguísticos que circulam pelas
redes sociais. Tais termos desenham caminhos de revelação e ocultamento através de
camadas de links. Defendemos, assim, que a estrutura rizomática com que se
apresentam conteúdos na web se coaduna com níveis possíveis de explicitação do dito.

De novo, os critérios mudam. Reaproximam-se daqueles do diálogo


ou da conversação: pertinência em função do momento, dos leitores e
dos lugares virtuais; brevidade, graças à possibilidade de apontar
imediatamente as referências; eficiência, pois prestar serviço ao leitor

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Nos termos da #interdição

(e em particular ajudá-lo a navegar) é o melhor meio de ser


reconhecido sobre o dilúvio informacional (LÉVY, 1996, p.22).

Os links dão abertura ambígua em relação ao conteúdo para o qual apontam. E o


fato de que nem todo conteúdo é desejavelmente apresentado na primeira página
corrobora a construção de uma dinâmica de produção de sentido com momentos de
apresentação de conteúdos e de seu ocultamento que por sua vez redireciona para nova
exposição de um conteúdo inesperado.
Pretendemos teoricamente interligar a possibilidade de interdição de conteúdos
como processo de conformação de enunciados e o que consideramos ser o crescimento
exponencial da circulação destes mesmos enunciados a partir da possibilidade de
interligação nas redes e, especialmente, de replicação nas redes sociais. Para defender
tal argumento não nos impede o processo de desvio que tais enunciados mostram
durante o circuito de circulação justamente por acreditarmos que a condição polêmica se
mantém como marca formal de sua apropriação.
A partir da recorrência de alguns termos observamos que eles tem uma
característica especial, pela repetição de sua forma e de uma variação de sua forma. Ou
ainda, pela referência implícita em relação a outro termo omitido na rede. As pesquisas
que trabalham com mídias digitais tentam trabalhar sobre a recuperação de dados
quantitativos ou qualitativos e essa dinâmica acaba por interferir nos resultados. Há
ainda muito o que ser seguindo para o estabelecimento de metodologias de pesquisa em
mídias digitais. Cada trabalho tem de se construir sobre as dificuldades de dispersão e
falta de prioridade na rede. A marca dos tabuísmos é muitas vezes o caminho a seguir
na perseguição da malha discursiva. Introduzir uma outra dinâmica da linguagem e dos
processos de interdição que é a aparição e o ocultamento, a visibilidade e o apagamento
como parte da mesma publicação ou ato de enunciação. A internet é marcada pela
imagem de uma visibilidade e transparência no ímpeto por recuperar a totalidade dos
conteúdos. Assim, o que estaria reservado ao ambiente do tabu é, de alguma forma,
convidado a participar da superficialidade e do ambiente de evidência das redes. Tal
convite não representa uma obrigatoriedade de exposição, de enunciação compulsória
destes termos tabu. No entanto, o ideal de visibilidade e transparência seduz à infinita
exposição e expiação de tais termos sujos.

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Nos termos da #interdição

Palavras e sistemas de indexação

Marcamos, neste primeiro nível de nosso trabalho, a palavra como unidade


articuladora de sentido. Começamos a ver como ela pode ser um ponto de concentração
revelador dos embates na cultura. Não consideramos fortuito ou a toa que recaímos
sobre a palavra.
Um dos processos mais recorrentes para entender a dinâmica das mídias digitais
é a variação (através da diferença) e a repetição (como recorrência dos mesmos termos).
Elencamos processos de indexação como formas de ao mesmo tempo diferir e agrupar
tais termos. Este processo está identificado com um processo conceitualmente descrito
como exercício de diferença e repetição na linguagem. A expansão dos pontos na rede
gerou maneiras no sentido contrário, de tentativa de uma interconexão entre os termos,
como a marcação por hashtag. A indexação é um processo já conhecido, especialmente
na área acadêmica, com a marcação por palavras-chave e historicamente instaurado por
tentativas de organização e controle, como os índex de temos católicos na inquisição.
Mais uma dinâmica na linguagem podemos recuperar: de que a inscrição implica um
agrupamento, uma marcação e um controle.

A possibilidade da indexação automática é a análise de texto por amio


de algoritmos para produzir cabeçalhos no índice. Em algumas bases
de dados a indexação baseia-se simplesmente nas palavras do texto
integral e em estratégias que extraem as palavras, frases ou chaves,
pesquisadas pela combinação de métodos mais ou menos sofisticados
como a lógica booleana, técnicas de lematização (truncada de prefixos
e sufixos), operadores de proximidade, etc (MARTINS, 2014, p.88).

Especialmente na presente proposta de pesquisa ela atravessa todos os níveis de


complexidade, da estruturação frástica à sustentação da articulação da rede. Por isso
carregamos na experiência linguística que ela pode proporcionar. Não seria o mesmo se
a entendêssemos apenas como termo lógico de uma equação possível na linguagem. E a
palavra é isso também. Mas adicionalmente a esse sentido de conjunção lógica, ela é
unidade eleita na cultura: como maneira de direcionar uma ofensa (o palavrão, a palavra
má, la mala palabra); como recorte preferencial para que se associe um link (clique
aqui) e, o que nos interessa mais especialmente neste trecho do percurso deste trabalho,

41
Nos termos da #interdição

a palavra indexadora. Ela oferece a possibilidade de marcação através do seu


isolamento. Nesse sentido, os trabalhos em ciências da informação nos dirão que são
termos. Podemos concordar na aspiração que tais palavras podem ter a serem termos
para categorização completos. Ou seja, que possam dar conta do conjunto de materiais
que categorizam.

Essas diferenças residem especialmente no fato de que catalogação na


biblioteca apresenta um conjunto de princípios firmados reconhecidos
mundialmente que fornecem padrões para elaboração de registros bi
bliográficos, contribuindo para construção da área da catalogação para
intercâmbio de informações. Os serviços de indexação resumo, por
sua vez, não têm apresentam diferenças entre seus métodos para
descrição pontos de acesso diferentes padrões (FUJITA, 2009, p.37).

Ao mesmo tempo, não podemos deixar de referenciar o processo de distensão


em relação a esse movimento de categorização. Muitas vezes a um conjunto de termos
para o mesmo item categorizado. Outras vezes o termo que identifica o objeto não dá
conta de todos os elementos que ele apresenta. Ele não dá conta de toda a expectativa de
busca possível que venha a ser feita por um público hipotético. Na verdade, devemos
dizer, um termo nunca da conta da totalidade das possibilidades do objeto a que se
refere.
Na maneira como estamos assumindo, devemos nos fixar, para este percurso,
totalmente no domínio da palavra. Ela pode ser entendida de maneira diferente do termo
lógico. Ela representa o resultado do embate na cultura e nos apresenta a escolha final
feita. Ela é escolha entre possibilidades disponíveis. Não tenta dar conta da totalidade,
ao contrário, se mostra como articulação instável e conflituosa. “(...) a indexação parte
mais importante da análise documentária. Consequentemente é ela que condiciona valor
de um sistema documentário” (CHAUMIER, 1988, p.63).
Quando chegamos às marcações feitas por hashtags nas redes sociais, podemos
reconhecer esse fenômeno tanto de definição de terminologia, quanto de distensão –
nesse caso até lúdica – sobre as palavras marcadas. Para o presente trabalho então,
defendemos que a marcação com o símbolo hashtag se insere na linhagem dos
processos de indexação. Tal processo foi incidido por dois fatores principais. Podemos
dizer, ainda que ele foi remediado (no sentido encontrado em Remediation). O primeiro

42
Nos termos da #interdição

é o fato da possibilidade de publicação por parte de uma gama de usuários (identificados


com o movimento autoral sobre os materiais com que lida, muito mais do que
identificados com a categoria de usuário, recebendo informação passiva). O segundo
fator, relacionado também ao primeiro, é a possibilidade de fazer mudança no conjunto
dos termos indexados. Não somente um usuário pode publicar em seu nome, como pode
variar os termos indexados.
Temos uma variação ainda mais fundamental e ela não diz respeito exatamente
ao processo de indexação. Trata-se do material a ser indexado. Enquanto que num
conjunto controlado de itens indexados, promove-se uma unidade e identificação dos
elementos do conjunto, quanto tratamos das marcações nas redes digitais temos que
lidar com a inconstância não só dos indexadores, como também dos materiais
indexados. Poderemos voltar a isso justamente quando passarmos ao próximo nível e
tratarmos da unidade de arquivo e a relação entre seus materiais.
Consideramos que, nos termos da interdição, os processos de indexação também
reproduzem o as dinâmicas reconhecidas na linguagem. A primeira delas de entrada
numa ordem simbólica, apresentando um recorte ao mesmo tempo que uma seleção. A
segunda dinâmica que relacionamos com o processo de interdição é aquela que
relaciona o trabalho de indexação com o de atribuição de marca interdita ao termo
indexado. Mencionávamos, no item anterior, a relação das palavras com as facetas dos
tabuísmos e dos eufemismos. Neste momento, que é uma segunda camada que
pretendemos no trabalho sobre o nível de complexidade da palavra, somamos essa
insígnia com os processos de indexação.
Está subentendido, nessa escolha de estruturação do trabalho, que: tanto as
palavras relacionam-se com os processos de interdição, quanto que sua relevância para
o estudo das novas mídias digitais, na forma de termos indexadores e organizadores é
preponderante. Dizemos isso, ainda que possamos reconhecer que os meios digitais se
encaminham para uma organização de plataformas priorizando a indexação a partir de
elementos sonoros e visuais. No entanto, ainda assentamos a relação de marcação,
mesmo nestes casos, com a necessidade das palavras e termos para orientação do
código.
Devemos admitir, sim, uma linha fina entre a palavra quando utilizada no código
da língua e o termo, como utilizado para estruturação de complexas linguagens de
programação. No primeiro caso, a justaposição de palavras gera um sentido cujo
resultado podemos chamar formalmente de textual. No segundo caso, temos um

43
Nos termos da #interdição

resultado que, apesar de organizado a partir de termos, com base numa linguagem
alfabética, produzem resultados estéticos, visuais e sonoros. Isso quando se satisfazem
ao nível da forma. Ainda no nível dos códigos de programação, temos uma relação mais
conotada entre palavra e o comando que ela materializa. A determinação de termos
operacionais se distancia da utilização das palavras tomadas na sua possibilidade de
figurativização.
Esse debate se coloca presente quando tratamos das redes digitais, que estão
assentadas sobre um binarismo a partir de termos de nosso arcabouço alfabético. Sua
indexação é fundamental para que haja o mesmo efeito na produção dos objetos
programados. Consideramos, assim, que o trabalho sobre esse nível não nos interessa
tanto. Interessa-nos apenas no momento em que há um salto de termo conotado e
direcionado a conteúdos ao momento em que podemos ser tomados como palavras
denotadas e dispersivas em relação aos processos indexatórios. Observamos ainda
assim, que esse mesmo processo de distensão não para de gerar novas linguagens de
programação criadas a partir de novas apropriações dos termos técnicos de base.
Podemos dizer isso exemplificando especialmente com as linguagens nascidas a partir
da base da linguagem HTML.
Hoje o desafio é em relação ao volume de informações e sua catalogação na
rede. Saem na frente os motores de busca. A primeira sensação diante deles é de uma
enormidade de informações. A mesma abertura de comunicação foi assumida para o
contato social, apropriada em cima da palavra. Por um lado temos a comunicação
instantânea entre os pares e, de outro, a comunicação de um para o mundo. Esta última
sim pode ser marcada pela palavra.
A possibilidade de catalogar conteúdos fornece a abertura para um outro
percurso narrativo. Essa conexão pode ainda ser horizontal, no sentido da marcação de
palavras que conectam um ou mais textos. Estamos falando de outro tipo de narrativa,
diferente daquela dos sites, baseada na criação de níveis? Neste momento abrimos para
um percurso nas redes sociais, baseado inclusive na sensação de pertencimento pelo uso
de uma hashtag conhecida.
A relação na linguagem é aquela da marcação com um nome para a imediata
circulação e controle. No nível das redes esse processo acontece de forma muito mais
constante, estamos na baliza entre uma dinâmica de pertencimento que era característica
da linguagem oral e que se reverte para o suporte baseado nas materialidades da palavra
escrita, do áudio e do vídeo.

44
Nos termos da #interdição

A questão da marcação sobre palavra nos parece importante pois ela atribui
sentido e destaca um termo. Essa marcação, ao mesmo tempo em que o coloca em
evidência, faz com que circule. Provoca identificação e a inserção em outros textos.
Qual será a palavra ou o traço determinado para que se reconheça um texto, uma
produção? Ao mesmo tempo que a marca hashtag trabalha no nível da indexação, é
também característica da variação autoral.
A circulação de uma palavra marcada depende de sua repetição. Ao mesmo
tempo, a cada vez que é retomada, gera um sentido diferente. Essa máxima toma escalas
desproporcionais quando pensamos nos níveis de repetição e distensão possível na rede.
Dessa forma, ao mesmo tempo que entendemos a marcação com hashtag como uma
forma de indexação dos conteúdos publicados na rede, só podemos considerá-la como
um movimento indexatório. Dizemos isso para explicitar que ela não chega a organizar
um vocabulário comum e autoral para o relacionamento entre os materiais publicados.
Estamos nos valendo de uma extrapolação ao entender a web como um grande
banco de dados e o símbolo hashtag como sua possibilidade de indexação. Pois, de fato,
como dizer de uma base de dados em que não houve um pedido expresso para sua
compilação e de um processo de marcação que podemos denominar como não
orientado? No entanto, defendemos que é essa exatamente a verdade de nosso trabalho:
o desafio de uma base de dados feita coletivamente e sem uma pergunta autoral
expressa e um processo de indexação que não estabelece a priori as regras para a criação
de seus termos.
Durante o processo de pesquisa, tentamos coletivamente uma possibilidade
classificatória que fugisse da recuperação de dados mais tradicional apropriada a
originais das peças teatrais e sua documentação. O simples fato da heterogeneidade do
material representava um desafio, bem como a existência das marcas da censura. Tal
fato não podia ser ignorado na descrição e apropriação das informações relevantes dos
materiais de qual se partia. Um campo teórico, relacionado aos estudos de comunicação,
mas também de estudos teatrais e de literatura se abriu para a produção de termos que se
mostraram como verdadeiras e diferenciadas chaves interpretativas para o material.
Interessa-nos apontar que a mera tentativa de elencar tais termos como possibilidade
classificatória para os materiais vindos da censura revela o lugar de indistinção em que
ele está colocado. Não se trata de título, autoria, local de encenação, mas de um
evidente jogo de palavras, na maioria dos casos dúbio, figurativo, cômico e que se
presta ao escape. Como indexar tal material que informa de maneira aberta sobre:

45
Nos termos da #interdição

- a natureza poética do texto


- sobre uma lógica da censura
- sobre as tradicionais maneiras de se fazer humor
- sobre a história do teatro
- sobre o momento cultural nacional
- sobre as relações de poder em vigor
- sobre as relações entre a cultura, a imigração e o espaço da cidade

A listagem que se segue acaba por ancorar a indexação em algumas


possibilidades de abertura para dualidades textuais, tentando manter-se o mais próximo
possível da natureza do material catalogado. No entanto, nosso trabalho todo se localiza
na inevitabilidade do salto de sentido.

Vocabulário de Gêneros (construído no âmbito do Projeto Temático Fapesp e em


conjunto com a Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes da USP):

Metáfora – quando uma cena remete à realidade política e social do momento. A


música Apesar de Você, de Chico Buarque é uma metáfora da ditadura.

Jogo de palavras – eu pertenço ao partido que tem por partido tirar partido de todos
os partidos.

Trocadilho – Mme. Angu por Maria Angu.

Caricatura – descrição de personagem ressaltando ou exagerando determinados


aspectos.

Folhetim – gênero literário e dramático cheio de peripécias cujo enredo muitas vezes é
contado através de fofocas e conversas entre mulheres. Possui desfechos grandiosos.

Absurdo – quando alguma coisa completamente inesperada acontece ou quando há


aparente falta de lógica.

46
Nos termos da #interdição

Apoteose – quando o final apresenta uma grande cena de impacto.

Festa – geralmente indica um gênero musical.

Malícia – cenas cômicas de fundo sexual.

Desenlace ou desfecho – como se resolve o conflito.

Enredo – história, narrativa dramatúrgica.

Fábula – história baseada em mitos.

Herói – protagonista dos romances nos quais aparece como defensor de princípios
tidos como absolutos.

Suspense – recurso literário e dramatúrgico de interromper a ação, aumentando o


interesse do público.

Vilão – anti-herói que representa uma ameaça ao bem e às intenções do herói. Típico
do melodrama.

Regionalismo, nacionalismo – tendência manifesta em relação a circunscrever a obra


a uma região ou à história nacional.

Defendemos, ainda assim, a existência de uma ordenação e de uma lógica que


relaciona os elementos pareados neste meio digital. Assim como acreditamos haver uma
lógica na ação censória sobre as peças teatrais. No caso de nosso arquivo de partida, o
que podíamos argumentar em favor da existência de uma lógica da censura era a
materialidade da marcação sobre os trechos censurados. Consideramos, de maneira
virtualizada, que uma coleção de censores realizavam marcações sobre os originais de
peças teatrais e que tais cortes mantinham uma correspondência. Eles se encontravam

47
Nos termos da #interdição

não na disposição autoral de cada censor, mas na conjunção discursiva a partir da qual
tais trechos formavam um conjunto.
Retomamos esse processo para dizer que consideramos a marcação censória
como um nível de indexação e visibilidade sobre tais trechos. E, da mesma maneira,
uma dinâmica de visibilidade se estabelece a partir da marcação com o símbolo hashtag.
Estando longe das disposições autorais e mergulhados nas conexões em rede o que
temos a perseguir são as nuances de repetição e diferença entre termos.

O passado, então, não é mais o passado imediato da retenção, mas o


passado reflexivo da representação, a particularidade refletida e
reproduzida. Em correlação, o futuro deixa também de ser o futuro
imediato da antecipação para tornar-se o futuro reflexivo da previsão,
a generalidade refletida do entendimento (o entendimento proporciona
a expectativa da imaginação em relação ao número de casos
semelhantes distintos observados e lembrados). Quer dizer que as
sínteses ativas da memória e do entendimento se superpõem à síntese
passiva da imaginação e se apoiam nela. A constituição da repetição já
implica três instâncias: este em-si que a deixa impensável ou que a
desfaz à medida que ela se faz; o para-si da síntese passiva; e, fundada
nesta, a representação refletida de um "para-nós" nas sínteses ativas
(DELEUZE, 1998, p.77).

A partir dessa perspectiva, podemos dizer que os termos interditos circulam com
uma força de repetição e de retomada. Podemos dizer que não estão presente numa
forma única nos dicionários de indexação ou na lista de hashtags populares, ao mesmo
tempo que marcam a aparição de todas elas. Há uma dinâmica de emergência de novas
formas das palavras indexadas que fazem circular o conteúdo tabu como trending topic
ao invés de manter-se como uma publicação isolada. Tal processo cria alterações
dinâmicas dos indexadores e um fluxo de alteração constante tanto de sua forma
significante, quanto de significado. Isso aproxima seu processo de manutenção muito
próximo com aqueles da tradição oral. E, nestes casos, a uma valorização mais da
memória do que a formalização da grafia do termo indexador.

48
Nos termos da #interdição

Palavra em rede

Ainda no nível em que estamos pensando palavras e termos, unimos este


elemento ao mais complexo tomado em nossa gradação: a rede. Isto só pode ser feito
pois partimos do princípio que o caráter da estrutura está representado desde suas
unidades menores às maiores.

As dificuldades tinham começado com a confusão entre parafuso,


rosca e porca. Todos sabem, entretanto, que o sistema de base
genérico-sexual da tecnologia elementar implica, como princípio
estrutural, que as roscas e as porcas se casam. Mas reinava a esse
respeito uma estranha confusão no marxismo: assim, o velho marxista
tinha absoluta convicção de estar equipado de parafusos celibatários
marxistas, quando na verdade não dispunha senão de roscas... sem
porcas (PECHEUX, 2008, p.16).

Temos, assim, que voltar ao conceito de estrutura para chegarmos a relacioná-lo


às possibilidades atribuídas à figura da rede. Há várias críticas já sedimentadas sobre a
ideia de que a estrutura está baseada numa fixidez que não favorece a apreensão da
diversidade dos fenômenos que tenta abarcar.

Para Derrida, o conceito de estrutura tem uma extensa história, mas


foi em tempos recentes objecto de um “acontecimento” quase
imperceptível e no entanto decisivo. Esse ‘acontecimento’ seria o
desapercebido lugar de passagem do ‘estruturalismo’ para o ‘pós-
estruturalismo’. De que se trata? Toda estrutura tradicional tem um
centro. De certo modo, a noção de ‘rizoma’ em Deleuze/Guatarri é
uma tentativa genial para pensar uma estrutura sem centro, que é hoje
algo que se aproxima da noção de ‘rede’ (SILVA, 2015).

Gostaríamos de reestabelecer, por um lado, a possibilidade dinâmica da


estrutura, que se manifesta na sobreposição de malhas estruturais, mas que se concentra
na ordenação dos elementos e numa hierarquia fixa entre elas. E, sem entrar na
polêmica do entendimento estruturalista ou pós-estruturalista sobre o conceito de

49
Nos termos da #interdição

estrutura, pensá-la da maneira que ela serve de inspiração para o imaginário sobre as
redes. Entendemos que a ideia do acentrado e do fugidio está presente na lógica de um
deslocamento que a estrutura já contempla.

O sentido figurativo está implícito mesmo na simples descrição dos eventos


antes da sua análise, bem como na estória contada sobre eles. A estória
transforma os eventos, fazendo-os passar de falta de sentido do seu arranjo
seria numa crônica para uma estrutura hipotaticamente arranjada de
ocorrências sobre as quais podem ser feitas perguntas siginifcativas (o que,
onde, quando, como e por quê). Esse elemento de estória no discurso
histórico existe mesmo nos exemplos mais intransigentes de escrita histórica
estruturalista, sincrônica, estatística ou representativa (WHITE, 2001,
p.128).

Pretendemos resgatar o que nela dá abertura para o imaginário das configurações


em rede. Poderemos nos estender sobre este tópico em mais detalhes na terceira parte de
nosso trabalho, dedicada à a essa questão especificamente. Mas começamos
embrionariamente a pensar aqui a possibilidade aberta com a palavra em rede.
Consideramos palavra em rede aquela que alçou um grau de circulação em torno
de si. Tal circulação vai além da perspectiva da palavra em arquivo, como a pensamos
no item anterior, em que sua marca a relaciona com outras similares. Neste caso, o
relacionamento é de formação de conjunto, de unidade por recorte temático ou formal.
O aspecto de rede em relação à palavra refere-se, diferentemente, à conexão que
um termo promove cruzando diferentes malhas discursivas e que a relação intertextual
que estabelece é mostrada de maneira evidente.

Estamos sim diante da ideia de hipertexto para pensar a palavra em rede.


“Foi essa volatilidade da digitalização que permitiu a distribuição da
informação em rede indo desembocar na explosão da internet. Tal explosão
resultou, aliás, da conjunção de duas ideias simpres: a informação distribuída
em rede e o hipertexto. Essas duas aplicações já eram úteis isoladamente,
mas sua associação criou uma nova rede viva dotada de propriedades
emergentes” (SANTAELLA, 1992, p.24).

50
Nos termos da #interdição

E especificamente nos interessam as estruturas que nos trazem as plataformas


wiki. O que seria uma quebra da linearidade em plataformas wiki? A relação entre as
partes e o todo sempre pode ser recomposta, rearticulada. Onde estão então os
parâmetros de coerência e coesão, quais esses marcadores?

Dentro das possibilidades de edição de texto que o wiki proporciona,


destacamos uma delas em particular, que é a criação de links. Este recurso
consiste em um dos fatores inéditos da edição de texto nesta plataforma. É
possível estabelecer links com conteúdos dentro do próprio texto wiki, como
com sites externos. Dizemos que isto confere ao texto uma característica
aberta e também ramificada. O estabelecimento de links confere duas
características a mais na edição de texto em wiki, a parte de ser colaborativa:
o esgarçamento da construção linear do texto, com o investimento em sua
ramificação e, ainda, a possibilidade de conferir a ela uma extensão ilimitada
(GOMES; SOARES; LIMBERTO, 2007).

Não obstante, cremos tratar-se de um fenômeno de concentração de sentido


sobre o nível da palavra e do termo. Isso se manifesta de maneira duplicada nas redes
sociais. Entendemos que o conceito de intertextualidade guia a correlação entre
conteúdos nas redes. Encontramos diversas variações conceituais para mencionar essa
que é uma das principais características da produção digital: a possibilidade de
fragmentação e recombinação entre as partes. Em relação especificamente à produção
textual, reconhecemos uma primeira transformação a partir da associação entre termos
na medida em que páginas puderam ser relacionadas umas às outras, estimulando a ideia
do conhecimento rizomático e da disposição dos conteúdos em níveis.
No entanto, consideramos ainda uma segunda transformação quando o processo
de ligação pôde ser feito através de indexadores dentro das redes sociais. A partir da
marcação de uma palavra ocorre a ligação entre todas as publicações que foram
notificadas sob a mesma rubrica. Reforçamos que esta é uma forma de ligação
horizontalizada, que dá abertura para a construção ainda mais destituída da organização
hierarquizada. A possibilidade de recuperação se dá pela utilização de mecanismos de
buscas através de algoritmos próprios. A perseguição da sequencia de uma palavra
marcada com alguma modalidade de etiqueta (tag) se dá de maneira dispersiva.

51
Nos termos da #interdição

Nesse sentido, o que está sendo valorizado é a correlação de um termo dentro de


um texto. Ele é tanto pertencente ao texto que seria chamado de texto de origem, quanto
ao seu texto de chegada. Participa da construção de sentido em ambos e, ainda,
contribui para a formação de um texto em comum que inclui o termo marcado na ordem
da cultura. Entendemos, assim, que a possibilidade da marcação de uma palavra está
dada antes de sua transformação em link. Este processo aciona um dos seus sentidos.
Não se pode determinar, na verdade, qual o começo ou o fim dessa história e
qual será o percurso certeiro do usuário. Parte do percurso narrativo está delegado ao
trajeto feito por ele em sua navegação, num mar de sentidos marcados, embora as
possibilidades para tal navegação não sejam infinitas.

A revolução do texto eletrônico será, ela também, uma revolução da leitura. Ler
num monitor não é o mesmo que ler num códice. Se é verdade que abre
possibilidades novas e imensas, a representação eletrônica dos textos modifica
totalmente a condição destes: à materialidade do livro, ela substitui a
imaterialidade de textos sem lugar próprio; às relações de contigüidade
estabelecidas no objeto impresso, ela opõe a livre composição de fragmentos
indefinidamente manipuláveis; à apreensão imediata da totalidade da obra,
viabilizada pelo objeto que a contém, ela faz suceder a navegação de muito
longo curso, por arquipélagos textuais sem beira nem limites (CHARTIER,
1998, p. 190).

Pensar um texto liberado é aceitar pegar a rota de um link e não voltar mais. No
limite, a totalidade desse texto é da ordem do intertexto e sua coerência e coesão
comporta oposições de ideias.
“Pluralizar, a rigor, não consistem em aumentar o número de cânones, ou em
defender um deles contra o outro – mas em constatar que a decisiva pluralidade está em
tornar crítica a própria identidade (...)” (RIBEIRO, 1997, p. 11). Há, nessa concepção
apontada por Renato Janine Ribeiro, uma maneira atualizada de se pensar a crítica, não
apenas assumindo o olhar exterior sobre o que se diz, mas aceitando paradoxos lógicos
na linguagem. A pluralização das correntes e ideologias dominantes ou não podem ser
acompanhadas pelo que se faz com as palavras: se elas são constrangidas ou
explicitadas, proibidas ou reiteradas.

52
Nos termos da #interdição

O ARQUIVO

A própria delimitação dos trechos censurados como sendo nosso objeto de


pesquisa em função sua reposição com materiais disponíveis na internet obriga, por si
mesma, a um movimento de atravessamento do arquivo de peças teatrais mencionado,
esfacelando-o de sua unidade de modo que ele não seja mais o centro do problema. O
novo objeto constituído depende de um movimento de substituição e deslocamento,
substitui-se a função (possibilidade e campo de utilização) dos trechos das peças
teatrais e de publicações nas redes sociais como parte de seus textos unitários de partida,
e realiza-se uma rearticulação também funcional em seu descolamento em direção ao
relacionamento possível entre seus termos, que, esta sim, especificamente nos interessa.
Identificar o arquivo como uma vontade de unidade nos faz questionar a
legitimidade mesma da justaposição entre os termos mencionados e o resultado de uma
reunião entre si num sistema de coleção ou arquivo.

Ao invés de vermos alinharem-se, no grande livro mítico da história,


palavras que traduzem, em caracteres visíveis, pensamentos constituídos
antes e em outro lugar, temos na densidade das práticas discursivas sistemas
que instauram os enunciados como acontecimentos (tendo suas condições e
seu domínio de aparecimento) e coisas (compreendendo sua possibilidade e
seu campo de utilização). São todos esses sistemas de enunciados
(acontecimentos de um lado, coisas de outro) que proponho chamar de
arquivo” (FOUCAULT, 2008, p.146).

Voltamo-nos a M. Foucault para embasar a possibilidade de repensar as ligações


estabelecidas nas leituras feitas dos itens catalogados no AMS 7 e fazer surgir outras
possibilidades de relacionamento com o mesmo material. Assim, recuperação das
palavras a partir das peças de teatro censuradas nos permitirá observar de que forma elas
remetiam ao conteúdo específico da peça arquivada e como se relacionavam às outras
palavras censuradas dentro da unidade do próprio Arquivo Miroel Silveira.

7
As peças respeitam uma ordenação atribuída pelos órgãos estatais responsáveis pelo serviço de
censura nas diversas épocas, composta pela sigla da Divisão de Diversão Pública (DDP) e o número da
peça correspondente. A consulta aos processos pode ser realizada na base de dados disponibilizada no
site do Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Censura,
http://npcc.vitis.uspnet.usp.br/?q=ams/timeline/listagem.

53
Nos termos da #interdição

Tendo partido, então, da dinâmica sobre a palavra no domínio da linguagem e


sua especificidade na língua, passamos ao nível dos enunciados visualizando o arquivo
como um sistema discursivo. Marcar os termos do arquivo como enunciados destaca seu
caráter plural na forma (o que nos interessa ao pensar uma interface digital) e na
possibilidade de associação entre termos formalmente diversos, mas aproximados em
sua circulação social (seu valor atribuído e as práticas atreladas a ele). Reforçamos,
assim, o conceito de arquivo como estabelecido numa trama relacional e
caracteristicamente discursiva.

Trata-se antes, e ao contrário, do que faz com que tantas coisas ditas por
tantos homens, há tantos milênios, não tenham surgido apenas segundo as
leis do pensamento, ou apenas segundo o jogo das circunstâncias, que não
sejam simplesmente a sinalização, no nível das performances verbais, do que
se pôde desenrolar na ordem do espírito ou na ordem das coisas; mas que
tenham aparecido graças a todo um jogo de relações que caracterizam
particularmente o nível discursivo (...) (FOUCAULT, 2008, p. 146).

Destacamos, além do caráter específico de seus termos, a relevância de sua


ordenação: ela confere valor ao termo arquivado (valor por posição no sistema ou rede)
e é, ela mesma também, um enunciado significativo. Um arquivo assim, carece de
coesão, coerência, regularidade ao mesmo tempo que de um recorte e um desenho
específico que o identifique.

Mas o arquivo é, também, o que faz com que todas as coisas ditas não se
acumulem indefinidamente em uma massa amorfa, não se inscrevam,
tampouco, em uma linearidade sem ruptura e não desapareçam ao simples
acaso de acidentes externos, mas que se agrupem em figuras distintas, se
componham umas com as outras segundo relações múltiplas, se mantenham
ou se esfumem segundo regularidades específicas (FOUCAULT, 2008, p.
147).

Reforçamos, ainda, que a questão da interdição está presente em todas as etapas


teóricas descritas aqui e é tanto mais relevante quando, além de lidar com termos
interditos especificamente, a reconhecemos na raiz da inserção social e da possibilidade
mesma do registro. Neste sentido, ao tentarmos nos aproximar dos temas interditos em

54
Nos termos da #interdição

situação de arquivo, damos lugar a um tipo de material cujo registro nos importa como
constituição social atual.

Possibilidade do arquivo não linear

A internet já foi chamada de um grande arquivo de dados. Mais uma volta da


escrita teremos feito para acumular conhecimento não de forma memorizada, mas
gravada (Podemos fazer o percurso do engravamento das inscrições rupestres, à escrita,
aos disquetes, à nuvem). para Desenvolver sobre a ideia foucaultiana de que a unidade
de um arquivo é construída discursivamente. E que, dessa forma, a possibilidade
recombinatória existe e ela é influenciada especialmente pela passagem do tempo e
pelas mudanças de sentido acumuladas.

Ao invés de vermos alinharem-se, no grande livro mítico da história,


palavras que traduzem, em caracteres visíveis, pensamentos
constituídos antes e em outro lugar, temos na densidade das práticas
discursivas sistemas que instauram os enunciados como
acontecimentos (tendo suas condições e seu domínio de aparecimento)
e coisas (compreendendo sua possibilidade e seu campo de utilização).
São todos esses sistemas de enunciados (acontecimentos de um lado,
coisas de outro) que proponho chamar de arquivo (FOUCAULT,
2007, p. 146).

Da mesma forma como vimos, o efeito de um movimento de repetição e


diferença pode gerar a reorganização de arquivos. Sua disposição física é um massa
material que essas mudanças precisam manejar. Seus dejetos são ruínas de uma
organização, reincorporados numa outra lógica de sentido ou incorporados numa lógica
de descarte e lixo. A pergunta que nos colocamos é quais seriam esses resquícios
materiais, ruínas, quando se trata das mídias digitais. E se sua constituição material
diferenciada reverte em maior possibilidade de recombinação de seus elementos, como
facilitador para a construção de um arquivo não linear.
Discutir a ideia foucaultiana de unidade de arquivo. Debater a relação entre a
formação de arquivos e a noção discursiva de sua inteireza. Diferenciar arquivos em
relação a coleções. As coleções podem existir como aglomerados de objetos distintos,

55
Nos termos da #interdição

creditados como sendo de mesma natureza, enquanto os arquivos dependem de uma


catalogação comum. Discutir a unidade de dado quando se trata do digital,
especialmente quando estamos pensando na área de humanas e não no binarismo lógico.
Debater as possibilidades, dentro do que se tem em vista discursivamente e
narrativamente, para o desenvolvimento da não-linearidade. É apenas uma imaginação,
como se reverte essa ideia no nível do simbólico.

(…) el Archivo es un mito moderno. […] El Archivo guarda, recoge,


acumula y clasifica, como su contrapartida institucional. Monta tanto
como la ley, como la ley de la ficción. Las ficciones se encuentran
contenida en un recinto o receptáculo, en una prisión de relatos que es,
al mismo tiempo, el origen de la novela (ECHEVARRÍA, 2012, p.
45).

Se observamos as possibilidades de acúmulo de dados, alem de sua maior


possibilidade de recombinação, podemos formular perguntas em relação à
disponibilização dos mesmos: mesmo com a possibilidade técnica, ainda a proximidade
do imaginário do impresso; a dificuldade de apresentar um produto fechado a partir de
dados compilados. Os dados são organizados para uma finalidade determinada ou ficam
dispersos e não servem para nenhuma atuação prática. A individualização do caminho e
a possibilidade de deixá-lo aberto para qualquer trilha nos coloca em posição de discutir
a estrutura da rede. A tentativa é que o caminho de cada usuário seja a instância doadora
da unidade de sentido (e, assim, do percurso percorrido) pela coleção de dados. Essa
proposta esbarra sempre num usuário imaginado, para quem as possibilidades são
abertas. Podemos citar aqui as possibilidades combinatórias em games.
Nesse sentido, sua linearidade não corresponde a uma ordem também
naturalmente dada, mas assenta-se em preceitos lógicos, com base nas mesmas
articulações discursivas.

Trata-se antes, e ao contrário, do que faz com que tantas coisas ditas por
tantos homens, há tantos milênios, não tenham surgido apenas segundo as
leis do pensamento, ou apenas segundo o jogo das circunstâncias, que não
sejam simplesmente a sinalização, no nível das performances verbais, do que
se pôde desenrolar na ordem do espírito ou na ordem das coisas; mas que

56
Nos termos da #interdição

tenham aparecido graças a todo um jogo de relações que caracterizam


particularmente o nível discursivo (FOUCAULT, 2007, p. 146).

Na perspectiva discursiva em que estudamos existe a possibilidade de que seja


feito um recorte horizontal entre objetos ou dados. Deste modo eles acabam por
extrapolar os limites da sua unidade, que podemos inclusive entender como textual num
sentido amplo. Dessa forma, fica inspirada também a possibilidade e uma religação
entre os mesmo de mais de uma forma.
Tal possibilidade combinatória não pode ser entendida como infinita, para
sempre aberta, mas ao mesmo tempo nos revela a possibilidade de interconexão entre
elementos a partir de mais de uma de suas características identitárias.

Nesses termos, a gênese textual deriva de articulações e construções lógicas


que vão se fazendo après-coup, da perspectiva de uma temporalidade não-
linear, antievolucionista, expressa por uma mnemotécnica capaz de se
traduzir sob a forma de uma organização arquivística (SOUZA; MIRANDA,
2003, p.36).

A possibilidade da não linearidade está dada desde o momento em que pensamos


cada objeto arquivado em sua dimensão histórica e social. Dessa forma, ele tem uma
vivência em si mesmo e pode se conectar a outros. No entanto, entendemos que a
experiência de arquivar ainda pressupõe a marca de uma organização e uma curadoria
bem definidas sobre a vida de tais objetos. Ainda quando se pensa na possibilidade de
sua interligação intertextual, é a ligação par a par que se trata.
Visualiza-se a conexão pretendida entre dois elementos, que mesmo feita de
maneira inesperada, guarda a lição da organização linear. Acreditamos que a ideia de
reticulação irá abrigar, de outra forma, a possibilidade de ligação entre um elementos e
outros vários ou todos os outros de seu conjunto. “Daí não ser o arquivo descritível em
sua totalidade, mas por fragmentos, regiões e níveis, distintos com maior clareza em
virtude da distância temporal que dele nos separa” (SOUZA; MIRANDA, 2003, p.36).
Temos a necessidade de marcar, em nosso trabalho, a importância da
característica não linear para entendermos as especificidades e potencialidades dos
meios digitais. Uma das grandes promessas dos meios digitais é a proposta de levar a
possibilidade combinatória entre dados a um extremo que permita a perda da

57
Nos termos da #interdição

linearidade. A linearidade é uma característica fundamental da cognição humana e


podemos dizer que está associada a uma organização discursiva e narrativa de como
aproximar-se do mundo.

(...) essas noções caracterizam o texto como uma unidade de sentido que
apresenta redundâncias, reiterações e repetições. Infere-se, daí, a
possibildiade de condensar o texto, suprimindo as redundâncias, sem que se
descaracterize sua informação central (ROMÃO, 2008, p.57).

Se a vinculação entre uma sequencia de dados não precisa mais ser mantida
segundo uma lógica na qual se pode fiar, as possibilidades de construção de outras
sequencias se ampliam. Consideramos que uma lógica tem sua possibilidade de
organização na cultura. Ela é a base para o entendimento dos aspectos discursivos e
narrativos. Dessa forma, a aproximação com o maquínico e a abertura para o
entendimento de outras lógicas possíveis está influenciando também novas visões de
mundo (imaginário) e novas perspectivas na organização de dados (simbólico) e na
maneira de construção do relato (narrativa).
Em relação ao nível dos discursos a possibilidade da não linearidade rende no
sentido de uma pulverização do controle sobre o dito. Por um lado, queremos dizer que
o ato de dizer está em poder de mais e diferentes falantes e atores na cultura. Ao mesmo
tempo o controle sobre ele se faz igualmente a partir de cada uma dessas pontas. Como
temos reforçado, nesse momento, essa pulverização identificada por muitos autores
como parte da própria dinâmica de organização do poder, hoje ela encontra maior
exposição e possibilidade de ação por parte de atores, identificados como usuários.

A coerência e a coesão, ao se referirem à permanência de categorias


semânticas no texto, podem ser assimiladas à noção de isotopia, proposta por
Greimas. É importante observar que os conceitos de coesão, coerência e
isotopia se articulam à ideia de sentido global do texto, ou tópico do
discurso. Segundo Adam (1989, p.194-195), ‘(...) o tópico ou tema do texto
instaura-se como uma relação não linear de coesão-coerência (ROMÃO,
2008, p.57).

Como efeito em relação à unidade de arquivo, a não linearidade representa a


possibilidade de uma visada horizontal sobre os elementos em situação de arquivo. Mais
58
Nos termos da #interdição

uma vez, questionando-se a lógica de organização destes mesmos elementos e abrindo a


possibilidade de recombinação dos mesmos, o sequenciamento entre eles pode mudar.
Uma visada multifacetada sobre os objetos arquivados pode representar uma abertura
para que sejam estudados por formas de categorização antes não reconhecidas e, até
mesmo, no nível de que suas possibilidades pudessem ser visualizadas.

HC [Haroldo de Campos] construiu a sua concepção não-linear da história,


da tradução como corte sincrônico e criador de nexos históricos, com base
num modelo intertextual tanto da literatura como da história (LEENHARDT;
PESAVENTO, 1998, p.283).

Hoje, a nova imagem para se tratar dos arquivos é aquela de uma possibilidade
de recombinação infinita. Se pensamos nos termos da linguagem, temos que considerar
uma finitude para tais possibilidades, que está balizada na cultura. Assim, a noção de
não linearidade flerta com a ideia do infinito, do indistinto e do ilógico.

Assim como ocorrera antes entre osromânticos de Iena e entre as vanguardas


do início do nosso século, também HC, nesta operação de reflexão sobre a
lingua-gem e o código da literatura, aproximou apoesia das demais artes: ora
da música (valorização dos elementos fônicos “não-semânticos” da
literatura), ora da pintura (desmontagem da estrutura linear, lógico-
discursiva da linguagem, a favor da simultaneidade do eixo espacial)
(SILVA, 1994, p.167).

Em relação aos estudos de narrativa, a não linearidade abre a possibilidade de


manusear o que identificamos como unidades de um relato. Ainda, até mesmo esta
noção de que o relato pode ser divido em unidades determinadas de maneira clara fica
abalada. Se seguimos pelo caminho que a ideia do não linear nos abre, temos que as
partes de um relato são intercambiáveis. E, neste ponto, as mídias digitais contribuem
para operacionalizar essa possibilidade re-combinatória. Algumas delas já estão dadas e
são reconhecidas. Outras ainda são possibilidades na imaginação, quem sabe
estabelecidas como meta ideal para futuras programações sobre interfaces de produção
de narrativas.
Muitas das narrativas, ainda que feitas no suporte papel, já vinham abrindo a
possibilidade de reescrita na medida em que pensavam metalinguisticamente seus
59
Nos termos da #interdição

elementos. É parte do movimento percebido pelos estudos de narrativa esse


envolvimento com a mudança na forma do relato.

O contexto narrativo começa a reconhecer-se como outro, como vimos


Bakhtin e Volochinov apontar para um tipo não linear, e mais criador, do
enfraquecimento ds fronteiras entre as vozes. A construção de uma
enunciação coletiva no texto etnográfico envolve um deslocamento do lugar
do “eu”, um devir outro do narrador. Numa formulação de Deleuze e
Guattari (1977), envolve uma potência de terceira pessoa. Seria preciso obter
um deslocamento da primeira pessoa, fazê-la perder um pouco de sua
integridade, de seu caráter primeiro, no sentido dominante (CAIAFA, 2007,
p.170).

Entendemos, dessa forma, que o não linear pode nos servir como um operador
lógico para realizarmos nosso trabalho de pesquisa, supondo que seu limite esteja na
produção de sentido e na ordenação consentida socialmente.
Se seguimos em nosso encaminhamento de ideias, os efeitos da não linearidade
representam a promessa da possibilidade de um relato que só se organiza quando
acionado para um usuário e que se erige às suas vistas e morre depois que cessa o olhar.
Qual seria então sua contrapartida lógica? Esta pergunta é da mesma ordem de
escrutinar quais os limites para a produção de sentido: isso se dando também no nível
dos discursos e no nível dos relatos.

Em resumo, centrismo/acentrismo/policentrismo são elementos que, na


hipermídia, articulam-se em uma compelxidade crescente. Esta
complexidade não exclui uma ou outra característica, mas permite, através
de um sistema de trocas e diálogo com os centros locais, uma coerência no
sistema como um todo (LEÃO, 1999, p.77).

Todo relato se assenta na possibilidade comunicativa. Quer dizer, ele se assenta


nas possibilidades lógicas dadas na cultura e se constrói, assim, a partir de um senso
comum. Isso é válido a tal ponto ainda que consideremos um relato que não está
acionado em determinado momento, um vídeo feito para o qual não se dá “play”. Ele
está articulado num dos sentidos possíveis dos termos em que se apresenta. Dizemos

60
Nos termos da #interdição

também que esses sentidos são consentidos. Há um consenso sobre os significados que
se pode atribuir aos termos, de modo que eles recortam um campo reconhecido.

Termos como geometria, não linearidade, nódulos, contingência,


indeterminação e entropia não significam a mesma coisa em áreas diversas.
Nas ciências duras, princípios como nódulos, não linearidade e
indeterminação não são marcados com conotações de liberdade. No caso do
hipertexto, contudo, essas mesmos princípios supostamente permitiriam ao
leitor o exercício de uma liberdade maior do que seria possível no meio
impresso. Saltando de significado para significado com um toque no mouse
(...) (BELLEI, 2002, p.29).

Nosso interesse em explorar as possibilidades da ideia da não linearidade é para


então alcançarmos de que forma ela influencia o conceito de rede. Da organização de
um conjunto de dados pretendemos seguir para a montagem da ideia da rede.
Entendemos que a rede está um passo adiante da ideia da não linearidade, na medida em
que supõe mais do que tirar de uma sequencia reta. A rede já pressupõe uma ordenação
mais dispersa e que permite a combinação dos elementos entre si. Podemos recorrer às
teorias dos conjuntos para pensar primeiramente que um dado (elemento de um
conjunto de partida), pode relacionar-se com outro dado (elemento de outro conjunto,
que podemos nomear como sendo nosso conjunto de chegada).
Nesse desenho de relação combinatória entre elementos de dois conjuntos, há
também a possibilidade de que um elemento de um dos conjuntos se relacione com mais
de um elemento do conjunto de chegada. A configuração dos dados em rede permite
superar a limitação inicial dos conjuntos e produzir seu desenho conforme acionada a
requisição por um repertório de dados. Esse mecanismo das possibilidades de reunião
de dados possíveis são um dos grandes trabalhos de recorte na cultura que há para ser
feito. E ele tem sido feito de maneira dinâmica a partir da criação de banco de dados e
também de interfaces e aplicativos que colecionam determinados dados de acordo com
um propósito determinado.
O que acompanhamos é um trabalho de indeterminação dos conjuntos, ou seja,
sua forma é vunerável e dependente da ação de um usuário com uma questão. Há uma
individualização dos caminhos e a pulverização, esgarçamento da estrutura. Da mesma
forma, aquele que se coloca na posição de autor da unidade dada a um conjunto de

61
Nos termos da #interdição

dados, pretende que seu trabalho seja aberto e moldado conforme a pergunta de um
usuário. Assim, terá de supor usuários possíveis e caminhos viáveis. Autor e usuário
encontram-se, dessa forma, no que determinado conjunto de dados suscita. Estamos,
uma vez mais, no ambiente determinado da cultura.
Os caminhos são individualizados na medida em que o usuário pode formular
perguntas. Ao mesmo tempo, duas perguntas são limitadas pelas possibilidades
contempladas sobre o conjunto de dados. Neste ponto, dois trabalhos já foram
realizados, a coleção de dados e a determinação de um outro conjunto: aquele das
perguntas que tais dados podem levantar.
A ideia de uma estrutura determinada pode desaparecer num primeiro nível, em
que se alcança a liberdade para recombinar dados e libertá-los de uma conjunção mais
conhecida e usual. Mas, de outro modo, há um retorno da estrutura na proposição das
perguntas. Podemos apontar essa estruturação como sendo da ordem nos pressupostos.
E por isso questionamos, de maneira a verificar na experimentação da produção textual,
quais os limites para a possibilidade de alteração constante de tais perguntas.
Quando entendemos a coleção de dados processada na ordem do maquínico não
podemos deixar de considerar a pujança das quantidades e da velocidade de
processamento. Não pretendemos situar essa possibilidade numérica na ordem do
imaginário estabelecido sobre as mídias digitais, em que a quantidade das perguntas
seria da ordem do incontrolável. Há lógicas que colaboram para a imaginação do não
linear e para criarmos outras formas de organização de dados a partir da abertura para
possibilidades combinatórias em quantidade.
Podemos assumir que o conjunto das perguntas feitas aos dados ainda é uma
operação dada pelo humano. A mudança está na partilha da condição de autor de tais
perguntas com outros usuários. É interessante, ainda, trabalhar sobre a lógica da
formulação da pergunta. Isso nos emerge a partir da preocupação com o suporte e baseia
tanto a própria coleção de dados, como também a formulação da própria pergunta. A
lógica utilizada devolve para os usuários feitos autores sobre o nível formal no qual eles
devem atuar. A organização do todo da interface fica sendo, assim, em muitos casos,
responsabilidade dividida com tais atores. Lembramos dos programas de código aberto
como forma de espalhamento, reedição e até sobrevivência de programas e interfaces:
uma sobrevivência baseada na mutação.

Do nível da palavra ao arquivo

62
Nos termos da #interdição

Devemos recuperar a trajetória teórica proposta para nosso trabalho, que prevê
um salto de complexidade a partir da unidade da palavra, para sua organização em
arquivo e, então, atingindo uma organização em rede. Relacionamos inicialmente, ao
tratar do conceito de arquivo, a possibilidade de que ele fosse descompromissado com a
linearidade. Entendemos que este era o primeiro passo para vincular os materiais
arquivados com um termos indexador específico (que seria da ordem da palavra) para
então que, a partir da relação destes termos entre si, pudesse haver uma relação entre os
materiais arquivados.
Nessa perspectiva, o que estamos dizendo é que a palavra indexadora precede
logicamente a materialidade dos elementos arquivados. A relação entre eles é, como
temos suportado em nossa pesquisa, dada na linguagem. Portanto, ela é uma relação
sígnica, relacional e que devolve aos objetos em arquivo uma determinação sobre sua
natureza.
É importante realizarmos esta marcação pois o entendimento de que esse
processo de organização e de ordenação dos objetos em arquivos se dá através da
palavra autoriza a recomposição destes mesmos elementos em outra ordem
classificatória. Imprimir uma nova ordem significa mexer com a unidade deste mesmo
arquivo e trabalhar sobre as possibilidades de sua recomposição nos meios digitais, que
é o que buscamos aqui.
O presente item poderia ser denominado, então, da palavra ao arquivo e de volta
à palavra. É no nível dela que resolveremos a heterogeneidade dos materiais arquivados
e poderemos propor que uma de suas características físicas seja ressaltada em
detrimento de outras possíveis marcações. Como trabalhamos anteriormente, devemos
assumir o trabalho de ordem autoral quando se faz este investimento. Um exemplo que
encontramos na área de arquivística nos ajuda a ilustrar o percurso que propomos.

O lugar de cada unidade de arquivo, geralmente, um grupo ou uma série, só


pode ser decidido em relação às outras unidades produzidas por um
determinado órgão. O tipo de arranjo requer, como se tem observado, um
conhecimento da organização e funcionamento – conhecimento este
adquirido através de muito trabalho, quase sempre após longas pesquisas da
história administrativa do órgão (SCHELLENBERG, 1973, p.49).

63
Nos termos da #interdição

Ressaltamos que está indicado entre os princípios para a organização de arquivos


modernos um conhecimento sobre a organização institucional que precede o próprio
arquivo (conhecimento do funcionamento do órgão, adquirido com tempo de trabalho).
Isso nos indica a existência de um lugar institucional que doa a unidade de arquivo, é
sua destinadora. No caso de nosso arquivo de partida, consideramos o papel da Divisão
de Diversões Públicas do Estado de São Paulo, enquanto para o presente exercício
devemos levar em conta o lugar da própria pesquisa acadêmica.
Pensar no nível de organização do arquivo nos faz mirar num conjunto de
enunciados que de maneira imbricada formam nós. Eles respondem, como dizíamos, ao
institucional, mas também ao sentido cultural, social e histórico presente nessa coalizão
plural.

Entre a língua que define o sistema de construção das frases possíveis


e o corpus que recolhe passivamente as palavras pronunciadas, o
arquivo define um nível particular: o de uma prática que faz surgir
uma multiplicidade de enunciados como tantos acontecimentos
regulares, como tantas coisas oferecidas ao tratamento e à
manipulação (FOUCAULT, 1997, p. 147).

Não poderíamos realizar o presente trabalho sem passar pela organização de


nosso material como uma unidade de arquivo. Devemos considerar o Arquivo Miroel
Silveira, no entendimento sobre o arquivo que estamos imprimindo, como um arquivo
duplamente entendido como tal. Ele é um arquivo no sentido estrito do termo, pois seu
material responde a um conjunto material de objetos, que ocupam um espaço físico
determinado e se dão ao manuseio. Noutro sentido, a organização fortuita desses
mesmos materiais é em si um dado histórico e discursivo: a composição de cada um dos
processos a partir dos encaminhamentos burocráticos, a numeração de cada um deles
como forma de organização, a presença de fichas catalográficas para cada uma das
peças. Os dados recuperados ali começaram a contar a história de como se processava a
submissão de originais teatrais ao Estado.
Da mesma forma, o arquivo conta ainda das peças que não estavam lá, não
passaram pela DDP-SP. Temos conhecimento de peças que não tiveram sua oassagem
registrada pelas instâncias estatais, especialmente nos casos de produções isoladas,
pertencentes ao teatro amador (ao qual atribuímos, a partir dos trabalhos da

64
Nos termos da #interdição

pesquisadora Roseli Fígaro, forte presença dissidente). Assim é que vemos a


necessidade de abordar a vontade totalizante dos arquivos e pretendemos argumentar
sobre a retenção de seu intento totalizador nos termos do estabelecimento de uma linha
coerente para a unidade de sentido.
Podemos comentar ainda a existência de arquivos particulares em que o doador é
uma figura pública eminente. A coleção, dessa forma, é estabelecida segundo um alinha
de interesses pessoais. Muitos estudos colocam uma linha de separação entre a
constituição de arquivos e de coleções. Os primeiros mais sólidos e coesos na
constituição de sua unidade e o segundo apontando mais para a fortuidade da
justaposição dos objetos colecionados (determinados por uma tipologia comum). Não
entraremos mais a fundo no mérito desta questão para dedicar-nos ao que nos interessa
nela. Consideramos que a existência de tais coleções desloca do lugar institucional a
possibilidade de constituição dos arquivos e abre à iniciativa particular a autoria de tais
coleções.
Marcamos esse passo histórico como forma de chegarmos à possibilidade de que
as representações feitas me nível pessoal nas redes sociais que pesquisamos possam ser
consideradas como da ordem do interesse de coleção. Exemplificamos, para isso, com o
aplicativo Pinterest, em que se registram os interesses pessoais como diretrizes de coleta
de dados. A partir daí, é executada uma coleção particular reunindo registros da web
relacionados aos interesses marcados. Cabe ressaltar o “taggeamento” de tais interesses
através de palavras específicas, que estão na base das diretrizes desta coleção.
Procuraremos empreender a passagem das palavras marcadas nas peças teatrais,
segundo este modelo, e entendê-las como regiões discursivas de interesse na passagem
para os registros digitais.

Sempre incompleto, sempre faltoso, sempre perturbador – e essa


perturbação do arquivo, esse mal do arquivo, paixão do arquivo, é
também o mal das revistas, arquivos de poesia, paixão de poesia
desses novos arcontes e seus leitores (PEDROSA; ALVES, 2008,
p.235).

Conexão e unidade de sentido

65
Nos termos da #interdição

A unidade de um arquivo não está dada pela naturalidade do conjunto de seus


componentes, ela está assentada em articulações discursivas. Esta é a ideia que temos
defendido aqui para nosso exercício de pesquisa e na qual vamos assentar a
possibilidade de recombinação dos elementos que recuperamos de uma situação de
arquivo.
Desde o início de nossa pesquisa foi interessante pensar o próprio processo da
pesquisa como uma forma de interferência sobre a unidade de arquivo já estabelecida.
Descrevemos que o Arquivo Miroel Silveira tinha uma lógica própria de
sequenciamento de suas partes. Estudá-lo foi sempre, de alguma forma, desordenar o
que estava organizado para propor uma outra leitura interpretativa. Estamos propondo,
assim que uma organização de arquivo refere-se sempre a um processo de leitura.
Vamos mais longe em dizer que queremos propor que o trabalho de pesquisa seja
sempre uma leitura aberta sobre os materiais que aborda, a ponto de permitir a
possibilidade de reorganização de dados a partir das informações que o próprio objeto
faz saltar.
Tratamos do processo de produção da pesquisa entendendo que a identificação
das marcas presentes no objeto é também um processo de organização de uma unidade
reconfigurada para o mesmo arquivo, que imprime nele um sentido específico. Tal
sentido não é alheio ao arquivo, mas devemos ter sempre o cuidado de dizer de que ele é
uma das tomadas de dados possíveis.
Devemos recuperar a ideia de que a visualização de um sentido para o arquivo,
mais do que um processo naturalizado, é da ordem de contrição do discurso: um arquivo
que se apresenta em sua fisicalidade e em sua materialidade certamente está nascido
para uma ordem de visibilidade. “O arquivo é, de início, a lei do que pode ser dito, o
sistema que rege o aparecimento dos enunciados como acontecimentos singulares”
(FOUCAULT, 1997, p. 147).
Damos ênfase à ideia da visibilidade e da insurgência dos arquivos pois com o
tipo de arquivo que estamos procurando trabalhar devemos responder a um regime de
visibilidade próprio das mídias digitais. Nelas, a produção de sentido se dá conforme o
percurso de circulação de elementos visíveis. Os elementos circulantes não só são
visíveis, como podemos dizer iluminados. Detém uma qualidade especial de articular
nós numa rede de sentido.
Pretendemos que a transferência de suporte produza mudança na forma de
produção de sentido dos elementos tomados em arquivo. A partir da perspectiva que

66
Nos termos da #interdição

adotamos, a mudança de suporte deve corresponder a uma alteração nos sentidos


produzidos pelo relacionamento fino, pareado, entre forma e conteúdo. Mais
concretamente, atribuímos a produção de sentido no arquivo em papel à relação entre as
partes que compõem o processo de censura ao teatro. Como defendemos anteriormente,
ela já é, de alguma forma, fragmentária, embora ainda não responda às formas possíveis
de recombinação. Elencamos entre tais formas fragmentárias:

- a relação entre os documentos e o original da peça teatral


- a forma de publicação do original (forma de impressão e disponibilização em
papel)
- e especialmente: a relação entre o todo da peça teatral e o trecho censurado.

Quando executamos a transposição destes fragmentos para uma formação de


sentido baseada na inserção em redes digitais temos a possibilidade de imprimir uma
relação horizontal entre termos. Os fragmentos que anteriormente pertenciam aos
entornos dos processos ganham destaque em virtude do conjunto marcado no ato de
circundar. Podemos recorrer a uma ideia de formação de conjunto para poder começar a
destacar a relação estabelecida entre o grupo de documentos e o conjunto de todos os
termos censurados.
É pensando o arquivo como um entrave de encunaciados é que tomamos a
licença de relacionar o conjunto desses termos censurados. E instauramos a unidade de
sentido entre eles num espaço discursivo. Estamos um passo adiante para nomear que
essa produção leva em conta um percurso aberto ao autor. Poderemos afirmar isto mais
completamente nos termos das redes. Ainda, assim, apresentamos tal abertura ao
usuário no nível do arquivo, no nível da produção de sentido no processo autoral de
leitura.

One clear sign of such trasnference of authorial power appears in the


reader’s abilities to chose his or her way trough the metatext, to
annotate text written by others, and to create links between documents
written by others (LANDOW, 1997, p.90).

Podemos dizer que o processo de relacionar enunciados, estabelecendo ligações


entre eles nos coloca em direção ao processo de linkagem. Tratamos da criação de

67
Nos termos da #interdição

ligações entre os documentos escritos por terceiros e produzimos uma associação de


arquivo entre eles. Devemos retomar, neste nível tae nosso trabalho, o perene efeito do
não dito, do sigilo e do silenciamento. É parte da possibilidade de produzir sentido a
exclusão de sentidos indesejáveis. Contorna-se, silencia-se, abafa-se o que não é
apropriado dizer. Esse mecanismo é parte do processo mesmo de constituição do
arquivo.
Muitas vezes o que se passa é um duplo apagamento dos registros em arquivo.
Num primeiro momento, há a exclusão do que poderia ser dito a partir da consittuição
de uma unidade firme, coerente e coesa para o mesmo, contando com seus prejuízos. O
segundo apagamento consiste na exclusão de registros indesejáveis que estejam na
condição de interdito e tabu. Fica bem entendido que estes termos estavam na linha de
sentido construída pelo conjunto dos dados em arquivo, mas sua omissão se dá pela
tentativa de abafar sua visibilidade discursiva.

Il y a un immense voile - dû à la destruction elle-même et à la destruction,


par les nazis, des archives de la destruction -, mais qui se plisse, se soulève
un peu et nous bouleverse alors, chaque fois qu'un témoignage est écouté
pour ce qu'il dit à travers ses silences mêmes, chaque fois qu'un document
est regardé pour ce qu'il montre à travers ses lacunes memes (DIDI-
HUBERMAN, 2003, p.109).

Consideramos que esta seja justamente a natureza de nosso material. Os


processos de censura ao teatro mantém uma unidade coerente quanto a seu
arquivamento e sua periodicidade histórica. Ao mesmo tempo, algumas das peças foram
completamente vetadas e outras tiveram trechos censurados. Este apagamento é de
segunda ordem, pois representa a exclusão de materiais que estariam na ordem do
arquivo e na ordem do dia. Por isso mesmo, argumentamos que sua vocação não se
relaciona ao obscurantismo e ao esquecimento dos documentos relegados a porões
escuros discursivos. Ao contrário, revive o que se tentou abafar. Os conteúdos interditos
e tabus emergem de uma peça a outra, em trechos liberados. Eles reverberam ainda com
a opinião pública nas matérias de jornal, abaixo assinados e comentários públicos.
Neste sentido entendemos como uma linha coerente e reta a associação deste
material com o ambiente de extrema visibilidade que atribuímos às mídias digitais.
Devemos dizer que são de visibilidade e transparência, tanto quanto de ocultamento e

68
Nos termos da #interdição

tentativa de abafamento. Ambos os arquivos, aquele que pretendemos como de partida,


tanto quanto o de chegada devem à construção de um ambiente coletivo.
Não podemos deixar de falar sobre a produção de sentido em situação de arquivo
sem apelar para sua faceta social. É disto que se trata quando afirmamos que um arquivo
é uma construção discursiva, no sentido de que faz laço social, pertence à dinâmica da
cultura. Melhor seria dizer que ele testemunha a história. E, nesse sentido, os trechos
censurados falam conosco a partir de um sentido de condenação moral, de restrição ao
comportamento, mas também de uma liberação já instalada da qual se quer recuar. É à
memória constante dessa liberação que atribuímos os contornos tomados pela repressão
dos sentidos em arquivo.

Nesse sentido, os testemunhos dos sonhos recolhidos e articulados em um


livro se tornam um documento de memória coletiva. Da mesma maneira, as
imagens de arquivo organizadas em um filme e somadas à narração das
cartas produzem também algo próximo de uma memória coletiva. Tanto o
recolhimento de relatos dos sonhos quanto a montagem dos arquivos, ao
mesmo tempo que produzem uma memória coletiva, não possuem um
sentido único. Cabe ao leitor e ao espectador se deixar implicar e criar sua
interpretação, a partir de suas próprias experiências (FAGIOLI, 2014).

Pensar o sentido do arquivo relacionado de perto aos mecanismos da memória


nos coloca num ambiente volátil, afeito às marcas de exibição e de apagamento. Tais
marcas são afetivas, tem relação com os privilégios do poder e com o ponto em que uma
sociedade está em sua valorização cultural. Entendemos que esse é o ambiente também
da possibilidade que a produção de sentido caminhe junto com a hierarquização dos
discursos.
A principal diferença que podemos anotar entre este nível de complexidade, que
estamos atribuindo aos arquivos em relação àquele da rede é a mesma que podemos
pensar entre o âmbito dos discursos e aquele da narração. No primeiro caso pensamos
nos princípios de ordenação e exclusão, de empoderamento de fala e também de
apagamento. Enquanto que no segundo pensamos no estofo que pode assentar os
embates travados no nível do discurso em narrativas argumentadas, convincentes e
cooptadoras. É dessa forma que podemos dizer, ainda, que o resultado de nosso trabalho
é pela via do relato, como solução poética para a transposição proposta.

69
Nos termos da #interdição

Assim, seria preciso entender que a dimensão temporal de nossa experiência


no mundo se esvai quando perdemos os documentos, permanecendo talvez a
capacidade de retraçar uma experiência por novos modos de narração. Os
arquivos de imagens, os álbuns e as coleções de objetos de nossa cultura
material pareceriam cumprir esta função de testemunho, podendo servir de
suporte de uma narração (SANTOS, 2009, p.163).

70
Nos termos da #interdição

A REDE

Entendemos que o fato de haver as marcas do censor sobre as peças teatrais, em


diversas delas (levantamos 1.326 peças parcialmente liberadas), cria uma relação
horizontal entre os documentos e o estabelecimento de uma ligação por proximidade.
Um novo conjunto é erguido para além do sequenciamento linear dos textos e podemos
reconhecer novos sentidos sendo formados pela justaposição de termos censurados:
desde a referência material da marca vermelha sobre o papel à análise de sua
proximidade significativa.
Gostaríamos de reforçar aqui neste ponto, para além da formação de um
conjunto (arquivado) de termos censurados, a formação de uma rede de sentido entre
eles – mais do que agrupados pretendemos concretizar a vinculação entre termos.
Entendemos que a noção de rede pressupõe formalizar enunciativamente a ligação feita.
Em outras palavras, se o agrupamento arquivístico depende de uma concepção ideal da
conexão entre os elementos, no caso da rede pressupomos que a realização de uma
ligação possível entre os mesmos elementos é discursivamente doada.
Pretendemos lidar com o conceito de redes como pensado para o meio digital no
que ele pode se aproximar à ideia que estamos pleiteando da estruturação de uma rede
significante. Entendemos que, numa primeira instância, o trabalho de estudo da
formação de uma rede pode ser entendido, de certa maneira, como o mesmo processo da
leitura – numa perspectiva sobre a leitura que a toma de forma mais abrangente,
considerando a produção de sentido também associada a ligações a partir do texto
(como podemos pontuar, intertextualmente, polifonicamente) e que não assume o texto
limitado em si.

Tal é o trabalho da leitura: a partir de uma linearidade ou de uma platitude


inicial, esse ato de rasgar, de amarrotar, de torcer, de recosturar o texto para
abrir um meio vivo no qual possa se desdobrar o sentido. O espaço do
sentido não preexiste à leitura. É ao percorrê-lo, ao cartografá-lo, que o
fabricamos e o atualizamos (LÉVY, 1996, p. 36)8.

8
“Tel est le travail de la lecture : à partir d'une linéarité ou d'une platitude initiale, cet acte de déchirer, de froisser,
de tordre, de recoudre le texte pour ouvrir un milieu vivant ou puisse se déployer le sens. L'espace du sens ne
préexiste pas à la lecture. C'est en le parcourant, en le cartographiant que nous le fabriquons, que nous l'actualisons.”
(LÉVY, 1996)

71
Nos termos da #interdição

Ressaltamos que a dinâmica da palavra que apresentamos é, assim, essencial


para pensarmos as relações que se estabelecem entre termos interditados em geral, seja
o recorte feito no tempo presente (na sincronia) ou no tempo (pensado historicamente na
diacronia). Nos dois eixos aproximamos, respectivamente, a pontos ou nós da rede e sua
extensão.
Os termos interditados devem, desta forma, estar interligados de modo a contar
uma história de seu relacionamento e o laço social favorecido na ligação operada.
Funcionarão como articuladores de rede reforçando o ato de criar sentido através da
justaposição entre termos (ligação paralela). É a não dependência direta em relação à
materialidade dos textos que nos permite propor um outro tipo de ligação possível em
relação ao material, que poderá aparecer de diferentes maneiras, por sua forma
(similaridade significante) ou ainda por sua confluência conceitual (da ordem do
significado).

A metáfora do hipertexto dá conta da estrutura indefinidamente


recursiva do sentido, pois já que ele conecta palavras e frases cujos
significados remetem-se uns aos outros, dialogam e ecoam
mutuamente para além da linearidade do discurso, um texto já é
sempre um hipertexto, uma rede de associações. O vocábulo "texto",
etimologicamente, contém a antiga técnica feminina de tecer (LEVY,
2004, p. 74).

O exercício de desafiar a ordenação promovida pela unidade do arquivo nos


dirige a experimentar as possibilidades de produção de sentido no âmbito da rede.
Nossa expectativa de resultado não pode ser a criação de uma rede completamente
inovadora na unidade que propõe, mas sim jogar com: a linearidade de seus termos, as
possibilidade de ligação, sua finitude e extensão – todos aspectos marcados
discursivamente como nos termos do arquivo de origem.

O que distingue a hipermídia é a possibilidade de estabelecer


conexões entre diversas mídias e entre diferentes documentos ou nós
de uma rede. Com isso, os “elos” entre os documentos propiciam um
pensamento não-linear e multifacetado. O leitor em hipermídia é um
leitor ativo, que está a todo momento estabelecendo relações próprias
entre diversos caminhos. Como um labirinto a ser visitado, a

72
Nos termos da #interdição

hipermídia nos promete surpresas, percursos desconhecidos... (LEÃO,


1999, p. 16).

Como efeito, pensando na posição do sujeito-leitor inserido como nó da mesma


rede, mais do que uma perspectiva sobre a rede que pensa sociologicamente a inclusão
dos sujeitos (selfs), visamos a um recorte que os saiba ao mesmo tempo individualmente
e coletivamente na estruturação da rede no domínio da linguagem. Ainda assim
acreditamos, e justamente assumindo esta forma como privilegiada, ser possível acessar
a discussão da censura associada a temas, ideários, identificações e a história de
exclusões e dominações.
A organização de dados na forma de rede nos faz propor uma investigação sobre
este conceito. Podemos aproximar sua forma de conexão com aquela da cadeia sígnica,
em ambas o ponto de conexão não é feito por uma lógica linear (sequencia numérica),
mas pela aproximação através do sentido ou da forma. Ambas remetem, ainda, a um
conjunto de elementos com o qual cada termo se relaciona remotamente que encontra
sua unidade na cultura. A explicitação da ligação na rede vidência a atualização destes
mesmos conjuntos e uma forma de interconexão ou intertextualidade. Nesse sentido, as
não privilegiamos a ideia de que exista uma profundidade nas conexões, mas ao
contrário, que os termos se encontram dispostos na mesmo nível e regidos pela mesma
forma linguística. A diferenciação entre eles pode nos levar ao conceito de valor.
Há uma noção de que a internet guarda conteúdos inacessíveis. No sentido
oposto ao da hipótese de acessibilidade e divulgação públicas, há a criação das
chamadas barreiras ou fronteiras eletrônicas. Estas podem ser senhas, variações nos
códigos, reserva de acesso através da deep web. Podemos citar aqui, com Foucault,
sobre as barreiras ao livre discurso, que na web se materializam como restrição ao
acesso e à possibilidade de publicação. Dessa forma, a autoria de público pode ser bem
aceita em determinadas plataformas e ser mais restritas em outras. O importante é
marcar aqui que, seguindo o conceito de rede e pensando que o código é compartilhado,
todo o conteúdo encontra-se numa superficialidade. Podemos falar dos bloqueios de
acesso como restrições sobre tal ordem superficial.

Sentido da interligação

73
Nos termos da #interdição

O conceito de rede ganhou nova articulação a partir da década de 90, com a


popularização dos computadores pessoais. A ideia de que cada um destes terminais
representava um ponto de uma rede mundial alçou o imaginário das conexões sociais
em rede. A ideia da formação reticular passou a ser aproximada tanto do viés
tecnológico para seu estudo, quanto para pós—modernos processos de organização da
vida social e da produção cultural. Pensamos que a rede seja a metáfora melhor
aplicável à abertura que entendemos hoje nessas esferas para a valorização da
interconexão, da ligação como linkagem, da intertextualidade na apresentação de
referências.

Uma rede é um conjunto de nós interconectados. A formação de redes


é uma prática humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova
em nosos tempo tranformando-se em redes de informação energizadas
pela Internet (CASTELLS, 2003, p.7).

Quando nos questionamos sobre o sentido da interligação em rede, estamos nos


perguntando também se há possibilidade do esgarçamento máximo nessa produção de
sentido. A rede se mostra como uma metáfora aberta, indicando a possibilidade de
conexão entre diversos de seus elementos, por combinação e recombinação. Ao mesmo
tempo, devemos anotar que essas possibilidades não são dadas ao infinito e permitem
que o ambiente rizomático seja disperso, mas não atinja o limite da desconexão. O que
está em questão no sentido desse tipo de interligação em rede é a possibilidade de criar
um sentido comum a partir da ligação entre dois ou mais elementos presentes na rede. E
como esta forma de pensar a produção de sentido interfere no resultado da própria
produção textual e artística. Interessa-nos, então, recuperar a noção de rede na medida
em que ela também está presente hoje nos processos de produção e interpretação
textual.

Da mesma forma, a estabilidade, a linearidade e os limites do livro (codex)


tanto quanto a fidelidade à voz do autor dariam lugar ao (hiper)texto
disperso, aberto, polifônico a ser explorado por meio de um leitor ativo, num
processo de leitura-navegação multilinear, associativo e cujos centros são
móveis (SÁ, 2005, p.17).

74
Nos termos da #interdição

Destacamos dias formas principais em que essa aproximação da produção


textual com o conceito de rede se realizam: na forma da importação das referências (1) e
na estruturação narrativa (2). Na importação de referências podemos contar com as
propostas literárias que pretendem ligar seu texto a outros ou ligá-lo com dados da
realidade. Essa proposta pode ser encontrada especialmente quando se concebe o
conceito de obra aberta em Umberto Eco.

Nesse sentido, portanto, uma obra de arte, forma acabada e fechada em sua
perfeição de organismo perfeitamente calibrado, é também aberta, isto é,
passível de mil interpretações diferentes, sem que isso redunde em alteração
de sua irreproduzível singularidade. Cada fruição é, assim, uma interpretação
e uma execução, pois em cada fruição a obra revive dentro de uma
perspectiva original (ECO, 1991, p.40).

Neste caso, a abertura da obra está relacionada a variação das interpretações


possíveis sobre ela. Não são possibilidades infinitas, ao mesmo tempo em que se seus
elementos se prestam a uma recombinação interpretativa. Trouxemos este conceito que
agora já podemos considerar sedimentado como um caminho para estudar a maior
fluidez interpretativa, dialógica e intertextual na produção literária contemporânea.
Extrapolando os limites de tal abertura podemos relacioná-la à natureza da articulação
das interligações em rede.
Por um lado temos um conceito específico para a produção literária, de outro
uma coleção de dados com indicativo de totalidade. Para essa aproximação apontamos
uma diferenciação principal: o compromisso da primeira com a produção de sentido e
da segunda com a motivação de fazer coleção. Uma se dirige ao contato com alguém
que vai fruir a obra e a segunda pensa questões para a usabilidade por alguém com
perguntas de pesquisa, de busca.
Nesse entremeio estão as obras poéticas que pretendem a produção artística com
base nas estruturas em rede. Não podemos entender que qualquer produção para web
seja uma produção pensada como uma estrutura em rede. Sendo em si mesma uma
pretensão metafórica, a percepção da rede deve ser intencional do desenho da produção
determinada. Pensamos a própria noção de rede como um efeito de sentido. Ele envolve
a fragmentação, a criação de nós, a multiplicidade. A mesma dinâmica é citada por Ítalo
Calvino como um desejo por multiplicidade.

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Nos termos da #interdição

O que toma forma nos grandes romances do seculo xx e a ideia de uma


enciclopédia aberta, adjetivo que certamente contradiz o substantivo
enciclopédia, etmologicamente nascido da pretensão de exaurir o
conhecimento do mundo encerrando-o num circulo. Hoje em dia não e mais
pensável uma totalidade que não seja potencial, conjectural, multíplice
(CALVINO, 1988, p.131).

Ressaltamos a ideia de que, da mesma maneira como estamos pensando a


metáfora da rede, podemos entender a totalidade como um ideal. Somando a ideia da
abertura da obra artística e da dimensão quantitativa da recuperação enciclopédica de
dados estamos diante de renovadas diretrizes para a produção artística. Tais efeitos tem
relação com a presença do suporte digital e suas possibilidades. Lembramos sempre da
dualidade que acompanhar este trabalho, que é aquela entre a vontade de
multiplicaidade e a restrição pendente nos mecanismos de interdição.
É caro para nós que esses dois termos venham em dupla, já que argumentamos
sobre a contraparte do desejo de totalidade como a máxima restrição para a construção
de um percurso de leitura. Dessa forma entendemos que os feitos são tanto na ordem da
produção, quanto na ordem de sua leitura. Podemos referenciar, ainda, as
experimentações com partes do texto literário e com a ordenação da leitura.

A lógica da novidade iminente draga não só o passado, mas o próprio


presente, arremessando-nos em um estranho estado de expectativa de um
pós-futuro que nunca chega, mas que se promete a milhões e milhões de
potenciais usuários globais. Recusando esse tipo de abordagem, interroga-se
um contexto de leitura mediado por interfaces conectadas em Rede,
discutindo projetos criativos que têm como denominador comum o fato de
expandirem e redirecionarem o sentido objetivo do livro, permitindo pensar
experiências de leitura pautadas pela hibridização das mídias e cibridização
dos espaços (on line e off line) (BEIGUELMAN, 2003, p. 10/11).

Fica claro o reforço de uma potencialidade e uma expectativa que se instaura a


partir das potencialidades do digital. E, de uma frase a outra, passamos dessa construção
da ideia do global mais uma vez ao processo criativo para resolvê-lo em ambiente de
leituras, que podem ser sempre específicos. Gostaríamos de chamar a atenção para

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Nos termos da #interdição

experiências específicas de leitura, existentes antes da expansão dos meios digitais e que
interferiram na forma da produção artística. Acreditamos que as inovações no âmbito da
literatura, do teatro e do audiovisual permitiu a sedimentação do digital como efeito de
sentido.
Uma destas experiências nos é muito próxima por fazer parte do material do
Arquivo Miroel Silveira. Trata-se da experiência do teatro de revista, que chama a
atenção dos pesquisadores envolvidos com o referido arquivo por sua forma menos
tradicional de lidar com os principais aspectos da produção teatral:
- a relação de integridade do texto teatral, desabonada em favor da fragmentação
em sketches
- a presença de uma figura que podemos entender como de cunho narrador
(pensando com W. Bejnamin) para a articulação da obra teatral. Ao mesmo tempo tal
figura é também personagem dentro do espetáculo teatral. Pode ser entendido como
estando dentro e fora de tal obra: dentro dela em favor de sua condução e coesão, fora
dela na identificação pretendida desta figura com o público;
- Descompromisso com uma unidade do texto teatral que seja temática. Tal
coesão é deixada para o ambiente de assuntos e temas comuns entre autor e público. São
textos escritos no presente dessa relação, com assuntos do momento, presentificando
também a própria relação com o público. De alguma forma, ele também participa
autoralmente dessa construção.
Por constituição de gênero, sua estruturação é recortada em quadros que se
interligam através de temáticas, bordões, personagens e até mesmo palavras-chave.
Gostamos de tomar tal gênero teatral como um modelo para a desconstrução: no seu
recorte, na sua desistência de uma narrativa novelesca com trama linear e
melodramaticamente definida.
Temos a relação com a palavra que nos conduz de cena a cena. Há um texto que
percorre os quadros e estabelece um outro texto que vai sobre o texto de cada quadro em
particular. Ele se instala metalinguisticamente e vem associado a um ou dos
personagens específicos, o compérè e a comérè.

Além do conhecido subgênero teatro de revista, os espetáculos


musicados eram também constituídos outras formas: mágicas,
vaudevilles, cançonetas, burletas, café-concerto, cabaré, teatro de
variedades e operetas, óperas bufas, farsas, fantasia, sainetes, entre

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Nos termos da #interdição

outros. Todas são partes de uma rica e variada gama de gêneros do


teatro popular que surgem paralelamente ao desenvolvimento
acelerado das grandes capitais européias, como Londres e Paris
(PAMPOLHA, 2007).

No melhor estilo de uma ópera degradada, encontramos os pedaços que, para


nós, podem chegar à fragmentação presente na ideia de rede. São fractais da cultura
alocados caoticamente. Interessa-nos o fato de que a produção para o teatro de revista
tenha um cunho de certa forma descompromissado e que ela tivesse sido vista como
uma produção cultural menor. Ela vai compreender, sendo assim, diversos dos aspectos
que pretendemos para nossa rede de palavras censuradas, que seguimos descrevendo
abaixo.
A maior parte das peças parcialmente liberadas, ou seja, com corte sobre textos
eram processos de censura registrados na década de 50 e 60. Nestas décadas também é
que tal gênero teatral ganha destaque. Segue uma contagem por década das peças
teatrais parcialmente liberadas.

Total de peças com referências a palavras censuradas: 436

Total geral de peças parcialmente liberadas por década


Década de 20: 6
Década de 30: 4
Década de 40: 7
Década de 50: 152
Década de 60: 201
Mais de uma data: 40
Sem data: 20

Total das peças com figuras de linguagem: 171


Década de 20: 2
Década de 30: 2
Década de 40: 5
Década de 50: 75
Década de 60: 65
Mais de uma data: 15
Sem data: 4

Total das peças com corte seco: 124


Década de 20: 2
Década de 30: 1
Década de 40: 2

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Nos termos da #interdição

Década de 50: 56
Década de 60: 35
Mais de uma data: 16
Sem data: 10

Total das peças com corte abrangente (quadros ou atos inteiros): 8


Década de 20: 1
Década de 30: ---
Década de 40: ---
Década de 50: 2
Década de 60: 4
Mais de uma data: ---
Sem data: 1

A construção formal do teatro de revista favorece a fragmentação e a


recuperação entre as partes a partir de um entendimento conjunto com o público.
Defendemos que, tanto aqui, como na perspectiva da rede, o senso comum trabalha para
o entendimento e a visualização da totalidade da obra. Dessa forma é que apontamos
também que sua característica de obra artística degradada incentiva a experimentação.
Identificamos, do mesmo modo, que quando pensamos as mídias digitais, a
mudança de suporte favorece a experimentação. Isso pela desvinculação que acontece
com o repertório acumulado nos materiais e métodos utilizados tradicionalmente pelas
materialidades artísticas precedentes. Quando se produz texto, áudio e vídeo há um
compromisso com os cânones formais em que tais materialidades são representadas.
Entendemos que elas estão, de certa forma, também degradadas nos suportes digitais.
Podemos dizer que estão disponíveis para um movimento de profanação (pensando com
G. Agamben) quando levadas a esta mídia.
Esse debate se reverte num aspecto que pode parecer menos, tanto para o teatro
de revista, como para a dinâmica das redes sociais: a adoção de uma linguagem
informal e até humorística. Mas do que um evento singular, nestes dois casos que
citamos esta á uma forma de escrita. O teatro de revista herda da linguagem coloquial a
possibilidade mesma de suas produções. Elas ouvem o som e o palavreado das ruas e
estas ruas são as de uma cidade que cresce, se industrializa, se cosmopolitiza e se
hibridiza com a presença de imigrantes.

Para os estudiosos, tais gêneros pretendiam principalmente divertir o


espectador, em teatros onde o público é formado pela variada multidão das
metrópoles, gente que se traslada para as cidades, originando uma nova

79
Nos termos da #interdição

sociedade em transformação, ávida por novas formas de expressão e de


lazer. Por outro lado, em conseqüência do desenvolvimento dos teatros nas
grandes cidades, daqueles gêneros populares e das influências das óperas,
inclui-se no gênero musicado o drama e a comédia musical. Mas estes não
participam do chamado teatro ligeiro (PAMPOLHA, 2007, p.4).

O vocabulário que as obras enquadradas como teatro de revista apresentam são


palavras consideradas de uso coloquial, vulgar e normalmente não aplicável a obras
artísticas. Consideramos que haja, nesse movimento de assunção vocabular, a irrupção
de um mundo que precisava estar presente nos palcos. Estamos num momento em que a
o teatro responde como esfera pública. Da mesma forma em que hoje podemos
defender, de tantos modos, que as redes sociais assumiram uma parcela da atividade da
vida publica.
Estamos também no domínio da emergência de um conteúdo não dito, vindo do
popular para os palcos. Da mesma forma que temos a irrupção de publicações nas redes
sociais que se tornam populares e ganham seu palco público. O palavreado pode ser
considerado de maior interesse para a presente pesquisa por tocar no nível do interdito,
fazem vir a tona palavras de baixo calão, vulgaridades, referencias sexuais, figuras de
linguagem que eufemizam situações sociais em transformação. É justamente a presença
de uma moral em transformação que movimenta e faz a ligação entre os quadros do
teatro de revista.
Vamos defender que a lógica de interligação que pretendemos está no
representar um interesse pelo que não está dito, pelos domínios da opacidade. Diante de
um ambiente iluminado, como podemos considerar o palco teatral, são levados os
embates sociais e os limites de convenções sociais. Reforçamos a relevância do teatro
de revista para nosso percurso, nesse sentido, por considerarmos também a rede como
um ambiente de visibilidade e de evidência; Podemos defender contraditoriamente que a
motivação para a ligação e para a linkagem em rede se dá pelos pontos de
obscurecimento na cultura. Ou seja, constroem-se nós nas redes físicas das quais nos
apropriamos, as redes sociais, as redes tecnológicas. Inversamente, os pontos que ela
tenta representar são aqueles de obscurecimento na malha da cultura, indizíveis que
tentam ser representados.
Continuando a pensar o paralelo da escrita nas redes com a experiência de
abertura artística do teatro de revista podemos dizer quanto à marcação do palavreado:

80
Nos termos da #interdição

no teatro o gesto marca a palavra maldita, enquanto nas redes osciais essa atribuição é
feita na indexação por hashtag. No teatro havia o recurso de amenizar a ênfase de
algumas palavras para que, no ensaio geral, não fossem estripadas pelo censor. Se elas
não chamassem sua atenção, sua circulação não era interrompida. Nas redes, uma a o
desejo de conexão a partir das palavras usada estimula a marcação. Em contrapartida,
ela pode ter uma circulação que tenha efeitos desejáveis ou não, a partir do ponto de
vista autoral do usuário. Para a interligação em rede esta tentativa de manipulação sobre
os efeitos da produção não se aplica. A pretensão da marcação das palavras pode ligar-
se com o ambiente de desenho desconhecido da rede.
Assim dizemos que escrita das palavras é diferenciada na rede. As palavras
colocadas depois do símbolo # são somadas para mostrarem que estão em sua cadeia de
compartilhamento. Esse exercício de condensação já era conhecido anteriormente, em
outro uso. Há a instrução para que o nome de arquivos seja dado de forma simples,
sintética, direta, sem caracteres especiais e com palavras somadas. Ela parte de uma
interligação que é dado com o termo imediatamente seguinte, mas atinge o desenho
dispersivo da rede. Tal desenho é, de certa forma, insondável e só se ilumina no
momento da doação da interligação mesma.

Possibilidade da totalidade

Uma das pretensões com a internet seria ter um grande arquivo de tudo, com
todas as coisas interligadas (como numa grande IoT, Internet of Things) com uma
capacidade infinita de memória. Podemos dizer que ela é efetivamente um arquivo,
nesse sentido de uma unidade pretendida? Há essa necessidade de que ela se transforme
no arquivo dos arquivos? E qual a costura inscrita nesses dados? Qual seria a unidade de
dados quando se pensa nos arquivos digitais e, saltando da organização dos arquivos
para um ambiente de rede? Como eles se dividem? Como se dá o sequenciamento de
seus componentes? Todas essas questões nos são suscitadas pelas possibilidades ainda
mais abrangentes de um imaginário da totalidade associado ao completo recobrimento
do mundo e de suas interligações, como dizíamos, pela organização em rede.

É nesse contexto que a principal metáfora da época é a rede. Tudo


interconecta-se: as pessoas, os espaços, as tecnologias. Dos negócios à
interação social, tudo é explicado por aquela imagem (PRIMO, 2007, p.61).

81
Nos termos da #interdição

A metáfora da rede nos permite pensar especialmente duas esferas que são caras
ao pensamento tecnológico hoje. Tendo sido abertas as possibilidades de que cada
usuário se comunique com o todo interligado da rede há uma vontade em direção ao
fluxo fluído entre um ponto na rede e sua totalidade. Quando centramos este argumento
na perspectiva das coleções de dados e na memória maquínica dos mesmos há uma
pretensão à totalidade desta recuperação e deste acesso. Quando, por outro lado,
pensamos nas teorias filiadas às ciências sociais, podemos problematizar as relações
entre o local (ponto na rede) e o global (o acesso a sua totalidade).

O capital cultural visa dar visibilidade e dinâmica às dimensões culturais e


históricas de uma localidade. Busca-se, assim virtualizar museus, galerias,
bibliotecas, centros culturais, arte, escolas, meio ambiente, fornecer
informações e documentação de caráter histórico, cultural e artístico. Trata-
se aqui de resgatar a memória e torná-la algo vivo, disponível para as
coletividades de um determinado espaço público (LEMOS, 2004).

Devemos apontar também duas impossibilidades na metáfora de rede como a


estamos tomando. A primeira delas é a de que essa totalidade seja acessível
efetivamente. Somos deixados com a sensação do global. Temos acesso a textos escritos
sob o signo do global quando nos apresentam a grandiosidade do mundo, da coleção de
dados mesmo e dos diferentes formas de vida humana e de organização social.
Fazemos a resalva que, ainda sob a crença do acesso a essa totalidade, ele não
poderia se dar de uma vez. A partir de um ponto local da rede há sempre um caminho a
ser seguido. Passando de articulação a articulação chegamos a pressentir o desenho que
tal rede (que é também discursiva) articula. Nossa visão da rede só pode ser parcial
tendo em vista que nossa circulação nela é limitada pela passagem ponto a ponto em
seus nós. Seguindo esse argumento, qualquer possibilidade de acesso completo e dado
de uma só vez resulta num efeito de opacidade.
Dessa forma é que estamos pensando, por exemplo, mecanismos de busca e
também os mecanismos de indexação com que pretendemos trabalhar. São barreiras de
contenção de maneira a media o acesso ao global. Tal necessidade é da ordem do
interdito, de maneira a apresentar uma organização das informações e um caminho de
circulação pela rede. A cada passo do caminho, da palavra, à rede ao arquivo, estamos

82
Nos termos da #interdição

observando uma maior abertura para o trabalho do usuário. No entanto, ainda que
pensemos no ambiente da rede, a visão construída será pela construção do percurso de
cada usuário. A ideia da totalidade da rede, por sua vez, só será apreendida na projeção
deste caminhar particular.
Para nosso exercício essas anotações são importantes. Em primeiro lugar,
precisamos dar um salto de complexificação para sairmos da relação horizontal entre os
trechos censurados e construirmos uma ligação mais aproximada da imagem da rede.
Tal visão passa por algumas questões que devem ser formuladas no nível da pesquisa e
que vão balizar a formação de rede que pretendemos construir. Temos que, então, ceder
à ideia de que tal totalidade só pode existir a partir de formulações sempre restritivas
que podemos articular. O que perguntamos ao nosso corpus é sempre parte da resposta
que obtemos. E, em nosso caso especialmente, do desenho das interligações propostas.

Contrapondo-se a este viés, apresenta-se um segundo enfoque que percebe a


comunicação em rede como componente fundamental da ‘sociedade de
controle’ (Deleuze, 1992). No argumento de matriz foucaultiana, esta noção
traduz o ‘regime de poder’ das sociedades contemporâneas, caracterizando-
se por uma intensificação de certas tendências disciplinares ao mesmo tempo
que por importantes transformações em relação à sociedade industrial (SÁ,
2005, p.19).

Quando tratamos das relações da organização em rede com aquela da ideia da


totalidade não podemos deixar de lado a perspectiva de manipulação o controle das
pessoas e dos fluxos de informação. Na verdade, esta preocupação é parte essencial de
nossa visada sobre as mídias digitais. Entendemos que haja a possibilidade de
publicação de conteúdos e até uma maior liberação em relação a conteúdos antes
evidenciados em outros ambientes. Temas tabus e interditos acabavam por emergir em
ambientes públicos limitados: no âmbito da família, do teatro e dos meios de
comunicação em geral.
No entanto, hoje despontam numa mídia que além de massiva facilita essa
emergência em constância. Como temos defendido, o que se apresenta não é um
ambiente de transparência ou de clareza e acesso á totalidade. Vemos sim o constante
deslizamento destes termos e em sua exata proporção o retorno dos mecanismos de
regulação e controle. Estes não estão formalizados institucionalmente nas mídias

83
Nos termos da #interdição

digitais. Não estão ali representados exclusivamente ou outros atores institucionais, mas
especialmente por outros usuários.
Podemos dizer que uma instância institucionalizada que se presta à vigília e ao
retorno em nome da rede está representada pelos perfis pessoais. Existe uma maior
proximidade entre um e outro perfil, par a par representados como nós na rede. Tal
proximidade podemos dizer que é de ordem lógica, pois temos que pensar também
novas territorialidades em rede em que esses perfis se encontram e convivem. O que
ressaltamos é que, nessa esfera, eles estão em relação de igualdade de valor. O que
desponta deles é sua produção na forma de publicação.
E, ainda, o que pode ser valorizado a partir de cada um deles é a potencialização
de sua publicação individual para um nível coletivo. Isso só acontece a partir da
replicação do conteúdo publicado a partir de outros perfis. Ou seja, entendemos que a
dinâmica específica das redes sociais se movimenta a partir da institucionalização e
abertura para os perfis singulares de usuários.
Assumimos que o estabelecimento de tais relações é da ordem de uma
construção narrativa. Os conteúdos publicados e que tais perfis tentam imprimir à orde
de circulação contam de uma narrativa que é tanto particular e individualizada, quanto
tende ao publico. Podemos dizer que as publicações que analisamos compartilham uma
tendência ao público na maneira em que são formadas, em sua expectativa de
enunciação. Tal expectativa é, assim, determinante da forma de sua construção. Mas sua
visibilidade efetiva é um acontecimento poético no âmbito da rede.

Nesse sentido, a intervenção detonadora do autor é essencial. O dicionário,


ninguém o pode negar é um texto permutativo, um estoque potencial de
palavras de que se pode lançar mão para compor poemas, tratados de
paleontologia ou receitas de bolo. Mas o dicionário, por si só, não gera
textos criativos; ele é apenas uma lista de palavras dispostas me ordem
alfabética. Para que se possa, a partir dele, gerar textos de natureza poética, é
preciso que um (ou mais) agente(s) criador(es) defina(m) o algoritmo
combinatório que permitirá dar visibilidade estrutural a esse mero coágulo
de elementos causais e aí está justamente o trabalho mais difícil
(MACHADO, 2001, p.184).

84
Nos termos da #interdição

Assim, entendemos que a maior parte das publicações nas redes sociais está
fadada à inanição e ao isolamento em perfis pessoais ou a alcance limitado de expansão
na rede. O espectro que se desenha a partir do evento de uma publicação é o
espalhamento de um fluxo luminosos que, através de sua circulação atinge um certo
número de usuários e desenha um circuito próprio. Cada impulso realizado a partir de
uma publicação devolve um desenho de rede diferenciado.
Podemos dizer, nesse sentido, que não há uma rede total. Como temos
defendido, ela se apresenta a partir de cada impulso publicador e criador.
Acrescentamos essa nuance à metáfora da rede: ela só existe a partir dessa iluminação
inicial. Ela não procura dar conta da totalidade, mas cada uma de suas publicações se da
sob o signo da possibilidade de atingir tal totalidade.
Observamos que no estabelecimento do conjunto de publicações advindo das
redes sociais, cada uma delas não era quantitativamente representativa. Sua circulação
ou replicação era limitada e os perfis de que advinham eram anônimos. Na sequencia de
nosso trabalho, poderemos abordar essas publicações como dados relevantes para o
presente trabalho. Adiantamos o que nos interessa para debater a relação das redes com
a ideia da totaldiade: tais publicações são tanto anônimas quanto respondem ao domínio
público. Ainda que vindas de usuários particulares, dão conta de articulações coletivas.
A observação dos nós e das imbricações presentes nas peças teatrais, por sua
vez, pode ser considerada mais de caráter identificado e autoral. E no entanto sua
totalidade com a rede só se completa no entendimento e no reforço da piada proposta
com o público. Está, assim disponível segundo um movimento de rebatimento para a
noção de totalidade, que é com o que está dado na cultura.

Permanência das conexões

Uma das características da rede que pretendemos abordar é a dispersão e, ao


mesmo tempo, seu movimento de retorno e sua possibilidade de recomposição.
Trataremos da questão da identificação privilegiando termos que tenham sido motivos
de polêmica na rede e que tenha circulado. Vamos fazer um recorte para observar o
movimento de identificação em torno de tais termos/palavras/expressões, associando a
grupos sociais e sua repercussão nas redes sociais e na grande mídia. Neste ponto já
podemos utilizar as noções que acumulamos sobre a indexação de conteúdos na rede, a

85
Nos termos da #interdição

circulação de conteúdos tabu para estudar processos um pouco mais abrangentes de


viralização de conteúdos.
Segundo Derrick de Kerckhove, somos nós próprios agora “nós” numa rede
global. “Como podemos facilitar a transição de sermos cidadãos privados para nos
tornar um nó em uma rede global?”, numa transição que o autor entende que não há
escapatória e tem de ser feita. Não é o fato da transição que está em questão, mas como
ela pode ser feita para organizarmos da melhor forma novas identidades individuais, que
são articulações na rede.
O presente trabalho também se faz no sentido de averiguar a possibilidade da
manutenção de conexões que consideramos cada vez mais efêmeras. Não atribuímos
essa qualidade de efemeridade a rapidez que cada leitor dedica a um determinado texto
ou que um observador dedica a uma produção cultura. Neste caso estaríamos no âmbito
da leitura do texto. Mas estamos, de outro modo, investigando qual a qualidade de
datação dessa leitura. As leituras não são feitas rapidamente, eles se tornam datadas
rapidamente. As interligações nas cadeias podem, assim, ser tanto multíplices, quanto
em variedade.
Argumentamos, assim, que o tempo de aderência entre os termos que
pesquisamos é aquele também da possibilidade de deslocamento de sentido. Não
entendemos que a rede se desfaça a cada mudança de interligação entre termos
interditos, ou no estabelecimento de novas conexões. A rede, neste caso, reestrutura
seus nós, adquirindo uma configuração diferenciada. Acompanhar termos interditos
marcados nas redes sociais é, então, um exercício de acompanhar a fluidez de uma
escrita em rede.
Essa escrita não é autoral, mas sim autorizada coletivamente. Seguir seus passo
implica acompanhar as marcações feitas sobre os termos de interesse e acompanhar seu
rastro de circulação. Tal rastro nos apresentará parte do desenho da rede. Como num
exercício de ligar os pontos uma figura específica vai se formando. Neste exercício,
estamos ainda desafiados por uma superação de um fluxo histórico também considerado
horizontal, respeitando uma sequencia determinada de eventos. O que temos nas mãos é
um recorte que responde sim historicamente, mas respeitando o tempo dos
deslocamentos lógicos e não de uma datação precisa.
Uma das concepções de rede, entendida como um desenho acentrado para a
representação da conexão entre seus elementos, nos permite fugir desta anotação

86
Nos termos da #interdição

centralizada em datas e períodos históricos. Permite-nos relacionar dois termos que se


ligam por um discurso comum que vaza temporalidades e atravessa décadas.

A polissemia da noção de rede explica seu sucesso, porém lança a dúvida


sobre a coerência do conceito. Essa dúvida é reforçada pela multitude de
metáforas que cercam a noção e suas utilizações. O excesso de seus usos
metafóricos parece condenar a própria noção, como se o excesso de
empregos ‘em extensão’ ocasionasse o vazio ‘em compreensão’, ou até
mesmo sua diluição (MUSSO, 2004, p.17).

Defendemos, assim, que a noção de rede nos permite uma abertura especial para
a concretização das relações mesmas que pretendemos. A conexão entre termos
interditos não poderia se dar segundo um quadro prévio baseado nas categorias segundo
as quais estava organizado nosso arquivo de partida: catalogação numérica, titulação ou
conteúdo das peças teatrais, temática das peças teatrais, década ou ano de escrita do
texto teatral, autoria do texto teatral.
O fato do recorte horizontal inicialmente promovido pelo censor nos atira para
uma relação que nos aprece de profundidade entre as peças que sofreram tal corte.
Dessa forma, um corte passa a significar um recorte que nos indica um outro texto a
partir do qual ler a marcação feita sobre a peça. Inicialmente dissemos que este
movimento de recuperar o sentido do corte nos atira para uma leitura em profundidade.
No entanto, estamos aqui recorrendo à noção da rede para manter duas dinâmicas que
nos são caras: a de superficialidade da conexão sígnica e a possibilidade de reconexão
entre os termos.
Na perspeciva de B. Latour,

Ora, de duas coisas uma: ou as redes que desdobramos realmente não


existem, e os críticos fazem bem em marginalizar os estudos sobre as
ciências ou separá-los em três conjuntos distintos – fatos, poder, discurso -,
ou então as redes são tal como as descrevemos, e atravessam a fronteira
entre so grandes feudos da crítica – não são nem objetivas, nem sociais, nem
efeitos de discurso, sendo ao mesmo tempo reais, e coletivas, e discursivas
(LATOUR, 1991, p.12).

87
Nos termos da #interdição

Essa abertura e indistinção do próprio conceito de rede ora serve à inconsistência


conceitual e, assim, à formação e reforço de um imaginário sobre a própria rede, tanto
quanto, noutro momento, à criação profícua de produções baseadas em tal imaginário.
Dessa forma, poeticamente se estabelecem trabalho em cima de conexões instáveis e de
duração temporária. Mais uma vez, podemos recuperar o argumento de que essa
instabilidade não está dada pela temporalidade da leitura marcada no olhar do receptor.
Não é esse olhar que determina o tempo da conexão. Ao contrário, um olhar sobre a
rede é justamente o que aciona um movimento de desestabilização por sua passagem.
Trata-se da busca feita por um usuário numa base de dados, da tentativa de dar resposta
a um encadeamento caótico de fatos que apenas se apresenta como conexão quando
justapostos no movimento da própria pergunta.
M. Castells nos ajuda a pensar essa instabilidade das conexões na ideia de um
enfraquecimento e desestruturação, por um lado. Ao mesmo tempo, podemos contrapor,
na fala do autor, a uma relação o ser com a cultura a partir das conexões e desconexões
em rede que demandam escolha diante de bifurcações.

No entanto, a identidade está se tornando a principal e, às vezes, única fonte


de significado em um período histórico caracterizado pela ampla
desestruturação das organizações, deslegitimação das instituições,
enfraquecimento de importantes movimentos sociais e expressões culturais
efêmeras. Cada vez mais, as pessoas organizam seu significado não em torno
do que fazem, mas com base no que elas são ou acreditam que são. Enquanto
isso, as redes globais de intercâmbio instrumentais conectam e desconectam
indivíduos, grupos, regiões e até países, de acordo com sua pertinência na
realização dos objetivos processados na rede, em um fluxo contínuo de
decisões estratégicas (CASTELLS, p.41).

Dessa forma, tanto no nível individual quanto no nível coletivo existe essa noção
de instabilidade em favor das aberturas da rede. Podemos tratar, de outro modo, de uma
indistinção que está sendo pleiteada no limite entre essas duas esferas. O que nos
interessa nesse ponto é o fato de que as publicações que analisamos dizem respeito a
articulações da vida privada. Isso tanto nas manifestações extirpadas das peças teatrais,
quanto nas publicações recuperadas nas redes sociais.

88
Nos termos da #interdição

Ao menos podemos dizer, ainda que não pertençam ao ambiente privado (pois
não estão mais nele), tentam representá-lo. Os temas são próprios de tal ambiente:
tratam de sexo, de preconceito, da vida íntima, de escatologias. Tratam pouco dos temas
que seriam próprios da discussão na vida pública: a política, as decisões coletivas.
Devemos considerar que também esets temas atravessam as duas esferas e tronam tais
representações abertas e maleáveis. A partir do mesmo tema cruzam casos particulares,
humanizados e que dizem respeito ao coletivo. E como representações são instáveis.
Cabe, ainda, reforçar que tal estabilidade está também ligada com a tomada dos
corpos nos ambientes interligados em rede. As representações, privadas ou públicas,
dizem respeito à entrada dos corpos nessa esfera. A fixação dos nós da rede em perfis de
usuários diz respeito também a tomada representadas de seus corpos. Dessa forma, tais
corpos são duplamente tomados: representados como nós na rede e como tema das
publicações que dizem respeito a tais nós. A temática das publicações que analisamos
tratam da relação do corpo sexualizado, do corpo imoralizado, do corpo escatologizado.

A grande ruptura que faz advir o conceito de rede à virada do século XVIII
para o século XIX é a sua ‘saída’ do corpo. A rede não é mais apenas
observada sobre ou dentro do corpo humano, ela pode ser construída.
Distinguida do corpo natural, ela se torna um artefato, uma técnica
autônoma. A rede está fora do corpo. O corpo será até mesmo tomado pela
rede técnica enquanto se desloca nas suas malhas, no seu território
(MURSO, 2004, p.20).

Podemos propor que, assim como pretendemos a relação do humano com a


linguagem, os corpos habitam a rede e estão, ao mesmo tempo, aleijados dela. Estão
alheios na distância dos territórios virtuais que suas publicações criam. Suas produções
estão lá longe e circulam para além do controle das mãos. Se falam do corpo específico
de quem publica, após o momento de publicação pertencem à rede. Seus termos seão
apropriados por outros usuários em outros corpos virtuais. Suas palavras definem, então
corpos coletivos. Tal é a natureza da instabilidade das relações feitas em rede. Ela é uma
instabilidade gerada na tentativa cada vez maior de especificidade e de localidade a
partir de uma topologia de rede cada vê mais afeita à universalização, à dispersão e a
ressignificação de seus termos.

89
Nos termos da #interdição

SISTEMAS, O DEBATE SOBRE OS SUPORTES

A maleabilidade das mídias digitais faz com os processos de criação que o


utilizam como suporte pareçam renovados, reforçados. Há um privilégio da forma
quando falamos de suporte. Na perspectiva discursiva forma e conteúdo nascem juntas,
são partes do mesmo nascimento criativo.

Muita gente estaria inclinada a dizer que não era a máquina, mas o que se fez
com ela, que constitui de fato o seu significado ou mensagem. Em termos da
mudança que a máquina introduziu em nossas relações com outros e conosco
mesmos, pouco importava que ela produzisse flocos de milho ou Cadillacs.
A reestruturação da associação e do trabalho humanos foi moldada pela
técnica de fragmentação, que constitui a essência da tecnologia da máquina.
O oposto é que constitui a essência da tecnologia da automação. Ela é
integral e descentralizadora, em profundidade, assim como a máquina era
fragmentária, centralizadora e superficial na estruturação das relações
humanas (MCLUHAN, s/d).

A forma importa, pois nela reside do significado e da materialidade significante


do signo. Da ordem do suporte nas mídias digitais temos a tela e o áudio. É um meio
rico na conjunção de materialidades. Entre as características específicas ligadas à
materialidade dos meios digitais, podemos apontar:

- A experiência da tela, incluindo a necessidade de rolagem. Temos, então, uma dela


que se dá ao deslocamento vertical;
- A estruturação em níveis através dos cliques. A composição em camadas subdivide o
dito em fragmentos diferenciados e ao mesmo tempo cria a relação entre as partes
ligadas através do link;
- Definição de uma unidade para a reunião de um conjunto de informações que está
baseada num endereço eletrônico, ou seja, um lugar-domínio específico. Nesse sentido,
apontamos o fato de o circuito de navegação encaminhar o usuário para dentro ou fora
de um mesmo espaço reservado de um site. Sair ou não sair de um site, indo para a
outra parte e a sintomática existência de janelas pop up;

90
Nos termos da #interdição

- Estabelece-se também a relação entre um link disponibilizado e o arquivo que ele


apresenta. Tal link não nos leva, então, a uma outra página ou a outro nível de
conteúdos, mas apresenta uma produção que pode ser em áudio ou vide. Tais
materialidades são tanto mais privilegiadas hoje nas mídias digitais, quanto facilitada
está sua manipulação e difusão. Assim cria-se a narrativa de uma expectativa no ato de
clicar para ver e ouvir.

Todos os itens aqui elencados nos ajudam a entender como se constrói uma
dinâmica de expectativa, surpresa e frustração apoiadas nas narrativas em suporte
digital. Entendemos que sempre se estabelece uma relação na leitura, entre o eu está e o
que não está. Pensa-se quantos passos devem ser dados para chegar à informação
desejada. Podemos, assim, pensar o virtual como o processo de realização na
linguagem. Reforçamos a potencialidade humana de criação de narrativas a partir da
combinação de dados e de sua apropriação poética a partir da regulação da expectativa e
da criação de uma comunicação com o usuário a partir deste ponto.
No entanto, existe uma predisposição imaginária aderida aos meios digitais de
que ele possa suprir uma vontade de totalidade. A expectativa máxima associada a estes
meios é de que, ainda que fragmentária a realidade que me é apresentada link após link,
num ponto da história ele me rende a totalidade. Existe uma ansiedade instaurada em
relação à possibilidade da coleção de dados e das buscas destes mesmos dados feita por
sites compiladores que atende a ordem da potencialidade maquínica. O fato de que é
possível tal coleção cria imaginariamente o efeito de sua existência no presente. Então,
entendemos, neste sentido, que as mídias digitais respondem a um signo de totalidade
que não está guardado em relação a um futuro compilador, mas tem efeitos no presente,
como expectativa em relação às narrativas digitais.
Dessa forma é que podemos usar o termo virtual para expressar a comunicação
mediada pela máquina.

E, se com o advento da modernidade o savoir-de-tout precedente dera lugar


ao tout-savoir da cultura impressa e da ciência, a cibercultura leva isso às
últimas consequências. Tout-savoir significa, aqui, que tudo se converte em
digital, que se instaura uma vasta rede na qual outros meios (como jornais,
revistas, rádio e televisão) são absorvidos, múltiplas finalidades (informação,
compras, relacionamento afetivo, educação etc.) são visadas, não há

91
Nos termos da #interdição

separação entre cultura erudita e cultura de massa etc. Significa, enfim, a


prolificação do saber, que numa grande medida consiste no saber ligado à
cibercultura: conforme Lacan (1973-1974), sobre cada um passa uma “chuva
de informações”. E é o saber sobre os sujeitos, acumulado e organizado em
máquinas cibernéticas, que governa efetivamente suas vidas” (CASTRO,
2013, p.119).

Num outro ponto, também, o digital responde à possibilidade de que o usuário


detenha os meios de produção. E, dessa forma, podemos entender sua realidade
fragmentária não somente na forma resultante de suas produções, mas na partilha da de
como e por quem são feitas tais produções.
O suporte digital permite a republicação ou a correção mais fácil do que está
publicado. Mais pessoas detêm os mesmos meios de produção, antes limitados a
profissionais especializados. Os suportes são móveis e portáteis. São suportes que
podem variar no tamanho e na relação com o corpo. Ele é dependente da tela e de
recursos sonoros, ele é dependente da luz. Na ordem da tela, selecionamos alguns
exemplos que nos apontam a relação com o suporte:

- A rolagem
- O clique
- A possibilidade de edição contínua, no movimento de refazer, reeditar
- A reedição no movimento de compartilhamento
- A importância dos quadrantes da tela, também a do computador
- A relação de objeto com o aparelho, o apego pessoal aos gadgets
- Podemos falar também de quais dos suportes digitais, cd, formatos de arquivo

Podemos citar exemplos vindos de diferentes áreas de especialidades que


apontam para a natureza do suporte digital e também para sua instabilidade e mudança
ao longo do tempo.

Ao longo da história da produção de áudio digital, estilo, forma e


função da gravação em disco rígido mudaram para enfrentar os
desafios dos processadores mais rápidos, discos maiores, sistemas de
hardware aprimorados e a pressão contínua das forças de marketing

92
Nos termos da #interdição

(...) como as novas tecnologias e técnicas de programação continuam


a revelar novos sistemas de hardware e software num ritmo
alucinante, muitas das antigas limitações de produção desapareceram
(...) (HUBER; RUNSTEIN, 2010, p.235).

Tratamos genericamente como digital os suportes que permitem fragmentação


de conteúdos e manuseio dos mesmos por parte de usuários-autores. Mas, ainda assim,
na dinâmica de intervenção sobre o próprio suporte, ele mesmo se altera até chegar o
ponto de enquadrar-se numa nova nomenclatura e gerar novas relações de apropriação.
Ainda assim, mantemos sua conformação dentro das características essenciais que
apontamos para o digital.

Após a publicação de Batman – Digital Justice, Pepe Moreno entra


definitivamente para o mundo do entretenimento interativo, abandonando de
vez os quadrinhos impresos. Em 1993, o artista funda a companha Digital
Fusion Inc. (...) No mesmo ano Moreno completa HellCab, uma aventura
interativa em CD-Rom, sua primeira experiência com entretenimento em
suporte digital. O CD-Rom, publicado pela Time Warner Interactive Group,
teve sua primeira tiragem esgotada na semana de seu lançamento (...). A
partir desse ano Pepe Moreno e sua companhia passam a desenvolver vários
outros jogos para computador como Rivers of Dawn, com narrativa inspirada
dos jogos de RPG, uma história originalmente escrita para ele e universo
todo criado em ambientes 3D. (FRANCO, 2004).

Independente do tipo de materialidade que se está privilegiando numa


determinada produção, podemos dizer que há uma convergência das mesmas para a
produção de sentido. Isso tem se tornado especialmente viável quando se trata da
cominação de elementos textuais com materiais sonoros e visuais. Interessante notar
como voltamos ao debate sobre a feitura dessa relação e justaposição de elementos com
base na tela.
Reforça-se, assim, o argumento de que há uma prevalência da tela, na questão do
trabalho sobre sua luminosidade, maleabilidade e portabilidade, ainda que se pense a
conjunção de materialidades feitas ali. É o suporte da tela que está permitindo os
princípios de fragmentação e recombinação. Poderíamos dizer, também, de manuseio.
Mas entendemos que este manuseio deve ser refigurativizado como circulação de
93
Nos termos da #interdição

elementos num ambiente luminosos. O sentido que nos guia nessa composição narrativa
será, então, da dimensão do olhar. Esta perspectiva nos assola a ponto de formularmos a
pergunta sobre a permanência da literatura como conhecemos.

Em meio a essa preocupação permanece a pergunta que é também


efeito motivador desse diálogo: sobreviverá a literatura, em seu
suporte convencional livro, frente às novas tecnologias? (AZEVEDO
et alii, 2011).

Talvez nosso questionamento deva ser como a escrita sobrevive e se modifica


nesse ambiente luminoso. E como a comunicação pode resolver-se a partir do
estabelecimento de conexões com o imaginário das redes.

(...) a década de 1990 trouxe a explosão da aplicação combinada entre as


tecnologias de informática, telecomunicações e transmissão por redes
digitais de comunicação. Como consequência para o mundo da
comunicação, a explosão de ondas de previsões e tendências ameaçadoras à
sobrevivência do processo comunicacional. A primeira onda de previsões de
“gurus digitais” declarava com firmeza a morte de suportes individuais e
dava vida à convergência de todos os meios de comunicações num só
equipamento ou suporte; na onda mais recente, predominam as tendências da
comunicação realizada pela banda larga (criando infinitas possibilidades
para conteúdos nunca até aqui experimentados) e da transmissão de dados
digitais sem fio utilizando o protocolo de transmissão internet, além dos
protocolos WAP, SMS e GSM (SAAD, 2003, p. 56).

Em nosso trabalho procuramos tratar desta mudança de suporte, entendendo que


estamos performatizando a transposição dos textos das peças teatrais para um ambiente
digital. Reconhecemos, ainda, que há, na história dos processos do Arquivo Miroel
Silveira uma mudança tencnológica em relação à apresentação das peças. Vemos ali
reunidas peças mimeografadas, xerocopiadas, manuscritas, datilografadas. “As peças
que acompanham os processos, material de especial interesse para nós, foram entregues
em formatos diversos: cópias datilografadas, mimeografadas, reproduzidas com papel
carbono, entre outras” (LEITÃO; LIMBERTO, 2009, p.2).

94
Nos termos da #interdição

Sob a necessidade de apresentar um original do texto teatral, os produtores


tinham ainda que se verem com a forma de reprodução dos originais. Consideramos que
o salto que pretendemos realizar modifica a o objeto a ser reproduzido. Se nas formas de
cópia que mencionamos temos ainda reconhecida a integridade do texto teatral, em
nosso caso sua fragmentação intencional deve combinar com as possibilidades do meio
digital.
Dessa forma, para além de disponibilizar uma cópia dos textos teatrais, temos a
possibilidade da composição de uma nova produção. Temos que dizer que o
Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura, tem disponibilizado
cópias dos originais dos textos teatrais e de seus documentos para os casos em que já
não incidem mais a questão de direitos autorais. Tais recursos estão disponíveis numa
base de dados com a qual colaboramos na composição
(http://www.obcom.nap.usp.br/arquivo-miroel.php). Citamos este fato para dizer que,
ainda que com a utilização do suporte digital, neste caso há um respeito à integridade
dos materiais relacionados a cada peça teatral.
Ainda que consideremos esta transposição direta do que está à olhos vistos, em
papel, arquivado em estantes apropriadas e em condições climáticas ideais, há uma
necessidade de marcar este material dentro das características do digital. Se nossa
argumentação procede, essa mudança de suporte deve produzir alterações e desvios na
apresentação do material, ainda que a proposta de tal narrativa seja a de se aproximar
dos fatos reais: ou seja, a de reproduzir com fidelidade o documento que se pode tomar
nas mãos.
Elencamos os critérios iniciais que basearam o trabalho de catalogação de dados
para a formação de uma primeira base representativa do Arquivo Miroel Silveira.

Os pesquisadores necessitavam coletar e organizar as seguintes informações:


O autor, seu pseudônimo, sua obra. Um resumo da obra com linhas gerais
de seu enredo. A língua original; Apesar de todas as peças serem sido
apresentadas no Brasil, havia colônias diversas atuando e se manifestando
culturalmente em seus próprios idiomas; Numa amostragem de 200 peças,
foram encontradas obras em lituano, árabe, espanhol, italiano. Descrição do
processo: Seus requerimentos, recibos, datas e certificados.
As datas dos trâmites burocráticos.

95
Nos termos da #interdição

Informações diversas sobre a apresentação da peça: O dia, hora, local, seus


intérpretes, seus beneficiários.
Os co-autores: tradutores, músicos diretores. Importantes informações sobre
a censura: seus cortes e liberações.
A faixa etária que os censores destinaram as peças.
As palavras e trechos censurados.
As indicações de cenários e época em que se passa a ação.
Os gêneros.
Os produtores, empresários e empresas e companhias teatrais.
Os censores, chefes de divisão e outros funcionários” (RECINE; LEITÂO;
YAMAMOTO, 2003. Grifo nosso).

Destacamos que as palavras e trechos censurados foram considerados uma


categoria relevante a ser recuperada. O saber que houve a marca do censor gerou a
necessidade de que esta marcação fosse transformada em dado. Esta nesse ponto de
virada toda a base de nosso trabalho. A partir do momento em que este dado é
remontado numa base de dados, descontextualizado do texto da peça original, ele já
passa a se comunicar dinamicamente com os demais termos elencados nesta mesma
categoria.
Houve, assim, dois caminhos para a recuperação das peças teatrais: o primeiro
deles pela coleção de dados e montagem de uma base específica e, outro, pela
disponibilização dos originais das peças e documentos através de arquivos em formato
PDF. Citamos e reforçamos estes dois movimentos como um processo de virtualização
do material alocado no Arquivo. E ressaltamos sua vocação, nesse sentido, para uma
virtualização de seus conteúdos a partir de um recorte temático. Tal vocação é atendida
e subsumida pelas possibilidades abertas com o suporte digital.

As inovações tecnológicas e conceituais que o teatro brasileiro absorveu no


século vinte. Tendo como base esse levantamento, a bibliotecária Analúcia
dos Santos Viviani Recine comparou os itens citados com as bases de dados
existentes na biblioteca da ECA e simulou algumas catalogações. Ficou
decidida utilização da base de dados Teatro, desenvolvida pela equipe de
processamento técnico do SBD/ECA. Essa base pode ser acessada no site
http://www.rebeca.eca.usp.br. Foram feitas algumas adaptações para

96
Nos termos da #interdição

contemplar dados específicos da pesquisa” (RECINE; LEITÂO;


YAMAMOTO, 2003).

O que promovemos, então, com a presente pesquisa é mais um salto em direção


a pulverização das categorias inicialmente criadas para dar conta dos materiais
arquivados. Representa ainda um passo comunicativo em direção à composição que o
recorte temático nos incita desde o início e com o apoio do digital.
A catalogação representou um importante momento dedicado ao
estabelecimento da unidade de cada processo teatral e das obras ali contidas. Devemos
mencionar que a relação que se estabelece entre os originais das peças teatrais e os
documentos associados a eles é também da ordem de uma justaposição já heterogênea.
A produção de nosso arquivo de base respeita a constituição dada inicialmente pelo
Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo. Podemos chamar de
movimento de arquivo essa ação de compilar as peças teatrais com as fichas geradas
pelo próprio processo burocrático, com telegramas enviados pela opinião pública acerca
de cada obra, além de registros de pagamento de impostos, pareceres de censores e
matérias de jornal. A coleção de documentos que acompanham o original das peças
teatrais é certamente diversificado e, para além de tratarmos pontualmente da arte
teatral. Nos reportamos ao recorte cultural, social e político que a intertextualidade entre
os documentos arquivados nos aponta.
Para nosso trabalho é importante apontar que tal contato com o ambiente
cultural, social e político, não parte inicialmente do estudo de conjunturas estabelecidas
para o período que o Arquivo recobre. Ela parte dos objetos analisados, na ligação
realizada pela junção de termos diversos. É deste ponto que se abre para a relação
contextual. Podemos ainda ir mais além, dizendo que essa relação contextual e
estruturada de um determinado momento histórico só se realiza a partir do olhar
interpretativo daquele que tem a possibilidade autoral da leitura de tais documentos
dispostos em conjunto.
Reforçamos, assim, nossa proposta de que a reconstrução de uma visada sobre o
Arquivo Miroel Silveira a partir de um percurso para o olhar na tela do digital está dada
a partir da abertura em relação ao que se pode considerar como documento histórico.
Está dada, ainda, nas possibilidades de entendimento da leitura como um processo
aberto. E, também, está dada nas possibilidades de recombinação oferecidas pelo
suporte.

97
Nos termos da #interdição

(...) de uma maneira ou de outra, de um suporte a outro, de um meio a


outro, nada se exclui ou se anula. Das ditas mídias que circulam em
torno dos jovens leitores ou autores, o livro ainda há (...) sejam elas de
outras fontes, ou em outros gêneros artísticos, verbais ou visuais.
Nesse sentido, dar aula de literatura é dar aula de leitura de mundo,
reaprendendo a ler o mundo” (RETTENMAIER, 2009, p. 91).

Assim, para todo o movimento de enunciação, temos uma correspondente forma


de moldagem da mensagem e de controle/restrição/supervisão sobre ela: na
possibilidade edição contínua, temos o controle da edição por outros usuários; na
hierarquização de conteúdos e na determinação da rolagem, temos o privilégio de certas
informações; no direcionamento pessoal das informações, temos uma customização dos
dados que restringem o que seria o ambiente amplo de acesso aos mesmos dados; no
clique temos a criação de níveis para uma narrativa de surpresa, mas que também
ordena a sequencia da leitura; na relação de objeto temos o canal aberto do indivíduo ao
coletivo, mas suas postagens podem isolar-se; na dependência da luz, as plataformas
podem se apagar e o acesso da informação ser interrompido. Havia uma relação com a
memória, com a importância de que dados fossem decorados, que hoje se converteu em
importância de que dados possam ser associados.
Tais marcas de modelagem e de interdição deixam marcas no suporte, como
vimos anteriormente no regate teórico de nosso trabalho: a permanência de tabuísmos
linguísticos, o reforço para os eufemismos e para o politicamente correto, possibilidade
de manifestação e organização de grupos, a possibilidade de filmar tudo e todos os
temas, a surpresa entre níveis, a ansiedade da expansão e da necessidade de informação
completa, o imediatismo da busca, a presença da lógica da superficialidade contra
aquela da profundidade. No limiar fino, mesmo no controle do suporte, entre o que é
público e o que é privado. Por exemplo, a noção de marcação de rostos da possibilidade
de divulgação das informações inscritas.
Como ponto de partida para a presente pesquisa, pretendemos separar no interior
dos trechos censurados das peças teatrais do AMS aquelas palavras que continuem a ter
eco hoje por conta de sua utilização. O corte sobre palavras nas peças teatrais era muitas
vezes feito destacando palavras específicas, mas também era comum o corte de trechos
maiores e quadros inteiros. Privilegiaremos as palavras pontualmente extirpadas e frases

98
Nos termos da #interdição

com palavras que julguemos significativas atribuindo a elas um nível de obscenidade a


ser justificado.
Concomitantemente, para balizar a formação de um corpus para a análise de
palavras consideradas tabuísmos linguísticos, utilizaremos o critério de sua presença em
publicações feitas nas redes sociais disponíveis na internet. É nas redes sociais que
encontramos uma maior recorrência dos termos interditos, mais do que em outros
gêneros textuais disponíveis na rede, como textos jornalísticos e publicações em sites
relacionados a instituições. Nas redes sociais os textos, como nas peças teatrais,
respondem a uma informalidade e uma coloquialidade narrativa que permitem
aproximarmo-nos mais à discussão sobre processos de interdição.
Um segundo critério será a sua popularidade (recorrência numérica da presença).
Dessa forma, o termo analisado será tanto mais relevante para a pesquisa quanto maior
for sua presença ou até mesmo sua recorrência viral possível na rede, replicando os
termos encontrados nas peças teatrais. Estes indicadores serão obtidos em sites que
recuperam e avaliam a marcação de palavras na rede através do sinal hashtag (#).
Ao associá-lo a um determinado termo imediatamente opera-se
intertextualmente uma ligação a todos os outros textos em que o mesmo termo, com a
mesma grafia, foi utilizado. O sinal funciona, assim, como uma forma de indexação do
conteúdo do texto e, na rede, sua marca é pluralidade: há liberdade para a criação de
novas hashtags ao limite de quanto mais específica, menor sua possibilidade da
circulação na rede. Este formato de indexação é utilizado por diversas redes sociais,
especialmente Twitter e Instagram9. E metalingüísticamente (também entendida como
uma metadata tag), há sites que recuperar e quantificam de maneira estatística a
utilização de palavras-chave na rede10.
Com esta delimitação metodológica pretendida para o pareamento dos termos
utilizados ontem e hoje serão descartadas palavras com um sentido muito marcado,
específico e determinado para um momento histórico ou um período temporal. Citamos,
por exemplo, a palavra “Getúlio”, como referência ao presidente da república Getúlio
Vargas. A pesquisa por este mesmo termo nas redes sociais hoje revela-se pouco
significativa. Ao mesmo tempo termos com maior amplitude e nível de conotação

9
Todos os sites da Gawker Media, FriendFeed (desde 2009), Google+, Instagram, Orkut[8], Pinterest, Sina Weibo,
Tout, Tumblr, Twitter (desde 2009), VK, YouTube (entre 2009–2011), Kickstarter (desde 2012), Fetchnotes (desde
2012)
10
Referimo-nos a sites como Hashtag.org, Hashtag.com e Hashable.com

99
Nos termos da #interdição

encontram uma amplitude maior de sentido e um escopo maior para a análise, como é o
caso das palavras “merda” e “amante”. Dessa forma, pretendemos observar a circulação
de termos menos datados temporalmente e que permitam a análise da pluralidade de
suas construções ao longo do tempo.
Como resultado, visamos à elaboração de um tipo de dicionário de termos, em
que várias das palavras estarão contempladas num mesmo verbete, aproximadas por
similaridade com destino a identificar continuidades e deslocamentos com base numa
perspectiva discursiva e poética das mesmas. Tal dicionário não se refere à explicação
de uma só definição de cada uma, mas especialmente à possibilidade de uso das mesmas
num sistema interligado e em que literalmente não existem a não ser em relação.
Como extensão de uma organização terminológica, nossa análise pretende
contemplar uma classificação preliminar desenvolvida para tratar das formas de
interdição, como se segue: privação (referências à fome, à pobreza, à ignorância),
mistério (falta relacionada à presença de uma entidade divina, soluções mágicas e
misteriosas), sexualidade (relacionado aos conflitos de intimidade, da vida privada e
familiar), a figura do outro (relacionada aos deslocamentos entre fronteiras, ao contato
com estrangeiros e ao contato em geral com o diferente).
Atualmente há recursos para visualizar a combinatória de dados disponíveis em
formato de texto ou número e na mais diversificadas formas possíveis de gráficos,
tabelas e esquemas comparativos. Achamos interessante, especificamente para o projeto
#Nos termos da interdição, a plataforma Many Eyes (http://hint.fm/ - - Link para o site
do projeto Many Eyes), um site desenvolvido em colaboração entre Fernanda Viégas e
Martin Wattenberg, por possibilitar o trabalho com material textual. malem de mostrar
as palavras mais recorrentes baseada em variações estatísticas, permite chegar ao nível
de detalhe das frases onde as mesmas palavras apareceram. Acreditamos que isso será
relevante, tendo transcritas todas as palavras censuradas das peças do AMS para
extrairmos informações comparativas entre os termos e fazer a comparação desejada
com recorrências nas redes sociais hoje em relação aos termos mais frequentes.
A partir do levantamento de palavras censuradas encontradas nas peças teatrais
do Arquivo Miroel Silveira geramos visualizações de dados em quatro formatos
diferentes. A visualização de dados é um recurso que tem se popularizado e está
acessível gratuitamente. Os dados não precisam ser numéricos, mas há a possibilidade
de se comparar palavras, textos e frases. No caso do nosso material isso se torna
interessante e rende cruzamentos estatísticos que informam o trabalho com as palavras.

100
Nos termos da #interdição

Para a preparação dos dados foi necessário compilar todos os trecho extraídos
das peças teatrais com censura sobre palavras. Houve, ainda, uma fase de preparação da
amostragem. As palavras tiveram que ser limpas de caracteres especiais, como til,
cedilha, e acentos.
Num primeiro formato de visualização, no estilo nuvem de palavras, as palavras
em tamanho maior representam aquelas que se repetem mais vezes nos textos. Podemos
observar que algumas palavras de uso comum se repetem. Outras repetições são de
nosso interesse, como a das palavras “homem”, “mulher” e “senhor”.

http://www-958.ibm.com/software/analytics/manyeyes/visualizations/palavras-
censuradas-word-cloud

Uma segunda forma de visualização do mesmo conjunto de dados é a nuvem de


tags (palavras marcadoras ou indexadoras). O resultado é semelhante à primeira
visualização, mas podemos notar que a inclusão do ano do certificado de censura das
peças como um dado relevante nos mostra, em tamanho aumentado, alguns anos da
década de 50 e 60. Isso significa que neles ocorreu o maior número de peças com
censura.

101
Nos termos da #interdição

http://www-958.ibm.com/software/analytics/manyeyes/visualizations/palavras-
censuradas-no-teatro-paul

http://www-958.ibm.com/software/analytics/manyeyes/visualizations/palavras-
censuradas-phrase-net

102
Nos termos da #interdição

http://www-958.ibm.com/software/analytics/manyeyes/visualizations/palavras-
censuradas-word-net

As visualizações permitem maior maleabilidade do que o registro anotado aqui


pode proporcionar. Temos a intenção de que essas visualizações sejam disponibilizadas
publicamente e consultadas. A disponibilização das palavras censuradas demonstra uma
riqueza histórica e, ao mesmo tempo, não fere o direito autoral a ser respeitado em
relação às peças e aos processos.
Apontamos algumas palavras que numericamente se destacaram na compilação
de dados:
puta (29 ocorrências), especialmente ligada à repetição do xingamento “filho da puta”;
pau (31 ocorrências), especialmente ligado à expressão “pau comer” e “meter o pau”;
pinto (26 ocorrências), especialmente relacionado à determinação do pertencimento do
órgão sexual masculino;
mulher (66 ocorrências), especialmente na diferenciação entre uma “mulher que se
preze” e uma mulher que se entrega;
filho (37 ocorrências), especialmente acompanhando a mesma expressão anotada em
“puta”, “filho da puta”, constando a variação também “filho de uma vaca” e “filho de
luta”;
vida (43 ocorrências), especialmente destacando um vida dura ou cruel;
senhora (24 ocorrências), especialmente usada como chamamento respeitoso para
contrastar com a ação que não caberia a uma senhora;

103
Nos termos da #interdição

homem (53 ocorrências), especialmente com referências ao homem que ama ou, ainda,
ao homem que não é mole, tem alguma habilidade;
velho (38 ocorrências), especialmente relacionado à condição sexual, de aparência e ao
fato de ter dinheiro ou não.
Selecionamos as palavras com mais de 20 ocorrências, o que consideramos uma
recorrência significativa. Não relacionamos aqui as palavras que consideramos como
sendo de ligação ou necessárias para a construção das frases. As palavras selecionadas
ainda tem eco hoje, não caíram em desuso. A compilação que realizamos foi importante
para visualizarmos as palavras mais relevantes dos trechos censurados nas peças
teatrais.
Observamos que as palavras mais recorrentes são relacionadas à figura do
homem ou da mulher, na suas condições de puta, velho, filho. Também destacam-se as
referências ao órgão sexual do homem, em duas variações numericamente mais
relevantes. Mas há outras anotações para referir-se a ele também, especialmente na
referência a frutas.
Para construir relações entre as palavras censuradas nas peças teatrais e aquelas
disponíveis nas redes sociais hoje, pretendemos postar trechos selecionados das
primeiras em postagens marcadas com conteúdos marcados com hashtags já disponíveis
nas redes Facebook e Twitter. Faremos isso nas contas de Facebook e Twitter criadas
especialmente para a pesquisa. O sentido das relações criadas ficam por conta da própria
pesquisa. Mas devemos justificá-las pela relação na ordem sintagmática ou
paradigmática.
Criamos, assim uma conta nas redes sociais mencionadas para a circulação dos
trechos censurados.

104
Nos termos da #interdição

Acreditamos que a associação de termos que estão ainda correntes pode


estabelecer uma ligação direta entre os conteúdos de ontem e de hoje. Tivemos de
selecionar uma das palavras do trecho censurado entendendo que ele é que promoveria a
circulação do trecho como um todo. Essa eleição, mais uma vez, é feita segundo os
critérios da pesquisa, entendendo a relevância da palavra selecionada. Relacionamos tal
escolha com os preceitos discutidos sobre a formulação de arquivo. Entendemos que a
palavra eleita é aquela que cataloga para a rede o conteúdo publicado. Podemos, ainda,
selecionar mais de uma palavra para indexação.
A forma aparente estabelece uma correlação de sentido com os possíveis
conteúdos destinados a vir-a-ser e que tem sua gama recortada no domínio do
significado. Não podemos dizer que o enunciado resultante é uma forma desviada da
original justamente por não podermos admitir a existência exata da forma original.
Como num processo metafórico, a forma metaforizada não é um substituto do termo
original, mas inscreve um novo termo a partir da justaposição de outros dois.

Para a maior parte dos adeptos da Estilística, a expressão “desvio”


alude a um fenômeno de infração das regras e normas do discurso.
Eles opõem, assim, uma manifestação marcada, trópica ou figurativa,
produzida pelo desvio, a uma manifestação não-marcada, literal ou
“própria” do discurso, fazendo repousar na proposição desviada o
enunciado da mensagem tipicamente artística (LOPES, 1986, p. 7).

105
Nos termos da #interdição

O movimento de substituição ocorre, assim, em face de um termo considerado


impróprio (em contraposição do termo próprio utilizado) ao invés da necessidade da
fidelidade ao original. O nascimento de um enunciado depende de um processo que
envolve: uma dinâmica de exposição (1) cujos conteúdos expostos rementem a um
sentido desenhado na linguagem (2) de maneira própria (3).
É nesse sentido que recuperamos as conceituações teóricas acima para explicitar
uma perspectiva sobre as novas mídias. Existe uma expectativa em relação aos espaços
de publicação na internet de que eles sejam lugares sem restrição ao dito, sendo um
espaço democrático por excelência. Ela implica uma pulverização da figura dos autores
e ao mesmo tempo das plataformas de publicação numa extensão que pode se sentir
como total na quantidade e no tipo de conteúdo. Pierre Lévy reconhece essa
possibilidade expansiva da rede nas ações de publicação e de conexão entre diferentes
públicos em diferentes localidades.

valorização das competências locais, organização das


complementaridades entre recursos e projetos, trocas de saberes e de
experiências, redes de ajuda mútua, maior participação da população
nas decisões políticas, abertura planetária para diversas formas de
especialidades e de parceria, etc. (LÉVY, 1999, p. 185/186).

Nesse sentido, reforçamos a existência de uma linhagem de pensamento que


identifica uma clareza e exposição dos conteúdos postados online. E os mesmos autores,
através de diferentes perspectivas sobre a sociedade em rede, são capazes de ponderar
sobre os limites dessa possibilidade de abarcar conteúdos e diferenças (LÉVY, 1999;
LANDOW, 1992; CASTELLS, 1999).
Assim que o debate sobre a possibilidade de controle dos mesmos conteúdos
online se faz presente. Diante de um espaço que poderia ser considerado de uma
explicitação invasiva, onde estaria marcada as nuances da duplicidade de sentido e do
ocultamento? E, assim, estabelecemos nossa questão central: como se conformariam os
circuitos de interdição na rede?
Realizamos nosso trabalho a partir deste questionamento e recorrendo às formas
de acesso ao arquivo físico que estivemos desenvolvendo até o presente momento: A
partir do recorte inicial obtido das palavras censuradas nas peças teatrais do Arquivo
Miroel Silveira (1), em conjunto com uma proposta de grade classificatória que serve

106
Nos termos da #interdição

para a reorganização de nosso arquivo de maneira não linear (2), em conjunto ainda
com os resultados obtido através da análise dos dados iniciais a partir dos mecanismos
de visualização de dados (3). Voltamos ao corpus para nossa proposta poético-
metodológica de sua reconfiguração.
A partir desses esquemas de dados acumulados, voltamos ao corpus de nossa
pesquisa, olhando especificamente os trechos censurados nas peças teatrais que
continham figuras de linguagem. Tal levantamento, que anunciamos que se iniciou
durante nosso trabalho de doutorado, ganha agora corpo e quantidade na recuperação de
tais figuras e em sua categorização. Tal recuperação foi importante para o exercício de
religamento em rede destes mesmos termos a que nos propusemos.
A recuperação de palavras censuradas que apresentamos a seguir compreende a
seleção dos trechos recortados das peças teatrais e que continham figuras de linguagem.
Realizamos ainda uma marcação, pertencente ao interior da presente pesquisa,
apontando a figura de linguagem que iríamos privilegiar. Tal privilégio relacinou-se
com uma análise semântica dos trechos e na possibilidade que qualitativamente
movimentassem a pergunta de nossa pesquisa em relação à manutenção ou
deslocamento de seus usos no tempo presente, na circulação nas redes sociais.
Em seguida realizamos o levantamento a partir dos mesmos termos
qualitativamente selecionados, pesquisando-os nas redes sociais a partir da indexação
com hashtag. Procuramos manter a mesma forma e grafia utilizadas no original das
peças teatrais. Quando era de nosso conehcimento a variação linguística da palavra, mas
com a manutenção de significados similares ou derivados, assumimos também a forma
desviada dos termos.
O fato de termos privilegiado figuras de linguagem nos permite um recorte mais
abrangente em relação aos sentidos associados aos dois conjuntos, aquele de partida
(termos censurados nas peças teatrais) e aquele de chegada (termos recuperados nas
redes sociais). A recuperação dos termos nas redes não poderia ser realizada de forma
aleatória em relação ao sentido das palavras de partida. Cada uma delas mostrou-se
usada, nas redes sociais, em suas diversas e variadas acepções possíveis. Para a
realização do presente trabalho mantivemos a recuepração estrita aos sentidos
identificados como já estando presente nos termos de origem a partir da leitura e
interpretação dos mesmos. No momento da recuperação dos mesmo termos nas redes
sociais, através da leitura exaustiva de publicações que marcavam as mesmas palavras
coletamos aquelas que mais se aproximavam da colocação original dos termos.

107
Nos termos da #interdição

Dessa forma procuramos restringir o espectro comparativo, não nos dedicando a


uma palavra e suas variações possíveis, mas pudermos manter a abrangência de nossa
coleção de dados e a possibilidade de comunicação entre elas. Ao preferimos aproximar
os sentidos de ontem e de hoje, trilhando pela via da manutenção e da repetição de seus
significados observamos a continuidade de evidentes limites e interditos sociais e
culturais. Ao mesmo tempo, este processo, iniciado pela similaridade, não nos isentou
da marcação das diferenças e deslocamentos. As nuances diferenciadoras entre os
termos de ontem e de hoje se mostrou mais fina, mais sutil.
E, seguindo a proposta da montagem e interligação em rede, o que era uma vez
similaridade, na justaposição entre ambos vira diferença gritante. As interligações
mostram a aparente incoerência temporal e cultural de enunciarmos um mesmo termo,
usando muitas vezes a mesma imagem associada a ele, mas ver seu efeito sair pela rede
em efeito inesperado. Podemos dizer como um tiro que sai pela culatra e nos atinge
onde não esperávamos. Manejamos os textos de ontem nos textos de hoje e o efeito e
que não se pode enunciar o mesmo.
Entendemos, assim, que cada um destes termos são pontos diversos na rede e
que a distensão da própria rede, como argumentávamos, se encarrega de apresentar-nos
a diferença territorial, temporal, histórica entre ambos. Ao mesmo tempo, a
possibilidade de realização do presente trabalho está na transliteração poética entre eles.
Preservados os dados de cada um dos lugares lógicos que essas listagem representam,
podemos apresentar aqui uma tradução, pensado-a como ponte cultural.

Trechos censurados nas peças teatrais do Arquivo Miroel Silveira contendo figuras
de linguagem

DEPILAÇÃO
“transparente, que nos deixe quase nuas, mostrando o nosso delta irresistívelmente
depilado; membro em riste; cuja superioridade se define toda num pênis eriçado;
fornicar; apontando para a evidência de sua condição; mais de pé; ela trata meu membro
como se ele fosse de ferro; a que não seja o meu; estava me escondendo ai nessa
magnífica ereção”.

URUBU
Só urubú podia ter trazido isto (mostra a criança que é um negrinho)

108
Nos termos da #interdição

ESQUENTAR
“Fez ela pegar o esquentamento de outra; Porra; Mineteiro; Só abrir a perna e faturas;
Ficou em cima de mim mais de duas horas”

BURACO-FECHADURA
Lavou até o olho do Cury; Mi em cima de Sí sem Dó; Então lá ia eu já com o dedo na
buzina; Tentar levantar o que estava caído; Vamos é logo alí no 83; Eu sou é bicha;
Aquele que todos procuram, que é mais castigado, enfim, aquele que é usado várias
vezes por dia e à noite também o buraco da fechadura; É assim a vida, sempre um
buraco, que a vida dura, é assim na morte, sempre um buraco de sepultura. Mas viver
sem chave na fechadura é o que dest-aco. Tira, bota, tira. Como padece o meu buraco;
Qual delas; Só pensa em metida; O rei tem uma favorita. Tão criança e tão feinha que
até faz ficar bonita a cornuda da rainha. A favorita é magrinha, é capenga e amalucada.
Pela frente é bem lisinha. Por trás, ela não tem nada. Levou-a o rei para o leito.

ALEIJADO
E quis com ela sonhar Mas reclamou contra-feito; cadê coisa para apertar? Ela nada
disse ao rei. Ele explodiu de repente. Minha filha já nem sei. Tás de costas, ou tás de
frente; Tu precisas fazer mais anjos; Tu precisas se virar mais; Fugido e mal pago;
Afrescalhado; Poeta pobre. Eu me sintoenvergonhado quando as muletas seguro. É
chato ser aleijado. Sempre com a mão no pau duro; Filho de luta; Abunda; Ela trina; Ela
trina, ele diz; Bolinadas reisis; Chifres majestosos; Para iniciar uma dança mais íntima;
O marquês queria bancar o empata folga; Ele conseguiu entrar? Já estava dentro. O
marques?? Não, o rei; Só um caráter assim pode seduzir uma mulher Sei por
experiência própria.

CARÁTER FRESCO
Mulher não gosta de homem que tem caráter fresco, sorto, mole; Não quis mais nada.
Deitou-se e não havia jeito de levantar mais; O que o rei merece eu vou dizer agora ele
merece que vos lhes passei a sífilis; Tenho-a agora consegui pegá-la fui de bordel em
bordel, de prostituta em prostituta mas acabei triunfando. Tenho uma sífilis novinha em
folha. E vou passá-la em voz. Como deve acontecer entre bons esposos;

109
Nos termos da #interdição

CHIFRES
Tenho culpa de ser corno; Eu tenho chifres; Tenho é sífilis; Ides ver daqui a pouco
quando eu vos presentear com a sífilis para que a transmitais ao rei; Resistência aos
chifres; Preso, corno e ainda por cima sifilítico; Já tinha um taco; Eu era neném, andava
nú, meteram um alfinete no meu pé; Te metendo o pau; Pau na blusa dela;

URINA E FEZES
Urinolina, Mijardélia e Merdalésia;

METER O PAU
Sempre de pau na mão; Só mesmo metendo o pau; Todo mundo se embolando pelo
chão; Café society, gente bem doce na vida, qualquer esposa com qualquer marido sae.
O tempo passa, vem o efeito da bebida. Um novo baby sem saber quem é seu pai; Café
society, gente vip circulando. Podre de chic no ambiente verry car.

TREPAR
Em meio ao bar, sobre as mesas vão trepando. Café society gente bem só quer trepar;
Eu fiquei milionário com o que ganhei atrás; Naquelas tardes fagueiras, à sombra das
bananeiras, fazia fila lá atrás; E de bruços me deitava. Vinha um colega, trepava; Porque
é que bicha nasci. Nasci! Si tivesse eu bonecas; Assim como vocês querem ser bonecas,
eu também faço questão que me respeitem como mulher-macho, sim senhor;

ESTAR DURO
E agora, o que é que eu vou fazer? O meu enxoval tá pronto. Paguei um dinheirão por
este vestido e os convidados estão todos lá. O caminho está aberto será que arranjo
outro noivo que queira aproveitar esse caminho aberto? Porque eu fui na conversa
daquele monstro tarado? Eu devia ter resistido. Aliás, resisti o quanto pude, mas quando
ele mostrou que estava sem dinheiro para casar, que estava duro aí parei de resistir e
entrei pelo cano e quecano; Lembranças que te dei? O que disseste? Dar pra mulher? É
só o que faltava; O príncipe bem sabe que me deu. E eu até estranhei, mas é verdade.
Qual o mal em me dar o que era seu. Na mais doce e terna intimidade; Fala baixo
mulher, não te dei nada. Nunca dei pra mulher isso eu garanto.

SER ESPADA

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Nos termos da #interdição

Mulher não é completa, falta a espada. E logo a espada que eu desejo tanto; Mas na
guerra também cavam trincheiras que ocultam tanto o forte quanto o fraco. Se o homem
tem espadas altaneiras. A mulher é trincheira. É o seu buraco; Bela resposta, Ofélia,
francamente. Mas também minha réplica eu encaixo. Minha trincheira é diferente. O
meu buraco émais embaixo; O mesmo mandando você tomar; Ótimo, vai comer na sua
que eu vou tomar na minha

TROCA-TROCA
Nunca fez troca troca. Mentiroso! Se nunca fez, faz agora. cada um chora por onde
sente saudade

TROCAR O ÓLEO
Nem trocando o óleo ; no buraco; Se a linha é fina vai bem, mas se a linha é grossa vai
mal.Custa pra entrar. Cu tem que forçar o buraco. Preciso mais jeito. Passar a ponta na
língua alisar torcer quando está bem torcido, manda brasa ; feia de cara mas boa de bu
nita cara a senhora tem; senhora tá segurando no pinto;

CHUMBO GROSSO
Quem não leva roquete leva o pinto; o chumbo esquenta e fica mole derrete tudo

JOGAR BURACO
Eu pensei que fosse um convite; eu dava tudo ver o pau comer dentro de mim; Quando
o pau comia, ela estava sempre de costas; Que é que tem que o pau coma, entre os
homens?; E que é que vai nas coxinhas?; e peluda no buraco; de tanto batê no buraco a
cabeça começou a ficar inchada; O meu baralho quanto mais buraco pega, mais forte ele
fica

HAVER ATRASO NA MULHER


Tem tanta fêmea dando sopa, aqui dentro?! (RI) Tá todo o mundo maluco! Não viram
só o que aconteceu com o vizinho? Casado há cinco anos, não tinham filhos. Um dia,
ele falou para um colega de repartição: "Acho que desta vez a minha mulher vai dar a
luz! Tem um médico aí que vai fazer o serviço. O diabo é que ele cobra 500 cruzeiros
novos, se a minha mulher engravidar. Respondeu o colega:manda a sua mulher lá em

111
Nos termos da #interdição

casa se ela engravidar eu cobro menos! ; É quando há atrazo nela; há homem pra todos;
não me dar bola é só ligar pra ela;

SER BONECA
Sou boneca, minha filha. E boneca perfumosa, viu; comida de soldado; cretinão;
Homem, sou. Infelizmente, mas sou; Deixa crescer, boba. Quanto mais, melhor; adoro
os homens de cabeça grande! ; vai pegar no pincel dele; vou descer o pau nela

LEVAR FERRO
Só pra num levá o ferro!; Lógo ele me foi dizendo você quer na frente ou atraz?; atraz
acho que vou trocar o óleo; a caneta do chefe; isso! viu como ela sabe? Ela me viu
tapando sem querer, quase tapei ela também !

METER ROLHA
Ela meteu a cara no pistão da tapadeira e quasi meti a rolha nela! por pouco ela não
estava tapadinha; Perdão, querida! Esqueci de tirar o Pinto; Acho bom não tirar, porque
eu me retiro do recinto; Já tirei; Como é que eu não vi;

MANDIOCA/XUXU
Mas a muié que me chama a toda hóra de boboca, ela prefere, nem que seja uma boa
mandioca. Sai de casa, danadinho pra xuxú. Vejam só o que eu ganhei Foi um pé no
ouvido
hotel; ficaria toda nua; Eu sou de Ponta Grossa e a minha mulher de Curralinho não
dáva certo; Como não prova? Ela desceu pela escada e eu não ouvi barulho algum se ela
fosse atravessada, eu ia ouvir blá-blá-blá, é ou não é; trepar;

BANANA/MAÇÃ
as mulheres adoram uma boa banana, e o homem que não tem banana não é homem,
morou; Vamos tirar isso a limpo! (exibe maçã). Cavalheiro, veja bem: sou a maça. Sou
ou não sou a mais gostosa? Olhe só: redondinha, rosada sinta o perfume. Não gostaria
de me comer? Gostaria? Viram? Não disse? Ele gosta. WA: O senhor não gosta de
chupar? Tome experimente pode chupar é uva mesmo Isso muito bém viram? não disse
que ele chupava? Banana: agora é a minha vez (exibe a banana). Por favor olhe bem
essa banana! Roliça, de bom tamanho enche a boca de quemgosta O senhor gosta de

112
Nos termos da #interdição

banana? Não? É estranho: conheço uns rapazinhos que passam os dias atráz de uma
banana Ah! Peguei! Mentiroso! Dizendo não gostava de banana, hein? Olhem só! Tá
com a maior banana no bolso! E que banana! Ganhei! Primeira eu; toda mulher gosta de
uma boa linguiça e o homem que não tem linguiça não é homem; dois ovos; Vamos
tirar isso a limpo. Cavalheiro: olhe bem prá mim sou redondinho, vermelhinho.

TER OVOS/ LINGUIÇA


O senhor gosta de tomates? Gosta? Viram seus bobos, ele gosta. Ovo: (encaminha-se):
Moço, o senhor tem ovos? Sim, tem ovos em sua casa? Tem? Ele tem ovos! Linguiça:
(platéia): Meu chapa: olhe bem essa linguiça: é de bom tamanho bem roliça o senhor
gosta de linguiça? Não? É estranho conheço uns rapazinhos que vivem correndo atrás
de uma linguiça Ah! Mentiroso! Dizendo que não gostava de linguiça,hein? Venham
ver! Tá com a maior linguiça escondido no bolso

FAZER SAFADEZA
Eu disse a você meu filho, que você podia fazer safadeza com todos os meninos da rua,
menos com suas irmãs, suas primas, e as filhas do Doutor Machado1o. Vé porque vão
com as filhas do doutor Machado?2o. Porque ele me empresta dinheiro e não cobro
juros; elas existem para sustentar esse azêdo exército de virgens; Dom Pedro I era um
sem-vergonha muito grande, muito mal visto pelo povo do Brasil, aproveitador danado.

MATAS DE ANGOLA
Como ia ser chutado com monarquia e tudo, ficou como Imperador do Brasil,
entregando-o aos interesses, português, que por sua vez já eram entregues aos interesses
inglêses; Ião matando os negrosque querem liberdade em Angola. Angola! Ô Saudade
que negô sente dos séculos quando era livre nas matas de Angola, longe e sem saber
dessa civilização;

ENCOSTAR UMA NOTA


na hora do "plá" o coroa encostou uma nota milagrosa numa boca aí que eu manjo mas
não digo que é pra não inflacionar a freguesia e, no final do bam-bam, o degas aqui tava
aprovado e sacramentado

CANETA

113
Nos termos da #interdição

Ai, não vai dar jeito vai entortar a minha caneta se não entorta, pelo menos vicia a pena.
Em todo caso vamos lá (assina). Pronto! ; vai doar, que não é vida; de todo o jeito,

ESTAR NA ZONA/ BURACO/ CANO


tô na zona mesmo ; que gostosura; tendo buraco apertado; tenho que aguentar o cano
atrás de qualquer jeito. Vou dando logo e pronto

ENGATE/ TÚNEL
tomar atrás; de pau duro; de pau grande; ela ficava segurando o pinto; e quando o pinto
é limpo ela inté beija o pinto; ocê fica beijando os pinto e dispois vem bejá eu; vê o
pinto cresce na mão dela; E o meu leite é bão; Se eu não vivo o cabo de engate, rápido,
era um desastre na certa. Mas o diabo é que eu quase que arrebento o túnel; eu vou
experimentá o seu rabo; (Entra, ajeitando o suspensório);

MAIONESE/ROSCA/ESPETO/BANANA
maionese que caiu no lençol; mexendo nele que ele endurece; Encosta a rôsca, queele
endurece; está custando a subir; subiu ou não subiu; É ela me tocar com os dedos e eu
gritar de dor; e não se levanto mesmo; Quer um conselho? Se êle te pedir prá tu
descascá a banana dêle, num aceita. Se ele te pedir pra tu dar uma dentadinha na banana
dele, num tópa. Num tópa que é espeto. Espere, espere, a senhora precisa levar o pau. o
remédio é ir na mão mesmo; ele dá uma voltinha pela rua Aurora. ficou dando as
coxinhas pro vovô

COBRA E MINHOCA
Nunca mais ele me deixou mexer em cobras. Fiquei 12 anos com ele. Durante todo esse
tempo, eu só lidava com uma minhoquinha. uma minhoquinha anêmica que era uma
luta pra levantar a cabecinha; O que eu gostaria era que o exército segurasse em mim. Já
pensou? Mais de 200 mil Homens! Fico atéarrepiadinho!; Rabada com polenta e língua
fresca. É a minha especialidade. Quer experimentar?; Língua fresca só de de veado não.
E não é qualquer rabada de porco que eu topo, ouviu?; bafo quente de homem no
cangote da gente. Eu sentia vontade de brincar de trenzinho com ele; Me manda! ME
manda! Mas me manda logo! Linguiça guardada é uma delícia!; Segundo me consta, tu
vai encontra uma que nãoé linguiça. É mortadela; A Tocha atrás; e com muito suco

114
Nos termos da #interdição

FRESCURA
engatar a; da primeira; aguentar; engata; della; da senhora; cargo; Vou saltar ahi no
jardim que está fazendo muito calor. Esse lugar aqui está muito quente, eu vou precisar
um fresco

DAR UM JEITO
Marie: (tem que reconhecer que é verdade. Ela ri baixo) -Oh, Turk, Turk: Diga se não é
verdade? Marie: Quem sabe? Turk: que tal hoje à noite, gostosa? Não vai sentir falta de
mim? Marie: Turk, você está treinando. Turk: E que tem isso? O dardo eu atiro na
mesma distância a qualquer momento, filhinha. Vamos, néga, nós antes já temos dado
um jeito0, não temos? Maire: Não sei se dá. Turk: Por que?; (Principiam agora uma
brincadeira mais forte, ele acariciando-a como se ela fosse um urso domesticado. Ela
dizendo: chega Turk, assim machuca. Ela lhe dá um tapa de brincadeira. Depois ambos
riem da própria simulação. Lola entra devargazinho pela porta de traz, na ponta dos pés,
atravessa a cozinha às escuras, e fica junto à porta de onde pode vê-las. No seu rosto há
um sorriso calmo e feliz. Acompanha cada movimento que eles fazem, alerta) -E agora,
senhorita Buelcholton, qual é sua opinião sobre a pressão psicodinâmica da vida na era
tômica? -(brincando) -Turk, não deboche; na cama; fazer amorzinho; na cama de Marie;
aqui de seu bordel

DEFLORAR
Deflorou; Na cama das prostitutas; Há mulheres casadas que fazem o possível para
atrapalhar o serviço das honestas prostitutas; Barriga; Grávida; O importante é
convencer a justiça de que se trata de homicídio não premeditado; E então, se não casar
depressa, acaba perdendo a honra e tornando-se para sempre uma bem uma da nossa
freguesia; Esposas; Fizer a besteira de se casar; Deshonra; Mas, afinal, mulher, o que foi
que ela fez; O que foi que ela fez? Casou-se; Inconsciente! Semvergonha! Casou-se;
Casou-se; (COM DESPREZO) Casar!

PERDER-SE
Então você pensa que sua mãe e eu teríamos vivido tanto tempo em boa harmonia se
fôssemos casados; Você está perdida ou não; O que é que o sr entende por perdida;
Perdida quer dizer casada; Mas da primeira vez que uma mulher cai, não deveria fazê-lo
de graça, porque essa é a maior oportunidade que ela tem de fazer fortuna. Depois o

115
Nos termos da #interdição

caso é diferente: é só ter cuidado para não ser descoberta, e pode fazer o que bem
entende; Casar; Honesta; De homem; Nós só queremos justiça. Somos pela justa divisão
das coisas do mundo ;

GOZAR A VIDA
Então todo homem não tem o direito de gozar a vida; (nesta passagem estavam escritos
dois ques portando, não foi erro de digitação -pelo menos não meu! Hehhehe); Somos o
que que tiramos da humanidade o que está sobrando. O mundo está cheio de pão duros e
eu detestopão-durismo! Êles guardam aquilo que não sabem aproveitar, só para impedir
que os outros aproveitem ;

RASGAR COLCHÕES
O pão duro, sim, é que está roubando a humanidade; Claro! O dinheiro foi feito para se
gastar e não para guardar em colchão; Tem toda a razão! Então, vamos distripar os
colchões que estão gordos demais! Coragem, turma; Com um homem; Esta noite;

POR FILHO NA BARRIGA/ VERGONHA


Pôs um filho na sua barriga; Desta penitenciária e ; Ganhando com isso o que você
ganha; Olhe-me, olhe-me bem, capitão Mac Heath! Aqui está a minha vergonha!
Grávida! Grávida!; Seu pai vive disso: ganha dinheiro para soltar os presos ; Prostituta;
Galinha; Grávida; Grávida, semvergonha; E tudo o mais foi atrás dela ;

GANHAR COBRES
Desde que o nosso primeiro fornecedor de meninos se aposentou, tenho feito o possível
para ganhar uns cobres ajudando as damas da prisão a arranjar uma gravidez legal! A
fim de adiar o julgamento .; (APONTA PARA A BARRIGA DE LUCY);

ACABAR NA FORCA
assim poderá fazer tudo o que eu fiz -roubar, matar, gozar a vida sem se incomodar com
a Lei e sem Ter que acabar assim, na fôrca; general; você está louco, meu filho! Na
realidade, o que se passa é o seguinte: os sujeitos como Mac Heath acabam mal, a não
ser que tenham pistolões; é verdade

GALINHA

116
Nos termos da #interdição

Na sua racha; Quero dormir uma noite de um poleiro com 20 galinhas

TER PISTOLÃO
dá certo negócio; Indo; engasgada; não ter um com pinto no meio; um de cada lado;
gostam de; levem um bom bocado; Na praça Pariz; Na praça Tirandentes; público; tem
que ter muito pistolão ou vestir saia; penacho; datilógrafas; Não é um efeminado; entra
semi-desnuda; fiquei dois dias sem poder sentar; me sentou na cadeira;

ABRIR O CANAL
Levei uma hora abrindo o canal; Não! No meio! (Olhando na boca) Precisamos fazer
uma extração para poder meter o pivot; Bolero de Ravel; Bolero; Veio uma senhora e
sentou-se em cima da fogueira de São João; Góis Monteiro; Eu sei que o Catete é duro
de habitar, é um circo onde todos querem se arrumar,

DONO DO CIRCO
mas o circo tem um dono seu retrato vou pregar (sobe prega o retrato no cenário e sai);
bicheiro; bicho

SER CENSURADO
Foi censurado todo um programa de auditório de perguntas e respostas em que se ganha
o prêmio em dinheiro, são 4 perguntas simples que são uma moleza para o candidato,
porém a última era qual foi a primeira palavra que Eva disse a Adão quando viu a cobra
enrolada na árvore, a resposta foi, que a questão tá dura

SER VENDIDO
Jupiter: Isso é obra do Americano; Marte: Não fale mal do Americano. Ele é meu maior
aliado; Saturno: Marte está vendido aos EUA; Todos: sim, sim! Está vendido;
Comandante: Sim. Estive com S José fazendo tempos para as estrelas da Coréia do
Norte; Café: Por que? Há falta de tempo; Comandante: Efeito dos Bombardeios
Americanos ouve-se forte ruído de ventania;

PEDERASTA
Eu quero Buraco; Pois eu continuo gostando do Buraco; Daqui ha dois anos, a frase
muda: nada nos une, tudo nos separa; O senhor é pediatra; Sou. Mas ativo

117
Nos termos da #interdição

JUSTIÇA CEGA
Falermo -em tempo de guerra, nada mais facil do que acobertar com o interesse de
qualquer causa o crime que se praticar; homens chamam a civilização; Francisco -A
justiça me vingará, diz o senhor, e porventura nos vinga ella quando, fechando os olhos
e abrindo as mãos, julga innocente o criminoso vinga-nos acaso, quando, mesmo de
mãos fechadas e olhos abertos, por falta de provas abafadas pelo forte, que opprime o
fraco, absolve a quem nos informa A justiça O Como ha de ella chegar a um pobre
cego, se é tão cega como elle Venderam-na pra ferir com igualdade, ou para as escuras
descarregar o golpe guiada pela mão forte contra o fraco, quem me garante aferição dos
pesos collocados na balança, cujo fiel pende mais para o lado que luz

PORCO/ SUJEIRA
De noite eu tinha que ouvir tudo o que meu pai e minha mãe faziam. Ele grunhia como
um porco em cima dela para mostrar sua paixão.E eu pensava comigo mesma como é
sujo fazer amor e como é sujo ser mexicano e ter que dormir todos num só quarto, num
chão imundo, cheirando mal porque não havia nem bacia

LIMPEZA
sem vergonha; é o meu amante; dando o meu corpo; Já pensaste que vai deitar-se todas
as noites na minha cama; Por isto te entregaste a mim tão generosamente esta
noite?lúbrica perante um corpo qualquer; eu me sentiria muito mais limpo e tranqüilo
neste momento se tivesse ido a um bordel; repugnância;

AMANTE/ADULTÉRIO
esse filho de uma; um amante; para que eu possa mostrar ao mundo, essa filha que quiz
roubar o amante da mãe e não hesitou em querer que me enforcassem, só para se vingar;
no amante; onde se encontrou com o seu amante; o seu amante, sim não minta; pelo seu
amante; adultera; nua; sem vergonha; como se te visse nua através dos vestidos e o teu
desejo não era menor do que o dele; Deseja-me, deseja-me ao ponto de querer matar
quem ousasse roubar-me a ti! Quero entregar-me a ti; Entreguei-me a ele Ele me
possuiu Foi o meu amante

CEDER/ VERGONHA/ DESCARO

118
Nos termos da #interdição

A minha força toda está na língua; É que tu apesar da tua idade, não sabes o que é o
mundo; não sabes o que é a vida das pobres empregadas; nunca o fôstes; Não o sabes,
também que aquela que não cede, nunca poderá ser nada, se cruza no seu caminho um
superior que a deseja e ela o repele; Não acredites que eu não resisti; não suponhas que
eu não lutei; Houve um momento porém, em que eu pus na balança a minha honra e o
meu lar; O meu pobre lar no qual havia um avozinho cego e uma irmãzinha pequena
que necessitava viver e educar-se; e então, não mis vacilei; cedi; Depois a culpa não era
toda dele; Havia muitas jovens que o procurava; que se lhe ofereciam com descaro; por
costume; prolongadamente

PASSAR PENTE FINO


para o bem da sua pátria para o bem da humanidade e para todos quanto se interessam
pela paz mundial; Vou lhe fazer uma pequena proposta de camarada; Eu forneço 1
milhão de pente fino para você e toda a sua gente ficar com os cabelinhos lisos como
spaghetti; Forneço uma essência petroliana para os seus soldados acabarem com aqueles
cheirinho;

EM NOME DE ALLAH
Ensino a você comer a Pomba-Rola; Deixo somente para você a cidade Santa e Adis-
abeba, para o seu povo; O resto, você sabe como é a escrita fica tudo para a Itália;
Confere; Não confere; Recuso em nome de Allah; Levanta os braços para cima
curvando o corpo; Eu lhe ofereço como princípio de paz, o retrato de Menelick; Tenha a
palavra o camarada Ravioli; Levantando a mão para saudar os presidentes; Meu
grandissíssimo sei-lá-si-é; Escute o que eu vou lhe dizer (vide-processo)

PEITO SALIENTE
Os homens condenam a prostituição e são eles que alimentam a mesma, são os únicos
culpados de existir tanta perdição pelo mundo afora; O peito bem saliente, como se
ocultasse um casal de pombos prontos para voar; Santa

METER O PAU
Como eles me metiam o pau! Metiam, sim! E eu bem que gostava! eu queria era
movimento; Ando com uns enjôos. Vontade de chupar limão; Foi seu marido quem fez;
Palavra de honra que não sei; Até que enfim dei uma dentro; E você continua a ser

119
Nos termos da #interdição

senhorita no duro. O senhor acha que vai ficar com o buraco aberto; Só não
conseguiram, de mim, baixar as calças; um deputado

ABORTO
Usa calças; na ponta; Levanta o lençol; Ela dizia, levanta o lençol Lucio e ele respondia,
segura na ponta JuJu; E você com a vela na mão; Peron; Não, a outra; Que outra; Um
aborto
traído; cosinha, cosinha no duro; Uma mudança depois de beijar um jovem inocente e
puro. Qual é a frase costumeira; Dás me 10 cruzeiros, coração; Se não me engano você
andou dando muitos beijos por ai a 10 cruzeiros

DAR O TROCO/ DUELAR/ ABAFAR


Scottyard; Tenho vontade de matar os Dupont Dufort; que não tenha sido mulher; pensa
que eu sou o que; amantes; você será sempre preseguida por desejos; dormir com ela
uma vez; Não temos planos; O que estamos era hesitando entra o golpe do cheque falso
dado o troco duma joia, no sábado, o que nos dá dois dias para dar o fora e o do cheque
de verdade, aceito o troco duma jóia falsa, nas mesmas condições. Estávamos pensando
também em oferecer flores narcotizantes a lady Hurf( tendo nós o cuidado de não
cheirá-las) afim de abafar as pérolas assim que ela dormisse; Podíamos também fingir
um duelo com os Dupont-Dufort. Teríamos os dois e abafavanos a prataria aproveitando
a confusão; podíamos também arranjar uma enorme chantage, fingindo que fomos
roubados -vide peça; Em resumo, não fizeram plano nenhum -vide peça; Você nunca
dormiu com um homem sem amá-lo, como eu. Não tem colares no pescoço nem anel no
dedo. Tenho certeza de que está nua debaixo desse vestido de linho branco. E está
amando; Beijam-se longamente; Cair na vida. na vida; Sei que a gente não deve
adormecer na noite da sua grande aventura; quero ser sua amante

COMPRAR O AMOR
O senhor acha que isto é viver? escravas eternas do amor vendendo o corpo a uns para
comprar o amor de outro! Não! eu eu não posso; Afasta-se de mim! Eu já não lhe
pertenço! Como? Então vai dizer-me que vive com esse velho? Ele tem-me tratado
como filha, e depois não é velho Tem apenas quarenta anos. Ah! Como sou idiota! (Dá
uma gargalhada) Compreendo tudo agora!Eu já devia ter percebido antes, querida, que
Gustavo é rico e você em boas azaa para voar com a gaita dele.Canalha! Como se atreve

120
Nos termos da #interdição

a tanto!..Saia imediatamente desta casa. -Um momento querida. Gustavo não gostaria de
conhecer o ex-amante da formosa Jurema! Tu não ousarias!Como não, pela mulher que
amo ousaria tudo!; A mulher que ama! Por acaso alguma vez você soube o que é amar?

UM LAR
Tirando uma adolescente do lar para um mundo de promessas e depois obrigar a
desgraçada a frequentar os ambientes mais desgraçados e viciados para deixá-la mais
tarde na sargeta da rua.Como? Que quer você dizer com isso?Quero dizer que Gustavo
encontrou-me na sargeta, à porta de sua casa! Faminto, doente e maltrapilha! sem
interesse algum, a não ser o da sua bondade, tratou-me e aqui estou enfim, liberta do
rude abandono por que passei e que só um canalha e covarde como você poderia
fazer!(Tentando persuadí-la) Mas querida! Eu não sabia que você ia sofrer com a minha
ausência! (Acalmando-se) nem uma carta, nem um aviso sequer eu tive então. E quanto
à partida, não pude avisá-la porque foi inesperada E Gustavo? o que disse você a ele?
Sobre mim? Sim, sobre você;

VIR DO INTERIOR
Menti-lhe que vim do interior, iludida pelas cidades grandes. Que aqui gastara todo o
meu dinheiro, sem no entanto conseguir trabalho. Não tendo para onde ir, nem onde
ficar, aconselhada por um suposto senhor que me demonstrara todos os requintes de
bondade inexperiente como era fui por ele seduzida e em seguida lançada para fora de
um auto em estado semi -inconsciente, onde mais tarde era encontrada e socorrida por
Gustavo. Ele acreditou na minha história e agora sinto-me bastante feliz. Jamais deverá
saber da verdade! Bem Se é assim, concedo-lhe a liberdade. Gustavo é meu amigo e eu
não gostaria de vê-lo decepcionado!Porém, quero que acredite Jurema, se fiz com que
você sofresse não foi por minha vontade! Eu a amo muito e hei de amá-la eternamente!

CARNE/ FARINHA/ FEIJÃO


Bendito seja quem põe um ovo; o que eu quero é gosar; miséria; cantando a falta de
tudo, sempre cantando; que dorme debaixo das arcadas da grande avenida; como
objetivo de aluguel; de carne, alimento do pecado, e deixam que a carne alimento do
corpo, suba sempre de preço; E diminua sempre de peso; mais farinha do que feijão

ENTREGAR-SE

121
Nos termos da #interdição

mais de uma vez no mesmo dia; e acabou por se entregar a um touro; todas as noites
vens ao meu leito, tiras a roupa , e estamos juntos; o pastor acaba por compreender e
dali a pouco, amam-se em pleno campo, mais unidos que um homem e uma mulher; e
deixou que acontecesse esta coisa repugnante-permitiu que esse homem reduzisse você
e a Pia, a duas jumentas numa cocheira! Consentiu em renunciar à sua condição de ser
humano! E se amanhã fosse a minha vez você também permitiria! Que eu também! Eu
também está ouvindo? Todas as três, um pequeno rebanho; ou teriam andado mal sua
mãe e sua tia? Elas também podem errar; prostituta; entrega-se a ele; subi ao leito da;
talvez eu esteja grávida; eu também estive grávida de você, e sentia enjôos

FARRA
Boite; Pinto; dirigindo-se a um espectador; a outro cavalheiro; aos demais; um
qualquer; militar; a um cavalheiro; numa farra; várias farras; a outro; aos demais; a ele;
a outro; a gente, só as crianças; satisfaz a qualquer um; Para as meninas; O Dr já esta lá
dentro com sua senhora; Sozinho com a minha mulher? Mas, não é perigo; Enfim ela
gritou, mas parou. (fuma)

BOTAR OVO
Porque as mulheres botam ovo; Não deixe o médico sozinho com minha mulher; Não se
assuste. O médico está acostumado a atender mais de vinte senhoras por dia; É, mas eu
só tenho uma; Éhomem! É homem; o moço largue o meu dedo; camera social; mulheres
perdidas; sem pudor; Desastre da Central; Primeiro ator: O negócio hoje parece que vai
render! Já assaltei um bonde, um ônibus e uma carrocinha de abacaxi. (entra o segundo
ator).

PEGAR NO BATENTE
Segundo ator: Olá, Sansão! Tá passeando? Primeiro ator: Passeando o que Siô. Tô no
trabalho. Segundo ator: No trabalho? Essa não, eu nunca vi você no batente. Primeiro
ator: Trabalho que eu digo é Afano. Tô aliviando os que passam por aqui.

MANJAR
Manjô? Segundo ator: Não manjei nada até agora, tô em pleno jejum. A única coisa que
comi até este momento, foi meio pedaço de abacaxi numa carrocinha -vide processo;
Segundo ator: Foi você? Bonito papel eim? E eu fiquei sem comer nada até agora.

122
Nos termos da #interdição

Primeiro ator: Não faz mal. Tu vai me ajudar no trabalho e nós dividimos o lucro.
Segundo ator: Quem, eu? Sê é besta, eu não dou prá issonão. Eu sou honesto -vide
processo;

SER CORINTIANO
TÁ! Lá vai um coritiano entrar no roubo (sae); Já na coxia; dando a entender; note-se
que o sutien que o ator traz é da mesma cor que a atriz tem e que lhe foi entregue por
outra pessoa na coxia; calcinha da mesma cor que a atriz usava; olha o resto, mostra a
calça;

BRINCAR
Ele já está na base do VAE QUEÉ MOLE senhores, conhecem aquela brincadeira do
por cima e por baixo? Nãoconhecem? É uma brincadeira muito simples, engraçada e
muito fácil de aprender.Eu vou explicar. É uma questão de completar a frase que eu
disse. (Para uma pessoa da platéia). O senhor aí. Quer aprender? Quer? Então preste
atenção: O senhor diz para mim. Eu entrei numa Boate. Eu completo. Por cima, aí o
senhor diz. -vide processo; Que tal, certo? Então vamos continuar, canta; E nu artístico
giratório

ROUBAR/ENGANAR
Eu, quando roubei a primeira vez, tremia como uma criança. Depois acostumei; da
Warner; de Cecil B de Mille; mata-se por fome, por fome apenas; do silencioso; Gary
Cooper; boca quente a dela; queimava; Sou mexicano; Francis também; Holywood;
engar; de preto; Todas as mulheres enganam os maridos; Comprei um veneno qualquer
na farmacia; Nem sempre ela deixava que a beijasse; Foi preciso roubar para comer;
pelas costas

RÉPTEIS
meretriz no cabaré imperial; o rico leva tudo do pobre; ninguém tem liberdade. Aqui é
como lá fora; mitório; A humanidade inteira são como reptis venenosos

VER ESTRELAS

123
Nos termos da #interdição

saco; que quando eu nasci, ela viu estrelas; pra cima de; apalpada; Loló; bolinado;
cobra; não; o que é seu está guaradado; só tenho dois; ultimo a saber; as mamas da
Bonifacia; mamas; 24;

PEGAR NA MERCADORIA
num momento irrefletido; pega na mercadoria; usada; pedaço; não se podia ver nada;
maridinho; esposa; se casa com; cama
serás a seringa destas prenhas; prenha; pergunta se o doente fez amiga; nesta casa não
há ourinol; ad cagarronem

MISÉRIA
despi-la; cidadão: misserável deveria ser aqueles que aproveitam da miséria dos
humildes para enriquecer. Misserável é o senhor que cumulou a sua fortuna com o
esforço dos pequeninos, daqueles que arriscavam a vida pendurados nos andaimes, dos
que descem ás minas e que depois ficam cegos com o brilho do ouro que circula no seu
bolso, dos famintos que, de sol a sol, apunhalam as árvores das rodas dos grandes
pakards, dos que morrem intoxicados pelas tintas que ornamentam as paredes do
boudoirs, do que recolhem o lixo que sobra da fartura de todos os arranha-céus, dos que
cintilam, dos que se sujam com o carvão das fornalhas para mover esses palácios
iluminados que vencem a distância dos oceanos; ALBERTO-Quer dizer, então que os
homens de dinheiro devem tudo aos homens sem nada; CIDADÃO-(convicto) Tudo!
sem nós os capitalistas morreriam de fome

INOCÊNCIA
Foi por isso que veio aqui? Porque pensou que ela estava grávida; Não. O máximo que
eu tenho feito é pedir a algumas senhoras das minhas relações que viviam em pecado
comigo; Então por que fez essa pergunta; Você sabe. Há uma teoria de que as mocinhas
ingênuas são transviadas ou seduzidas por homens maduros depravados. Mas isso é
verdade. Por cada uma dessas garotas. Somente os homens maduros tem um respeito
instintivo pela inocência.

124
Nos termos da #interdição

Visualização de dados proposta a partir do primeiro conjunto de dados coletados, aquele


das figuras de linguagem censuradas nas peças teatrais do Arquivo Miroel Silveira

Recuperação de hashtags a partir de busca nas redes sociais


(atenção especial dada às produções textuais da rede social Twitter)

#URUBU
Gabriel Ferreira @GabrielF_SLZ 4 de set de 2012
#Urubu Branco: O #Racismo explicito - Portal Geledés
http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-brasil/15415-urubu-branco-
o-racismo-explicito … via @geledes

indie princess @klvrtn 4 de nov de 2010


@jpweb hauhauhauhauhau vamo ser preso por racismo no twitter. kkkk #azulão #urubu
#chita

Lucas Mello @cantacantos 7 de jun de 2009


Quadrinhos: URUBU, por Alves. [auto-biográfico] #escola #racismo #urubu
http://bit.ly/h3swF

#DEPILAÇÃO
BRUNO ZANTEBERG @Brunodineves 8 de jun de 2013

125
Nos termos da #interdição

#BANHO #BARBA #DEPILAÇÃO #CHUCA AÍ PRONTO PARA VER HOMEM DE


FERRO 3 #CINEMA #DIGNO #ADORO #EXPECTATIVA #SEXO #QUEMSABE

amila MacedoLima @colorizadas 30 de mar de 2013


#Sexo da pessoa não altera eficiência da #depilação, explica #dermatologista
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2011/12/sexo-da-pessoa-nao-altera-eficiencia-da-
depilacao-explica-dermatologista.html …

anauanale @anauanale 23 de jun de 2011


sex,sexo,sexe Renata #mostra #a #depilacao #no #hall #do #elevador:
http://bit.ly/la8Scz sesso,seks

#ESQUENTAMENTO
mahrcio santoz @mahrciosantoz 7 de jan de 2014
FORTE CANDIDATO AO CONCURSO
CAMISETA MOLHADA !!!!
TA MALUKO
#CALORIDAO #ESQUENTAMENTO

#esquentamento mode: ON RT @parvalhoti: "Amanhan é dia 1 de Agosto e tudo em


mim é um fogo posto" Eheheheh #twitteraarder cc @ZW3I

Guma Steigleder @Gumaa_S 20 de fev de 2012


Eu e o @F_Steigleder10 fazendo os preparativos para a noite. #Esquentamento
HUASUSUHA

★ Natalia Rocha ★ @PazeAmorOficial 17 de fev de 2012


#ESQUENTAMENTO MENINAS E MENINOS NOS MANDA ALGO BEM #HOT
PRA GENTE DA #RT

ioletta @eumonik 30 de dez de 2011 Guarulhos, São Paulo


Meu tio para a minha tia: "Tá com #esquentamento na calcinha, Cida?"
Cinderela do Luan ♔ @FC_VidradaEmVc 29 de abr de 2011

126
Nos termos da #interdição

@PalommaAlves aaa tipo só nao te chamo pra morar com nos (eu e seu primo) porque
na hora assim de #ESQUENTAMENTO tipo que atrapalha ne amiga

#BURACO/FECHADURA
Antônio Martini r. @advmartiniRS 12 de out Ivoti, Rio Grande do Sul
#fechadura #chave #maçaneta #porta #brazil #rs @ Buraco Do Diabo
http://instagram.com/p/uEhFsdqBpD/

ubba @jubbalone 20 de jul de 2012


MEU DELS
#buraco, #fechadura, #flagra, #pai, #tia, #anal.

Auro Barnê @marroy 24 de mar de 2012 Goiânia, Goiás


Pelo #buraco da #fechadura #keyhole #spy #goiania #brazil @ Themis & Auro Love
Nest http://instagr.am/p/Ij07NJiZwz/

anauanale @anauanale 9 de mai de 2011


sex,sexo,sexe Espiando #no #buraco #da #fechadura: http://bit.ly/eNbIsQ sesso,seks

arm@ndinho @armandinhoo 19 de jan de 2010


Por Que que a loira toma banho de porta aberta?
- Porque assim ninguém olha ela pelo buraco da #fechadura!

#ALEIJADO
Bárbara Milato @barbaramilato 21 de set
Você me ensina o que é amar ❤ #LoveU #Mozi #SemPerna #Aleijado
http://instagram.com/p/tORq1_lf-X/

POLA ESSA OFICIAL @POLAESSAOFICIAL 29 de jul


#ANDANDO DO MEU JEITO VOU TRILHANDO MEU #CAMINHO.
#RAPPER #CADEIRANTE #MC #ALEI ADO #HOMEM #HONRADO…
http://instagram.com/p/rBDYlSvuRS/

Michael @MichaelGoulart_ 19 de set de 2011


127
Nos termos da #interdição

#HumorNegro O #aleijado veio correndo e disse que o #cego viu um #surdo e um


#mudo conversando...

Thay @thay_melo14 14 de jan


@alexandra_kmf @apolinariolet00 @matcassimiro @ATÉ NA HORA DE PEGAR O
BOY ELA É SOLIDÁRIA! #aleijado ❤ �

#CARÁTER FRESCO
alternativa para #fresco homossexual
Mylla @Mylla_Andradee 13 de dez de 2011
#Frechado: conversador, chato
#Fresco: Homossexual masculino
#Frinfa: ânus, reto.
#Frôxo: Medroso

manel @mane0_ 28 de mai de 2011


a epidemia homossexual ta tão grande que o povo diz vou tomar um ar #Fresco

#CHIFRES
' bipolar � :3 @raqueljuness 30 de abr
'se quiser eu chego na sua cr e da sua irmã e falo tudo q tenho q fl ,ms tenho dorzinha d
vcs BJ ���
#Chifre ..so p quem sabe ..kk
#RODADA��

Doctor ho 웃 @Roger_Moyses 11 de fev São Paulo, Brasil


O homem sem chifre é um homem indefeso #Brasil #corno #chifre

#negaloiraa @levitarennata 15 de mar


Melhor coração vazio e a cabeça livre
do que , coração cheio ea cabeça também ,.
de #chifre ✌

128
Nos termos da #interdição

#URINA/FEZES
Mc ineh @mc_vineh 27 de jun de 2011
@mcjoota VOCE COMEU #MERDA E BEBEU #URINA MLK (y)

Cássio Renato ★★★★ @cassio_renato 23 de dez de 2012


tem um detalhe: o forro do meu quarto é de lambri. a merda de um dos #gatos se mijou
e a #urina escorreu. por pouco não caiu no #notebook

#METER O PAU
pega minha pilka @lara_brunam 10 de jul de 2011
tem gente que adora #meteropau em pessoas que nem conhece, e depois ficar se fazendo
de santa !

Maruscka Grassano @Maruscka 6 de dez de 2010


Blog Planeta Joy - Yogur helado Yoguberry: http://bit.ly/gGoI20 via @addthis
Muito bom essa autonomia pra #meteroPau #Descerocacete

Digonada @Drick67 26 de ago de 2011


Comentar é um eufemismo para #MeterOPau! suahsuhaushuahsuahsas

#TREPAR
Informe R O @InformeRJO 11 de abr de 2014
RT @meltarise Não tem casa mais tem 10 filhos, tenho um só e custa caro #trepar
todos querem, trabalhar que e bom nada.

Leonard immy @TRETUDO 19 de jul de 2013


NÃO TEM ESSA DE TRANSAR, FAZER AMOR, FAZER SEXO, É #TREPAR E
PRONTO

larissa @wasjdb 29 de mai de 2013


"sexo emagrece" "sexo alivia o estresse" #PARTIU #TREPAR

D45 N0V1NH4 @JobsonsZika 1 de fev de 2013


hj só quero prazer (6) #sexo #trepar #transar #comer #fazeramor #gozar #prazer
129
Nos termos da #interdição

#ESTAR DURO
rafinha cs @Rafinha_cs 13 de mar de 2014
E hj ainda são 13! Cade dinheiro? #liso #duro #nocash
http://instagram.com/p/lfOGgeEIoF/

Princesa do Guimê @GUIMEZIINHA_ 29 de mai de 2012


coom #dinheiro ée mole. ttodo mundo fecha #contigo . maai se tú tttive #duro quero
veeer quem ée #AMIGO ♪

felipe @barrrosfelipe 6 de set de 2011


Parabéns para os Donos dos Motéis do Brasil , trabalham #duro pra ganhar dinheiro
mesmo só no #DiadoSexo

esley @_wesleyVlwFlw 28 de mai de 2011


Se vooç gasttar todo seeu dinheiro com #Viagra, de um jeeito ou de outtro vooç acabará
fikaando #Duro!

#SER ESPADA
toshi @toshii_ 24 de jun de 2012
@caiquerdrigues q isso broder somos #espada #hetero

Carlos Padua @KaduPadua_ 13 de fev de 2011


Eu não confio nesses resultados de Quiz rsrs Meu resultado entre Homo.. ou Hetero deu
#Espada O_o Maginna Euuu? Rsrsrsrs

Natália @jimmysmcgills 1 de fev de 2013


logan de oncinha #hétero #macho #espada

#TROCA-TROCA
Guilherme ✌ @santoss_guii 15 de abr
Meu boy magia e a amiga �� #trocatroca #terceirão
https://instagram.com/p/1f0M4JqvJh/

130
Nos termos da #interdição

Marcelona ouknowwho @supermarcelona 1 de out


Ih, acho que hoje rola...�
#SEX #KEN #JAILHOUSEROCK #LEVIFIDELIX #TROCATROCA
http://instagram.com/p/tnHBL4Ndvb/

uninho Bill @JuninhoClemente 25 de dez de 2013


@peuvillena faz em mim que depois faço em você! #TrocaTroca hahahahahh

#TROCAR O ÓLEO
Flávio Toledo @flaviotoledoo 21 de dez de 2010
@natyylisboa Se eu soubesse q ía rolar conversa de #trocaroleo nem teria ido, saí de lá
com meus ouvidos poluídos. #soupuro

icente Elício @VicenteElicios 17 de jul de 2011


eeita hein @KathlynPedrosa , #trocaroleo né ? KKKKKK' :D

#CHUMBO GROSSO
InezFrank /Ed Física @Prof_InezFrank 20 de mai
Tbm adorei !!! Vou comprar, usar e presentear. É #Guerra , #esquerda maldita !! Se
prepara q vem #ChumboGrosso !! @ihamma

Gabriel @Strassburger_ 25 de dez de 2013


Vou puxando minha barca tbm, mas se liguem Fidel é #ChumboGrosso quando menos
esperar ele vai pegar vcs meninas haha

Chelo Chagas @CheloChagas 28 de ago de 2013


# Tu ta maluca, respeita o moço, os pretin da aula na cama é #chumbogrosso ♪ (♫)
- http://fb.me/LRFQZ0xd

#JOGAR BURACO
Lucas S. Costa @LuCostaOficial 2 de jan Camaçari, Bahia
Noite de buraquinho! #baralho #LV #LouisVuitton #buraco #jogo #amigos @
Guarajuba Salvador Bahia http://instagram.com/p/xVLX0Nq9mJ/

131
Nos termos da #interdição

Bruno C. Mendes @Bruno_Barman 27 de mai de 2010


@tecnocafe @o_impostor #Frases ditas pelas #mulheres antes do #sexo: Se errar o
#buraco, eu juro que te mato

#HAVER ATRASO NA MULHER

Diniie Linda @DiniieLinda 4 de ago


Ônibus é igual menstruação, quando vce não precisa vem de monte, quando vce está
esperando demora pra caramba!! #atrasada Hshahhahah

Eu Ale @aleeemartins 16 de jul


Seleção musical do dia pq to naqueles dias #tpm #spotify #menstruação #atrasada
#hímen #restaurado… http://instagram.com/p/qgzWx6C1KR/

Marcos anderson @WandersonPegazo 14 de abr de 2014


ACHO QUE A #MENSTRUAÇÃO DA #LUA TA #ATRASADA KKK

#SER BONECA

Carllos Meirelles @Carllosboneca 29 de jun


Viva o hoje sem se preocupar com o amanhã, a vida é curta e é uma só. #AoVivo #Stylo
#BoyMagia #Gay #Boneca http://fb.me/6Tq8arwml

Angélica Castro @sigaangelica 1 de fev de 2014


#tranny #travesti #boneca #tgirls #t-girls #Ladyboys #shemale #Gay #transgenderlife
#trans… http://instagram.com/p/j512r g6f5/

Felipe Nogueira @FelipeNog_Kel 20 de jan de 2011


hmm.. #BONÉCA RT @Jubizzz: Comendo sushi... tao me xingando pq eu posto
gatinhos no twitter... #gay

nathália com TH @nathyferry 5 de dez de 2009

132
Nos termos da #interdição

se o @EduardoSurita é #gay eu não sei! mais que ele parece uma #boneca, ele parece :$
' KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK #parei

#LEVAR FERRO
Edu Cesar @papodebola 26 de out de 2013
@JuarezRoth Queres dizer com isso que, quando avisaram a esses que iriam "passar",
faltou completar que iriam "passar roupa"? #LevarFerro

CaiqueMedeirooz @caiquemedeiroz 10 de ago de 2011


Ain tadinhos os ingleses, saao os que mais sofre ): ;sao os mais sofridos )... Aaa
voooces mereceem mesmo. americanos. #LEVARFERRO!

Horlando Alves @HorlandoBloomH7 24 de jul de 2011


@TititicaReaI Racho de rir qndo alguem fala #OrgulhoGay,
Orgulho de #LevarFerro to Fora kkk
#MeuPauDeOculos

#METER ROLHA
igor oliveira @igor_olii24 21 de set de 2012
dexa um balde de camisinha la igor, vo rasga cabaço de paaaaaaaaa. sexo dentro da
festinha,

Bridges @Suxbernardo 17 de jun de 2011


Itália obriga casal a se separar após marido mudar de sexo http://folha.com/ab931296
#rolha ---> O país de Berlusconi!

#MANDIOCA/XUXU
Pâmella @pamellapriss 7 de ago de 2013
#Partiu #sonhar #Amar #pensar #sexo #Prazer #chocolate #Doce #açucar #Cana #Caldo
#Mandioca #Pênis Parti#Beijuus (: :-*

Pâmela Leite @Paanzinha_x 23 de fev de 2011


Paanzinha_x

133
Nos termos da #interdição

@hannysaika @carolinaamed a hanny com falta de sexo ? O.O aonde ? isso aii da mais
que #xuxú SAHUAHUSAHUSAHUHSAUHSA

#BANANA/MAÇÃ
HotlineMexico @HotlineMexico 9 de jul de 2013
para practicar sexo oral #banana #breakfast #foodporn #sexy #food
http://seenive.com/v/965720378003636224 … #vine vía @seenive

Bruna eirich @bruweirichh 6 de out de 2012


putaria,nada mais que sexo com alegria ? — #vai #banana #vai #leitinho
ahtri heuieeui nãuzz né.. Sl isso ae, é, é... http://ask.fm/a/bibqagm

Filosofei @f1losofeii 17 de dez de 2012


O que voçes fariam com a @ogrinhafofa_ ? #Morango Beijo #Uva Sexo #Maça
Namoro #Melançia Mordo :3

#TER OVOS/ LINGUIÇA


anauanale @anauanale 29 de abr de 2011
sex,sexo,sexe Coelinha #tesuda #quer #meus #ovos: http://bit.ly/hjaQmr sesso,seks

Rodrigo NoXiOuS @rodrigo_noxious 10 de abr de 2014


Luiza mell ñ deve fazer sexo pq tecnicamente ela estaria "consumindo carne".#linguiça

Renata Davies @RenataLocutora 14 de jun de 2012


PENA QUE VEIO COM POUCA #LINGUIÇA RT @Gardini "foi aqui que pediram
pizza de calabresa?" [cena de sexo]

#FAZER SAFADEZA
● v ivei @Raveloliveirah 5 hHá 5 horas

O que temos pra hoje a noite? #Manaus #Amazonas #Safadeza Tô afinzao! marrapax!

binho @Robsoncsu 30 de abr

134
Nos termos da #interdição

Bom dia pessoinhas.. Tirando um sarro de leve aqui no metrô lotado..kkkkkk #safadeza
����

Safadeza +18 ♛ Minhas Safadezas ♛ Rei das Safadezas Safadeza no Snap +18
Safadeza Mode ON 50 Tons de Safadeza

Loirinho Cor de Mel @mmoriginal69 29 de abr


Vamos jogar ao sobe e desce?
#safadeza

#MATAS DE ANGOLA
Notícias de Angola @noticias_angola 28 de abr
Seguidores de Kalupeteka encontrados em matas sem as mínimas condições: Mussende
- Cento e ... http://bit.ly/1EhkuYY #sociedade #angola

GO! Angola @GOAngolaDaily 18 de mar de 2014


programa 030 - Progra exibido em 22 e 24 02 2014 - Festa do Caboclo Sultao das Matas
http://bit.ly/1j0TTU8 http://bit.ly/1fh5eiU #angola

#ENCOSTAR UMA NOTA


u Lund @aJuLund 30 de jan de 2013
Multiplica Senhor, multiplicaaaa!!!! #$ #grana #nota #dineiro #real #100
http://instagr.am/p/VHLeZmj_tY/

Dica do Gui @Gui_Fa 11 de mai de 2012 São Paulo, Brasil


fico inconformado que dei uma #notapreta para comprar meu celular e esse lixo tem
mais bug que tudo :@

Lucas Pedrozo @top50soro_e_vot 23 de mai de 2010


o @atilaabre vem tão bem na temporada que tem gente que pagaria uma #notapreta
pelos descartes dele .... na @stock_car

#CANETA

135
Nos termos da #interdição

Lucas Homem @lucas_homem 19 de dez Torres, Rio Grande do Sul


Metendo uma caneta no pedrokahomem. #goleirapequena #futíbas #praia #caneta @
Prainha - Torres http://instagram.com/p/wxS2xxxVQb/

Moço sábio @rapazsabido 17 de abr de 2011


V ~> #Caderno #Caneta & #Lapizdecor , O Caderno vai ser homem , a Caneta e a
muiee , i o Lapiz de cor e o Coloridin da Familia , kkkk'

#ESTAR NA ZONA/ BURACO/ CANO


Iza ᴴᵁᴱᴴᵁᴬᴴᵁ @FrajoIinha 12 de set de 2011
Esse povo só na #Zona oksaoskao, dançanu até o chão, rodanu no cano, oksoaaskoakok
#PoucosIntendeem

Cauri. @Cauri_ 24 de mai de 2011


@LucaasRaaphael Nem Posso fala nada mesmo .. =S mais sou eu que to num Buraco
mais fundo neah? (maledita #Zona.. ¬¬'

#ENGATE/ TÚNEL
Carolina Castro @CarolinaKhalif1 28 de abr
Podes ate ter carinha de anjo, mas tens um corpo do diabo :$
#engate

Lanzarra @isabel_nsc 19 de jul de 2013


aqueles espertinhos que vêm falar contigo em inglês a perguntar onde é algo e no fim
dizem que são portugueses e pedem o teu numero #ENGATE

Hotmale @andreecorreia 4 de jul de 2013


#engate Não te esqueças do meu nome! Mais logo vais gritá-lo.

#MAIONESE/ROSCA/ESPETO/BANANA
Antonio osé Soares @AtorAmador 6 de set de 2012
VIROU TELE SEXO AGORA DISCK #ESPETO (@McEspeto live on
http://twitcam.livestream.com/by3rn )

136
Nos termos da #interdição

micaella morais @MicaellaMorais 17 de mai de 2011


@Claudiow22 @jlespeto KKKKKKKKKKKKK
de #espeto ter aqueles momentos de indecisão de sexo KKKKKKK e de seus cavalinhos
#Claudio KKKKKKKKKKK

Dotô Preferido @preferido_br 5 de dez de 2011


Sem contar que aquele #pinto tipo #rosca deve ser difícil de usar... #Sexo dos #PorcoS

#COBRA/ MINHOCA
Rindo a Sério @jorge0702 29 de ago
ADAO E EVA NO PARAISO SEXUAL.
http://www.youtube.com/watch?v=7Dx8uCLP tA …
#paraiso #adaoeeva #sexo #rindoaserio #cobra #pepeka #transa #mulherespeladas

Hey Sister @poxa_tuane 13 de mar


“sexo, orgia, biologia ' #caloura #unesc #biologia #biolindos #minhoca hahhahaah ♥
https://instagram.com/p/0JfGlgsqwA/

THE E IL QUEEN @godoflove92 28 de set de 2012


@Onifodente @Camilinha69 @DrMinhoca deve demorar deve ser igual sexo das
lesmas #minhoca #lesma #tudo #a #ver

#FRESCURA
Rodrigo Genari @R10genari 22 de nov
@Estadao virou gay por falta de uma bela surra q nao levou dos pais qdo eram criança
isso sim pra aprender a agir como homem #frescura KCT

Giovana G. Duarte @GiovanaDuarte 14 de dez de 2012


Homem que descasca maçã pra comer #frescura

LOUIS @louisvalqui 6 de jun de 2012 Manaus, Amazonas


Homem com maquiagem? lápis de olho? ACHO PALHAÇADA e não fica legal!
#Frescura #Gayzissi #VergolhaAlheia

137
Nos termos da #interdição

Nil Bacana @homem_bacana 23 de jan de 2012


#FRESCURA pra mulher é feio, pra marmanjo então é muito pior, aff. Vai dar #piti na
casa do caralho! #Hapapoha!!!!

#DAR UM JEITO
Manda. @AmandaTch 19 de fev de 2011
impossivél esquecer tão rápido aquele que um dia você sentiu amor verdadeiro, mas
como fortes para caramba e a fila ajuda.. #dajeito

inícius Marques @vinicmarqs 7 de ago de 2010


@Lestradehabbo Lestrade, dá um jeito na habbid que tá virando parada GLS já tem 3
gayzinhos #dajeito naquilo

Aygret ❂ @chycletin 4 de fev de 2014


O único motivo q a @nataliamoont não fura com vc é se tiver bebida no meio. Pq do
resto... Aff Clara. ;s #dajeito

#DEFLORAR
Danilo Brito @Danilo_Passos 1 de jan de 2011
E aeeee galeraaa, um ano cabacinho na frente de vocês... vamos caprichar, hein?
#deflorar

Em Guam: Há homens em Guam cujo emprego em tempo integral é viajar pelo país e
deflorar virgens, que os pagam pelo privilégio de ter sexo pela primeira vez. Isso porque
pelas leis de Guam, é proibido virgens se casarem.
http://fposts.com/fbpost/451836741536694_739211032799262

#PERDER-SE
th x @thaistando 6 de set de 2011
Se hoje é dia do sexo, em casa que eu não vô ficar ! vô sair pra fazer a #perdida por ai
#sacalma

Pamela Bianca @PanzitchaDavoli 10 de abr de 2010

138
Nos termos da #interdição

@luaninha48 e eu não falei isso =X no meu caso nem que tenha 30 anos vo poder sai e
se falar de sexo pra minha mãe haha to #perdida #exagero

#GOZAR A VIDA
Aline castelo branco @brancoaline 31 de jul
Feliz dia do orgasmo! #instasexo #amoresexo #gozaravida #sentirprazer
#educacaosexual #sexualidade http://instagram.com/p/rHRp-GEb8m/

INGuys @kinguys 2 de nov


Brasileiro flagra punheta do primo cara de pau http://goo.gl/fb/rPaUSO #amadorgay
#flagra #brasileiro #gozação

#RASGAR COLCHÕES
§Ë¢U®¡T @Info_Page_World 31 de ago
#BANQUEIRO deixar #dinheiro debaixo do #colchão, sem investir?E logo o
#presidente do maior banco da #AméricaLatina ? http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-
setti/politica-cia/voces-acham-normal-alguem-comprar-um-imovel-com-dinheiro-vivo-
e-guardar-grandes-somas-em-casa-e-se-este-alguem-for-o-presidente-de-um-banco-e-
se-for-o-presidente-do-maior-banco-do-pais-pois-be/ …

Maxcolchon Portugal @MaxcolchonPt 25 de mar de 2014


Para quem gosta de pôr o dinheiro debaixo do #colchão, para #dormir descansado!
http://ow.ly/i/50Q8A

O UARA @Ojuara41 11 de nov de 2010


O dinheiro podre daquele que gosta de enterrar carros no Oeste, é guardado a moda
antiga #colchão quando a PF pegar...

#FILHO NA BARRIGA
★ Fé in Deeus ' @Guuuui_silva 19 de dez de 2011
Eita Mulher de #Barriga esse Bagulho e doido ,Da cascudo Da cascudo Da Cascudo Da
cascudo no filho dos outro ♫♪

Tiaguinho Luiz @Tiaguinho_LS 29 de jul de 2011


139
Nos termos da #interdição

@samara_gidalmai O melhor falar que você alem de ter o rei na #barriga e no #s2 e ser
filho do #Rei e ser a cara do #papai #Eusouumreizinho

Raffael Machado @RaffaGyn 8 de mai de 2013


As rosas são vermelhas as violetas são azuis, ele pode ate ser fofo mas e você que vai
data a luz #Prenha #Buchuda #Debarriga #Gravida

#GANHAR COBRES
Frank Ostentação @fvernon 16 de mar de 2013
#e #eu #não #sêsse #o #que #parecesse #assim #tão #pobre #sem #um #nó #de #cobre
RT @daniegge: #ai #se #eu #pudesse #e #meu #dinheiro #desse

Patricia Ribeiro . @Pattyy_Ribeiro 28 de mar de 2012


Ewerton Linhares @EwertomLinhares 16 de nov de 2011
Quer botar um doido pra correr, fale em dinheiro com ele #cobre kkkk

Nelson Lourenço @prof_lourenco 16 de mar de 2013


#dinheiro #tiradentes #1992 #brasil #moeda #comemoratica #história #macro
#fotografia #metal #valor

#ACABAR NA FORCA
Rafael Moia Filho @rafamfilho 21 de abr
Que nesta data, Dia de Tiradentes, possamos ao menos em pensamento (Que é livre)
#Enforcar a todos os corruptos do Brasil em rito sumário...

Ana @aana_pa 29 de ago de 2013


Me compararam com uma pessoa maravilhosa... #partiu #enforcar #morrer
#sanguenoolho #adeussonho #deentrarprobdm

Fefiss. @fee_santos2 21 de out de 2011


Cuidado com os laços que faz. Esses mesmos laços um dia podem te #enforcar.

#GALINHA
a Moreenaa, @regianecanjica 29 de abr

140
Nos termos da #interdição

#Galinha que cisca no quintal dos outros amanhece na panela �

MARINA EN DENABOUS @MarinasStrasses 28 de abr


@ladygaga diz: Não sou #galinha mas choco a sociedade! �

Motta @AlexsandroMota_ 23 de abr


Lotadaço o puleiro da #galinha 408 paganmtes no PV kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

#TER PISTOLÃO
Deja Araujo TrezeFC @mdejanea 25 de jan de 2013
@karina_araujopb Não é emprego, já dei o que tinha de dar. Mas vou procurar um, hoje
em dia tudo só funciona à base de #pistolão

Thiago Furtado @jedithiago 2 de fev de 2014


Tempos difíceis se aproximam, não tão ruim como antes, mas exige que eu me readapte
ao local de trabalho #eleição muda muita coisa #pistolão

#ABRIR O CANAL
Debhora Cristtina @Debhora_Pereira 8 de abr de 2011
@GustavooMelo vai ser dia 7 de maio quem me falo foi o @Gabbriel_Silva parece
que o #Canal vai abrir , vaamoo siiim hehe

Comunidade Avril @AvrilOrkut 10 de jan de 2011


@veeh_relvas quer ser não, eu vo trabalhar no #PANICO pow. ou melhor eu vo abrir
um #CANAL zika haha'

#DONO DO CIRCO
immycori F. @JimmycoriF 19 de set de 2011
Convivi tanto que acabei iludindo tb, agora so resta se torna #donodocirco e pedir
minhas sinceras #desculpas.

ari cristinna @AriCristinna 14 de jan


#VerdadeVerdadeira

141
Nos termos da #interdição

Quando um homem tenta fazer uma mulher de #PALHAÇA, esquece que ela tem poder
de torna-lo #DONOdoCIRCO

#SER CENSURADO
Só 1 @allucinogenesis 30 de abr
Meu comentário também foi #censurado http://fb.me/196Y1usDR

rurei @Hoorayforfakes 12 de nov de 2013


COM EXCLUSIVIDADE O COMENTÁRIO QUE FOI #CENSURADO PELA PÁG
MELHORESR DO TWITER #REVOLTADO #FEICE #OGIGANTEACORDOU

Mário Bentes @TudoBentes 16 de out


Será mentira também que o Google foi acionado por Aécio para ocultar resultados sobre
ele? A verdade é que #CENSURADO.

#SER VENDIDO
Frô do izzle @kaportela 4 de fev de 2011
Hj eu to totalmente Rock 'n Roll.. exatamente o estilo que o Nick Carter nunca deveria
ter

Renato Smith @RenatoSmithII 22 de out de 2010


@franssinete diferente de vc não recebo um centavo pela minhas manifestações, por
que eu tenho carater e não sou #VENDIDO

#PEDERASTA
zabelly @jaurewishs 15 de abr de 2013
'' Desde pequeno gay '' '' @micaelborges sempre engraçadinho! #pederasta! Kkkkkkk ''
http://instagram.com/p/RDNvmxPDvZ/
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Lucas @LucasStroppa 29 de ago de 2011


@ighor_f Vc tem o q fazer? VOCE TA DIZENDO QUE SEU CABELO NA RUA
FICA POSSUIDO PELO RITIMO RAGATANGA e vem dizer que não é gay.
#pederasta

142
Nos termos da #interdição

#JUSTIÇA CEGA
silvaneyrubens @silvaneyrubens 29 de abr Macapá, Amapá
Ta vendo como o roubo compensa! Vc roubar milhões e depois volta ao trabalho como
se nada tivesse acontecido #JustiçaCega #BrasildosCorrupto

Rosa de Nagasaki @anacronices 23 de abr


Será que o Moro viu o vestido azul e preto ou branco e dourado? #JusticaCega

#PORCO/ SUJEIRA
Eduardo Porto @EduardoPorto01 7 de out
Parabéns @LuisTibe, ganhou como o candidato mais sujo de Minas Gerais. De leste a
oeste, norte a sul. #Porco!

Nympho Drogado @luismphotograph 11 de set


O preto tem o carro sujo e eu toca a escrever #night #car #black #preto #porco #sujo
#carro #renault http://instagram.com/p/syRcjvOg_t/

bia @pqbibia_ 22 de mai


renan você não toma banho, vaza #porco #sujo #culpadacopa
#LIMPEZA
francisco. @fdiniis 26 de abr
Não bebi nada #limpo #responsável https://instagram.com/p/16vIpQqk0D/

Simone Torres @simonytorres 19 de mar


@CezarLOficial Que DEUS proteja nosso Cézar de todas as energias negativas da
Amanda e que ele seja líder hoje. Ele merece! #Digno #Limpo

#AMANTE/ ADULTÉRIO
Fernando Peniche @FePeniche_ 7 de jul de 2013
QUANDO FALA DE #SEXO, #PORNOGRAFIA, #MASTURBAÇÃO,
#ADULTÉRIO, #FICAR... NÃO ESTOU FALANDO SÓ PARA OS HOMENS, MAS
TAMBÉM PARA AS #MULHERES!

143
Nos termos da #interdição

orge Hessen @JorgeHessen 18 de set


ATIRE-LHE A PRIMEIRA PEDRA http://goo.gl/fb/iSA7J2 #artigos #adultério
#tolerância #traição

Eye Of The Hawk @FelipeVakarian 14 de jan de 2013


Solicitação de Abril do Superman "Who is the person with the power to turn Wonder
Woman against Superman?" #Traição #Adultério #Catra

#CEDER/ VERGONHA/ DESCARO


Twitteiro BBB @twitteirobbb 15 de mar de 2014
#BBB14 #BBB edição descarada hein @Boninho? Vcs estão querendo prejudicar o cara
desde o inicio. Querem vender esse romance fake? #Vergonha

sandrafeltrin @sandrafeltrin 17 de jul de 2013


@marisa_lobo perseguição contra cristãos descarada! #VERGONHA

Feliphe Caian @feliphecaian 21 de jun de 2011


@tailebrao vc não tem vergonha não menina descarada; toda vez que fica uns dias ai
você estorque algo de mainha ou painho ¬¬' ; #vergonha

#PENTE FINO
Tmir @Tmir_lima 14 de mar de 2012
Vou passa o #PenteFino no meu twitter!
Só Sigo quem me Seguir Dvolta...
[Vou Começar Em 5 Min...]

☯ Ta lgd neé ☯ @Leex_ziica 30 de nov de 2011


noooossa , onteem os caara me zuuo demais .. tbm eu sooltei moó breexa kkkkk tãao
falando qe eu saai do #pentefino oóas ideia .. kkkkk

Marcelo Diana @marcelodiana 14 de nov de 2011


toda vez q tomo banho eu arrumo uma confusão na hora de passar shampoo nos cabelos
q penso "ai, nunca mais vai ser como antes". #PenteFino

144
Nos termos da #interdição

#EM NOME DE ALLAH


‫@ محمد آل برت‬MohammadAlberth 8 de jun de 2012
Em nome de #Allah O Misericordioso O Misericordiador http://fb.me/BJPEAjAb

Big Brazil @BigJBrazil 2 de set de 2010


@Dani_Brasil, você tem que mudar seu nome de "Daniel de Jesus" pra "Daniel do
IPhone"... Sério! Que #Allah o guie amigo!

#PEITO SALIENTE
hanna @pipernojenta 13 de out de 2012
@pfvrlucax @liveformars @boyligandragon MEUS PEITO É TIPO KATY PERRY
BEIJO PRA VCS U-Ú #linda #gostosa #saliente #eplagiadora

duarte @vtncgui 18 de dez de 2012


@bianca_ramos #novinha #saliente #poderosa #risos #peitos #maisrisos
http://instagr.am/p/TZkxLKI-dq/

#METER O PAU
pega minha pilka @lara_brunam 10 de jul de 2011
tem gente que adora #meteropau em pessoas que nem conhece, e depois ficar se fazendo
de santa !

Luiz Fernando Abreu @luigi1409 29 de set de 2010


Silas malafaia só quer poder #meteropau nos homossexuais, mesmo assim afirma que
não discrimina ninguém! mas Deus discrimina! #eleições2010

#ABORTO
oão Eduardo @EduArtes 27 de abr
#Aborto é assassinato!
Todo direito de qualquer pessoa é restringido pelos direitos de outras pessoas, o
direito... http://fb.me/6yeJjHL6z

Diário Liberdade @diarioliberdade 30 de mar

145
Nos termos da #interdição

Mulheres acusadas de fazer #aborto exigem liberdade em #ElSalvador


http://goo.gl/Yx7Lew

#DAR O TROCO/ DUELAR/ ABAFAR


Massengo unior @junior_modelo 29 de jun
Quiz #duelar comigo dançando no #metrô passou vergonha kkkkkkkk
http://instagram.com/p/p1i1D5APll/

Ousadia Alegria @Jonatasweslhy 4 de jan de 2012


As únicas pessoas às quais você deve tentar "#darotroco" são aquelas que o ajudaram.

Eveline Gonçalves @EvelineGS 26 de out de 2011


@nessa_miranda mas eh claro q @alyson_vilela vai aguantar.. eu passei 10 dias sem
ele... #DarOTroco!! kkkk eh bom pra apimentar a relaçao ;D

#COMPRAR O AMOR
Thiago Rebelo @thiagocasttro 11 de jun de 2012
Comprei uma jóia da H.Stern coisa simples, um colar de R$ 4.500, mas não tenho quem
presentear!! Quem quer? #comproamor hauahua q triste =(

Marci silva @Marcysilva47 14 de fev


N entendo pq tenho q pagar por chocolate� !!! chocolate é #AMOR � E amor não se
compra!!! �����

#UM LAR
FAGNER PINHEIRO @fagner_madonna 4 hHá 4 horas
Quero chegar no meu #lar, comer #pão, ir ao #supermercado e depois #dormir até
cansar

alter santos @Fredzap25 1 de mai


o frio ameniza e o sol da as cara feriadao. #sp vamos algo de bom pra curtir. e
abandonar a frisgem do #lar.

iviane Petri @isaacparasempre 1 de mai


146
Nos termos da #interdição

É tão bom amara e ser amado. Coisas que fazem todo sentido.
#boanoite #amor #amar #lar #familia… https://instagram.com/p/2Hq0jPp0Iv/

#VIR DO INTERIOR
gabi fedato @gabi_fedato 9 de jan São Paulo, Brasil
bem tosca mesmo tirando foto na Paulista as 4h da manhã �� #fimderolê #turista
#vimdointerior @… http://instagram.com/p/xoZkezMo4c/

Teté Almeida @tete_almeida 24 de dez de 2011


#vimdointerior @ Casa da mama http://twitpic.com/7y02v0

Petterson Farias @Pettersonfarias 1 de jan de 2010


Todo trabalhado na pele marrom-bombom. Onde eu moro não tem praia, daí fico doido
quando vejo uma. #vimdointerior

#CARNE/ FARINHA/ FEIJÃO


Airton unior @AirtonJr_ 5 de jun Fortaleza, Ceará
Obrigado Senhor por esse alimento. #arroz #feijao #ovo #tomate #pimentão
#mortadela… http://instagram.com/p/o3kw7NL7Dt/

Michael @Michael__CRF 11 de fev de 2014


FOOOOOGO EU TE AMOO,NÃO ME ALIMENTO SEM VOOOCÊ
#Feijão #Arroz #Fome

Pobre uan @PobreJuan 6 de fev de 2014


Alimento para o corpo e para a alma. #restaurante #pobrejuan #carne #steak #parrilla
#tagsforlikes #followme #ins...

#ENTREGAR-SE
☆ Ní ☆ @Ni_Avellar 3 de abr
- Porque o nosso futuro depende de nossas ações no presente !
#SePermitir #SeEntregar #DarOPrimeiroPasso... http://fb.me/6tILeclTL

147
Nos termos da #interdição

Laís Maciel @lalahmaciel 17 de jun


Viver! #forcanaperuca #correratrasdossonhos #amarquemmeama #seentregar
http://instagram.com/p/pWE9mEKQe4/

Alex ზ illian ♥ @FCAlexeWillian 1 de set de 2011


Assim que @AlexeWillian tiverem com 2 mil seguidores rola uma twitcam
#Sobrenatural ....Então bóra #SeEntregar e #Indicar =)

#FARRA
Douglas Philippe @PhilippeVega 2 de mai Oliveira, Minas Gerais
Uns na #TomorrowlandBrasil...
Outros se arrumando para ou já na #farra...
E eu aqui nessa p rra… https://instagram.com/p/2Mnlt-tnAy/

Matheus Nunes @MtsGonzales 2 de mai


hj tem vic siiiiiiiiiiiiiiim e tem a melhor festa siiiiiiiiiiim #farra

Bruno Luiz @brunoluiz78 2 de mai Natal, Rio Grande do Norte


E a #Farra do Sabadão continua!!!

Eu e meu filhote #Guilherme , na casa da sua avó materna @ Natal…


https://instagram.com/p/2MdkyqJPOp/

#BOTAR OVO
Zoio @Victoribeiro10 26 de jan de 2013
Que time ele torce mesmo ? #galinhada #serieC#sofridas #cacareja #botaovo
http://instagr.am/p/U9HHfmuQh7/

Sara Moraes @Saa_Buttowski 29 de set de 2011


A @kaa_maarques Fica fasendo umas dançinhas estranhas parece que vai #Botaovo
SHAHSAHSHASHASHA e depois fala de mim Rum.......

#PEGAR NO BATENTE
Rosabelle @rosabelleregia 21 de fev Pindamonhangaba, São Paulo
148
Nos termos da #interdição

"Cabôsse o que era dôce" #pegarnobatente #partiuvalencacity #rj @ Via Dutra


http://instagram.com/p/zXgFb2mJFd/

L pe Hadan @FellipeHadan 21 de nov de 2011


Eeiitxa q esse mes me mal acostumou! Mais dois dias de folga...hehe' mas ta acabando
ja e apartir dessa semana o côco seca! #pegarnobatente!

#MANJAR
Alors on Danse @Phaeozim 17 hHá 17 horas
@JohnVFFC essa so quem #manja #manja

Sua mãe @isadoramoraes 24 de abr


Guerrero #manja de história do clube em que joga, né? Passa mais vergonha, mais
recibo e chora mais, migo

#BRINCAR
♫★♪♥♫★♪ Edmarcy ❥❥❥ @Edmarcy 13 de set de 2013
...hahaha!!!Então pra quê #INVENTA _ñ sabe #BRINCAR:DDD #Homem é #preso em
#briga após #sexo a 3 = ) ao ver #namorada ' #continuar' #semele

.Freitas @freitas_w 10 de jan de 2012


@stefano_pqp programe ae sexo ao vivo com outra pessoa, que vc ganha mais
#brincadeira kkk

#ROUBAR/ ENGANAR
Guilherme @GuilhermeAnjos 10 de jun de 2013 North Westside, FL
o #amor é quando #começamos por nos #enganar a nós #próprios e acabamos por
enganar a outra pessoa ..… http://instagram.com/p/aYksT1I2MR/

Lucas souza @luckbrody 7 de abr de 2013


#noia #partiu #roubar seu coração princesa, é muito #amor hahaha #boanoite ��
http://instagram.com/p/X066UFM563/

149
Nos termos da #interdição

#RÉPTEIS
Bruno Correia @brunao_correia 2 de nov de 2013 Canoas, Rio Grande do Sul
Ela sobe, ela desce, ela tem um corpo 'mole' #dormideira #snake #repteis #biologia
#s2s2 @ Estação… http://instagram.com/p/gOv1j8A3Q /

Mc Oreia Oficial @oreiamc 1 de set de 2012


Os homes conseguem controlar #Répteis e #AnimaisFeroz mas nao conseguem
controlar a lua prapria #Língua. Bom dia familia sabadao lindo

#VER ESTRELAS
MILANI FOT GRAFO @ricardomilani 14 de dez de 2012
É isso que dá misturar bebidas, kkkk #insonia #verestrelas #whisky #cachaca #brasil
http://instagr.am/p/TP8gjWwTm7/

orge Daniel Martins @borajorge 10 de fev de 2011


Eu quero #FalarEmMistérios, Eu quero #AndarSobreAsÁguas, Eu quero #VerEstrelas,
... eu quero mais, mais de #Ti #Senhor!

Ana Paula Tigre @moicanosingelo 16 de ago de 2010


@Bre_Borges demorou mas entendi ehehhe, acredito q a mistura das técnicas e a
variação dos processos sejam a chave do sucesso #verestrelas

#PEGAR NA MERCADORIA
Halli Miller @hallimiller 8 de abr de 2013 João Pessoa, Paraíba
Que bela #Mercadoria foi essa no #CQC??? Não gostei heim....

Matheus Cássio @MattheusCassio 11 de abr de 2012


Mulher que escolhe homeem peelo #bolso , naum pode reclamar qndoo é tratada como
#mercadoria

Marrenta @_Loiiraaa_ 29 de set de 2012


Mania idiotta qe aLguns caras têm de achar qe podem ttocar, pegar, aperttar #muLheres
como se avaLiassem uma #mercadoria...

150
Nos termos da #interdição

#MISÉRIA
Ento @emersous 30 de abr Unaí, Minas Gerais
Eu quero um short Ellus pra levar pra praia mas quem disse que eu tenho coragem de
dar $200 em uma peça apenas? #miserável

Roberley Criniti @RoberleyCriniti 8 de set


@JornalOGlobo Nenhum líder na humanidade tem poder suficiente para insinuar ou
ostentar nada. Pretende o que? #Miserável =

Eike Diêgo @EikeDiego 7 de jun


#ElBullyingNoEsUnJuego' #Humilhar os outros não te faz valente,forte,superior,
só te faz #Miserável .l.... http://fb.me/1dtHpkm7U

#INOCÊNCIA
Hernan Olivares @HernanOlvrs 13 de jul
Nunca de ouvidos a ninguém ,exceto a sua criança interior ...#vida #inocência #pureza
#veracidade #fotografia #...

Ruth Maria e ander @RuthWanderCN 10 de mar de 2014


As crianças não sabem o que é preconceito até que um adulto lhe ensine. #igualdade
#amoraoproximo #inocência #pureza

Alinne docinho @alinnedocinho 20 de abr de 2010


Pedro Bial revela que "rola sexo" entre participantes do "BBB" http://migre.me/yoru
Owww que novidade..ninguém sabia dissoo.. #Inocente

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Nos termos da #interdição

Proposta de visualização para o conjunto de publicações recuperadas nas redes sociais

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Nos termos da #interdição

Conclusões parciais

Acreditamos que seja necessário, ao se estudar os sistemas de vigilância a


recuperação do que as mídias digitais representam em termos de visibilidade, de
circulação de conteúdos numa ordem própria e muitas vezes alternativa aos grandes
meios de comunicação canonizados. Assim, passamos do sistema de classificação atual
para os desafios representado pelas mídias digitais.
Entendemos que o trabalho da classificação indicativa concentra-se nos recursos
audiovisuais, especialmente em relação ao cinema e a televisão e atualmente também
com um olhar sobre os jogos eletrônicos. E, com isso, observa os meios que atingem
mais massivamente o público e que lidam geralmente com a dinâmica da imagem.
Embora saibamos que tal diferença é balizadora dos trabalhos de classificação
indicativa, acreditamos que os ambientes digitais tem representado uma maneira
crescente de fazer circular conteúdos que cumprem os mesmos parâmetros do domínio
imagético e da presença massiva, ou podemos dizer, viral.
Ainda, entendemos que tais iniciativas aproximam-se dos recursos que estão
próximos do público infantil e do feminino, como públicos com necessidades especiais
e preocupações distintas na execução das produções. Tais públicos, nos meios digitais
aparecem no direcionamento discursivo das produções, mas ao mesmo tempo são
uniformizados pela atuação dos mesmos como usuários. A figura do usuário indistinto
será interessante para nós como forma de pensar a dificuldade de limitação de um
público que carrega a marca da indistinção e da pulverização.
Nesse sentido, reforçamos a iniciativa de atualizar os materiais que são objeto de
classificação. E ela pode acompanhar as produções que têm um foco produtor mais
claro. Isso organiza a possibilidade de estabelecimento e manutenção do cumprimento
de regras. De outro modo, os recentes processos legais que se aplicam aos meios
digitais, especificamente envolvendo empresas atuantes na internet, confrontam-se com
o desafio de fazer frente à regulação empresarial e, muitas vezes, com a dificuldade de
identificação da fonte produtora de conteúdo, como mencionávamos.
Faz-se, então, um investimento em acompanhar a indústria do entretenimento
em suas produções que possam envolver principalmente referências sexuais ou de
violência.

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Nos termos da #interdição

Videogames têm se tornado – como, antes deles, livros, revistas,


filmes, histórias em quadrinhos, músicas e a televisão – foco de
censura e esforços regulatórios. Diversos governos ao redor do mundo
têm aprovado leis que restringem o acesso, vedam conteúdos ou, até
mesmo, proíbem determinados jogos. A cada ano, um número
crescente de países estabelece regras de censura, sistemas
classificatórios e agências de avaliação com o objetivo ambicioso de
regular games em uma ampla variedade de plataformas (WIEMKER,
2014).

O autor destaca a interatividade como uma das principais características para que
tais produções sejam alvo da atenção de sistemas de vigilância e classificação. O
movimento de colocar-se na posição daquele que executa a ação faz emergir dilemas
morais. E o debate se faz em torno da diferenciação entre as formas de entretenimento
que distanciam o usuário do relato contato e aquelas que procuram criar uma sensação
explicitada de identificação. Do ponto de vista de muitos dos estudos na área de
linguagem, poderíamos matizar essa questão a partir da diferenciação entre fantasia,
imaginação e a ordem alinhada com a realidade. Destacamos, então, o movimento de
identificação como um dos motores para que a atenção regulatória seja acionada, nos
temas em que esse movimento de soma identificatório é considerado indesejável.
Neste momento, destacar essa informação nos convém para apontar que a
mesma abertura para a interatividade desperta a ação autoral nas mídias digitais em
geral. Entendemos por esse movimento de interatividade a ação de colocar-se como
autor de um conteúdo ao qual se adere imaginariamente. No caso das redes sociais que
comentamos, os mecanismos de publicação e compartilhamento permitem tal nível de
vinculação aos conteúdos em circulação.
Entendemos, ainda, que haja um esforço de concentrar-se nas produções
imagéticas e sua potencial influência no público De alguma forma, em virtude de
questões que podemos estudar sob os desígnios dos estudos de imagens, há uma
assunção teórica de que a imagem exerceria o movimento identificatório mencionado
com maior intensidade por dois motivos que refutamos: (1) uma atribuição de
imediatismo à comunicação feita figurativamente, em contraponto à textual e (2) em
decorrência, uma certa atribuição de maior manipulação e controle sobre o receptor.

154
Nos termos da #interdição

Observamos, de todo modo, que há um ímpeto em direção à imagem que se


processa no atual uso das mídias digitais e que não pode ser acompanhado. Destacamos
que uma das principais plataformas de disponibilização de conteúdos online, o Youtube,
está baseada na postagem de vídeos. E, ainda, outra dessas grandes plataformas, o
Facebook, atualizou seu layout de modo a privilegiar a apresentação de fotos e vídeos.
Há um consenso entre os estudiosos da área de que a direção da produção e circulação
de conteúdos na internet baseia-se em fotos e vídeos. A produção através de celulares
com câmeras e conexão com a internet e a disponibilização destes conteúdos nas
plataformas que mencionamos. Um dos desafios na internet é a possibilidade da
transferência dos arquivos de imagem e áudio, o que vem sendo cada vez mais possível
ao passo do desenvolvimento técnico.
Nessa perspectiva, a visibilidade das imagens disponíveis na internet já pode ser
considerada relevante para um sistema de vigilância sobre o que é publicizado. As
mídias digitais tornam-se meios populares de circulação e disseminação de conteúdos.
E, desse modo, a forma de circulação de conteúdos nas redes sociais cria dificuldades
em relação à regulação dos mesmos veiculados por instâncias produtoras. Ainda no caso
dos jogos que mencionamos, há a definição de uma instância produtora clara à qual se
pode recorrer para a aplicação de uma regulamentação. No caso das redes sociais, as
tentativas de regras comuns estão baseadas não na instância produtora, mas naquela
empresarial. São empresas que balizam os conteúdos publicados debaixo de sua
ordenação nos termos da programação de uma plataforma. A baliza que mencionamos é
mais comumente assumida pelas normatizações legais ou do politicamente correto.
O que se pretende é preservar a atuação da empresa de retaliações legais. A
publicação dos conteúdos é em grande parte pendente ao lado do usuário-autor. A maior
parte das sanções que este usuário sofre é posterior ao momento da publicação.
De outra maneira, mencionamos que o processo de classificação tem um tempo
para ser executado, diferente da postura geralmente de ação posterior à publicação em
relação às mídias digitais. Mais do que tentar acompanhar a totalidade das produções
veiculadas, a internet propicia o acompanhamento dos rastros daquelas que são
replicadas. Uma publicação que ecoa polemicamente entra num circuito de visibilidade
e ao mesmo tempo de regulação. Fazemos evidenciar a relação entre processos de
interdição com aqueles de atestada visibilidade.
Não podemos deixar de citar o debate atual sobre a aprovação de um marco
regulatório para a internet. Observamos que ela se estabelece mais num plano da

155
Nos termos da #interdição

estrutura do uso das mídias digitais, do que da avaliação de seu conteúdo como estamos
recuperando. Há uma preocupação com as instâncias de poder dentro da operação do
negócio destas mídias, empresas, produtores de conteúdos e usuários. A decisão sobre
quais conteúdos barrar ou incentivar parece obsoleta neste ponto. Ela está relegada à
atuação do usuário e autorizada nele. Ao mesmo tempo, há um outro tipo de vigilância
realizada de usuário a usuário que se manifesta de maneira contundente.

O que distingue a hipermídia é a possibilidade de estabelecer


conexões entre diversas mídias e entre diferentes documentos ou nós
de uma rede. Com isso, os “elos” entre os documentos propiciam um
pensamento não-linear e multifacetado. O leitor em hipermídia é um
leitor ativo, que está a todo momento estabelecendo relações próprias
entre diversos caminhos. Como um labirinto a ser visitado, a
hipermídia nos promete surpresas, percursos desconhecidos... (LEÃO,
1999, p. 16).

Fizemos um traçado considerando desde o material textual de teatro sob o crivo


da censura, o audiovisual avaliado no sistema de classificação indicativa e a replicação
de conteúdos na internet. Acreditamos que o histórico de nossas pesquisas revela,
independente das formas de vigilância, uma preocupação constante com o rompimento
de limites morais e o ímpeto de proteção sobre aqueles considerados dignos dessa
necessidade, geralmente mulheres e crianças. Se inicialmente tínhamos palavras
censuradas, excluídas dos textos, em seguida temos a limitação da exibição de cenas e,
de alguma forma contínua, o bloqueio de páginas de usuários e das imagens que
publicam.
Como efeito, pensando na posição do sujeito-leitor inserido como nó da mesma
rede, mais do que uma perspectiva sobre a rede que pensa sociologicamente a inclusão
dos sujeitos, visamos a um recorte que os saiba ao mesmo tempo individualmente e
coletivamente na estruturação da rede no domínio da linguagem. Ainda assim
acreditamos, e justamente assumindo esta forma como privilegiada, ser possível acessar
a discussão da censura associada a temas, ideários, identificações e a história de
exclusões e dominações.

156
Nos termos da #interdição

(...) uma política voluntarista de parte dos poderes públicos, de


coletividades locais, de associações de cidadãos e de grupos de
empresários pode colocar o ciberespaço a serviço do desenvolvimento
de regiões desfavorecidas explorando ao máximo seu potencial de
inteligência coletiva: valorização das competências locais,
organização das complementaridades entre recursos e projetos, trocas
de saberes e de experiências, redes de ajuda mútua, maior participação
da população nas decisões políticas, abertura planetária para diversas
formas de especialidades e de parceria etc. Enfatizo, mais uma vez
que esse uso do ciberespaço não deriva automaticamente da presença
de equipamentos materiais, mas que exige igualmente uma profunda
reforma das mentalidades, dos modos de organização e dos hábitos
políticos (LÉVY, 1997, p. 185, 186).

Tendo iniciado com a questão da autoria nas mídias digitais, neste momento
reforçaremos a análise de que tais mídias apresentam seus conteúdos de forma
fragmentária. O importante nesse processo de divisão é a abertura gerada para que se
construa um caminho, que pode ser diferente para cada usuário, a cada passo, a cada
clique. Nesse sentido, podemos considerar a produção de conteúdos como ramificada,
rizomática e ao mesmo tempo interligada em níveis. Muitas vezes é possível determinar
um ponto de partida, ou um nível mais geral onde se concentram as aberturas de
caminho (uma página inicial), outras vezes o cerne da unidade de sentido é uma
tentativa de aprender com os interesses do usuário. Isso nos leva, fechando o clico,
novamente à questão da autoria. E ela se mistura com o binarismo dos códigos de
programação para que se escrutine, cada vez melhor, os interesses daquele que clica.
Podemos discutir sobre as possibilidades de livre expressão nas mídias digitais a
partir desta perspectiva que vimos trabalhando, de um enfoque na atuação individual do
usuário. Sua conexão social está identificada na formação de grupos e nas trocas a partir
da aproximação de perfis individuais. Estes que podem se associam a outros grupos,
também fragmentariamente, dentro da mesma rede. A valorização de uma potência
individual, que seria parte da atribuição de um imaginário de liberdade de expressão na
rede, se contrasta com o isolamento nessa mesma particularidade. Devemos considerar
o sentido de viralização como a possibilidade de um corte verdadeiramente de sentido
social a perpassar a rede. E, assim, o exercício de atribuição de valor, que o que estamos
chamando de sedução, de movimento comunicador pode ocorrer ali.

157
Nos termos da #interdição

O controle dos discursos está também na possibilidade de organização da


memória, da seleção, da repetição de tradições e do obscurecimento de outras
referências. O efeito da passagem do tempo e dos deslocamentos de sentido.

O que deve ser guardado para o entendimento da relação entre a tecnologia e


a sociedade é que o papel do estado, seja interrompendo, seja promovendo,
seja liderando a inovação tecnológica, é um fator decisivo no processo geral,
à medida que expressa e organiza as forças sociais dominantes em um
espaço e uma época determinados (CASTELLS, 1999, p. 31).

Quais as ruínas materiais quando se trata do arquivo digital? Toda a memória


pode ser armazenada? O que será perdido? Podemos usar como exemplo a empreitada
pelo direito ao esquecimento.
A proposta de pesquisa teve por objetivo apresentar importantes questões
teóricas para o estudo das chamadas novas mídias, consideradas dentro do âmbito
conceitual dos estudos de linguagem, preocupando-se tematicamente de seus
mecanismos de interdição constituintes. Chamamos novos meios àqueles que se
utilizam de recursos tecnológicos associados ao desenvolvimento da eletrônica e da
disseminação dos usos do computador. Pretendemos uma abordagem que analise as
práticas midiáticas advindas de seu desenvolvimento e a originalidade de sua
articulação narrativa. Assim, consideramos relevante como problemas chave para
entender a dinâmica do meio, voltar ao estatuto da palavra, à noção de arquivo e ainda,
à formação de rede. Ao longo do curso, apresentaremos conceitos que permitem olhar a
forma da produção textual e a condição relacional que se estabelece entre termos.
Nosso objetivo é articular sobre como os novos meios apresentam também novas
formas de práticas midiáticas e a inserção das mesmas no discurso corrente sobre o
fazer comunicacional. Acreditamos que exista neles um embate neles entre dois
imaginários: a possibilidade ilimitada de acesso à informação, de um lado, e o exercício
de práticas de interdição, de outro. A anunciada perspectiva teórica tem sido muito
incipientemente acionada para estudar as questões trazidas pela grande amplitude do
uso das novas mídias e das novas tecnologias. Assim, o curso tem um caráter de
oferecer abertura teórica diante de um tema atual e que tem alterado as dinâmicas das
produções midiáticas, e, ao mesmo tempo, extrair um debate profícuo através de
atividades práticas envolvendo a análise de diferentes materiais.

158
Nos termos da #interdição

Acreditamos que seja interessante ancorar diversos dos debates que estão sendo
feitos sobre o uso dos novos meios e suas práticas comunicacionais no arcabouço
conceitual dos estudos de linguagem. As relações estabelecidas especialmente com os
conceitos de signo, de discurso, de texto, de arquivo e de autoria situam as dinâmicas
em rede num campo que privilegia seu caráter logicamente interligado. Elencamos as
principais noções que acreditamos poderem ser estudadas, revisitadas para uma reescrita
de nosso entendimento sobre os meios digitais:

- O estatuto da palavra: vale observar como existe uma marcação sobre a palavra na
constituição das conexões na web e como fazer a passagem para a ideia de signo.
Podemos trabalhar as consequências disso no olhar sobre a produção para os meios
digitais.

- Dinâmica de diferença e repetição: A partir da exposição sobre a natureza da


linguagem, referenciar os processos de replicação de conteúdos, de construção de texto
sobre texto, da existência da variação que é da ordem da opinião e do comentário, da
possibilidade de nomeação e de indexação a partir da visualização/concepção da
diferença. Esses movimentos são presentes na base das mídias digitais e na maneira de
se fazer uso delas (atuação de segunda ordem sobre o texto).

- Processos de indexação: Como decorrência desta marcação na linguagem através do


nome temos a consequência da circulação destes mesmos conteúdos. E o avesso dessa
circulação como interdição.

- Tabuísmos linguísticos: fazendo um retorno à questão da palavra, mas marcando sua


circulação com a interdição sobre os discursos, temos a circulação dos termos interditos.
Nas mídias digitais, especialmente pensando nas redes sociais, há um jogo de exposição
e ocultamento destes termos.

- Operações da memória: os processos de interdição tem relação direta com os


mecanismos de apagamento e de resgate da memória. Essa questão é premente quando
pensamos na possibilidade de acúmulo de informações que as mídias digitais oferecem.

159
Nos termos da #interdição

- Arquivo: O que nos é oferecido é a abertura e a compilação, indexação e


disponibilização de arquivos como forma de suprir os apagamentos da memória. No
entanto, podemos questionar a eficácia do desejo de realização do arquivo total.
Discutimos a possibilidade de uma unidade de arquivo.

- Linear e não linear: há formas narrativas consagradas e que oferecem uma conhecida
estruturação lógica. Discutir de que maneira as mídias digitais oferecem a possibilidade
de desmontar essa sequencia, oferecendo outra configuração lógica. Discutimos o sonho
de algo que seja caótico ou não linear.

- Rede: a resposta á questão da vontade pelo disperso e não linear vem na forma da rede.
Debater as várias aberturas deste conceito, que não é unificado e pensar como ele pode
descolar do que se entendia como estrutura ou cadeia sígnica.

- Identificação: trazer o debate sobre identificação é discutir as formas de coesão social.


Cada vez a rede é mais um chamado não pela ligação entre conteúdos, mas entre
pessoas. Nesse sentido, estariam os processos identificatórios na base da estruturação
das redes?

- Autoria: Podemos nos perguntar se há um ponto de partida na rede, um ponto de


partida para este movimento de identificação e a resposta pode passar pela noção de
autoria. Podemos discutir a autoria tanto pela aproximação entre as posições de emissor
e receptor, com a possibilidade de publicação e geração de conteúdos não exclusiva a
um seleto grupo. E também podemos discutir autoria pela condição de fazer nó na rede
que comentávamos, de ser ligação nos textos da rede.

- Unidade de sentido: Com isso fazemos a pergunta final, quais são as categorias que
oferecem unidade de sentido e como elas são transportadas para os ambientes digitais?

Desse modo, podemos situar a questão da novidade anunciada para estes meios
com base em modelos discursivamente reconhecíveis. A fundamentação teórica e o
debate informado sobre os novos meios é importante hoje diante de seu uso extensivo e
ampla incorporação nas dinâmicas de interação social. Uma questão se destaca ainda,

160
Nos termos da #interdição

em relação à possibilidade de interposições e interdição em oposição a um movimento


de maior conexão e encontro.

Os artistas não fazem seus registros, necessariamente, nas linguagens nas


quais as obras se concretizarão; estes apontamentos, quando necessário,
passam por traduções ou passagens para outros códigos. As linguagens que
compõem esse tecido e as relações estabelecidas entre elas dão singularidade
a cada processo (SALLES, p.99).

O presente trabalho tem fundamentação, assim, num percurso já estabelecido no


nível da graduação e da pós-graduação, sob a designação de ciências da linguagem e
que compreende as diversas teorias do signo que resultaram em correspondentes
abordagens teóricas. Estas se desdobram em diferenciados modelos configurados como
análise de texto, de narrativa, de discurso.

161
Nos termos da #interdição

PLANO DE TRABALHO PARA O PERÍODO DE RENOVAÇÃO

Realizamos até o presente momento o percurso anunciado no projeto inicial de


nosso trabalho. Tendo compilado e estudado os trechos censurados das peças teatrais do
Arquivo Miroel Silveira, a relacionamos com recentes manifestações paralelas nas redes
sociais. Para este trabalho, criamos relações horizontais entre os termos censurados,
elaborando formas de visualização de dados compatíveis com os novos métodos
disponíveis para as mídias digitais. Tal investimento tratou-se de uma experimentação
da passagem do arquivo em papel disponível na Escola de Comunicações e Artes para a
disposição de um arquivo não linear.
Reforçamos que para fundamentar o trabalho foi essencial construir um percurso
teórico que consideramos tão relevante para a pesquisa quanto a própria experimentação
com as mídias digitais. Encaminhamos um salto de complexidade passando do nível da
palavra, para a relação em arquivo, para as dinâmicas em redes, especificando em cada
uma das etapas os mecanismos de interdição associados.
Acreditamos que é ainda importante dar seguimento ao trabalho publicizando
resultados de pesquisa e ao mesmo tempo tendo a chance de explicitar melhor, em
textos específicos para isso, a relação encontrada entre termos de ontem e de hoje.
É assim que pretendemos, no período de renovação, se concedido, redigir textos
separadamente sobre as palavras mais relevantes censuradas nas peças teatrais e os
sentidos que encontram hoje. Essa proposta é uma análise mais detalhada de alguns
termos que possam compor, cada um, o capítulo de um livro e de uma interface digital
que consideramos significativo.
Tivemos a oportunidade de relacionar diversas palavras que consideramos
significativas para o percurso teórico em questão e que estão elencadas nos trechos
censurados das peças teatrais. No entanto, não fazia parte desse levantamento e na
execução do percurso teórico uma produção de texto específico em interface digital para
marcar tal relação. Entendemos que essa relação entre termos significa um novo
trabalho, compreendendo uma intervenção objetiva da pesquisadora na produção de
textos que são novos objetos. Eles são uma produção poética que se destacam da
pesquisa inicial ao mesmo tempo que saem diretamente dela. São, da mesma forma, sua
decorrência poética direta e necessária. Trata-se de uma escolha sobre como publicizar

162
Nos termos da #interdição

os resultados de pesquisa, uma estratégia de divulgação para os pares e para o público


em geral.
Tomaremos por base a listagem apresentada dos termos selecionados para uma
análise relacional. Não poderemos trabalhar sobre todas as palavras levantadas como
termos censurados, mas justificaremos, de maneira fundamentada, a escolha qualitativa.
Nossa proposta de renovação pretende devolver os termos censurados e que
foram comparados com aqueles em circulação nas mídias digitais para a o ambiente da
internet. O tempo adicional será relevante para estudar as formas de realizar este
processo, aprimorando-o em termos de interface. Em nossa perspectiva, o oferecimento
da visualização de dados não é suficiente para que o trabalho com nosso material seja
feito a contento. Cabe pensar as formas que estão dadas para sua apresentação, como no
percurso teórico que estabelecemos. Num primeiro momento, isolamos a palavra, em
seguida a recombinamos como parte de um mesmo arquivo. É necessário conectá-las
agora na forma reticular.
Esse processo começou a realizar-se, como visualização de dados. Criamos
também uma página para o projeto no Facebook para que os trechos das peças teatrais
pudessem ser divulgados. Ao mesmo tempo, gostaríamos de continuar pensando na
forma dessa apresentação. Ela não é apenas postagem de dados, mas deve primar pela
conexão entre os conjuntos de dados. Fica claro que estamos diante de dois conjuntos de
dados diferenciados, de um lado aqueles das peças teatrais do Arquivo Miroel Silveira
e, de outro, aqueles que ecoaram sob os mesmo termos nas mídias sociais.
Na forma de devolução, acreditamos que seja necessário um texto que rearticule
ambos os materiais. Pensamos que as plataformas do tipo wiki podem nos ajudar a
concretizar essa relação e agregar texto interpretativo original. Não entendemos que este
exercício fizesse parte da proposta inicial da pesquisa pois representa, de alguma forma,
uma superinterpretação sobre nossos dados. A pesquisa se fecha, com o que
apresentamos aqui, num percurso teórico e metodológico bem definido. De qualquere
forma, acreditamos que a laçada poético-metodológica é bem apropriada ao que vimos
encontrando. Ela se coaduna com nosso tipo de dados e com a correlação que
teoricamente pretendemos mostrar.
Existe um abismo entre os termos de partida encerrados nas peças teatrais que
aqueles que circulam atualmente. Tal distância, que durante toda a pesquisa, vimos
tentando recobrir se manifesta em termos de afastamento temporal e narrativo. Seu
caráter temporal, tentamos vencer retirando as peças de sua visada individual e

163
Nos termos da #interdição

relacionando-as a partir de seus trechos censurados. Pensamos uma ligação entre eles
que se assentou pela autoria do ato de censura, pela unidade da produção teatral
nacional e pela esfera social em que tais textos estavam envolvidos durante todo o
período que o Arquivo Miroel Silveira recorre. O que pretendemos agora é fechar a
aproximação narrativa. E por isso é importante a produção textual final e na forma de
uma interface digital.

Ela não só se debruça vigorosamente sobre as novas dimensões da literatura


como “cinescritura”, mas também como exercício de fusão entre códigos e
linguagens, rumo a uma interpenetração dos formatos vernaculares e
algorítimicos que apontam para novas interfaces de leitura (BEIGUELMAN,
2005, p. 18).

Lembramos que propor uma articulação narrativa está diretamente relacionada à


tentativa de sondar e escrutinar novas relações temporais. Entendemos que todos nossoa
trabalho gira em torno dessa busca do que foi e do que temos hoje em termos de
ambiente cultural e de produção artística. Vemos que não há melhor forma de repor esta
história senão propondo, no seio das mídias digitais, uma nova correlação temporal. Isso
vai de encontro, ainda, com o que acreditamos que seja a vocação das mídias digitiais,
que é aquela que jogar ludicamente e poeticamente com as temporalidades e
territorialidades estabelecidas. Nesse ambiente é que precisamos fazer os termos de
ontem e de hoje se encontrarem. Mais do que a apresentação do resultado teórico da
pesquisa e do trabalho sobre seus dados, que, acreditamos, já daria conta de nosso
percurso de pós-doutoramento, pretendemos gerar um novo material.
Para que nossa proposta fique mais palpável, realizamos abaixo um protótipo de
texto que tenta recobrir a distância entre termos e uma proposta para sua forma de
apresentação. Poderemos fazer este exercício com cerca de 15 duplas de termos, com
textos próprios. Todos conectados entre si num percurso narrativo. Mais uma vez,
acreditamos que esse material é o direto resultado de nosso trabalho de pesquisa.
Baseamo-nos na recorrência estatística dos termos censurados nas peças teatrais para
fazer essa proposta de continuidade. Chamamos essa etapa do trabalho de investimento
tradutório.
A partir da visualização gerada com as palavras de cada um dos conjuntos e
estudadas nas suas mais frequentes visualizações, como propusemos com a palavra

164
Nos termos da #interdição

“amante”, desenvolveremos uma história que recorte ambos os conjuntos. Atentaremos


para a combinação feita das mesmas palavras ou de termos similares a partir da busca
pelas combinações nas hashtags populares.
Ademais dessa proposta principal, daremos continuidade a alguns outros
aspectos da pesquisa que já vinham sendo desenvolvidos:

- Reforçar os achados teóricos da pesquisa: devemos seguir trabalhando para reforçar os


pressupostos teórico-metodológicos já encontrados neste relatório. Especialmente
pretendemos fazer com que a experiência de plataforma digital que propomos alimente
retroativamente este estudo e que provoque algumas novas reflexões.

- Concluir a sequencia do curso de pós-graduação Interdição e mídias digitais


ministrado na Escola de Comunicações e Artes da USP. O curso deverá seguir até o
final do primeiros semestre de 2015, com aulas e avaliações finais. O seguimento da
bolsa contribuiria para fechar esta atividade ainda com vínculo com a universidade.
Ressaltamos que todo o programa do curso está baseado na apresentação dos resultados
do presente trabalho. Inclusive suas divisões em módulos, representam as etapas
teóricas que cumprimos aqui. Achamos de extrema relevância a realização do curós pela
oportunidade de proca do pós-doutorando com a universidade para a qual está alocado.
Adicionalmente, existe uma demanda em diversas áreas do conhecimento pelos estudos
sobre as mídias digitais. Não há ainda muitos lugares em que esse objeto está
consagrado como objeto de estudo acadêmico. Sendo assim, ressaltamos a importância
de podermos interagir a e estarmos próximos dos pesquisadores com objetos afins e que
pretendem debater sobre suas abordagens. Claro está que essa filiação por objeto, as
mídias digitais, reúne pesquisadores com formação em diversos campos teóricos e com
diferentes desafios metodológicos. Estamos, assim, realizando um encontro
interdisciplinar, já que o curso reúne pesquisadores das áreas de linguística, educação,
mídia sonora, mídia audiovisual, artes cênicas, publicidade, ciências da informação,
entre outras. Em nossa proposta de curso trabalhamos a base teórica assentada no que
concerne nosso percurso, os estudos de linguagem. Oferecemos aproximações
conceituais que servem como ponto de partida para situarmos os desafios das mídias
digitais como da ordem do discurso e de suas interdições.

165
Nos termos da #interdição

- Publicar a obra resultante do mencionado curso, composta de textos selecionados entre


os melhores artigos escritos para conclusão de curso. Os resultados desse trabalho em
disciplina de pós-graduação será editado em livro, demonstrando a variedade de áreas e
interesses sobre as mídias digitais. Editorialmente, selecionaremos os artigos com
melhor articulação conceitual nas áreas de estudos de linguagem, na preocupação com a
questão dos arquivos, nas experimentações das conexões em rede, nos desafios que as
mídias digitais representam para os processos de interdição e para o ideal de liberdade
de expressão. Acreditamos que este também é um resultado legítimo e diretamente
relacionado ao desenvolvimento da presente pesquisa de pós-doutorado.

- Inscrição no File (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica). Devemos, ainda,


com a conclusão da interface digital para a apresentação dos textos originais que
pretendemos, faremos inscrição e tentaremos participação no Festival de Linguagem
Eletrônica do ano de 2015 (a ser realizado no segundo semestre). Consideramos que
esta seja uma excelente oportunidade para apresentar o presente trabalho para aqueles
que trabalham mais diretamente com tais interfaces. E, principalmente, é a oportunidade
de divulgar uma parte da história da cultura nacional. Tal material não pode ser
divulgado através do texto integral das peças teatrais do Arquivo Miroel Silveira.

166
Nos termos da #interdição

ATIVIDADES REALIZADAS

Acreditamos que a participação do pós-doutorando na instituição que o recebe


deve ser marcada, para além da realização de sua própria pesquisa, no sentido de
oferecer uma contribuição acadêmica em diferentes instâncias. Relacionamos nossas
atividades relacionadas abaixo, realizadas dentro do período de vigência da bolsa,
seguindo essa perspectiva. Destacamos as atividades de participação e colaboração em
grupos de pesquisa diretamente relacionados à pesquisa em desenvolvimento e, ainda,
os itens de produção bibliográfica.

Listagem das atividades

I. Produção bibliográfica / p. 170


I.1 - Trajetória de um estudo sobre censura, classificação indicativa e os desafios
das mídias digitais / p. 170
I.2 – Tramas do outro nas telas do discurso: circulação audiovisual e consumo
cultural / p. 171
I.3 – Reincidências do gênero musical durante o atestado midiático do dom / p. 172
I.4 - Linguistic taboos and the circulation of controversial content on social media
networks / p. 172
I.5 - Arte, censura e revolução / p. 173
I.6 - Redes sociales, autoría anónima y silenciamiento colectivo / p. 173
I.7 Ruínas imagéticas do real na arte contemporânea: uma perspectiva crítica a
partir de obras da Bienal de Artes de São Paulo / p. 173
I. 8 - Convocação da mais armada / p. 174
I.9 - Interdições imaginárias / p. 174
I.10 Diálogos sobre censura e liberdade de expressão: Brasil e Portugal (livro) / p.
174
I.11 - Comunicação e Controle (livro) / p. 175
I. 12 - Censura em Debate (livro) / p. 177
I.13 - Comunicação, Mídias e Liberdade de Expressão (livro) / p. 178
I.14 Traduções especializadas / p. 179

167
Nos termos da #interdição

II. Participação em eventos com apresentação de trabalho / p. 181


II.1 – Beyond the digital (USP-Universidade de Warwick) / p. 181
II. 2 Congresso Internacional sobre censura ao cinema e ao teatro (Universidade
Nova de Lisboa) / p. 182
II.3 – 1984: Freedom and censorship in the media - Where are we now?
(Universidade de Sunderland, Inglaterra) / p. 183
II. 4 - CIES 2014 – Escrituras Silenciadas (Universidade de Alcalá de Henares) / p.
186
II.5 - Confibercom 2014 (Braga, Portugal) / p. 187
II.6 - Intercom 2013 / p. 189
II. 7 - Intercom 2014 / p. 191
II.8 - Universidade Federal do Mato Grosso – Campus Araguaia / p. 192
II.10 - Ibercom 2015 / p. 193
II.11 - IAMCR 2015 / p. 195
II.12 - Socine 2015 / p. 197

III. Organização de eventos / p. 200


III. 1 Primeiro Simpósio de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura / p.
200
III. 2 – Segundo Simpósio Simpósio de Comunicação, Liberdade de Expressão e
Censura / p. 202
III. 3 - Seminário Internacional Comunicação e Controle / p. 204
III. 4 – Vice-coordenação do GP Comunicação, Mídias e Liberdade de Expressão /
p. 206
III. 5 – Colaboração com a Comissão de Pesquisa da Escola de Comunicações e
Artes da USP / p. 208
III. 6 - Seminários internos e reuniões de trabalho / p. 209
III. 7 2015: Liberdade de Expressão e seus limites / p. 209
III. 8 - II Simpósio Linguagem e práticas midiáticas: por uma crítica do visível / p.
211

IV. Cursos ministrados / p. 216


IV.1 - Disciplina em nível de Pós-Graduação Interdição e mídias digitais / p. 216

168
Nos termos da #interdição

IV.2 - Curso de atualização a distância Censura e liberdade de expressão em


debate / p. 222

V. Edição de periódico científico / p. 224


Revista Rumores (www.usp.br/rumores)
Anagrama – participação em Comissão Editorial (www.usp.br/anagrama)

VI. Integrante do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e


Censura da USP / p. 227
VII. Integrante do Grupo de Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas da USP /
p. 243
VII. 1 - Apoio ao projeto pedagógico wiki

VIII. Outras atividades / p. 244


VIII.1 - Participação em bancas
VIII.2 - Pareceres
VIII.3 – Consultoria especializada a projeto de pesquisa

169
Nos termos da #interdição

I. Produção bibliográfica

I.1 - Trajetória de um estudo sobre censura, classificação indicativa e os desafios


das mídias digitais
Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Justiça. Departamento de Justiça,
Classificação, Títulos e Qualificação. CADERNOS DE DEBATE DA
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA. Vol. 2 – A Experiência da Classificação Indicativa
no Brasil. 1ª. Edição. http://culturadigital.br/classind/files/2014/12/Volume-2v2.pdf.

Mayra Rodrigues Gomes


Andrea Limberto

O presente artigo recupera a trajetória de pesquisa sobre sistemas de vigilância e


regulação realizados no âmbito do Observatório de Comunicação, Liberdade de
Expressão e Censura da Escola de Comunicações e Artes da USP (OBCOM/ ECA-
USP). Primeiramente apresentamos o estudo sobre os termos censurados em textos
teatrais no estado de São Paulo entre as décadas de 30 e 60. Em seguida, apresentamos a
fase atual dos trabalhos do eixo de pesquisa coordenado pela Profa. Dra. Mayra
Rodrigues Gomes, concentrado sobre o estudo dos sistemas de classificação indicativa
pelo Brasil e pelo mundo. Finalmente, traçamos algumas diretrizes para pensar como a
circulação popular de conteúdos nas mídias digitais representa novas balizas para o
exercício da regulação sobre as mídias.
O presente trabalho tem sua origem, assim, em pesquisas já concluídas e outras
em fase de finalização. Leva em conta casos de censura e interdição a produções
artísticas e/ou culturais nos dias de hoje, ao lado dos argumentos com os quais eles
foram justificados. Ao mesmo tempo, pretende apreender e dimensionar as formações
discursivas que dão guarida a tais argumentos.
Como a proposta se baseia em resultados obtidos, projetando extensão e
refinamento, uma breve descrição das pesquisas antecedentes e seus apontamentos se
fazem necessários para que possamos fundamentar nosso projeto e delinear, com
clareza, seus objetivos.

170
Nos termos da #interdição

I.2 – Tramas do outro nas telas do discurso: circulação audiovisual e consumo


cultural
SOARES, R. L. ; LIMBERTO, A. . Tramas do outro nas telas do discurso: circulação
audiovisual e consumo cultural. PragMATIZES Revista Latino-Americana de Estudos
em Cultura, v. 4, p. 40, 2014.

Resumo
O artigo analisa articulações discursivas em torno da questão da invisibilidade social,
notadamente em documentários brasileiros recentes (Elena, Cidade cinza, Olhe pra
mim de novo), exibidos em circuito comercial e que, privilegiando uma abordagem
referencial e de cunho realista, apresentam certos atores sociais como pertencentes a
essa condição. O empenho realista interessa-nos por operar um movimento de
afirmação dos sujeitos representados, aprovando-os como se eles fossem, no âmbito
do filme e no âmbito da vida, exatamente como mostrados nos filmes. Este tem sido
um desafio teórico para os estudos fílmicos desde o estabelecimento da noção de uma
sintaxe do visível. Ainda que exista uma barreira lógica para a representação de
sujeitos em situação de invisibilidade, isso de nenhum modo tem impedido que ela
seja tematizada frequentemente pelo discurso cinematográfico. Tampouco tem
impossibilitado que certas políticas da representação operem como marcas sobre
determinados sujeitos, supostamente periféricos, atuando como estandartes de
identidades minoritárias nos modos de tornarem-se visíveis em cena.

I.3 – Reincidência do gênero musical durante o atestado midiático do dom


LIMBERTO, A. REINCIDÊNCIAS DO GÊNERO MUSICAL DURANTE O
ATESTADO MIDIÁTICO DO DOM. Rumores (USP), v. 7, p. 83, 2013.

Estudamos a forma como o gênero musical manifesta-se na produção


audiovisual nacional, discutindo, por um lado, o que se pode entender por tal gênero,
suas heranças, cristalizações e deslocamentos quando reconhecemos
contemporaneamente um reforço visual do momento da performance relacionada à
música. E apontamos sua forma híbrida com outros formatos. Por outro lado,
observamos como podemos definir, de alguma forma, um caráter nacional dessas
produções visto que o modelo da reincidência é um modelo que se apresenta

171
Nos termos da #interdição

globalmente. Identificamos referências plurais coagulando localmente o que se entende


como traços de modelos genéricos.
Tomamos como hipótese central a possibilidade de definição do que é o gênero
musical hoje através de um processo que reconhecemos como de dupla
autorreferencialidade em relação ao elemento musical: num primeiro nível trata-se do
reforço da performance de um dom pessoal que aponta pela primeira vez para o ato
ritual de demonstração do dom e, num segundo nível, da reduplicação dos efeitos de sua
dádiva através do registro midiático, que aponta pela segunda vez para o mesmo ritual
de demonstração

I.4 - Linguistic taboos and the circulation of controversial content on social media
networks
LIMBERTO, Andrea. “Linguistic taboos and the circulation of controversial content on
social media networks”. In: GOMES, M. R. Comunicação e Controle. Intercom, 2013.

The present work intends a debate within the field of language practices nurtured
by the idea of the existence of taboo over words (FOUCAULT, 1996). We identify the
restrictions over discourses in the specific ways it presents itself in social media
networks, which is mostly characterized by the possibility of free expression. We base
ourselves in the idea that it is not possible to have a media environment free from
constriction to the exercise of language.

I.5 - Arte, censura e revolução


LIMBERTO, Andrea. Arte, censura e revolução. In: COSTA, Cristina. Censura em
debate. Escola de Comunicações e Artes da USP, 2014.
No âmbito ideal onde é possível pensar a arte de maneira indissociada da política, lá
encontraremos o chão para relacionar arte, censura e revolução. Nem sempre a arte é
considerada como filha da mesma mãe que a política e assim encontramos muitas vezes
a expressão “arte revolucionária” para designar momentos em que a arte estaria a
serviço de uma clara vinculação política. É o caso que em muitas análises se entende ao
falar da arte tão distinta como dos muralistas mexicanos, do cinema de Glauber Rocha,
à literatura de Alejo Carpentier, e, de forma mais geral, da resistência artística feita à
maior parte dos regimes totalitários do século XX no mundo ocidental.

172
Nos termos da #interdição

I.6 - Redes sociales, autoría anónima y silenciamiento colectivo


NUMHAUSER, Paulina. Escrituras Silenciadas. Universidad Alcalá de Henares, 2015.
No prelo.

Resumen: El presente artículo subraya los resultados de la investigación de


posdoctorado realizada con beca de la Fundación de Apoyo a la Investigación del
Estado de São Paulo (Fapesp) en la Escuela de Comunicación y Artes de la Universidad
de São Paulo, Brasil, sobre el tema de la interdicción en los medios digitales.
Trataremos aquí, más específicamente, sobre la categoría de autoría como punto de
cohesión entre los relatos en la red, al mismo tiempo que se les permite a estos un
movimiento de silenciamiento colectivo. Dos polos se establecen: de una parte, existe el
intento de producir novedad y, de otra, existe la repetición que borra las marcas del
nuevo. Teóricamente estamos apoyados por autores encuadrados en lo que se puede
denominar como estudios de lenguaje.

Palabras-clave: Medios digitales, autoría, interdicción, lenguaje, comunicación.

I.7 Ruínas imagéticas do real na arte contemporânea: uma perspectiva crítica a


partir de obras da Bienal de Artes de São Paulo
SOARES, R.; GOMES, M. R. Por uma crítica do visível. Escola de Comunicações e
Artes da USP. No prelo.

Resumo

Analisamos como experiências de arte contemporânea se fazem no limite entre os


discursos das artes e das mídias, questionando sobre o domínio das tentativas de
inovação sobre regimes do visível. Focalizamos obras da 31ª. Bienal de Artes de São
Paulo, privilegiando imagens sob a égide da dualidade interdição/libertação. Nessa
perspectiva, assumimos que a criticidade possível está em deslocar a possibilidade de
ruptura para os espaços de invocação dos corpos.

Palavras-chave: Arte relacional; Mídias; Bienal de São Paulo; Interdição; Corpo.

173
Nos termos da #interdição

I. 8 - Convocação da mais armada


LIMBERTO, Andrea. Convocação da mais armada. Revista Significação, 2013. v.40,
no. 40.
Resenha PRADO, J. L. A. Convocações biopolíticas dos dispositivos comunicacionais.
São Paulo: Educ; São Paulo: Fapesp, 2013.

O novo livro do pesquisador José Luiz Aidar Prado nos coloca cruamente diante da
problemática do chamado, direcionado aos sujeitos, a integrar discursos em circulação,
em que se acomodam também especificamente circulações discursivas com a finalidade
de fazer consumir. Entramos com o corpo e com o psiquismo, movidos numa única
pulsão que os atravessa. Se a ação incitada é aquela de consumir, incorporar, integrar,
deglutir, devorar, ela se dirige àquele que se identifica através desse processamento.

I.9 - Interdições imaginárias

LIMBERTO, A. “Interdições Imaginárias”. Novos Olhares, v.1, no. 2.

Resumo:
Pretendemos nos acercar da noção de imaginário como a esfera por excelência em que
pode haver liberação do gozo, sendo o primeiro conceito-chave assumido. Defendemos
que tal liberação refere-se a um circuito sobre o qual incide uma interdição, este sendo o
segundo conceito central. A interdição possibilita ao mesmo tempo o momento da
liberação e, em seguida, aquele de deslocamento. Este tema, acreditamos, é fundante da
dinâmica comunicacional uma vez que ela é dada através do encontro possibilitado no
imaginário e pelas dissonâncias geradas nesse campo também, que produzem conteúdos
a comunicar, a interditar e deslocar. Exemplificamos com duas obras teatrais constantes
do Arquivo Miroel Silveira que passaram por censura durante a década de 60, ambas de
autoria de Molière, O doente imaginário (Le malade imaginaire) e Sganarelo ou o
traído imaginário (Sganarelle ou le Cocu imaginaire).

Palavras-chave: imaginário; interdição; comunicação; censura.

I.10 Diálogos sobre censura e liberdade de expressão: Brasil e Portugal (livro)

174
Nos termos da #interdição

Colaboração na produção executiva da obra COSTA, Cristina. Diálogos sobre censura e


liberdade de expressão: Brasil e Portugal. ECA/ USP - 2014

Esta obra contribui de forma inequívoca para uma perspectiva comparada no


domínio da censura, no Brasil e em Portugal, principalmente quando pensamos esta
última como um conjunto articulado de elementos e características presentes nos
sistemas políticos e mediáticos dos dois países.
Nesse ambiente atribulado e complexo, repensar a liberdade de expressão de
forma comparada em dois países com heranças comuns e trajetórias diferenciadas,
torna-se um enorme desafio e uma tarefa extremamente pertinente que nos Diálogos
sobre liberdade de expressão e censura começa a tomar forma.

I.11 - Comunicação e Controle (livro)


Produção executiva da obra GOMES, M. R. Comunicação e Controle. Intercom, 2014.

As raízes da censura à produção simbólica se perdem na Antiguidade, quando as


sociedades começaram a conviver com formas de poder resultantes não dos preceitos

175
Nos termos da #interdição

religiosos ou dogmáticos, mas do exercício da vida coletiva e comunitária. Esse


exercício de sociabilidade desenvolveu uma forma de organização política que previa o
contraponto de ideias e a diversidade de opiniões. Se, por um lado, essa novidade trazia
ganhos incalculáveis à convivência dos membros de um determinado grupo, pela
possibilidade sempre fecunda do contraponto gerar soluções e esclarecer os envolvidos
nesse debate, por outro, exibia a diversidade, estimulava a crítica e apresentava
alternativas. A reação a essa possibilidade foi o desenvolvimento de mecanismos de
controle e pressão sobre aqueles que enunciavam ideias divergentes, revolucionárias ou
críticas aos sistemas políticos e ao governo estabelecidos. Desde então, travou-se uma
batalha sem tréguas entre forças conservadoras e transformadoras, entre o status quo e
as propostas de inovação, entre a cumplicidade com o poder e a sua crítica. Nessa
batalha é que os recursos censórios passaram a ser usados como estratégias do poder
para agir sem crítica e sem oposição.
Mas, se essa origem remota se perde no passado, foi com o advento dos meios
de comunicação de massa, na Modernidade, que o uso da censura se tornou cada vez
mais corriqueiro, cotidiano e agressivo enquanto forma de controlar a crítica, a opinião
pública, o debate político e ideológico, por parte do poder estabelecido. O
desenvolvimento da imprensa, o uso generalizado do rádio e, depois, da televisão,
fizeram com que a censura se tornasse uma arma inseparável dos governantes. À essa
expansão cada vez mais ilimitada das tecnologias de comunicação, no tempo e no
espaço, aliou-se a defesa e criação de sistemas de governo cada vez mais alicerçados na
opinião e na participação popular. Aumentando o poder da população, seja através do
voto, seja por meio da comunicação e da expressão individual e coletiva, os anseios por
cercear a discordância, a divergência e a crítica se tornaram cada vez mais incisivos,
fazendo com que a censura chegasse, em alguns casos, à violenta perseguição política.
Assistimos, portanto, a essa trajetória secular pela qual a sociedade humana vem
aprimorando suas formas de organização política, desenvolvendo os meios de
comunicação social, sofisticando a maneira pela qual interpreta a realidade e exprime
sua experiência existencial, ao mesmo tempo que aprimora constantemente as formas de
controle colocadas à disposição do poder econômico e político estabelecidos. Estudar a
censura, portanto, é uma forma de entender como esse debate entre forças reacionárias e
transformadoras se dá na sociedade humana, em diferentes momentos e lugares e
compreender seus motivos, recursos, estratégias, justificativas e agentes. É também lutar
para que o debate se processe de forma cada vez mais transparente e determinada,

176
Nos termos da #interdição

sabendo-se que é na diversidade, na contraposição e no debate que as ideias avançam,


proliferam e conquistam a possibilidade de mudar a realidade, colaborando para
construí-la e reconstruí-la. O presente livro deverá se constituir em um bom exercício
para essa finalidade, não só para aqueles que o produziram como para todos que o
lerem.

I. 12 - Censura em Debate (livro)

Colaboração na produção executiva da obra COSTA, Cristina. Censura em debate.


Escola de Comunicações e Artes da USP, 2014.

A Censura em Debate - Presente no cenário político-social antes mesmo do


Brasil se tornar uma nação, a censura se constituiu historicamente como um artifício de
dominação e controle estatal, fosse durante o colonialismo, a Monarquia ou a
República. O braço forte do Estado personificado numa eficiente estrutura burocrática a
vigiar tanto a produção artística como a atividade jornalística, perdurou por décadas a
fio amparando tanto ditaduras como a do Estado Novo (1937-1945) e a Militar (1964-
1985), quanto períodos democráticos. Objeto de pesquisa desde 2000 de um grupo
acadêmico reunido em torno do Arquivo Miroel Silveira (AMS), que guarda o acervo
de censura teatral do antigo Departamento de Diversões Públicas do Estado de São
Paulo, a censura não acabou com a promulgação da Constituição de 1988, que
estabelece em seu artigo 5º., Inciso IX.
Formas mais complexas e elaboradas de censura despontam na atualidade, indo
além da estrutura estatal e burocrática, surgindo de uma nova dinâmica, social em que o

177
Nos termos da #interdição

poder e o domínio se disseminam amparados em antigos dogmas morais, religiosos e


políticos, aliados a novos dogmas econômicos e sociais.
O Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura, da Escola
de Comunicações e Artes da USP vem se dedicando a estudar e compreender esses
novos mecanismos censórios e que se manifestam em diversas áreas, entre elas a
opinião pública, a arte, o cinema, o humor, a sexualidade, as questões de gênero, a
literatura, os meios de comunicação, o Direito. Este livro é resultado do amplo debate
desse tema entre pesquisadores, professores, artistas, comunicadores e intelectuais.
Dividido em mesas temáticas montadas em evento realizado em 2012 no Centro
Cultural José Marques de Melo, em São Paulo, sob a coordenação do OBCOM, ele tem
por propósito suscitar um debate crítico sobre as formas atuais da censura e sobre como
a sociedade tem reagido ou não a elas na construção de um futuro para o país.

I.13 - Comunicação, Mídias e Liberdade de Expressão (livro)

Colaboração na produção executiva da obra COSTA, Cristina. Comunicação, Mídias e


Liberdade de Expressão. Intercom, 2013.

Resultado dos trabalhos do GP de Comunicação, Mídias e Liberdade de Expressão, da


INTERCOM, o livro que reúne 22 artigos, entre eles "Circo-teatro e censura:
proximidade, intervenção e negociação", de minha autoria, será lançado no próximo
Congresso INTERCOM, que acontece em Manaus de 4 a 7 de setembro. A publicação,

178
Nos termos da #interdição

organizada pela coordenadora do OBCOM, Cristina Costa, conta ainda com prefácio de
José Marques de Melo.

I.14 Traduções especializadas

- Controle e revisão das traduções requisitadas para o livro Comunicação e Controle e


realização da tradução dos textos de abertura da obra, prefácio e orelha.
- Tradução do português ao espanhol de artigos para o livro Escrituras Silenciadas.
- Tradução de artigos para o Dossiê “O Rádio Além das Fronteiras”, incluído no número
39 da Revista Significação.

A partir desta edição, Significação – Revista da Cultura Audiovisual traz uma


novidade: ela passa a contar com dossiês temáticos, organizados por pesquisadores
convidados. Para o primeiro deles, o tema escolhido foi o rádio e Eduardo Vicente,
professor do Curso Superior do Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em
Meios e Processos Audiovisuais da ECA/USP, foi o convidado para a sua organização.
Intitulado “O Rádio Além das Fronteiras” e formado por seis artigos, o dossiê se propõe
a reunir trabalhos que discutam tanto as perspectivas de utilização quanto as novas
possibilidades de experimentação estética que estão sendo potencializadas para o
veículo, especialmente a partir das novas tecnologias digitais e da convergência
tecnológica. Ele também busca apresentar trabalhos que ofereçam reflexões originais e
abordagens teóricas capazes de renovar o nosso olhar sobre essa mídia já centenária.
Ampliando o sentido do “além das fronteiras”, quatro autores estrangeiros foram
convidados para participar do dossiê. Eles estão sendo publicados pela primeira vez no
país e, em todos os casos, com textos produzidos ou traduzidos para o português.

Radio evolution and the impact on / of Audiences11


Marko Ala-Fossi, University of Tampere12
ABSTRACT

11
This article is based on a keynote speech held at Radio e-volution conference, Braga, Portugal in September 16,
2011. The author wishes to acknowledge Montse Bonet (Universitat Autònoma de Barcelona) and Ulrich Heinze
(University of East Anglia) for their collegial assistance in collecting the international audience data for this work.
12
Marko Ala-Fossi (D.Soc.Sc.) is University lecturer in Radio and Adjunct professor in Journalism and Mass
Communication at the University of Tampere, Finland. He is also a member of a pan-European research team on
digital radio (DRACE). Email: marko.ala-fossi@uta.fi

179
Nos termos da #interdição

The evolution of radio is highly dependent not only on the national cultural contexts but also
on the overall social, political and economic development of the societies. In addition, it
happens in interplay with all the other forms of media and this is why there is no universal or
separate evolution of radio. The growing importance of the Internet and increasing popularity
of mobile broadband together with the ongoing economic and demographic changes on a
global scale continue to have a polarized effect: in the Western world, broadcast radio may
have already had its all-time high, while in Asia and Africa, broadcast radio has still a huge
potential for growth.
Keywords: radio, broadcasting, evolution, audience, media.

Rethinking Radio in the Digital Age


Andrew Dubber
Professor of Music Industries Innovation
Birmingham City University
Radio has long been considered and studied as a particular technological, institutional
and communicative form. However, as a result of the emergence of a media
environment characterised by digital technologies, it has become necessary to examine
not only what has happened to radio, but also to re-evaluate our understanding of what
it was in the first place. This article argues for a Media Ecology approach to an
understanding of radio; one that acknowledges a periodisation of media history, and
which considers the form and discourse of radio as a negotiation of affordances and
effectivities rather than possessing an essential and fixed set of characteristics. By
understanding the ways in which the discursive practice of radio has been settled upon
in a previous, ‘electric’ media age it is possible to come to more nuanced
understandings that allow for a renegotiation of what radio is, or can be, in a digital age.

180
Nos termos da #interdição

II. Participação em eventos com apresentação de trabalho

II.1 – Beyond the digital (Fapesp)

O evento reuniu 10 pesquisadores ingleses e 10 brasileiros, sendo coordenado


pela Profa. Joanne Garde-Hansen (Warwick), Gilson Schwartz (ECA-USP), Paulo
Nassar (ECA-USP) e Bianca de Medeiros (FGV-RJ) para debater projetos de pesquisa
com foco em novas midias, ativismo social e político, memoria coletiva e impactos das
comunicações e artes digitais no processo de desenvolvimento humano. O evento
integra o ciclo "Research Links", selecionado no Edital FAPESP -British Council de
2013.
Resumo do trabalho apresentado:
Propomos a análise da circulação de palavras consideradas tabuísmos
linguísticos tomando como base sua presença em publicações (posts) nas redes sociais
que adotam o sistema de marcação indexical através da eleição de palavras-chave no
sistema de hashtag. O recorte dos termos a serem observados tem como objetivo
repercutir os ecos daqueles que foram censurados nas peças teatrais submetidas, entre as
décadas de 30 e 60, ao Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo, às
quais temos acesso através do material armazenado no acervo de peças teatrais do
Arquivo Miroel Silveira (AMS).
O trabalho toma como base o levantamento já realizado dos trechos com
restrição textual constantes nas peças parcialmente liberadas do referido Arquivo,
produto da pesquisa de doutorado Coincidências da Censura – Figuras de linguagem e
subentendidos nas obras teatrais do AMS voltada para a busca de implícitos e figuras de
linguagem apresentada à Escola de Comunicações e Artes da USP.
Link para a apresentação em Prezi, apresentada no modo Pecha Kucha:
In terms of the #interdict
http://prezi.com/th8mqy98izjt/?utm_campaign=share&utm_medium=copy&rc=ex0shar
e

181
Nos termos da #interdição

II. 2 Congresso Internacional sobre censura ao cinema e ao teatro (CIMJ,


Universidade Nova de Lisboa)

Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas


13, 14 e 15 de novembro de 2013 - Lisboa -Portugal
O Congresso Internacional sobre Censura ao Cinema e ao Teatro que terá lugar nos dias
13, 14 e 15 de novembro de 2013, no Auditório 1 e no Edifício ID da Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Portugal.
As propostas devem ser enquadradas nas seguintes linhas:
- Censura ao Teatro e ao Cinema;
- Censura e Legislação;
- Censura e Tradução;
- Censura e Práticas Culturais;
- Censura e Associativismo;
- Censura e Comunicação (Televisão, Internet, etc.);
- Censura e Género;
- Censura e Guerra;
- Censura e Multiculturalismo;
- Censura e Representações;
- Censura e Cultura Popular;
- Censura e Religião;
- Censura e Criatividade;
- Censura e Liberdade de Expressão.

182
Nos termos da #interdição

O congresso foi o culminar do projeto de investigação Censura e mecanismos de


controlo da informação no Teatro e no Cinema. Antes, durante e após o Estado Novo,
financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Durante três dias congressistas
provenientes de diversos países como Espanha, Reino Unido, Irlanda, Polónia, Brasil e
Portugal puderam não só apresentar o resultado das suas investigações, como participar
num profícuo debate sobre a censura ao cinema, ao teatro e à imprensa. Neste congresso
apostou-se em abordagens transdisciplinares, na participação de profissionais do teatro,
cinema, da imprensa e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Tornou-se assim
possível a problematização dos efeitos da censura a diversos níveis: a mutilação das
obras dramáticas e cinematográficas, os autores que nunca foram representados, as
peças jornalísticas que não foram publicadas e lidas e os atores, realizadores e
encenadores que viram o seu trabalho inutilizado. O Congresso foi também palco de
debate sobre as censuras na atualidade e as suas novas configurações, tornando presente
um assunto que não diz só respeito ao passado e não se confina aos regimes políticos
totalitários e autoritários, mas que surge em novos formatos nas democracias.

II.3 – 1984: Freedom and censorship in the media - Where are we now?

A conference to be hosted at the Centre for Research in Media and Cultural Studies at
the University of Sunderland’s London campus on the 23rd and 24th of April 2014.
Worries over effects of media content and technologies are never far from the headlines.
When anxieties centre on protecting children and the fortification of the social fabric,
regulation often seems like the first resort. The year 2014 will see the thirtieth
anniversary of the 1984 Video Recordings Act (VRA): this event offers the opportunity
to reflect on how and why concerns about individual media technologies and particular
media genres become so important that campaigners and politicians can claim that ‘the
very soul of the nation’ is at stake. Using the RA as a starting point, this conference
aims to critically examine the key issues in politics and campaigning which shape calls
for censorship. If new technologies always spark old anxieties around ‘effects’ and
propensities to cause ‘harm’, what might we learn from extant legislation and their
implementation? As we settle into the internet age and media on demand, policing
national media borders seems ever more futile, yet the clamour for legislation to protect
children and society shows no signs of abating.

183
Nos termos da #interdição

We invite submissions that explore issues relating to censorship which may be specific
to the history, implementation and legacies of the Video Recordings Act but we also
welcome papers which examine media regulation/censorship in their broader cultural
contexts, which are national and international in focus and which draw connections
between contemporaneous issues and their historical antecedents.

Suggested topics:

Censorship
Evolving practices and technologies of media classification and/or censorship
‘Problematic’ media cultures
Regulation of representations of sex, gender and sexualities
Digital and online censorship
Oppositional voices
Protecting and questioning national borders
Campaigns and campaigners
Activism/activists and the political arena
International narratives of censorship
British regulation in a global context
National and international regulation/censorship
Documentary and avant-garde
Controversies around computer games
History of contemporary film censorship/classification
Audiences and the social experiences of censorship
Censorship and the creation of communities of dissent
Regulations and government policy

Trabalho apresentado:
Linguistic taboos and the circulation of controversial content on social media networks

Presenter: Prof. Dr. Andrea Limberto, Postdoctoral researcher at the School of


Communication and Arts, University of São Paulo, Brazil, working on language
innovation and interdiction processes in new media. andrealeite@usp.br

184
Nos termos da #interdição

The present work is intended to debate within the field of language practices
nurtured by the idea of the existence of taboo over words (FOUCAULT, 1996). We
identify the restrictions over discourses in the specific ways it presents itself in social
media networks, which is mostly characterized by the possibility of free expression. We
base ourselves in the idea that it is not possible to have a media environment free from
constriction to the exercise of language.
Starting from such theoretical background and based on a discursive perspective
of culture we understand that social media network interfaces cannot escape such
relationships of ordering and conformity. Our objective here in the present work is to
draw which those procedures would be when it comes to the social media, focusing on
the seeming paradox of thinking restricted circulation of enunciations and the language
practice within a media recognized by the emblem of freedom of expression and
communication democratization.
We are not able to state that the resulting enunciation is a form devious from the
original for not admitting the precise existence of such original. Just like in a
metaphoric process, the resulting metaphor cannot be a replacement of an original term,
but is inscribed in the enunciation as a new term as a juxtaposition of two other.
The action of replacement is done, therefore, in face of a term considered to be
improper (in contrast to a proper term applied) instead of the necessity of fidelity to the
original. The birth of an enunciation depends on a process involving: a dynamic of
exposure (1) whose contents point to meanings present in the language (2) according to
a proper way (3).
In that sense we make explicit a certain perspective on the new media. There is
an expectation in relation to the mediatic spaces of publishing online, that they can be
free from the constraint over what is said, being a democratic outcome par excellence.
Nevertheless, the new media indicate a pulverization of the image of the authors and, at
once, of the interfaces for publishing. And it has been true to a certain extent that may
be felt as total as for the quantity or the type of contents published as much as it can be
regulated and socially watched.

Keywords: New media, social networks, linguistic taboo, interdiction

185
Nos termos da #interdição

II. 4 - CIES 2014 – Escrituras Silenciadas


El Congreso Internacional “Escrituras Silenciadas” nació en la Universidad de
Alcalá (España) el año 2005, con el objetivo de estudiar a través de un enfoque
multidisciplinar, los escritos secretos, prohibidos, ignorados o silenciados por el
hombre, principalmente en el ámbito de América-Europa, entre los siglos XVI al XXI.
Actualmente las “Escrituras Silenciadas” son un tema candente gracias a las nuevas
tecnologías, que están generando profundos cambios en nuestros hábitos de
investigación, al permitirnos conocer innumerables documentos, textos y testimonios
que hasta ahora eran de difícil acceso o estaban fuera del alcance de los estudiosos.
Estas nuevas herramientas están provocando cambios profundos en los hábitos de los
investigadores y en el alcance de sus trabajos.
Es indudable que el encuentro de testimonios silenciados durante el trascurso de
nuestras pesquisas, son a la vez un hecho habitual pero al mismo tiempo decisivo y que
puede cambiar de manera sustancial el curso de nuestras investigaciones. Desde sus
inicios el CIES ha logrado convertirse en un sitio propicio para exponer estos últimos
hallazgos. Por lo tanto animamos a todos aquellos estudiosos e investigadores de
diversas disciplinas, tanto humanas como sociales: antropología, historiografía,
sociología, economía y otras, como también a especialistas en ciencias de la
informática, documentación y medios audiovisuales a presentar sus ponencias en torno
a los “Escritos silenciados, poder y violencia en la península Ibérica y América” y
acompañarnos en esta IV edición del CIES que se realizará por primera vez en la
hermosa y emblemática ciudad del Cusco, Perú.
Puntos temáticos:
Escritos silenciados sobre poder y violencia en la península Ibérica. Siglos XVI-XXI.
Escritos silenciados sobre poder y violencia en las Américas. Siglos XVI-XXI.
Escritos silenciados y la Compañía de Jesús. Siglos XVI-XIX.
Escrituras Silenciadas en los Andes.
Escrituras silenciadas, poder y nuevas tecnologías.
Escritos silenciados, oralidad y testimonios audiovisuales.
Censura y media en Iberoamérica y Europa.

Trabalho apresentado:
Redes sociales, autoría anónima y silenciamiento colectivo

186
Nos termos da #interdição

Resumen: El presente texto está basado en los resultados de la investigación de


posdoctorado realizada con beca de la Fundación de Apoyo a la Investigación del
Estado de São Paulo (Fapesp) en la Escuela de Comunicación y Artes de la Universidad
de São Paulo, Brasil, sobre el tema de la interdicción en los medios digitales.
Trataremos aquí, más específicamente, sobre la categoría de autoría como punto de
cohesión entre los relatos en la red, al mismo tiempo que se les permite a estos un
movimiento de silenciamiento colectivo. Dos polos se establecen: de una parte, existe el
intento de producir novedad y, de otra, existe la repetición que borra las marcas del
nuevo. Teóricamente estamos apoyados por autores encuadrados en lo que se puede
denominar como estudios de lenguaje.

Palabras-clave: Medios digitales, autoría, interdicción, lenguaje, comunicación.

II.5 - Confibercom 2014

Promover a reflexão sobre os desafios de internacionalização das ciências da


comunicação no espaço ibero-americano, fomentar a valorização das línguas ibéricas
como línguas de conhecimento e de produção científica e estreitar os laços de
cooperação entre os investigadores dos países desta vasta região são os principais
objetivos do II Congresso Mundial de Comunicação Ibero-americana. Dando
continuidade aos trabalhos iniciados em São Paulo (Brasil), em agosto de 2011, por
ocasião do I Congresso, este encontro procura contribuir para o reforço da solidariedade
académica, política e cultural entre os países de expressão portuguesa e espanhola, ao
mesmo tempo que se constitui como uma oportunidade de afirmação global do trabalho
realizado por esta alargada comunidade científica.
Inscrito no âmbito da missão geral da CONFIBERCOM, o II Congresso
Mundial de Comunicação Ibero-americana pretende colocar em perspectiva os
horizontes de internacionalização e de cooperação interinstitucional entre universidades

187
Nos termos da #interdição

e grupos de pesquisa desta região geográfica. Com este tema geral, o congresso divide-
se em 22 grupos temáticos, que acolherão propostas de trabalho nas diferentes áreas de
investigação em ciências da comunicação (ver Chamada para Apresentação de
Trabalhos).
De 13 a 16 de abril de 2014, a Universidade do Minho em Braga (Portugal)
acolherá este encontro na expectativa de contribuir para o desenvolvimento científico e
para o reconhecimento da vocação intercultural da comunicação. O Centro de Estudos
de Comunicação e Sociedade, que organiza o II Congresso Mundial de Comunicação
Ibero-americana, saúda as diferentes comunidades desta região e convida os
investigadores a participar no debate proposto por esta iniciativa.

Trabalho apresentado:
Representações da invisibilidade e a indiferença visível em discursos audiovisuais
Propomos uma análise das possibilidades de articulação no discurso
cinematográfico em torno da questão da invisibilidade. Este tem sido um desafio teórico
para os estudos fílmicos desde o estabelecimento, por contraponto, da noção de uma
sintaxe do visível (C. Metz; J. Aumont). Assumimos que exista uma barreira lógica para
a representação de sujeitos em situação de invisibilidade, o que de nenhum modo tem
impedido que ela seja tematizada frequentemente em filmes. Ou ainda, que opere como
uma marca sobre determinados sujeitos em cena, periféricos, atuando como estandartes
de identidades minoritárias nos modos de tornarem-se visíveis.
Ao mesmo tempo, não podemos deixar de marcar a aparição poética destes
mesmos sujeitos como estando em uma posição política – e dizemos, com B. Nicholls,
que se trata também de uma imagem ideológica –, ambas associadas numa forma de
representar. Entendemos, ainda, acompanhando o pensamento de J. Rancière, que a
criação na linguagem implica um engajamento poético e uma representação política.
Observamos, num aparente paradoxo, que identidades consideradas minoritárias
têm tido espaço para a construção de seus modos de representação em discursos
audiovisuais (notadamente em filmes baseados em fatos reais que tematizam a periferia,
o crime, a violência, a homossexualidade, o racismo, as questões de gênero etc.)
assumindo, desse modo, um espaço de visibilidade. Independentemente, identificamos a
invisibilidade como uma dimensão fundamental na maneira como os processos de
representação se apropriam desses sujeitos.

188
Nos termos da #interdição

Estabelecemos metodologicamente duas formas pelas quais a questão da


invisibilidade tem permeado a produção fílmica: o ímpeto de representá-la enquanto
ausência, e a visibilidade dada aos sujeitos em situação de invisibilidade. No limite, há
sempre algo de invisível que não poderá ser captado, do mesmo modo que, num embate
com uma dimensão imponderável, a câmera aponta para sujeitos incluindo-os em sua
invisibilidade positivada (representada pela presença de uma ausência) ou visibilidade
indiferente (caso em que a indiferença se torna a marca). Estas marcas estão
relacionadas aos tipos de vínculo estimulados na produção fílmica em negociação com a
realidade (desses sujeitos e de onde se inserem).
Como proposta de trabalho, analisaremos articulações feitas por documentários
brasileiros recentes, exibidos em circuito comercial e que, privilegiando um discurso
referencial e de cunho realista, apresentam os sujeitos marcados de que tratávamos. O
empenho realista interessa por operar um movimento de afirmação da marca dos
sujeitos representados, aprovando-a como se ela fosse, no âmbito do filme e no âmbito
da vida, exatamente como mostrada.
Observaremos a composição cênica em que esses sujeitos são mostrados (planos,
enquadramentos e montagem), a perspectiva de um olhar organizador das cenas
(identificado como aquele que concede o direito à visibilidade) e a possível relação
entre os elementos visíveis e aqueles que dialogam com um espaço do não dito que,
como apontamos, faz-se presente na cena por meio dessa relação. Finalmente,
argumentaremos sobre como as cenas que pretendemos analisar não precisam ser
obscuras para que ocorra uma determinação de invisibilidade. Será a figura dos sujeitos
engajados, em relação com outros sujeitos e objetos do entorno cênico, a principal
característica determinante de sua situação.

Palavras-chave: invisibilidades, políticas de representação, figuras de alteridade,


discursos audiovisuais.

II.6 - Intercom 2013

189
Nos termos da #interdição

Mais uma vez, estamos reunidos, agora nesta aparentemente distante Amazônia,
a partir de Manaus, mas uma Amazônia que, com a mobilidade dos professores,
estudantes e responsáveis pelas diferentes universidades que nos acolhem, em especial,
a Universidade Federal do Amazonas, ficou muito próxima, enorme – pelos corações
abertos e os abraços entusiasmados – e toda a nossa vontade imensa de bem fazer o que
fazemos.
Aliás, nosso tema deste ano é muito especial: Comunicação em tempo de redes
sociais: afetos, emoções, subjetividades. A Intercom, mais uma vez, se coloca voltada
para a contemporaneidade. Mas nossa reflexão não quer valorizar apenas os avanços e
as virtualidades tecnológicas. Pelo contrário, queremos chamar a atenção para o fato de
que elas nada valem, se não estiverem caracterizadas pelos afetos, pelas emoções e
pelas subjetividades. Quando escolhemos esse tema, nem imaginávamos todas as
extraordinárias emoções que as redes sociais nos propiciariam com as imensas
mobilizações populares a que assistimos/de que participamos neste ano. Mas isso
mostra, de qualquer modo, a sensibilidade para “sentir o que está no ar” da gente da
Intercom.
É num tema que se constitui em um enorme guarda-chuva (ou seria guarda-sol,
já que estamos na Amazônia), para acolhermos a todos, com suas reflexões e
ponderações. Afora isso, claro, nossos pré-congressos. A felicidade de receber, mais
uma vez, nossos colegas africanos. A expectativa de um colóquio internacional com a
Alemanha e outro organizado desde o Canadá. Mas, sobretudo, o entusiasmo com o
Expocom, com o Intercom Jr. e a confiança nos trabalhos dos nossos GPs temáticos.
Tenho certeza que vai ser um congresso para deixar história. Para os nossos irmãos da
Amazônia, mas também para todo o Brasil. A Intercom vem insistindo em apostar e
confiar na gente da região Norte. Começamos a colher (os melhores) frutos desta
insistência.

Trabalho apresentado:
Indicado na Rede como #proibidoparamenores: Diretrizes da Classificação Indicativa e
Conteúdo Circulante nas Redes Sociais

Resumo: Pretendemos realizar uma análise da circulação dos temas sobre os quais
primordialmente se estrutura o sistema oficial de classificação indicativa, especialmente
a referência a sexo e violência, e contrastar com a circulação dos mesmos nas redes

190
Nos termos da #interdição

sociais. Trabalhamos o caso específico da indicação #proibidoparamenores no site de


interação social Twitter, usada para marcar publicações polêmicas no sentido
discursivo. Observaremos os termos que fazem eco ao que tem sido indicado para
maiores de idade nas produções que tradicionalmente recebem a indicação de
classificação. Numa perspectiva discursiva, observaremos como esses temas são
tratados na rede em sua estruturação formal rizomática e associada a um perfil de
usuário. Com isso pretendemos chegar a polarizar a questão da possibilidade de
indicação ou interdição de conteúdos nas redes sociais por dois vieses: por um lado, a
prerrogativa da visibilidade dos conteúdos nos novos meios e sua tentativa de fazer ver
o que em outras instâncias há impedimento e, ao mesmo tempo, a presença reiterada e
compartilhada de polêmica e debate público sobre os temas indicados para maiores.

PALAVRAS-CHAVE: redes sociais; interdição; proibido para menores; discursos


circulantes; classificação indicativa

II. 7 - Intercom 2014

Vice-coordenação do GP Comunicação, Midias e Liberdade de Expressão. Os


trabalhos selecionados demonstraram grande aderência aos conteúdos definidos na
ementa do grupo. Acreditamos que a especificidade temática que pleiteamos, centrando-
nos nos processos atuais de interdição e liberdade de expressão na atualidade, contribuiu
para que os trabalhos inscritos fossem diretamente ligados ao tema.
Os trabalhos do grupo foram divididos em dois dias, no primeiro deles reunimos
os trabalhos que se preocupavam com processos de interedição e de luta por liberdade
de expressão nas mídias digitais. Este filão temático tem sido de grande recorrência no
GP em todos os anos, com visível crescimento. As mídias digitais tem aparecido como
campo de batalha para afirmação de identidades, de posicionamentos políticos, mas
também de restrição. A partir da apresentação dos trabalhos apontamos as seguintes
recorrências argumentativas anotadas: A definição da relevância dos blogs na esfera
pública, questionando se ele ainda têm força política; uma marcação sobre o poder da
empresa Google e sua consequente natureza política, social e não só de negócios.
Obervamos, ainda, a preocupação com a circulação cultural e política na rede em

191
Nos termos da #interdição

contrapartida do valor econômico. As formas de censura na Internet eliminariam, de


alguma forma, o contexto. Ela é um campo em que se pensa as possibilidades de
democratização hoje, visto que desenvolveram-se tantos termos e conceitos para defini-
la: mídia livre, censura e democratização. Um motor dos processos de interdição na web
parece ser a questão da visibilidade ou não das pautas. Foi recorrente o uso da imagem
da criação de muros virtuais e, nesse sentido, a tônica dos trabalho foi pensar em qual o
nível de compromisso ou comprometimento da liberdade de expressão nas plataformas
digitais.
No segundo dia dos trabalhos reunimos as apresentações que se preocupavam
em geral com os processos sociais de interdição e de luta por liberdade de expressão.
Como principais argumentos recorrentes, podemos destacar o questionamento da
possibilidade de existir um mundo sem normatização, livre. E caso essa possibilidade
não exista, quais serão as instâncias de regulação. Mais uma vez destaca-se a
preocupação com espaços públicos de visibilidade, em que a regulação fica
disseminada.

II.8 - Universidade Federal do Mato Grosso – Campus Araguaia

Mídias digitais na prática profissional jornalística:


desafios para a liberdade de expressão
24 DE JULHO DE 2013
19H

Andrea Limberto
Pós-doutoranda da Escola de
Comunicações e Artes da USP UFMT – CAMPUS ARAGUAIA

www.usp.br/obcom

Mídias digitais na prática profissional jornalística: desafios para a liberdade de


expressão
Proposta

192
Nos termos da #interdição

As mídias que envolvem o uso de plataformas digitais e o acesso à internet representam,


ao mesmo tempo, uma abertura e um desafio para os debates sobre a liberdade de
expressão hoje. Tendo um papel marcante para a renovação dos processos
comunicacionais, sua presença é crescente, desde a década de 90, na vida pessoal e na
dinâmica de trabalho das empresas. Se por um lado temos a possibilidade de trocar
informações e de expor conteúdos em nível mundial, podemos nos questionar sobre se a
entrada no ambiente da rede ocorre de maneira igualitária. Mais ainda, observamos o
remodelamento dos processos de interdição inerentes ao exercício de articulação na
linguagem. Para pensar, assim, a prática jornalística é necessário desenvolver uma
consciência sobre os recursos disponíveis nas novas mídias como forma de lidar com as
seguintes questões: os limites entre o local e o global; a fidelidade do conteúdo postado
na rede; sites de notícias no contraponto com blogs; os limites entre o pessoal e o
privado. O debate sobre a liberdade de expressão nos novos meios só pode ser levado a
cabo se ele está informado pelas novas questões que o próprio uso das ferramentas e
interfaces implica.

II.9 - Ibercom 2015

XIV Congresso Iberoamericano de Comunicação – IBERCOM 2015


29 de março a 02 de abril de 2015

TEMA CENTRAL
Comunicação, Cultura e Mídias Sociais

DATAS E LOCAIS
29 de março a 02 de abril de 2015

Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin - Universidade de São Paulo – BBM-USP


Rua da Biblioteca, s/n - Cidade Universitária - São Paulo, SP – Brasil
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA-USP

193
Nos termos da #interdição

Avenida Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443 - Cidade Universitária – São Paulo, SP –
Brasil
Hotel Quality Faria Lima
Rua Diogo Moreira, 247 - Pinheiros, São Paulo - SP, - Brasil

OBJETIVOS
Debater, partilhar e disseminar o conhecimento gerado na região a partir das Divisões
Temáticas IBERCOM.
Criar mecanismos de cooperação intra-regional, fomentando a formação de grupos de
pesquisa e de projetos internacionais no espaço ibero-americano.
Promover o pensamento comunicacional na região ibero-americana, a fortalecer a
integração das pesquisas ibero-americanas e, ao mesmo tempo, projetá-las no cenário
internacional.

Trabalho apresentado:
Possibilidades narrativas nas mídias digitais

Resumo: As mídias digitais têm desafiado alguns dos conceitos fundantes da construção
narrativa, especialmente como o oferecimento de uma unidade de sentido e a evidência
de um ponto de partida e de chegada claros. No presente trabalho procuraremos estudar
como alguns termos com reconhecida recorrência nas redes, marcados como trending
topics (TT, tópicos tendência ou, ainda, em tradução livre, assuntos do momento) e
indexados sob a égide da hashtag podem construir um percurso narrativo através da sua
repetição e, ao mesmo tempo, um movimento de diferenciação em cada inscrição. Desse
modo, pretendemos situar a questão da novidade anunciada para estes meios com base
em modelos narrativamente e discursivamente reconhecíveis.

Palavras-chave: Mídias digitais, linguagem, narrativa.

As mídias digitais têm desafiado alguns dos conceitos fundantes da construção


narrativa, especialmente como o oferecimento de uma unidade de sentido e a evidência
de um ponto de partida e de chegada claros. Não diremos que ela rompe com preceitos
postulados por uma teoria narrativa e com cânones da narrativa clássica, mas que diante
de novos suportes, abre as possibilidades de escrita.

194
Nos termos da #interdição

No presente trabalho procuraremos estudar como alguns termos com


reconhecida recorrência nas redes, marcados como trending topics (TT, tópicos
tendência ou, ainda, em tradução livre, assuntos do momento) e indexados sob a égide
da hashtag podem construir um percurso narrativo através da sua repetição e, ao mesmo
tempo, um movimento de diferenciação em cada inscrição.
O presente trabalho envolve, assim, um repensar das próprias categorias
narrativas, da dinâmica de produção de sentido nas redes digitais, dos processos
discursivos de repetição e diferenciação. Metodologicamente, ele enfrenta um desafio –
que tem se colocado para os trabalhos que se dispõem com as chamadas mídias digitais
– na tentativa não exatamente de forçar a aplicação de conceitos, mas de atualizá-los e
encontrar melhores parâmetros descritivos.
Nesse sentido, assumimos uma postura teórica baseada na aposta de que os
debates sobre o uso das mídias digitais e suas práticas comunicacionais podem ser
enriquecidos a partir de um assentamento no arcabouço conceitual dos estudos de
linguagem. As relações estabelecidas especialmente com os conceitos de signo, de
discurso, de texto, de arquivo e de autoria situam as dinâmicas em rede num campo que
privilegia seu caráter logicamente interligado. Desse modo, podemos situar a questão da
novidade anunciada para estes meios com base em modelos narrativamente e
discursivamente reconhecíveis.

II.10 - IAMCR 2015

IAMCR'S 2015 conference will be held July 12-16 2015 in Montreal, Canada. Hosted
by the Faculté de communication at the Université du Québec à Montréal, IAMCR 2015
will be the first IAMCR conference in North America. The conference theme is:
Hegemony or Resistance? On the Ambiguous Power of Communication.

Trabalho aprovado para apresentação no grupo Digital Divide do IAMCR 2015,


Canadá.

#In terms of the interdict

195
Nos termos da #interdição

The present work results from the postdoctoral research #In terms of the
interdict, funded by São Paulo Research Foundation (FAPESP), and developed within
the Observatory on Communication, Freedom of Expression and Censorship of the
University of São Paulo (OBCOM/ECA-USP).
We investigate the circulation of words that are considered linguistic taboos
pursuing their presence in current social media postings which support the use of
hashtags as a keyword indexical parameter. Our intent is to echo the terms censored in
the playwrights submitted to the Public Entertainment Division of the State of São
Paulo, Brazil, between 1930 and 1960, to which we have exclusive access trough the
Miroel Silveira Files. Our research will be nurtured from the data collection of censored
text excerpts present in the partially released playwrights of such archive and the
trajectory of building an interface to both visualize the data and present it publically.
Our hypothesis is that social media network interfaces cannot escape such
relationships of ordering and conformity. Our objective is then to draw which those
procedures would be when it comes to the social media, focusing on the seeming
paradox of thinking restricted circulation of enunciations and the language practice
within a media marked by the emblem of freedom of expression and communication
democratization.
We primarily focus on the recurring words from yesterday present in the social
media today. Afterwards, as second step of the research, we observe the permanence or
shift in the meaning such terms carry(ied). We understand them within a discourse
driven theoretical perspective, performing an analysis that is at one time etymologic,
linguistic, historic and digital.
Such theoretical articulation is to help us develop a study on the formal level of
the word, then articulate the notion of archive and of network according to the following
intended theoretical trajectory: 1- the concept of signifier network, as ways to portray
meaning connections that can enclose the same words in different time periods bonded
through a connection point of the network; 2 - to recover the debate on the possibilities
of constituting an archive according a given unity, approaching what offers cohesion to
it; 3- to associate the structuring of archives and its current availability to reorganization
based on a communicational network taking into consideration digital technologies and
media. In a more general perspective, our work is to argument on the relevance of
studying local productions in relation to global perspectives, the necessity of unveiling

196
Nos termos da #interdição

social crucial content and considering the possibilities of the work in digital media in
challenging the role of memory.

II.11 - Socine 2015


XIX Encontro SOCINE - Cinemas em Redes
20 a 23 de outubro de 2015

UNICAMP - Campinas, SP

Estão abertas as inscrições para o XIX Encontro da SOCINE, que será realizado na
Universidade de Campinas (Unicamp) - Campinas, SP. O tema do Encontro será
Cinemas em Redes.

Cinemas em Redes é uma expressão provisória para nomear um conjunto de mudanças


significativas no âmbito da imagem em movimento, tendo as tecnologias digitais, ou os
ecossistemas digitais, como parâmetros de transformações e, ao mesmo tempo,
sinalizadores de uma fronteira histórica que coloca uma baliza no tempo: o passado
analógico, o presente e o futuro digital. Assim, velocidade, mobilidade e virtualidade
pautam-se como vetores de uma nova ordem de tempo e de espaço das imagens e dos
sons. Nesse sentido, como lidar com a preservação e o passado das imagens? Estariam
os vocabulários artísticos inerentes ao cinema, à televisão e ao vídeo profundamente
abalados por tais mudanças tecnológicas, econômicas e culturais? Como os mercados,
nas lógicas da geopolítica e do capital transnacional, se (re)definem? E que estratégicas
políticas de subjetivação seriam ativadas nesses processos? Finalmente, o termo "redes"
opera aqui como conceito, simultaneamente, em perspectiva denotativa e conotativa,
atinente não apenas às "tecnologias de redes" (hardware e software), mas também às
tecnologias sociais, não-maquínicas, aos processos subjetivos e quaisquer outros
esquemas ou modelos, no campo do cinema e do audiovisual, que pressuponham
integração descentralizadora e fluxos culturais e artísticos.

SOCINE 2015, CAMPINAS

Trabalho submetido:
Formas do entretenimento na constituição de realities musicais

197
Nos termos da #interdição

Resumo:
Relacionamos os variados formatos de programas televisivos dedicados à
performance artística a modelos consagrados dentro do gênero do entretenimento.
Apresentamos, assim, uma proposta classificatória que pretende referenciar a maneira
como a arte, tomada como objeto nestes programas, é apresentada. Concentramo-nos
em observar as heranças da audição artística, da entrevista profissional e do teatro
pretendendo relacionar tais modelos a três programas: Idol, The X Factor, The Voice.

Resumo expandido:
Podemos relacionar os variados formatos de programas televisivos dedicados à
performance artística, que se concentram hoje principalmente na experiência do canto, a
modelos consagrados dentro do gênero do entretenimento. Apresentamos neste trabalho,
assim, uma proposta classificatória que pretende também referenciar a maneira como a
arte, tomada como objeto nestes programas, é apresentada. Trata-se de um estudo sobre
uma produção audiovisual específica, mas que entendemos representar o desafio
colocado pela circulação massiva da produção artística, passando do ideal de sua
valorização como alta cultura à sua fragmentação em diversos formatos revividos de
forma híbrida na concretude da performance oferecida.
Concentramo-nos, assim, em observar as heranças da audição artística, da
entrevista profissional e do teatro pretendendo relacionar tais modelos respectivamente
a três programas, realities de canto exemplares, televisionados atualmente: Idol, The X
Factor, The Voice (considerando as versões nacionais e estrangeiras destes formatos).
Nossa perspectiva é primariamente discursiva, enquanto identifica os elementos dos
programas que ecoam suas vinculações a tradições imagéticas históricas para a
apresentação da arte. Lidamos, dessa forma, não com seu fazer, mas com as maneiras
elegidas para seu oferecimento público.
Recorremos a um reconstituído cultural funcionando como fundamento para a
sustentação de cada um dos modelos apontados. O primeiro deles, a audição artística,
remonta à forma de avaliação sobre a performance que valoriza o julgamento sobre a
habilidade e o virtuosismo da execução. Baseia-se na exibição do talento para um grupo
de especialistas tendo em vista a integrar grupos seletos (orquestras, ballets, etc.), sendo
executada em ambientes preparados e dedicados (salões, teatros, museus, etc). Recebe
historicamente os ecos de um ambiente nobre e dos especializados circuitos de arte. Este

198
Nos termos da #interdição

imaginário está na base dos programas de exibição artística em geral, mas mostram-se
reforçados especialmente na primeira fase do formato Idol. Na sua apresentação
televisiva, fica aparentemente de fora o dado de que a performance é filmada, a
expectativa é pelo não existir da câmera.
O segundo modelo que reconhecemos é o da entrevista de emprego. Ele revela já
a sombra da presença de uma indústria cultural, da arte como uma carreira, da ascensão
da atividade do show business e o interesse pela circulação nele. Isso contemplado, o
olhar se volta para os aspectos da vendagem de discos, da assinatura de contratos, do
visual do candidato direcionado para que seja um ídolo popular. Esse modelo se
encontra mais nas últimas temporadas de Idol e em The X Factor.
O terceiro modelo tenta fazer um retorno histórico à performance artística e ao
virtuosismo, mas estabelece o acontecimento no palco. Ele é performático e montado.
Assume a demanda pelo show e ao mesmo tenta manter-se fiel a uma tradição artística,
neste momento já híbrida – indicada, por exemplo, como pureza da voz. O staging para
a câmera ganha relevância e a presença da gravação como elemento constitutivo é
marcada. Esta tentativa é feita pelo The Voice, tratando-se do modelo que mais assume
o fato da transmissão e joga com a disposição de palco que é herdeira do teatro.
Consideramos, finalmente, como forma de extensão do argumento, alguns
seriados e programas televisivos que contemplam a audição de talentos, tendo em vista
que, também em novas produções sobrevivem as referências apontadas, como é o caso
de Mozart e de The Glee Project. Pontuamos que existe, na base destes programas, o
desejo do encontro entre a alta e a baixa cultura, entre descoberta do verdadeiro talento
e seu compartilhamento público, entre a verdadeira Arte e a produção massiva. É
relevante, ainda, retomar este trabalho entre as tentativas de estabelecer consensos sobre
o ambiente da cultura em face de novos processos de midiatização e de difusão.

199
Nos termos da #interdição

III. Organização de eventos

III. 1 Primeiro Simpósio de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura

O I Simpósio de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura, organizado


pelo Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (OBCOM –
ECA/USP), foi realizado no dia 16 de agosto de 2013, sob a coordenação da Profa. Dra.
Maria Cristina Costa e vice-coordenação da Profa. Dra. Mayra Rodrigues Gomes, na
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
O evento teve por objetivo o debate da situação da liberdade de expressão e da
censura na atualidade. Como os fatos envolvendo o exercício da interdição hoje são
radicalmente diferentes daqueles estudados num passado recente em que o Estado
autoritário era o principal agente dos mecanismos, há necessidade de debatermos as
formas plurais com que ela se exerce.
As palestras foram ministradas por pesquisadores renomados em suas
respectivas áreas de estudo e que contribuem para a miríade de perspectivas teóricas e
temáticas pretendida: Profa. Dra. Sandra Reimão (Literatura Interditada. EACH/USP),
Profa. Dra. Roseli Fígaro (Mercado de Trabalho. ECA/USP), Profa. Dra. Eunice
Prudente (Direito e Direitos. Direito/USP), Profa. Dra. Mayra Rodrigues Gomes
(Classificação Indicativa. ECA/USP), Prof. Dr. Ferdinando Martins (Sexualidade e
Oriente Médio. ECA/USP), Prof. Dr. Elias Thomé Saliba (Humor. FFLCH/USP), Profa.
Dra. Cristina Costa (Censura e Opinião Pública. ECA/USP), Profa. Dra. Bárbara Heller
(Gênero. UNIP), Profa. Dra. Renata Palottini (Arte e interdição. ECA/USP), Profa. Dra.
Maria Luiza Marcílio (Infância. FFLCH/USP) e Profa. Dra. Cláudia Mogadouro
(Cinema. ECA/USP).
Contou ainda com uma palestra internacional ministrada pela Profa. Dra. Isabel
Ferin, "Mídia e Corrupção Política: Condicionantes da Liberdade de Expressão”, da
Universidade de Coimbra, Portugal. E o lançamento da obra "A Censura Prévia do
Teatro Paulista", da pesquisadora Ms. Maria Aparecida Laet (Diretora da Biblioteca da
FFLCH/USP), que esteve presente no local recebendo o público e autografando o livro.
As inscrições foram realizadas através do site <www.usp.br/obcom> até dia 14
de agosto de 2013. Contou com entrada gratuita e emissão de certificado para os
participantes. Tivemos um público de cerca de 80 pessoas presenciais e transmissão ao
vivo pelo IPTV/USP

200
Nos termos da #interdição

Data: 16 de agosto de 2013


Horário: 9h30min às 19h
Local: Auditório Paulo Emílio da Escola de Comunicações de Artes da USP
Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, 443
Cidade Universitária – São Paulo/ SP

201
Nos termos da #interdição

202
Nos termos da #interdição

III. 2 – Segundo Simpósio Simpósio de Comunicação, Liberdade de Expressão e


Censura

O Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da USP


(OBCOM-USP) tem o orgulho de anunciar o término de mais um ano de pesquisas, o
primeiro sob o nome de OBCOM-USP, significando a chancela da Pró-Reitoria de
Pesquisa da Universidade para o exercício das atividades do grupo que, de fato,
remontam há mais de 10 anos de estudos sobre os processos de interdição e as
alternativas de liberdade de expressão.
Anunciamos, assim, a realização do II Simpósio acadêmico do grupo, o segundo
e final do ano de 2013, tendo em vista que estamos realizando duas edições ao ano para
expor resultados de pesquisa e promover profícuos debates. Neste momento, o
renomado Comitê Científico irá expor seus apontamentos teóricos sobre matérias
jornalísticas publicadas durante o último ano, com um olhar em retrospectiva e analítico
para as áreas mais contundentes que envolvem a censura e a liberdade de expressão
hoje. A saber, segundo categorias derivadas das próprias pesquisas do OBCOM:
Opinião pública; Arte, especialmente o cinema; Política; Educação; Gênero,
Sexualidade; Humor; Infância; Literatura; Trabalho; Classificação indicativa, Direito,
Europa e Internet.
Especialmente para esta edição do Simpósio do OBCOM-USP, o que o torna
verdadeiramente um espaço rico para troca sobre o tema em questão, as mesas estarão
compostas por pesquisadores do Comitê Científico em debate com pesquisadores
portugueses ligados ao Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ), da
Universidade Nova de Lisboa. Pode-se verificar na programação a aproximação feita a
partir dos temas de pesquisas de modo a promover o debate binacional.
A presença de renomados pesquisadores portugueses marca também o
encerramento oficial do curso por videoconferência Censura e Liberdade de Expressão

203
Nos termos da #interdição

em Debate, realizado durante todo o segundo semestre de 2013. Promovemos, ainda,


neste efusivo encerramento de pesquisas, o lançamento dos livros: Censura em Debate
(BALÃO EDITORIAL, 2014), Comunicação e Controle (INTERCOM, 2013) e
Comunicação, Mídias e Liberdade de Expressão (INTERCOM, 2014).

III.3 - Seminário Internacional Comunicação e Controle

De 15 a 18 de abril de 2013 foi realizado na Escola de Comunicações e Artes da


Universidade de São Paulo (ECA-USP) o seminário internacional Comunicação e
Controle. Com coordenação da Profª Drª Mayra Rodrigues Gomes, professora titular do
Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, o evento foi uma realização do
Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (Obcom) da
universidade e teve como proposta colocar em debate os mecanismos de controle da
produção cultural e da opinião pública.
Entre os assuntos em foco, estavam a classificação etária utilizada para controle
da audiência de produções culturais, o papel da mídia em relação a questões de gênero e
sexualidade e o impacto político do desenvolvimento digital.
Foram destaques da programação, além das mesas de discussão com
pesquisadores brasileiros, professores estrangeiros vindos da Alemanha (Markus
Wiemker), Austrália (Catherine Driscoll), Inglaterra (Athina Karatzogianni) e França
(Marie-Hélène Bourcier). O seminário buscou, dessa maneira, abordar as várias formas
de controle da cultura e da comunicação existentes hoje em diferentes países.
O Seminário Comunicação e Controle se constituiu enquanto proposta
conduzida cm consonância com os projetos do Observatório da Comunicação,
Liberdade de Expressão e Censura (OBCOM) no que diz respeito à investigação e
reflexão sobre formas censórias em contraponto à liberdade de expressão na atualidade.
Nessa proposta, a divulgação e a publicização dos resultados de pesquisa, ambicionando
o estabelecimento de canais de diálogo com a sociedade, têm, como campo privilegiado,
a realização de eventos e discussões, a exemplo do que foi realizado com o evento em

204
Nos termos da #interdição

foco neste Relatório. Ao mesmo tempo, com o Seminário Comunicação e Controle,


conquanto primeiro evento internacional promovido pelo OBCOM, abrimos caminhos
para investigações e discussões, no âmbito do Núcleo de Pesquisa, sobre formas de
controle e supervisão atuais em outros espaços democráticos para além do Brasil.
Dando continuidade à proposta do Seminário Comunicação e Controle, temos, já em
andamento, um plano editorial visando ao registro e divulgação das discussões
estabelecidas ao longo do evento. Assim, sob a forma de Anais do seminário, estamos
elaborando uma publicação que deverá reunir artigos relativos às apresentações
propostas pelos palestrantes, brasileiros e internacionais, acerca da temática da censura
e da liberdade de expressão.
Por tudo isso, nesses termos, o evento foi também fundamental para a
consolidação de aproximações entre o OBCOM, os palestrantes internacionais
convidados e suas universidades de origem, estabelecendo canais para discussões
conjuntas e canais de diálogo envolvendo docentes e estudantes, bem como para
possíveis parcerias e projetos de pesquisa futuros, em consonância com a tão almejada
institucionalização da pesquisa e do ensino na Universidade de São Paulo e no Brasil.
O evento teve tradução simultânea e foi transmitido ao vivo na internet pelo IPTV USP.
As inscrições foram gratuitas e foram emitidos cerca de 100 certificados entre público
ouvinte e palestrantes.

Local: Auditório Freitas Nobre, Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) -


Prédio 2 da Escola de Comunicações e Artes da USP, Cidade Universitária - Butantã -
São Paulo/SP
Data: 15 a 18 de abril de 2013

205
Nos termos da #interdição

III.4 – Vice-coordenação do GP Comunicação, Mídias e Liberdade de Expressão

A bolsista participou, no período correspondente à bolsa, do grupo de pesquisa


no âmbito do congresso nacional da Intercom. Derivando daí o apoio à coordenação na
condução dos debates e na realização dos relatos. No presente ano, em setembro, na
sequência deste trabalho, assume a vice-coordenação do mesmo GP e a sua coordenação
para o período 2016/2017. A programação do grupo nos dois últimos ano está
disponível como anexo.
A atual ementa do grupo se apresenta como segue:

Ementa

Seções Temáticas: Liberdade de expressão e democracia; Controle e


desenvolvimento dos meios de comunicação na atualidade; Censura e autoritarismo;
Público e o direito à informação; Classificação Indicativa e liberdade de expressão;
Censura à imagem e controle dos meios audiovisuais; Liberdade de expressão, censura e
Internet; A interdição de textos e da imprensa; Censura Togada; Teorias da
Comunicação e liberdade de expressão; Processos diretos e indiretos de
interdição.Palavras-chave: Comunicação, Liberdade de Expressão, Produção Midiática,

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Nos termos da #interdição

Meios de Comunicação de Massa, Internet, Censura, Democracia, Autoritarismo,


Ditadura, Autocensura, Internet, Globalização.
Artigos e pesquisas focadas no estudo da liberdade de expressão ou da censura
às artes e aos meios de comunicação de um ponto de vista histórico ou de análise da
atualidade. Fazem parte dessa perspectivas: 1) pesquisas que, tendo por base a análise
documental de processos censórios, a observação da realidade, a opinião pública,
registros e testemunhos, coloquem em discussão as possibilidades, os entraves, os
recursos e a legislação relativa à liberdade de expressão; 2) trabalhos que mostrem os
processos de resistência dos artistas e dos comunicadores ao cerceamento da liberdade
de expressão; 3) análises que, baseadas nas teorias da comunicação, discutam
conceitualmente liberdade de expressão e censura; 4) textos que abordem a liberdade de
expressão nos diferentes veículos de comunicação: rádio, televisão, cinema e mídias
digitais; 5) análises que foquem os processos de recepção, a resposta do público aos
processos censórios, bem como ações em favor da liberdade de expressão; 5) estudos
que enfoquem a autocensura em diferentes formas de produção midiática; 6) análises de
processos como a classificação indicativa frente ao direito de liberdade de expressão
garantido constitucionalmente; 7) questionamento sobre meios diretos, indiretos,
estatais e privados de cerceamento à liberdade de expressão; 8) investigação de
processos judiciais que interfiram ou tenham relação direta com o direito constitucional
de liberdade de expressão; 9) levantamento de critérios como moralidade, segurança
pública, direito de imagem, integridade pessoal como justificativas para o controle da
produção midiática; 10) estudo dos processos de transformação histórica dos
mecanismos de controle públicos e privados da comunicação; 11) Liberdade de
expressão e globalização dos meios de comunicação.

Seções Temáticas

Liberdade de expressão e democracia; Controle e desenvolvimento dos meios de


comunicação na atualidade; Censura e autoritarismo; Público e o direito à informação;
Classificação Indicativa e liberdade de expressão; Censura à imagem e controle dos
meios audiovisuais; Liberdade de expressão, censura e Internet; A interdição de textos e
da imprensa; Censura Togada; Teorias da Comunicação e liberdade de expressão;
Processos diretos e indiretos de interdição.

207
Nos termos da #interdição

Palavras-chave

Comunicação, Liberdade de Expressão, Produção Midiática, Meios de Comunicação de


Massa, Internet, Censura, Democracia, Autoritarismo, Ditadura, Autocensura, Internet,
Globalização.

Página dedicada à ementa do Grupo de Pesquisa no site da Intercom, disponível em:


http://www.portalintercom.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2496%3
Adt8-gp-comunicacao-midias-e-liberdade-de-expressao&catid=100&Itemid=75

III. 5 – Colaboração com a Comissão de Pesquisa da Escola de Comunicações e


Artes da USP

Acreditando na participação ampla nas atividades de pesquisa, a pós-doutoranda


colaborou com o trabalho da Comissão de Pesquisa da Unidade na qual estava
envolvida, trabalhando na atribuição de pareces quando solicitada e na organização das
edições do Simpósio de Iniciação Científica da USP (2013 e 2014) e do V Seminário de
Pesquisa da ECA (2015).

208
Nos termos da #interdição

III. 6 - Seminários internos e reuniões de trabalho

Reuniões gerais do OBCOM


A Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Castilho Costa, coordenadora do Observatório de
Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura convocou todos os Bolsistas de
Iniciação Científica, Pré-IC e Pós-graduandos a participarem das reuniões gerais do
Núcleo realizadas periodicamente.

Foram realizadas, ainda, reuniões de debate coordenadas pelos pós-doutorandos Prof.º


Dr.º Antônio Reis Júnior, Profa. Dra. Andrea Limberto e Prof. Dr. Walter de Sousa
Júnior, que contaram com a presença de todos os bolsistas de IC envolvidos com o
Observatórios. Nestes encontros foram discutidos textos que tematizam a censura e
outros com temas correlatos com vistas à apropriação dos autores pelos bolsistas, bem
como a apresentação das pesquisas dos pós-doutorandos ao grupo.

III.7 2015: Liberdade de Expressão e seus limites

21 e 22 de maio de 2015
Auditório Lupe Cotrim
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
UNIVERIDADE DE SÃO PAULO

Realização: Instituto Palavra Aberta e Observatório da Comunicação, Liberdade de


Expressão e Censura da Universidade de São Paulo (OBCOM-USP)

O debate sobre liberdade de expressão deve estar localizado no presente, tempo


em que o direito à liberdade se apresenta como um desafio intelectual e cívico diante de
situações limítrofes e que envolvem o ambiente da expressão, a vida mediatizada.

209
Nos termos da #interdição

Devemos levar em consideração que temos um histórico recente ligado a regimes


políticos restritivos e suas marcas ecoam ainda hoje. Ao mesmo tempo, em nome da
liberdade de expressão e da censura tem se atuado em frentes ideológicas contraditórias.
Os critérios censórios hoje não contam com procedimentos estatuídos e princípios legais
detalhados, que as constituições dos diferentes países democráticos se negam a
produzir. Conflitos dessa ordem, assim como essa falta de consistência e coerência, vão
obrigando à revisão de certos conceitos que entram em voga, tais como tolerar, difamar,
denegrir, espionar, informar, invadir a privacidade, incitar à violência.
Neste sentido, faz-se necessário a realização de um debate abrangente, como o
que propomos com 2015: Liberdade de Expressão e seus limites, que possa polemizar
sobre atual situação da bandeira da liberdade de expressão hoje. Num encontro de duas
tardes, discutiremos o que é a liberdade de expressão e como ela passa do ideal à seus
limites necessários de atuação. A primeira tarde contará com três mesas, compostas pela
presença de convidados especialistas e concentradas nos seguintes temas específicos: o
caso Charlie Hebdo; os novos desafios para se pensar os direitos individuais frente às
mídias de exposição coletiva; finalmente, no âmbito social, a questão das dinâmicas de
intolerância e a ênfase nas diferença contra grupos específicos.
Por sua vez, o segundo dia de debates será composto pela seleção criteriosa de
pesquisas dedicadas ao tema geral do debate. Depois de selecioandas, as apresentações
ganharão sessões paralelas em quantidade, com programação detalhada a ser
especificada mais adiante.
Reforçamos que, quando se trata de definir as características da defesa pela
liberdade, estamos trabalhando sobre limites, no sentido de nos posicionarmos no limiar
entre esferas tidas, até aqui, como opostas: os domínios público e privado, o bem
comum e a defesa de demandas individuais, entre a livre demanda mercadológica e a
necessidade de proteção. Mais do que resolver estas dicotomias, pretendemos fazer vir à
tona como eles estão sendo vividas hoje, investindo no difícil exercício de estudar o que
está tão próximo e o que nos toca, social e individualmente. Acreditamos que se há um
debate relevante para assumir este desafio, este é sobre a possibilidade de liberdade.

Objetivos

- Propiciar o encontro entre especialistas, pesquisadores acadêmicos e personagens


atuantes dedicados ao estudo da liberdade de expressão e da censura hoje;

210
Nos termos da #interdição

- Discutir sobre os próprios conceitos de liberdade e expressão e censura e sua


aplicabilidade em casos específicos;
- Debater sobre as atuais formas cerceamento à livre expressão, seus mecanismos e
procedimentos;
- Debater a relação entre os procedimentos de restrição e campos de atuação em que os
mesmos podem ser rompidos ou reforçados, como o do humor e do sexo (sensualidade,
erotismo, pornografia).
- Discutir os limites que a própria sociedade está impondo ao humor, especialmente
porque faz isso a partir de filtros dicotômicos, entre eles o “politicamente
correto/incorreto” e o “realidade/ficção”
- Dialogar sobre a Classificação Indicativa como um todo, sobre seu o papel na
formação cultural, sobre sua natureza, seus efeitos e seu poder de interferência e
determinação de procedimentos
- Refletir sobre os reflexos da censura em um campo de tensão em que diferentes
direitos emergem, exigem sua proteção e até mesmo entram em rota de colisão.
- Debater sobre a consolidação de mecanismos mais democráticos de participação na
sociedade civil e a permanência de restrições à comunicação e à organização no âmbito
do trabalho.
- Divulgar o debate amplamente ao mesmo tempo pensar o papel e a organização da
opinião pública nos movimentos de apoio ou recusa de ações consideradas restritivas.

III.7 - II Simpósio Linguagem e práticas midiáticas: por uma crítica do visível

211
Nos termos da #interdição

Datas: 25/11 e 02/12/2014


Local: Auditório Freitas Nobre, Departamento de Jornalismo e Editoração

212
Nos termos da #interdição

Escola de Comunicações e Artes da USP (CJE/ ECA-USP)


Organização: MidiAto, grupo de estudos de linguagem: práticas midiáticas, sob
coordenação da Profa. Dra. Rosana de Lima Soares e da Profa. Dra. Mayra Rodrigues
Gomes
Apoio: Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais
(PPGMPA/ECA-USP), Programa de Pós-Graduação de Ciências da Comunicação
(PPGCOM/ECA-USP) e Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE/ ECA-USP)

Faz-se necessária, na academia, uma abordagem sobre o estudo das imagens nas
mídias que seja metodologicamente desafiadora e potencialmente crítica. MidiAto, em
seu II Simpósio linguagem e práticas midiáticas assume, assim, o debate por uma crítica
do visível, com a intenção de levantar problemáticas e desenvolver articulações teóricas
renovadas para tratar criticamente o tema. É justamente a possibilidade de teorizar sobre
o discurso das mídias – e não apenas analisá-lo ou descrevê-lo – que caracteriza o que,
num primeiro momento, estamos estabelecendo como uma definição de crítica
midiática.
Consideramos que a realização de um trabalho crítico depende de um repertório
compartilhado e da referência a cânones de uma determinada área. E acreditamos que
pode haver o reconhecimento de uma vocação da academia para este tipo de
perspectiva. Há caminhos teóricos mais tradicionais de crítica na área da filosofia, da
arte, do cinema e algo para o jornalismo como prática profissional, como no caso das
análises da cobertura jornalística. Recorreremos, assim, a interesses vindos de tradições
críticas diversas para assentar nossos trabalhos, pretendendo desembocar na
aplicabilidade deste conceito para a área da comunicação.
Três questões principais se colocam, a primeira delas sendo justamente, o que é
que se pode chamar de crítica de mídia (discussão do conceito)?. A segunda pergunta é
onde ela se encontra, quem a realiza? E a terceira pergunta, seria delimitar objetos
específicos sobre o qual nos debruçaremos a partir da perspectiva teórico-metodológica
fundamentada.
Foram norteados alguns pontos que são preocupações da crítica e que
direcionaram a tomada sobre os objetos selecionados:
1. A questão da audiência e do público.
2. A questão de especialistas e produtores autorizados a fazer a crítica.
3. A análise da produção crítica em si, como um campo disciplinar.

213
Nos termos da #interdição

Essas três possíveis vertentes para os estudos se desdobram em diversas


questões:
a. Fundamentação teórica.
b. Formatos e gêneros de produção midiática.
c. Práticas sociais associadas.
d. Percepção da crítica autorizada/palavra do especialista.
e. Lugar da crítica informal, como postagens na internet.
f. Realização de exercícios críticos.

Essa perspectiva se conecta com os estudos de linguagem, explicitando seu


caráter meta-analítico, ou seja, não apenas empreendendo as análises buscadas, mas
inserindo-as numa dimensão crítica para pensarmos as próprias imagens
contemporâneas. Em termos gerais, apontamos que criticar significa desenhar os limites
que colocam o objeto em crise. A relação lógica que se constrói é do objeto para fora.
Valorizamos, desse modo, a possibilidade de inserir o objeto em seu estado
relacional, mais do que gerar novos conteúdos. Trata-se de articular historicamente,
socialmente, culturalmente, legalmente sobre um determinado objeto, apontando suas
amarras, conexões e balizas. Isso permite não fixar no objeto como algo fechado, mas
privilegia olhar as conexões que estabelece com outros (outros textos, outras cadeias de
sentido, por exemplo). Ainda, pressupõe apontar os endereçamentos que partem de cada
objeto evitando ficar concentrado em suas relações textuais mais intrínsecas.
Entendemos que, ao mesmo tempo, são estas mesmas vinculações que delineiam sua
inserção discursiva e circulação.
Reforçamos que o presente evento será voltado aos estudos da imagem, o que
não implica necessariamente trabalhar apenas com imagens audiovisuais, nem apenas
cinema ou televisão, nem apenas ficção, embora isso também possa ser feito. Pensar a
imagem inclui o vasto campo das representações sociais, das construções imaginárias,
do fantástico, das imagens mentais e tantos outros conceitos que dão conta daquilo que
circula fazendo laço social para além dos traços elementares. E podemos pensar no
próprio texto como imagem, na fotografia, nos infográficos, na internet, nas telas de
pintura, e em tantas formas imagéticas verbais e/ou visuais. A variedade é um ponto a
ser valorizado para termos um projeto rico e plural dentro do que se propõe.

214
Nos termos da #interdição

A imagem apresenta, então, a perspectiva de mundo que a engendra, o que


implica um padrão visual, uma visualidade. Poderemos diferenciar regimes de
visibilidade e políticas de representação. Interessa-nos propor uma recuperação dos
regimes escópicos e nos determos no ponto em que o olho começa a se mover junto
com o mundo. Pensemos como a mobilidade assenta a distância entre modos de olhar e
modos de dar a ver. Este é um circuito sempre em descompasso entre duas esferas,
partes de um mesmo objeto.
Uma saída pensada é a de trabalhar nos entremeios, pensar no “entre” da
imagem, nem excesso de sentido, nem a negação tautológica do sentido. Tentaremos
recuperar o ponto em que a concretude de nossos objetos traz sua vinculação a
imaginários, ao mesmo tempo em que coloca sua particularidade crítica.
Assim, entendendo que a imagem que vemos só pode ser acessada como
imagem existente na cultura, no sentido de que toda imagem nos aparece já como
marcada por um certo campo do visível. Cada imagem apresenta em si um modo de
pensar a própria imagem, como um efeito de deja vu superposto sobre o enunciado.
Estendemos esse pensamento à ideia de que a imagem é também uma espécie de ruído
que enxergamos na assunção de posturas sociais, estereótipos e marcas sobre o corpo.
Podemos pensar sobre o que se enxerga “lá”, na imagem, este “lá” sendo a descrição de
um lugar de enunciação, e não apenas um enunciado. Recuperamos um trecho de Didi-
Huberman, que fica como reflexão de uma das possíveis entradas para tomar os objetos
imagéticos e reviver uma perspectiva crítica ouvindo ecos da tradição filosófica.

A entender claramente Benjamin, compreendemos então que a origem não é


num uma ideia da razão abstrata, nem uma “fonte da razão arquetipal”. Nem
ideia nem “fonte” – mas “um turbilhão no rio”. Longe da fonte bem mais
próxima de nós que imaginamos, na imanência do próprio devir – e por isso
ela é dita pertencer à história, e não mais à metafísica –, a origem surge
diante de nós como um sintoma. Ou seja, uma espécie de formação crítica
que, por um lado, perturba o curso normal do rio (eis aí seu aspecto de
catástrofe, no sentido morfológico do termo) e, por outro lado, faz ressurgir
corpos esquecidos pelo rio ou pela geleira mais acima, corpos que ela
restitui, faz aparecer, torna visíveis de repente, mas momentaneamente: eis
aí seu aspecto de choque e de formação, seu poder de morfogênese e de
“novidade” sempre inacabada, sempre aberta como diz tão bem Walter
Benjamin. E nesse conjunto de imagens em “via de nascer”, Benjamin não
vê ainda senão ritmos e conflitos: ou seja uma verdadeira dialética em obra.
Assim devemos retornar ao motivo da imagem dialética e aprofundar aquilo
sobre o qual a análise de Die nos havia deixado mais acima. Precisamos
doravante reconhecer esse movimento dialético em toda sua dimensão

215
Nos termos da #interdição

“crítica”, isto é, ao mesmo tempo em sua dimensão de crise e de sintoma –


como o turbilhão que agita o curso do rio –, e em sua dimensão de análise
crítica, de reflexividade negativa, de intimação – como o turbilhão que
revela e acusa a estrutura, o leito mesmo do rio (Didi-Huberman, 1998,
p.171).

Desse modo, trabalharemos a crítica no sentido de colocar em crise e de operar


no resgate de seu movimento de ruptura. Buscaremos um método crítico de trabalho ou,
ainda, os objetos nos apelarão de um lugar de crise. E perguntaremos, onde esta a
possibilidade de produzir um salto de sentido? O sentido da crítica deve nos ajudar a
entender objetos fragmentários que passam a habitar ordens de circulação diferentes das
suas de origem.

IV. Cursos ministrados

IV.1 - Disciplina em nível de Pós-Graduação Interdição e mídias digitais

A disciplina tem por objetivo apresentar importantes questões teóricas para o


estudo das chamadas mídias digitais, consideradas dentro do âmbito conceitual dos
estudos de linguagem, preocupando-se tematicamente de seus mecanismos de interdição
constituintes. Pretendemos uma abordagem que analise as práticas midiáticas advindas
de seu desenvolvimento e a originalidade de sua articulação narrativa. Assim,
consideramos relevante como problemas chave para entender a dinâmica do meio,
voltar ao estatuto da palavra (apresentação da base teórica das ciências da linguagem), à
noção de arquivo (associado ao debate em relação à memória e à produção e sentido) e
ainda, à formação de rede. Ao longo do curso, apresentaremos conceitos que permitem
olhar a forma da produção textual e a condição relacional que se estabelece entre
termos. Nosso objetivo é articular sobre como as mídias digitais apresentam também
novas formas de práticas midiáticas e a inserção das mesmas no discurso corrente sobre
o fazer comunicacional. Acreditamos que exista nelas um embate neles entre dois
imaginários: a possibilidade ilimitada de acesso à informação, de um lado, e o exercício
de práticas de interdição, de outro. A anunciada perspectiva teórica tem sido muito
incipientemente acionada para estudar as questões trazidas pela grande amplitude do
uso das mídias digitais e da inovação tecnológica. Assim, o curso tem um caráter de
oferecer abertura teórica diante de um tema atual e que tem alterado as dinâmicas das

216
Nos termos da #interdição

produções midiáticas, e, ao mesmo tempo, extrair um debate profícuo através de


atividades práticas envolvendo a análise de diferentes materiais.
Acreditamos que seja interessante ancorar diversos dos debates que estão sendo
feitos sobre o uso das mídias digitais e suas práticas comunicacionais no arcabouço
conceitual dos estudos de linguagem. As relações estabelecidas especialmente com os
conceitos de signo, de discurso, de texto, de arquivo e de autoria situam as dinâmicas
em rede num campo que privilegia seu caráter logicamente interligado. Desse modo,
podemos situar a questão da novidade anunciada para estes meios com base em modelos
discursivamente reconhecíveis. A fundamentação teórica e o debate informado sobre
mídias digitais é importante hoje diante de seu uso extensivo e ampla incorporação nas
dinâmicas de interação social. Uma questão se destaca ainda, em relação à possibilidade
de interposições e interdição em oposição a um movimento de maior conexão e
encontro. O presente curso tem fundamentação num percurso já estabelecido no nível da
graduação e da pós-graduação, sob a designação de ciências da linguagem e que
compreende as diversas teorias do signo que resultaram em correspondentes abordagens
teóricas. Estas se desdobram em diferenciados modelos configurados como análise de
texto, de narrativa, de discurso.

Modulo I – A palavra e processos de indexação na linguagem

1. O estatuto da palavra, reflexões sobre linguagem


Aula expositiva: Dia 12 de março

Entender como a palavra tem sua importância renovada nos sistemas de indexação
atuais e nas dinâmicas de marcação na rede. Retomar como o estatuto da palavra pode
ser retomado através do percurso dos estudos sobre discurso. Ela é um ponto nodal na
construção da frase e, ao mesmo tempo, a estruturação discursiva se descola dela, para
além e para aquém. As reflexões sobre linguagem vão ajudar a entender o processo de
inscrição na linguagem e o segundo nível de inscrição nas redes. As palavras tem sido
privilegiadas como ponto de linkagem e conexão intertextual. Discutir a presença de
vídeos, fotografias e sua relação com a indexação pela palavra ou independência dessa
fixação.
Nesta aula, introduzir o que entendemos por linguagem e qual a perspectiva que
podemos adotar sobre a entrada na ordem simbólica, e da escrita, da inscrição.
Também separar e unir as possibilidades de escrita fora e dentro das mídias digitais.

Interação com os alunos: pedir que falem sobre seus projetos de pesquisa

2. Processos de indexação e o uso de hashtags, da diferença à repetição


Aula expositiva: Dia 19 de março

217
Nos termos da #interdição

Um dos processos mais recorrentes para entender a dinâmica das mídias digitais é a
variação (através da diferença) e a repetição (como recorrência dos mesmos termos).
Elencamos processos de indexação como formas de ao mesmo tempo diferir e agrupar
tais termos. Este processo está identificado com um processo conceitualmente descrito
como exercício de diferença e repetição na linguagem. A expansão dos pontos na rede
gerou maneiras no sentido contrário, de tentativa de uma interconexão entre os termos,
como a marcação por hashtag. A indexação é um processo já conhecido, especialmente
na área acadêmica, com a marcação por palavras-chave e historicamente instaurado por
tentativas de organização e controle, como os índex de temos católicos na inquisição.
Mais uma dinâmica na linguagem podemos recuperar: de que a inscrição implica um
agrupamento, uma marcação e um controle.

Interação com os alunos: pedir que tragam um exemplo a partir de seus corpus

3. A noção de tabuísmo linguístico e a circulação de termos tabu, discurso e seus


desdobramentos
Aula expositiva: 26 de março

A partir da recorrência de alguns termos observamos que eles tem uma característica
especial, pela repetição de sua forma e de uma variação de sua forma. Ou ainda, pela
referência implícita em relação a outro termo omitido na rede. As pesquisas que
trabalham com mídias digitais tentam trabalhar sobre a recuperação de dados
quantitativos ou qualitativos e essa dinâmica acaba por interferir nos resultados. Há
ainda muito o que ser seguindo para o estabelecimento de metodologias de pesquisa em
mídias digitais. Cada trabalho tem de se construir sobre as dificuldades de dispersão e
falta de prioridade na rede. A marca dos tabuísmos é muitas vezes o caminho a seguir
na perseguição da malha discursiva. Introduzir uma outra dinâmica da linguagem e dos
processos de interdição que é a aparição e o ocultamento, a visibilidade e o apagamento
como parte da mesma publicação ou ato de enunciação. A internet é marcada pela
imagem de uma visibilidade e transparência.

Interação com os alunos: Pedir que os alunos tragam e explicitem o que imaginam como
metodologia de suas pesquisas para que possamos conversar em grupo.

Módulo II – A questão da memória e recuperação de sentidos

4. A unidade de arquivo, a perspectiva do controle dos discursos


Aula expositiva: 2 de abril

A internet já foi chamada de um grande arquivo de dados. Mais uma volta da escrita
teremos feito para acumular conhecimento não de forma memorizada, mas gravada
(Podemos fazer o percurso do engravamento das inscrições rupestres, à escrita, aos
disquetes, à nuvem). para Desenvolver sobre a ideia foucaultiana de que a unidade de
um arquivo é construída discursivamente. E que, dessa forma, a possibilidade
recombinatória existe e ela é influenciada especialmente pela passagem do tempo e
pelas mudanças de sentido acumuladas. Da mesma forma como vimos, o efeito de um
movimento de repetição e diferença pode gerar a reorganização de arquivos. Sua
disposição física é um massa material que essas mudanças precisam manejar. Seus
dejetos são ruínas de uma organização, reincorporados numa outra lógica de sentido ou

218
Nos termos da #interdição

incorporados numa lógica de descarte e lixo. A pergunta que nos colocamos é quais
seriam esses resquícios materiais, ruínas, quando se trata das mídias digitais. E se sua
constituição material diferenciada reverte em maior possibilidade de recombinação de
seus elementos, como facilitador para a construção de um arquivo não-linear.

Interação com os alunos: pedir exemplos de casos de controle sobre o discurso nas
mídias digitais

5. As possibilidades de um arquivo não-linear


Aula expositiva: 09 de abril

Discutir a ideia foucaultiana de unidade de arquivo. Debater a relação entre a formação


de arquivos e a noção discursiva de sua inteireza. Diferenciar arquivos em relação a
coleções. As coleções podem existir como aglomerados de obejtos distintos, creditados
como sendo de mesma natureza, enquanto os arquivos dependem de uma catalogação
comum. Discutir a unidade de dado quando se trata do digital, especialmente quando
estamos pensando na área de humanas e não no binarismo lógico. Debater as
possibilidades, dentro do que se tem em vista discursivamente e narrativamente, para o
desenvolvimento da não-linearidade. É apenas uma imaginação, como se reverte essa
ideia no nível do simbólico.

Interação com os alunos: pedir exemplos de arquivos que sejam uma iniciativa de
apresentação de dados com lógica diferenciada

6. Banco de dados e repositórios de dados


Aula expositiva: 16 abril

Se observamos as possibilidades de acúmulo de dados, alem de sua maior possibilidade


de recombinação, podemos formular perguntas em relação à disponibilização dos
mesmos: mesmo com a possibilidade técnica, ainda a proximidade do imaginário do
impresso; a dificuldade de apresentar um produto fechado a partir de dados compilados.
Os dados são organizados para uma finalidade determinada ou ficam dispersos e não
servem para nenhuma atuação prática. A individualização do caminho e a possibilidade
de deixá-lo aberto para qualquer trilha nos coloca em posição de discutir a estrutura da
rede. A tentativa é que o caminho de cada usuário seja a instância doadora da unidade
de sentido (e, assim, do percurso percorrido) pela coleção de dados. Essa proposta
esbarra sempre num usuário imaginado, para quem as possibilidades são abertas.
Podemos citar aqui as possibilidades combinatórias em games.

Interação com os alunos: Exemplos do imaginário do impresso e do digital

Módulo III – Conceito de rede e seus desdobramentos

7. Conceito de rede em contraste com a noção de cadeia sígnica


Aula expositiva: 23 de abril
Estudo em classe

219
Nos termos da #interdição

A organização de dados na forma de rede nos faz propor uma investigação sobre este
conceito. Podemos aproximar sua forma de conexão com aquela da cadeia sígnica, em
ambas o ponto de conexão não é feito por uma lógica linear (sequencia numérica), mas
pela aproximação através do sentido ou da forma. Ambas remetem, ainda, a um
conjunto de elementos com o qual cada termo se relaciona remotamente que encontra
sua unidade na cultura. A explicitação da ligação na rede vidência a atualização destes
mesmos conjuntos e uma forma de interconexão ou intertextualidade. Nesse sentido, as
não privilegiamos a ideia de que exista uma profundidade nas conexões, mas ao
contrário, que os termos se encontram dispostos na mesmo nível e regidos pela mesma
forma linguística. A diferenciação entre eles pode nos levar ao conceito de valor.

Texto para estudo em classe (conceito de rede):


CASTELLS, M. “A rede e o ser”. In: A sociedade em rede. ol. I. São Paulo: Paz e
Terra, 1999. 8ª Ed. p. 39-66.
COO , Sarah. “Immateriality and its discontents”. In: PAUL, Christiane. (Ed.) New
media in the white cube and beyond. Berkeley, Los Angeles and London: University of
California Press, 2008. p. 26-49.

8. Superficialidade e profundidade das conexões


Aula expositiva: 30 de abril
Estudo em classe

Há uma noção de que a internet guarda conteúdos inacessíveis. No sentido oposto ao da


hipótese de acessibilidade e divulgação públicas, há a criação das chamadas barreiras ou
fronteiras eletrônicas. Estas podem ser senhas, variações nos códigos, reserva de acesso
através da deep web. Podemos citar aqui, com Foucault, sobre as barreiras ao livre
discurso, que na web se materializam como restrição ao acesso e à possibilidade de
publicação. Dessa forma, a autoria de público pode ser bem aceita em determinadas
plataformas e ser mais restritas em outras. O importante é marcar aqui que, seguindo o
conceito de rede e pensando que o código é compartilhado, todo o conteúdo encontra-se
numa superficialidade. Podemos falar dos bloqueios de acesso como restrições sobre tal
ordem superficial.

Texto para estudo em classe (especificidade das conexões em rede):


BOLTER, ay; GRUSIN, Richard. “Networks of remediation”. In: Remediation:
understanding new media. MIT Press, 2000. p. 64-84.
CRYSTAL, David. “The lingustic future of the internet”. In: Language and the internet.
Cambridge University Press, 2004. p. 224-251.

9. Possibilidades de reconexão, a questão da identificação, grupos e palavras


Aula expositiva: 7 de maio
Estudo em classe

Uma das características da rede que pretendemos abordar é a dispersão e, ao mesmo


tempo, seu movimento de retorno e sua possibilidade de recomposição. Trataremos da
questão da identificação privilegiando termos que tenham sido motivos de polêmica na
rede e que tenha circulado. Vamos fazer um recorte para observar o movimento de
identificação em torno de tais termos/palavras/expressões, associando a grupos sociais e
sua repercussão nas redes sociais e na grande mídia. Neste ponto já podemos utilizar as
noções que acumulamos sobre a indexação de conteúdos na rede, a circulação de

220
Nos termos da #interdição

conteúdos tabu para estudar processos um pouco mais abrangentes de viralização de


conteúdos. Esta aula será uma entrada para o próximo módulo, saindo das
características mais técnicas da rede para as possibilidades e as formas de expressão
nelas.

Texto para estudo em classe (palavras, identificação, características da escrita


hipertextual):
SÜSSEKIND F., DIAS, T. (Org.). A historiografia literária e as técnicas de escrita. Rio
de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa: Vieira e Lent, 2004.
VIANELLO OSTI, M. El hipertexto entre la utopia y la aplicación: identidad,
problemática e tendências de la Web. Gijón: Trea, 2004. p. 73-93.
NELSON, T.H. Opening hypertext: a memoir. In: TUMAN, M.C. (Ed.). Literacy
online: the promise (and peril) of reading and writing with computers. London: The
University of Pittsburgh Press, 1992.

Módulo IV – Possibilidades de interdição e expressão nas mídias digitais

10. Noção de autoria e a ação do usuário


Aula expositiva: 14 de maio
Estudo em classe

Podemos considerar que a autoria seja um parâmetro de unidade nas mídias digitais. Há
um embasamento teórico que permite afirmar a autoria como categoria de coesão nos
discursos. Podemos apropriar esta ideia para as mídias digitais e, ao mesmo tempo,
entender como tal categoria exerce essa função de uma forma diferenciada. No presente
módulo entramos no âmbito mais da forma de construção dos relatos nas mídias
digitais. E a autoria exerce um papel importante na imaginação de um usuário suposto
que irá percorrer os caminhos programados. Consideramos ainda que a forma de
exercício da autoria se coaduna com a característica de fragmentação das unidades de
texto nessas mídias. Trataremos do processo de pulverização da autoria, da posse do
usuário no lugar de autor e da participação do autor como atuante. Neste último
parâmetro entendemos que o autor deve agir publicando, comentando, escolhendo
opções, clicando.

Texto para estudo em classe (autoria na rede):


BOLTER, ay; GRUSIN, Richard. “The networked self”. In: Remediation:
understanding new media. MIT Press, 2000. p. 256-265.
CHARTIER, R. “O leitor: entre limitações e liberdade”. In: A aventura do livro:
do leitor ao navegador. São Paulo: Unesp,1995.

11. Fragmentação dos conteúdos e unidade de sentido


Aula expositiva: 21 de maio
Estudo em classe

Tendo iniciado com a questão da autoria nas mídias digitais, neste momento
reforçaremos a análise de que tais mídias apresentam seus conteúdos de forma
fragmentária. O importante nesse processo de divisão é a abertura gerada para que se

221
Nos termos da #interdição

construa um caminho, que pode ser diferente para cada usuário, a cada passo, a cada
clique. Nesse sentido, podemos considerar a produção de conteúdos como ramificada,
rizomática e ao mesmo tempo interligada em níveis. Muitas vezes é possível determinar
um ponto de partida, ou um nível mais geral onde se concentram as aberturas de
caminho (uma página inicial), outras vezes o cerne da unidade de sentido é uma
tentativa de aprender com os interesses do usuário. Isso nos leva, fechando o clico,
novamente à questão da autoria. E ela se mistura com o binarismo dos códigos de
programação para que se escrutine, cada vez melhor, os interesses daquele que clica.

Texto para estudo em classe (fragmentação):

RICOEUR, P. “O ponto de partida e o ponto de chegada”. In: Tempo e narrativa. Tomo


I. Campinas: Papirus editora, 1994. p. 76-84.

12. Possibilidades de livre expressão e mídias digitais, sentido e sedução


Aula expositiva: 28 de maio
Estudo em classe

Podemos discutir sobre as possibilidades de livre expressão nas mídias digitais a partir
desta perspectiva que vimos trabalhando, de um enfoque na atuação individual do
usuário. Sua conexão social está identificada na formação de grupos e nas trocas a partir
da aproximação de perfis individuais. Estes que podem se associam a outros grupos,
também fragmentariamente, dentro da mesma rede. A valorização de uma potência
individual, que seria parte da atribuição de um imaginário de liberdade de expressão na
rede, se contrasta com o isolamento nessa mesma particularidade. Devemos considerar
o sentido de viralização como a possibilidade de um corte verdadeiramente de sentido
social a perpassar a rede. E , assim, o exercício de atribuição de valor, que o que
estamos chamando de sedução, de movimento comunicador pode ocorrer ali.

Texto para estudo em classe (liberdade de expressão):

BEIGUELMAN, Gisele. “Coleiras Digitais”. In: Link-se:


arte/mídia/política/cibercultura. São Paulo: Peirópolis, 2005. p. 122 -128.
POLLA , Michael. “Memória, esquecimento, silêncio”. Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.
BRUNO, Fernanda. “Monitoramento, classificação e controle nos dispositivos de
vigilância digital”. Revista FAMECOS. Porto Alegre, nº 36. agosto de 2008.

IV.2 - Curso de atualização a distância Censura e liberdade de expressão em


debate

222
Nos termos da #interdição

O Curso de Atualização Universitária “Censura e Liberdade de Expressão em


Debate” ocorreu de 1º de outubro a 30 de novembro. Oferecido pelo Observatório de
Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da Universidade de São Paulo
(OBCOM/USP), em parceria com o Centro de Investigação Media e Jornalismo da
Universidade Nova de Lisboa (CIMJ/NOVA) abordou temáticas essenciais para o
debate acerca das diversas formas de interdição na atualidade e pretende solidificar uma
rede colaborativa entre pesquisadores e estudantes dos centros de pesquisa em questão.
O modelo de Ensino à Distância é inovador e tem provado seu potencial em
difusão do conhecimento. Acessível e estimulador o Curso à Distância oferecido contará

223
Nos termos da #interdição

com equipe qualificada para o alcance de seu sucesso. No Curso EaD “Censura e
Liberdade de Expressão em Debate” será possível o contato com docentes do Brasil e
Portugal, bem como o intercâmbio cultural e acadêmico entre alunos destes países.
Organizado através modelo híbrido, terá parte presencial com videoconferência e parte à
distância através das ferramentas hangout/youtube e EdModo.
O curso contou com 14 videoconferências presenciais realizadas nas salas de
aula da USP e da Universidade Nova de Lisboa, sendo 07 Fóruns Temáticos ao vivo,
com duração de duas horas, e os outros 07 Fóruns de Debates Monitorados, também
com duração de duas horas. Além de 07 Fóruns de Debates Virtuais online, do tipo
assíncronos, em que os participantes do curso apresentaram suas dúvidas para serem
esclarecidas pelos monitores de cada temática e os trabalhos desenvolvidos para cada
módulo. Toda a dinâmica do curso será explicada no Fórum de Abertura do Curso, e os
estudantes contarão com uma rede de suporte para dúvidas técnicas e temáticas. Os
horários foram formulados com o objetivo de conciliar os fusos horários do Brasil e
Portugal.
O curso foi gratuito e destinado a pesquisadores e estudantes já graduados. As
aulas temáticas organizaram-se por meio de leituras fundamentais, explanação dos
pesquisadores e debate com os estudantes. Sua carga horária totalizou 43 horas, e houve
emissão de certificado de conclusão do curso.

Curso EaD de Atualização Universitária: Censura e Liberdade de Expressão em Debate


Quando: 01 de outubro a 30 de novembro de 2013
Onde:
Brasil: Prédio do CCA, Escola de Comunicações e Artes/USP.
Portugal: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/NOVA.
Mais informações pelos sites: www.cimj.org ou www.eca.usp.br/obcom
Inscrições GRATUITAS pelo link: http://tinyurl.com/curso-ead

V. Edição de periódico científico

Revista Rumores (www.usp.br/rumores)


RuMoRes é uma publicação semestral online da Escola de Comunicações e
Artes da USP voltada para a divulgação de artigos científicos e resenhas que contribuam
224
Nos termos da #interdição

para o debate sobre comunicação, cultura, mídias e linguagem. A revista aceita


trabalhos originais e inéditos (de autoria individual ou coletiva) de autores(as) com
titulação mínima de doutor(a) ou doutorando(a), vinculados a instituições de ensino
superior, recebendo-os em sistema de fluxo contínuo. Artigos escritos por mestres ou
mestrandos(as) serão aceitos em coautoria com doutores(as). Os trabalhos são avaliados
por integrantes do conselho editorial e pareceristas ad hoc, em sistema de avaliação
cega, podendo ser aprovados, aprovados com modificações ou reprovados. Os
resultados são informados aos autores(as) e os artigos aprovados são publicados nos
números seguintes da revista.
Estabelecida na grande área do conhecimento das Ciências Sociais Aplicadas e,
mais especificamente, voltada para os temas da Comunicação (Ciências Sociais
Aplicadas I), RuMoRes tem em vista que a consolidação de um campo de estudos
acadêmicos neste âmbito tem como importante quesito a abertura de espaços para
publicação e divulgação de pesquisas nos quais seja possível o intercâmbio entre
pesquisadores de diversas regiões do Brasil e do exterior, num suporte que viabiliza
essa acessibilidade à distância, as mídias digitais na internet. A revista concentra-se
assim, em sua forma de publicação, nas possibilidades tecnológicas da internet e dos
sistemas digitais: bancos de dados, processos de gestão e formatos narrativos possíveis
para a disponibilização de conteúdos online.
RuMoRes apresenta-se, ainda, como lugar de publicação e de trocas acadêmicas,
tendo se instalado e firmado um percurso desde o ano de 2007, encontrando-se,
portanto, em sua sétimo ano de edição, com periodicidade constante e regular, e
movendo-se na direção de ampliar a circulação de textos e autores, bem como a
dinâmica de seu processo de editoração, nos anos porvir. A circunscrição, pela
perspectiva dos estudos de linguagem, do campo de estudos na área de comunicação e
mídias, tem como efeito que seus textos apresentam uma abrangência temática,
englobando nesse recorte particular tanto diferentes disciplinas (como antropologia,
psicanálise, linguística, sociologia, teorias da comunicação, entre outras), como objetos
de pesquisa (literatura, cinema, artes plásticas, jornalismo, televisão, rádio, internet,
entre outras).
Assim, definindo de maneira geral, a revista RuMoRes visa estabelecer um
debate sobre comunicação, cultura, mídias e linguagem, pensando-os como parte de um
sistema diversificado de práticas sociais e eixos conceituais constituintes da cultura
contemporânea. Sua articulação peculiar e interdisciplinar tem garantido a circulação e

225
Nos termos da #interdição

visibilidade necessária para que, a cada processo de avaliação pela comissão de área da
Capes (sistema Qualis de qualificação de revistas acadêmicas), fosse possível avançar
na classificação, chegando em 2012 à categoria de revista Qualis B1 em sua área de
atuação (Ciências Sociais Aplicadas I).

Anagrama – participação em Comissão Editorial (www.usp.br/anagrama)


A revista Anagrama é uma publicação trimestral do "Grupo de Estudos de
Linguagem: Práticas Midiáticas" (ECA-USP) que tem como objetivo discutir temas
relacionados à mídia, imprensa e comunicação social a partir de uma ótica
interdisciplinar. A principal meta é divulgar a produção acadêmica dos graduandos de
qualquer área do conhecimento.
Anagrama, de acordo com o dicionário Aurélio, significa “palavra formada pela
transposição das letras de outra”. Este nome foi escolhido, justamente, pela série de
relações a que esta palavra remete. Anagrama pode significar tanto a inversão das letras
das palavras de forma a compor uma nova, assim como, entre outros significados, uma
leitura diagonal ou transversal que traz à luz novos sentidos para um texto. Ela nos faz
lembrar de jogos de linguagem, combinações de disciplinas, interpenetração de meios e
isso parece ser exatamente o que queremos explorar: todas as relações que são
imagináveis entre as mídias, ou seja, os meios que propagam a cultura.
Cultura, para Clifford Geertz, é uma destas idéias que de vez em quando surgem
no panorama intelectual e que, imediatamente, solucionam tantos problemas
fundamentais, que todos se agarram a ela como se ela fosse um “abre-te sésamo” para
todas as questões do universo. Clyde Kluckhohn chega a enumerar 11 definições
diferentes para esse termo em um único livro. Ao invés de tomarmos isso como um
problema, enxergamo-lo como uma solução: exatamente o que procuramos são as
combinações e inter-relações possíveis entre as diferentes definições de cultura e seus
diferentes modos de propagação.
A idéia da revista surgiu a partir da constatação de que existe uma enorme
produção acadêmica e científica de grande qualidade e interesse feita por graduandos
que, muitas vezes, não é absorvida pelas revistas científicas convencionais. Nossa meta
também é cobrir essa falha.

226
Nos termos da #interdição

VI. Integrante do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e


Censura da USP

A bolsista integrou ativamente o grupo de pesquisa do Observatório de


Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura, colaborando cientificamente em
todos os setores de sua atividade de pesquisa, participando na organização de eventos e
na coleta de dados sobre censura e liberdade de expressão e na produção de publicações.
Reconhecido como um Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) pela Pró-Reitoria de
Pesquisa da Universidade de São Paulo, o OBCOM teve sua estrutura de
operacionalização da pesquisa e da proposta de trabalho inicial montada no primeiro
semestre de 2013. Podemos dizer, assim, que tivemos já uma experiência de montagem
e acompanhamento do fluxo de trabalho durante o ano. Descrevendo em termos
abrangentes, a estrutura do Obcom inclui uma interface acessível pela rede mundial de
computadores, a Internet, um grupo de estagiários para a coleta diária de notícias de
interesse em três línguas (português, espanhol e inglês) que alimenta uma Hemeroteca
Digital. Há ainda a colaboração por parte de um Comitê Científico com a missão de
analisar o material coletado e gerar resultados acadêmicos.
Pretendemos, assim, que o Observatório acompanhe a ação da censura na
atualidade especialmente por meio das mídias eletrônicas e de uma plataforma como
meio privilegiado para fomentar a discussão sobre a censura. Como os fatos envolvendo
a censura atual são radicalmente diferentes daqueles estudados no passado em que o
Estado autoritário era o principal agente dos mecanismos censórios, foi proposta uma
metodologia diferente de pesquisa, a ser detalhada mais adiante.
Estudiosos da atualidade, amparados na crítica ao neoliberalismo, como Julian
Petley em seu livro Censoring the Word13 afirmam que o direito à liberdade de
expressão não pode mais ser entendido como um valor jurídico absoluto e que mais
importante que ele, hoje, é a defesa da informação livre de seus comprometimentos
mercadológicos e interesses econômicos.
Assim, distanciam-se os conceitos de liberdade de expressão e de censura
advindos da Revolução Francesa e da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
A liberdade de expressão tem se tornado uma ferramenta de disputas econômicas e
políticas envolvendo um mundo globalizado e ligado por redes de comunicação. A

13
PETLEY, Julian. Censoring the word. Londres: British Library, 2007.

227
Nos termos da #interdição

opinião pública, entretanto, como antigamente, oscila entre a rejeição e o apoio à


censura e à liberdade de expressão. Estudar tais mudanças, conceituá-las e discuti-las
em âmbito acadêmico se torna iminente, pois envolvem questionamentos como: Que
ocorrências ainda podem ser definidas como o exercício censório? Em que base legal se
legitimam? Como a sociedade se divide no apoio ou na rejeição à restrição ao seu
direito de informação?
As novas formas de censura, ao contrário das praticadas no passado, não têm
somente motivações estatais, vem sendo exercidas também por parte da iniciativa
privada. Veja-se, por exemplo, as leis de incentivo à cultura, que atuam a partir de uma
lógica de mercado, exigindo que a criação se submeta a ela; e os processos judiciais
contra pessoas e grupos específicos que acabam por coibir a livre expressão. Nesse
sentido, não estão documentadas a partir de ritos burocráticos, como estiveram durante
boa parte do século XX. Por isso, a criação de um observatório irá auxiliar na
compreensão de como esse tipo de censura se constituiu historicamente e por meio de
quais maneiras ela se processa.

VI.1 - Coordenação da coleta de materiais sobre censura e interdição

A participação da bolsista foi ativa no sentido de utilizar seus conhecimentos


para ajudar a orientar os trabalhos de coleta de pesquisa do grupo, coordenando fluxo de
materiais desde os pesquisadores ao Comitê Científico e pensando soluções em relação
à coleta e armazenamento nos meios digitais.
No ano de 2012, o então Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Censura
(NPCC) - atual Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura
(OBCOM) da Universidade de São Paulo - iniciou a criação de um acervo visando
fundamentar pesquisas sobre as plurais formas da censura na atualidade. A inspiração
para tal iniciativa foi o legado do acervo Arquivo Miroel Silveira (AMS), que deu
origem ao trabalho do NPCC; a riqueza do AMS como fonte documental para pesquisas
sobre a censura foi, de fato, uma alavanca para a ampliação dos estudos sobre possíveis
formas de interdição.
Assim, visando o estudo sobre o exercício da restrição à produção cultural hoje
foi então criada, ainda sob a égide do NPCC, a Hemeroteca Digital Miroel Silveira
como primeiro passo na coleta de materiais: uma coleção de publicações periódicas
veiculadas pela mídia informativa digital, que cumpre o papel de observar as

228
Nos termos da #interdição

ocorrências atuais de censura, suas repercussões mundiais e a opinião pública a respeito


de tais fatos.
A Hemeroteca, iniciada no começo de abril de 2012, foi lançada no dia 24 de
maio de 2012, quando possuía cerca de 250 arquivos sobre censura, publicados pela
mídia a partir do ano de 2006. Atualmente, o acervo beira os 1000 arquivos catalogados
e disponibilizados virtualmente no endereço
http://obcom.nap.usp.br/hemeroteca_digital/apresentacao.
A proposta da Hemeroteca envolve o estudo aprofundado da liberdade de
expressão no século XXI a partir de um Núcleo de Apoio à Pesquisa que realiza o
acompanhamento da ação da censura nos dias de hoje, um observatório que monitora as
formas como ela se apresenta e os motivos pelos quais ela continua tendo força e apoio
de parte da sociedade. O objetivo foi, portanto, instituir uma plataforma, acessível pela
Internet, para coletar notícias, fomentar discussões e reunir publicações em português,
inglês e espanhol, criando uma documentação consistente sobre as questões censórias.
O projeto envolve, ainda, a discussão sobre tais documentos entre autoridades da área
política, sociológica, histórica ou legal.
As novas formas de censura, ao contrário das praticadas no passado, não têm
somente motivações estatais, mas vêm sendo exercidas também por parte da iniciativa
privada. Vejam-se, por exemplo, as leis de incentivo à cultura, que atuam a partir de
uma lógica de mercado, exigindo que a criação se submeta a ela; e os processos
judiciais contra pessoas e grupos específicos que acabam por coibir a livre expressão.
Nesse sentido, as censuras não estão documentadas a partir de ritos burocráticos, como
estiveram durante boa parte do século XX. Neste panorama, a criação de um
observatório auxilia na compreensão de como esse tipo de censura se constituiu
historicamente e por meio de quais maneiras ela se processa.

Projeção e início da Hemeroteca Digital Miroel Silveira


Parte fundamental do atual OBCOM, a Hemeroteca Digital Miroel Silveira foi
idealizada primeiramente por Cinthia Alves de Araújo Bissa, bolsista de iniciação
científica, e por Débora Rangel, bolsista de treinamento técnico do então NPCC. Diante
do interesse em pesquisar possíveis formas e repercussões de uma censura atual, as
citadas bolsistas reuniram cerca de 30 matérias divulgadas pela mídia nos últimos anos
que se relacionavam a ao tema. As matérias permaneceram catalogadas e armazenadas

229
Nos termos da #interdição

em forma de arquivo virtual, mas não tinham, ainda, uma plataforma para serem
disponibilizadas e abordadas em subsequentes pesquisas.
Observando, então, a possível abrangência da análise deste tipo de material, a maior
parte da pesquisa a partir de abril de 2012 foi dedicada à busca e à elaboração de um
sistema de catalogação de material midiático relacionado à censura. Como proposta de
organização, surgiu a ideia de criar uma hemeroteca 14 vinculada ao NPCC, como uma
ferramenta aberta ao público em geral que pudesse ser acessada a partir do site do
núcleo.
Tal acervo englobaria não apenas material jornalístico, como também textos de
opinião – artigos, postagens de blogs, comentários, etc. -, de modo a mapear tanto a
repercussão mundial de acontecimentos que podem remeter à censura, quanto o
posicionamento do público a que se dirigem tais notícias.
A Hemeroteca Digital Miroel Silveira, foi, enfim, iniciada no começo de abril de 2012,
e lançada no site do NPCC no dia 24 de maio de 2012, quando possuía cerca de 250
arquivos sobre censura, publicados pela mídia a partir do ano de 2006. Em nova
contagem, em meados de janeiro de 2013, o acervo já contava com mais de 1000
arquivos catalogados, além de cerca de 500 a serem incluídos no site.

Evolução da metodologia de pesquisa e implementação do sistema


Por se tratar de um projeto em constante desenvolvimento, é relevante notar a
inevitabilidade de mudanças no curso metodológico com o decorrer do trabalho. Muitos
aspectos que, em projeto, pareciam importantes para a construção da Hemeroteca
acabaram se inviabilizando ou perdendo a razão de ser. Por outro lado, foram inúmeras
as necessidades que surgiram durante o período de forma inesperada.
Explicitando esta trajetória, e englobando nela os pontos altos e baixos do
desenvolvimento da pesquisa, torna-se possível apreender as reais características
inerentes à criação de um acervo abrangente como este, com um material não uniforme
como é o virtual. Além das complicações primeiras, referentes ao sistema de pesquisa
das notícias a serem recolhidas, surge o questionamento metodológico e prático de
como é possível catalogar e analisar um material que engloba desde reportagens em
jornais virtuais de alta circulação até posts de blogs pessoais.

14 Uma hemeroteca é uma coleção de publicações periódicas - fadadas à perda e ao esquecimento quando não há
iniciativa para conservá-los.

230
Nos termos da #interdição

Simultânea a este desenvolvimento metodológico de pesquisa acadêmica, houve a


implementação de um sistema virtual para disponibilizar o acervo. Ambas as linhas –
analítica e tecnológica - prosseguiram paralelamente, em constante diálogo durante a
etapa de criação.
A fim de melhor descrever este complexo trabalho desenvolvido, estabelecemos
divisões neste relatório conforme as etapas do trabalho, sendo estas, em ordem: a) a
busca por material; b) o armazenamento de notícias e a estruturação do registro; c) a
catalogação implementada no sistema. É importante ressaltar que todas as experiências
que aqui se encontram relatadas de forma individualizada, na realidade se entrecruzaram
e ocorreram concomitantemente ao longo do trabalho.

Etapas da busca por material


No princípio, a procura por notícias era efetuada por bolsista vinculados ao núcleo,
manualmente, por meio dos sistemas de busca de sites como o Google e portais de
notícia como a Folha de S. Paulo. Os bolsistas utilizavam na busca algumas poucas
palavras-chave, tais como “censura” e “liberdade de expressão”, sem refinamento
metodológico. Não havia, portanto, nenhum tipo de sistematização. Desta forma, além
de haver pouca abrangência de diferentes fontes de notícia, havia também o risco de
bolsistas diferentes resgatarem e armazenarem matérias repetidas.
Com a tomada de consciência da debilidade deste tipo de pesquisa, o grupo passou a
buscar alternativas mais eficientes. Surgiu, então, a ideia de utilizar a ferramenta Google
Alerts. Acessando a URL http://www.google.com.br/alerts, é possível cadastrar
palavras-chave, que servem como parâmetro de busca automática do site. Ao encontrar
qualquer material na web vinculado a estas tags, o Google o envia para um e-mail
cadastrado.

231
Nos termos da #interdição

Figura 1 – imagem do sistema do Google Alerts, com as palavras-chave cadastradas


para o OBCOM.

Dentro do sistema dos alertas, é possível configurar dois parâmetros conforme a


intenção de pesquisa: o volume de matérias a serem enviadas (“somente os melhores
resultados” ou “todos os resultados”) e a frequência de envio das mesmas (“quando
disponível”, “uma vez por dia” ou “uma vez por semana”). A fim de evitar que o filtro
do próprio site Google restringisse o material a ser recebido pelos pesquisadores, optou-
se por receber todas as notícias, e assim que estivessem disponíveis (ver figura 1).
Criou-se primeiramente, então, o e-mail hemerotecanpcc@gmail.com para o
recebimento dos alertas. Toda mensagem pelo Google tem como título “Alertas do
Google”, seguido da indicação da palavra-chave relativa àquele e-mail em específico e
da quantidade de notícias encontradas (ver figura 2).

232
Nos termos da #interdição

Figura 2 – exemplo de alertas recebidos no e-mail hemerotecanpcc@gmail.com

Além de ser bastante prático – já que automatiza o trabalho que antes era manual
e bastante restrito -, o sistema de alertas impossibilita a repetição no armazenamento de
matérias. Combinou-se entre o grupo, afinal, que bastaria que nenhum bolsista buscasse
notícias em um e-mail assinalado como já lido por outrem.
O mesmo sistema continua sendo utilizado no atual OBCOM. Entretanto, com
diferentes palavras-chave e com vínculos em outros e-mails. Com o crescente interesse
em investigar a mídia que se reporta também em inglês e espanhol, o OBCOM assumiu
a necessidade de criar três e-mails distintos para cada um dos idiomas abrangidos, a fim
de evitar uma quantidade inviável de material a ser trabalhado no mesmo endereço.
Passou-se a utilizar, portanto, os endereços obcomportugues@gmail.com,
obcomenglish@gmail.com e obcom.espanhol@gmail.com.
Quanto às palavras-chave cadastradas, é preciso ressaltar que houve e continua a haver
muitas mudanças. Na tabela 1, é possível verificar as palavras-chave já utilizadas/ainda
em uso para o obcomportugues@gmail.com, e que embasam as demais buscas em
outras línguas.

Exemplo de
Palavra- Justificativa Problematiza
conteúdo recebido Estado atual
chave inicial ção
(títulos)
Recebe-se
“A ustiça de Descobrir uma
Limeira (SP) material quantidade
proibiu o advogado relevante ínfima de Em
Acesso Cássius Haddad, de principalmente à matérias que questionament
31 anos, de acessar questão da efetivamente o
redes sociais na interdição em se relacionam
internet. “15 meios virtuais com o tema
da censura.

15
Disponível em: http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2013/04/justica-proibe-advogado-de-limeira-
que-criticou-mp-de-acessar-internet.html

233
Nos termos da #interdição

“Censura derrota
Palavra-chave
Falha de São Paulo
Censura básica e --- Permanece
abrindo precedente
essencial
perigoso”16
Busca por
material que
embase a
“Classificação
pesquisa a
Classificaçã indicativa e os
respeito da --- Permanece
o indicativa direitos das
classificação
crianças”17
indicativa como
uma forma de
censura
Procura por Recebe-se
notícias que uma
“O direito de
discutam a quantidade
imagem do
questão do ínfima de Em
Direito de empregado e o uso
público/privado matérias que questionament
imagem de uniforme com
de imagens e efetivamente o
logomarcas
suas se relacionam
comerciais”18
repercussões com o tema
censórias da censura.
“Tribunal
reconhece
Liberdade Associação de Palavra-chave
de Pedófilos sob básica e --- Permanece
expressão argumento de essencial
‘liberdade de
expressão’” 19
Materiais
Busca por
referentes ao
“Microsoft muda notícias que
tema da
política de discutam
censura não
Política de privacidade e principalmente a
são Retirada
privacidade reacende polêmica questão da
encontrados
de coleta de liberdade de
com esta
dados”20 expressão na
palavra-
internet
chave
"Meu desfile foi Expressão
Politicamen capturado pelo muitas vezes
--- Permanece
te correto 'politicamente vinculada à
correto’, afirma interdição de

16
Disponível em: http://pt.globalvoicesonline.org/2013/03/18/censura-derrota-falha-de-sao-paulo-abrindo-
precedente-perigoso/
17
Disponível em: http://www.douradosagora.com.br/brasil-mundo/classificacao-indicativa-e-os-direitos-das-
criancas
18
Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7828/O-direito-de-imagem-do-empregado-e-o-uso-
de-uniforme-com-logomarcas-comerciais?cta_src=home
19
Disponível em: http://noticias.gospelprime.com.br/tribunal-reconhece-associacao-de-pedofilos/
20
Disponível em: http://www.tiinside.com.br/22/10/2012/microsoft-muda-politica-de-privacidade-e-reacende-
polemica-de-coleta-de-dados/ti/307081/news.aspx

234
Nos termos da #interdição

estilista algum material,


Ronaldo”21 principalmente
os de cunho
humorístico.
Busca porRecebe-se
material que se
uma
relacione à
quantidade
“Atrasado, Brasil
questão da
ínfima de Em
prepara lei de
Privacidade censura como
matérias que questionament
proteção à
privatização de
efetivamente o
privacidade”22
informações que
se relacionam
deveriam ser de
com o tema
caráter público
da censura.
Recebe-se
Palavra-chave
uma
interessante para
quantidade
“Governo aprova conseguir
ínfima de Em
sigilo de negócios material sobre
Sigilo matérias que questionament
com Cuba e interdição e
efetivamente o
Angola”23 omissão,
se relacionam
principalmente
com o tema
governamental
da censura.
Tabela 1 – esquema ilustrativo das palavras-chave utilizadas na busca

São notáveis, portanto, como já citado, as mudanças metodológicas ocasionadas


via experimentação ao longo do trabalho. O questionamento ou retirada de palavras-
chave ocorrem principalmente devido à constatação da pouca ou nula relevância das
mesmas para a constituição do acervo.
A fim de tentar contabilizar as notícias recebidas por palavra-chave para avaliar
esta relevância – ainda que cientes que a “produtividade” destes alertas varia conforme
o momento em que aparecem -, os bolsistas elaboraram uma tabela diária, anotando as
quantidades de e-mails recebidos, de notícias inclusas neles e das que foram
selecionadas como relevantes para armazenamento (ver tabela 3). Tais dados amparam a
discussão sobre quais palavras-chave devem permanecer ou serem retiradas. No dia
22/03/2013, por exemplo, das 10 notícias recebidas pela busca por “política de
privacidade”, nenhuma foi considerada como relevante.

21
Disponível em: http://revistamarieclaire.globo.com/Moda/noticia/2013/03/meu-desfile-foi-capturado-pelo-
politicamente-correto-diz-ronaldo-fraga.html
22
Disponível em: http://www.boainformacao.com.br/2013/01/atrasado-brasil-prepara-lei-de-protecao-a-
privacidade/
23
Disponível em: http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=394210

235
Nos termos da #interdição

Dia 22/01/2013
Palavras-chave E-mails recebidos Notícias Recebidas Notícias Relevantes
Acesso 3 50 2
Censura 2 4 3
Classificação Indicativa 1 10 3
Direito de Imagem 1 10 0
Liberdade de expressão 2 11 8
Política de Privacidade 1 10 0
Privacidade 1 14 1
Sigilo 2 30 0
Total 13 139 17
Tabela 2 – contabilização de notícias recebidas e selecionadas no dia 22/01/2013

Etapas do armazenamento de notícias e estruturação do registro


Como já foi dito, o acervo da Hemeroteca se iniciou com 30 notícias salvas e
não catalogadas por bolsistas anteriores. Estavam elas salvas em um único arquivo no
formato .doc, em sequência, sem formatação padrão (ANEXO I).
Em face à impossibilidade de trabalhar o material armazenado desta forma, procurou-se
criar um padrão de formatação e arquivamento das 30 notícias antigas. A primeira
tentativa neste sentido está ilustrada pela figura 3, em que se vê a imagem de uma capa
que era incluída antes do documento, com seus dados em uma formatação formal
precisa.

236
Nos termos da #interdição

Figura 3 - Imagem da capa utilizada nos arquivos

Mais tarde notou-se, entretanto, que era gasto muito tempo no preenchimento de
tais fichas, e que elas não seriam necessárias no caso de se implementar um sistema com
os mesmos campos catalográficos.
A etapa da formatação foi, portanto, simplificada. Um padrão foi adotado para o
corpo do texto (fonte Times New Roman, tamanho 12, texto justificado) e a catalogação
deixou de ser feita no próprio arquivo .doc para ser diretamente enviada pelo sistema no
site. A fim de instruir o trabalho dos bolsistas, foi elaborado um primeiro Manual da
Hemeroteca Miroel Silveira, com estas e outras informações práticas (ver ANEXO II).
Mais tarde também foi incluída no próprio arquivo uma ficha mínima, colocada antes
do corpo da matéria, com informações sobre data, autor, fonte e URL das notícias
recolhidas. Esta nova formatação também foi incorporada a um manual de instruções.

Etapas da catalogação e implementação do sistema


237
Nos termos da #interdição

Primeiramente, o grupo procurou pensar em uma forma de catalogar as 30 notícias


fundadoras do projeto da Hemeroteca, incluindo campos de dados básicos que as
organizasse convenientemente. A primeira escolha de campos abrangia:
 NiD;
 Título da notícia;
 URL;
 Data de publicação;
 Fonte;
 Autor;
 Veículo;
 Motivo;
 Objeto;
 Categoria.
Tais campos eram preenchidos no sistema do Google Drive, em que é possível criar
planilhas compartilháveis e editáveis via internet (ver figura 4).

Figura 4 - Imagem da primeira catalogação de notícias no sistema do Google docs.

Mais tarde, estes dados foram transferidos para o site do NPCC e a catalogação
passou a ser feita diretamente em seu sistema (ver figura 5).

238
Nos termos da #interdição

Figura 5 – imagem da página de preenchimento dos campos de catalogação

É relevante notar que os campos a serem preenchidos para a catalogação das


matérias foram extremamente modificados ao longo do desenvolvimento do acervo.
Excetuando-se as informações básicas como título, data e fonte do material, muitos
outros dados foram surgindo como relevantes ao longo do trabalho, enquanto outros –

239
Nos termos da #interdição

que supostamente tinham sua importância -, tiveram de ser retirados devido a algum
tipo de impedimento. A tabela 3 inclui todos os campos já pensados, sua descrição,
justificativa de uso, problematização e estado atual.

Campos Preenchimento Justificativa Problematização Estado atual


Com o sistema do
Organização
Número de site, o número é
NiD interna do Retirado
catalogação gerado
arquivo
automaticamente
Título da
Essencial para
Título matéria Permanece
catalogação
transcrito
Exige grande
Resumo do
Introduz o disponibilidade
material, ou
Sinopse interessado ao de tempo do Permanece
lide da notícia
material bolsista para
transcrito
preenchimento
Sistema
implementado
posteriormente
(precisa de
aperfeiçoamento).
Permite o
Evidencia-se a
mapeamento
Palavras-chave necessidade de
de temas e
Tags referentes ao consenso quanto Permanece
questões
material às palavras a
recorrentes em
serem utilizadas,
todo o acervo
evitando
sinônimos que
podem prejudicar
a catalogação no
sistema.
Sistema ainda
deficiente (só
URL de vídeos Permite que a aceita vídeos de
que possam, Hemeroteca sites específicos),
Código do
porventura, englobe mais e falta de atual Sem uso
vídeo
integrar o tipos de mídia interesse em fazer
material. no acervo. do acervo uma
plataforma
audiovisual.
Permite que o
interessado
Arquivo salvo tenha acesso a
PDF do arquivo em formato uma cópia do --- Permanece
PDF material em
arquivo,
principalmente

240
Nos termos da #interdição

no caso de o
site que
disponibilizada
a matéria ser
desativado.
Endereço
eletrônico de Permite o
URL onde foi acesso à fonte --- Permanece
retirado o da matéria.
material
País no qual o Nem todos os
Essencial para
País de origem material foi sites especificam Permanece
a catalogação.
gerado. seu país.
Português,
Essencial para
Idioma Inglês ou --- Permanece
catalogação
Espanhol
Sem grande
relevância, além
de não incluir
Português
outras variantes
brasileiro ou Especificação
Língua da língua Sem uso
português de linguística
portuguesa, como
Portugal
o português
angolano ou
moçambicano.
Data de
Data de Essencial para
publicação da --- Permanece
veiculação catalogação
matéria
Essencial para
Campo catalogação e
implementado para definir
Data de acesso --- Permanece
diretamente quando a
pelo sistema página esteve
visualizável.
Artigo,
comentário, Essencial para
É necessário
entrevista, catalogação e
definir melhor a
imagem, nota para permitir
Categoria metodologia de Permanece
oficial, nota, refinamento no
classificação do
notícia, sistema de
material.
reportagem, busca.
vídeo, outro.
No momento, o
foco do acervo
Meio por onde
recai sobre o
a matéria Essencial para
material
Veículo circulou, como caracterização Questionado
vinculado apenas
internet, do acervo
nos meios
revista, jornal.
virtuais,
inutilizando a

241
Nos termos da #interdição

caracterização
É necessário
definir se deve se
considerar como
fonte o site do
Site do qual foi
Essencial para qual o texto foi
Fonte retirada a Permanece
catalogação extraído, mesmo
matéria
se o material for
uma replicação
de uma fonte
primeira.
Nome do autor Essencial para
Autor --- Permanece
da matéria catalogação
Muitas notícias
Motivo pelo
não apresentavam
qual a censura
Etapa para um único fato ou
em questão
mapeamento um objeto claro
ocorreu:
Critério da dos principais que permitisse
classificação Retirado
censura critérios essa
indicativa,
utilizados pela classificação. Tal
econômico,
censura atual. campo pode ser
moral, político,
substituído por
religioso.
tags.
Alvo da
censura em
questão: Artes Muitas notícias
plásticas, não apresentavam
Etapa para
cinema, um único fato ou
mapeamento
fotografia, um objeto claro
dos principais
Objeto da imprensa, que permitisse
temas Retirado
censura internet, livro, essa
veiculados na
música, classificação. Tal
mídia acerca
personalidade, campo pode ser
da censura.
publicidade, substituído por
rádio, rede tags.
social, revista,
teatro, televisão
Grande parte do
material não
Posicionamento
apresentava um
do autor da Etapa para
posicionamento
notícia em mapeamento
definido, o que
Posicionamento relação ao da opinião Retirado
implicava na
noticiado: a pública acerca
utilização de um
favor, contra, da censura
olhar muito
nulo.
subjetivo por
parte do bolsista.
Tabela 3 - resumo da catalogação das matérias

242
Nos termos da #interdição

VII. Integrante do Grupo de Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas da USP


Constituímos um grupo de pesquisa, liderado pelas professoras doutoras Mayra
Rodrigues Gomes e Rosana de Lima Soares e sediado na Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo.
Voltamo-nos para os estudos de linguagem aplicados às produções das mídias
em geral e, em particular, ao acompanhamento das disciplinas de graduação e pós-
graduação, focadas no jornalismo e nas mídias em seus diferentes produtos e formatos
verbais, visuais e audiovisuais.
Nosso trabalho se desenvolve em torno da rubrica “ciências da linguagem”,
empregada por diversas linhas de pensamento para designar estudos que levam em
conta as condições e implicações da assunção da linguagem pela espécie humana, assim
como seus reflexos na atualidade dos sentidos socialmente desenhados. A realização de
tais estudos encontra sua possibilidade no cruzamento dos achados da antropologia, das
ciências cognitivas, da filosofia, da lingüística, da lógica, da psicanálise, da semiótica
etc. Ocorre que, para o vasto campo da comunicação e das mídias, e para o abrangente
campo do jornalismo em particular, é justamente este tipo de estudo que pode promover
uma compreensão melhor do poder das palavras, de seus efeitos e da responsabilidade
de que se reveste quem assume a produção de discursos.
Apresentamos, aqui, estudos que se valem da metodologia de análise de
discurso, tomada sob diversos enfoques, mas sempre na visada sócio/política que
atravessa a produção midiática. Respaldados por esse instrumental, desenvolvemos o
exame de produtos, que comparecem por meio de variados suportes, a partir de
diversificados eixos de perspectiva: o da organização das práticas sociais, enquanto
orquestrada pelo jornalista e seu lugar discursivo; o da recuperação do imaginário social
por ele reafirmado, ou que se pretende introduzir; o do desenho deste imaginário, como
veiculado pelos correspondentes internacionais, esquematizando estereótipos; o
apontamento da re-significação dos dados históricos, induzindo a específicas
interpretações de acontecimentos atuais; o das narrativas jornalísticas que constroem os
limites, e as políticas correspondentes, da exclusão e da inclusão sociais; o do retorno de
conceitos operatórios, como massa e massificação, em virtude de novos enfrentamentos.
Para além do foco na produção midiática, desenvolvemos estudos mais amplos,
como o da enunciação, quanto à manutenção da ordem socialmente estabelecida, o das

243
Nos termos da #interdição

palavras censuradas, o dos discursos das telenovelas e o dos diários virtuais no meio
digital, como espaço que se abre para expressões narrativas da atualidade.

Esses estudos firmam nossa orientação para a análise de discurso enquanto


proposta para o entendimento da complexidade dos fenômenos comunicacionais.

VII. 1 - Apoio ao projeto pedagógico wiki


Em relação ao projeto que descrevemos a seguir, colaboramos com sua
instalação, ainda no ano de 2006 e depois na continuidade do projeto nos anos
subsequentes, quando pós-graduanda da mesma Escola de Comunicações e Artes.
Elencamos entre nossas atividades pois tal experiência teve fundamental importância
para a realização do presente projeto.

Labirintos textuais – Investigação dos caminhos para a incorporação da ferramenta wiki


em sala de aula
O desenvolvimento deste projeto corresponde a anseios por um melhor
direcionamento dos suportes utilizados em sala de aula tendo em vista a articulação do
estudo com a produção textual. Nesse sentido, buscávamos o apoio de um software que
não se limitasse à reprodução dos parâmetros consagrados ao livro, ou texto, material, a
saber, a sequencia formal, a divisão capitular, a diagramação etc. submetendo a isso as
novas possibilidades textuais.
As novas tecnologias associadas à internet trouxeram uma abertura de
possibilidades para as produções artísticas e do mundo empresarial em geral. O wiki nos
permite questionar os parâmetros da linearidade do texto ao apresentar uma estrutura
ramificada e, ainda, investigar a problemática da autoria, se supomos que uma de suas
principais características é a autoria coletiva, princípio que define sua função. Assim,
através da inovação apresentada na estrutura de edição textual, investigamos seus
efeitos em sala de aula, concentrando-nos especificamente em disciplinas da graduação
em jornalismo.

VIII. Outras atividades

VIII.1 - Participação em bancas

244
Nos termos da #interdição

- Participação na banca de Trabalho de conclusão de curso de Iana Chan


Labirinto – Perder-se também é caminho: uma experimentação em jornalismo para
jovens
A adolescência é uma fase cheia de incertezas, angústias e descobertas. Labirinto é um
projeto que parte do pressuposto de que os adolescentes e jovens precisam e se
interessam por mais do que consumo, curiosidades e tendências de moda e beleza.
Assumindo um caráter experimental, o site Labirinto pretende investigar as
possiblidades de um site jovem mais abrangente e instrutivo, explorando as
potencialidades da internet e das redes sociais para isso.
Palavras – chave: blogs, jornalismo, adolescentes, Brasil, Internet, site

- Participação na banca de Trabalho de conclusão de curso de Isadora Bertolini Labrada


Mário de Andrade e Ariel – Revista de Cultura Musical
Nesta monografia pretende-se analisar, por meio de reflexões da música e do
jornalismo, a Ariel – Revista de Cultura Musical e a atuação do escritor e musicólogo
Mário de Andrade. O período de análise selecionado da revista é entre 1923 e 1924, de
grande efervescência das ideias modernistas em São Paulo, das quais Mário de Andrade
e os colaboradores da revista compactuavam. Ao longo da pesquisa, as relações entre os
modernistas colaboradores foi evidenciada por meio da correspondência, bem como a
relação entre a revista e o movimento. Pôde-se traçar a trajetória de Ariel, que,
surpreendentemente, continuava até 1929, e a partir de análises, concluir o motivo de
seu insucesso inicial, reflexo da mentalidade do período. A importância desse foco de
trabalho envolve a relevância do estudo do periodismo musical para o entendimento das
estéticas da música, a posição de destaque que as revistas obtiveram no período do
Modernismo, a inexistência de teses ou pesquisas a respeito da Ariel e a disponibilidade
de riquíssimo acervo bibliográfico no Instituto de Estudos Brasileiros.
Palavras-chave: Mário de Andrade, modernismo, Ariel, revista

- Participação na banca de Trabalho de conclusão de curso de Ana Maria Madeira


PRAZER, ESCRAVA! A vida das kajiras e mestres goreanos
Este livro reportagem tem o objetivo de mostrar o estilo de vida dos goreanos
brasileiros, um subgrupo de praticantes do BDSM. São pessoas que baseiam suas
crenças e relacionamentos no universo de Gor, uma série de livros de ficção científica,

245
Nos termos da #interdição

de autoria do escritor John Norman. Realizei entrevistas em profundidade com quatro


goreanos e conversei de maneira mais sucinta com outros 11, tanto dominadores, quanto
submissas, todos residentes em São Paulo, Brasil (exceto dois homens, que moram nos
Estados Unidos). Além disso, estive presente no ritual mais importante da comunidade
goreana de Alkania, como jornalista e observadora participante. As histórias que trago
aqui têm por objetivo apresentar maneiras alternativas de vivenciar a sexualidade e
afetividade, bem como trazer à tona questões sobre opressão de gênero. Na estranheza
que muitos sentem diante do prazer pela dor e pela submissão, proponho que
enxerguemos formas legítimas de expressar desejos, viver um relacionamento e
participar de uma comunidade.
Palavras-chave: GOR, goreanos, John Norman, BDSM, kajira, submissão.

VIII.2 - Pareceres

Foram realizados pareceres para revistas científicas nacionais do campo da


comunicação, entre elas: Significação – Revista de Cultura Audiovisual, Rumores –
Revista Online de Comunicação, Linguagem e Mídias, Novos Olhares – Revista de
Estudos sobre Práticas de Recepção e Produtos Midiáticos e Revista Intertexo. Foram
ainda realizados pareceres para as edições de 2013 e 2013 do Simpósio Internacional de
Iniciação Científica e Tecnológica da Universidade de São Paulo.
Em colaboração, ainda, com a Comissão de Pesquisa da Escola de
Comunicações e Artes da USP realizei pareceres em projetos de Iniciação Científica
submetidos à bolsa e relacionados à minha área de especialidade.

VIII.3 – Consultoria especializada a projeto de pesquisa

Colaboração com o projeto internacional Media Classification Systems: An


International Comparative Study; Driscoll C, Cather K, Evans J, Gomes M, Mehta M,
Qiu Z, Tomiczek C; Australian Research Council (ARC)/Discovery Projects (DP).

246
Nos termos da #interdição

BIBLIOGRAFIA

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256
Nos termos da #interdição

ANEXOS

RELATÓRIO DE PESQUISA EM NÍVEL DE PÓS-DOUTORADO

NOS TERMOS DA #INTERDIÇÃO


UMA REDE SIGNIFICANTE DE PALAVRAS PROIBIDAS

257
Nos termos da #interdição

LISTAGEM DE ANEXOS

1 - Trajetória de um estudo sobre censura, classificação indicativa e os desafios das


mídias digitais / p. 260
2 – Tramas do outro nas telas do discurso: circulação audiovisual e consumo
cultural / p. 276
3 – Reincidência do gênero musical durante o atestado midiático do dom / p. 312
4 - Linguistic taboos and the circulation of controversial content on social media
networks / p. 326
5 - Arte, censura e revolução / p. 340
6 - Redes sociales, autoría anónima y silenciamiento colectivo / p. 346
7 - Convocação da mais armada / p. 362
8 - Interdições imaginárias / p. 368
9 – Beyond the digital (USP-Universidade de Warwick) / p. 385
10 – 1984: Freedom and censorship in the media - Where are we now?
(Universidade de Sunderland, Inglaterra) / p. 393
11 - Confibercom 2014 (Braga, Portugal) / p. 402
Representações da invisibilidade e a indiferença visível em discursos audiovisuais
12 - Indicado na Rede como #proibidoparamenores: Diretrizes da Classificação
Indicativa e Conteúdo Circulante nas Redes Sociais / p. 417
13 - Intercom 2014 / p. 431
14 - Universidade Federal do Mato Grosso – Campus Araguaia (Resumo) / p. 437
15 – Possibilidades narrativas nas mídias digitais/ Ibercom 2015 (Texto completo) /
p. 438
16 - IAMCR 2015 (Resumo) / p. 452
17 - Socine 2015 (Resumo) / p. 454
18 - 2015: Liberdade de Expressão e seus limites / p. 457
19 - Disciplina em nível de Pós-Graduação Interdição e mídias digitais (Programa) /
p. 459
20 - Curso de atualização a distância Censura e liberdade de expressão em debate
(Programa) / p. 464

258
Nos termos da #interdição

1 - Trajetória de um estudo sobre censura, classificação indicativa e os desafios das


mídias digitais (Texto completo)

Trajetória de um estudo sobre censura, classificação indicativa e


os desafios das mídias digitais 24

Mayra Rodrigues Gomes 25

Andrea Limberto26

O presente artigo recupera a trajetória de pesquisa sobre sistemas de vigilância e regulação


realizados no âmbito do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da
Escola de Comunicações e Artes da USP (OBCOM/ ECA-USP). Primeiramente apresentamos o
estudo sobre os termos censurados em textos teatrais no estado de São Paulo entre as
décadas de 30 e 60. Em seguida, apresentamos a fase atual dos trabalhos do eixo de pesquisa
coordenado pela Profa. Dra. Mayra Rodrigues Gomes, concentrado sobre o estudo dos
sistemas de classificação indicativa pelo Brasil e pelo mundo. Finalmente, traçamos algumas
diretrizes para pensar como a circulação popular de conteúdos nas mídias digitais representa
novas balizas para o exercício da regulação sobre as mídias.
O presente trabalho tem sua origem, assim, em pesquisas já concluídas e outras em fase de
finalização. Leva em conta casos de censura e interdição a produções artísticas e/ou culturais
nos dias de hoje, ao lado dos argumentos com os quais eles foram justificados. Ao mesmo
tempo, pretende apreender e dimensionar as formações discursivas que dão guarida a tais
argumentos.
Como a proposta se baseia em resultados obtidos, projetando extensão e refinamento, uma
breve descrição das pesquisas antecedentes e seus apontamentos se fazem necessários para
que possamos fundamentar nosso projeto e delinear, com clareza, seus objetivos.

24
Partes do presente texto já foram publicadas como divulgação de resultado de pesquisa em artigos científicos e relatórios de pesquisa.
25
Professora Titular do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP).
mayragomes@usp.br
26
Pós-doutoranda da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP), com a pesquisa #Nos termos da interdição: uma
rede significante de palavras proibidas. andrealimberto@gmail.com

259
Nos termos da #interdição

Uma pesquisa sobre classificação indicativa

Conduzi, entre 2005 e 2008, extensa pesquisa, realizada no ambiente do Projeto Temático A
cena paulista - um estudo da produção cultural de São Paulo de 1930 a 1970 a partir do
Arquivo Miroel Silveira da ECA/USP, com apoio da FAPESP e coordenação da Profª. Drª. Maria
Cristina Castilho Costa, sob o eixo por mim desenvolvido que se voltava para a observação e
contabilização das palavras que foram censuradas em peças teatrais, acompanhadas da
interpretação dos dados obtidos.
Os resultados da pesquisa, que procurou detectar os assuntos mais visados pela censura, assim
como os pressupostos e subentendidos ao ato do censor, procedimentos que implicaram
contextualização sócio/histórica e leitura a partir da análise de discurso voltada para as
implicitações, foram publicados em 2008 com o livro Palavras proibidas. Pressuposto e
subentendidos na censura teatral.
O Projeto Temático se estende ao presente momento, agora ao final de sua segunda etapa
ainda com apoio da FAPESP, sob a rubrica Comunicação e Censura – análise teórica e
documental de processos censórios a partir do Arquivo Miroel Silveira da Biblioteca da
ECA/USP. Nele permaneci como pesquisadora principal, ao lado da coordenadora, em eixo de
pesquisa por mim supervisionado, em que me dediquei à captação e leitura das matérias
jornalísticas que incidiram sobre a censura a peças teatrais, com especial atenção para as
matérias que desenvolveram comentários sobre as palavras nelas censuradas, viés que se
cruza com os resultados da primeira etapa de pesquisa sobre as palavras proibidas.
Paralelamente, investigamos e procuramos captar as manifestações do próprio jornalismo em
prol da liberdade de expressão como um todo e, em particular, em defesa da liberdade
artística, nos casos polêmicos em que peças teatrais foram impugnadas ao longo das últimas
décadas que fazem parte de nosso universo/base de exploração, a saber, os processos
censórios e a produção dramatúrgica constante no Arquivo Miroel Silveira.
As peças de teatro a partir das quais estudos passados e atuais se desenvolvem fazem parte do
Arquivo Miroel Silveira, um acervo, localizado na Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo, composto por mais de 6.000 processos de censura teatral,
emitidos pelos departamentos censórios do Estado de São Paulo, de 1925 a 1968. Com a
ditadura militar instalada em 1964, a partir de 1968 a censura prévia as apresentações teatrais
foi centralizada, passando para a alçada federal.
Ainda que o estudo das palavras censuradas tenha tido como objeto a censura exercida
somente no Estado de São Paulo, é preciso que se lembre da proeminência cultural que o

260
Nos termos da #interdição

Estado de São Paulo ocupou, junto ao Estado do Rio de Janeiro, ao longo das décadas do
Arquivo. Assim sendo, a censura efetuada em outros estados da União seguia, até como um
modelo, aquela já ditada pelos dois primeiros, muitas vezes repetindo-a ou simplesmente
copiando os pareceres. As de São Paulo, muitas vezes, seguiam a censura previamente
estabelecida no Rio de Janeiro. Desta forma, os processos censórios estudados podem ser
tomados como representativos do que valia para todo o país.
Enunciando dados mais precisos, o Arquivo compreende 6.147 processos, com 47 peças
vetadas e 4.774 peças liberadas. Há um total de 1326 peças parcialmente liberadas. Nessa
categoria estão incluídas as que tiveram restrições etárias, assim como as que tiveram
restrições de locais e horários de exibição.
As peças parcialmente liberadas, com cortes de palavras, totalizam 436. Este é o universo
sobre o qual incidiu nossa primeira etapa de pesquisa e sobre o qual imprimimos alguns
procedimentos metodológicos para efeito de viabilização do estudo.
Para ordenação das palavras censuradas, adotamos um princípio classificatório baseado em
temas a que as palavras censuradas remetem. Tal princípio se baseia em estudos anteriores ao
nosso e também nas diretrizes que conduziam o trabalho dos censores, assim como nas leis
que lhe davam respaldo.
Considerava-se, por exemplo, que a censura tinha a finalidade de “garantir a paz, a ordem e a
segurança pública (...), de evitar manifestações que provoquem ódio de classe (...), de não
permitir cenas (...) ofensivas às instituições nacionais e estrangeiras (...), de evitar
manifestações (...) que contenham ultraje a qualquer credo religioso (...)” (BARRETO FILHO,
1941: 49).
A partir destes apontamentos, estabeleceram-se quatro campos temáticos de incidência da
censura, que constituem perspectivas de catalogação de ocorrências de cortes, a saber,
censura de ordem moral, censura de ordem política, censura de ordem religiosa, censura de
ordem social.
Com a contagem de cada proibição, chegou-se a resultados que apontam a categoria moral
como foco privilegiado da preocupação censória, pois, com 348 ocorrências, ela compreende
52% dos cortes. A categoria política compreende 23% dos cortes e as categorias de ordem
social e religiosa abarcam, respectivamente, 18% e 7% dos cortes.
Ao total de 348 cortes da categoria moral, correspondem alguns assuntos que foram
privilegiados. Dentre eles, destacam-se os assuntos relacionados ao ato sexual que totalizam
70 ocorrências e, portanto, 20% dos cortes no campo moral e 12% do total de cortes
estudados.

261
Nos termos da #interdição

Em relação a esse dado, notemos que até nos anos 60, quando movimentos pela liberdade
sexual alcançam seu pico de expressão, o censor José Pereira, Diretor da Divisão de Diversões
Públicas da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, justifica a censura moral,
em caso relacionado a peça teatral, com os dizeres:

De ressaltar, todavia, que a medida proibitiva alcançou a mais ampla e


favorável repercussão, porque outro objetivo não teve senão o de
salvaguardar a moral e os bons costumes da Família paulista, sobretudo a
dignidade da mulher, já não dizemos paulista ou brasileira, mas da mulher,
como ser humano que, como uma das coisas mais belas da natureza, não
precisa utilizar-se de artifícios eróticos para despertar a atenção do homem
para a sua beleza (PEREIRA, 1961, p. 11).

Ao longo das pesquisas até o presente momento constatamos que, em tempos de tensão e de
distensão política, mesmo em tempos “modernos”, a censura moral não se furtou a um
comparecimento maciço e constante. Diante da pergunta sobre sua insistente prevalência,
tentamos responder em termos de seu caráter político, enquanto formação de indivíduos
funcionais, em artigo sob o título “A dimensão política da censura moral”, publicado pela
Revista Verso e Reverso em 2010.
Com as investigações da segunda etapa de pesquisa, relacionada à continuidade do Projeto
Temático, pudemos ver que a censura moral, com a prevalência que detém, sempre esteve
alinhada, recebendo correspondente respaldo, com a opinião pública. Este é o caso, por
exemplo, dos abaixo-assinados que encontramos junto aos processos censórios das peças de
Nelson Rodrigues, todos pedindo uma ação firme por parte da censura, visando coibir a
apresentação de suas peças.
A julgar por esse caráter, somos levados a supor que a censura moral deve manter-se, para
além de nosso foco no passado, com certa prevalência até em nossos dias. Claro que a moral
de nossos dias é diversa daquela dos anos que correspondem aos dos processos no acervo do
Arquivo Miroel Silveira. Claro que os discursos circulantes que a amarram são outros, hoje sob
o guarda-chuva dos Direitos Humanos e do Estatuto da Criança e do Adolescente.
É de nossos dias um constante embate entre Estado e opinião pública em torno da
regulamentação dos meios de comunicação, com a ameaça de criação de órgãos de censura
aos moldes de tempos passados. A questão dos limites da censura entre medida de
administração do bem comum, ou da vida em comunidade, e medida de controle político tem
sido objeto de amplo debate e, também, de amplo confronto de argumentações. No meio

262
Nos termos da #interdição

desse confronto, a censura de caráter moral comparece na classificação etária, desde o


momento em que uma produção televisiva é desaconselhada, ou proibida, para crianças
pequenas até o momento em que um filme só é liberado para maiores de 18 anos.
Uma vez que a censura prévia aos moldes antigos foi revogada pela Constituição de 1988,
restou um grande órgão supervisor, braço do Ministério da Justiça, voltado para a classificação
que opera por indicação etária. Coexistem, no entanto, instâncias não formalizadas, das quais
brotam ações que, solicitando intervenções ou protestando contra proibições, têm peso na
dinâmica da classificação e, às vezes, da simples proibição, como recentemente ocorreu a
propósito da publicação de biografias não autorizadas.
Assim, considerando o valor do resultado de nossas investigações, propomos uma atenção
sobre as palavras proibidas, ou, em nossos dias, proibidas para algumas faixas etárias, uma
investigação sobre sua natureza enquanto relacionada à categoria moral, uma comparação,
que deve apontar panoramas específicos, entre o que está preservado no Arquivo Miroel
Silveira e os processos contemporâneos de indicação etária.

Panorama da Classificação Indicativa

Em nossos estudos temos partido da ideia de que toda forma de vigilância deve receber
atenção, pois em questão de segundos ela pode converter-se em censura e interferir em todas
as práticas sociais. Até mesmo o esporte pode sofrer constrições, como temos testemunhado
ao longo da história e em tempos recentes de torcidas organizadas. Assim, é com o escopo de
compreender as formas de vigilância e seu potencial censório que voltamos nosso olhar para a
classificação indicativa.
A classificação indicativa, processo de categorização das obras audiovisuais conduzido pela
Secretaria Nacional de Justiça, aponta faixas etárias a que obras audiovisuais, jogos eletrônicos
e de interpretação (RPG) devem ser destinadas. Correlatamente, aponta horários de exibição
adequados a cada faixa etária. A classificação está contemplada pela Constituição Federal de
1988, justamente aquela que encerra com a censura prévia no Brasil.
Em 1990, algo se definiu com relação a ela através da Portaria 773 que atribuiu à União, com
base nos artigos 21, inciso XVI, e 220, parágrafo 3º, inciso I, da Constituição e com base no
artigo 254 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o exercício da classificação
indicativa de diversões públicas e programas de rádio e televisão.
Tal exercício estabeleceu as seguintes orientações: livres são as obras que podem ser
transmitidas em qualquer horário, não recomendadas para menores de 12 anos são as obras a
serem transmitidas após as 20h, não recomendadas para menores de 14 anos são as obras a

263
Nos termos da #interdição

serem transmitidas após as 21h e não recomendadas para menores de 18 anos são as obras a
serem transmitidas somente após as 23h. Essa portaria determinou a publicação das
classificações no Diário Oficial da União, dispensou de classificação os programas ao vivo de
televisão e determinou a apresentação da classificação nas fitas de vídeo comercializadas, nos
estabelecimentos de exibição pública e antes e durante a transmissão de rádio e TV.
Em 2000, a Portaria 796, incluiu nova categoria: obra não recomendada para menores
de 16 anos a ser transmitida após as 22h e a supervisão de DVDs. Incluiu, também, a
classificação de trailers e a obrigatoriedade de indicação da classificação em todo material de
divulgação das obras. Os programas considerados de indução ao sexo, tais como “telessexo”,
foram circunscritos à exibição de madrugada, entre 0h e 5h. Quanto aos programas ao vivo,
destacamos os artigos de referência:

Art. 3º São dispensados de classificação os programas de televisão e rádio


transmitidos ao vivo, responsabilizando-se o titular da empresa, ou seu
apresentador e toda a equipe de produção, pelo desrespeito à legislação e
às normas regulamentares vigentes.
Parágrafo único. Os programas ao vivo, porém, quando considerados não
adequados a crianças e adolescentes, estão sujeitos à prévia classificação
horária e etária.
Art. 4º Sujeitam-se à responsabilidade pelo descumprimento à legislação e
às normas regulamentares vigentes os programas classificados apenas pela
sinopse, principalmente as telenovelas, minisséries e outros do mesmo
gênero (Ministério da Justiça, portal em http://portal.mj.gov.br.

Em 2004, a Portaria 1597 criou a categoria não recomendada para menores de 10


anos, destinada a cinema, vídeo e DVD e introduziu a condição da admissão de crianças e
adolescentes em uma categoria abaixo da classificação etária desde que acompanhados pelos
pais, exceto para a categoria inadequada para menores de 18 anos. Considerou que trailers
possam ter classificação diferente da obra completa, desde que assinalados com a frase
“Verifique a Classificação Indicativa do Filme”.
Em 2006, após consultas públicas, a Portaria 1100 ampliou a classificação para jogos
eletrônicos e de interpretação (RPG), espetáculos circenses, teatrais, shows musicais e outras
exibições abertas ao público, sendo esses quatro últimos sob os procedimentos de
autoclassificação definidos no Manual de Classificação Indicativa. O Manual, publicado nesse
mesmo ano, foi estabelecido por essa Portaria que, no entanto, abriu espaço para a
participação de qualquer cidadão interessado na definição das classificações ao criar o Grupo

264
Nos termos da #interdição

Permanente de Colaboradores Voluntários. Ampliou a responsabilidade dos pais ao definir


suas presenças como suficiente para o acesso de crianças e adolescentes a qualquer obra,
exceção feita às obras desaconselhadas para menores de 18 anos. Com a Portaria 1100, criou-
se uma nova rubrica: “especialmente recomendada” para crianças e adolescentes.
Em 2007, a Portaria 264 estendeu para a televisão a categoria inadequada para menores de 10
anos e, em relação à autoclassificação, determinou que, com requerimento rigorosamente
instruído, o representante legal de uma obra audiovisual poderá solicitar dispensa da análise
prévia. Acompanhada de intenso debate público, a Portaria 264 motivou a publicação de outra
portaria no mesmo ano: a Portaria 1220 que focou os horários de exibição levando em
consideração os fusos horários vigentes no país. Essa última Portaria estendeu a exigência de
informação sobre a classificação que passou a ser exibida, concomitantemente, em Linguagem
Brasileira de Sinais.
Em março de 2012 a Secretaria Nacional de Justiça, Departamento de Justiça, Classificação,
Títulos e Qualificação, laçou o Guia Prático da Classificação Indicativa, espécie de síntese das
diretrizes para a classificação, incorporando as mudanças surgidas como efeito das sucessivas
Portarias e de diálogo constante com o público. Devemos salientar que tanto o Manual quanto
o Guia são encontrados no site do Ministério da Justiça (endereço em
http://portal.mj.gov.br/classificacao/data/Pages/MJ6BC270E8PTBRNN.htm).
O Ministério da Justiça, por determinação da Portaria 1100/06, passou a levar em conta os
comentários dos internautas sobre as classificações conduzidas, acolhendo sugestões e
reclamações. Para tanto, no sítio acima mencionado foi criado um espaço de interlocução,
lugar de expressão para a opinião pública.
Com estes parágrafos, fizemos um acompanhamento histórico da instalação da classificação
indicativa em nossa sociedade e descrevemos, sucintamente, o esquema da classificação, ou
seja, seus parâmetros em relação ao produto final, seu produto orientado pela concepção de
faixas etárias.
Quanto ao seu exercício, a partir do momento de solicitação por parte do representante legal
de uma produção a ser examinada, que deve enviar por correio o requerimento de
classificação, com a documentação preenchida, a classificação segue em três etapas de
trabalho.
A primeira diz respeito ao momento de análise do perfil das personagens, de seus
relacionamentos, das ações e condutas encenadas, do papel dos efeitos sonoros e visuais, do
grau de nudez nas relações sexuais, dos instrumentos utilizados pelos personagens nas cenas
de violência e do tipo de droga mencionada pela obra. A segunda etapa analisa a obra sob o
ponto de vista de seu tema. Porém, o tema considerado não é o do assunto ou o da intriga de

265
Nos termos da #interdição

um enredo, mas aquele que está como pano de fundo no desenrolar deste. Assim, nessa etapa
examina-se a presença de discriminação racial e de gênero, da defesa dos direitos da criança,
do adolescente, do idoso, da liberdade de expressão, dos valores éticos, enfim, de um ideário
suposto. A terceira etapa é aquela em que se reúnem as observações das duas primeiras e se
insere a obra nas faixas etárias, como postas na Portaria 1220. O resultado da análise é
comunicado em vinte dias úteis e publicado no Diário Oficial da União; o requerente sempre
pode solicitar reavaliação da classificação.
Tanto nas palavras do Manual e do Guia quanto em entrevistas com autoridades responsáveis,
fica manifesto o caráter pedagógico da classificação, assim como a realização de consulta
pública para sua implementação e o nível de adesão da opinião pública que lhe dá respaldo.
No conjunto, esses são argumentos centrais dos discursos que procuram diferenciá-la das
características que configuram a natureza da censura.
Compreendemos, como é aludido por Sérgio Mattos (2005), que após tantos anos de censura
prévia durante os períodos ditatoriais no Brasil olhemos com desconfiança toda e qualquer
supervisão advinda de órgão estatal. Daí a necessidade de distinguir a classificação e apontá-la
como processo também consolidado mundo afora.
Mas será que se trata, nos argumentos reiterados, somente dessa questão?
Examinemos, sob esse viés, alguns pontos notáveis. Acompanhando esses argumentos,
encontra-se a notação, no Guia Prático, sobre a autoclassificação, processo com o qual as
próprias emissoras televisivas apresentam a classificação pretendida para um programa sem
apresentá-lo, previamente, ao Ministério da Justiça. A autoclassificação dispensa, assim, o
exame prévio, uma das características da censura.
No entanto, o programa será submetido a um monitoramento durante 60 dias para confirmar,
ou não, a classificação pretendida. E diante da pergunta sobre as consequências de
inadequações das autoclassificações, o Guia Prático responde, na página 10, que:

O Ministério da Justiça irá monitorar a obra audiovisual, para televisão, por


até 60 dias. O monitoramento irá confirmar ou modificar a autoclassificação
pretendida por produtores e emissoras. O monitoramento é contínuo. Ao
constatar que a autoclassificação não condiz com as cenas exibidas, o
Ministério da Justiça poderá iniciar processo administrativo para
reclassificação e comunicar ao Ministério Público e outros órgãos
interessados sobre o ocorrido, para providências cabíveis (GUIA PRÁTICO,
2012, p. 6).

266
Nos termos da #interdição

As providências cabíveis em caso de abuso, como explicitadas na página 8, implicam o


encaminhamento para parecer do Ministério Público Federal que, baseado no artigo 254 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), julgará se houve infração à qual
corresponderia adequada penalidade.
Assim, após o anúncio de um processo de quebra com o exame prévio, tão vinculado aos de
censura, no da autoclassificação duas condições se impõem que os aproximam:
monitoramento e represália. Ora, essas são condições em perfeita sintonia com o exercício da
censura.
Claro que, aqui chegando, deve-se indagar sobre como definiríamos censura. Neste artigo, nós
a tomamos exatamente no sentido explicitado pelo Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo
em entrevista para a matéria “Classificação Indicativa não é censura”, veiculada pela Agência
Brasil, http://www.band.com.br, em 19 de março de 2012, a saber:

Uma coisa é a censura. É quando se impede alguém de apresentar um


pensamento, apresentar um conteúdo de comunicação. É quando se corta,
é quando se mutila uma situação em que a pessoa quer se comunicar. Outra
coisa muito diferente é permitir a comunicação apenas indicando
exatamente aquela faixa etária (LIMA, 19/03/2012).

Ocorre que, entre monitoramento e represália, insinuam-se cortes e vetos. Contudo, essa não
é a única dimensão em que a classificação indicativa mostra uma face censória, pois ela
influencia os espaços de comunicação, altera contratos de comunicação, determina as
desejáveis interpelações dos receptores, pelo que parece uma simples indicação de faixa
etária. Nessa indicação há muitas coordenadas em jogo e, a título de alusão a tais
coordenadas, citamos as palavras de Aguinaldo Silva, no programa Roda Viva, a propósito de
sua experiência recente com a condução de telenovelas:

Transmitiram esse recado de Brasília e aí você tem que tirar porque se a


novela passar para as 11 horas a emissora vai ter um prejuízo monumental.
E a anovela não vai deixar de pagar o salário de todo mundo, claro, porque
teve contratos de publicidade ali no meio da novela que foram assinados
para que a novela passasse às 9 horas. E aí eu tive que tirar, eles iam gravar
no dia seguinte às 11 horas no cenário do bar e eu fiquei com incumbência
de acabar com o cenário naquele dia. E aí eu bolei a história de um sujeito
que comete um atentado e faz o bar explodir. Isso a partir de 11 horas da
manhã até 9 da noite eles gravaram a cena. Então vocês veem essas

267
Nos termos da #interdição

ameaças que não são pressão da emissora. Na verdade a gente tem uma
forma de censura, continua existindo uma forma de censura que é esse
negócio de classificação da faixa etária (RODA VIVA, 12/03/2012).

Baseados nesses depoimentos, esboçamos algo da natureza da classificação indicativa


que se aproxima da censura, pois, se um programa deve cuidar para restringir-se a uma faixa
etária, ainda que seja pelos interesses econômicos envolvidos, na realidade ele se submete a
uma autocensura, com o correspondente cerceamento da criação artística. Paira sobre ela
uma ameaça.
Embora tenhamos tanto falado sobre a classificação, esperamos que tenha ficado
claro, neste artigo, que a classificação por si só é de fato mera indicação a nortear
espectadores do ponto de vista de pais, em sua responsabilidade pela educação de seus filhos,
e de cidadãos como um todo, em sua responsabilidade para com a comunidade.
Contudo, a combinatória da classificação com a determinação de faixas etárias de
exibição, abre outros caminhos de controle e a torna outra coisa, nem sempre, mas muitas
vezes, que opera como censura.

Em face das mídias digitais

Acreditamos que seja necessário, ao se estudar os sistemas de vigilância, a recuperação do que


as mídias digitais representam em termos de visibilidade, de circulação de conteúdos numa
ordem própria e muitas vezes alternativa aos grandes meios de comunicação canonizados.
Assim, passamos do sistema de classificação atual para os desafios representados pelas mídias
digitais.
Entendemos que o trabalho da classificação indicativa concentra-se nos recursos audiovisuais,
especialmente em relação ao cinema e à televisão e atualmente também com um olhar sobre
os jogos eletrônicos. E, com isso, observa os meios que atingem mais massivamente o público
e que lidam geralmente com a dinâmica da imagem. Embora saibamos que tal diferença é
balizadora dos trabalhos de classificação indicativa, acreditamos que os ambientes digitais têm
representado uma maneira crescente de fazer circular conteúdos que cumprem os mesmos
parâmetros do domínio imagético e da presença massiva, ou podemos dizer, viral.
Ainda, entendemos que tais iniciativas aproximam-se dos recursos que estão próximos do
público infantil e do feminino, como públicos com necessidades especiais e preocupações
distintas na execução das produções. Tais públicos, nos meios digitais aparecem no
direcionamento discursivo das produções, mas ao mesmo tempo são uniformizados pela

268
Nos termos da #interdição

atuação dos mesmos como usuários. A figura do usuário indistinto será interessante para nós
como forma de pensar a dificuldade de limitação de um público que carrega a marca da
indistinção e da pulverização.
Nesse sentido, reforçamos a iniciativa de atualizar os materiais que são objeto de classificação.
E ela pode acompanhar as produções que têm um foco produtor mais claro. Isso organiza a
possibilidade de estabelecimento e manutenção do cumprimento de regras. De outro modo,
os recentes processos legais que se aplicam aos meios digitais, especificamente envolvendo
empresas atuantes na internet, confrontam-se com o desafio de fazer frente à regulação
empresarial e, muitas vezes, com a dificuldade de identificação da fonte produtora de
conteúdo, como mencionávamos.
Faz-se, então, um investimento em acompanhar a indústria do entretenimento em suas
produções que possam envolver principalmente referências sexuais ou de violência.

Jogos digitais, depois de livros, revistas, filmes, histórias em quadrinhos,


música e televisão, são o mais recente meio de comunicação a se tornar
foco de esforços de censura e regulação. Consequentemente, não é
surpreendente que governos em todo o mundo têm aprovado leis que
restringem o acesso, vedam conteúdos e, até mesmo, proíbem
determinados jogos. Por essa razão, a cada ano, um número crescente de
países estabelece regras de censura, sistemas classificatórios e agências de
avaliação com o objetivo ambicioso de regular diferentes tipos de games em
mais e mais plataformas. (WIEMKER, 2014, p.131).

O autor destaca a interatividade como uma das principais características para que tais
produções sejam alvo da atenção de sistemas de vigilância e classificação. O movimento de
colocar-se na posição daquele que executa a ação faz emergir dilemas morais. E o debate se
faz em torno da diferenciação entre as formas de entretenimento que distanciam o usuário do
relato contato e aquelas que procuram criar uma sensação explicitada de identificação. Do
ponto de vista de muitos dos estudos na área de linguagem, poderíamos matizar essa questão
a partir da diferenciação entre fantasia, imaginação e a ordem alinhada com a realidade.
Destacamos, então, o movimento de identificação como um dos motores para que a atenção
regulatória seja acionada, nos temas em que esse movimento de soma identificatório é
considerado indesejável.
Neste momento, destacar essa informação nos convém para apontar que a mesma
abertura para a interatividade desperta a ação autoral nas mídias digitais em geral.

269
Nos termos da #interdição

Entendemos por esse movimento de interatividade a ação de colocar-se como autor de um


conteúdo ao qual se adere imaginariamente. No caso das redes sociais que comentamos, os
mecanismos de publicação e compartilhamento permitem tal nível de vinculação aos
conteúdos em circulação.
Entendemos, ainda, que haja um esforço de concentrar-se nas produções imagéticas e sua
potencial influência no público. De alguma forma, em virtude de questões que podemos
estudar sob os desígnios dos estudos de imagens, há uma assunção teórica de que a imagem
exerceria o movimento identificatório mencionado com maior intensidade por dois motivos
que refutamos: (1) uma atribuição de imediatismo à comunicação feita figurativamente, em
contraponto à textual e (2) em decorrência, uma certa atribuição de maior manipulação e
controle sobre o receptor.
Observamos, de todo modo, que há um ímpeto em direção à imagem que se processa no atual
uso das mídias digitais e que não pode ser acompanhado. Destacamos que uma das principais
plataformas de disponibilização de conteúdos online, o Youtube, está baseada na postagem de
vídeos. E, ainda, outra dessas grandes plataformas, o Facebook, atualizou seu layout de modo
a privilegiar a apresentação de fotos e vídeos. Há um consenso entre os estudiosos da área de
que a direção da produção e circulação de conteúdos na internet baseia-se em fotos e vídeos.
A produção através de celulares com câmeras e conexão com a internet e a disponibilização
destes conteúdos nas plataformas que mencionamos. Um dos desafios na internet é a
possibilidade da transferência dos arquivos de imagem e áudio, o que vem sendo cada vez
mais possível ao passo do desenvolvimento técnico.
Nessa perspectiva, a visibilidade das imagens disponíveis na internet já pode ser
considerada relevante para um sistema de vigilância sobre o que é publicizado. As mídias
digitais tornam-se meios populares de circulação e disseminação de conteúdos. E, desse modo,
a forma de circulação de conteúdos nas redes sociais cria dificuldades em relação à regulação
dos mesmos veiculados por instâncias produtoras. Ainda no caso dos jogos que mencionamos,
há a definição de uma instância produtora clara à qual se pode recorrer para a aplicação de
uma regulamentação. No caso das redes sociais, as tentativas de regras comuns estão
baseadas não na instância produtora, mas naquela empresarial. São empresas que balizam os
conteúdos publicados debaixo de sua ordenação nos termos da programação de uma
plataforma. A baliza que mencionamos é mais comumente assumida pelas normatizações
legais ou do politicamente correto.
O que se pretende é preservar a atuação da empresa de retaliações legais. A
publicação dos conteúdos é em grande parte pendente ao lado do usuário-autor. A maior
parte das sanções que este usuário sofre é posterior ao momento da publicação.

270
Nos termos da #interdição

De outra maneira, mencionamos que o processo de classificação tem um tempo para ser
executado, diferente da postura geralmente de ação posterior à publicação em relação às
mídias digitais. Mais do que tentar acompanhar a totalidade das produções veiculadas, a
internet propicia o acompanhamento dos rastros daquelas que são replicadas. Uma publicação
que ecoa polemicamente entra num circuito de visibilidade e ao mesmo tempo de regulação.
Fazemos evidenciar a relação entre processos de interdição com aqueles de atestada
visibilidade.
Não podemos deixar de citar o debate atual sobre a aprovação de um marco
regulatório para a internet. Observamos que ela se estabelece mais num plano da estrutura do
uso das mídias digitais, do que da avaliação de seu conteúdo como estamos recuperando. Há
uma preocupação com as instâncias de poder dentro da operação do negócio destas mídias,
empresas, produtores de conteúdos e usuários. A decisão sobre quais conteúdos barrar ou
incentivar parece obsoleta neste ponto. Ela está relegada à atuação do usuário e autorizada
nele. Ao mesmo tempo, há outro tipo de vigilância realizada de usuário a usuário que se
manifesta de maneira contundente.

O que distingue a hipermídia é a possibilidade de estabelecer conexões


entre diversas mídias e entre diferentes documentos ou nós de uma rede.
Com isso, os “elos” entre os documentos propiciam um pensamento não-
linear e multifacetado. O leitor em hipermídia é um leitor ativo, que está a
todo momento estabelecendo relações próprias entre diversos caminhos.
Como um labirinto a ser visitado, a hipermídia nos promete surpresas,
percursos desconhecidos... (LEÃO, 1999:16).

Fizemos um traçado considerando desde o material textual de teatro sob o crivo da censura, o
audiovisual avaliado no sistema de classificação indicativa e a replicação de conteúdos na
internet. Acreditamos que o histórico de nossas pesquisas revela, independente das formas de
vigilância, uma preocupação constante com o rompimento de limites morais e o ímpeto de
proteção sobre aqueles considerados dignos dessa necessidade, geralmente mulheres e
crianças. Se inicialmente tínhamos palavras censuradas, excluídas do textos, em seguida temos
a limitação da exibição de cenas e, de alguma forma contínua, o bloqueio de páginas de
usuários e das imagens que publicam.
Como efeito, pensando na posição do sujeito-leitor inserido como nó da mesma rede, mais do
que uma perspectiva sobre a rede que pensa sociologicamente a inclusão dos sujeitos, visamos
a um recorte que os saiba ao mesmo tempo individualmente e coletivamente na estruturação

271
Nos termos da #interdição

da rede no domínio da linguagem. Ainda assim acreditamos, e justamente assumindo esta


forma como privilegiada, ser possível acessar a discussão da censura associada a temas,
ideários, identificações e a história de exclusões e dominações.

(...) uma política voluntarista de parte dos poderes públicos, de


coletividades locais, de associações de cidadãos e de grupos de empresários
pode colocar o ciberespaço a serviço do desenvolvimento de regiões
desfavorecidas explorando ao máximo seu potencial de inteligência coletiva:
valorização das competências locais, organização das complementaridades
entre recursos e projetos, trocas de saberes e de experiências, redes de
ajuda mútua, maior participação da população nas decisões políticas,
abertura planetária para diversas formas de especialidades e de parceria
etc. Enfatizo, mais uma vez que esse uso do ciberespaço não deriva
automaticamente da presença de equipamentos materiais, mas que exige
igualmente uma profunda reforma das mentalidades, dos modos de
organização e dos hábitos políticos (LÉVY, 1997: 185, 186).

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274
Nos termos da #interdição

2 – Tramas do outro nas telas do discurso: circulação audiovisual e consumo


cultural (Texto completo)

Tramas do outro nas telas do discurso: circulação audiovisual e consumo

cultural

Tramas del otro en las pantallas del discurso: circulación audiovisual y

consumo cultural

Networks of the other on discursive canvas: audiovisual circulation and

cultural consumption

Rosana Soares, doutora, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de

São Paulo27

Andrea Limberto, doutora, Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo28

27
Doutora em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. Professora no Departamento
de Jornalismo e Editoração e no Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos
Audiovisuais dessa mesma Escola, realizou pesquisa de pós-doutorado (2013-14) no King’s
College Brazil Institute (Londres/Inglaterra). É pesquisadora do MidiAto – Grupo de Estudos de
Linguagem: Práticas Midiáticas e autora de Margens da comunicação: discurso e mídias (São
Paulo, Annablume, 2009), além de diversos artigos publicados em livros e revistas acadêmicas.
E-mail: rolima@usp.br.
28
Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo (2011), onde atualmente é pós-doutoranda (bolsista Fapesp)
estudando processos de interdição discursiva nos mídia. Mestre pela mesma Escola (2006)
com a dissertação O traçado da luz: um estudo da sintaxe em reportagens televisivas. É
pesquisadora do MidiAto – Grupo de Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas. E-mail:
andrealimberto@gmail.com.

275
Nos termos da #interdição

Endereço para correspondência:

Escola de Comunicações e Artes da USP

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443 – Cidade Universitária – CEP 05508-

020 – São Paulo – SP – Brasil

276
Nos termos da #interdição

Resumo: O artigo analisa articulações discursivas em torno da questão da

invisibilidade social, notadamente em documentários brasileiros recentes

(Elena, Cidade cinza, Olhe pra mim de novo), exibidos em circuito comercial e

que, privilegiando uma abordagem referencial e de cunho realista, apresentam

certos atores sociais como pertencentes a essa condição. O empenho realista

interessa-nos por operar um movimento de afirmação dos sujeitos

representados, aprovando-a como se ela fosse, no âmbito do filme e no âmbito

da vida, exatamente como mostrada nos filmes. Este tem sido um desafio

teórico para os estudos fílmicos desde o estabelecimento da noção de uma

sintaxe do visível. Ainda que exista uma barreira lógica para a representação

de sujeitos em situação de invisibilidade, isso de nenhum modo tem impedido

que ela seja tematizada frequentemente pelo discurso cinematográfico.

Tampouco tem impossibilitado que certas políticas da representação operem

como marcas sobre determinados sujeitos, supostamente periféricos, atuando

como estandartes de identidades minoritárias nos modos de tornarem-se

visíveis em cena.

Palavras-chave: políticas da representação, regimes de visibilidade, figuras de

alteridade, discursos audiovisuais, consumo cultural.

Résumen: El texto analisa las articulaciones discursivas vinculadas al

problema de la invisibilidad social, especialmente en recientes películas

documentales brasilenãs (Elena, Cidade cinza, Olhe pra mim de novo).

Proyectadas en circuito comercial favorecen un enfoque referencial, de

perspectiva realista y nos presentan actores sociales que pertenecen a esa

277
Nos termos da #interdição

situación. El diseño realista interésanos porque opera un movimiento de

afirmación de los sujetos ahí representados, aprobándola como si fuera en el

ámbito del video y en el de la vida, exactamente como mostrado en la película.

Esto es un desafío teórico para los estudios de cine desde que se articuló la

noción de sintaxis del visible. Aun que haya un obstáculo lógico a la

representación de los sujetos en situación de invisibilidad, eso no ha impedido,

de ninguna manera, que sea tema frecuente en el discurso cinematográfico.

Tampoco previene que ciertas políticas de representación operen como marcas

sobre sujetos supuestamente periféricos. Estos actúan como estandartes de

identidades minoritarias por la manera que se hacen visibles en la escena.

Palabras-clave: políticas de representación, regímenes de visibilidad,

imágenes de alteridad, discursos audiovisuales, consumo cultural.

Abstract: The article analyzes discursive articulations regarding the matter of

social invisibility as it especially considers recent Brazilian documentary films

(Elena, Cidade cinza, Olhe pra mim de novo). Those were in the commercial

exhibition circuit and privilege a referential and realistic approach presenting

some social actors that fit the invisibility condition. We are interested in the

realistic drive on movies as it is able to perform an affirmative reaction by the

subjects involved. The narrative is build as if the facts were in life and in the

movies just like shown on screen. Such has been a theoretical challenge for film

studies since the establishment of the notion of syntax of the visible. Even if we

can recognize the logical distance for the representation of individuals in

situation of invisibility, that has not prevented them from being present in

278
Nos termos da #interdição

audiovisual discourses. Neither has it stopped certain politics of representation

to operate as a stamp over a certain kind of subject presented as minority

identity as they take the scene.

Keywords: politics of representation, regimes of visibility, images of alterity,

audiovisual discourses, cultural consumption

O artigo propõe uma análise do discurso cinematográfico a fim de

apontar algumas possíveis articulações em torno da questão da invisibilidade

social. Este tem sido um desafio teórico para os estudos fílmicos desde o

estabelecimento, por contraponto, da noção de uma sintaxe do visível (cf.

METZ, 1972; AUMONT, 1995). Assumimos que exista uma barreira lógica para

a representação de sujeitos em situação de invisibilidade, o que de modo

algum tem impedido que ela seja tematizada frequentemente em filmes. Ou

ainda, que opere como uma marca sobre determinados sujeitos em cena,

periféricos, atuando como estandartes de identidades minoritárias nos modos

de tornarem-se visíveis.

Ao mesmo tempo, não podemos deixar de marcar a aparição poética

destes mesmos sujeitos como estando em uma posição política – e dizemos,

com Nichols (1991), que se trata também de uma imagem ideológica –, ambas

associadas numa forma de representar. Entendemos, ainda, acompanhando o

pensamento de Rancière (1996; 2005), que a criação na linguagem implica,

invariavelmente, um engajamento poético e uma representação política.

Observamos, num aparente paradoxo, que identidades consideradas

minoritárias têm tido espaço para a construção de seus modos de

279
Nos termos da #interdição

representação em discursos audiovisuais (notadamente em filmes baseados

em fatos reais que tematizam a periferia, o crime, a violência, a

homossexualidade, o racismo, as questões de gênero etc.) assumindo, desse

modo, um espaço de visibilidade. Independentemente, identificamos a

invisibilidade como uma dimensão fundamental na maneira como os processos

de representação se apropriam desses sujeitos.

Desenho do visível por meio da marca documental

Ao tratarmos de novas políticas da representação, voltamo-nos,

principalmente, para o campo da produção e da circulação de discursos.

Entretanto, quando observamos as práticas midiáticas não podemos deixar de

considerar a questão da recepção, ou seja, do consumo cultural em suas

múltiplas formas. Novos atores sociais entram em cena para compor, de modo

complexo, tramas narrativas que contemplem, ao mesmo tempo, os desafios

da sociedade contemporânea organizada em rede e as demandas dos sujeitos

em suas diferentes posições. Como afirma De Certeau (1996), a relação entre

estratégias e táticas imprime novas relações de força entre os diversos

sujeitos, possibilitando deslocamentos e o contorno de outros cenários culturais

na busca por afirmações identitárias alternativas:

Chamo de estratégia o cálculo (ou a manipulação) das relações de

forças que se torna possível a partir do momento em que um sujeito

de querer e poder (uma empresa, um exército, uma cidade, uma

instituição científica) pode ser isolado. A estratégia postula um lugar

280
Nos termos da #interdição

suscetível de ser circunscrito como algo próprio e ser a base de

onde se podem gerir as relações com uma exterioridade de alvos ou

ameaças (os clientes ou os concorrentes, os inimigos, o campo em

torno da cidade, os objetivos e objetos de pesquisa etc.) (DE

CERTEAU, 1996, p. 99).

No campo da produção audiovisual, práticas de consumo recentes

provocam e são provocadas pela revitalização do gênero documental na última

década, quando vemos a propagação de filmes que se dirigem a novas

audiências e, ao mesmo tempo, retratam outros agentes sociais, ampliando o

campo do visível e, consequentemente, os regimes de visibilidade nele

presentes. Em sua definição mais geral, ou seja, filmes que retratam o mundo

concreto por meio de escolhas técnicas, estéticas e narrativas visando contar

determinadas histórias para uma audiência específica, os documentários

encontram no público o espaço de construção de suas possíveis

interpretações, remetendo suas formas discursivas àquilo convencionado como

realidade. A relação com a realidade estabelece, ainda, outro pacto, qual seja,

o compromisso dos documentários com a suposta verdade dos fatos

encenados, escamoteando, muitas vezes, as estratégias de sua fabulação. Na

relação entre produção e recepção, ainda que se espere que os documentários

contem histórias verdadeiras sobre o “mundo real”, tal expectativa pertence, ela

mesma, ao pacto de leitura estabelecido:

Não se espera que tais histórias sejam contadas de modo objetivo,

tampouco que sejam completamente verdadeiras. O realizador pode

281
Nos termos da #interdição

se valer, ocasionalmente, do uso de licença poética no relato e se

referir simbolicamente à realidade. (...) Mas espera-se que os

documentários sejam uma representação justa e honesta de uma

experiência vivida por alguém (AUFDERHEIDE, 2007, p. 3, tradução

nossa).

É na interface entre o repertório do público, seu interesse pelos fatos

narrados e a maneira como os realizadores apresentam tais fatos que se

estabelece um intervalo no qual vislumbrar possíveis efeitos de sentido a partir

dos filmes. De certo modo, não há regras extrínsecas ao filme documentário

que possam defini-lo enquanto tal, apenas escolhas que dizem respeito a como

criar suas narrativas de modo a torná-las consistentes e credíveis em relação

aos contratos comunicacionais selados com a audiência. Um novo aspecto

soma-se a esse pacto, incluindo na tessitura dos documentários questões

relacionadas ao mercado de produção e distribuição de filmes, que se encontra

com as possibilidades de distribuição e apropriação dos mesmos. À medida

que os documentários passam a ocupar espaços ampliados no circuito

audiovisual, sua definição como gênero discursivo especifico também se

fortalece, não apenas no cinema mas também na televisão e na internet,

especialmente se considerarmos as mídias digitais e os aparatos móveis

utilizados para sua propagação.

Como representação expressiva das tensões e contradições nas

práticas socioculturais contemporâneas, o cinema convida ao deleite

e também à reflexão. De fato, o espectador que se dispõe a compor

282
Nos termos da #interdição

sua sensibilidade com o fluxo imagético na tela e imergir na narrativa

ficcional do filme que está assistindo terá a oportunidade de interagir

– e mesmo de desvelar – outras visões de mundo, vivenciando de

um tipo de experiência que poderá levá-lo a pensar e atribuir sentido

às questões de nosso tempo a partir de novas perspectivas

(CASTRO, 2013, p. 2).

Por meio da inserção dos documentários como parte dos processos de

consumo cultural, portanto, buscamos também apontar os modos de

estabelecimento de vínculos sociais na contemporaneidade, visando a

problematização das formas de construção de identidades, subjetividades e

sociabilidade presentes nas interações cotidianas. É assim que cenários em

constante transformação geram práticas e usos diferenciados em termos de

consumo cultural midiático, possibilitando a realização de documentários que,

para além de sua vocação original, ampliam as possibilidades de

representação do outro, tornando-o mais radical em sua alteridade, menos

domesticado em relação àquilo estabelecido como normatização ou

normalização social:

A realidade não é algo que esteja lá fora, mas aquilo que

conhecemos, entendemos e compartilhamos uns com os outros

sobre o que está lá fora. As mídias interferem na realidade mais

valiosa que existe, aquela que está em nossas mentes.

Documentários são uma importante forma de comunicação e

formatação da realidade, justamente por evocaram a verdade. Eles

283
Nos termos da #interdição

são sempre fundados na realidade e pretendem nos contar alguma

coisa que valha a pena ser conhecida (AUFDERHEIDE, 2007, p. 5,

tradução nossa).

É um extremo que vemos surgir, muitas vezes, nas telas de cinema,

trazendo à tona novos regimes de visibilidade que alargam as políticas da

representação usualmente aceitas. Como assinalamos anteriormente

(SOARES, 2011, p. 144), Bakhtin (1987) estabelecera relações entre uma

estética do grotesco e modos de ressignificação cultural que subvertem antigas

oposições, instaurando formas de comunicação em que normas e barreiras

sociais são temporariamente suspensas, violando regras habituais da vida

coletiva, como nos festejos populares do carnaval. Para o autor, “o exagero, o

hiperbolismo, a profusão, o excesso são, segundo opinião geral, os sinais

característicos mais marcantes do estilo grotesco” (BAKHTIN, 1987, p. 265).

A circulação de documentários que tematizam de alguma forma a

invisibilidade, as identidades minoritárias, os estigmatizados já aponta para o

alargamento na troca de bens simbólicos, em que a invisibilidade também se

torna um modo de inserção social e mercadológica. Essa circulação está

relacionada à acumulação de riquezas que pode reverter em recursos

financeiros e reconhecimento pessoal tanto para documentaristas como para

personagens. A proliferação de imagens em páginas da internet, seja com

vídeos do YouTube, perfis em redes sociais como Facebook e Twitter, ou

trailers oficiais em sites corrobora nossas análises, apontando para o caráter

expansivo do consumo na atualidade. Um duplo movimento, então, apresenta-

se como eixo articulador dessa perspectiva: se por um lado vemos

284
Nos termos da #interdição

aumentarem as possibilidades de tornar visíveis sujeitos antes obscurecidos,

por outro vemos surgirem, cada vez mais, imagens que se conformam à ordem

visual vigente, especialmente aquelas aqui destacadas: os discursos de cunho

realista dirigidos ao estabelecimento de verdades sobre os fatos narrados.

Em Testemunha ocular (2004), Peter Burke tematiza a questão da objetividade

e fidelidade na representação dos fatos por meio da análise de imagens fotográficas,

questionando-as enquanto provas de evidência histórica. Dentre os vários conceitos

trazidos, o autor apresenta uma série de problemas advindos da crença na

autenticidade e veracidade das imagens fotográficas: o problema das fotografias

fabricadas, dos interesses daqueles que as encomendam, de pressões externas

(editores, veículos). Segundo o autor, o conceito de “testemunha ocular” – alguém

capaz de fielmente “representar o que, e somente o que, poderia ter visto de um ponto

específico num dado momento” (BURKE, 2004, p. 18) – reforça a crença na

possibilidade de um testemunho preciso e verdadeiro, esquecendo as diferenças

sempre presentes tanto no que os discursos (verbais ou visuais) deixam transparecer,

como naquilo que ocultam.

Notamos na produção cinematográfica recente um conjunto de filmes,

ficcionais ou documentais, que problematizam de modo singular a questão da

objetividade nos relatos e da fidelidade aos fatos. Entre eles, destacamos produções

iranianas e brasileiras: os filmes iranianos Salve o cinema (Mohsen Makhmalbaf,

1995), Cópia fiel (Abbas Kiarostami, 2010) e Isto não é um filme (Mojtaba Mirtahmasb

& Jafar Panahi, 2010); e os documentários brasileiros Jogo de cena (2007), Moscou

(2009) e As canções (2011), últimos filmes realizados por Eduardo Coutinho 29. Ainda

que reconheçamos a variedade estética, técnica e estilística de cada um desses

filmes, apontamos algumas das articulações discursivas presentes em suas narrativas,

notadamente híbridas e cambiantes.

29
Para informações e críticas dos filmes, ver site www.adorocinema.com.br. Acesso em
11/02/2012.

285
Nos termos da #interdição

Já na década de 1990, Salve o cinema, como outros filmes iranianos, mescla

encenação e registro em suas imagens, numa espécie de ficção documental na qual o

diretor convoca possíveis atores, por meio de um anúncio de jornal, a realizarem

testes para seu próximo filme. Makhmalbaf filma os testes e, ao ser interpelado sobre

quando teriam início as filmagens com os escolhidos, responde que o filme havia

acabado de ser realizado. Na ficção Cópia fiel (no original, cópia autenticada),

Kiarostami indaga, durante todo o filme, o que seria autêntico e veraz em contraponto

àquilo tomado como artificial e falso ao apresentar um roteiro em espiral que polemiza

o valor da cópia em obras de arte e se desdobra em camadas interpretativas. É o

diretor Panahi quem nos oferece, em Isto não é um filme, uma síntese dos dois filmes

anteriores: proibido de realizar filmes – veto por ele obedecido – e anunciando se

tratar de um “documentário” – denominação pouco comum nos modos do realismo

cinema iraniano –, o diretor é filmado por outro realizador e encena, em prisão

domiciliar (que perdurou por dois meses e só foi encerrada após greve de fome do

diretor), um dia completo de confinamento como forma de relatar as privações a ele

impostas e, metonimicamente, ao próprio cinema.

Em seus documentários, Coutinho evoca diversos modos ficcionais para contar

as histórias vividas pelos entrevistados – transformados em personagens – e desafiar

as fronteiras entre reprodução e fabulação. Os filmes podem ser vistos como uma

espécie de trilogia (ou reiteração) a respeito do cinema e de seus modos de

realização, além de retomar a crítica ao conceito de representação. Encenados no

ambiente de teatro, em Jogo de cena, composto apenas por personagens femininas,

vemos a mistura entre histórias verídicas e inventadas, atrizes e mulheres anônimas,

espontaneidade e indução. Os depoimentos são apresentados em cenário minimalista,

no qual as mulheres sentam-se à frente de Coutinho, de costas para a plateia vazia,

invertendo as posições normalmente vistas no teatro e questionando os limites da

interpretação. Moscou, por sua vez, retrata os bastidores do grupo de teatro mineiro

286
Nos termos da #interdição

Galpão, ensaiando em um teatro vazio a peça “As três irmãs”, de Tchekhov, jamais

apresentada ao público.

Finalmente, As canções desenvolve uma premissa aparentemente simples:

cada um dos entrevistados deve contar (e cantar) a história de uma música que tenha

marcado sua vida. Mais uma vez o cenário é um teatro, mas o ponto de fuga situa-se

nos fundos do palco, entre cortinas, lugar por onde entram e saem os personagens.

Ao contrário de dicotomizar suas narrativas, tais documentários se movimentam nas

imbricações entre referencialidade/ficcionalidade, realidade/fantasia, fato/relato. A

exemplo dos filmes anteriores, essas imagens nos alertam, reiteradamente, para a

precariedade na apreensão ou representação fidedigna da realidade, ressaltando a

impossibilidade de objetivação dos relatos e a pregnância do processo tradutório que

se impõe a qualquer discurso sempre que os artifícios da narrativa são acionados.

Respondendo de modo contundente à tentativa de domesticação percebida em tantos

discursos que se pretendem referenciais, tais filmes reafirmam seu pacto ficcional com

os espectadores, como se dissessem, paradoxalmente, isto é apenas um filme.

Nos interstícios de uma realidade oculta que quer se fazer ver e uma

visibilidade englobante que tudo quer mostrar, vemos desfilar imagens mais ou menos

reais, mais ou menos verdadeiras, mas sempre engajadas na tensão entre visibilidade

e invisibilidade dos sujeitos nelas representados, como nos filmes tratados a seguir.

Contornos invisíveis de um outro documentado

Analisaremos no artigo articulações feitas por três documentários

brasileiros recentes, exibidos em circuito comercial e que, privilegiando um

discurso referencial e de cunho realista, apresentam como personagens

sujeitos marcados por modos de vida diversos e, muitas vezes, por ocuparem

posições periféricas em relação a papéis sociais tradicionalmente

287
Nos termos da #interdição

estabelecidos. O empenho realista interessa por operar um movimento de

afirmação da marca dos sujeitos representados, aprovando-a como se ela

fosse, no âmbito do filme e no âmbito da vida, exatamente como mostrada. Por

outro lado, as fabulações neles contidas – especialmente por se tratarem de

documentários – tornam-se contundentes pelo fato de estabelecerem relações

diretas com a composição da imagem de um outro, ou seja: para além da

vocação documental de se voltar ao outro, tais filmes tematizam também sua

própria vocação na construção dessa imagem por meio dos personagens

apresentados.

Desse modo, as invisibilidades sociais, frequentemente relatadas em

documentários, são de fato problematizadas nesses filmes, que não apenas se

contrapõem ao que normalmente é tornado visível – trazendo figuras

divergentes –, mas problematizam os modos de fazê-lo, ampliando o campo do

visível e autenticando, assim, novas políticas da representação dos sujeitos

filmados. Sob essas premissas, trataremos a seguir dos filmes Elena (Petra

Costa, 2013), Cidade cinza (Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, 2013) e

Olhe pra mim de novo (Kiko Goifman e Claudia Priscila, 2011).

Para além de semelhanças estilísticas – que se acentuam nos tempos

atuais –, reportagem e documentário posicionam-se diferentemente em relação

às formas de construção da representação e às relações desta com o

imaginário social. Ao ressignificar os fatos para representá-los culturalmente,

ainda que tenha como base os acontecimentos (ou atualidades), é de um

processo de criação que se trata, inventando uma história por meio de

fabulações narrativas. De distintos modos de dar a ver o outro, em formas mais

extremas ou mais domesticadas, espaços de visibilidades e invisibilidades

288
Nos termos da #interdição

apresentam-se nas telas da televisão e do cinema, apontando para diferentes

concepções estéticas, temáticas, éticas, estilísticas e narrativas.

No caso dos programas telejornalísticos, a presença do repórter no local

em que se passa a notícia e a importância da transmissão ao vivo, tornando-o,

ao mesmo tempo, narrador e sujeito da ação, confirmam sua atuação como

personagem da narrativa e representante do espectador (uma espécie de

testemunha do testemunho atestado pelo jornalismo), colocando-se em seu

lugar e construindo a cena como se o espectador estivesse nela presente. A

realidade encenada, ou telerrealidade, insere-se nesse espaço de atuação que

distancia as reportagens dos documentários. Estes, como afirmamos, não são

apenas filmes de caráter informativo ou didático, mas reconstroem a realidade

a partir de um ponto de vista subjetivo que se estabelece no intervalo entre

cineasta e personagem, um “eu” e um “outro” colocados em relação.

Em vez de desenrolar a narrativa aos olhos do espectador, o

documentarista, normalmente fora de quadro mas presente por meio dos

enfoques buscados, tem como desafio ocupar o lugar de escuta do outro, mais

do que tornar audível sua própria voz. Ao contrário de atuar como personagem,

o sujeito que se inscreve nos documentários não se pretende uma

representação fiel da pessoa, retratada em seu cotidiano, mas torna-se, nas

palavras de Eduardo Coutinho, “a melhor versão daquela pessoa”: “No

cotidiano as pessoas são tão naturais quanto artificiais. Que processo a pessoa

levou para atingir o seu natural? É a criação da mentira verdadeira. É óbvio que

uma pessoa assume dez pessoas diferentes no seu cotidiano” (COUTINHO;

XAVIER; FURTADO, 2005, p. 119). Ao deslocar o foco da legitimidade para a

289
Nos termos da #interdição

legitimação, o documentarista alcança, por meio do fingimento, o que há de

mais singular no sujeito simulado nas imagens:

A respeito da relação entre pessoa e personagem, ocorre algo

interessante. Na filmagem, encontro-me com uma pessoa durante

uma hora, sem a conhecer de antemão, e às vezes nunca mais a

vejo depois disso. E na montagem, durante meses, lido com ela

como se fosse um personagem. Ela é, de certa forma, uma ficção,

por isso a chamo de personagem, já que ela “inventou”, numa hora

de encontro, uma vida que nunca conheci. Se o filmo durante uma

hora, ficam na edição final cinco ou sete minutos. Faço dela um

concentrado daquilo que eu acho que é o melhor que ela possa ter

(COUTINHO; XAVIER; FURTADO, 2005, p. 121).

De modo paradoxal, ao ausentar-se da tela o realizador nela deixa suas

marcas, por meio dos encontros discursivos, e não-presenciais, atestados

pelas imagens da câmera, numa espécie de autoria partilhada em que, nos

moldes da teoria da enunciação, instauram-se possibilidades de reversibilidade

entre um “eu” e um “outro” que intercambiam lugares para que cada um possa

ganhar voz e tomar corpo. Nas reportagens jornalísticas, ao contrário, o lugar

do realizador é ocupado pelos repórteres. Mesmo que esses não direcionem a

narrativa – ao contrário, o jornalismo apregoa a neutralidade do relato e produz,

como efeito de sentido, o apagamento das marcas do enunciador –, sua

presença física se faz sentir a cada passo, demarcando de modo mais incisivo

os vieses da narrativa e unificando, ao menos na superfície, seu relato.

290
Nos termos da #interdição

Ainda que ambos, reportagem e documentário, apresentem sujeitos

concretos, histórias acontecidas e situações pertencentes ao mundo histórico –

explicitando seu caráter documental e testemunhal –, os documentários

ocupam-se menos da busca pela verdade das pessoas e dos fatos retratados,

e dedicam-se mais a interpretações sobre tais pessoas e fatos, elaborando

suas narrativas a partir das informações e histórias de vida colhidas por meio

das interações verbais com seus personagens. A problemática da objetividade

e da autenticidade, certificadas pelo repórter que vivencia as histórias ao

mesmo tempo em que as apresenta ao telespectador, não se coloca para o

documentarista, que assume o caráter provisório de seu relato, tecido sempre a

posteriori, em outro tempo e lugar que não os da própria ação. Como afirma

Coutinho:

No documentário é preciso sair de si. (...) O documentário é

isso: o encontro do cineasta com o mundo, geralmente socialmente

diferentes e intermediados por uma câmera que lhe dá um poder, e

esse jogo é fascinante. Portanto, o fundamental do documentário ou

acontece no instante do encontro ou não acontece. E se não

acontece, não tem filme. E como você depende inteiramente do

outro para que aconteça algo, é preciso se entregar para ver se

acontece (COUTINHO; XAVIER; FURTADO, 2005, p. 121).

Estabelecemos metodologicamente duas formas pelas quais a questão

da invisibilidade tem permeado a produção fílmica: o ímpeto de representá-la

enquanto ausência e a visibilidade dada aos sujeitos em situação de

291
Nos termos da #interdição

invisibilidade. No limite, há sempre algo de invisível que não poderá ser

captado, do mesmo modo que, num embate com uma dimensão imponderável,

a câmera aponta para sujeitos incluindo-os em sua invisibilidade positivada

(representada pela presença de uma ausência) ou visibilidade indiferente (caso

em que a própria indiferença se torna a marca). Estas marcas estão

relacionadas aos tipos de vínculo estimulados na produção fílmica em

negociação com a realidade (desses sujeitos e de onde se inserem).

Observaremos a composição cênica em que esses sujeitos são

mostrados (planos, enquadramentos e montagem), a perspectiva de um olhar

organizador das cenas (identificado como aquele que concede o direito à

visibilidade) e a possível relação entre os elementos visíveis e aqueles que

dialogam com um espaço do não dito que, como apontamos, faz-se presente

na cena por meio dessa relação. Finalmente, argumentaremos sobre como as

cenas que pretendemos analisar não precisam ser obscuras para que ocorra

uma determinação de invisibilidade. Antes, a figura dos sujeitos engajados, em

relação com outros sujeitos e objetos do entorno cênico, será a principal

característica determinante de sua situação.

Elena (2013), dirigido por Petra Costa, é um documentário brasileiro

aclamado em diversas premiações nacionais e internacionais. Interessa-nos,

sobretudo, por lidar justamente com a falta de Elena, que será presentificada,

durante o filme, com fragmentos de vídeos costurados como uma composição

na memória. Outra relação de ausência-presença marca o filme: trata-se da

implicação autoral de Petra Costa, a diretora, e sua ausência, para deixar que a

memória da irmã fale. Além disso, Elena segue uma carreira artística que é

referência em todo o filme – a dança, o teatro. A experiência artística da

292
Nos termos da #interdição

personagem é respondida com um filme documentário, na berlinda entre o

referencial e o emaranhado poético da composição fílmica, articulando o relato

a um tempo factual e ficcional.

Mas devemos apontar que, para além das anotações que podemos fazer

na proposta anunciada do documentário e que o inclui diretamente no debate

sobre os limites entre visibilidade e invisibilidade, os elementos da composição

fílmica é que desenham mais precisamente as nuances desse encontro. A

trilha sonora desempenha um papel importante para situar o espectador no

tempo da memória, e não no tempo presente de Elena, pois é a música que

distancia o que se vê hoje da experiência factual passada. Ela conduz, no

âmbito daquilo que nos é apresentado como imagem, um corpo que ser torna

fluído, etéreo e de contornos dificilmente definidos. Desse modo, a presença de

Elena pode ser novamente vivida, ainda que mediada pela fluidez da água,

pelo etéreo da dança e pela borramento técnico possibilitado por vídeos

amadores.

Elena viaja para Nova York com o mesmo sonho da mãe: ser atriz de

cinema. Deixa para trás uma infância passada na clandestinidade durante a

ditadura militar, e uma adolescência vivida entre peças de teatro e filmes

caseiros. Também deixa Petra, sua irmã de 7 anos. Duas décadas mais tarde,

Petra também se torna atriz e embarca para Nova York em busca de Elena.

Tem apenas pistas: fitas de vídeo, recortes de jornais, diários e cartas. A

qualquer momento, Petra espera encontrar Elena andando pelas ruas. Aos

poucos, os traços das duas se confundem. Já não se sabe quem é uma e

quem é a outra. Do espaço entre o corpo invisível de Elena e a presentificação

tornada visível por sua irmã, vemos materializar-se, de modo etéreo, os

293
Nos termos da #interdição

contornos do irrepresentável: o desaparecimento causado pela morte, já que

esta encerra qualquer possibilidade de imagens referenciais, mesmo que se

trate de um documentário em busca de seus sujeitos ou, mais do que isso, em

busca dos limites de seu discurso.

Cenas de Elena

O filme Elena articula a relação com o visível imergindo suas

personagens em ambientes etéreos ou fluidos. A primeira imagem que

selecionamos mostra uma tomada vista de cima do corpo feminino movendo-se

como em uma dança em meio aquático. A horizontalidade da cena não nos

remete tanto ao ambiente aquático que identificamos quanto a um movimento

no ar, como se estivéssemos olhando para o céu. A movimentação da roupa

soma-se àquela do corpo, contribuindo para o obscurecimento de contornos. A

imagem causa um estranhamento por unir um corpo vestido à água e o

movimento lento da atriz também contribui para um mesmo estado de não

saber da referência exata da cena. Ainda não identificamos e não podemos

294
Nos termos da #interdição

reconhecer as mulheres, personagens femininas envolvidas na narrativa do

filme. Estamos diante, simplesmente, de um corpo feminino flutuante, situando

o espectador num tempo distinto – aquele da memória – e possibilitando uma

aproximação afetiva, com tomadas poéticas e disruptivas, à narrativa do filme.

Na segunda imagem selecionada, o ambiente aquático dá lugar a uma

cena de impressões amadoras ou caseiras em que surge uma menina, centro

das atenções. A movimentação que se produz é mais rápida, a focalização da

personagem menos segura e mais fugidia. Se na cena anterior ela nos

escapava e se fazia invisível pela falta de reconhecimento, nessa notamos uma

marca referencial, mas o fato escapa ao foco. Temos um quadro pixelizado, o

balanço incômodo das câmeras amadoras. Adiciona-se a isso, considerando a

experiência do espectador, a distância temporal marcada pelo rosto e pelo

sorriso de menina. No quadro seguinte, temos uma personagem já madura.

Sendo ela a representação de um tempo atualizado (passagem de criança a

adulta), mas não presente (a adulta também vive somente na memória), a

mulher aparece-nos de costas, afastando-se. Dessa forma, também escapa em

sua invisibilidade. Uma vez mais, também acompanhamos o borramento pela

movimentação que se imprime na cena.

Nosso segundo exemplo é Cidade cinza (2013), com direção de

Guilherme Valiengo e Marcelo Mesquita, que participou do festival de produção

audiovisual “É tudo verdade”30. O filme apresenta grafites feitos pelos artistas

OsGêmeos, Nunca e Nina, na cidade de São Paulo (SP), e que são tornados

invisíveis pela decisão da prefeitura da cidade em eliminar o que considerava

ser “poluição visual” (grafites, pichações, cartazes, outdoors, pôsteres,


30
Festival internacional de documentários, reunindo importantes obras. Realizado anualmente,
encontra-se em sua décima nona edição. Mais informações em: http://etudoverdade.com.br.
Acessado em 25 mar. 2014.

295
Nos termos da #interdição

luminosos) por meio da repintura dos muros da metrópole. O documentário se

monta, assim sobre uma disputa institucionalizada a respeito das cores que

devem revestir a cidade: o colorido dos grafites ou o recobrimento pela

uniformização acinzentada.

O filme apresenta uma tomada panorâmica da cidade de São Paulo,

marcando o adensamento da área construída e de sua lavagem cinza-

concreto. O grafite é então recuperado como forma de reação à erupção do

concreto, como uma marca visível nas paredes construídas. A relação com a

invisibilidade, nesse caso, faz-se com o cinza que ele encobre, cor original de

tudo o que é concreto. Os grafites reapresentados em cena fazem uma

segunda pintura, que é aquela documentada pelo filme e mostrada ao

espectador, trazendo os artistas como protagonistas da encenação, sobre os

muros cinzas, de algo que antes estava ali e foi recoberto. Vemos os grafites à

medida que vão sendo feitos: a justaposição de cenas os faz contrastar com o

cinza que recobre a cidade e para o qual havia retornado. Dessa forma, a

passagem de uma cena a outra faz do espaço urbano um campo de batalhas

simbólicas do visível, um embate entre representações. Onde os olhos

poderiam ver uniformidade, há a marca de uma disputa que é, ao mesmo

tempo, estética e política, sobre um território aparentemente indomado e

coletivo, pertencente a cada um dos sujeitos que nele transitam.

O filme estabelece um contraponto visual entre a verticalidade da

cidade, percebia na estrutura dos prédios, e a horizontalidade da execução dos

grafites em seus muros. A ação em cena é executada por veículos

representando a prefeitura da cidade, invadindo a paisagem e se postando na

frente dos muros grafitados para o trabalho de recobrimento das pinturas. A

296
Nos termos da #interdição

partir dessa intervenção, ocorre um questionamento sobre o lugar da arte no

espaço da cidade, em que percebemos, por um lado, a visibilidade de uma luta

por assepsia sobre a qual está instaurado um desejo de cidade e, por outro, a

“sujeira” dos grafites, intervenção artística que a transforma pervertidamente

como se fosse um ruído na homogeneidade de suas cores.

Cenas de Cidade cinza

Parece-nos um compromisso do documentário, ou um código a ser

aplicado a toda escrita fílmica, oferecer um quadro que represente a visão geral

do tema numa imagem sintetizadora. No caso de Elena, era o corpo imerso

dançante na água, oferecendo poucos elementos referenciais sobre um

espaço-tempo. Já em Cidade Cinza, a inauguração da narrativa é feita com a

referência explícita à cidade de São Paulo em sua forte presença. Nem por isso

deixamos de considerar que o primeiro quadro selecionado seja também, em

certa medida, oceânico, extravasando seus limites ao fazer imaginar uma

infinita extensão cinza para além dele.

297
Nos termos da #interdição

Curiosamente, da mesma forma que notamos em Elena, temos uma

perspectiva de olhar mais incomum, aquela em plongée ou contra-plongée.

Esse posicionamento do olhar, somado ao do espectador, empodera-o com um

lugar de ver ao mesmo tempo em que torna invisível o que não está captado no

que seria uma tomada mais ampla. Outros quadros que se seguem procurarão

recobrir tal falta, acionada na elaboração da narrativa imagética. Ao longo do

documentário, o colorido do grafite ganha seu espaço em cena.

O segundo quadro está recortado, mas presente atrás dos artistas-

grafiteiros em primeiro plano. Notamos, ainda, que ele reproduz o modelo

tradicional da reportagem informativa para a apresentação da fala das

personagens. O efeito que se tem é o endosso àquele que fala, pelo que

consideramos que este seja um lugar de invisibilidade e, desse modo, aberto

para pessoas que estão tanto à margem socialmente (com sua atividade

artística), quando invisíveis atrás de suas próprias obras como artistas.

Na sequencia das imagens que selecionamos, vemos a verticalidade

das construções cinzentas ser desafiada pela horizontalidade longilínea do

muro grafitado. O espaço do muro cinza combinado com o asfalto, que não

seria comumente notado, e a própria estrutura da cidade, ganha estatuto de

espaço de arte. Cidade cinza mostra a atividade do grafite como uma iniciativa

de ocupação do espaço invisível para a esfera do notável. Ao mesmo tempo, o

movimento de atrair o olhar faz do muro grafitado um lugar de contenda entre o

incômodo estímulo ao olhar ou seu apaziguamento monótono.

O terceiro filme é o documentário Olhe pra mim de novo (2011), definido

como uma espécie de “filme de estrada” e dirigido por Kiko Goifman e Claudia

Priscilla. Notemos que Goifman já havia dirigido os documentários 33 (2002) e

298
Nos termos da #interdição

Filmefobia (2008), entre outros, tratando de situações limítrofes no que diz

respeito aos modos de construção de identidades periféricas e as formas

instituídas de sua representação, como se pudesse, de algum modo, captar o

inapreensível por meio de imagens extremas. No filme, o transexual Silvyio

Luccio é retratado no cenário do sertão nordestino em que habita com sua

esposa. Uma fala da personagem interpreta o ato de tirar a roupa como se este

fosse um desvelamento, um deixar cair a máscara da visibilidade masculina

que o protagonista sustenta. O título aponta para este mesmo movimento de

duplo olhar, de retorno para verificar o que verdadeiramente se vê. A

complexidade do filme reside, justamente, na incerteza que faz repousar a

visão sobre um imaginário difuso e pouco marcado, ou melhor, recortado,

filmado em cortes.

Nesse caso, para além da representação, trabalha-se a invisibilidade

pela falta declarada do órgão sexual masculino. Ao mesmo tempo em que ele

se faz presente na construção dos diálogos e da concatenação entre as cenas,

Silvyio pede que outros ponham a mão em seu corpo para que possam

verificar a ausência daquilo que todos pensavam que ele teria entre as pernas.

O documentário resume essa situação, aparentemente contraditória por oscilar

entre o visível e o invisível, na equação “eu pensava que você era um homem

que tinha desistido de ser homem e agora procura ser de novo”.

299
Nos termos da #interdição

Cenas de Olhe pra mim de novo

A cena em plano mais geral que marca este documentário é a imagem

de uma estrada liberada para a circulação, mas sem outros veículos circulando.

O que não está visível é o homem desejante de livre circulação. Há no

horizonte o encaminhamento por uma busca, que entendemos como sendo

uma busca de identidade. O segundo quadro selecionado apresenta o

personagem em momento de fala, tornando-o visível dentro do cenário da

cidade em que ele se encontra, com sua companheira. Ele de pernas abertas,

roupa vestida para ocultar; ela de pernas cruzadas, decote para mostrar.

Durante todo o documentário há uma clara tentativa de desestabilizar os

limites entre os comportamentos esperados de acordo com os gêneros

masculino ou feminino. No terceiro quadro, vemos uma personagem falando de

si e de sua presença no mundo, dita para “incomodar”. Ela fala à noite, sob

sombras, e sua atuação marca ainda o que podemos reconhecer como uma

gesticulação feminina em um homossexual masculino.

Em Olhe pra mim de novo, a questão da invisibilidade está marcada pela

apresentação dos espaços e das condições pelas quais a sexualidade pode ser

socialmente expressa, manifestada e vivida. Traz à tona, para o âmbito do

visível e para a luz do dia, o que pertenceria ao privado. Ao mesmo tempo, a

privacidade está imbuída de um ímpeto de reconhecimento e aceitação

300
Nos termos da #interdição

públicos. O documentário circula entre essas duas esferas, transitando pelas

estradas daquilo que estaria dentro, voltado para a intimidade, e daquilo que

estaria fora, projetado para a exposição.

Construção identitária: invisibilidades visíveis e circulação mercadológica

Pretendemos, com os exemplos descritos, apresentar a relação entre o

“um” e o “outro”, espectador e personagem, por semelhança e identificação, ou

por contraste e repulsa. Tal articulação se estabelece no campo visual e é

própria do fazer documental por meio do ímpeto de ver o diferente. O debate,

então, estende-se ao ponto em que entendemos o olhar como porta de entrada

para um circuito de circulação que depende de uma identificação inicial com o

objeto visto e de sua apropriação, oferecida como produto audiovisual.

De maneira mais abrangente, podemos dizer que a experiência

identificada como artística e política passa pelos mesmos canais midiáticos que

a possibilidade de consumo cultural. Mais, ainda, objetos de consumo

complementam a mesma experiência na medida em que passam a ser a

representação da experiência identitária mesma, uma vivência de sua certeza

totalizante: “Os enunciadores das máquinas comunicacionais ritualizam a

especialização estética da mercadoria, já que as atividades de leitura, audição,

televisão e imersão convocam o receptor a vivenciar experiências

multissensoriais, voltadas à construção de uma vida desejável, construídas

com apoio dos especialistas” (PRADO, 2013, p. 30).

Nesse sentido, a apresentação de personagens com identidades

minoritárias se dá de forma desejavelmente estética, apelativa, circulante e,

301
Nos termos da #interdição

associado a isso, vendável. A dimensão política do olhar, assim, está marcada

por uma lógica do aceitável como limite cultural em favor de satisfazer

desígnios do imaginário: “Em vez de politizar a existência, os agentes ficam

sem cessar fazendo indagações e ouvindo os enunciadores dos dispositivos,

de modo a construir suas identidades e chegar à plenitude imaginária”

(PRADO, 2013, p. 43).

De todo modo, não podemos assumir que, com isso, tal dimensão

política do olhar esteja sufocada, visto que os limites do que é culturalmente

desejável tem a fluidez característica das formações discursivas. O que

reforçamos ao analisar os exemplos de documentários nacionais recentes é

que há um limiar desafiador sobre o qual eles trabalham. E o fazem sob uma

visibilidade instituída, conformando-se nela ao mesmo tempo que a desafiam.

Identidades minoritárias ganham, assim, em presença, mas desaparecem na

invisibilidade de tudo aquilo que não cabe na ordem do visível. O exercício do

documentário, dessa forma, instaura uma distância entre o espectador e o

outro que ele aborda por meio do olhar, assegurado pela mediação da tela. Ao

mesmo tempo, recobre tal distância na medida em que transporta o espectador

para dentro da cena. Ele é colocado, assim, no que podemos chamar de uma

posição de consumidor escópico, aproximando-se do outro e dele se

separando.

Acreditamos que, dessa forma, a prática documental oferece um apelo à

veracidade dos fatos que estão sendo retratados e uma forma de engajamento

por meio deles. O espectador é chamado a se portar politicamente diante de

uma dita verdade. O ato de aderência a essa visibilidade, e seu consumo,

revela-nos um ato de fé assentado sobre a articulação dos fatos proposta pelas

302
Nos termos da #interdição

imagens. Quanto mais referenciada a imagem do outro, mais a sensação de

estranhamento pode ser avivada enquanto opção estética e política, dosada

pela aceitabilidade do olhar de um público. Quanto mais poético, menos o filme

estará comprometido com a implicação de uma resposta do espectador a uma

situação descrita. Temos duas propostas diversas para formas de consumo

documental, uma delas apelando para a fruição e outra para o engajamento,

uma como mecanismo de participação passiva e outra como chamado à

participação ativa, ainda que ambas apresentem diferentes graus de

participação.

Rancière refere-se à imagem que causa esse tipo de estranhamento

como uma “imagem intolerável”, citando seu aspecto de demonstração “da

exibição da verdade do espetáculo como uma forma ainda mais intolerável de

seu reinado, pois sob a máscara da indignação, ela oferecia ao olhar dos

observadores não só a bela aparência, mas também a realidade abjeta”

(RANCIÈRE, 2012, p. 83). O autor se questiona sobre a validade estética e

política da circulação de tais imagens, se por mera curiosidade perversa ou se

por ímpeto revolucionário. Se considerarmos que a intolerância pode ser

entendida como reação à proximidade, àquilo que antes distante se torna

visível de maneira não domesticada, de alguma forma a aproximação

promovida pelo documentário pode provocar reações passionais.

O movimento de retorno na circulação dessas cenas se faz justamente

pela via do abjeto. Se uma imagem é entendida como tolerável, ela tem sua

circulação e consumo aberta pelas vias de um senso comum cultural, pautada

pelos códigos instituídos de visibilidade. Se, de outro modo, ela é considerada

intolerável, ainda assim o chamado para a aproximação em relação ao outro

303
Nos termos da #interdição

cumpre sua vocação de circular. O trajeto do grotesco se revela como o avesso

do mesmo regime de visibilidade no qual estão englobados um e outro. Ambos

são retratados a partir da mesma materialidade audiovisual, dependente de

uma adequação a um código de construção fílmica.

Devemos considerar a ação do documentário como um relevo sobre os

sujeitos que toca. Ele os insere no âmbito do visível, congelando-os

identitariamente, ao mesmo tempo em que promove seu reconhecimento e

ressignificação. O aspecto documental faz também com que personagens

concretos possam perceber sua inserção e reconhecimento social como

transformados para além da esfera fílmica.

Apontamos esse aspecto sem que, necessariamente, estejamos

estabelecendo juízos de valor em relação a ele, especialmente nos casos de

filmes em torno de identidades minoritárias. Não o fazemos, pois identificamos

uma camada a mais na qual engendrar a possibilidade de circulação fílmica,

qual seja, o lastro representacional de qualquer produção na cultura. As

identidades alçadas para o âmbito do visível não se iniciam com o ato do

documentário, mas dependem de prévios atos documentais de outra ordem. A

extensão da grande tela que abarca os sujeitos tornados visíveis em filmes é

cambiante e acompanha a marca social que se interpõe – e, como temos dito,

caracteriza – a circulação de identidades minoritárias.

Devemos apontar que certos documentários rasgam a cena de

representações estabelecidas e se colocam como um ato criativo em direção

ao novo, tendo aceitação e tolerância mais arriscada, à medida que o terreno

de sua instauração social é da mesma forma incerto: “Trata-se realmente de

afetos que embaralham as falsas evidências dos esquemas estratégicos; são

304
Nos termos da #interdição

disposições do corpo e do espírito em que o olho não sabe de antemão o que

está vendo, e o pensamento não sabe o que deve fazer com aquilo”

(RANCIÈRE, 2012, p. 101). Podemos tratar, assim, de uma circulação

afetiva da novidade documentada. Se por um lado ela representa um risco, por

outro ela resolve a aposta por reconhecimento de identidades ainda não

estabilizadas, caracterizando a circulação de filmes baseada na identificação

afetiva como detentora de uma implicação estética e política.

Nos exemplos apresentados, há uma profanação do objeto feito visível –

a morte, a arte, o corpo – por meio da sua concretização em cena. Ao mesmo

tempo, a possibilidade de que parte dele não seja reconhecível, sendo

recoberta por um tão determinado e central ímpeto de invisibilidade, faz

movimentar a dinâmica fílmica.

Entendemos, assim, que mais do que tornar visível aquilo que

comumente não chega à cena, está na base do fazer documental a tentativa de

tomada sobre um objeto fugidio à constituição cênica, que por isso mesmo nem

pode oferecer-se por completo, nem a própria cena pode sobreviver sem

obscurecer um desejo por totalidade.

Fizemos um percurso em três tempos para esse artigo: retomamos a

vocação referencial do documentário, instauramos a polêmica em relação à

tomada documental tratando da questão da captura do outro e, finalmente,

procuramos desenhar as vias de escape desta lógica da cena instituída

apresentando formas da (in)visibilidade documentada. Na medida em que a

perspectiva do documentário tradicional procura filiar-se ao registro do

verdadeiro, há uma presença forte e constante em filmes recentes para a

ficcionalização do relato, seja por meio de narrativas de busca ou

305
Nos termos da #interdição

autorreferenciais. Esse ímpeto está ligado, como o entendemos, à forma de

percorrer a distância entre um eu e um outro, não apenas em relação ao

realizador dos filmes mas também ao público, que se soma àqueles que

documentam uma certa realidade, e também aos outros que compõem

recortadamente a cena e nela se fazem.

Nesse primeiro tempo, há uma latente necessidade de recobrir a

distância entre ambos num desejo de reparação narrativa, e o documentário o

faz elevando traços de uma diferença. Não anotamos aqui se tal diferença é

considerada positiva ou negativa, mas destacamos sua condição de ser algo

de interesse para ser visto. Há sempre, dessa forma, um olhar que marca o

outro e o insere na ordem do visível. Ao mesmo tempo, como afirmamos, o

outro ganha se apresenta e se instaura a partir de sua entrada na cena. Desse

modo, há sempre um momento que aponta para a questão da invisibilidade,

inclusive e especialmente nos casos em que analisamos a título de exemplo.

Ao documentar, torna-se visível um outro de alguma forma distante, seja

espacialmente, temporalmente ou, ainda, psicologicamente. Ou seja, outrem

que não estava visível a olho nu no convívio cotidiano presentifica-se segundo

a perspectiva daquele que reporta e, ao fazê-lo, aponta também para o lugar

de sua invisibilidade. Novos atores sociais são postos em cena de modo mais

ou menos disciplinado, ou como sujeitos enquadrados em regimes de

visibilidades vigentes, ou como sujeitos em quadro que ampliam as políticas da

representação usuais.

O segundo tempo do endereçamento à invisibilidade é a apresentação

desse outro numa cena em que tal invisibilidade vem à tona, muitas vezes

tematizada como ideia central do próprio documentário. Nesse sentido, atribui-

306
Nos termos da #interdição

se a missão de fazer ver o que estava obscurecido ou que não pode ser

facilmente feito imagem, como no caso de documentários que tratam de

identidades minoritárias ou de temas socialmente ignorados. Nesses casos, a

presença do outro na cena é assumida de forma positivada, como movimento

afirmativo de inclusão. Temos, assim, um processo criativo de tradução da

questão do outro-personagem em formato de discurso audiovisual. Tal criação

apresenta um desafio que tem, de um lado, a possibilidade de evidenciar o

outro e, ao mesmo tempo, o risco de aprisioná-lo nas escolhas cênicas. Assim,

documentários são polêmicos em seus discursos e escolhas éticas, estéticas e

políticas.

Tal processo pode ser identificado tanto na construção da narração,

como da articulação imagética. Se a narração pode apontar caminhos,

ressaltando com palavras o que é visto, as imagens apelam para os olhos e

conduzem o espectador para dentro da cena. É nesse sentido que devemos

ressaltar um terceiro e último relacionamento dos documentários com a

questão da invisibilidade. A marca da presença do outro em cena é atestado de

sua ausência e, de certa forma, o contrário também é válido: a ausência do

outro em cena é seu nível de máxima presença. Ou seja, a documentação

audiovisual sobre o outro é um processo de criação narrativa e sua presença é

interferida pela associação com outros objetos em cena, que concorrem para

construí-lo ou desmontá-lo. Assim, muitas vezes ao tentar reportar o outro,

tornando-o visível, colocamo-los numa posição de invisibilidade. Ao mesmo

tempo, a latência de sua representação pode se tornar sua maior possibilidade

de inteireza, como numa cena em que um personagem não está presente, mas

seus efeitos visíveis se fazem sentir.

307
Nos termos da #interdição

Os processos de invisibilidade, portanto, são fundantes na criação

documental, tanto na aproximação com o outro por meio de temáticas

específicas, como na inserção lógica de cenas que articulam os discursos

audiovisuais: “É a voz de um corpo que transforma um acontecimento sensível

em outro, esforçando-se por nos fazer ‘ver’ o que ele viu, por nos fazer ver o

que ele nos disse” (RANCIÈRE, 2012, p. 92). Nessas duas perspectivas,

podemos dizer que a invisibilidade torna plástica e maleável a composição

cênica, sendo a principal responsável pela estruturação de uma dinâmica

fílmica aberta a diferentes modos de representação e a novas formas de

visibilidade.

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310
Nos termos da #interdição

3 – Reincidência do gênero musical durante o atestado midiático do dom (Texto


completo)

Reincidências do gênero musical durante o atestado midiático do dom31


Andrea Limberto32

Introdução
Estudamos a forma como o gênero musical manifesta-se na produção
audiovisual nacional, discutindo, por um lado, o que se pode entender por tal gênero,
suas heranças, cristalizações e deslocamentos quando reconhecemos
contemporaneamente um reforço visual do momento da performance relacionada à
música. E apontamos sua forma híbrida com outros formatos33. Por outro lado,
observamos como podemos definir, de alguma forma, um caráter nacional dessas
produções visto que o modelo da reincidência é um modelo que se apresenta
globalmente. Identificamos referências plurais coagulando localmente o que se entende
como traços de modelos genéricos.
Tomamos como hipótese central a possibilidade de definição do que é o gênero
musical hoje através de um processo que reconhecemos como de dupla
autorreferencialidade em relação ao elemento musical: num primeiro nível trata-se do
reforço da performance de um dom pessoal que aponta pela primeira vez para o ato
ritual de demonstração do dom e, num segundo nível, da reduplicação dos efeitos de sua
dádiva através do registro midiático, que aponta pela segunda vez para o mesmo ritual
de demonstração34. Desenvolveremos essa ideia dedicando-nos a estudar produções

31
Trabalho apresentado no âmbito do Seminário Temático Os gêneros no cinema brasileiro e latino-
americano: práticas, transformações, remixagens e tendências, parte da programação do XV Encontro
da Socine (Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual), realizado entre os dias 20 e 23 de
setembro de 2011, no Rio de Janeiro .
32
andrealimberto@gmail.com
33
O gênero musical identificado em produções engendradas entre meios (o cinema e a televisão), entre
tradições (os musicais hollywoodianos, o teatro e a trilha musical) e entre formatos (os reality shows, as
técnicas de transmissão ao vivo e os videoclipes) e mesmo combinado com outros gêneros (o romance,
melodrama e a comédia especialmente).
34
Baseamo-nos para adotar a conceituação de “dádiva” e “dom” em como foram desenvolvidos na área
da sociologia e da antropologia, como referenciados especialmente nas obras de Marcel Mauss e de
Claude Lèvi-Strauss.

311
Nos termos da #interdição

audiovisuais que apresentam uma estrutura envolvida na promoção de um talento ou na


descoberta de um dom, como o dom para a música, para a dança, entre outros35.
Nossa segunda hipótese, em decorrência, é a de que o gênero musical se
confunde com formatos como o dos reality shows, dos videoclipes, transforma-se com
isso e especialmente na vigência de um sistema de estrelato (com a eleição de
personagens valorizadas individualmente em público) somada à valorização da
performance musical com nomeada autoria (remetendo à forte presença de uma
associação da música com aquele que a interpreta). Entendemos, assim, que a dinâmica
de reconhecimento do dom organiza a narrativa das produções que reconhecemos hoje
como sendo do gênero musical e cria variações ou hibridismos em relação às mesmas.
Representando o que seria identificado como cinematográfico tomamos Os
Desafinados (2008), produção nacional dirigida por Walter Lima Jr. Nela, um grupo de
músicos brasileiros dirige-se a Nova Iorque para tentar o sucesso. Tais artistas-
personagens carregam uma referência indicial que se agrega ao filme, sua relação com
os músicos categorizados dentro do movimento da chamada Bossa Nova36. Como
veremos também nos outros exemplos, a questão da variação entre o que reconhecemos
como o registro da realidade e da ficcionalidade aparece e será uma questão a ser
considerada no processo de legitimação do dom.
Situado na passagem entre o que se consagrou como programa televisivo e
depois foi vertido num projeto de filme temos High School Musical – o desafio (2010).
A versão nacional (realizada depois das versões argentina e mexicana) é dirigida por
César Rodrigues e foi precedida, a partir de fevereiro do mesmo ano, pela produção
fílmica baseada numa seleção de talentos perpetrada pelo canal televisivo a cabo Disney
Channel e também exibida pelo canal de TV aberta SBT. O reality dedicado à escolha
dos talentos ficou conhecido como HSM – a seleção.
Como terceiro exemplo selecionamos um programa categorizado como reality
show (especificamente talent show), mas que, como pretendemos mostrar, herda
características do gênero musical no cinema. Ídolos é o programa adaptado a partir do

35
Podemos dizer que a tradição dos shows de talentos, destinado à apresentação de habilidades em
geral (como o emblemático show de Talentos, do SBT) dá vez a reality shows concentrados na
demonstração de talentos específicos, por exmeplo para o canto (American Idol, Ídolos, The X Factor,
Fama), para a dança (So You think tou can dance, Se ela dança, eu danço) e para a luta, com o recente
The Ultimate Fighter).
36
O filme traz referências diretas às músicas de Tom Jobim, Newton Mendonça, Pixinginha na trilha
sonora como "Desafinado", "Carinhoso", "Insensatez", "Copacabana", "Meditação", executadas dentro
da trama narrativa. Inclui também referência, com a personagem de Selton Mello, com uma câmera na
mão, ao Cinema Novo.

312
Nos termos da #interdição

formato Pop Idol britânico (primeira temporada em 2001) e depois American Idol nos
Estados Unidos (primeira temporada em 2002) e hoje encontra-se em sua décima
primeira temporada. O programa foi veiculado no Brasil durante duas temporadas pela
rede de televisão SBT (2006 e 2007) e, na seqüência, por três temporadas pela Rede
Record (2008 a 2010), gozando, em todos os casos, de suficientes índices de audiência
para manter suas reedições37.

Hibridismo do gênero musical


No gênero musical há uma naturalização fantástica do ato de cantar
especificamente, mas de dançar também, de que é geralmente acompanhado. Podemos
dizer que tradicionalmente define-se um pacto com o espectador de que a performance
acontece em situações de outro modo cotidianas. Faz-se uma pausa no tempo da
narrativa fílmica que acaba por valorizar esse momento mesmo. Ainda, a aura que
podemos dizer quase fantástica do show musical apresentado se diferencia de ter um
palco, como o teatral, que justifique o show. A câmera e o cenário marcam o espaço que
outrora estava desenhado pelo tablado como espaço de apresentação.
Assim, uma crítica pelo viés do artificialismo, da não-naturalidade seria
descabida já que um acordo de fruição é posto em parte por esse exagero de atuação. No
entanto, e ao mesmo tempo, observamos que quando o próprio canto se torna cerne do
conflito mesmo da trama e dos desafios propostos às personagens, a narrativa que se
constrói é outra e também uma nova postura do espectador é demandada.
Tal argumento nos instiga a recuperar como se dá o vínculo do gênero aqui
estudado tanto ao factual quanto ao fantástico, observando que cada vez mais pende à
necessária inclusão da aferição e acompanhamento da potencialidade daquele que canta
por vias confirmadoras atreladas à trama narrativa. Por outro lado, ainda e mais
contundente, a realidade mostra-se definitivamente marcada por uma fantasia da
representação de um dom musical.
Nesse sentido, além da característica de hibridismo entre gêneros identificamos a
mescla entre elementos apresentados como realidade em oposição aos apresentados no
âmbito do ficcional. Em relação ao gênero musical podemos dizer que sempre houve,
por distinção genérica, a presença de um ator que canta e, a partir disso, instaura-se a

37
A produção nacional sofre, em comparação com o sucesso de público das versões originais, com
índices de audiência medianos e com a tentativa de perpetrar os vencedores saídos do show no
mercado fonográfico nacional.

313
Nos termos da #interdição

questão em torno de se é ele mesmo quem canta ou se o dom (dado de realidade) é


emprestado de outro para a performance (ficcional). No entanto, o que identificamos
hoje é novamente a apresentação de um certificado dentro da trama (ficcional,
narrativizada) da existência do dom em que se apresenta (que deve ser atestadamente da
realidade). Nesse ponto, está em jogo, pela referência à realidade, a construção de uma
idolatria e com relação ao ficcional, o que nos indica como elementos fantásticos,
valorizados em relação ao objeto de idolatria.
Como forma possível de costurar os âmbitos do real e do ficcional o momento
da apresentação musical pode ser relacionada com aquele de um ritual performático
para a execução do dom. Vemos, assim, a necessidade de conceber o fantástico através
da magia do dom e sua concretude. Defendemos, como veremos a seguir, as
decorrências de argumentar em favor de uma performance do dom no seio da estrutura
social, já que entendemos que ele perpetua uma presença e uma capacidade de
articulação digna de efeitos sociais.
Por uma outra via, mas ainda considerando a presença do mágico e do fantástico
como um dos efeitos do gênero musical, podemos pensá-lo como o gênero em que a
banda sonora se imiscui com a ação direta da personagem. Não é apenas por ter
personagens que cantam e dançam que se define o musical38. A demonstração de
habilidades em si não configura o gênero. Mas poderíamos pensar que ele
tradicionalmente é identificado no estranhamento da execução de tais artes dentro do
contexto da trama e em situações em que isso seria comumente impensável.
Justamente devemos observar que as barreiras com relação aos espaços em que
se pode dar uma performance musical estão imersas num contexto em que tal ação
ganha as ruas, com performances artísticas assumindo o espaço público 39. Dessa forma,
a separação que daria vida ao musical – presença deslocada da performance – acaba-se
por deslocar-se ao menos um pouco na medida em que sua vivência na realidade se
torna mais possível. A questão passa a girar em torno, circular literalmente, sobre a
questão da aferição do dom. E a música passa, dessa forma, a ser mais do que uma
distensão narrativa na trama, informando sobre ela, mas garantindo também o pacto
com o espectador, para ser parte da virada heroica 40 das personagens.

38
Se possível incluir referência na definição do gênero
39
Citamos como exemplo a presença de flashmobs,
40
Uma heroicização primaria que pode ser atribuída a quem tem o dom e suas funções

314
Nos termos da #interdição

Assim, o gênero musical hibridiza-se e pode justamente ter sua riqueza e,


paradoxalmente, sua especificidade para ser definido como tal, quando se centra na
narrativa de atestado do dom. Essa classificação se justifica na maneira como essas
produções chegam a nós, na separação entre os meios e na expectativa de quem assiste
em relação ao formato. Podemos pensar assim o gênero musical no cinema como show
fantástico ou palco para a cena musical incluída na narrativa e retomamos a ideia de
cena que se constrói, como o factual – espetáculo veridictório do dom - ou fantástico - o
caso do dom manifesto.

2. Reincidências: a duplicação da referencia à música


Entendemos que há toda uma classe de narrativas41 que se realiza em parte na
ação de reconhecimento dom, como é o caso daquelas em que a música é temática da
própria narrativa e a organização da cena aponta para o privilegio heroico de quem
canta, oferece a fruição da música através do olhar da câmera, num espaço desenhado
filmicamente para privilegiar esse fim.
A questão do dom nos interessa neste trabalho por permitir a observação de uma
característica individual, mas que está sempre socialmente implicada. “Por isso, o
sacrifício e, por extensão, os ritos em geral, se revelam profundamente enraizados na
vida social" (MAUSS, 2005, p. 10. Tradução nossa). Assim, sua legitimação enquanto
dom depende de um endosso socialmente calcado. No caso do gênero musical esse
tempo lógico da aprovação ocorre midiaticamente segundo dois percursos.
O primeiro percurso de reconhecimento/midiatização trata da relação humana
com o dom e dádiva como proposto especialmente pelos trabalhos dos antropólogos de
Lévi-Strauss e Marcel Mauss. Ele é algo que se oferece a partir de um indivíduo ao
grupo. Ademais, o que se doa tem valor social reconhecido e depende do
reconhecimento através da sua exposição em performances, rituais. Estes são os
momentos de doação, de entrega e que muitas vezes ganha a conotação de sacrifício.
Poderíamos nos estender sobre outro aspecto do dom dizendo que ele é
essencialmente também um dado do corpo, manifesta-se com a presença ou ausência de

41
Não separamos tais narrativas genericamente, mas segundo um outro recorte, o da importância que
elas destinam à apresentação de um dom de seus personagens. Nesse sentido, qualquer dos gêneros
pode resultar numa narrativa performática do dom se houver distensão do momento em que o herói
demonstra sua habilidade (e com ela vence o desafio proposto).

315
Nos termos da #interdição

carta marca corporal42. Mas para pensar a questão do cantar, a tomada corporal do dom
não é necessariamente sexualizada na sociedade em que estudamos. Além disso,
permite uma abertura suficiente para que seja dúbia sua presença como dado biológico
dado desde o princípio. Essa é a mesma abertura que nos faz discutir a questão da
possibilidade de um talento ser treinado. Mais ainda, nos aguça a percepção para que
acontece a tomada social desse corpo em direção ao dom. Muitos relatam, por exemplo,
o ato de cantar na linhagem da possessão. “Um gestual violento, uma voz rouca, o dom
para poesia ou para a oratória são comumente entendidos como atributos dos magos”
(MAUSS, 2005: 34. Tradução nossa)
Deveremos fazer uma diferenciação entre o conceito de dom e a designação que
os programas televisivos receberam como show de talentos. O dom implica em um dado
que envolve a magia e o ritual de sua presença num ser humano. E também uma magia e
ritual de sua exposição. O talento, por sua vez, entra numa lógica baseada por princípio
na dúvida se ele existe ou não nesse mesmo ser humano. Podemos dizer que os
programas do gênero musical oscilam entre oferecer um reconhecimento ritualístico
para o dom, sua performance e buscar aferir o talento (como é o caso específico dos
reality shows).
Podemos dizer assim que parte do insucesso dos candidatos a ídolos se explica
pela classificação como talento daquilo que performatizam. Ele não está pronto e a cena
se diferencia daquele artista consagrado pela presença do dom. Outro aspecto da mesma
questão é a de até ser possível duvidar da presença do dom, por uma postura cética em
relação ao ritual em que ele se apresenta. Mas não se pode duvidar do sentido presente
na estrutura da performance desse dom, que atesta sua validade, mesmo que para
aqueles que estejam fora de seu imaginário não se processe a legitimação. “The
minimum of display which each magical act involves is display of its effect” (MAUSS,
2005, p. 75).
Devemos lembrar que o valor do dom, além de produzir um retorno
confirmador, circula. Ele não é fixo e reconhecido da mesma forma em todas as
instâncias. A partir disso a dinâmica de reconhecimento, as formas de sua classificação
e seu atestado são variadas. Isso gera formatos de narrativas diferenciados, como
veremos.

42
por exemplo, na capacidade das mulheres gerarem um filho na medida em que
possuem os órgãos necessários para isso.
316
Nos termos da #interdição

Não cabe nos estendermos sobre as possibilidades de articulação de nosso tema


com o conceito de dom visto que pretendemos fazê-lo na medida em que nos encaminha
para a dinâmica de reincidência midiática. Podemos dizer que o dom oferece um olhar
reafirmador. No caso da reedição da dinâmica do dom no ambiente midiático, seria
enganoso propor que o olhar da câmera em si a fazer esse papel. Ele segue sendo
afirmado socialmente, no ambiente do grupo e da cultura, mas seu reforço ritualístico
ocorre na construção da cena e nesse sentido envolve a presença da câmera marcando
um olhar possível, uma construção.
Assim, podemos reconhecer que o ambiente social está armado – e neste
segundo momento poderemos dizer midiatizado – para a exposição do dom. Trata-se,
então agora de uma reincidência dos elementos na cena apontando para a própria
presença da música: a maneira como a cena está organizada topologicamente e uma
certa centralidade daquele que canta ou de seu instrumento musical. Vemos a
possibilidade de passagem então de um ambiente de reconhecimento social para um
patamar de valorização midiática. A mídia como endosso do que se reconhece, no olhar
da câmera apontada.
Nesse sentido, as cenas que presenciamos nas produções audiovisuais do gênero
musical não são classificadas assim pela simples presença da música, que, como
dissemos, é um dado da materialidade de tais produções. Mas tais cenas são musicais
por estarem construídas em torno dos elementos sonoros, como objetos visuais
privilegiados. Poderemos voltar a essa hipótese mais uma vez em nossos exemplos.

3. Produções selecionadas: relatos visuais das performances


Selecionamos emblematicamente para análise produções recentes que reunissem
aspectos diferenciados e híbridos do gênero musical. No cinema apontamos Os
Desafinados (2008), na televisão, o programa Ídolos (2008 na Rede Record de
Televisão, 2006 e 2007 no SBT) e, na televisão (com o programa High School Musical
– a seleção veiculado pelo canal pago Disney Channel) e no cinema, High School
Musical - o desafio (2009).

Os Desafinados
A narrativa se organiza em torno da dedicação das personagens à música.
Quando a história se inicia já temos certeza da habilidade deles dentro do contexto da
trama, mas não o reconhecimento como profissional. Seu dom está para ser provado

317
Nos termos da #interdição

então se desloca para ganhar a América. A tentativa de profissionalização e


reconhecimento artístico é buscada fora do país.
A câmera que já reconhece os músicos é do cineasta Dico, representado por
Selton Mello. Ela tende a ser ignorada e em muitos momentos se funde com o mesmo
ponto de vista da câmera que realmente realiza o filme. Esse movimento inspira a
cumplicidade entre espectador e produtor de que o dom que se performativa é
conhecido de ambos e já reconhecido por ambos. O fato de que os atores tomam o lugar
de artistas que realmente fizeram sucesso na música brasileira possibilita a fusão.
Em Os desafinados, diferente dos musicais, não se canta e dança como exaltação
da fala ou do momento das personagens normalmente, mas se atesta o talento resultante
do grupo tocando junto com performance encadeadas no enredo fílmico.
Na cena que destacamos o músico (Rodrigo Santoro) toca em viela do Central
Park, local público e renomado destino da cidade de Nova York, apresentando seu
talento musical à até então estranha (Cláudia Abreu). Ela também é música, toca flauta e
assim dá-se o encontro musical filmado pelo produtor (Selton Melo). A câmera que
filma dentro do filme marca a circularidade do espaço construído para o encontro
musical. Ela desenha o olhar do público em volta, como se estivesse presente e
posicionado como numa arena. A câmera é uma reportando para os olhares de mil. A
fundo, atravessando o túnel, podemos ver uma pessoa que não está referenciada na
trama. É um índice de que a cena acontece num espaço público e até mesmo de que o
encontro poderia ser corriqueiro, como se passássemos por músicos tocando na rua a
troco de dinheiro.
A câmera começa por filmar o casal tocando e depois se concentra em filmar as
árvores do parque em movimentos circulares. Nesse momento não vemos mais a câmera
implicada no filme, o que ela mostra é o mesmo que a câmera apontada pelo cineasta.
Apaga-se por um instante a lembrança de que estamos dentro de um filme.

Figuras 1 e 2: os desafinados no Central Park

318
Nos termos da #interdição

O atestado no caso de Os desafinados também ocorre fora do enredo do filme, já


que alguns dos integrantes do elenco formaram uma banda de mesmo nome e saíram em
turnê. Dessa forma, reforça-se a habilidade real daqueles que participaram do filme para
a música. A existência da banda reafirma o dom (que nesse caso seria dos atores e não
das personagens) para a música 43.

High School Musical – o Desafio (HSM)


A história do filme começa antes, na seleção das personagens, que teve a
participação do público. Deveriam ter dom para dança e para o canto e também
corresponder a um perfil associável ao modelo do High School Musical americano. O
endereçamento nesse caso ao gênero musical mais tradicional, pela característica da
presença indicial dos videoclipes musicais destacados do enredo fílmico.
Como em Os Desafinados há um movimento para atestar o dom dos atores para
a performance de canto, nesse caso levando à realização de um concurso para aferir e
apontar tal fato. Há uma replicação, um concurso feito para a escolha dos atores e um
concurso dentro da trama do filme para selecionar ganhadores dentro do colégio em
questão.
Assim, durante o filme há um processo de construção dos cantores, do treino de
seu talento para o canto. Assim, o momento lógico da mostração do dom é distante de
daquele de reconhecimento, reservado para o final da jornada. O público compartilha a
fruição da música e o momento de desvelar um herói esperado chega como segredo
intimamente sabido para o gozo de sua revelação pública.
Na cena destacada, parte do clipe “Um novo ano começou”, estudantes saem de
suas casas para ir ao colégio. Ela é encenada de maneira a mostrar o encontro dos
estudantes se avolumando nas ruas até o destino. O casal protagonista, cada um saindo
de sua respectiva casa é que inicia a jornada e a passagem do momento da fala para o
início do canto.

43
O ator Rodrigo Santoro não fez parte da banda, em compensação teve aulas de piano como forma de
preparo para o personagem. Nos comentários de usuários do site IMDb
(http://www.imdb.com/title/tt0456122/reviews) encontramos que as mãos de aranha do ator nunca
poderiam pertencer a um pianista. Entendemos que esse dito, como recusa popular a atestar o dom,
reforça por um lado a ideia de que o dom implica uma marca corporal e, mais, que seu atestado
midiático hoje cobra o estatuto veridictório baseado num certo realismo mais do que a fantasia possível.
Sendo que o fantástico seria situado em outra perspectiva crítica. Vale ressaltar que a atriz Cláudia
Abreu contou com a dublagem de voz para os momentos de canto, feita pela cantora Branca Lima.

319
Nos termos da #interdição

As tomadas aqui são feitas com mais cortes, mostrando ora o protagonista
masculino, ora a protagonista feminina e seus seguidores. A circularidade que
observamos, nesse caso, está no tour que as personagens performatizam enquanto
cantam.

Figuras 3 e 4: clipe da música Um novo ano começou

Ídolos
No programa Ídolos, especialmente nas temporadas veiculadas pela Rede
Record, identificamos uma concentração no momento em que se dá a descoberta ou não
de um possível dom. A narrativa geralmente começa com uma apresentação da
personagem, candidato a ídolo, em seguida sua entrada na sala de audição e então o
momento mais distendido (geralmente com menos cortes e em que a narrativa é
articulada pela música).
O cenário do programa é aquele que mais propicia a visualização do
posicionamento de centralidade em relação a quem irá manifestar o dom. Em
contraponto ao círculo temos o alinhamento de uma bancada de jurados. Eles
incorporam a posição de quem irá atestar e legitimar o dom.
No caso do exemplo selecionado, a audição de Fernando Barros, destacamos
como elemento local o sotaque do candidato e a escolha do repertório, o fato de cantar
uma música da banda Jota Quest. É incluído um efeito visual ao entorno do candidato
no momento em que de olhos fechados se prepara para cantar. Esse é o momento da
magia, o exato instante em que aguardamos sua manifestação. No caso, ela é frustrada,
pois a espera é ainda retardada e o momento de sua satisfação não é completa.

320
Nos termos da #interdição

Figuras 5 e 6: audição de Fernando Barros.

4. Conclusões pelas dualidades


Podemos pontuar a presença de uma certa circularidade impressa ao cenário e ao
movimento de câmera. No cenário ela é verificada na centralização de quem canta. A
câmera então se move considerando desenhar tal posicionamento para a execução ritual
da canção. Há a presença de tomadas mais contínuas, evitando o corte que faz pontuar,
concluir a frase e ter um olhar analítico. A perspectiva que se cria é de fruição da magia.
Tal circularidade é relevante na medida em que favorece a perspectiva de marcar
a presença no vídeo de elementos que nos apontam para a ideia da reincidência do
atestado do dom. Somos inseridos num ambiente de representação em que câmeras, fios
e todo o aparato que agora podemos dizer ritualístico para a demonstração é também
exibido. Ele faz parte da cena. Reforçamos aqui que o dom é uma característica
manifestada em humanos, portanto o enquadramento feito é primordialmente sobre
figuras humanas e essas, sim, enquadradas pelos objetos que apontam para a
reincidência do dom.
Estamos trabalhando nos limites entre o gênero musical no cinema e os reality
shows dedicados à música. Podemos dizer que eles se tocam no encantamento sobre a
figura heroicizada de quem canta. Essa heroicização passa pela pulverização de
conteúdos na internet e o tempo/momento da exibição. Todos os programas tiveram
grande apropriação e circulação dos materiais em outros meios, isso podemos contar

321
Nos termos da #interdição

como interferência na característica genérica. Podemos pensar o profissionalismo e


talento não reconhecido/ não-lapidado ainda na ordem da temática das narrativas.
Diante desses modelos temos a definição de um herói que é para uma população
localizada, o nome dos programas indicam, por exemplo, o ídolo do Brasil. Estamos
lidando com a ideia do que é estrangeiro e o nacional, imaginário global e local. Os
comentários dos jurados apontam para o critério do que é desejável num ídolo, alguns
respondem a padrões locais e outros a padrões globais 44. Quando a narrativa se duplica
para mostrar o talento musical recorta imaginários locais. O sucesso de um padrão
(global) e seu pretenso desvirtuamento (local).
Apontamos, ainda, nesse processo a vivência reality e a vivência ficcional que se
apresenta, junto com o atestado do dom, uma referência importante para endossar o
próprio dom e a personagem mágica que a possui. Vale ressaltar que a maior parte dos
programas adota uma idade máxima para que se participe da audição. Assim, a narrativa
pode se dar com alguém que tem algo de caráter praticamente inato. “Para a verificação
dos dons, sua reduplicação frequentemente resultante da gama limitada de objetos
apropriados a servir de presente, estas trocas assumem também a forma de uma vasta e
coletiva destruição de riquezas.” (LÉ I-STRAUSS, 2002, p. 66. Tradução nossa.)
Em relação à duplicação do relato apontando para a música, o gênero torna-se
híbrido no momento em que organiza na narrativa maneiras de apontar para a utilização
da música na forma da narrativa mesma. “Dentre os aspectos estruturais que serviram de
ponto de partida para as experiências as questões relativas ao pulso e ao ritmo ocuparam
uma posição de destaque. A partir de uma música pré-estabelecida, os pesquisadores
passaram a executar a montagem de planos e sequencias de acordo com a estrutura
temporal da música. Sincronizando os cortes segundo o pulso e as figuras rítmicas da
música, procuravam chegar a um resultado onde o ritmo pudesse ser visualizado, em
simultaneidade com a percepção auditiva”.
De alguma forma o formato musical no encontro com a televisão decai e
hibridiza-se com gêneros televisivos. O gozar a música como parte do enredo fílmico
associa-se a elementos como: a surpresa pela revelação de um talento, a narrativização
da construção de um talento. A separação entre público, sem dom musical, e artistas,
dotados, ganha uma nuance, apresenta-se um grupo que é capaz de ascender ao
estrelato. Podemos comentar paralelamente a lógica de funcionamento e a possibilidade

44
É interessante a observação dos perfis de candidatos a ídolos, o que trazem da valorização de sua
cultura local e como se apresentam indicando elementos de aceitação mais globalizada.

322
Nos termos da #interdição

de ingresso num certo star system (estrelato). “Sugeri que a maior parte dos gêneros
hollywoodianos começam como um adensado semântico e só alcançam o status de
gênero quando elementos semânticos característicos compõem-se numa sintaxe estável”
(ALTMAN, 1987, p. 117. Tradução nossa.)
Instaura-se nas instâncias da narrativa e fora dela um embate entre o sucesso e a
perpetuação de um padrão clássico do gênero musical, muito calcado nas produções
hollywoodianas, e seu desvirtuamento, ou podemos dizer simplesmente encontro, com
novas formas de transbordar a música na produção audiovisual. Propomos, assim, uma
atenção especial à narrativa do dom como organizadora da encenação. Refazendo e
sobrepondo os mesmos dois percursos que propusemos, temos em princípio a relação
humana entre dom e dádiva e, depois, o indivíduo situado na ordem do reconhecimento
que se realiza na situação encenada de sua legitimação.
Assim entendemos o atestado midiático do dom: o indivíduo situado na ordem
do reconhecimento que se realiza na situação encenada de sua legitimação. A presença
mágica visualizada nas personagens ou candidatos a ídolos. Hoje o que temos não é o
simples reconhecimento do dom como canto inserido na narrativa fílmica, reduplicando
para a própria narrativa, intensificando-a, mas reduplica para a fruição da história das
próprias personagens artistas ou pretensos artistas, sua individualidade, a possibilidade
de ter um talento igual ao da personagem, identificar-se. Isso marca uma hibridização
do gênero.
A música, mais do que fazer parte da estrutura da narrativa tona-se também seu
alvo. A música se apresenta como pontuação dramática desde a tradição do teatro
musicado, das óperas ao cinema dos musicais. O coro nos cantos das peças gregas, a
música valida um “choro”, um chamado, que caracteriza personagens.

Referências Bibliográficas
ALTMAN, Rick. The american film musical. Bloomington: Indiana University Press,
1987.
CARRASCO, Claudiney. Trilha musical: música e articulação fílmica. 1993.
Dissertação (Mestrado) – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo,
São Paulo.
GABLER, Neal. Vida, o filme; como o entretenimento conquistou a realidade. São
Paulo: Companhia das Letras.1999.

323
Nos termos da #interdição

SINCLAIR, John. Latin American television: A global view. Oxford: Oxford University
Press, 1999.
MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: EPU/Edusp, 1974.
Lévi-Strauss, C. As estruturas elementares do parentesco, 3ª. Edição, Petrópolis: Vozes,
1982./ Lévi-Strauss, C. Les structures élémentaires de la parente. Berlin; New York:
Mouton de Gruyter, 2002.
MARTINS, Paulo Henrique. De Lévi-Strauss a M.A.U.S.S. (Movimento AntiUtilitarista
nas Ciências Sociais): Itinerários do Dom. Disponível em:
http://www.jornaldomauss.org/jornal/extra/2007_11_28_18_31_53_de_lvi_strauss_a_m
auss.pdf
JOST, François. Seis Lições Sobre Televisão. Porto Alegre: Sulina, 2004.
MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2001
BLANCHARD, Gerard. Images de la musique de cinema - Paris Edilig - 1983

324
Nos termos da #interdição

4 - Linguistic taboos and the circulation of controversial content on social media


networks (Texto completo)

Linguistic taboos and the circulation of controversial content on social media


networks

Andrea Limberto45

The present work intends a debate within the field of language practices nurtured
by the idea of the existence of taboo over words (FOUCAULT, 1996). We identify the
restrictions over discourses in the specific ways it presents itself in social media
networks, which is mostly characterized by the possibility of free expression. We base
ourselves in the idea that it is not possible to have a media environment free from
constriction to the exercise of language.
The central foucaultian argument in The discouse of language when referring to
language procedures of exclusion, first repeats the movement of entering the language
trough cut and selection – establishing a symbolic order – and the author points out the
fact that the effects of such procedures are relevant and evident.

In a society like ours we recognize, for sure, procedures of exclusion. The


most relevant of them, and the most familiar too, is interdiction. We well
know that nobody has the right of saying everything, that it is not possible to
say everything in any circumstance, that anyone cannot speak about anything.
Taboo on the object, circumstance ritual, privileged right or exclusive of the
speaker: there we have a game of three kinds of interdictions that trespass
reinforce or compensate for each other resulting in a complex framework that
does not cease to change (FOUCAULT, 1996: 9. Our translation).

Starting from such theoretical background and based on a discursive perspective


of culture we understand that social media network interfaces cannot escape such
relationships of ordering and conformity. Our objective here in the present work is to
draw which those procedures would be when it comes to the social media, focusing on

45
Doctor in communication and postdoctoral researcher at the School of Communication and Arts, University of São
Paulo, Brazil (Fapesp fellowship).

325
Nos termos da #interdição

the seeming paradox of thinking restricted circulation of enunciations and the language
practice within a media marked by the emblem of freedom of expression and
communication democratization.
Our hypothesis, which is also suitable for pointing out a way to unfold such
paradox, is that the dynamics related to the shadowing of contents can never be total.
They always have a visible aspect. Regarding the dynamics of presuppositions and
implications, conceptualized by O. Ducrot (1972, 1987) such visible aspect is related to
the rhetoric element. Otherwise, in terms of a Freudian theory of psychological drive,
such aspect is represented by language slip.
The publicized form of the word establishes a sense relationship with the
possible content destined to be and which are taken from the realm of meaning. We
cannot say that the resulting enunciation is a form devious from the original for not
admitting the precise existence of such original. Just like in a metaphoric process, the
resulting metaphor cannot be a replacement of an original term, but is inscribed in the
enunciation as a new term as a juxtaposition of two other.

To most of the adherents of Stylistics, the expression “deviation” indicated a


phenomenon of discourse rules and models breaking. Thus they oppose a
marked manifestation, tropic or figurative, produced by the deviation to a
non-marked discourse manifestation, literal or “appropriate”. The deviated
proposition is the one to land the typically artistic enunciation. (LOPES,
1986: 7. Our translation).

The action of replacement is done, therefore, in face of a term considered to be


improper (in contrast to a proper term applied) instead of the necessity of fidelity to the
original. The birth of an enunciation depends on a process involving: a dynamic of
exposure (1) whose contents point to meanings present in the language (2) according to
a proper way (3).
In that sense, we retrace the theoretical approaches quoted above in order to
make explicit a certain perspective on new media. There is an expectation in relation to
the mediatic spaces of publishing online, that they can be free from the constraint over
what is said, being a democratic outcome par excellence. The new media indicate a
pulverization of the image of the authors and, at once, of the interfaces for publishing.
And it has been true to an extent that may be felt as total as for the quantity or the type

326
Nos termos da #interdição

of contents published. Pierre Lévy recognizes such expanding and connection


possibilities for different audiences and different places.

Privileging local abilities, organization of complementarity among resources


and projects, knowledge and experience exchange, mutual aid networks,
broader participation in political decisions, planetary opening for many forms
of specialties and partnerships, etc. (LÉVY, 1999: 185/186. Our translation).

We reinforce, then, the idea of a train of thought which is able to identify clarity
and exposure in contents posted on the web. The same authors, from different
perspectives on the network society, are able to ponder on the limits for those
possibilities of embracing controversial content and differences (LÉVY, 1999;
LANDOW, 1992; CASTELLS, 1999).
Thus, the debate on the possibilities of control of the same contents online is
present. In face of a media that could be considered of an invasive exposure, where
would the duplicities in meaning and the shadowing of discourses be? So we establish
our central matter: how are the circuits of interdiction conformed in the new media,
specifically in social media networks?
News reports constantly bring cases of government curtailment over content
posted online, being more evidently emphasized now the performance of the Chinese
government and the manifestations for freedom of expression in Turkey. At the same
time there is the possibility of blocking content trough the establishing of passwords.
And so the work of spying is done by breaking the digital barriers proposed in the code.
Such diverse scenarios show us something regarding interdiction and content online.
Our hypothesis is that every published content is related to the possibility of exposure
and that the restriction of access that may be imposed is still somehow related to the
obliterated original content. At the same time, because they are propositions in the
language and respect a specific communicative code they are able to retrace the way to
other layers of the same contents.
In other words, once the contents are directly published from the authors to
interfaces with global visualization potential, the possibility of practicing coercion
procedures is due to the individual authors and not as part of the language dynamics
itself. So we argue that any posted content reveals a devious articulation in language.
We do not have access to the original post, which we cannot retrace within some

327
Nos termos da #interdição

idealization of the author and nor on the initial spot making the begging of the chain of
content repetitions and sharing.
On the way to researching on process of explicitation and implicitation on the
web, Landow proposes a difference between the written text, in which one can articulate
an implicit articulation and the text on the web, in which the articulation can be explicit.

The hypertext, mostly a intertextual system, presents the ability to emphasize


the intertextuality that lacks to the bound text. As we have seen, academic
articles and book offer an obvious example of explicit hipertextuality within
an electronic media. On the opposite, any literary work, as those taught in the
universities and that I will arbitrarily name “noble” as to simplify and shorten
the discussion, offers an example fo implicit hypertext in an electronic media
(LANDOW, 2006: 20. Our translation).

Such explicitation of the possibility of linkage has been considered one of the
main characteristics of the hypertext. And the fact that the link is emphasized and can be
taken as a central aspect in the presentation of the text production enables the
connection of a variety of texts at the same spot on the network. At the same time, we
point out that it is the same mechanism of connection that starts the layering of contents
and enables the distension of the presentation.

No doubt that these empty pages, this endless movement of the doors that
open to other doors, crossroads that get to other crossroads, may be
understood as a characteristic quite usual to the WWW and it is also the
explanation to a feeling of frustration and anxiety common to navigators. We
are living in the global network what we had known a lot from other
experiences: the experience of the node (LEÃO, 1999: 29. Our translation).

That is how we notice that the new media are a field ever connected to the issue
of freedom of expression, of democratization of access to contents and of possibility of
publishing by anyone freely. Extending such ambition, we could say that a relationship
is established as if there was access, equally, to all kinds of content, without the
prospect of repression, accessed individually and privately, in environments offering a
meeting with the truth.
But with the same power we can say that such space is also marked, as a result
of the very same possibilities inscribed in it, the shattering of information, the disbelief

328
Nos termos da #interdição

over published content, by the organization of contents in layers causing a concealing


and spreading effect. Thus, we have to associate the idea of restriction to those of
contents in an environment understood to be one of freedom. Such is the virtual paradox
we are addressing.
The first idea that comes to mind when we inform to be working on the
injunction of taboo subjects and new media is the reinforcement of the argument of
content exposure. Prohibited contents would not be suitable for the net for the act of its
insertion is incompatible with its characteristic. It is then necessary to separate the
different kinds of deviated contents in relation to the normality of the expectation of
exposure.
We have stated before that every content is deviated in principle in the sense that
it emerges from a series of possible meanings engaging it to the symbolic order. At the
same time, it is possible to perpetrate a process of double bound in such moment of
emergence: contents come to surface but then they get marked as incomplete. They have
the perspective of an implicitation, of a metaphor, of a secret. So it relates to the
expected meaning and frustrates them as it brings a third element to the equation of
sense making.
What is to be said about the dynamics of emergence of such kind of content is
that they are virtually present even if in a deviated way in relation to what was expected.
It is inscribed. Another level of content is the one unsaid, considered taboo, but that
even so can establish social circulation in a very explicit way through the effects noted
on the social tissue and presented on the discursive surface. Of course we should say
that we only have access to it sinuously. When we believe to be in front of it we are
truly facing something else. We cannot conceive the existence of pure interdict. It is
exactly impure as constituted in language.
That implies to the debate we are rising that the network, understood as a place
for explicitness and superficiality is still able to include such dimension of the interdict.
Once the outlines of taboo content are exposed, the content itself reinforces its own
circulation. We can go even further as to say that the broadening of the possibilities of
content circulation and publishing in the new media allows the reinforcement of a
perverted dynamic of the circulation of the same content. Foucault is obviously not
referring to our specific object of study, but we consider his remark to be useful here.
“There is, without a doubt, an improvement in efficacy and extension of the realm under

329
Nos termos da #interdição

control, but also a sensualization of power in benefit of pleasure” (FOUCAULT, 1999:


45. Our translation).
We consider that the opposition between superficiality and profundity is one of
the most recurrent when we deal with the communication practices on the web,
considering its network structure. The establishment of connections creates layers and
levels. In opposition to that we would have the superficiality of the pages.
The analogy frequently used to express the imaginary of such duality is the one
of the deep web in opposition to the surface web. Easily accessible content would be at
the surface, while great part of the internet content would be excluded from such
circulation. What sets them apart is the possible indexation.
Our goal is to the trace a parallel between the imaginary of the existence of
profundity in the web and that of the interdicted content possibly stored in a type of
network basement. Our hypothesis is that, in fact, the structure of the web does not
favor profundity and neither its counterpart in superficiality. Interdicted content is not
consigned to a hidden and unaccessible realm of saying. It also not represented trough a
enunciation model intended to make it explicit.
We believe that there is a rich intersection today between both ideas – network
and interdicted content. They are to be faced when studying the circulation of
interdicted content in social networks46. If we consider a logic of profundity, the
circumscription between two realms – hiding of interdicted terms and network
profundity – is bound to result in one of the following arguments, that we understand as
weak or incomplete:
- The combination between both realms is none, since we are not able to trace the
circulation of socially interdicted contents in a network space that privileges
visibility.
- Interdicted contents are restricted to the deep web and so its circulation is
restricted and fragmented trough individual access

We are considering the emergence of taboo content represented in the form of


linguistic taboos, constraining discourses. Thus the publications in social media
networks are the deviated form in relation to what originally drove their emergence as

46
Object of our current postdoctoral research entitled “In terms of the #interdict: signifier network
among forbidden words”, funded by São Paulo Research Foundation (Fapesp) and developed at the
School of Communication and Arts of the University of São Paulo.

330
Nos termos da #interdição

enunciation. The hidden term cannot be considered as being the interdicted term itself.
We do not have logical access to the original term if not by relationship to the term
used. That is why we argue that the web is a superficial and interconnected network in
which one term is meaningfully related to the other. We add that the second term in
relation does not solve the equation for the interdict, it merely drags on another term
inscribed in language.
We can also state otherwise, that certain terms more strongly carry the sign of
interdiction. Such mark interferes in the sense of guiding its emergence and circulation
on the web.
As a title of example we can refer to the circulation of the word “lover” (in
portuguese: “amante”) in two different types of resources: in theater plays undergoing
censorship and in posts found in social networks, especially Facebook and Twitter. The
word “lover” was recognized in many of the research work made by the Observatory for
Communication, Freedom of Expression and Censorship 47 as being one of the
numerically most censored term during the period involving the Miroel Silveira Files 48.
What was implied in such term and was cut most of the times was the reference to a
woman in the condition of “lover”, stressing the feminine gender. She would “give
herself to another man” (DDP0064, Sangue de cigano/ gipsy blood) or “two lover has
his wife” (DDP0223 Bonifácio entra prá liga/ Bonifacio joins the team). e observe,
however, that the posts made in the social networks show individual woman naming
their “lovers”. From Caroline Bezerra: “Loving my favorite cuckold <33 Now in my
twitter, but see i met him first and got him first 2Bjs #Lover” 49 and from Gaaby
Camargo, “still think its pretty to be a #lover – ! facebook.com/photo.php?fbid.... poor
#sheila :/”50.

47
See A escritura do censor: um estudo da interdição em peças teatrais (The writing of the censor: a
study of interdiction in theater playwrights), by Mayra Rodrigues Gomes; Heranças intelectuais – O
Arquivo Miroel Silveira (Intelectual heritage – The Miroel Silveira Files), by Maria Cristina Castilho Costa;
Arquivo Miroel Silveira: uma leitura dos processos de censura prévia ao teatro sob o prisma do
gerenciamento de informações (The Miroel Silveira Files: an approach to censorship processes according
to information management theories, by Maria Aparecida Laet.
48
The Miroel Silveira Files is an archive of theater playwrights undergoing censorship in the state of São
Paulo, Brazil since the 20’s until the 60’s. It gathers the original playwrights and paper work including the
prescription of cuts over texts.
49
“Amando meu Chifrudo favorito <33 Agora no meu twitter , só que é assim conheci primeiro e catei
primeiro 2Bjs #Amante”
50
“ainda acha bonito ser #amante – ! facebook.com/photo.php?fbid.... coitada da #sheila
:/”
331
Nos termos da #interdição

We identify, on the first case, the interdiction of the word by action of a censor
and, on the second, the content circulation identified with the signature of the author.
There was between both cases a shift in the meaning of the word considered: at first
there is the interdiction of the condition of a woman who is a lover for someone or who
has a lover; on the other, valorization of a sexually active woman searching for
satisfaction.
On the surface of the network marks and signs what we see is linguistic taboos
emerging from prohibitions socially controversial.

“That is exactly why it is bound to the changes in general, but also to the
non-linguistic causes for changes which stop lexicology from being
established on the basis of complete autonomy, amongst other effects: the
emergence of new natural or cultural objects in the realm of designation, the
trust put in emblematic beliefs, the reinforcement or dissolution of linguistic
taboos, the political and cultural domination by a linguistic community,
social group or cultural environment. All of these causes make language
subsumed to the social forces which efficiency point to the non-systematic
nature of the system, at least in the dimension of word semantics chosen by
our authors” (RICOEUR, 2005: 197/198. Our translation).

Network environment is certainly the emergence of contents but it not free from
discursive constraint, as we argue. At his point we intend to observe the circulation of
interdicted content exposed in the form of linguistic taboos. Within the network
environment a specific kind of linguist taboo is revealed on the limit of public and
private realms, between the interconnection of the network and the authorial
publication: the one which morally informs the subjects.
In such process there is the revelation of socially constrained labeled terms.
Indexation ends up reinforcing the taboo nature (a dynamic recognized by many social
scientists). It also allows an intermediary enjoyment from the fact of its emission,
circulation and public empowerment. This last stage of the circulation of taboo content
is what we consider to be the most specific of digital media, such is the incensement in
the means for content circulation contributing to a public release of certain expressions
related to situational taboos (transiting from public to private realms).

332
Nos termos da #interdição

We mostly refer to the extension of pleasure that one can get from the perverted
procedure of interdiction. “The pleasure exhaling from the constraining power as it
retains the pleasure juts revealed” (FOUCAULT, 1999: 45. Our translation).
Once again Foucault was not referring to the new media, but we have reason to
believe that the process of discourse dissemination is included in the framework we
describe. That is verifiable in two ways: the discourse over which an act of interdiction
is performed manages to follow a path of his own and at the same time its circulation is
spread out. In that sense we take Foucault’s words.

Possible objection: there would be a mistake recognizing in such


proliferation of discourses a phenomenon merely numeric,
simply an act of addition, as if what is said in them did not
matter, as the fact of referring to the subject was somehow more
important than the imperatives in saying (FOUCAULT, 1999: 37.
Our translation).

Still dragging such quotation out of its context as to ponder on the possibility of
circulation in new media, such discourse dissemination happens in specific ways we
intend to point out:

(1) In writing: the publications in social networks are done in writing and that
means having to dialogue with textual tradition formats as much as with
being inscribed and recorded, besides the possibility of reproduction of the
same contents. The circulation of interdicted contents on the web is made in
the dialogue with a textual tradition that adds new orthographic and semantic
ways to insertion (the appropriation of symbols such as #, @, the
abbreviation of expressions and the presence of foreign words). In regard to
the inscribed word, a specific time and memory is evoked. At last, the social
network offer engines of replication making such procedure one of the most
relevant characteristics in the usage of its resources. That implies the written
reproduction of contents in a constant and shattered way.
(2) Authorship: the publication in social media networks is organized as to focus
a webpage, and individual or institutional author (in the name of an
enterprise or organization). In both cases we observe that the author sign

333
Nos termos da #interdição

inform the published contents. It is also in the name of a personal webpage


that they start their journey.
(3) Rebuilding: posts are rebuilt within the context of the pages of other authors
which are not the original publisher. It is presented with the sings of such
journey: information on sharing, direct references to the original author,
amongst others. More appropriate contents can also bring other elements that
enable the process of rebuilding. It can add new paths to meaning, as all form
of textual appropriation usually do as they point inwards (commentating on
the published excerpt) or outwards (references to other websites, images).
(4) Layered contents: Contents built into layers reciprocally associated and
making sense altogether. Contents can be unfolded according to different
levels of information presented in a fragmented way.

The characteristics that we describe applied to the text structure on the web and
in social media networks specifically allow us to say that interdiction in such spaces is
found in the repetition of such diffusion and spreading of content. The same
characteristics have previously been pointed out by many renowned authors in the study
of the digital media, such as P. Lévy, G. Landow, M. Castells. Nevertheless, we are to
recover them especially to analyze the interdiction condition in an environment of
pretense freedom of expression. So we argue that interdicted content is not hidden but
otherwise intertwined in the tissue that enables network spreading. We understand that
in regard to:
(1) Writing: the increase in the number of texts does not eliminate the
possibility of interdiction. Despite what is published we trace back the
relationship to find the term that was actually announced, that was
considered relevant and worth publishing. That is observed even if these
criteria of relevance are part of the authorial guidelines. Thus meaning that it
is a relevant and remarkable fact in the private-public narrative.
(2) Authorship works as a content legitimacy realm. Procedures of
interdiction range from content selection in the space destined to a person or
institution.
(3) Text reconstruction includes procedures of cuts and replacement.

334
Nos termos da #interdição

(4) The layered structure of texts does not work for hiding contents
possibly due to interdiction, but rather there is a dynamic of suspense and
revelation of contents basing the possibility of making sense.

Our goal with the present research is then to identify how procedures of
interdiction, more than help hide contents, establish the very dynamic of publication and
circulation of contents itself in networks. The tendency of imagining the internet
divided into two realms, one visible and accessible and the other, hidden and restricted
find resistance in the organization of the the media procedures for publication. Even if
we are able to recognize that there are restricted access contents, those protected by
passwords and online security systems, they are not the interdicted content we are
referring to. Interdiction in social media network, as we understand it, is related ot the
deviated publishing of contents. They are kept publically accessible, but are conformed
for publication and suited for circulation.
Even if companies and governmental organizations may establish keywords for
controlling the material published and searches made on the web, we are interested in
following the circulation of those contents that escape those limits. In a perveted way
they arise on the web. We use as example the obstruction that could be poded to the
circulation of the word “sex” and the option for the use of the form “seks”. According to
information from the website hashtag.com, on a given Friday, “#seks” was appointed as
one of the top increasing indexations. We argue that the path to follow interdicted
content on the web is that of searching for their deviated forms. The make reference
another unsaid form and most surely interdicted. The word then carries the sign of
interdiction, but the realm of its possible meanings has to accept a signifier variation.
The deviated form of the word is the able to find a way to circulation. But it also
performs what we recognize as a detour, the signifier transformed form of the word has
to find its linguistic affiliation in order to circulate. If its is indexed with hashtag it tires
to enter a path which is the same of exposure, of visibility and then, again, of the
possibility of interdiction itself.
We then establish a direct relationship between the path to interdiction and that
of visibility when regarding terms entering circulation as taboo. So it is not an specific
word we should be focusing on tracking to find procedures of interdiction, but the
processes of variation of indexed words as they inform us on the take over the contents
appointed.

335
Nos termos da #interdição

Another hypothesis to follow interdicted contents published in social media


networks is searching for words indexed as forbidden. That is, those which explicitly
announce the sign of interdiction or taboo. We have noticed that in those cases, not
necessarily there is a direct relationship with the presentation of a taboo content, but
rather the establishing of a pact with the reader in the sense of grabbing the attention to
what is being said.
So we cannot attribute as a sign of interdiction the explicitation of the
prohibition as a entrance for circulation. It is rather the verifying of the words that
brings a truncated or deviated, as we have adopted, relationship between terms. The
publishe term in itself does cannot hold the sign of interdiction, which is in fact found in
the misleading of its relationship with the other in language that could fill the same spot.
We argue that the social networks, being a space for content publication they
end up reinforcing the existing procedures for the publishing of a word in action. During
such action, the publishing is the very action in first place, that is, before a previous
social judgment. So there is a bigger possibility of facing the creation close to taboo
subjects.
At the same time, some could refer to a process of self-censorship that is
installed without the need for previous censorship by others. In the perspective we have
been working on, to think about censorship is in the same realm of meaning of blocking
the publishing of a expression in its most obscene form. The ways of a term-to-be can
be altered by a moral determination on how it should be. But nevertheless such decision
is also related to the expectation for action incited by the enunciation. So self-
censorship is related ways to social engagement and at the same time restriction to free
expression.
What matters to us is that neither the process of interdiction can be directly
associated to the presence of content in a deep network nor self-censorship represents
the basement of contents that could be said but are otherwise locked up. We understand
the procedure of interdiction in the same level than those of psychological repression,
dealing with the realm of things unsaid. We then assume at the same time that there is a
share of energy for deviation, publication and liberation.
Processes of interdiction in social media networks have a fragmented origin,
coming from a variety of publication actors that are individually co-opted. In the
assumption of their characters as authors there is part of the sense that can be made over
the contents published. It also interferes with the process of indexation over the same

336
Nos termos da #interdição

contents. We should then strongly recognize authorship as part of the interdiction


process.
The second level of processes of interdiction regards the circulation of terms
connected trough meaning or by thematic proximity. The author is in the position of
sharing or isolating contents. If he chooses to associate his publishing with other
existing ones he adds to it in visibility. On the other hand, the option for creating a more
experimental poetic articulation may isolate the content under the sign of the new and
taboo.
We enroll a third instance in the process of interdiction, related to the
construction over the signifier form of the word. Since it is possible to associate a
publication and its contents to existing references, the possibility of fixing a new term in
the dynamic of circulation represents a symbolic challenge. Such challenge is very well
exemplified each time a company tries to establish a hashtag mark for itself in an
advertisement campaign. The ambition is to associate desirable contents to the
company’s name, even if not using it’s name directly. A good example is the campaign
#roundupyourmates of the beverage Guiness, considered poor and inefficient. It resulted
in the additional hashtag #roundupyouragency in ironic reference to the marketing job.
As means to conclusion we intend to deal with the possibility of relating the
ways to content interdiction and the liberation of other which have a feel of obscenity.
As we present the subject we intend to reinforce not the only the perspective of control
and manipulation happening on the web, but the ways by which a given term condenses
power relationships. By studying the dynamics of sense construction in language, we
are less interested in pointing out the actors of control than to understand how their
initiatives are given in the possibilities of the media.
We believe that to be a relevant perspective as we refer to the lack of studies on
censorship or interdiction in general which expose a logic of the incidence in specific
cases. Each event has to be individually analyzed as a result of a very particular clash of
forces present in culture.
However, there is a polemic conjunction that we were able to point out
regarding authorship, the meaning of words and the signifier form of those terms
circulating under the sign of taboo. Some of such entrances is privileged for a polemic
enouncing. We argue that in the new media they are strengthened and thus may be
material for analysis on how interdicted content circulate. We look at a fragmented and
self-oriented authorship, publications able to generate comments and sharing also

337
Nos termos da #interdição

entering lists for the most trended topics. We also look at the circulation of individual
posts and those less evidenced made from the repetition of elements intertextually in the
form of referential links.

References
CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. A Era da Informação: Economia, Sociedade e
Cultura. Volume I. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
DUCROT, O. Dizer e não dizer: princípios de semântica linguística. São Paulo: Cultrix,
1977. Trad. Carlos Vogt, Rodolfo Ilari, Rosa Attié Figueira (Orig.) Dire et ne pas dire.
Hermann, 1972.
DUCROT, O. O dizer e o dito. Campinas. Ed. Pontes, 1987.
FREUD, S. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1997.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996. 3ª Ed.
_____________. História da sexualidade. Vol 1. A vontade de saber. Rio de Janeiro,
Graal: 1999.
LANDOW, G. Hipertexto 3.0. La teoría crítica y los nuevos medios en una época de
globalización. Barcelona: Paidós, 2006.
LEÃO, L. O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço. São
Paulo: Iluminuras, 1999.
LÉVY, P. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 1999. Coleção
Trans. 1ª. Ed.
LOPES, E. Metáfora: da retórica à semiótica. São Paulo: Atual, 1986. Série
Documentos. 1ª.Ed.
RICOEUR, Paul. A metáfora viva. São Paulo: Loyola, 2005. 2ª.Ed.

Translated by the author

338
Nos termos da #interdição

5 - Arte, censura e revolução (Texto completo)


TEXTO DE ABERTURA PARA A PUBLICAÇÃO
A CENSURA EM DEBATE
MESA ARTE, CENSURA E REVOLUÇÃO
Participantes:
Renata Pallotini – NPCC e ECA/Universidade de São Paulo
Maria Ignez Mantovani Franco - Curadora e diretora da empresa EXPOMUS
Erica Rozek - Universidad Nacional Del Litoral

Por Andrea Limberto

No âmbito ideal onde é possível pensar a arte de maneira indissociada da


política, lá encontraremos o chão para relacionar arte, censura e revolução. Nem sempre
a arte é considerada como filha da mesma mãe que a política e assim encontramos
muitas vezes a expressão “arte revolucionária” para designar momentos em que a arte
estaria a serviço de uma clara vinculação política. É o caso que em muitas análises se
entende ao falar da arte tão distinta como dos muralistas mexicanos, do cinema de
Glauber Rocha, à literatura de Alejo Carpentier, e, de forma mais geral, da resistência
artística feita à maior parte dos regimes totalitários do século XX no mundo ocidental.
Mesmo quando usamos a expressão “arte revolucionária”, de alguma forma, a
partir do que argumentamos, de maneira redundante, acabamos por limitar
temporalmente sua atuação, identificando períodos em que ela foi associada a ações
políticas (como a arte revolucionária russa, francesa).
Evocar a possibilidade de associar arte e política nos termos de uma possível
revolução ou transformação pela arte soa para nós, então, como a possibilidade de
resituar a pergunta de onde pode haver hoje o ímpeto revolucionário - e que ele agora
ainda assim congregue ao mesmo tempo o pensar a arte e a política na mesma sentença.
Postamos a pergunta sem esperar que a resposta venha da palavra revolução nos moldes
dos mesmos imaginários que ela carrega: de resistência, de compromisso, de luta, de

339
Nos termos da #interdição

morte. E aceitando, por outro lado, que ela ainda possa ter sua circulação e recorrência
quando se trata de clamar por um processo de mudança radical e extensa socialmente.
Mas distante das tentativas de nomear produções artísticas e sua vinculação
política, entendemos que independentemente disso elas têm de vingar como arte. E é
nesse sentido que pretendemos ampliar a atribuição do qualitativo revolucionário à
qualidade da produção artística de se colocar de forma limítrofe aos valores e
convenções sociais. Há diversas correntes de pensamento que identificam tal potencial
da arte, das quais destacamos inicialmente a linhagem a partir da obra de Herbert
Marcuse.

“Contrariamente à ortodoxia (aqui seguimos os passos de Herbert Marcuse


em seu livro A dimensão estética), pode-se admitir que é na arte ela mesma,
na forma estética como tal, que se encontra o potencial político e
revolucionário da arte” (BOLOGNESI, 2012: 32).

Uma revisitação renovadora sobre as relações entre arte e revolução se faz


necessária já que a ideia de revolução tem sido marcada fortemente pela luta contra
interposições contra posturas totalitárias de regimes políticos ditatoriais e aquela do
estabelecimento de novos ideários, como o socialista.

“Nos dias atuais, a discussão das relações das artes com a revolução está fora
de circulação, pelo menos nos parâmetros consolidados pelo debate estético
marxista do século XX. Ela perdeu a novidade porque, de um lado,
“revolução” é palavra e ato que fugiram da agenda cotidiana de discussões e
preocupações; de outro, já não se espera da arte a tarefa messiânica de mudar
o mundo (não diretamente, ao menos)” (BOLOGNESI, 2012: 26).

Não teremos condições de discutir se a arte deve ou não destinar-se a uma leitura
específica, unívoca e vinculada a uma atuação política. Mas, de outra forma,
gostaríamos de fazer pensar se em sua abertura há sempre uma virulência
revolucionária.
O ímpeto revolucionário e contestador que vem sempre acompanhando a própria
definição do trabalho artístico e do que se entende pelo papel do artista, - ou ao menos
segue o forte imaginário associado a eles, - encontra suas fronteiras nas limitações e
restrições especialmente sociais, políticas e de opinião. Pretendemos então debater e

340
Nos termos da #interdição

resituar a possibilidade da verve revolucionária na arte hoje tentando também identificar


em que campos há restrições, como forma de censura, na direção contrária desse
impulso e ainda que sob um regime preferencialmente de liberdade de expressão.

“Por outra via, ao invés de se perguntar, exclusivamente, acerca do papel das


artes e dos artistas para e na revolução, pode-se igualmente debater, com
significativo ganho, a natureza revolucionária da arte” (BOLOGNESI, 2012:
27).

A arte é a produção humana que sempre esteve mais próxima de ser relacionada
com a busca por liberdade a partir do rompimento de limites sociais. Como então levar
tal feito a cabo quando se pensa o movimento de censura, se de acordo nosso
entendimento sobre o fazer da arte ela pode reprimir justamente o incômodo provocado
pela arte?
Trata-se de um incômodo ou de um atravessamento revolucionário? Numa
balança paradoxal, o desígnio artístico pode vir num segundo tempo da limitação social,
depois que o produto da arte está liberado, divulgado. Devemos dizer que a
possibilidade de revolução mesma está posta num tipo de sociedade que pensa a
possibilidade de eleição, de representantes e ideias sobre o que circula. Enquanto que,
ao contrário, a possibilidade de censura visa sua manutenção e controle.
Nos processos de censura prévia do Arquivo Miroel Silveira, os quais
informaram as pesquisas que possibilitaram a posterior fundação do Observatório da
Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura, revelam sim a imposição das
determinações estatais sobre as peças teatrais a serem encenadas no estado de São Paulo
e revelam, da mesma forma, uma resistência às determinações, com mecanismos de
burla. Mas entendemos que uma das facetas mais ricas a serem observadas em tal
arquivo é a negociação e disputa em cima dos processos de produção artística. Eles
eram tanto o campo de batalha em que a produção artística poderia assumir uma forma e
que a ação política poderia ser concebida.
Quando dizemos censura estamos pensando inicialmente com esse termo numa
censura formal, institucionalizada, prévia e assumida pelo Estado. Mas sem descartar a
ideia de que, ainda que não haja formalização expressa, a ação de toda forma de
controle se compõe pareada à apresentação de toda produção artística. E entendemos,

341
Nos termos da #interdição

nessa perspectiva, que cada obra de arte é um campo de embate com as concepções
normais. Nossa preocupação sempre é que haja o espaço para que essa disputa ocorra.
Polemizamos sobre a restrição à arte hoje, por exemplo, envolvida com as
instituições estatais e privadas que promovem seu financiamento. Longe de terem
diretrizes uniformes, estabelecem restrições ao que pode ser exibido ao público. Isso
alcança desde o preço para a pintura da fachada de um prédio numa grande cidade como
São Paulo, à ocupação do palco dos teatros mais tradicionais, aos espaços públicos com
intervenções artísticas à morte de um artista pela disputa sobre os direitos de circulação
de sua produção.
Os novos meios, como a internet, também colocam desafios a essa questão ainda
não totalmente sondados. Em que âmbitos ainda poderia se falar de revolução, ou
estamos em tempos de acordos sobre as restrições a serem impostas ao fazer artístico.
Em que âmbito ainda a arte está para nos chocar em nossos limites, mostrando-se
politicamente incorreta?
É dessa forma que pretendemos aqui designar como censura não apenas o ato
restritivo sobre a produção artística, mas também o efeito coagulativo de tensões que se
revela no terreno minado onde ocorrem as disputas artístico-políticas. Assim temos os
campos não mais separados mas como nomes que se referem ao mesmo embate social
sobre um determinada perspectiva de mundo, um recorte ideológico que agrega pessoas,
territórios, leis, formas de expressão e a pessoa ideal de seus autores.
Questionamos, assim, nesse sentido que num tempo em que a marcação sobre
esses espaços de efervescência dos debates é, no mínimo, mais pulverizada, como
determinar duas frentes de observação: como identificar os âmbitos de restrição à arte e
como garantir sua abertura revolucionária?
Pensamos na abertura teórica possível para constituir um campo de pensamento
ao mesmo tempo herdeiro de campos como o político, o cultural, mas que agora entenda
que a produção artística dá conta, mais do que cruzá-los, ser todos eles ao mesmo
tempo. Recorremos à retomada feita, por exemplo, por Jacques Rancière sobre a relação
entre política e cultura.

É um recorte dos tempos e dos espaços, do visível e do invisível, da palavra e


do ruído que define ao mesmo tempo o lugar e o que está em jogo na política
como forma de experiência. A política ocupa-se do que se vê e do que pode
dizer sobre o que é visto, de quem tem competência para ver e qualidade para

342
Nos termos da #interdição

dizer, das propriedades do espaço e dos possíveis do tempo (RANCIÉRE,


2009: 17).

Assim, continuamos a identificar algo que se interpõe tanto ao sentido do


incômodo quanto ao ímpeto revolucionário provocado pela arte que é uma ação de
restrição, coerção, ponderação e que pode ser institucionalizada como censura. Em
todos os casos em que há alguma forma de limitação à liberdade de expressão individual
ou de um meio específico de comunicação recupera-se a palavra censura e advoga-se
pelo fato de que ela aconteceu. A marca impressa pela busca centenária por direitos
confunde-se com a conquista desbravadora que a imagem de uma revolução
proporciona. De um lado temos então a ordem da lei e de outro um ímpeto renovador a
exigir que se abra espaço para a mudança. E aprendemos que, nos vieses da história, tal
ímpeto pode servir de justificativa para golpes. Mais uma vez veremos na articulação da
linguagem a disputa e em nome do que se age.
Podemos opor revolução a repressão, censura a liberdade. Mas hoje o desenho
desse campo ideal é sutil e as palavras ricas em seus embates de poder. São formas de
poder em atuação e lancinantes que recortam a obra de arte, muitas vezes dando a forma
de seu nascimento e muitas vezes aniquilando seu ímpeto de desconstrução.
Na medida em que a convenção é revisitada, em movimentos de recuperação e
rompimento, há uma reciclagem que reorganiza o próprio processo de restrição e do
estabelecimento de tabus sociais. Assim é que entendemos, mais especificamente, o
trabalho da arte como limítrofe entre uma força de revolução e uma de restrição ou
exercício mesmo de um mecanismo instituído de censura.
Se o desafio que a arte representa destina-se a causar desconforto social ou se ele
visa a um ímpeto revolucionário a gradação de cada projeto artístico em cada tempo
poderá dizer – uma gradação dada na medida em que ela se propõe a fazer frente a
limites sociais. Devemos nos perguntar onde acontece hoje o embate entre o que a
tradição e o ímpeto de mudança. Certamente este é uma disputa de poder que pode
ocorrer através de ações individuais de artistas e suas obras para serem revelados.
Devemos pensar ainda como as restrições vividas hoje dialogam com o passado de
censura prévia e marcação explícita de conteúdos proibitivos.
Estamos acompanhando tempos que nos permitem associar os campos da arte e
da política como articulações numa mesma conjuntura social. A arte não se faz alheia ao

343
Nos termos da #interdição

debate político e podemos dizer mais ainda, o debate político e social se faz na obra de
arte.

O imitador não é mais o ser duplo ao qual é preciso opor a polis onde cada
um só faz uma coisa. A arte das imitações pode inscrever suas hierarquias e
exclusões próprias na grande divisão entre artes liberais e artes mecânicas
(RANCIÉRE, 2009: 65).

Dessa forma, a revolução tem de ser debatida no âmbito da cultura certamente.


Além disso, poderemos discutir o tipo de revolução que pode ser esperada e os âmbitos
em que ela pode se desenvolver (onde pode haver a revolução?).
Nossa sombra de comparação é sempre com a produção artística realizada em
períodos de exercício de censura prévia estatal, que já estabelecemos não se resumirem
a períodos ditatoriais e entender atuais formas de cerceamento à produção artística. Se
num momento a arte se nutre justamente do vigor restritivo para tomar forma. Há
certamente um nível letal de restrição que bloqueia a mesma verve criativa ao qual é
preciso atentar.

Referências Bibliográficas

BOLOGNESI, M.F. “Maiakovsy-Arte-Revolução”. Rebento - Revista de Artes do


Espetáculo. no. 3 - março de 2012, pp.26-35.

COSTA, Cristina. A Censura em cena. São Paulo: Edusp, Fapesp, Imprensa Oficial,
2006

RANCIÈRE, J. A partilha do sensível. Trad. Mônica Costa Netto. São Paulo: Ed. 34,
2009.

BRETON, A. & TROTSKI, L. “Manifesto: por uma arte revolucionária livre” [1938].
In: H. B. Chipp. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1999, pp.
490-493.

344
Nos termos da #interdição

6 - Redes sociales, autoría anónima y silenciamiento colectivo (Texto completo)

Redes sociales, autoría anónima y silenciamiento


colectivo

Andrea Limberto51
Universidad de São Paulo

Resumen: El presente artículo subraya los resultados de la investigación de


posdoctorado realizada con beca de la Fundación de Apoyo a la Investigación del
Estado de São Paulo (Fapesp) en la Escuela de Comunicación y Artes de la Universidad
de São Paulo, Brasil, sobre el tema de la interdicción en los medios digitales.
Trataremos aquí, más específicamente, sobre la categoría de autoría como punto de
cohesión entre los relatos en la red, al mismo tiempo que se les permite a estos un
movimiento de silenciamiento colectivo. Dos polos se establecen: de una parte, existe el
intento de producir novedad y, de otra, existe la repetición que borra las marcas del
nuevo. Teóricamente estamos apoyados por autores encuadrados en lo que se puede
denominar como estudios de lenguaje.

Palabras-clave: Medios digitales, autoría, interdicción, lenguaje, comunicación.

Abstract: The present work offers some of the results gathered by the postdoctoral
research investigation funded by São Paulo Research Foundation (Fapesp) and ongoing
at the School of Communication and Arts of the University of São Paulo. The general
focus of the mentioned research is on interdiction and digital media, but what we are
specifically approaching here is the category of authorship as a force of cohesion to the
postings on the web. At the same time they provide us with an experience of collective
silencing. Two separated poles are established, the attempt of producing novelty and the

51
Doctora en Ciencias de la Comunicación por la Escuela de Comunicación y Artes de la Universidad de São Paulo.
Desarrolla el proyecto de investigación postdoctoral intitulada: # En términos de la interdicción, que analiza la
circulación de términos tabú en las redes sociales. Miembro del grupo Observatorio de Comunicación, Libertad de
expresión y Censura (OBCOM/ECA-USP). andrealimberto@gmail.com.

345
Nos termos da #interdição

movement of repetition that erases the traces of refreshment. Theoretically we are


grounded on authors working in the interface of media and linguistic studies.

Keywords: Digital media, authorship, interdiction, communication.

“(…) y es importante que te notifiques a la brevedad para silenciar el rumor de que te


encarnaste en otra bestia reina el solsticio en la región donde se encumbra / paralela la
52
red del pulmón prehistórico” .
Introducción
El proyecto de investigación en que nos basamos para el presente artículo,
intitulado: En términos de la interdicción, llevado a cabo junto al Observatorio de
Comunicación, Libertad de Expresión y Censura de la Escuela de Comunicaciones y
Artes de la Universidad de São Paulo (OBCOM-USP) financiada por la Fundación de
Apoyo a la Investigación del Estado de São Paulo (FAPESP) tiene con objetivo
reflexionar sobre los caminos de las escrituras silenciadas frente a las tecnologías
digitales. Aunque, el estudio de los medios digitales necesite de contextualización
histórica, nos parece relevante que se haga el debate en el seno de los discursos
relacionados a estrategias de silenciamiento. El imaginario y la promesa de los
previamente denominados nuevos medios se colocan en la libertad de expresión.
Paradójicamente, lo que se recupera como argumento impactante es la indubitable
repetición de procedimientos de exclusión. Estos lo entendemos discursivos, culturales,
sociales. Bajo el signo del nuevo, tendremos que investigar lo que redunda y cuáles
elementos se articulan y sus diferentes maneras.
Como nos alerta el informe reciente de la UNESCO: “Gracias a la mejora del
acceso a la información y de las oportunidades para la expresión, consecuencia del
surgimiento de los nuevos medios de comunicación, los regímenes de censura existentes
se han visto debilitados, al tiempo que han surgido nuevas formas de censura y una
mayor profundidad y alcance de las acciones de vigilancia” 53.
Entendemos que la cuestión se recaí especialmente sobre la usabilidad de la web
de las redes sociales específicamente, tiendo por base un modelo de privilegio de la
acción creativa individual: en la búsqueda de informaciones, en la lectura, en la

52
Fernando Van de Wyngard, La ultima (es)cena – Ortopedia del destino (La Paz, Plural editores: 2011).
53
UNESCO. Tendencias mundiales en libertad de expresión y desarrollo de los medios (2014), 84.

346
Nos termos da #interdição

redacción, en la publicación. Subrayamos el uso de las redes sociales como la más


popular forma de conexión personal en la web. A los sitios web podemos atribuir una
inmovilización en la categoría de comunicación institucional. Las redes sociales
encienden, de otro modo, el conflicto y el embate público.
Observamos una personalización de los procesos de publicidad de los
contenidos, que siguen para las interfaces digitales, haciendo conectarnos
colectivamente. Además, nuestro interés de investigación reside en observar las formas
de interdicción en este movimiento descrito de circulación social.
La fuente inicial de nuestros estudios se la extraemos del archivo de textos
teatrales censurados en el estado de São Paulo 1920 hasta 1960. De hecho, aquí les
presento brevemente el recorrido histórico del Archivo Miroel Silveira y seguidamente
las bases que fortalecen la investigación en los términos de la interdicción, su trípode
conceptual (la palabra, el archivo y la red), para lograrnos, al final, discutir los sistemas
de autoría y silenciamiento colectivo en la red. La Universidad de São Paulo, ubicada en
São Paulo, Brasil, guarda una rica documentación sobre la censura teatral en su estado
de origen. Son textos de teatro sometidos al departamento de censura desde los años 20
hasta fines de los años 60. Dicho archivo, contiene más de 6.000 procesos de censura
aplicadas a las artes escénicas. En este largo período trascurren dos regímenes
autoritarios de gobierno que se los mencionamos seguidamente.
El primero y más importante, al que nombramos Era Vargas, con duración entre
los años de 1930 y 1945, estaba aproximado a regímenes autoritarios en Europa. El
segundo período, muy significativo, fue lo que denominamos como régimen militar,
que se mantuvo entre 1964-1985. Cabe precisar que, aún que se estudie períodos
considerados democráticos, la organización de los órganos de censura repetía los midos
modelos. La efervescencia cultural tendría un reflejo en el teatro como forma de
entretenimiento y a la vez como acción política. Los procesos de censura deliberaban
sobre el texto de la obra teatral, por veces cortando palabras, y en este enfoque, es la
óptica primordial que emprendemos en este artículo.
Bajo esta perspectiva, entendemos que proceden las formas de silenciamiento,
especialmente las que dicen respecto al uso del lenguaje. Teniendo en cuenta estos
indicios, se hace necesario realizar estudio de los medios digitales. Actualizamos las
palabras censuradas en las obras teatrales y observamos su circulación en las redes
sociales. Tenemos allí una dinámica de control que es más difusa y se comparte entre
todos los que participan través de su marca autoral. Para este trabajo, subrayamos la

347
Nos termos da #interdição

necesidad de pensar las nuevas formas de autoría en la red y su contrapunto en


silenciamiento de las voces colectivas.
Sería más preciso decir que el cambio en los procesos productivos se localiza en
la esfera de la autoría, se la entendemos como discurso de un autor.
En efecto, el autor que publica contenidos se torna de esta manera distinto y la
referencia a la actividad autoral se incluye como parte del contenido publicado.
Paralelamente, existe un proceso de empobrecimiento de las marcas de indexación y de
la referencia al colectivo, que asociamos a las grandes narrativas organizadoras del
saber sobre el mundo. Desde esta perspectiva, nuestro objeto es analizar, partiendo de
esta relación dual, los casos de las publicaciones hechas por usuarios anónimos y la
sedimentación de la circulación de un perfil personal (que se ofrece a la militancia o a la
burla), el Anonymous. De otro modo, el oscurecimiento de los discursos de organización
colectiva (que incluyen fórums, áreas para comentarios), que entendemos como forma
de silenciamiento colectivo.
Aquí tenemos a bien recordar que, “cuando unos seres humanos se entregan en
una estructura simbólica compleja, hasta cierto punto, ellos sincronizan o armonizan su
propia simbolización interna con esa estructura. El resultado de estar inmerso en un
medio semejante lleva a una sincronización gradual y simbólica. Con eso nos
constituimos en nuestros propios programas como seres sociales” 54.

En los términos da la interdicción


Partiendo, entonces, del recogido de las palabras censuradas en las obras
teatrales del Archivo Miroel Silveira decimos que la censura era más comúnmente
moral, según los datos cuantitativos y cualitativos. Era muy clara la preocupación
censória con la condición de la mujer (madre, dedicada a la familia), al
homosexualismo, a la cuestión racial. Afuera la educación moral pretendida, eran
también censuradas las menciones hechas a la religión, a la política y a la diferencia
cultural entre los inmigrantes. De este modo, el análisis de las figuras de lenguaje fue
parte importante de mi tesis doctoral. Todas las veces que la palabra era cortada e tenía
un sentido figurado, yo la catalogaba. Operamos una relación horizontal entre los textos
de las obras teatrales. Para ello, nos propusimos a pensar en la posibilidad de
recombinar sus términos. En consecuencia, seguimos actualmente operando la creación

54
Lucia Leão, O Labirinto da hipermídia - arquitetura e navegação no ciberespaço (São Paulo: Iluminuras, 1999).

348
Nos termos da #interdição

de una red que combine los sentidos de los términos censurados. En este caso, la
referida red dependerá de la organización de datos en sistemas como lo de many eyes,
que permiten la recombinación de los datos incluíos.
Con dicho planteamiento, ambicionamos reproducir y seguir los sentidos que
fueron censurados en las redes sociales. Especialmente observamos Facebook y Twitter.
La discusión teórica que realizamos pasa por 3 grandes claves conceptuales, que
corresponden también a 3 fases de la investigación del postdoctorado: la palabra, el
archivo y la red.

1- la noción de red significante, como forma de hacer evidente las articulaciones de


sentidos que relacionan los mismos términos en momentos diversos (en la diacronía) a
partir de un punto de conexión (sincronía) en la red;

2- partimos del debate en Foucault para observar las posibilidades de estructuración de


una unidad de archivo, investigando como sería un archivo no-lineal;

3 – la recombinación de términos en red.

Entendemos el estatuto de la palabra de modo complejo, en su relación formal


con otra en una red significante (J. Lacan), en su engendramiento de poder en relación a
la identidad que lo define (M. Foucault) y en la posibilidad de ser ligada a otras
(entendimiento sobre el hipertexto, con P. Lévy).
Frente a estos conceptos, la investigación consiste en actualizar los términos
censurados en los textos teatrales de los periodos mencionados y observar la
circulación que ocupan en las redes sociales. Procuramos observar en las redes las
mismas palabras o su deslizamiento para otros con sentidos similares considerando la
identificación hecha sobre las palabras con hashtag. Comentamos un caso específico de
censura de una escena teatral en que se discutía se la mujer en cuestión estaría usando
ropa interior. Al realizarnos la búsqueda por la red encontramos la circulación de una
noticia periodística que igualmente cuestionaba se la modelo usaba ropa interior
durante el carnaval.

Así que, seguimos estos términos con el objetivo de:


- Observar los ecos de sentido de términos interdictos analizando su recurrencia

349
Nos termos da #interdição

- Revisitar, al mismo tiempo que tornar público el contenido de trechos censurados de


los textos teatrales del Archivo Miroel Silveira;
- Relacionar estos contenidos y de posts actuales en un desafío discursivo;
- Estudiar las posibilidades de producción de sentido en situación de archivo y la
dinámica de la red;
- Identificar términos tabú que cargan la marca del interdicto;
- Restablecer los argumentos sobre la existencia de una lógica para la interdicción y los
procesos censórios.

Autoría y silenciamiento colectivo

En esta perspectiva, lo que se revela como una marca diferencial para los
procesos de interdicción en la red, junto a los términos tabú, es la posibilidad de
entenderlos bajo la perspectiva autoral. Lo que prometemos tratar es la
individualización de autoría en la red y su contrapunto como pérdida de la palabra
colectiva. Y para ello, estamos considerando a que todos los usuarios de la red se
hayan convertidos en autores.
En efecto, hemos observado que, la repetición de los contenidos siempre ocurre
bajo a un perfil individual y además, se notó que en las redes sociales los textos son
marcados por la autoría, al mismo tiempo que se reproducen constantemente las
publicaciones. Sin embargo, se aprecia que, una de las características del trabajo
autoral, que es la búsqueda por originalidad, está minimizada en este caso en favor del
compartir la misma información. Si en los textos de teatro teníamos un autor
censurado, hoy día tenemos la marcación de un texto para circular en la red.
Las redes sociales permiten que cualquier usuario pueda publicar,
permitiéndoles posts en cantidad y que los textos sean más cortos. En este escenario,
Foucault, reconoce que “el comentário limitaba el acaso del discurso en favor del juego
de una identidad que tendría la forma da repetición de lo mismo. Por otro lado, el
principio del autor limita este mismo acaso por el juego de una identidad que tiene la
forma de la individualidad y del yo”55.
Podemos decir, entonces, que los procesos de publicación y circulación de
contenidos en la red se ven marcado por una doble característica, se relacionan con la
producción de comentarios y también hacen referencia a la perspectiva autoral. Dicha,
55
Michel Foucault, El orden del discurso (Tusquets Editores, Buenos Aires, 1992), 29.

350
Nos termos da #interdição

acción, es muy importante como forma de seguir los contenidos interdictos, una vez que
bajo la perspectiva autoral, su fuerza discursiva y polémica se atribuye al autor.
Mientras que se lo entendemos como comentarios, su fuerza y coerción se disipa. El
autor fija su marca y el comentario circula, y lo que vemos actualmente es la
circulación bajo perfiles de marca autoral. Creo que este sea el suevo desafío para que
se entienda la naturaleza de la circulación de contenidos en las redes.

Circulación de las marcas autorales


La participación individual en las plataformas disponibles en la web se procesa a
través de la cumplimentación de formularios para los perfiles. Así que algunos datos
personales son seleccionados para que el usuario sea reconocido y de esa forma
interactuar. Nótese con clareza que los perfiles representan estos usuarios uno al otro,
sin importarse con la veracidad de las informaciones, pero con el juego social
exactamente.
Asimismo, su presencia se revela en términos de publicaciones (posts, relleno de
campos), lo que nos hizo reflexionar, como hipótesis que, su ejercicio es sobre todo
autoral. La noción de autoría, así como la constituimos hasta el presente momento, nos
lleva a la obra de M. Foucault y su entender de una función en este lugar. Tratar el autor
significa entender su unidad de sentido y es una forma de autorización o
desplazamiento discursivo. Cada publicación está, de este modo, representada por una
figura-autor, más o menos conocida en cada caso particular. En este contexto, se
considera también la presencia del autor discursivo – coincidente o no con la realidad –
como marca hacia la circulación de las publicaciones. Lo que se publica pertenece a la
categoría autoral y el autor supervive en el texto, de modo que creemos en las marcas
enunciativas presentes en lo pronunciado.
Sin embargo, el planteamiento de Scarano (1994) nos conduce al racionamiento que:

“nos interesa despejar brevemente un estatuto que, en el marco de las


poéticas neo-realistas y figurativas de nuestro siglo, ha suscitado
encontradas opiniones. Se trata de la creación de una figura textual
análoga al productor empírico del mensaje poético, verificable en el
uso del nombre propio, de las circunstancias biográficas y de la

351
Nos termos da #interdição

situación de escritura, una estrategia discursiva por la cual quedan


homologados hablante y el autor real” 56.

Mediante una aproximación conceptual, las más recientes teorías sobre la


narrativa proporcionan una luz diferente a la presencia identitária en la red. Si hablamos
a partir de las perspectivas de los estudios literarios u operamos una traducción de sus
términos a los medios digitales, la presencia del usuario nos parece nodal para el
entendimiento de la producción de sentido en la red. Como ejemplo de este mecanismo
en los medios digitales referimos a la pregunta que muchas de las plataformas de blog
incluyen al momento de la publicación: ¿ cuál perfil señalar la publicación (con nombre
propio, url, cuenta de Google, de Facebook, etc.). Una firma, un selo, un escudo, todo lo
que se utiliza históricamente para marcar una escritura, estos elementos tuvieran
siempre una clara función social. Podríamos apuntar especialmente que cada período
hace marca de sus autores, sistematiza una manera fomentar la presencia de sus
individuos como autores.
Además, las redes sociales representan un espacio para que todos los inscriptos
publiquen contenidos con cierta presteza, estilo más conciso y en gran cantidad. El
sistema de reconocimiento entre los pares de autores se da, por su vez, de manera
nivelada según el intento de privilegiar la circulación jerárquicamente igual de los
usuarios. “La labor de autoría en los entornos digitales consiste muchas veces no en la
creación de un conjunto cerrado en sí mismo, sino en la creación de un sistema de
posibilidades participativas, promoviendo así que el autor en los entornos digitales
multimedia devenga una figura doble, compartida por creadores y usuarios 57”.
A la doble característica de la presencia autoral en la red añadimos la división
entre el movimiento de empoderamiento asociado a pretensión de inclusión digital y la
pulverización de las contribuciones individuales. No obstante, reconocimos que el
motor de este imaginario es la idea de que el deseo de todo mensaje sea la destinación
amplia, total y colectiva. Nos acercamos, de esta manera, al pensamiento foucaultiano.
El concepto de autor se refiere “Al autor no considerado, desde luego, como el
individuo que habla y que ha pronunciado o escrito un texto, sino al autor como

56
Laura Scarano, La voz diseminada: hacia una teoría del sujeto en la poesía española (Buenos Aires: Biblos,
1994), 19.
57
Gemma San Cornelio (coord.), Exploraciones creativas: práticas artísticas y culturales de los nuevos medios
(Barcelona, Editorial UOC: 2010), 105.

352
Nos termos da #interdição

principio de agrupación del discurso, como unidad y origen de sus significaciones,


como foco de su coherencia”58.
Y en este sentido, la óptica que principiamos en cuanto a las publicaciones en
las redes sociales es que se tratan de textos marcados justamente en la categoría de la
autoría. Estos también, a la vez, reproducen contenidos de fácil circulación. El sentido
de originalidad se hace presente como una de las principales características de la
función de autor. En este caso, se minimiza hacia la posibilidad de compartir la misma
información. No decimos, de todo modo, que la autoría se desvanece, se borra por este
hecho.
En contraposición, Foucault nos trae casos en que discursos circulan sin tener la
autoría registrada. “Alrededor de nosotros, existen bastantes discursos que circulan, sin
que su sentido o su eficacia tengan que venir avalados por un autor al cual se les
atribuiría: por ejemplo, conversaciones cotidianas, inmediatamente olvidadas; decretos
o contratos que tienen necesidad de firmas pero no de autor, fórmulas técnicas que se
transmiten en el anonimato”59.
Señalamos la aproximación que hoy día es posible en los campos de autoría
fuertemente marcada (como los de las ciencias) y los textos de opinión y comentarios.
Esta idea se encuentra en la base del debate sobre las categorías discursivas en la red.
Los textos se presentan en el límite entre el formal y el informal, entre el erudito y el
popular, entre el sigiloso y la circulación pública. Así que muchas veces los textos
autorales pueden confundirse con los anónimos y los que se piensan anónimos,
revivieren como autorales en el acto de compartir.
En este sentido, creemos interesante señalar que, al tratar del ambiente de las
redes, que la función de autor puede ganar una visualización específica. Estas recaen
sobre el nombre asociado al perfil de quienes publican. Sigue a eso una discusión sobre
la veracidad e idoneidad de las informaciones publicadas. Cuestionado también es el
argumento de que se puede mentir en la construcción de tales perfiles. En estos casos, el
dato ficcional de la presencia en la red y de la composición de la autoría gana evidencia.
“En las poéticas llamadas ‘sociales’ o ‘testimoniales’ es frecuente este recurso
del correlato autoral, como procedimiento privilegiado por el cual emerge un yo con

58
Michel Foucault, El orden del discurso (Tusquets Editores, Buenos Aires, 1992), 16.
59
Michel Foucault, El orden del discurso (Tusquets Editores, Buenos Aires, 1992), 16.

353
Nos termos da #interdição

nombre propio verificable, el del autor empírico, que se hace cargo de la voz enunciante
a la vez que se aporta y explota la biografía real del autor”60.
Nos encontramos, una vez más, en el argumento límite de nuestro trabajo, entre
la individualidad que demanda la autoría y de la repetición de contenidos, la primera
relacionada tradicionalmente a la crítica literaria y a la filosofía; la segunda, al ritmo de
los comentarios y de la superposición de textos. Este movimiento emerge en los medios
digitales y adquiere colores menos definidos. “El comentario limitaba al azar del
discurso por medio del juego de una identidad que tendría la forma de la repetidora y de
lo mismo. El principio del autor limita ese mismo azar por el juego de una identidad que
tiene la forma de la individualidad y del yo”61.
Los trabajos que hemos recuperado sobre la cuestión de la autoría muy
propiamente enfocan la posibilidad de un texto resultado de autoría colectiva o todavía
por medio de la desautorización de la función de autor. En el primer caso, entendemos
que la función-autor, como nos propone Foucault, valoriza la idea de que la autoría se
constituye discursivamente, al tiempo en que recubre la idea del autor como genio
creativo.
Miramos lo que escapa a esta separación dual: la perspectiva del control que
ciertamente se presenta. Volveremos a ella más adelante. La marca autoral se revela en
la acción de clicar, organizar, excluir. Como nos releva las estrategias de control por
parte del usuario. “¿En qué se diferencia del bloqueo? Un usuario en «mute» podrá ver
el contenido que tú publiques, hacer favorito tu contenido, responder o hacer «retuits» a
tus mensajes, sólo que tú no lo verás. El usuario «silenciado» no sabrá que le has hecho
«mute», indican desde Twitter, y añaden que la acción se puede revertir”62.

Acercamiento sobre la noción de colectividad


Para pensar nuevas formas de autoría volvimos a características actuales de la
producción artística, observando su forma de producción y circulación. Exploramos la
dimensión de la función-autor, recuperando el pensamiento de Foucault y planteando
que se establece una nueva configuración cuando pensamos en la circulación de
contenidos en los medios digitales. La combinación entre la posibilidad de publicar con

60
Laura Scarano, La voz diseminada: hacia una teoría del sujeto en la poesía española (Buenos Aires: Biblos,
1994), 19.
61
Michel Foucault, El orden del discurso (Tusquets Editores, Buenos Aires, 1992), 18.
62
ABC Tecnología. 15 de mayo de 2014. “Twitter permite ‘silenciar’ a los usuarios como alternativa al ‘bloqueo’”.

354
Nos termos da #interdição

más rapidez y a la vez de repetir lo mismo contenido bajo diferentes perfiles nos hace
pensar diferentemente la cuestión de la autoría y también del texto colectivo.
Una vez más la promesa de los medios digitales es de participación más efectiva
en la vida social.

“Esta inteligencia colectiva se potencia con los dispositivos


tecnológicos que posibilitan la interconexión y colaboración, y
permite a los participantes decidir sobre su futuro y lograr cambios,
silenciosos pero relevantes en la cultura a partir de la intervención de
sus conocimientos individuales. Estas prácticas configuran un
escenario donde el corporativo y el instituido coexiste con el popular
en una lógica de distribución del poder y en el que es posible un flujo
más libre de ideas y contenidos en el que los participantes luchan por
el derecho a intervenir y generar cambios”63.

Intentamos hacer la conexión entre el privilegio de los procesos de autorización


en la web con los de refuerzo colectivo de los mensajes. En estos casos, como es
emblemático los memes, ganan fuerza como la circulación de los dichos populares en
que la figura del autor está debilitada. Entendemos, de este modo, que todos los
enunciados bajo un perfil específico de una red social rinden trazos de autoría y de una
conexión identitária para la formación de grupo.
Nuestro trayecto intenta recubrir un ambiente en que encontramos el desafío de
la innovación en los conceptos que relacionamos promoviendo dislocamientos.
Creemos, de otra manera, que las posibilidades de los medios digitales aún necesitan
estudios teóricos a partir de aportes mejor sedimentados. Sus relaciones hacen eco de
los estudios sobre la producción textual, los géneros del discurso, los entrabes sociales y
históricos. Suelen poder asociar la terminología cara a los estudios de red a la de las
nuevas tecnologías.
Encontramos entonces,

63
Laura Elizabeth Contreras, “Las posibilidades de participación política mediante las
tics: Visibilidad en un nuevo espacio público ¿Ingenuidades o certezas?” en Bianchi, Marta Pilar y Sandoval, Luis
Ricardo (eds.), Jornadas Patagónicas de estudios sociales sobre Internet y tecnologías de la comunicación (Comodoro
Rivadavia, Universidad Nacional de la Patagonia San Juan Bosco, 2011), 281.

355
Nos termos da #interdição

“(…) los estudios que analizan cómo el tipo de diseños tecnológicos


configuran pautas de interacción, allí se mira críticamente, por
ejemplo, cómo el lenguaje de la hipertextualidad reconfigura el texto,
al escritor-autor y al lector. En los años recientes se está abriendo la
posibilidad de narrativas participativas en que los sujetos y colectivos
juegan un papel crítico en el diseño de sistemas tecnológicos. En este
mismo grupo se encuentran los estudios que integran tecnologías y
arte, los movimientos de techno-art, net-art, etc., en el cual se realizan
novedosas aproximaciones que difuminan los límites entre la
tecnología y el arte en asuntos de creatividad y diseño, y se cuestionan
las nociones "cultas" de arte y de tecnologías "high-tech" en beneficio
de expresiones populares y locales de las mismas”64 (ORTIZ, 2008).

Cuyo el planteamiento y les damos un ejemplo es las posibilidades enunciativas


de la red y como se encuentra la composición humorística de los memes que
comentábamos anteriormente. Ellos se revelan en la estructura de la anécdota, una
composición binaria que genera sentido en la yuxtaposición de términos. La
encontramos inclusa también en la estructura del fait divers, como estudiado por R.
Barthes, considerando las condensaciones, el dislocamiento, el lenguaje y sus figuras
de lenguaje respectivamente. Su comprensión y trabajo de decodificación depende de
una relación con un tercero elemento, externo a los datos textuales y presente en la
cultura. La relación incluye la audiencia y nos revela el paso discursivo para la
circulación colectiva en la red.
Observamos entonces como fenómeno ejemplar para este artículo el caso en que
los nombres de autores literarios consagrados son utilizados en las redes sociales para
hacer circular una frase con efecto. Muchos escritores tienen atribuido a si frases que en
verdad ni siempre son suyas. Vemos circular por las páginas web también fragmentos
descontextualizados de obras, pero que ganan su sentido en el movimiento desarticulado
de un perfil a otro. La autoría sigue siendo un dato importante para legitimación del
contenido, pero su apropiación, descontextualización y reproducción confiere a quienes
la publican: primeramente una relación de identificación y, seguidamente, una relación

64
Rocío Rueda Ortiz, “Cibercultura: metáforas, prácticas sociales y colectivos en red”. Nomadas (Bogotá) 28 (enero
a junio de 2014).

356
Nos termos da #interdição

autoral con el mismo material. Así que la dinámica del lenguaje hablado se acerca del
texto escrito y de la idea de la construcción de un texto común colectivo. Aspectos de la
dinámica de la oralidad se repiten en la grafía de las redes sociales, su velocidad de
intercambio y difusión y especialmente por la presencia de elementos necesariamente
populares de la cultura.

Silenciamiento en la red
La manera como se utilizan las redes de ordenadores, especialmente la gran
popularidad de las medias sociales, favorecen tanto la circulación de la marca autoral,
cuanto su oscurecimiento en privilegio de los contenidos circulantes. El aspecto de la
marca autoral la hemos comentado anteriormente. Así que, en las próximas líneas nos
dedicamos a los contenidos interdictos.
Para ello obsérvese que, una perspectiva más habitual es entender que la
interdicción en la red ocurre por dos acciones: una seria el hecho de borrar el mensaje
o texto y la otra la dificultad de acceso a los datos. “En cada oficina hay ciento de
personas como ellos. Por sus manos pasan documentos secretos, algunos de los cuales
necesitan salir a la lus. El pequeño Libro Rojo del activista en la Red es un manual para
proteger sus comunicaciones, cifrar sus correos, borrar sus búsquedas y dispersas las
células de datos que generan sus tarjetas de red”65.
Defendemos aún otra perspectiva que es del imaginario inmersito de la red.
Ponerse en juicio las esferas de la actuación pública y privada. En cuanto una
publicación se enflaquece de su marca autoral, las consecuencias del dicho igualmente
se dispersan. Por lo tanto, no tenemos sedimentada la medida de la autorización y de la
responsabilidad de estos mensajes. Hoy día la publicación de contenidos en la red se ha
convertido tanto en un problema de lenguaje, como lo planteamos tratar, cuanto de
aspiración jurídica, política y social.
Un ambiente que permite la publicación por parte de todos, se pierde en la
cuestión del privilegio del autor y de los procesos de indexación. Consideramos que la
autoría es una categoría de valor discursivo y tendría, de este modo, un rol privilegiado.
Los procesos de indexación, por su vez, rescatan el privilegio del contenido y de la
conexión anónima hacia el flujo de informaciones. El equilibrio entre estos dos puntos
de sustentación de la dinámica comunicacional se diferencian frente a la red por los

65
Marta Peirano, El pequeño libre rojo del activista en la red (Barcelona: Roca editorial, 2015).

357
Nos termos da #interdição

siguientes aspectos: la cantidad de publicaciones y el instantáneo de hacerse un


contenido público.

“para entender la opinión pública como una forma de control social,


habría que situarla en el contexto de un discurso determinado que
haya facilitado su institucionalización. Por ello, todos los
pensamientos que habitan nuestra mente son construidos a partir de
discursos. En este sentido, esta definición de opinión pública no es
sino el producto de discursos que constantemente la avalan. Así,
podría estudiarse este fenómeno como un mecanismo de creación y
mantenimiento de una determinada forma de organización social.
Porque cualquier análisis discursivo tiene necesariamente un alcance
que va más allá: el poder que está detrás de ese discurso. Se trata de la
doble función discursiva "legitimadora-encubridora" de las relaciones
de poder”66.

Bibliografia
ABC Tecnología. 15 de mayo de 2014. “Twitter permite ‘silenciar’ a los usuarios como
alternativa al ‘bloqueo’”.
André Lemos. Cibercultura. Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea
(Porto Alegre, Sulina, 2002).
David Crystal, Language and the Internet (Cambridge: Cambridge University Press,
2001).
Dino Preti, A linguagem proibida: um estudo sobre a linguagem erótica (São Paulo:
T.A. Queiroz, 1983).
Fernando van de wyngard, La ultima (es)cena. Vol. III – Ortopedia del destino (La Paz,
Plural editores: 2011).
Gemma San Cornelio (coord.), Exploraciones creativas: práticas artísticas y culturales
de los nuevos medios (Barcelona, Editorial UOC: 2010).
Giorgio Agamben, Estâncias: a palavra e o fantasma na cultura ocidental (Belo
Horizonte: UFMG, 2007), 240-250.

66
Rubén Dittus, “La opinión pública y los imaginarios sociales: hacia una redefinición de la espiral del silencio”.
Athenea Digital 7 (primavera 2005), 61-76.

358
Nos termos da #interdição

Gisele Beiguelman, Link-se: arte/mídia/política/cibercultura (São Paulo: Peirópolis,


2005).
Gisele Beiguelman, O Livro depois do Livro (São Paulo: Peirópolis, 2003).
Henry Jenkins, Cultura da Convergência (Editora Aleph, 2009).
Henry Jenkins; Sam Ford y Joshua Green, Spreadable media: creating value and
meaning in a networked culture (New York: New York University Press, 2013).
Janet Murray, Hamlet no Holodeck. O Futuro da Narrativa no Ciberespaço (São Paulo,
Itaú Cultural/Unesp, 2003).
Keith Allan y Kate Burridge, Forbidden Words: Taboo and Censorship of Language
(New York: Cambridge University Press, 2006).
Laura Elizabeth Contreras, “Las posibilidades de participación política mediante las
tics: Visibilidad en un nuevo espacio público ¿Ingenuidades o certezas?” en Bianchi,
Marta Pilar y Sandoval, Luis Ricardo (eds.), Jornadas Patagónicas de estudios sociales
sobre Internet y tecnologías de la comunicación (Comodoro Rivadavia, Universidad
Nacional de la Patagonia San Juan Bosco, 2011).
Laura Scarano, La voz diseminada: hacia una teoría del sujeto en la poesía española
(Buenos Aires: Biblos, 1994).
Lúcia Santaella, Cultura y artes de lo poshumano: de la cultura de los medios de
comunicación a la cibercultura (Editorial San Pablo, 2012).
Lucia Leão, O Labirinto da hipermídia - arquitetura e navegação no ciberespaço (São
Paulo: Iluminuras, 1999).
Marta Pilar Bianchi y Luis Ricardo Sandoval (Editores), Habitar la red: comunicación,
cultura y educación en entornos tecnológicos enriquecidos (Patagonia, UDUPA, 2014).
Mansur Gueiros. Tabus linguísticos (Rio de Janeiro: Simões, 1956)
Mayra Gomes, Jornalismo e ciências da linguagem. São Paulo, Edusp e Hacker
Editores, 2000.
________. Palavras proibidas: um estudo da censura no teatro brasileiro. São Jose do
Rio Preto: Fapesp/Bluecom, 2005.
________. Poder no jornalismo. São Paulo, Hacker/Edusp, 2003.
________. Repetição e diferença nas reflexões sobre comunicação. São Paulo,
Annablume, 2001.
________. Comunicação e identificação: ressonâncias no jornalismo. Cotia: Ateliê
Editorial, 2008.
Michel Foucault, El orden del discurso (Tusquets Editores, Buenos Aires, 1992).

359
Nos termos da #interdição

________. As palavras e as coisas (São Paulo, Martins Fontes, 1995).


________. História da sexualidade. A vontade de saber (Rio de Janeiro, Graal, 1997).
________. Microfísica do poder (Rio de Janeiro, Graal, 2001).
________. O que é um autor? (São Paulo, Passagens, 1997).
Manuel Castells, A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a
sociedade (Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003).
Manuel Castells, A sociedade em Rede - a era da informação: economia, sociedade e
cultura (São Paulo: Paz & Terra, 2002).
Marta Peirano, El pequeño libre rojo del activista en la red (Barcelona: Roca editorial,
2015).
Patrick Charaudeau, Discurso das mídias (São Paulo: Contexto, 2006).
Queiroz Júnior, Vocábulos no banco dos réus (COPAC, [s.d])
Raquel Recuero, Redes sociais e internet (Porto Alegre: Sulina, 2009).
Roger Chartier, A Aventura do Livro: do Leitor ao Navegador (São Paulo, Unesp,
1998).
Oswald Ducrot, O dizer e o dito (Campinas, Pontes, 1987).
Paul Ricoeur, Time and Narrative (Chicago, University of Chicago Press, 1984).
Pierre Lévy, O que é o Virtual? (São Paulo: Editora 34, 1997).
Rocío Rueda Ortiz, “Cibercultura: metáforas, prácticas sociales y colectivos en red”.
Nomadas (Bogotá) 28 (enero a junio de 2014).
Rubén Dittus, “La opinión pública y los imaginarios sociales: hacia una redefinición de
la espiral del silencio”. Athenea Digital 7 (primavera 2005), 61-76.
UNESCO. Tendencias mundiales en libertad de expresión y desarrollo de los medios
(2014).

360
Nos termos da #interdição

7 - Convocação da mais armada (Texto completo)

Convocação da mais armada


Armed calling for sur plus

Resenha do livro:
PRADO, J. L. A. Convocações biopolíticas dos dispositivos comunicacionais. São
Paulo: EDUC/FAPESP, 2013.

Palavras-chave: dispositivos comunicacionais, comunicação, biopolítica, discursos

Review of the book:


PRADO, J. L. A. Convocações biopolíticas dos dispositivos comunicacionais. São
Paulo: EDUC/FAPESP, 2013.

Keywords: communicative devices, communication, biopolitics, discourses

O novo livro do pesquisador José Luiz Aidar Prado nos coloca cruamente diante da
problemática do chamado, direcionado aos sujeitos, a integrar discursos em circulação,
em que se acomodam também especificamente circulações discursivas com finalidade
fazer consumir. Entramos com o corpo e o psiquismo, movidos numa única pulsão que
os atravessa. Se a ação incitada é aquela de consumir, incorporar, integrar, deglutir,
devorar, ela se dirige àquele que se identifica através desse processamento. E num
movimento de recobrimento, na medida em que este sujeito atende à convocação, ele
igualmente identifica-se e consome de si. Visto então que o processo se completa em
consumir-se, incorporar-se, integrar-se, deglutir-se, devorar-se.
Observando tais processos de convocação nos discursos midiáticos, o autor faz um
brilhante trabalho utilizando como estopim especialmente pesquisa de base realizada
sobre revistas semanais, inclusive com dados que haviam sido levantados nos trabalhos
anunciados no próprio livro e intitulados A invenção do Mesmo e do Outro na mídia
semanal (PRADO, 2008) e Regimes de visibilidade em revistas (PRADO, 2011),
realizadas no âmbito do grupo Um dia, sete dias – Grupo de pesquisas em mídia

361
Nos termos da #interdição

impressa67. São abordadas, entre outras, as revistas Veja, IstoÉ, Carta Capital, Época,
além do destaque para revistas segmentadas por gênero como Men's Health, Nova,
Claudia e Marie Claire. A mídia semanal é observada como rico lastro para uma
argumentação sobre discursos circulantes. A análise se amplia e aplica à verificação de
discursos comunicacionais, envolvendo, assim, jornais, publicidades, vídeos, entre
outros exemplos que incrustam a obra.
Estão em questão os discursos comunicacionais como espaço privilegiado para que se
remonte uma arena de batalha, de disputa no poder simbólico. Ela remonta a um espaço
público na medida em que o entendimento das convocações que anunciávamos deve ser
comum e socialmente inteligível. Para além disso, chamamos de batalha o processo
argumentativo e coercitivo de que o exposto tenha efeito de engajamento.
Chegamos à perspectiva trazida desde o título do livro, que é a de uma determinação
política. As convocações midiáticas relacionam-se à apropriação dos corpos e à
presunção de sua animação e energização na disposição política. Os discursos
midiáticos trazem diretrizes para o comportamento dos corpos e o que se decide sobre
eles é estratégico, no sentido de que a política é entendida espraiadamente em todos os
níveis microfísicos de poder.
Poderia enganar-se aquele que parasse nesse primeiro nível mais superficial de leitura
do livro, pressupondo exclusivamente e prioritariamente um controle dos media sobre
os sujeitos, passivos no atendimento às convocações. No entanto, o que se revela é um
procedimento ativo de identificação que implica a doação e o envolvimento perpassado
na pulsão biológica. Por isso dizíamos, há um recorte dos corpos em doação política da
própria carne para circulação. Ainda assim, devemos ter em mente que essa é uma
descrição do próprio processo de representação, indistinta da possibilidade de ser. Ser, e
circular, só seria possível na linguagem.
A partir disso podemos dizer que o livro todo é um enorme gancho que fisga o leitor
pelo estômago fazendo acompanhar os movimentos das convocações comunicacionais.
Quisemos dizer pelo estômago para passar a sensação de que dos raciocínios descritos
não se pode ver de fora, como leitor, como sujeito. A linguagem utilizada no livro passa
da abordagem teórica aos exemplos e de volta à teoria de maneira a repetir o cerco
identitário dos sujeitos. Se o leitor não se apercebe através da recuperação feita de
teorias do discurso, da psicanálise, da antropologia, da comunicação, deve então

67
http://www4.pucsp.br/~umdiasetedias/

362
Nos termos da #interdição

certamente se ver com os exemplos que retomam questões de gênero, raça, sexualidade
principalmente.
O que está privilegiado na forma com que o livro está escrito é a ação de fazer perceber
as implicações na carne do pulsar das convocações descritas. Assim é possível situar a
“fodona” de Nova, em seu imaginado infinito poder sedutor, alinhada à descrição aos
tipos de discurso apontados por J. Lacan e a recuperação de elementos das teorias
representacionais. Da mesma forma, a fantasia “na lama e na cama, longe da roubada”
com a ascensão de discursos hegemônicos. E, ainda, coaduna o a mais do gozo com um
“improved tigrão”.
O livro é bem escrito e tem uma leitura fluída, ao mesmo tempo em que apresenta níveis
de profundidade que podem ser acessados na medida em que o leitor conhece a
remetência a densas teorias citadas literalmente ou não. Conceitos complexos são
incorporados no texto de maneira direta, indicam saídas e apontam caminhos para os
leitores que não os percorreram antes. Pode ser assim uma obra densa e ao mesmo
tempo reta. Assim também podemos considerar que seja uma obra rica e original
especialmente no quesito da costura proposta entre autores.
O autor não se retrai em trabalhar com os conceitos e se apropria deles de maneira rica,
ao mesmo tempo complexa e direta, sofisticada e escancarada, pontuando o que pode
especificamente recuperar. "Se alguma ênfase deve ser dada à Semiótica não é de sua
pretensão de ser a ciência das ciências e das artes, mas a de uma disciplina que estude os
novos regimes textuais de visibilidade e de interação que regem as sociedades atuais"
(PRADO, 2013, p.103)
No livro encontra-se favorecida a relação entre conceitos que tentaram organizar na área
dos estudos de linguagem e da psicanálise a representação sobre o eu e a circulação
discursiva. São acionados, assim, autores como J. Lacan, G. Deleuze, J. Derrida, P.
Charaudeau, E. Laclau e C. Mouffe, J. Rancière. Mas é na perspectiva de pensar o
funcionamento da linguagem como dispositivo de controle, informada especialmente
pela obra de M. Foucault, L. Althusser e G. Agamben, é que são marcadas as referidas
representação do eu e circulação discursiva. E o apontamento que consideramos mais
relevante é a ideia de que o dispositivo comunicacional implica um e outro numa
equação de dois termos, que os aciona a ambos imaginariamente numa amarração, num
nó. A ideia de controle é viva neste ponto, animada pelos discursos voltados a fazer agir
e emergindo das modalizações.

363
Nos termos da #interdição

A sequencia dos capítulos da obra é tão surpreendente quanto bem alinhavada. Ela se
abre colocado em questão diretamente a relação entre visibilidade e convocação. Está na
base do chamado à convocação o desejo por uma circulação visível, há um desejo por
visibilidade enquanto se é tomado por uma convocação. Surgem efeitos de quando se
atende a essas convocações e eles aparecem nos termos de imperativos como consuma,
atualize, troque. Assim, o autor pôde apresentar gradações entre convocações
hegemônicas e não hegemônicas.
No segundo capítulo, o autor aborda, tendo aberto a questão da visibilidade de
um outro não hegemônico, uma situação que chamou de um Outro invisível, um Mesmo
visível. Entende-se que o processo de invisibilidade está relacionado à politização da
vida e à marginalização de sujeito em relação ao desenho social. Reforça-se, neste
sentido, que a vida dos sujeitos está em questão como uma vinculação política, atrelada
a preceitos de organização particulares e de inserção dos corpos.
Como terceiro capítulo a obra, desenha-se o campo de batalha onde as disputas
políticas por visibilidade são travadas: os dispositivos midiáticos em sua plenitude de
articulação, estratégias de representação e enquadramento do mundo. É neste sentido
que a inserção política dos corpos mostra seu engajamento, que é de natureza
discursiva. Há também um caráter deste engajamento que não deve ser desconsiderado,
que é sua atuação como dispositivo. Isto significa entender que as convocações de que
trata o livro estão relacionadas a procedimentos discursivos e dizer de uma vez só do
político, do cotrole e do engajamento dos sujeitos no discurso, tratando-se de um
conceito caro na articulação do livro.
A partir de uma outra perspectiva implicada no olhar sobre os discursos, aquela de uma
topologia, o autor apresenta a ideia de um mapa. Anuncia, no quarto capítulo, o mapa da
mina-vidaclipe: do pequeno truque à profanação. Tendo situado anteriormente os
discursos hegemônicos em relação aos sujeitos, a condição de invisibilidade do outro,
mais o terreno de batalha dos discursos midiáticos, o autor vai tratar da possibilidade de
profanação. Trata-se de desafiar o capitalismo como religião e o valor abstrato das
produções e produtos.
Dita de uma outra forma, esse mapa proposto só é possível por conta de uma
performatividade dos media, uma modalização relacionada ao fazer através da
argumentação no discurso. O autor recorre especialmente a P. Ricoeur e J. Austin para
pensar o conceito de performance dos media conforme o processo argumentativo de
todo o dizer.

364
Nos termos da #interdição

Neste sentido, vai analisar especificamente a construção da realidade em Veja


concentrando-se nos imaginários de uma sociedade de controle, dos media como novos
aparelhos de discursivização e do reforço de um discurso que aponta e marca diretrizes
para a ação.
Um discurso específico é utilizado como exemplo privilegiado como coalizador dos
desejos de ser, aquele do poder da inteligência como modalizador do sucesso. Num
duplo reforço de discurso hegemônico e de reforço à valorização de recursos de
controle, concentra-se sobre a inteligência dos processos de controle e na construção das
diretrizes para a vontade, atenção e disciplina.
Da mesma forma, agora como objeto de desejo eleito, um nome aparece como o algo a
mais a ser buscado, um fator privilegiado (como um X factor), a busca do tsuj, trata-se
do extra necessário para uma circulação de sucesso. A lógica da circulação da diferença
indica que "o termo capital queima a diferença para mover-se".
A faceta mais original do livro vem ao final, quando o autor procura apontar as
possibilidades para uma nova política ou uma nova forma de exercer a política. Sob o
jugo de um supereu que incita ao gozo, o efeito político é acionado através da culpa em
ver as imagens representadas. É a manifestação do sentimento de culpa pelo prazer em
concretizar a representação. Isso repõe para o sujeito, num movimento de retorno e faz
com que estes estejam eternamente amarrados à própria dinâmica da representação, em
todos os seus ciclos.
Assim, concluímos considerando que a leitura de Convocações biopolíticas dos
dispositivos comunicacionais interessa para pensarmos como lidar com a política das
imagens e da palavra no sentido que encarnam dispositivos de visibilidade. Pode derivar
disso também uma maior autoconsciência sobre os termos das equações imaginárias que
nos engajam e a abertura para que se lide com a figura de um Outro ameaçador. Nesta
perspectiva entendemos a necessidade do trabalho com as dinâmicas de consumo,
associada à lógica de circulação discursiva, em que o "Consumo é o nome da ação de
resposta pragmática às modalizações dos dispositivos" (PRADO, 2013, p.161)
Podemos, ainda, fechar esta resenha dizendo que durante todo o livro o apelo
subentendido das convocações é aquele contra a morte. Narrativizamos seu apelo e o
performatizamos no sentido de talvez garantir a segurança sobre um abismo, um buraco.
Queremos citar ainda uma iniciativa inovadora, foi feito o trabalho de preparação da
versão do livro em E-book, estando disponível no formato epub.

365
Nos termos da #interdição

Referências
PRADO, J. L. A. A invenção do Mesmo e do Outro na mídia semanal. DVD. São Paulo:
PUC-SP (Um dia sete dias – Grupo de pesquisas em mídia impressa), 2008.

___________. Regimes de visibilidades em revistas. DVD. São Paulo: PUC-SP (Um


dia sete dias – Grupo de pesquisas em mídia impressa), 2011.

366
Nos termos da #interdição

8 - Interdições imaginárias (Texto completo)

INTERDIÇÕES IMAGINÁRIAS 68
Andrea Limberto69

Resumo: Pretendemos nos acercar da noção de imaginário como a esfera


por excelência em que pode haver liberação do gozo, sendo o primeiro
conceito-chave assumido. Defendemos que tal liberação refere-se a um
circuito sobre o qual incide uma interdição, este sendo o segundo conceito
central. A interdição possibilita ao mesmo tempo o momento da liberação e,
em seguida, aquele de deslocamento. Não nos propomos a um trabalho nas
áreas da psicanálise, da sociologia ou das artes. Este tema, acreditamos, é
fundante da dinâmica comunicacional uma vez que ela é dada através do
encontro possibilitado no imaginário e pelas dissonâncias geradas nesse
campo também, que produzem conteúdos a comunicar e a interditar e
deslocar. Exemplificamos com duas obras teatrais constantes do Arquivo
Miroel Silveira que passaram por censura no Estado de São Paulo na
década de 60, ambas de autoria de Molière, O doente imaginário (Le malade
imaginaire) e Sganarelo ou o traído imaginário (Sganarelle ou le Cocu
imaginaire).

Palavras-Chave: Imaginário 1. Interdição 2. Comunicação 3.

1. Introdução
Estás louco, meu irmão...Por nada deste mundo gostaria que os outros o vissem fazendo o que
fazes. Apalpa-te um pouco. Domina-te. Não te entregues assim à imaginação. (Molière, O
Doente Imaginário, p.41)

68
Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Imagem e Imaginários Midiáticos do XXI Encontro da
Compós, na Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, de 12 a 15 de junho de 2012.
69
Doutora pela Escola de Comunicações e Artes da USP (2011) com a tese Coincidências da Censura –
figuras de linguagem e subentendidos nas peças teatrais do Arquivo Miroel Silveira, mestre pela mesma
Escola (2006) estudando a sintaxe da imagem em movimento com O traçado da luz. É integrante de
MidiATO – Grupo de Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas e do Núcleo de Pesquisa em
Comunicação e Censura da USP (NPCC/ECA-USP). e-mail: andrealimberto@gmail.com.

367
Nos termos da #interdição

Qual a realidade e a concretude do imaginário? Às vezes nos parece difícil trabalhar


com seus efeitos e sentir que essa esfera da produção humana é passível de ser identificada
nos termos de sua dinâmica. Falar de imaginário pode remeter ao senso comum de tratar do
que seja falso ou irreal. Podemos até aceitar essa noção se ela se coloca como uma dicotomia
tomada inicialmente, mas que não implique descarte do enunciado que está sendo julgado.
Podemos dizer que o imaginário é um dos campos que emergem em decorrência da entrada
do sujeito na linguagem, e assim, da mesma forma, institui o sujeito mas é também não pode
ser identificado como seu domínio próprio e exclusivo.
O que nos propõe Molière no trecho destacado como epígrafe é uma aterrissagem ou
encarnação de volta ao corpo, como se esse fosse o dado concreto a ancorar o imaginário. E o
ato de apalpar, nesse caso, nos coloca em contato com nossa realidade carnal. O autor nos fala
então da adesão a um imaginário a partir da nomeação de uma imaginação que no caso está
desenfreada.
Nesse sentido justamente o que podemos diferenciar é a noção também de
imaginação como sendo uma outra denominação utilizada para tratar do mesmo imaginário –
muito comumente quando este é entendido na associação ao falso, ilusório e especialmente à
irrealidade. Assim, interditar a imaginação e chamar à realidade parece um ato plausível.
Pretendemos tratar aqui sobre a possibilidade de limitação e interdição sobre o imaginário
entendido na constituição mesma da troca comunicacional, fundando sua possibilidade de
ocorrência e de formação de laço social. Se o tomarmos dessa forma, entregar-se à imaginação
é o princípio necessário para adequação, participação social, articulação de identidade e
intelecção de produtos culturais e comunicacionais em geral.
Entendemos que estudar a dinâmica do imaginário relacionada aos processos
comunicacionais permite uma aproximação justamente com o que é rico neste campo, a
possibilidade de acompanhar seus deslocamentos, desconexões e desengajamentos. É pensar
os pontos extremos da maior empatia comunicacional, em que os interlocutores parecem se
entender perfeitamente ao grau de maior afastamento, onde não haveria a possibilidade de
comunicação, onde residiria o incomunicável.
Nossa preocupação neste artigo penderá a escrutinar as marcas deste incomunicável,
visto que ele próprio, como defenderemos, não poderá ser apreendido em si. Então as
referidas marcas aparecem nos enunciados como efeitos de interdição, os conforma. É sobre
as relações simbióticas entre interdição e imaginário que queremos nos aprofundar. Dizemos
inicialmente que as formações do imaginário dependem de uma baliza em mecanismos de
interdição.

368
Nos termos da #interdição

Não podemos ignorar, como retomaremos adiante, que os efeitos no nível do


imaginário não estão desvinculados, na concepção lacaniana, das instaurações encontradas no
simbólico, estando atrelados a elas. No entanto, segue sendo mais desafiador pensar o eco
que elas repercutem no imaginário, já que este continua a ser sentido como uma esfera que
sofreria menos a incidência da interdição mesma.
Talvez porque sua incidência se dê em algo que é como nossa própria carne, a matéria
de que somos feitos. Mais pungente do que concretizar a interdição da ordem temporal, da
ordem espacial, que poderiam ser confortavelmente localizadas num mundo externo a nós,
tomamos como desafio marcar a limitação do que faz confundir a fronteira entre nós e o
mundo. Qual o limite entre o que se estabelece como um imaginário compreensível
socialmente e a fantasia individual? Ao mesmo tempo devemos considerar a possibilidade das
formações imaginárias se desdobrarem e se transformarem e continuarem correntes.
O presente artigo é derivado da pesquisa Coincidências da Censura – figuras de
linguagem e subentendidos nas peças teatrais do Arquivo Miroel Silveira, realizada em nível de
doutorado e tratando sobre processos de interdição em peças teatrais do Arquivo Miroel
Siveira. No referido trabalho, a partir dos processos de censura previa analisou-se os casos em
que o veto incidiu sobre trechos censurados construídos com figuras de linguagem, buscando
compreender o funcionamento da lógica da censura em seu caráter de interdição.
Faremos, inicialmente, um percurso por um entendimento teórico sobre o que seja o
imaginário e suas formações profícuo para tratar do aspecto da interdição. Defenderemos
também como esta última pode tomar parte no processo de constituição e deslizamento
destes imaginários. Em seguida, ilustramos com exemplo de peças teatrais de Molière
(pseudônimo de Jean Baptiste de Poquelin) constantes no referido Arquivo e que, de alguma
forma, acessam um modo de pensar o imaginário, ainda marcado por ser sinônimo de algo
falso mas deixando entrever na dinâmica da comédia as complexidades de seus efeitos.

2. Formações imaginárias
Podemos dizer que os estudos sobre o imaginário já estabelecem um campo próprio
como categoria associada às pesquisas na área da cultura, das ciências sociais, mas também
dos estudos da linguagem, da comunicação e das artes. Tem sido uma palavra constantemente
utilizada para referir-se a uma marca, uma característica de um grupo ou de um tipo de
produção. Existe uma certa vaguidão em sua conceituação, próprio da indeterminação do que
ele seja. É uma palavra que pode ser tomada tanto pelo senso comum, como conceitualmente.
Mas a abertura a que nos referimos se dá mais no campo conceitual, sua noção um tanto

369
Nos termos da #interdição

imprecisa valoriza o surgimento de um elemento não racional, imponderável, mas ao mesmo


tempo identificável, reconhecido e sabido.
É histórica a contraposição entre imaginário e verdadeiro, real.
Em geral, opõe-se o imaginário ao real, ao verdadeiro. O imaginário seria
uma ficção, algo sem consistência ou realidade, algo diferente da realidade
econômica, política ou social, que seria, digamos, palpável, tangível. Essa
noção de imaginário vem de longe, de séculos atrás. (MAFFESOLI, 2001,
p.74/75).
Retomaremos essa distinção ao abordarmos o caso exemplar das duas peças teatrais
sobre as quais trabalhamos. No enredo de ambas temos o entendimento de imaginário em
oposição ao verdadeiro, mas ao mesmo tempo o autor é hábil em mostrar os efeitos da crença
na ação das personagens.
Sobre sua herança na palavra imaginação, na referência a um compilado de imagens,
muitas vezes se coloca como origem ideológica remota, agregando o que seriam a produção
de imagens icônicas àquelas ligadas à produção cultural em geral, independentemente do
suporte.
O que não ocorreu com a “explosão” do imaginário. Como a imagem sempre
foi desvalorizada, ela ainda não inquietava a consciência moral de um
Ocidente que se acreditava vacinado por seu iconoclasmo endêmico. (...)
Felizmente e apesar de tudo, nos últimos 25 anos uma minoria de
pesquisadores, que cresce a cada dia, interessou-se pelo estudo deste
fenômeno fundamental da sociedade e pela revolução cultural que implica
(DURAND, 1998, p.31/32).
Acreditamos que seja importante investigar as determinações dessa profusão de
imagens sem necessariamente assumir que isso implica em reduzir a criatividade dessas
produções do imaginário. Entendemos que a produção das imagens também sofre a
interferência das construções do imaginário – e elas próprias não são o imaginário – e seu
traçado é dado pela luz. Ainda que se tratem de imagens icônicas ela lida com esses conceitos
ideais que movimentam o imaginário.
Esses traços de definição sobre o que pode ser entendido como imaginário servem
para nós como um percurso para atingirmos o ponto em que ele pode ser pensado como
passível de sofrer a incidência dos mecanismos de interdição. Defendemos que essa
possibilidade é uma das diferenças essenciais entre o imaginário pensado pontualmente como
uma categoria nominável numa estratégia metodológica ou como um dado concreto no
estabelecimento de qualquer comunicação.

370
Nos termos da #interdição

Nesse sentido identificamos duas linhas principais que acabam por determinar
terrenos teóricos férteis para definir imaginário, aquela instaurada por Durand e Bachelard e
aquela lacaniana. Entendemos que ambas reconhecem a concretude das formações
imaginárias na produção cultural humana, sendo que a última reforça essa perspectiva
amarrando-a a uma tríade constitutiva (real-simbólico-imaginário).
Especificamente para pensar a dinâmica comunicacional nos parece rico pensar o
imaginário na fundação da possibilidade de troca. De alguma forma, podemos dizer que ele é
sempre coletivo, na medida em que diz respeito ao social. A ideia de imaginário só concebe o
que é coletivo, na maneira de dialogar com o conhecimento que depende do reconhecimento
daquele mesmo conteúdo pelo outro.
Além de o considerarmos coletivo – e por isso mesmo – imputamos-lhe a condição de
construção, sustentação do laço social e objetivação do mesmo, ainda que possa ser sempre
em suspensão. Entendemos imaginário na perspectiva que os estudos de discurso nos
oferecem, pensado como uma esfera essencial da construção de mundo e das trocas
comunicacionais. Reforçamos a ideia de que o imaginário é a via de intelecção dos conteúdos
enquadrados em sua lógica. Conteúdos que, de outra forma, estariam dispersos e exclusos da
possibilidade de reconhecimento.
Também a noção de imaginário ganha sua especificidade na Análise de
Discurso. Acabamos de dizer que não existe relação direta entre a
linguagem e o mundo. A relação não é direta mas funciona como se fosse,
por causa do imaginário (...) Dito de outra forma, se se tira a história, a
palavra vira imagem pura. Essa relação com a história mostra a eficácia do
imaginário, capaz de determinar transformações nas relações sociais e de
constituir práticas. Mas, em seu funcionamento ideológico, as palavras se
apresentam com sua transparência que poderíamos atravessar para atingir
seus "conteúdos" (ORLANDI, 1994, p.57)
Pensamos a aceitação do imaginário como dado de realidade, operante, ou seja, como
parte atuante nas práticas comunicacionais. Tratar da seara do imaginário sem exatamente
associá-lo a um empenho metodológico (tratar, por exemplo, do imaginário de um grupo
específico) coloca-nos num campo teoricamente instável. O termo é largamente utilizado, no
entanto pouco conceitualmente contrastado. Com linhas vinculadas ao pensamento
psicanalítico podemos entender o imaginário mais como uma esfera que se complementa
numa tríade com o simbólico e o Real. Nesse sentido, o imaginário ganha uma dimensão mais
estendida de presença em todo e qualquer tipo de enunciado, estando imbricado em sua
própria constituição. E também passando da esfera coletiva à individual com uma nuance

371
Nos termos da #interdição

específica, a coletiva apresentada nos próprios enunciados e a individual nos termos de uma
fantasia.
Defendemos que na troca das porções imaginárias está a própria possibilidade de
comunicar. E todo o trabalho de dialogar está em negociar os imaginários em jogo entre os
interlocutores. Não vamos dizer que o imaginário que se acertam é o de um ou de outro
interlocutor particularmente, pois entendemos que não estejam presos à constituição
individual. Os imaginários que se acertam são aqueles responsáveis pelo desenho das
possibilidades lógicas da existência das fantasias. Ou seja, podemos estender o pensamento
dizendo que se trata de compilar quais as matrizes dos sonhos.
E como dissemos, fantasias inclusive são originadas num processo de corte e de
interdição. O que propomos, então, pensando ser um ponto mais além é a relação do trabalho
do imaginário com aquele da interdição, da repressão e, finalmente, da censura.
Entendemos ainda que o imaginário esteja associado à memória ou à identidade de
algo. O que pensamos aqui é sua constituição presente e mutante, no qual ele é trabalhado no
momento da palavra em ato, da constituição do enunciado e atualiza a história da identidade
que o permite reconhecer nesse ponto exato da história, atualizado e ao mesmo tempo
reconhecível na interação.
Outra concepção é a de pensarmos o imaginário na associação da recorrência de um
referente ou um significante, como, por exemplo, pensar o imaginário feminino. No entanto,
observaremos preferencialmente aqui as cominações híbridas que a concepção de imaginário
permite, aquela do escrutínio das imagens possíveis de serem formadas e o enquadramento
em que são compreendidas.
O imaginário como o estamos tomando é um operador lógico na construção dos
enunciados e também garante a coesão discursiva. Dessa forma defendemos que ele possa ir
da palavra ao nível de interpretação de texto fazendo a costura de um sentido. Ele se
manifesta ainda que haja a tentativa de ser objetivado.
Devemos considerar ainda a identificação do imaginário com um âmbito dito não
racional. E será necessário religar essas duas concepções, do que seja o racional e o irracional
para entender a ação de concreta de interdição. Assim, não trabalhamos com o imaginário
sendo uniforme, unívoco num texto. Um texto rico em sentidos pode apontar para diversas
imagens que se fazem ecoar através de suas palavras. É nesse sentido que entendemos que a
interdição age sobre tais sentidos, tentando corrigir aqueles indesejáveis, socialmente
censuráveis.
Tratando especificamente agora do âmbito do que seja a interdição, a entendemos
numa perspectiva discursiva em que ela se faz indispensável para a estruturação dos

372
Nos termos da #interdição

enunciados. Não se trata de um componente da fórmula, mas a própria ação de se constituir


como enunciado. Nesse sentido, gostaríamos de tratar da interdição como parte indissociável
também do processo de geração e deslocamento das formações imaginárias de que vínhamos
tratando.
Podemos pensar a interdição nesse nível discursivo, mas também num nível onde se
reconhecem os tabus, como podemos recuperar com Michel Foucault. É nesse momento que
os imaginários podem assumir nuances, fazer desvios na maneira como se apresentam. Assim,
do momento em que tratamos da imagem associada ao som, imagem sonora como nos
apresentava Ferdinand de Saussure, passamos à formações que estão erigidas por outras
imagens não trazidas ao enunciado, não-ditas ou, podemos dizer carregando nas cores do
proibido, malditas. A relação entre as formações do imaginário e a presença de um mecanismo
de interdição pretende ser a especificidade do debate aqui proposto.

3. Casos do Arquivo Miroel Silveira


Tratar sobre a relação entre o imaginário e interdição nos pareceu mais evidente com
o exemplo de casos de textos de ficção, mais do que os documentais o especificamente
jornalísticos. Aqueles de ficção nos colocam diretamente na confusão entre imaginação e
imaginário e nos permitem, portanto, operar a distinção que pretendemos, reforçando a
separação entre o que é imaginado e das imagens operantes.
O pacto da obra ficcional com o leitor, ainda, aciona o fazer-de-conta que está
acontecendo sem a mácula do julgamento sobre a veracidade ou falsidade. Isso também nos
permite, acreditamos, observar o imaginário em sua presença assim admitida e concreta.
Selecionamos duas peças teatrais que, sobretudo, tratam do tema da imaginação. A
confluência teórica que apresentamos nos é favorável a entender a ação sobre aquelas obras
que tiveram pedido de apresentação entre 1920 e 1960 no Estado de São Paulo e resultaram
em parecer emitido pela censura estatal. Destacamos duas peças exemplares, que embora não
façam parte do repertório da dramaturgia contemporânea tiveram de passar pelo processo de
interdição e sua avaliação feita para apresentação das mesmas no tempo da solicitação. Vale
ressaltar que a ação de censura se fazia quando da organização da montagem da peça, com a
submissão do original. Então, ainda que o texto de Molière tivesse sido escrito no século XVII
procedia passar pela avaliação censória e poderiam, assim, sofrer corte de palavras – como foi
o caso de O traído imaginário.

DDP3585 - O Doente Imaginário

373
Nos termos da #interdição

Localização: DDP3585
Autor: Molière
Título: O Doente Imaginário - Molière; tradução de João Ernesto Coelho Neto
Gênero(s): Comédia
Atos / Quadros: 3
Dados sobre o Processo
Interpretes: Grupo Teatral Politécnico
Henrique Bertelli
Pequeno Teatro Popular
Associação Brasileira A Hebraica de São Paulo
Censura: Livre
Notas: Esta peça participou, por meio da Cia Pequeno Teatro Popular, do II Festival
Profissional de Santos, no período de 14 a 30 de julho de 1961; ver DDP5438,
sob o ID5993
Data Cert. Censura: 10/09/1953
16/09/1960
11/08/1961
18/03/1965
Notas da Censura: Livre

Em O Doente Imaginário, Argan, um pai que se julga muito doente, pretende casar sua
filha Angélica com um médico para que tenha os cuidados necessários sempre e sem tantos
custos. Ele é casado pela segunda vez com Beline, que tem interesse em seu dinheiro e o
aconselha a enviar a filha a um convento. Angélica está apaixonada por Cleanto, com quem
quer casar-se por vontade e tenta convencer seu pai disso. Toinette, a empregada da casa, que
se envolve em toda a trama, e Beraldo, irmão de Argan, armam para ajudar a moça casadoira e
mostrar a realidade das relações para o pretenso doente.
Neste primeiro caso, a indicação da censura para a peça foi livre, sem restrição de
idade e sem cortes de palavras, nos vários certificados de censura liberados. Vale dizer que a
cada montagem da peça era necessário novo processo censório.
A peça é uma das comédias mais famosas do autor, tendo adaptações em diversas
línguas pelo mundo, inclusive me português na tradução de Maria José de Carvalho e, em
outros anos, de João Ernesto Coelho Neto, que foi censor em processos de censura teatral
entre 1958 e 1968. Podemos dizer que esta peça tinha um aval institucional para ser traduzida,
endosso por pertencer ao cânone teatral. O resultado de sua interdição é esperado que seja
livre em todos os anos em que houve requisição.

374
Nos termos da #interdição

Mas qual a relação que estabelecemos com os conceitos de imaginário que


trabalhávamos? Num primeiro nível, o imaginário criado sobre a peça recobre a possibilidade
de que haja censura, nesse caso. Digamos que esse seja um dado do imaginário relacionado à
peça teatral, mas externo a seu texto.
Pensando, de outro modo, como a questão do imaginário é abordada nesta peça
teatral, destacamos um trecho para que possamos comentar70:
“Argan – O que? Negas uma cousa estabelecida por todo o mundo? E que
todos os séculos têm reverenciado?
Beraldo – Longe de crer nela, eu a acho, aqui entre nós, a maior impostura
do mundo. Encarando a cousa como filósofo, não vejo falsidade maior e
nada mais ridículo do que um homem querer se meter a curar a outro.
Argan – Porque não admites, meu irmão, que um homem possa curar
outro?
Beraldo – Pela razão, meu irmão, de que o funcionamento de uma máquina
é um mistério que até hoje os homens não conseguiram desvendar; e que a
natureza nos colocou deante dos olhos vendas muito espessas para que
possamos ver qualquer cousa.
Argan – Segundo tua teoria, os médicos não sabem nada, então?
Beraldo – Sabem sim, meu irmão. Na maioria, eles sabem as mais belas
retóricas, sabem falar o mais belo latim, sabem nomear em grego todas as
doenças, defini-las, classificá-las, mas curá-las isto não.
Argan – Mas deves concordar que nestes assuntos os médicos sabem mais
que as outras pessôas.
Beraldo – Êles sabem, meu irmão, aquilo que eu já disse, o que aliás, não
cura grande cousa e toda a excelência de sua arte consiste num pomposo
palavreado e em argumentos especiosos em que se dão palavras em lugar
de razões e promessas em lugar de efeitos.” (O doente imaginário, p.35)

O que está em discussão nesse trecho, um tema recorrente em toda a trama da peça
selecionada, é a dependência de Argan em relação às indicações médicas. A personagem se
atém aos procedimentos e rotinas prescritos de uma maneira que o autor faz parecer mágica,
quase miraculosa para cuidar-se e continuar vivo. É na estruturação dessa personagem de
maneira caricata, em se tratando de uma comédia, que vemos o exagero da aderência a um
imaginário. Essa mesma colagem à crença é responsável por manter vivo aquele que a ela
cumpre seus préstimos.

70
Os trechos transcritos respeitam a grafia original.

375
Nos termos da #interdição

Em comparação com os enredos dramáticos, a construção de personagens na comédia


costuma ser classificada como mais rasa e superficial. É dessa maneira que se pode, por outro
lado, concentrar-se no desenrolar das ações e na trama cheia de idas e vindas, de
desencontros. Dessa forma faz expor ao ridículo o que seria de outro modo ritual e mitológico
em devotar-se a uma causa ou a uma rotina de cuidados.
É na comédia que se pode escarnecer-se da vinculação a ideais que, em outros
momentos, vemos desabar. Ou melhor, que sentimos em suas brechas e imperfeições os
espaços em que não são hegemônicos. Nesta peça de Molière é Beraldo, o irmão caracterizado
como mais desapegado dos ensinamentos da medicina ou da fé na ciência que faz às vezes de
interceder por um outro modo de imaginar a relação com a possibilidade de morte. E devemos
reforçar que é isso que está dado quando Argan, o doente, teme. Ele teme a morte, as mazelas
que lhe podem chegar ainda em vida indicando deterioração de si.
Beraldo nega os efeitos dos compostos indicados por médicos e preparados por
boticários, mas concede valor à força de sua retórica. Nesse ponto diz do palavreado dos
médicos e indica que seriam palavras vazias, sem os ditos efeitos. De outro modo, entendemos
que a peça de Molière como um todo trata justamente de fazer ver que tais retóricas têm seu
efeito a partir da adesão dos crentes. Em que crê então Beraldo?
Na trama de O doente imaginário, ele faz o papel daquele que está colocado fora da
lógica de funcionamento da construção da imagem de doente dada. É ele quem vem apontar
que “o rei está nu”. Argan tem reforço de sua condição de doente pelo tratamento que lhe dá
sua mulher, reservando-lhe o olhar de um pobre. Isso ocorre também pela atenção que lhe dá
sua filha, para quem é um pai debilitado. Dizemos, então, que o circuito familiar é viciado no
reforço desse imaginário.
A personagem de Toinette, a empregada, é aquela que estando na casa pertence e não
pertence ao circuito familiar ao mesmo tempo, pode se interpor e enerva seu patrão
constantemente. Diz-lhe que não está doente. É com o reforço do irmão Beraldo, que vem de
fora da casa, que se constrói um debate no clímax da peça sobre os fazeres milagrosos da
medicina e da ciência em geral. Beraldo não sobrepõe uma imagem diferente para solidificar
sua argumentação. Limita-se a rechaçar a fé depositada pelo irmão Argan.
No final da peça, o nó emocional em torno do casamento de Angélica desfaz-se mas a
Argan é dada a continuidade de sua loucura imaginária, no aparecimento da figura de um novo
médico que vai cuidar dele. No entanto, esse doutor é a própria empregada Toinette em
disfarce. Argan ganha um placebo de médico, numa caricatura de Molière atestando que a
imaginação do cuidado é mais forte do que a medicação em si.

376
Nos termos da #interdição

Tratando nos termos da interdição, podemos dizer que o acesso de Argan a um dos
elementos que compunham o imaginário de seus cuidados médicos é interditado. Ele não se
trata mais com seu antigo médico. Mas a cena imaginária está, de alguma forma, tão bem
armada que a substituição da figura do médico pela empregada não o impede de ver o que
realmente importa para si: que seus cuidados continuam e então ele pode se apaziguar.
Entendemos o imaginário, dessa forma, no limiar entre a possibilidade de ver e a
cegueira, entre a opacidade e a transparência – como poderíamos retomar nos estudos sobre
o cinema desenvolvidos por Ismail Xavier. Ainda que se tratasse de analisar um produto
audiovisual, essa dualidade permaneceria. E devemos lembrar sempre que, em relação ao
teatro, trata-se também de uma arte do dar a ver. Em que as situações encenadas pretendem
mostrar um dado concreto. Assim que na execução da peça teatral Argan vê sua empregada-
médico, fica intrigado com essa figura que lhe é familiar mas não acredita em seus olhos, mas
sim num olho talvez mais lúcido que enxerga e vê o imaginário.

DDP2994 - O traído imaginário

Localização: DDP2994
Autor: Molière pseud
Título: O traído imaginário - Molière; tradução de Moysés Leiner
Gênero(s) do Espetáculo: Teatro amador
Gênero(s): Comédia
Personagem(s): 8
Atos / Quadros: 1
Dados sobre o Processo
Documentos: O processo contém: 1 autorização diária da SBAT, de 14 de junho de 1950; 1
requerimento de Moysés Leiner, diretor da seção de teatro do Grêmio
Politécnico, de 30 de junho de 1950; 1 certificado de censura ao
requerimento acima, de 6 de junho de 1950; 1 cópia carbono da peça
Interpretes: Grêmio Politécnico da Escola Normal Caetano de Campos
Censura: Peça liberada, observado os cortes das folhas números 5 e 9
Órgão de Censura: Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública Departamento de
Investigações Divisão de Diversões Públicas
Data Cert. Censura: 06/07/1950
Notas da Censura: Peça liberada, observado os cortes das folhas números 5 e 9

377
Nos termos da #interdição

A segunda peça de Molière que trata também do tema do imaginário e que


selecionamos para trabalhar é Sganarelo ou o traído imaginário. Sganarelo é uma personagem
que será reincidente na obra do autor e que é tido como uma derivação do imaginário que
envolve também a personagem de Don Juan, a sedução por um amante inveterável.
Consideramos que esse seja um caso interessante para análise pois houve corte de
palavras, ainda que o texto não tivesse sido escrito no período em que houve a censura. Na
verdade, como dissemos, a separação entre a escrita e o veto é de séculos de distância. Cabe
ver – e isso tomamos como indício do algo a mais que o imaginário implica – os conteúdos que
estão aderidos aas palavras censuradas para que o corte fosse provocado.
Entendemos assim que todo imaginário é também uma argumentação e uma
provocação, chama à adesão ou à repulsa. E, diferentemente da primeira peça que
trabalhamos, a relação que estabeleceremos entre imaginário e interdição não será dada na
trama, mas na ação externa estimulada pelo dito.
Em O traído imaginário há novamente um pai, Gorgibus, que pretende casar sua filha,
Célia, com alguém contra sua vontade, estando esta enamorada de Lélio. A jovem não
consente no casamento, desmaia e assim perde um retrato de seu amado. Tal retrato cai nas
mãos da mulher de Sganarelo e é pivô de todos os desencontros e mal-entendidos que
movimentam a trama. O texto da peça sofreu cortes em dois momentos, nas páginas 5 e 9 do
original entregue à censura, nos pontos em que transcrevemos abaixo.
Mulher – (prosseguindo) – Imagino como deve ser delicioso quando um
homem assim belo se interessa se interessa pela gente. E se ele insistisse
seria difícil resistir à tentação. Oh! Porque não tenho eu um marido assim!
Em lugar daquele desageitado...Aquele bruto do meu...
Sganarello – (Arrancando-lhe o retrato da mão) - Ah! Bandida! Agindo
contra mim, surpreendi-te! Ultrajando a honra de teu querido esposo! Com
que então, segundo teus cálculos, ó, minha mui digna esposa, o marido já
não é suficiente para a esposa? E por Belzebú que te leve para o inferno!
Que melhor partido tu podes desejar? Que pode a senhora achar em mim
de ridículo? Veja esta graça, este porte que todo mundo admira. Este rosto
feito para inspirar amor, para que mil beldades suspirem noite e dia! Em
suma, minha encantadora pessoa não é algo suficiente para contentar-te? E
para saciar teu apetite guloso é preciso juntar ao marido o complemento
de um amante.
Neste trecho é interessante notar como a declaração feminina inicial não inspira o
veto, tanto quanto a pontuação que faz Sganarello sobre o apetite dela. Entendemos que a
palavra “apetite”, bem como a utilização do verbo “saciar” podem abrir o sentido para

378
Nos termos da #interdição

implicitar que se trata do desejo sexual e não de uma declaração de amor. O acréscimo de um
amante funcionaria para o sexo, além daquele relacionamento sexual com o marido.
Tratando do âmbito do imaginário, então, observamos que há uma certa dicotomia
instaurada que apresenta o imaginário sobre o amor e sobre o sexo. Outro imaginário se cruza
para adensar o trecho em questão, aquele das possibilidades da mulher e das diferentes
possibilidades do homem. A mulher pode assumir a imagem de insatisfeita, enquanto o
homem a de provedor de amor. Em outro momento, na mesma peça, a mulher ama e o
homem imagina que ela se casa por interesse.
Podemos dizer que nesta peça de Molière o entendimento do imaginário sobre o que
homens e mulheres procuram movimenta a ação e é fruto dos encontros e desencontros. Mais
uma vez, a figura da empregada, que nesse caso não é nomeada, mas identificada apenas
como “A Creada de Célia” tem um papel fundamental para a interdição de um circuito familiar
e de descompassos entre imagens. Ela trabalha na trama, com conhecimento e escuta das
falas das personagens todas, para identificar os possíveis acertos e casar imaginários.
Gostaríamos de apontar, com este trecho, muitas vezes a falta de univocidade que
também é característica das formações imaginárias. A cada enunciado a adesão se dá a uma
argumentação baseada num complexo de imaginários possíveis e reconhecíveis. De modo que
as imagens da mulher e seus desejos presentes na peça são acertos que o público deve
identificar, compactuando ou não. Nesse sentido é que se encontra a abertura do censor para
rasurar exatamente o ponto em que o apetite feminino não está de acordo com o imaginário
desejável para as damas de sociedade das décadas de 50 e 60 no Brasil, quando a peça foi
encenada. Muito embora a ideia de que haja traição e relacionamentos extra-conjugais esteja
dada no fundamento e em toda a trama da mesma peça.
Cena XII
Sganarello e um parenta da mulher
O parente – Sob este ponto de vista eu aprovo o procedimento de um
marido. Mas também acho que foi um pouco precipitado. Em tudo que vos
ouvi dizer ontem contra ela, não encontrei nada que prove que ela é uma
criminosa. Este é um caso delicado e uma vergonha assim, não se deve
imputar sem se estar bem certo do que diz.
71
Sganarello – De modo que é preciso tocar com o dedo na coisa? (O traído
imaginário, p. 9)
Neste segundo trecho que separamos temos uma pista para dizer de que imaginário o
censor está tentando livrar as damas, é aquele que indica o contato com o corpo. Poderíamos

71
As frases em negrito e itálico indicam o trecho vetado

379
Nos termos da #interdição

aqui, então, tratar de um corpo de que todos reconhecem a existência, tomado como dado
concreto, mas sobre o qual infalivelmente recai uma interdição imaginária. A explicitação de
tal uso interdito do corpo coloca-se no limiar da obscenidade.
A frase censurada que se nos apresenta tem duplo sentido, poderia ser entendida
simplesmente como “é preciso ver para crer”. No entanto, seguindo as pistas indicativas de
uma alusão ao desejo sexual feminino, podemos entender que se trata de um ímpeto em
atestar no corpo o imaginário. E notemos, ainda que a doença de Argan, na peça anterior,
trata-se também de uma relação com o corpo que é (re)velada pelo imaginário. Da mesma
forma aqui, a confirmação da traição se dá onde no corpo? Onde se resolve esse imaginário?
Ou dizendo de outra forma, onde ele se interdita para que não vá ad infinitum produzindo
seus restos? É “na coisa”.
Podemos dizer, de maneira genérica, que ambas as peças tratam da condição do
imaginário como algo próximo ao falso, algo que não se tem, mas se imagina ter. Temos duas
entradas, dessa forma, para trabalhar as peças com relação à questão do imaginário. Por um
lado ela nos traz uma concepção que abriria para discurtir sobre a validade do mesmo, da
aferição da verdade ou da falsidade do que se diz. E essa idéia modula o enredo das duas
comédias em questão.
Um segundo aspecto, que nos interessa mais de perto, é a questão das peças terem
passado pela censura e voltarem com resultado desse julgamento. O Doente imaginário teve
classificação livre, enquanto O traído imaginário teve trechos cortados. As comédias
tradicionalmente lidam com uma linguagem mais popularesca e que incitaria mais ao veto,
especialmente moral.
O tema da mulher que tem um apetite sexual julgado maior do que o normal na fala da
personagem não se enquadra bem com o imaginário pretendido para ela pelo censor. Ele
assim tentar reter a implicitação de comportamento sexual considerado indesejável. É vetado
também a referência um pouco mais explícita ao contato entre corpos, mas ao mesmo tempo
velada no uso do termo genérico “coisa”.
Temos assim uma segunda forma de pensar como essas peças teatrais acessam a
questão do imaginário, que é estabelecer a cada diálogo a continuidade de uma imagem
responsável pela coesão e coerência do texto teatral. A interdição está presente, dessa forma,
como olhar sobre o que o imaginário incita.
As duas peças observadas são comédias e isso normalmente caracteriza uma trama
com desencontros, mal-entendidos, trocas. Esse ambiente de pretensa confusão faz casar a
mensagem certeira do autor sobre o que se imagina, que o que movimenta a trama é
realmente o falsa imaginação, mas o concreto imaginário.

380
Nos termos da #interdição

4. Conclusões
“(...) não é tanto brincar, é mais acomodar-se as suas fantasias. Tudo isto é entre nós. Podemos
assim, cada um representar um personagem e nos divertirmos uns aos outros. Estamos na
época do Carnaval e agora tudo é permitido. Vamos preparar tudo depressa.” (O Doente
Imaginário, Moliére, cena XXII)

O imaginário, como o estamos apresentando, é responsável ao mesmo tempo pelo


momento de gozo, de identificação, de entrega e ao momento de interdição, que pode vir de
diversas formas: pela réplica do interlocutor, pela censura perpetrada pelo Estado, entre
outras formas que fazer baliza ao dito. De todo modo, entendemos que a comunicação
permite a realização de ajustes para um entendimento comum para o que se está tomando. O
processo inicia-se com a recuperação de um imaginário (e veja que não dizemos aqui a
instauração de algo novo) e sua colocação em ato. Os deslizamentos e deslocamentos
provocados nessa interação seguem a cada nova comunicação.
No limite poderíamos dizer que a maior interdição à comunicação talvez seja a ideia de
que não se comunica nada a ninguém, o que haveria são combinados imaginários que se
ajustam nas negociações que são cada diálogo. A imaginação iria ao ponto de esbarrar onde
está a imagem do outro. E ela me faz recuar dos sentidos que quero, que fantasio. Ao
imaginário às vezes não se atribui a forma, os contornos desse impedimento. Mas mais do que
pleno e totalizante ele é também poroso e mutante. Ainda que na consonância de vozes sobre
uma determinada imagem, veremos surgir seus aspectos, suas marcas, combinadas
hibridamente com outras imagens.
Começamos estudando as figuras de linguagem censuradas em peças teatrais com
vontade de dizer das imagens criadas por elas. Acabamos por encontrar na noção de
imaginário um percurso profícuo que movimenta o acerto entre os interlocutores, entre o
censor e o texto da peça teatral. Nessa dinâmica há sempre um ideal à qual os dois aderem ou
não. No caso da censura, existe, no caso da não aderência, o veto, a proibição de palavras. Mas
entre interlocutores em posição de pretensa equivalência há, no caso de uma dissonância de
sentido, a tentativa de negociação ou o desengajamento do diálogo.
Pensamos a interdição em relação ao imaginário no nível da formação do laço comum
para a comunicação. Não há como conceber o que está interditado para sempre nos vãos da
memória. Mas podemos dizer que tal conteúdo faz parte do que ecoa nos imaginários nos
quais estamos feitos e dizer do interdito é justamente dar início ao processo mesmo de
geração de imaginários.

381
Nos termos da #interdição

Em determinados momentos há rupturas nas imagens bem criadas que nos movem e
através delas não vislumbramos a constituição do que são feitas, mas uma rearticulação
positivada, luminosa e agregadora. A capacidade sintética do imaginário disputa com o corte
que a interdição procede. O interdito do censor tenta barrar alguns trechos e palavras, com
isso iluminando os ecos de alguns imaginários reconhecidos. Não é da força dessa interdição
que tratamos. Da maneira como defendemos o imaginário se ramifica e aparece pulverizado
nos textos, nas falas, nos enunciados em geral.
A interdição de que queremos tratar é aquela que mostra e faz frente ao imaginário
como sua derrocada esperada mesmo a partir de sua vitória e estabelecimento. Ambos
imaginário e interdito dizem da situação das relações de poder. Assim retomamos nossas
peças exemplares para dizer que textos extemporâneos podem encarnar imaginários
diferentes e a interdição pode reaparecer em concomitância com outros limites e contornos.

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383
Nos termos da #interdição

9 – Beyond the digital (USP-Universidade de Warwick) (Resumo)

NOS TERMOS DA #INTERDIÇÃO


UMA REDE SIGNIFICANTE DE PALAVRAS PROIBIDAS

DRA. ANDREA LIMBERTO LEITE

SUPERVISÃO: PROFA. DRA. MAYRA RODRIGUES GOMES

RESUMO
A presente proposta de pós-doutoramento, realizada junto à Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), é desenvolvida sob o
eixo temático de pesquisa Liberdade de Expressão: Manifestações no Jornalismo,
responsabilidade da Profª Drª Mayra Rodrigues Gomes, vinculando-se ao projeto temático
apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) Comunicação
e Censura – análise teórica e documental de processos censórios a partir do Arquivo Miroel
Silveira da Biblioteca da ECA/USP, coordenado pela Profª Drª Maria Cristina Castilho Costa.
Propomos a análise da circulação de palavras consideradas tabuísmos
linguísticos tomando como base sua presença em publicações (posts) nas redes sociais
que adotam o sistema de marcação indexical através da eleição de palavras-chave no
sistema de hashtag. O recorte dos termos a serem observados tem como objetivo
repercutir os ecos daqueles que foram censurados nas peças teatrais submetidas, entre as
décadas de 30 e 60, ao Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo, às
quais temos acesso através do material armazenado no acervo de peças teatrais do
Arquivo Miroel Silveira (AMS).
O trabalho toma como base o levantamento já realizado dos trechos com
restrição textual constantes nas peças parcialmente liberadas do referido Arquivo,
produto da pesquisa de doutorado Coincidências da Censura – Figuras de linguagem e
subentendidos nas obras teatrais do AMS voltada para a busca de implícitos e figuras de
linguagem apresentada à Escola de Comunicações e Artes da USP.
Assim, observamos, num primeiro nível, a recorrência dos termos de outrora nas
redes sociais hoje e, num segundo nível, a manutenção ou deslocamento dos sentidos
que eles enredam/enredavam. Entendemo-los dentro de uma perspectiva discursiva,
realizando uma análise que se suporta também sobre uma perspectiva etimológica,
384
Nos termos da #interdição

linguística, histórica e social. Na medida em que escrutinamos os termos censurados


ontem e a validade de sua circulação atual, pretendemos informar sobre os contornos de
sua condição como termos tabu identificada nas articulações em que se inserem.
O tipo de análise assumido para este exercício irá considerar tais palavras
interditas sempre num estado de relação, através de sua forma significante e/ou de seu
significado, conectadas numa rede em que são ressaltadas suas filiações e
encadeamentos, visando a uma análise do tipo discursiva. Tais conexões são base para
discutirmos a possibilidade da aproximação entre termos feita de duas maneiras: na
forma da constituição de um arquivo, que é a forma documental mais tradicional
(inclusive que institui o próprio AMS) e, por outro lado, o acumulo de informações
possibilitado na internet; e, num segundo momento, na forma de constituição de uma
rede, como pode ser entendida a criação de banco de dados para a catalogação de
documentos e, por outro lado, a própria rede mundial de computadores através da
existência de marcadores (indexadores de busca).
Assim, como ponto de partida, entendemos o estatuto da palavra de forma
complexa, em sua relação formal com outras numa rede significante (J. Lacan), em seu
engendramento de poder na relação com a identidade do que define (M. Foucault) e na
possibilidade de ser ligada a outras (definições sobre o hipertexto, com P. Lévy).
Nossa análise se concentra no estudo das construções realizadas com as mesmas
palavras, anotando o reforço/manutenção ou o inusitado/reorganização dos termos
censurados sob a insígnia do interdito. Herdamos do trabalho em nível de doutorado a
hipótese de que a maior parte dos termos recuperados relaciona-se com a proibição a
conteúdos considerados moralmente ofensivos.
Tais observações deverão permitir, concomitante ao estudo no nível da palavra,
elaborar os pontos de contato entre a noção de arquivo e de rede a partir da seguinte
articulação teórica: 1- a noção de rede significante, como forma de evidenciar as
articulações de sentidos que relacionam os mesmos termos em momentos diversos (na
diacronia) a partir de um ponto de ligação (sincronia) na rede; 2- partindo do debate
foucaultiano, a discussão sobre as possibilidades de estruturação de um arquivo como
unidade, tratando sobre o que lhe oferece coesão; 3 – o traçado sobre as possibilidades
de organização de arquivos associados às novas tecnologias e novas mídias de acordo
com o pensamento sobre rede.
De maneira mais abrangente, o presente estudo procura identificar onde se
manifesta a vontade de censura hoje, na sua forma de constrangimento à fala e

385
Nos termos da #interdição

interdição à expressão. Tem, ainda, em seu horizonte o objetivo de repor conteúdos


sociais que, de outro modo, poderiam ser considerados datados e ultrapassados, mas que
consideramos vivos e determinantes da forma como nos comunicamos sobre temas
tabu. Ainda, quando tratamos da circulação de termos e, na mesma equação, incluímos
ideia de que estes sejam interditos, estamos almejando a observação do movimento de
emergência destes mesmos termos à superfície da frase, de maneira tortuosa para
satisfazer seus desígnios informativos. E, ao invés de pensarmos existir um sentido
original a ser resgatado, privilegiaremos tratar da marca que é a característica de tais
termos.
PALAVRAS-CHAVE: liberdade de expressão, rede significante, interdito

386
Nos termos da #interdição

ABSTRACT
The present postdoctoral proposal is to be developed at the School of
Communication and Arts of the University of São Paulo (ECA-USP). It is specifically
related to the research stream Freedom of Expression: Manifestations in Journalism,
responsibility of Prof. Dr. Mayra Rodrigues Gomes and also part of the major FAPESP
Thematic Research Project, Communication and Censorship - theoretical and
documental analysis of censorship processes present in the Miroel Silveira Files of the
library of the School of Communication and Arts of the University of São Paulo, under
coordination of Prof. Dr. Maria Cristina Castilho Costa.
We shall perform an analysis of the circulation of words that are considered
linguistic taboos pursuing their presence in current social media postings which support
the use of hashtags as a keyword indexical parameter. Our intent is to echo the terms
censored on the playwrights submitted to the Public Entertainment Division of the State
of São Paulo (Departamento de Diversões Públicas) between 1930 and 1960, to which
we have access trough the Miroel Silveira Files.
Our research will be nurtured from the data collection of censored text excerpts
present in the partially released playwrights of such Archive, which was one the results
of the doctoral research presented to the School of Communication and Arts of USP,
Coincidences of Censorship - Figures of speech and implications in the AMS
playwrights, then focused on the search for implications and figures of speech. We will
primarily observe the recurring words from yesterday in the social media today.
Afterwards, as second step of the research we are to observe the permanence or shift in
the meaning such terms carry(ied).
We understand them within a discourse driven theoretical perspective,
performing an analysis that is at one time etymologic, linguistic, historic and social. As
we study the censored words of yesterday and check for the legitimacy of their
circulation today, we intend to draw the limits of their condition as taboo, given the
formal articulation in which they are presented.
So, as our theoretical breaking point we assume words as a complex notion, in
its formal relationship with others in a signifier network, representing the result of a
power battle in the relationship with the identity of what it defines (M. Foucault) and
the possibility of being connected amongst each other (definition of hypertext in P.
Lévy). Such theoretical articulation is to help us develop a study on the formal level of
the word, then articulate the notion of archive and of network according to the following

387
Nos termos da #interdição

intended theoretical trajectory: 1- the concept of signifier network, as ways to portray


meaning connections that can enclose the same words in different time periods (in
diachrony) bonded through a connection point of the network (in sinchrony); 2 - to
recover Foucault's debate on the possibilities of constituting an archive according a
given unity, approaching what offers cohesion to it; 3- to associate the structuring of
archives and its current availability to reorganization based on a communicational
network taking into consideration new technologies and the new media.
In a more general perspective, our work is to identify where the drive for
censorship is manifested today in its form of speech constraint and interdiction to free
expression. It has also the objective of recovering social content that otherwise could be
considered out of date and irrelevant, but that we very much consider to be alive and
determining of the way we communicate over taboo subjects.
Keywords: Freedom of expression, signifier network, interdict

388
Nos termos da #interdição

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Nos termos da #interdição

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391
Nos termos da #interdição

10 – 1984: Freedom and censorship in the media - Where are we now?


(Universidade de Sunderland, Inglaterra) (Resumo)

PROPOSAL FOR THE CONFERENCE


1984: Freedom and Censorship in the Media – Where Are We Now?
(http://www.where-are-we-now.co.uk/

Panel proposal

Panel A – Censorship in portuguese: a perspective on communication, arts and the aim


for freedom of expression

Panel short description: We are faced with a new social reality in which the controlling
bodies that characterized the practices of power during the twentieth century and
especially during the Cold War have been extinguished and replaced by new
mechanisms of information control. Such transformation in the processes of performing
acts of censorship is the focus of the researches by the Observatory for Communication,
Freedom of Expression and Censorship of the University of São Paulo, Brazil
(OBCOM-USP). However, we are able to identify one element that remains active and
is still important for both artistic production and State action: the role of public opinion
as a form of intervention in interdiction processes.

Paper 1 - There is no friendly system of surveillance


Presenter: Prof. Dr. Cristina Costa, professor at the Communication and Arts
Department (CCA) of the School of Communication and Arts, University of São Paulo.
Coordinator of the Observatory for Communication, Freedom of Expression and
Censorship, has published, amongst others works, Censorship in the Scene
(Edusp/Fapesp) and Vargas and Salazar (Edusp/Fapesp). criscast@usp.br.

Abstract: The movie Neighboring sounds (Brazil, 2012), by director Kleber Mendonça
Filho, has accomplished great success in its country of origin and abroad. It blends well
the drama and the suspense while narrating the story of an informal surveillance team
working in a fancy neighborhood of a big Brazilian city. As time goes by, such
surveillance team gets acquainted with the people in the neighborhood and becomes part
of everybody’s daily life. Each person, nevertheless, is due to balance his or her

392
Nos termos da #interdição

individual goals with that new form of surveillance, investigation, control and power,
which is informal and private. By the end of the movie we are to realize that no form of
surveillance is harmless or simply professional. Neighboring sounds is a metaphor for
the way we can understand censorship today – globalized and hybrid – but also a very
efficient form of control, in which negotiations and interests are concealed. To unveil
such processes is the ultimate goal of the Observatory for Communication, Freedom of
Expression and Censorship.
There is a growing interest in the subject freedom of expression and censorship.
During the 2000s few were those who wanted to debate censorship – understood as
agonizing in the called democratic countries – today, the matter of recognizing the
means of control and prohibition over freedom of expression are the order of the day.
Communicators, journalists, social scientists, philosophers, amongst others, huddled
over interdiction processes to analyze their motivations, characteristics, strategies and
justifications. The ethical, political and philosophical question around freedom of
expression have become increasingly a subject on the agenda.
Another evident shift in this discussion is related to the role of the State.
Previous protagonist in the processes of banning the freedom of expression, the State
has become an adjunct of this discussion that involves now public institutions (such as
the Judiciary) and private institutions, individuals, ethical and political decisions.
Moreover, the media are enormously involved, whether as defenders or as peculiar form
of monopoly of large agencies and corporations that, because of this, make it difficult
the full development of rights to free expression.

Keywords: Public opinion, censorship, interdiction, Neighboring sounds

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Modernidade. Porto (Portugal) – Edições Afrontamento,2002.
FOUCAULT, Michel – As palavras e as coisas – São Paulo: Martins Fontes, 2007.

393
Nos termos da #interdição

Paper 2 – Why do dictatorial regimes have censorship and how its procedures
survive democratic revolutions?
Presenter: Prof. Dr. Ana Cabrera, professor at the Faculty of Human and Social
Sciences of the New University of Lisbon (UNL), member of the Research Centre for
Media and Journalism (CIMJ) working over censorship and procedures for information
control against the theatre and the cinema, before, during and after the Portuguese New
State. anamcabrera@hotmail.com.

Abstract: The increasing interest on the study of censorship during the last decades
deserves a two sided justification. On one hand, there is the collapse of dictatorship
regimes in Spain, Portugal and Greece in the mid 70’s, followed by the breakdown of
the soviet bloc and the downfall of the Apartheid regime in South Africa in the
beginning of the 90’s. That has unleashed the opening of documents and information
once hidden, under censorship, and strongly encouraging new initiatives of
investigation. On the other hand, a new approach to the study of censorship, greatly
inspired on the works of Michel Foucault and of Pierre Bourdieu, has given rise to
important conceptual shifts, changing our previous notions on the subject.
Nevertheless, the fact that censorship, as a recognized field of study, has become
more popular amongst outstanding researchers can also be explained by a more complex
perception and by the development of current debates in democratic societies related to
political correctness, hate speeches, pornography, feminisms, the Cannon and also
freedom of expression and new ways to frame it: Allan and Burridge (2006), Cornell
(2000), Braun (2004) and Assmann (1987) are only some of the works we can refer to
in such regards.
Our intention is to present a perspective on what was Salazar and Caetano
censorship in Portugal considering the theatre field and then analyze the circumstances
for the transition for democracy. The hypothesis we have been working on and which
we intend to take further is that a censorship regime ends with the establishment of
democracy, but the revolution does not perform overnight changes in behaviors, fears
and private habits of self restraint and self censorship. Fernand Braudel states that
mentalities and their history are related to a long term concept in which are settled the

394
Nos termos da #interdição

framework of thought and sensitivity, and thus mentality itself. So they change very
slowly and most certainly resist, silently, almost insensibly, a democratic revolution.

Keywords: Theater, Dictatorship, Censorship, Revolution, Democracy.

Panel 2 - Censorship in portuguese: Evolving practices and technologies of media


classification and/or censorship

Panel short description: We present some studies related to an extensive research on


supervision processes, bringing particular attention to the potential restriction to cultural
products. The research, financed by São Paulo Research Foundation (FAPESP) and by
Brazilian National Council of Technological and Scientific Development (CNPq), had
its origins in censorship processes to stage plays issued by governmental agencies.
Initially, we have investigated the censored words in such processes, analyzing and
counting their occurrences and proportions. This research phase was followed by an
investigation on journalistic manifestations about the censorial activity, highlighting its
potential struggle for freedom of expression. Following those steps, and reaching a
more contemporary perspective – since the institutionalized censorship was revoked by
the 1988 Brazilian Constitution –, our research appoints as its object of investigation the
conditions in which restrictions emerge, such as lawsuits that defend the prohibition or
liberalization of artistic and cultural performances, the marketing interests that result in
interdiction of products, and the government surveillance, through procedures such as
the Media Classification that describes the appropriate reception age to cultural
products, as well as the appropriate time and local of exhibitions.

Paper 1 – Strategies and practices of media rating and/or censorship

Presenter: Prof. Dr. Mayra Rodrigues Gomes - PhD Full Professor of the Journalism
and Publishing Department, School of Communications and Arts, University of São
Paulo, has developed researches for her Master and PhD degrees in the area of
communication with a focus in philosophy of language. She has worked, since 2005,
with censorship issues. Since 2011 the researches have been dedicated to media rating

395
Nos termos da #interdição

in Brazil, mostly trying to observe its strategies, to compare its practices with old ones,
to detect underlying discourses in its arguments and decisions. mayragomes@usp.br.

Abstract: This presentation is related to an extensive research on supervision processes,


with special attention to the possible restriction to cultural products. Reaching a more
contemporary perspective since the institutionalized censorship was revoked by the
Brazilian 1988 new Constitution, our research took as object of investigation the
conditions that may promote restrictions: government supervision such as the media
rating that attributes appropriate age reception and appropriate time and place of
exhibition, legal actions advocating the prohibition or liberation of artistic and cultural
presentations, the diffusion business and its marketing interest that results in the
interdiction of products, even in the self-censorship by artists, intellectual figures and
the public in general.
We do not have previous censorship in Brazil since 1988. Nevertheless, we have
a type of previous screening to which cultural and artistic products, such as movies and
television programs, are submitted in order to be brought to the public. This process
generates a classification, leading to age recommendation that will determine place and
hour of exhibition, a kind of provisional censorship. It is, genuinely, a controlling
device of media content.
Within this panorama, our current research has one of its main focuses in the
observation and registration of the Media Rating processes, exercised by the Secretary
of Justice, branch of the Ministry of Justice of Brazil. We can follow them, as well as
the commentaries about the age classification of products, at the address:
http://portal.mj.gov.br/classificacao/data/Pages/MJ6BC270E8PTBRNN.htm.
At the same time, the Manual for Media Ratings is a parallel focus of
investigation from the point of view of the ideals professed by it. The Media Rating
Manual is a set of rules that guides the classification above mentioned. Therefore, it
mobilizes discourses which we understand in the sense defined by Patrick Charaudeau,
as a circulating cultural disposition that encloses a world conception and its
correspondent attitudes.
We present here partial results of our current research. It deals with the
discursive formations that have inspired the Manual, as well as examples of the
practices issued from it.

396
Nos termos da #interdição

Keywords: Censorship, rating, supervision processes

Bibliographical references

CHARAUDEAU, P. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2010.


COETZEE, J. M. Contra la censura: ensayos sobre la pasión por silenciar [Giving
Offense: Essays on Censorship]. Barcelona: DeBOLS!LLO, 2008.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2008.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, Secretaria Nacional de Justiça, Departamento de Justiça,
Classificação, Títulos e Qualificação. Classificação Indicativa: Guia Prático. Brasília:
Ministério da Justiça, 2009. Disponível em: www.mj.gov.br/classificacao

Paper 2 – Control and dissimulation: cultural aspects of censorship in the Islamic


Republic of Iran
Presenter: Prof. Dr. Ferdinando Crepalde Martins, professor at the School of
Communication and Arts of the University of São Paulo (USP) in the field of Arts,
Communication and Society. Deputy director of the Theater of USP (TUSP) and
Coordinator of the Program USP Diversity. His current research is “Interdiction and
symbolic production: censorship over cinema and the theater in the Islamic Republic of
Iran”.

Abstract: The present article is a reflection on the cultural aspects of censorship in


contemporary Iran from an active observation perspective made under the research
project Prohibition and Symbolic Production: censorship of cinema and theater in the
Islamic Republic of Iran, conducted with funding from the São Paulo Research
Foundation, FAPESP, with support from the Provost’s Office for Research of the
University of São Paulo. The field research was conducted in July and August 2011 in
the cities of Tehran and Isfahan, on Iran. It highlights dissimulation as a constitutive
feature of Iranian culture that enables, on one hand, the legitimacy of the censorial
process, and on the other, the forms of sociability and manipulation of censorship.
We focus on the understanding of the censorial phenomena in Iran from the
constitution of the artistic field. When our research started off, in 2011, the country’s
presence in the media already stood out. However, this media presence accentuated over

397
Nos termos da #interdição

the months, mainly due to the intensification of the debate on Iran's nuclear program,
economic retaliation from the U.S. and European countries and the threat of Israel of
invading the territory of Iran by attacking their laboratories. Moreover, the reports
coming from the Middle East deal with the restriction of the right to information and
artistic expression. However, a simple comparison between freedom of speech
supposedly found in Western countries and the interdiction practice of symbolic
production in Iran does not account for the complexity of the censorial phenomenon in
this country.
The most recurrent image of Iran in recent media is the resistance to
westernization at all costs. Little is disclosed about its ancient history, its past history of
conflicts, failed attempts to align to Western standards, much less about the cultural
movement in major urban centers.

Keywords: Censorship, dissimulation, Islamic Republic of Iran.

Bibliographical references

ABRAHAMIAN, Ervand.Iran between two revolutions.Princeton: Princeton University


Press, 1982.
ARTICLE 19.Unveiled: Art and Censorship in Iran.Londres: Article 19, 2006.
BECK, Ulrich.Risk society: towards a new modernity. Reino Unido: Sage Publications,
1992.
COGGIOLA, Osvaldo. A Revolução Iraniana. São Paulo: Ed. UNESP, 2008.
SAID, Edward.Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.

Paper 3 – Linguistic taboos and the circulation of controversial content on social


media networks

Presenter: Prof. Dr. Andrea Limberto, Postdoctoral researcher at the School of


Communication and Arts, University of São Paulo, Brazil, working on language
innovation and interdiction processes in new media. andrealeite@usp.br

398
Nos termos da #interdição

The present work is intended to debate within the field of language practices
nurtured by the idea of the existence of taboo over words (FOUCAULT, 1996). We
identify the restrictions over discourses in the specific ways it presents itself in social
media networks, which is mostly characterized by the possibility of free expression. We
base ourselves in the idea that it is not possible to have a media environment free from
constriction to the exercise of language.
Starting from such theoretical background and based on a discursive perspective
of culture we understand that social media network interfaces cannot escape such
relationships of ordering and conformity. Our objective here in the present work is to
draw which those procedures would be when it comes to the social media, focusing on
the seeming paradox of thinking restricted circulation of enunciations and the language
practice within a media recognized by the emblem of freedom of expression and
communication democratization.
We are not able to state that the resulting enunciation is a form devious from the
original for not admitting the precise existence of such original. Just like in a
metaphoric process, the resulting metaphor cannot be a replacement of an original term,
but is inscribed in the enunciation as a new term as a juxtaposition of two other.
The action of replacement is done, therefore, in face of a term considered to be
improper (in contrast to a proper term applied) instead of the necessity of fidelity to the
original. The birth of an enunciation depends on a process involving: a dynamic of
exposure (1) whose contents point to meanings present in the language (2) according to
a proper way (3).
In that sense we make explicit a certain perspective on the new media. There is
an expectation in relation to the mediatic spaces of publishing online, that they can be
free from the constraint over what is said, being a democratic outcome par excellence.
Nevertheless, the new media indicate a pulverization of the image of the authors and, at
once, of the interfaces for publishing. And it has been true to a certain extent that may
be felt as total as for the quantity or the type of contents published as much as it can be
regulated and socially watched.

Keywords: New media, social networks, linguistic taboo, interdiction

CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. A Era da Informação: Economia, Sociedade e


Cultura. Volume I. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

399
Nos termos da #interdição

DUCROT, O. Dizer e não dizer: princípios de semântica linguística. São Paulo: Cultrix,
1977. Trad. Carlos Vogt, Rodolfo Ilari, Rosa Attié Figueira (Orig.) Dire et ne pas dire.
Hermann, 1972.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996. 3ª Ed.
LANDOW, G. Hipertexto 3.0. La teoría crítica y los nuevos medios en una época de
globalización. Barcelona: Paidós, 2006.
LEÃO, L. O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço. São
Paulo: Iluminuras, 1999.

400
Nos termos da #interdição

11 - Confibercom 2014 (Braga, Portugal) (Resumo)


CONFIBERCOM 2014

REPRESENTAÇÕES DA INVISIBILIDADE E A INDIFERENÇA VISÍVEL EM DISCURSOS


AUDIOVISUAIS

Andrea Limberto, doutora em comunicação e pós-doutoranda na Escola de Comunicações e


Artes da Universidade de São Paulo/Brasil (bolsista Fapesp). andrealimberto@gmail.com.
Rosana de Lima Soares, professora na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo/Brasil, e pós-doutoranda no Brazil Institute no King’s College London (bolsista Fapesp).
rolima@usp.br.

Palavras-chave: invisibilidades, políticas de representação, figuras de alteridade, discurso


audiovisual.

Propomos uma análise das possibilidades de articulação no discurso cinematográfico


em torno da questão da invisibilidade. Este tem sido um desafio teórico para os estudos
fílmicos desde o estabelecimento, por contraponto, da noção de uma sintaxe do visível
(C. Metz; J. Aumont). Assumimos que exista uma barreira lógica para a representação
de sujeitos em situação de invisibilidade, o que de nenhum modo tem impedido que ela
seja tematizada frequentemente em filmes. Ou ainda, que opere como uma marca sobre
determinados sujeitos em cena, periféricos, atuando como estandartes de identidades
minoritárias nos modos de tornarem-se visíveis.
Ao mesmo tempo, não podemos deixar de marcar a aparição poética destes mesmos
sujeitos como estando em uma posição política – e dizemos, com B. Nicholls, que se
trata também de uma imagem ideológica –, ambas associadas numa forma de
representar. Entendemos, ainda, acompanhando o pensamento de J. Rancière, que a
criação na linguagem implica um engajamento poético e uma representação política.
Observamos, num aparente paradoxo, que identidades consideradas minoritárias têm
tido espaço para a construção de seus modos de representação em discursos
audiovisuais (notadamente em filmes baseados em fatos reais que tematizam a periferia,
o crime, a violência, a homossexualidade, o racismo, as questões de gênero etc.)
assumindo, desse modo, um espaço de visibilidade. Independentemente, identificamos a

401
Nos termos da #interdição

invisibilidade como uma dimensão fundamental na maneira como os processos de


representação se apropriam desses sujeitos.
Estabelecemos metodologicamente duas formas pelas quais a questão da invisibilidade
tem permeado a produção fílmica: o ímpeto de representá-la enquanto ausência, e a
visibilidade dada aos sujeitos em situação de invisibilidade. No limite, há sempre algo
de invisível que não poderá ser captado, do mesmo modo que, num embate com uma
dimensão imponderável, a câmera aponta para sujeitos incluindo-os em sua
invisibilidade positivada (representada pela presença de uma ausência) ou visibilidade
indiferente (caso em que a indiferença se torna a marca). Estas marcas estão
relacionadas aos tipos de vínculo estimulados na produção fílmica em negociação com a
realidade (desses sujeitos e de onde se inserem).
Como proposta de trabalho, analisaremos articulações feitas por documentários
brasileiros recentes, exibidos em circuito comercial e que, privilegiando um discurso
referencial e de cunho realista, apresentam os sujeitos marcados de que tratávamos. O
empenho realista interessa por operar um movimento de afirmação da marca dos
sujeitos representados, aprovando-a como se ela fosse, no âmbito do filme e no âmbito
da vida, exatamente como mostrada.
Observaremos a composição cênica em que esses sujeitos são mostrados (planos,
enquadramentos e montagem), a perspectiva de um olhar organizador das cenas
(identificado como aquele que concede o direito à visibilidade) e a possível relação
entre os elementos visíveis e aqueles que dialogam com um espaço do não dito que,
como apontamos, faz-se presente na cena por meio dessa relação. Finalmente,
argumentaremos sobre como as cenas que pretendemos analisar não precisam ser
obscuras para que ocorra uma determinação de invisibilidade. Será a figura dos sujeitos
engajados, em relação com outros sujeitos e objetos do entorno cênico, a principal
característica determinante de sua situação.

Artigo completo
Representações da invisibilidade e a indiferença visível em discursos
audiovisuais

Rosana de Lima Soares72

72
Doutora em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. Professora no Departamento de Jornalismo e Editoração e no
Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais dessa mesma Escola, realizou pesquisa de pós -

402
Nos termos da #interdição

rolima@usp.br
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo/Brasil

Andrea Limberto73
andrealimberto@gmail.com
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo/Brasil (bolsista
Fapesp)

Resumo: Propomos uma análise das possibilidades de articulação no discurso


cinematográfico em torno da questão da invisibilidade. Este tem sido um
desafio teórico para os estudos fílmicos desde o estabelecimento, por
contraponto, da noção de uma sintaxe do visível (C. Metz; J. Aumont).
Assumimos que exista uma barreira lógica para a representação de sujeitos em
situação de invisibilidade, o que de nenhum modo tem impedido que ela seja
tematizada frequentemente em filmes. Ou ainda, que opere como uma marca
sobre determinados sujeitos em cena, periféricos, atuando como estandartes
de identidades minoritárias nos modos de tornarem-se visíveis. Ao mesmo
tempo, não podemos deixar de marcar a aparição poética destes mesmos
sujeitos como estando em uma posição política, ambas associadas numa
forma de representar. Entendemos, acompanhando o pensamento de J.
Rancière, que a criação na linguagem implica engajamento poético e
representação política. Analisaremos articulações feitas por documentários
brasileiros recentes, exibidos em circuito comercial e que, privilegiando um
discurso referencial e de cunho realista, apresentam os sujeitos marcados de
que tratávamos. O empenho realista interessa por operar um movimento de
afirmação da marca dos sujeitos representados, aprovando-a como se ela
fosse, no âmbito do filme e no âmbito da vida, exatamente como mostrada.

Palavras-chave: invisibilidades, políticas de representação, figuras de


alteridade, discursos audiovisuais.

Propomos uma análise das possibilidades de articulação no discurso


cinematográfico em torno da questão da invisibilidade. Este tem sido um
desafio teórico para os estudos fílmicos desde o estabelecimento, por
contraponto, da noção de uma sintaxe do visível (Metz, 1972; Aumont, 1995).

doutorado (2013-14) no King’s College Brazil Institute (Londres/Inglaterra). É pesquisadora do MidiAto – Grupo de
Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas e autora de Margens da comunicação: discurso e mídias (São Paulo,
Annablume, 2009), além de diversos artigos publicados em livros e revistas acadêmicas.
73
Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (2011),
onde atualmente é pós-doutoranda (bolsista Fapesp) estudando processos de interdição discursiva nos mídia. Mestre
pela mesma Escola (2006) com a dissertação O traçado da luz: um estudo da sintaxe em reportagens televisivas. É
pesquisadora do MidiAto – Grupo de Estudos de Linguagem: Práticas Midiáticas.

403
Nos termos da #interdição

Assumimos que exista uma barreira lógica para a representação de sujeitos em


situação de invisibilidade, o que de nenhum modo tem impedido que ela seja
tematizada frequentemente em filmes. Ou ainda, que opere como uma marca
sobre determinados sujeitos em cena, periféricos, atuando como estandartes
de identidades minoritárias nos modos de tornarem-se visíveis.
Ao mesmo tempo, não podemos deixar de marcar a aparição poética
destes mesmos sujeitos como estando em uma posição política – e dizemos,
com Nichols (1991), que se trata também de uma imagem ideológica –, ambas
associadas numa forma de representar. Entendemos, ainda, acompanhando o
pensamento de Rancière (2005; 2012), que a criação na linguagem implica um
engajamento poético e uma representação política.
Observamos, num aparente paradoxo, que identidades consideradas
minoritárias têm tido espaço para a construção de seus modos de
representação em discursos audiovisuais (notadamente em filmes baseados
em fatos reais que tematizam a periferia, o crime, a violência, a
homossexualidade, o racismo, as questões de gênero etc.) assumindo, desse
modo, um espaço de visibilidade. Independentemente, identificamos a
invisibilidade como uma dimensão fundamental na maneira como os processos
de representação se apropriam desses sujeitos.

Desenho do visível através da marca documental

Em Testemunha ocular (2004), Peter Burke tematiza a questão da objetividade


e fidelidade na representação dos fatos por meio da análise de imagens fotográficas,
questionando-as enquanto provas de evidência histórica. Dentre os vários conceitos
trazidos, o autor apresenta uma série de problemas advindos da crença na
autenticidade e veracidade das imagens fotográficas: a questão das fotografias
fabricadas, dos interesses daqueles que as encomendam, de pressões externas
(editores, veículos). Segundo o autor, o conceito de “testemunha ocular” – alguém
capaz de fielmente “representar o que, e somente o que, poderia ter visto de um ponto
específico num dado momento” (Burke, 2004: 18) – reforça a crença na possibilidade
de um testemunho preciso e verdadeiro, esquecendo as diferenças sempre presentes
tanto no que os discursos (verbais ou visuais) deixam transparecer, como naquilo que
ocultam.

404
Nos termos da #interdição

Notamos na produção cinematográfica recente um conjunto de filmes,


ficcionais ou documentais, que problematizam de modo singular a questão da
objetividade no relato e da fidelidade ao texto. Entre eles, destacamos produções
iranianas e brasileiras: os filmes iranianos Salve o cinema (Mohsen Makhmalbaf,
1995), Cópia fiel (Abbas Kiarostami, 2010) e Isto não é um filme (Mojtaba Mirtahmasb
& Jafar Panahi, 2010); e os documentários brasileiros Jogo de cena (2007), Moscou
(2009) e As canções (2011), realizados por Eduardo Coutinho74. Ainda que
reconheçamos a variedade estética, técnica e estilística de cada um desses filmes,
apontamos alguns dos processos tradutórios articulados em suas narrativas,
notadamente híbridas e cambiantes.
Já na década de 1990, Salve o cinema, como outros filmes iranianos, mescla
encenação e registro em suas imagens, numa espécie de ficção documental na qual o
diretor convoca possíveis atores, por meio de um anúncio de jornal, a realizarem
testes para seu próximo filme. Makhmalbaf filma os testes e, ao ser interpelado sobre
quando teriam início as filmagens com os escolhidos, responde que o filme havia
acabado de ser realizado. Na ficção Cópia fiel (no original, cópia autenticada),
Kiarostami indaga, durante todo o filme, o que seria autêntico e veraz em contraponto
àquilo tomado como artificial e falso ao apresentar um roteiro em espiral que polemiza
o valor da cópia em obras de arte e se desdobra em camadas interpretativas. É o
diretor Panahi quem nos oferece, em Isto não é um filme, uma síntese dos dois filmes
anteriores: proibido de realizar filmes – veto por ele obedecido – e anunciando se
tratar de um “documentário” – denominação pouco comum no cinema iraniano –, o
diretor é filmado por outro realizador e encena, em prisão domiciliar (que perdurou por
dois meses e só foi encerrada após greve de fome do diretor), um dia completo de
confinamento como forma de relatar as privações presentes no cinema iraniano.
Em seus documentários, Coutinho evoca diversos modos ficcionais para contar
as histórias vividas pelos entrevistados – transformados em personagens – e desafiar
as fronteiras entre reprodução e fabulação. Os filmes podem ser vistos como uma
espécie de trilogia (ou reiteração) a respeito do cinema e de seus modos de
realização, além de retomar a crítica ao conceito de representação. Encenados no
ambiente de teatro, em Jogo de cena, composto apenas por personagens femininas,
vemos a mistura entre histórias verídicas e inventadas, atrizes e mulheres anônimas,
espontaneidade e indução. Os depoimentos são apresentados em cenário minimalista,
no qual as mulheres sentam-se à frente de Coutinho, de costas para a plateia vazia,
invertendo as posições normalmente vistas no teatro e questionando os limites da
interpretação. Moscou, por sua vez, retrata os bastidores do grupo de teatro mineiro
74
Para informações e críticas dos filmes, ver site www.adorocinema.com.br. Acesso em 11/02/2012.

405
Nos termos da #interdição

Galpão, ensaiando em um teatro vazio a peça “As três irmãs”, de Tchekhov, jamais
apresentada ao público.
Finalmente, As canções desenvolve uma premissa aparentemente simples:
cada um dos entrevistados deve contar (e cantar) a história de uma música que tenha
marcado sua vida. Mais uma vez o cenário é um teatro, mas o ponto de fuga situa-se
nos fundos do palco, entre cortinas, lugar por onde entram e saem os personagens.
Ao contrário de dicotomizar suas narrativas, tais documentários se movimentam nas
imbricações entre referencialidade/ficcionalidade, realidade/fantasia, fato/relato. A
exemplo dos filmes anteriores, essas imagens nos alertam, reiteradamente, para a
precariedade na apreensão ou representação fidedigna da realidade, ressaltando a
impossibilidade de objetivação dos relatos e a pregnância do processo tradutório que
se impõe a qualquer discurso sempre que os artifícios da narrativa são acionados.
Respondendo de modo contundente à tentativa de domesticação percebida em tantos
relatos que se pretendem referenciais, tais filmes reafirmam seu pacto ficcional com os
espectadores, como se dissessem, paradoxalmente, isto é apenas um filme.

Ver o outro

Neste sentido, como proposta de trabalho, analisaremos articulações


feitas por documentários brasileiros recentes, exibidos em circuito comercial e
que, privilegiando um discurso referencial e de cunho realista, apresentam os
sujeitos marcados de que tratávamos. O empenho realista interessa por operar
um movimento de afirmação da marca dos sujeitos representados, aprovando-
a como se ela fosse, no âmbito do filme e no âmbito da vida, exatamente como
mostrada.
Para além de semelhanças estilísticas – que se acentuam nos tempos
atuais –, reportagem e documentário posicionam-se diferentemente em relação
às formas de construção da representação e às relações desta com o
imaginário social. Ao ressignificar os fatos para representá-los culturalmente,
ainda que se trate de acontecimentos, é de um processo de criação que se
trata, inventando uma história por meio de fabulações narrativas. De distintos
modos de dar a ver o outro, em formas mais extremas ou mais domesticadas,
espaços de visibilidades e invisibilidades apresentam-se nas telas da televisão
e do cinema, apontando para diferentes concepções estéticas, temáticas,
éticas, estilísticas e narrativas.

406
Nos termos da #interdição

No caso dos programas telejornalísticos, a presença do repórter no local


em que se passa a notícia e a importância da transmissão ao vivo, tornando-o,
ao mesmo tempo, narrador e sujeito da ação, confirmam sua atuação como
personagem da narrativa e representante do espectador (uma espécie de
testemunha do testemunho atestado pelo jornalismo), colocando-se em seu
lugar e construindo a cena como se o espectador estivesse nela presente. A
realidade encenada, ou telerrealidade, insere-se nesse espaço de atuação que
distancia as reportagens dos documentários. Estes, por sua vez, não são
apenas filmes de caráter informativo ou didático, mas reconstroem a realidade
a partir de um ponto de vista subjetivo que se estabelece no intervalo entre
cineasta e personagem, um “eu” e um “outro” colocados em relação.
Em vez de desenrolar a narrativa aos olhos do espectador, o
documentarista, normalmente fora de quadro mas presente por meio dos
enfoques buscados, tem como desafio ocupar o lugar de escuta do outro, mais
do que tornar audível sua própria voz. Ao contrário de atuar como personagem,
o sujeito que se inscreve nos documentários não se pretende uma
representação fiel da pessoa, retratada em seu cotidiano, mas torna-se, nas
palavras de Eduardo Coutinho, “a melhor versão daquela pessoa”: “No
cotidiano as pessoas são tão naturais quanto artificiais. Que processo a pessoa
levou para atingir o seu natural? É a criação da mentira verdadeira. É óbvio que
uma pessoa assume dez pessoas diferentes no seu cotidiano” (Coutinho;
Xavier; Furtado, 2005: 119). Ao deslocar o foco da legitimidade para a
legitimação, o documentarista alcança, por meio do fingimento, o que há de
mais singular no sujeito simulado nas imagens:
A respeito da relação entre pessoa e personagem, ocorre algo
interessante. Na filmagem, encontro-me com uma pessoa durante uma hora, sem
a conhecer de antemão, e às vezes nunca mais a vejo depois disso. E na
montagem, durante meses, lido com ela como se fosse um personagem. Ela é, de
certa forma, uma ficção, por isso a chamo de personagem, já que ela “inventou”,
numa hora de encontro, uma vida que nunca conheci. Se o filmo durante uma
hora, ficam na edição final cinco ou sete minutos. Faço dela um concentrado
daquilo que eu acho que é o melhor que ela possa ter (Coutinho; Xavier; Furtado,
2005: 121).

407
Nos termos da #interdição

De modo paradoxal, ao ausentar-se da tela o realizador nela deixa suas


marcas, por meio dos encontros discursivos, e não presenciais, atestados
pelas imagens da câmera, numa espécie de autoria partilhada em que, nos
moldes da teoria da enunciação, instauram-se possibilidades de reversibilidade
entre um “eu” e um “outro” que intercambiam lugares para que cada um possa
ganhar voz e tomar corpo. Nas reportagens jornalísticas, ao contrário, o lugar
do realizador é ocupado pelos repórteres. Ainda que estes não direcionem a
narrativa – ao contrário, o jornalismo apregoa a neutralidade do relato e produz,
como efeito de sentido, o apagamento das marcas do enunciador –, sua
presença física se faz sentir a cada passo, demarcando de modo mais incisivo
os vieses da narrativa e unificando, ao menos na superfície, seu relato.
Ainda que ambos, reportagem e documentário, apresentem sujeitos
concretos, histórias acontecidas e situações pertencentes ao mundo histórico –
explicitando seu caráter documental e testemunhal –, os documentários
ocupam-se menos da busca pela verdade das pessoas e dos fatos retratados,
e dedicam-se mais a interpretações sobre tais pessoas e fatos, elaborando
suas narrativas a partir das informações e histórias de vida colhidas por meio
das interações verbais com seus personagens. A problemática da objetividade
e da autenticidade, certificadas pelo repórter que vivencia as histórias ao
mesmo tempo em que as apresenta ao telespectador, não se coloca para o
documentarista, que assume o caráter provisório de seu relato, tecido sempre a
posteriori, em outro tempo e lugar que não os da própria ação. Como afirma
Coutinho:
No documentário é preciso sair de si. (...) O documentário é isso: o
encontro do cineasta com o mundo, geralmente socialmente diferentes e
intermediados por uma câmera que lhe dá um poder, e esse jogo é fascinante.
Portanto, o fundamental do documentário ou acontece no instante do encontro ou
não acontece. E se não acontece, não tem filme. E como você depende
inteiramente do outro para que aconteça algo, é preciso se entregar para ver se
acontece (Coutinho; Xavier; Furtado, 2005: 121).

Contornos invisíveis de um outro documentado

Estabelecemos metodologicamente duas formas pelas quais a questão


da invisibilidade tem permeado a produção fílmica: o ímpeto de representá-la

408
Nos termos da #interdição

enquanto ausência e a visibilidade dada aos sujeitos em situação de


invisibilidade. No limite, há sempre algo de invisível que não poderá ser
captado, do mesmo modo que, num embate com uma dimensão imponderável,
a câmera aponta para sujeitos incluindo-os em sua invisibilidade positivada
(representada pela presença de uma ausência) ou visibilidade indiferente (caso
em que a indiferença se torna a marca). Estas marcas estão relacionadas aos
tipos de vínculo estimulados na produção fílmica em negociação com a
realidade (desses sujeitos e de onde se inserem).
Observaremos a composição cênica em que esses sujeitos são
mostrados (planos, enquadramentos e montagem), a perspectiva de um olhar
organizador das cenas (identificado como aquele que concede o direito à
visibilidade) e a possível relação entre os elementos visíveis e aqueles que
dialogam com um espaço do não dito que, como apontamos, faz-se presente
na cena por meio dessa relação. Finalmente, argumentaremos sobre como as
cenas que pretendemos analisar não precisam ser obscuras para que ocorra
uma determinação de invisibilidade. Será a figura dos sujeitos engajados, em
relação com outros sujeitos e objetos do entorno cênico, a principal
característica determinante de sua situação.
Elena é um documentário brasileiro lançado em 2013 e aclamado em
diversas premiações nacionais e internacionais. Na linha em que estamos
desenvolvendo, interessa-nos na medida em que sua proposta básica lida
justamente com a falta de Elena, que vai ser presentificada durante o
documentário com fragmentos de vídeos costurados como uma composição na
memória. Outra relação de ausência-presença marca o filme: trata-se da
implicação autoral de Petra Costa, a diretora, e sua ausência, para deixar que a
memória da irmã fale. Além disso, Elena segue uma carreira artística que é
referência em todo o filme – a dança, o teatro. A experiência artística da
personagem é respondida com um documentário, na berlinda entre o
referencial e o emaranhado da composição fílmica, articulando o relato a um
tempo factual e ficcional.
Para além das anotações que podemos fazer na proposta anunciada do
documentário, e que o inclui diretamente no debate sobre os limites entre
visibilidade e invisibilidade, os elementos da composição fílmica é que
desenham para nós mais precisamente as nuances desse encontro. A trilha

409
Nos termos da #interdição

sonora tem um papel importante em situar o espectador no tempo da memória


e não no tempo presente de Elena. É a música que distancia o que se vê hoje
em relação à experiência factual passada. Ela conduz no âmbito do que nos é
apresentado como imagem, um corpo feito fluído, etéreo e de contornos
dificilmente definidos. Nesse sentido é que a presença de Elena pode viver
novamente, mas mediada pela fluidez da água, pelo etéreo da dança e pelo
borramento técnico possível com vídeos amadores.
Elena viaja para Nova York com o mesmo sonho da mãe: ser atriz de
cinema. Deixa para trás uma infância passada na clandestinidade durante a
ditadura militar e uma adolescência vivida entre peças de teatro e filmes
caseiros. Também deixa Petra, sua irmã de 7 anos. Duas décadas mais tarde,
Petra também se torna atriz e embarca para Nova York em busca de Elena.
Tem apenas pistas: fitas de vídeo, recortes de jornais, diários e cartas. A
qualquer momento, Petra espera encontrar Elena andando pelas ruas. Aos
poucos, os traços das duas se confundem. Já não se sabe quem é uma e
quem é a outra.
Nosso segundo exemplo é Cidade cinza, também um documentário
nacional de 2013. Com direção de Guilherme Valiengo e Marcelo Mesquita, o
filme participou do festival de produção audiovisual É tudo verdade. Ele
apresenta grafites feitos pelos artistas OsGêmeos, Nunca e Nina, pela cidade
de São Paulo e que são posteriormente tornados invisíveis pela repintura dos
muros na cor cinza, realizada pela prefeitura. O documentário se constrói,
assim sobre uma disputa institucionalizada em torno das cores que revestem a
cidade: o colorido do grafite e o recobrimento por meio da uniformização cinza.
O filme apresenta uma tomada panorâmica da cidade de São Paulo,
marcando o adensamento da área construída e sua lavagem cinza-concreto. O
grafite é então recuperado como forma de reação à erupção do concreto. Ele é
uma marca visível nas paredes construídas, e a relação, nesse caso, é com o
cinza que ele encobre, cor original de tudo o que é concreto. O grafite
representado na cena faz uma segunda pintura, que é aquela apresentada pelo
documentário. Vemos os grafites sendo feitos. A justaposição de cenas os faz
contrastar com o cinza com que a cidade é apresentada. Dessa forma, a
passagem de uma cena a outra faz da cidade um campo de batalha do visível.
Onde os olhos poderiam ver uniformidade, há a marca de uma disputa que é a

410
Nos termos da #interdição

um tempo estética e política, voltando-se sobre um território indomado e sem


dono, público.
O filme estabelece um contraponto visual entre a verticalidade da
cidade, contando com a estrutura dos prédios, e a horizontalidade da execução
dos grafites em seus muros. A ação em cena é executada por veículos
representando a prefeitura, invadindo a cena e se postando na frente dos
muros grafitados para realizar o trabalho de recobrimento das imagens. Há um
debate, com isso, sobre o espaço para a própria arte no espaço da cidade. Na
imagem vemos a visibilidade de uma luta por assepsia, sobre a qual está
instaurado um desejo de cidade, e a sujeira, intervenção artística que a
transforma pervertidamente.
Nosso terceiro exemplo é o documentário brasileiro Olhe pra mim de
novo, de 2011, classificado como filme de estrada (road movie) e dirigido por
Kiko Goifman e Claudia Priscilla. Nele o transexual Silvyio Luccio é retratado no
cenário do sertão nordestino em que habita com sua esposa. Uma fala da
personagem interpreta o ato de tirar a roupa como um desvelamento, um cair a
máscara da visibilidade masculina que o protagonista sustenta. O título dado
ao documentário aponta para este mesmo movimento de duplo olhar, de
retorno para verificar o que verdadeiramente se vê. Nisso reside a
complexidade desse filme, na incerteza que faz repousar a visão sobre um
imaginário difuso e pouco marcado, ou melhor, recortado, filmado em cortes.
Nesse caso, trabalha-se a invisibilidade pela falta declarada do órgão
sexual masculino. Ao mesmo tempo que ele se faz presente na construção dos
diálogos e da concatenação entre as cenas. Silvyio pede que outros ponham a
mão para verificar a ausência daquilo que todos pensavam que ele teria entre
as pernas. O documentário resume essa situação na equação “eu pensava que
você era um homem que tinha desistido de ser homem e agora procura ser de
novo”.

Invisibilidades visíveis

Nos exemplos apresentados há uma profanação do objeto feito visível


por meio da sua concretização em cena. Ao mesmo tempo, a possibilidade de
que parte dele não seja reconhecível, sendo recoberta por um tão determinado

411
Nos termos da #interdição

e central ímpeto de invisibilidade, faz movimentar a dinâmica fílmica.


Entendemos, assim, que está na base do fazer documental a tentativa de
tomada sobre um objeto fugidio à constituição cênica. Ele assim o é pois nem
pode oferecer-se por completo e nem a própria cena pode sobreviver sem
obscurecer um desejo por totalidade.
Fizemos um percurso em três tempos para este trabalho: retomamos a
vocação referencial do documentário, apontamos a polêmica em relação à
tomada documental sobre o objeto humano tratando da questão da captura do
outro e, finalmente, procuramos desenhar as vias de escape dessa lógica da
cena apresentando formas da invisibilidade documentada.
Na medida em que a perspectiva do documentário tradicional procura
filiar-se ao registro do verídico e factual, há já uma presença forte e constante
em documentários recentes para a ficcionalização do relato. Este ímpeto está
ligado, como o entendemos, à forma de percorrer a distância entre cada um de
nós e o outro. Nós que estamos como público e que somamos àqueles que
documentam uma certa realidade, e o outro que compõe recortadamente a
cena e se faz nela.
Há uma latente necessidade de recobrir a distância entre ambos num
desejo de reparação narrativa, e o documentário o faz elevando traços de uma
diferença. Não anotamos aqui se tal diferença é julgada positiva ou negativa,
mas consideramos sua condição de ser algo de interesse para se ver. Há
sempre, dessa forma, um olhar que marca o outro e o insere na ordem do
visível. Ao mesmo tempo, o outro ganha sua presença, apresenta-se e se
constitui a partir de sua entrada na cena.
Nesse sentido, há sempre um movimento que aponta para a questão da
invisibilidade, inclusive e especialmente nos casos analisados. Ao documentar,
faz-se visível um outro de alguma forma distante, seja espacialmente,
temporalmente ou, ainda, psicologicamente. Ou seja, outrem que não estava
visível a olho nu no convívio cotidiano segundo a perspectiva daquele que
reporta.
O segundo tempo do endereçamento à invisibilidade é a apresentação
desse outro numa cena em que sua invisibilidade vem à tona. Ela é muitas
vezes tematizada como ideia central do documentário. Nesse sentido, atribui-
se a missão de fazer ver o que estava obscurecido. São documentários que

412
Nos termos da #interdição

tratam de identidades minoritárias, de temas socialmente ignorados. Nesses


casos, a presença do outro na cena é assumida de forma positivada, como
movimento afirmativo. Temos, assim, um processo criativo de tradução da
questão do outro-personagem em formato de discurso audiovisual. Esta
criação se coloca numa corda bamba do desafio que tem, de um lado, a
possibilidade de evidenciar o outro e, ao mesmo tempo, aprisioná-lo nas
escolhas cênicas. Assim, documentários são polêmicos.
Tal processo pode ser identificado tanto na construção da narração,
como da articulação imagética. Se a narração pode identificar, marcando com
palavras o que é visto, as imagens apelam para os olhos, conduzindo para
dentro da cena. E é nesse sentido que devemos apontar um terceiro e último
aspecto dos documentários em relação à questão da invisibilidade. A marca da
presença do outro em cena é atestado de sua ausência. De certo modo, o
contrário também é válido: a ausência do outro em cena é seu nível de máxima
presença.
A documentação audiovisual sobre o outro é um processo de criação
narrativa, sua presença é interferida pela associação com outros objetos em
cena que concorrem para edificá-lo. Assim, ao tentar reportar sobre o outro
colocamo-lo numa posição de invisibilidade, ao mesmo tempo em que a
latência de representação é sua possibilidade de inteireza. Assim, mesmo
numa cena em que um personagem não está presente, seus efeitos visíveis se
fazem sentir. Gostaríamos de concluir defendendo que os processos de
invisibilidade são fundantes na criação documental, tanto na aproximação ao
outro por via temática, quanto em sua inserção na articulação dos discursos
audiovisuais. Nessas duas perspectivas, a invisibilidade torna plástica e
maleável a composição cênica, sendo a principal responsável pela estruturação
de uma dinâmica fílmica.

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Nos termos da #interdição

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415
Nos termos da #interdição

12 - Intercom 2013 (Texto completo)


Indicado na Rede como #proibidoparamenores: Diretrizes da Classificação Indicativa e
Conteúdo Circulante nas Redes Sociais75

Andrea LIMBERTO76
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP

RESUMO

Pretendemos realizar uma análise da circulação dos temas sobre os quais primordialmente se
estrutura o sistema oficial de classificação indicativa, especialmente a referência a sexo e
violência, e contrastar com a circulação dos mesmos nas redes sociais. Trabalhamos o caso
específico da indicação #proibidoparamenores no site de interação social Twitter, usada para
marcar publicações polêmicas no sentido discursivo. Observaremos os termos que fazem eco
ao que tem sido indicado para maiores de idade nas produções que tradicionalmente recebem
a indicação de classificação. Numa perspectiva discursiva, observaremos como esses temas são
tratados na rede em sua estruturação formal rizomática e associada a um perfil de usuário.
Com isso pretendemos chegar a polarizar a questão da possibilidade de indicação ou
interdição de conteúdos nas redes sociais por dois vieses: por um lado, a prerrogativa da
visibilidade dos conteúdos nos novos meios e sua tentativa de fazer ver o que em outras
instâncias há impedimento e, ao mesmo tempo, a presença reiterada e compartilhada de
polêmica e debate público sobre os temas indicados para maiores.

PALAVRAS-CHAVE: redes sociais; interdição; proibido para menores; discursos circulantes;


classificação indicativa

O presente artigo pretende abordar o tema da publicação de conteúdos nas redes sociais –
concentrando-se no caso específico do site Twitter (https://twitter.com) – que supostamente
não seriam indicados como livres pelas atuais diretrizes da classificação indicativa do
Ministério da Justiça nacional, notadamente conteúdos relacionados a sexo e/ou violência.

75
Trabalho apresentado no GP Comunicação, Mídias e Liberdade de Expressão, XIII Encontro dos Grupos de
Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
76
Pós-doutoranda na Escola de Comunicações e Artes da USP trabalhando junto ao Observatório de Comunicação,
Liberdade de Expressão e Censura com bolsa Fapesp no projeto Nos termos da #interdição: uma rede significante de
palavras proibidas. E-mail: andrealeite@usp.br

416
Nos termos da #interdição

Tomamos como base para nos informarmos sobre as diretrizes gerais para a classificação
indicativa o site oficial do Ministério da Justiça, disponível em
<http://portal.mj.gov.br/classificacao>). Num primeiro nível de observação, as redes sociais, e
a internet em geral, têm mecanismos de controle baseados na restrição dos conteúdos após
sua publicação ou baseados na utilização de programas que bloqueiam o acesso a conteúdos
por parte de determinados perfis de usuários. Não há organizado, assim, para ela, um sistema
que classifique seus conteúdos previamente à difusão dos mesmos.
No presente artigo não entraremos no mérito da defesa ou recusa da publicação dos
conteúdos, mas pretendemos assumir uma perspectiva que estude a forma de apresentação e
circulação de conteúdos polêmicos e proibitivos na rede. Para apontarmos precisamente quais
seriam tais conteúdos, assumimos as publicações em que os próprios usuários indexaram a
menção à proibição. Dessa forma, igualmente não julgamos se os conteúdos deveriam ser
indicados ou proibidos, mas nos concentramos na forma com que eles são marcados pela
polêmica e pela proibição. E, ainda, do mesmo modo não tomamos a proibição indicada pelo
usuário como definidora do conteúdo marcado, mas analisamos a confluência para o sentido
como um acontecimento linguístico a partir do momento da indexação.
A questão formal aponta, assim, para uma necessidade de estudo sobre a dinâmica do
meio indicando especialmente os processos de publicação (1), associação (linkagem) (2) e
replicação (3). Propomos essa tríade como forma de ordenar o processo de produção e
circulação textual nas redes sociais. Damos destaque para o estabelecimento de links como
possibilidade de associar referências na internet e de erigir o hipertexto. “Estes nós estão
materializados nos textos como links, o elemento essencial do hipertexto e fundamental na
constituição de uma linguagem digital” (MIELNICZUK & DALMASO, 2012: p.239).
A estrutura em níveis possibilitada pelo processo de associação depende inversamente
de um movimento de indexação, feito em sites através de menus de navegação e, em alguns
sites de interação social, através do uso de hashtag (# cerquilha). Em relação aos conteúdos
indexados por usuários como proibitivos selecionamos aquela que intertextualmente guarda
referência ao processo de classificação indicativa, “proibido para menores”. Embora leia-se na
frase indicativa utilizada pelo Ministério de Justiça “não recomendado para” e que esta não
tenha valor de uma proibição legal, o peso de um interdito vem a tona nas redes sociais.
O tabu sobre determinado enunciado, como recuperaremos adiante com M. Foucault,
não está inscrito exclusivamente nos termos usados para descrevê-lo, por exemplo, dizer dele
que é “proibido” ou “recomendado”, mas situa-se numa esfera discursiva do proibitivo. E ela
faz reverberar a polêmica nas palavras ou cenas classificadas.

417
Nos termos da #interdição

Assim, a frase canonizada tem sido usada por usuários para indicar conteúdo que
imaginam marcado dessa forma. Entendemos que esse seja um movimento que implica um
duplo sentido, já que identifica o tipo de conteúdo como proibitivo de alguma forma e ao
mesmo tempo o publica redundando sua relevância com o ato mesmo da proibição. Nas redes
sociais a inscrição da proibição visa informar o leitor e atrai-lo para a leitura mais do que
informá-lo e protegê-lo. Cabe apontar, ainda, que o leitor imaginado nos dois casos é o adulto
responsável e cioso por direito em contraste com a criança em formação e não ciente.
É através desse mecanismo perverso, já que desvia ao mesmo tempo repõe o
conteúdo polêmico, que procuraremos identificar quais sentidos estão sendo articulados a
partir da dinâmica de leitura na rede. Poderemos identificar assim, genericamente, se os
mesmos tipos de conteúdo, segundo as rubricas utilizadas para a classificação indicativa de
produções audiovisuais, aparecem e são marcados na rede de acordo com essa forma de
indexação de conteúdos.
Pretendemos, com isso, observar a circulação de conteúdos que provavelmente seriam
mote para a classificação e debater sua apropriação pelos novos meios. Em relação à internet,
tal verificação poderia ser apontada como inócua, já que não há uma estrutura prévia que
categorize para o usuário o tipo de conteúdo com o qual ele terá contato. Esse debate passa
pela conceituação da mídia internet e a definição de seu público.
No primeiro caso, pretendemos tratar do fato de que a classificação indicativa não é
possível nos mesmos moldes pois o tempo de experiência da mídia audiovisual é diferente
daquele da internet. Enquanto num existe um suspense para a vinda das cenas, que são
sempre subsequentes uma à outra e até o momento da aparição em tela são opacas à visão,
na internet estamos tratando de um pacto de leitura, em que de alguma forma tudo está dado
de uma só vez a partir do momento do acesso.
Uma das principais diretrizes da classificação indicativa é uma preocupação com a
infância. Na rede, o público infantil poderia, na prática, ser bloqueado sempre no momento do
acesso. Mas uma vez passada essa barreira, a acessibilidade aos conteúdos estaria aberta,
tendo em vista o que articulamos sobre a dinâmica do meio.
Nosso objetivo aqui não é buscar maneiras de categorizar conteúdos na rede, mas de
outro modo, fazer ver a exposição de conteúdos que provocariam uma vontade de indicação e
sua circulação nas redes sociais. A marcação dá a ideia do que é ou deveria ser barrado,
interdito de alguma forma. Entendemos, para defender essa hipótese, que as redes sociais têm
se estabelecido como um lugar de fala descomprometida com o crivo de certos tabus sobre a
palavra.

418
Nos termos da #interdição

Nosso debate, assim, é informado discursivamente pela perspectiva de que há uma


interdição sobre a palavra e ao mesmo tempo a possibilidade não excludente de sua circulação
na rede. Consideramos essa perspectiva teórica relevante, pois é sobre a circulação dos
conteúdos que a classificação indicativa visa atuar e, nesse sentido, ela redobra a estrutura
polêmica de certos enunciados.
De certa forma, tratamos do trabalho de classificação indicativa enviesadamente, já que
não analisamos seu processo de indicação, mas pretendemos recuperar a repetição de seu
procedimento imitada em outra instância. Os usuários das redes sociais repetem o processo de
indicação, marcando certos conteúdos que publicam como autores pontuais na rede.
Recuperamos a restrição que Foucault identifica de acordo com a situação de
enunciação para dizer que, especificamente neste quesito, nas redes sociais ela é
principalmente limitada a um número de caracteres, linkada a outras e identificada a um perfil,
seja ele falso ou não. Noutro nível, da relação entre o que está dito e o não-dito, a palavra se
apresenta como sugestiva e ao mesmo tempo encobridora do conteúdo a ser descoberto na
interação com o leitor, estando por vezes disponível a partir de um click ou não incluso na
sequencia articulada.

(...) a acontecimentos, a instituições, a práticas; as palavras empregadas, com


suas regras de uso e os campos semânticos por elas traçados, ou, ainda, a
estrutura formal das proposições e os tipos de encadeamento que as unem
(FOUCAULT, 2008: p.12).

De acordo com a perspectiva de análise que propomos, mais do que recuperar


tabuísmos linguísticos, temos como retraçar aqueles termos que geraram polêmica por sua
inserção. Assim, mais do que uma recuperação do imponderável como objeto, temos o
objetivo de retraçar o caminho de palavras encarnadas na ordem do discurso e que por seu
local e forma de inserção incitam o debate sobre sua própria condição. A diferença que
estamos pleiteando é entre o irrepresentável e a remetência ao próprio jogo da
representação, observando termos que fazem ver sua condição limítrofe.
Nesse sentido, dizer que trabalhamos com termos limítrofes significa checar o desenho
da normalização moral, social e política através de um quadro discursivo. A classificação
indicativa se apresenta como uma das importantes instituições apontando e sistematizando os
cenários e cenas específicas possíveis de causar perturbação à ordem. Embora, em todos os
casos, possamos, ainda com Foucault, identificar a atração e o reforço a cada momento em
que a indicação de tais termos limítrofes (já incorporados) são acionados.

419
Nos termos da #interdição

A relação entre a dinâmica de suspensão do momento de completude do sentido em


uma única postagem se coaduna com a estrutura ramificada da rede, fazendo com que a
intelecção seja feita na ligação entre dois termos ou mais. Ainda, tais termos pertencem a
níveis diferentes, sendo que um tem caráter de abertura e o último de conclusão.
Consideramos, assim, com Pierre Lévy, que percorremos uma cartografia.

Tal é o trabalho da leitura: a partir de uma linearidade ou de uma platitude


inicial, esse ato de rasgar, de amarrotar, de torcer, de recosturar o texto para
abrir um meio vivo no qual possa se desdobrar o sentido. O espaço do sentido
não preexiste à leitura. É ao percorrê-la, ao cartografá-la que o fabricamos,
que o atualizamos (LÉVY, p.20).

Destacamos nessa cartografia o caráter de atualidade lógica dos termos, sendo que a
comunicação é realizada ao mesmo tempo segundo uma repetição histórica e uma
presentificação que empenha o termo dito. Nesse sentido, é palpável uma virtualidade do
sentido atualizado já que ele pertence ao momento da ativação da ação da leitura.

Já o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual. Contrariamente ao possível,


estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de
tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um
objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a
atualização (LÉVY, p.5).

Entendemos que a fragilidade do rastro deixado por um documento se acirra quando


tratamos dos novos meios, no eco ainda mais longínquo do ato de sua criação em favor de
uma força pelo enredamento de seus termos tomados em conjunto.

(...) reconstituir, a partir do que dizem estes documentos - às vezes com meias-
palavras -, o passado de onde emanam e que se dilui, agora, bem distante deles;
o documento sempre era tratado como a linguagem de uma voz agora reduzida
ao silêncio: seu rastro frágil mas, por sorte, decifrável” (FOUCAULT, 2008:
p.7).

Concentramo-nos assim na determinação da existência de um tabu sobre a palavra


articulado como base para os estudos de discurso, já que esta mesma interdição será

420
Nos termos da #interdição

conformadora da dinâmica social. Entretanto, dizer de um tabu sobre as palavras não implica
relacionar os termos interditados em si, já que não há acesso ao que seria sua forma original.
Deparamo-nos, então, nos discursos com uma forma de termos sobre os quais apostamos uma
confluência polêmica. São termos que, em primeiro lugar, nasceram para a ordem da
linguagem e, em segundo lugar, são ambíguos o suficiente para levantar polêmica sobre sua
colocação: no sentido de onde e como são ditos.
É nesse sentido que temos acesso a tabuísmos linguísticos que circulam pelas redes
sociais. Tais termos desenham caminhos de revelação e ocultamento através de camadas de
links. Defendemos, assim, que a estrutura rizomática com que se apresentam conteúdos na
web se coaduna com níveis possíveis de explicitação do dito.

De novo, os critérios mudam. Reaproximam-se daqueles do diálogo ou da


conversação: pertinência em função do momento, dos leitores e dos lugares
virtuais; brevidade, graças à possibilidade de apontar imediatamente as
referências; eficiência, pois prestar serviço ao leitor (e em particular ajudá-lo a
navegar) é o melhor meio de ser reconhecido sobre o dilúvio informacional
(LÉVY, p.22).

Os links dão abertura ambígua em relação ao conteúdo para o qual apontam. E o fato
de que nem todo conteúdo é desejavelmente apresentado na primeira página corrobora a
construção de uma dinâmica de produção de sentido com momentos de apresentação de
conteúdos e de seu ocultamento que por sua vez redireciona para nova exposição de um
conteúdo inesperado. “(...) a leitura dos conteúdos nos meios digitais foi transformada pela
lógica dispersiva e descentralizada do hipertexto. Os nós e as conexões desenvolvidas pelo
hipertexto agregam à escrita digital processos de navegação associativos e rizomáticos”
(MIELNICZUK & DALMASO, 2012: p.239).
Pretendemos teoricamente interligar a possibilidade de interdição de conteúdos como
processo de conformação de enunciados e o que consideramos ser o crescimento exponencial
da circulação destes mesmos enunciados a partir da possibilidade de interligação nas redes e,
especialmente, de replicação nas redes sociais. Para defender tal argumento não nos impede o
processo de desvio que tais enunciados mostram durante o circuito de circulação justamente
por acreditarmos que a condição polêmica se mantém como marca formal de sua apropriação.
As redes sociais têm entre suas funções a de serem articuladoras de referência de
forma que uma publicação nunca se basta em si, mas aponta (tendo incluído um link
diretamente ou não) para imagens, vídeos e outros textos. Resulta disto que a análise é um

421
Nos termos da #interdição

desafio de percorrer caminhos digressivos até que se componha o sentido da geralmente curta
– e restrita a 140 caracteres, se estivermos tratando do Twitter - publicação inicial. Dessa
forma consideramos uma publicação em rede social como um texto intertextual, ao mesmo
tempo limitado e desdobrado, limitado em seu primeiro nível de apresentação e desdobrado
nas camadas de texto que referencia e que abrem outras publicações superficiais neste
sentido.
Pretendemos que a temporalidade da rede não permite a indicação da classificação
etária antes do momento do acesso ao conteúdo. Ao menos as páginas de entrada e a
postagens de primeiro nível nas redes sociais chegam ao leitor sem aviso, sendo que não há
uma tela específica que possa obscurecer para aqueles que não desejam ter acesso. É verdade
que há programas que bloqueiam o acesso a determinados sites a partir da organização de
uma configuração específica.

#proibidoparamenores
Recuperamos uma relação de posts que consideramos significativos das dinâmicas que
procurarmos articular. A listagem procura ser exemplar, baseando-se no mecanismo de busca
do Google recuperando dados indexados no site de interação social Twitter. A seleção dos
posts para compor a análise feita a seguir deu-se qualitativamente.
A decisão de mapear as publicações marcadas com a hashtag em questão.
Numericamente ela não é uma marcação popular, tendo gerado uma listagem de 58
ocorrências no período de novembro de 2008 a junho de 2013, quando a última versão dela foi
gerada. No entanto, consideramos que seja significativa por usar exatamente as palavras que
também marcam o sistema de classificação indicativa nacional.
Os temas relacionados nos posts fazem menção genericamente à relação sexual, à
exposição do corpo masculino ou feminino, referência a músicas com letra chamativa (chamou
a atenção de quem escreve o post), a conversa privada entre amigos, à própria indicação para
o horário televisivo e ainda o jogo com algo tão horroroso que deveria ser barrado (por
exemplo, a feiura de alguém).
Selecionamos algumas publicações que consideramos relevantes para discutir a esfera
em que se situam os conteúdos pretensamente proibitivos. Lembrando que essa indicação não
foi realizada oficialmente, mas por deliberação de usuários das redes sociais.
Há postagens que fazem referência explícita a conteúdo relacionado ao sexo e indicam
a proibição para menores, como em “RT @ChanStudios: Desenhos eróticos pra quem curte

422
Nos termos da #interdição

uma sacanagem... http://bit.ly/gCWVuv #proibidoparamenores”77. Ou ainda em “2 posts


novos com fotos AMADORAS enviadas pelo marido da Gordelícia. Veja agora em
http://santafartura.blogspot.com/ #proibidoParaMenores”. A proibição refere-se à
apresentação de conteúdo pornográfico.
Em outros casos, há uma sugestão da relação com conteúdo proibitivo no nível de um
subentendido ou de uma distensão na narrativa hipermidiática a ser resolvida com o acesso ao
conteúdo referenciado. No caso do post de “King Of The North”: “@iansfans_ depois te conto
e mostro onde temos uma reserva hoje maisssss tarde hahahahahah <333
#proibidoparamenores” temos uma sugestão não linkada do lugar onde se fez uma reserva. As
referências para o leitor param neste ponto, como não nos é oferecida a referência de lugar.
Ficamos com a sugestão de que o encontro se dará mais tarde (provavelmente a noite?) e que
o lugar é pretensamente proibido para menores.
Assim, ao mesmo tempo em que a conversa tem conteúdo restrito ao casal que
interage também publica a informação de que haverá o encontro e sugere de que tipo ele
será. Selecionamos esta postagem justamente para demonstrar o mecanismo de uso da
hashtag #proibidoparamenores como forma de subentender e adiar a referência enquanto
implicamos que se trata de um encontro adulto. Isso ocorre sem necessariamente haver
explicitação do conteúdo proibitivo. Esta seria uma primeira forma de utilização dos dizeres
indexadores.
Ele também é utilizado para sugerir conteúdo sexual em conversas privadas.
Exercendo a mesma dinâmica de ocultamento e revelação, não se tem acesso à conversa
existente, mas ao comentário sobre ela e que a marca como proibida para menores, como no
tweet de Pri Lourenço: Se alguém, um dia, ler minhas conversas com a @jessmoraes10 no
msn... Nossa, nem quero pensar HDAUSHUISAHDUHDHDUHUISA #proibidoparamenores”. O
mesmo ocorre com a postagem de maylita, em que é citada a referência de onde a conversa
entre os envolvidos se passa (Facebook e Twitter), mas que não é repetida na publicação. A
determinação de que a conversa seja proibida para menores de 13 anos é arbitrária. “eu & a
@staystrongs3 estamos conversando no twitter e em dois posts de mural do face...o negosio
ta tenso...#ProibidoParaMenores de 13 anos”.
Há casos também em que a mesma dinâmica referenciando uma terceira pessoa –
como no caso do post de Luiza Valdetaro, um garçon -, que como nós leitores do post,
acompanha a conversa numa posição externa: “Almoço de amigas no sushi leblon ainda em

77
A grafia das publicações foi mantida como no original.

423
Nos termos da #interdição

comemoração ao meu niver! O garçon é q deve ter adorado os papos... haha...


#proibidoparamenores”
No caso do post de Musicom: “#ProibidoParaMenores Veja aqui uma lista de 10 clipes
proibidos pra quem tem menos de 18 anos http://ow.ly/kDnNK Via @mdiscosqamigos” temos
um caso mais direto de referência à classificação de produtos culturais, já que se trata de
videoclipes de música. Ao mesmo tempo não há formalização para a indicação de idade destes
produtos. Assim, o uso da hashtag opera como se fizesse a indicação oficial e marca as
produções como proibitivas para menores de 18 anos. Dessa forma, mais uma vez, aguça a
curiosidade sobre o material ao mesmo tempo que informa sobre o que está apresentado. O
material está disponível em uma listagem e a postagem é de responsabilidade de uma
entidade coletiva (não um indivíduo) denominada Musicom (relativo à Agência Musicom).
O sistema de classificação indicativa também é referenciado diretamente quando se
comenta sobre um filme específico, como no tweet de Vanessa Kovalczuk: “aah! já assisti ;) o
primeiro é bem melhor RT: @juniiior: Caralho, que filme vai ser esse! http://bit.ly/b9RI6N
#Terror #ProibidoParaMenores”. Nesse caso, a sugestão da classificação não está relacionada
a um conteúdo sexual, mas ao gênero do terror.
Da mesma forma a classificação televisiva é referenciada quando se publica sobre a
transmissão de jogos de futebol, que normalmente seriam indicados como programas livres.
“A situação do Fl4mengo tá tão ruim que o SporTV e a Globo estão proibindo os jogos a passar
antes das 22:00. #ProibidoParaMenores!”. A relação da anedota articulada neste post implica
que programas passando depois das 22h são ruins para menores de idade, ou simplesmente
são ruins, como um time de futebol jogando mal. Nesse caso, jogar mal fica equacionado como
conteúdo proibitivo como sexo e violência.
O futebol também é referência no post de “Moro em Santos” em que é proibida a
implicada feiura do jogador Tevez: RT @milton_neves - O Tevez é feio ou não? Confira a foto
mais horripilante do argentino http://twitpic.com/2jonfu - #ProibidoParaMenores !!!”. Mais
uma vez a relação que se faz é entre o conteúdo indicado e algo socialmente indesejável, não
para determinada faixa etária, mas em geral, como a feiura.
E o limite das 22h, como referência de horário em que conteúdos proibitivos poderiam
ser enfim liberados é retomada no post de Anderson de Oliveira: “Bem, já passou das 22:00h
então posso publicar este link http://bit.ly/bERvjN #ProibidoParaMenores”. Devemos
considerar que na internet o que se publica fica acessível e publicado independentemente da
vinculação com o horário, o que torna interessante que essa marca seja acionada como
recurso discursivo ao tratar das novas mídias. Mais uma vez, como temos visto nos outros

424
Nos termos da #interdição

exemplos, a referência ao sistema da classificação indicativa assumido como articulação


comunicativa sobre a interdição.
A utilização da hashtag que estamos retraçando também aponta para conteúdos que
não necessariamente seriam indicados como proibitivos, como é o caso do tweet feito por
Elisa “gostosa #proibidoparamenores pic.twitter.com/NM7jI7oIcv” que remete a uma foto. Ao
invés de suprir a expectativa de uma imagem de um corpo, o que nos é mostrado é um retrato
de rosto de uma jovem ao celular. Ou seja, a indicação de proibição se estabelece numa
dinâmica de expectativa com o conteúdo a ser exibido e muitas vezes não se cumpre
exatamente a promessa de obscenidade.
É relevante também o movimento de repetir a referência de que se trata, ainda que
seja para dizer que ela é indesejável, como no post de MODAGUIDE: “#naosouobrigada RT
@cotrimus Digitei "FACILIDADE" no Google Imagens e apareceu isso | http://bit.ly/cD1m07 |
#quehorror #proibidoparamenores”. No momento de nosso acesso ao conteúdo apontado ele
já não estava mais disponível e este fato gera uma dinâmica interessante de que a publicação
feita intertextualmente tem agora que se relacionar a um certo vazio. Esse vazio referencial
não o consideramos nulo de conteúdo, pois a estrutura disponível nos informa que naquele
ponto haveria uma imagem com as características descritas.
A proibição para menores se dá em restrição à exibição da imagem do corpo masculino
ou feminino nu, como indicado no post de Frank Jefferson “Como assim? Mãe natureza com
senso de humor? Muito louco!!! #ProibidoParaMenores kkkkkkkkkk minilua.com/mae-
natureza-tambem - senso - humor - 4/…” Ele faz referência à a uma sequencia de fotos que é
acessada através do link disponível – fazendo jus à dinâmica de acesso ao conteúdo em
camadas que recuperávamos teoricamente. As fotos mostram elementos da natureza,
especialmente árvores, pedras e animais que aludem às formas dos corpos humanos, em
particular órgãos genitais.
De um modo geral apontamos nas publicações marcadas como #proibidoparamenores
um aguçar da curiosidade por um conteúdo pretensamente interdito. Essa interdição é, em
alguns casos, caracterizada pela migração de um conteúdo apropriado ao ambiente privado
para o público, no caso, as redes sociais. Temos que ressaltar que as redes sociais têm
assumido um papel limítrofe entre essas duas esferas. Entendemos que este seja uma
interdição em relação à situação comunicacional.
Em outros casos, a interdição incidiu sobre o objeto de que se trata, por exemplo, o
corpo desnudo ou o ato sexual. Interessante apontar que nesse caso, foi recorrente a inclusão
de um link para imagens – que entendemos como epíteto da dinâmica de revelação do
proibido ou ocultado. Isso ocorreu em detrimento do relato textual que articula uma sugestão.

425
Nos termos da #interdição

Consideramos, assim, que esta seja a segunda forma de articulação de interdição presente na
dinâmica comunicacional das redes sociais.

Sobre os caminhos da classificação indicativa e a circulação de conteúdos na rede

Os conteúdos marcados por hashtag se relacionam, por um lado, com o ato de marcar
e, por outro, com a identificação do conteúdo. Ao marcar, cria-se uma rede entre os termos
marcados da mesma forma. Tal indexação relaciona-se a um conceito sobre o que está dito e,
dessa forma, dizemos que ela identifica o conteúdo no nível de seu significado. Em relação ao
arcabouço significativo da proibição, podemos dizer que o sinal da marcação feita nas redes
sociais é invertido quando comparado àquele da classificação indicativa. No primeiro caso o
conteúdo é marcado justamente para que seja visto na equação “Se você é maior de idade,
veja isto”.
Podemos acrescentar ainda que esse momento da visão inclui também uma
visualização imaginada e fantasiada do proibitivo. Já no caso da classificação indicativa a
indicação visa isolar e proteger tal visão, na equação “se você é menor de idade, não veja isto”.
E nesse caso podemos discutir o caráter de fantasia inerente a toda vez que se aciona uma
marca. Reforçamos que os caminhos discursivos do mesmo conteúdo são ativados com ela.
Ainda uma outra diferença entre o que visa a classificação indicativa e o que se tem
como circulação de conteúdos nas redes sociais é o que podemos chamar de um isolamento
do produto. A classificação incide sobre um produto definido e comercializável a partir de um
sistema definido de rubricas por faixas etárias. De outro modo, a marcação nas redes sociais
implica variedade significante na rubrica utilizada e combinação de referências a partir de
materiais diversos (arquivo de imagem, vídeo e áudio) no momento da publicação. A
problemática de aproximar o trabalho de classificação indicativa à publicação de conteúdos na
internet justifica-se, assim, pela disparidade da conceituação que envolve ambos os processos
de marcação sobre produções culturais. Num caso, a indicação de restrição ao acesso e,
noutro, uma pretensa ideia de abertura associada aos novos meios.
Achamos, de todo modo, o exercício relevante justamente por ambos os processos
poderem ser entendidos como processos de autoria sobre conteúdo socialmente polêmico,
embora tenhamos claro que a destinação de ambos os processos diferem. No primeiro caso
trata-se principalmente de um chamado à curiosidade do leitor, enquanto que no segundo
pretende-se um alerta com relação ao conteúdo direcionado a um leitor desavisado.
Entendemos, também, por outro lado, que tanto a marcação das publicações como o
trabalho da classificação indicativa acabam por indexar conteúdos que por serem marcados

426
Nos termos da #interdição

são ditos a fugir da norma aceitável para certos ambientes e situações. O caráter dessa fuga à
normalidade vai variar em cada caso específico, de acordo com o desenho discursivo associado
a temas tabus. Não temos a pretensão, com a restrita seleção realizada para este artigo de
fechar um campo sobre os possíveis temas a serem indicados como proibidos para maiores.
E entendemos também que isso não seria possível justamente pela composição
específica de cada publicação – elas são tão variadas quanto as disputas por hegemonias.
Concluímos, assim, que cada publicação nos apresenta o desenho de mundo dessas
hegemonias e coloca em ação o conflito entre elas. Temos sim, dessa forma, o objetivo de
realizar uma amostra de como ocorre este processo e a gama temática envolvida. Ainda,
pretendemos apontar como as articulações apresentadas se assemelham aos temas indicados
para maiores de idade e como dialogam com o processo de classificação indicativa.
Podemos sugerir finalmente que a indicação da classificação serve mais ao aguçar da
curiosidade adulta sobre a produção cultural sendo classificada do que à preservação de
possíveis espectadores infantes. Dizemos isso ao menos com base no mecanismo de utilização
da chave comunicativa utilizada pelo mecanismo oficial de classificação, entendendo que,
como discurso, ela precisa de uma forma midiática, uma repetição de seus elementos e uma
apropriação pelo público.
Devemos recuperar ainda a ideia de que o sistema de classificação indicativa tem sido
apropriado em sua linguagem comunicativa para significar a marca da interdição a conteúdos.
Os novos meios colocam problemáticas às dinâmicas sociais de controle e interdição. Mais do
que dizer que o sistema de classificação indicativa exerce um processo de controle, ele de todo
modo tenta escrutinar conteúdos e tenta controlar sua indicação, ainda que não restrinja sua
circulação. Entendemos que não seria o objetivo oficial repetir o sistema de classificação
aplicado aos meios audiovisuais à internet. Mas definitivamente a articulação dos conteúdos
em rede impossibilita uma ação de marcação linear e direcionada.

REFERÊNCIAS

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M. A.; MIRANDA, T. P. (Orgs.). Teses & dissertações: Grupo Protexto. V. 1. Fortaleza: Protexto;
UFC, 2005a [2003].[Cd-Rom].

______. Os chats: uma constelação de gêneros na Internet. Tese (Doutorado em Lingüística) –


UFC, PPGL, Fortaleza, 2006.

427
Nos termos da #interdição

CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006.

COSTA, Maria Cristina Castilho. Censura em cena: o teatro e a censura no Brasil, a partir do
Arquivo Miroel Silveira. São Paulo: Edusp & Imprensa Oficial, 2006.

COSTA, Cristina (org.). Seminários sobre censura. Núcleo de Pesquisa em Comunicação e


Censura. São Paulo: Balão Editorial/FAPESP, 2012.

CRYSTAL, D. Language and the Internet. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade. Vol. I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições
Graal, 1997.

__________. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2008a.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Rio: Forense Universitária, 2008b.

GOMES, Mayra Rodrigues; et alli. Palavras proibidas: pressupostos e subentendidos na


censura teatral. São José dos Campos: BlueCom, 2008.

GOMES, M. R. Sobre supervisão e controle: um exercício em torno da classificação indicativa.


Revista Matrizes, ano 7, no.1, jan.-jun. 2013. p.127-147.

GUIRAUD, P. Les gros mots. Paris: PUF, 1976.

KOMESU, F. Entre o público e o privado: um jogo enunciativo na constituição do escrevente de


blogs da Internet. Tese (Doutorado em Lingüística) – Unicamp, IEL, Campinas, 2005.

LEÃO, Lúcia. O Labirinto da Hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço. São


Paulo: Iluminuras, 2001.

LEVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.

LIPOVETSKY, Gilles. O crepúsculo do dever: a ética indolor dos novos tempos democráticos.
Lisboa: Dom Quixote, 1994.

428
Nos termos da #interdição

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, Secretaria Nacional de Justiça, Departamento de Justiça,


Classificação, Títulos e Qualificação. Classificação Indicativa: Guia Prático. Brasília: Ministério
da Justiça, 2009. Disponível em: <www.mj.gov.br/classificacao>. Acesso em: 1o maio 2012.

MONTEIRO, J. L. As palavras proibidas. Revista de Letras, v. 11, n. 12, p. 11-23, Jul./Dez. 1986.

XAVIER, A. C.; SANTOS, C. F. E-fórum na Internet: um gênero digital. In: ARAÚJO, J. C.; BIASI-
RODRIGUES, B. (Orgs.). Interação na Internet: novas formas de usar a linguagem. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2005. p. 30-38.

429
Nos termos da #interdição

13 – Relato Intercom 2014 (Texto completo)


RELATO GP Mídias, Liberdade de expressão e censura. Intercom 2014
Foz do Iguaçu

Presentes na sessão: 16 pessoas.

O GP foi aberto com fala introdutória da professora Maria Cristina Castilho Costa sobre a
trajetória de pesquisa que deram origem ao grupo. Tratou do Arquivo Miroel Silveira, da
passagem entre projetos temáticos de pesquisa até chegar à necessidade de estudar a censura
na atualidade. “A censura vira tema de anedota” (Incluir trechos de texto do grupo sobre essa
trajetória). Comentou como a censura é hoje, pulverizada, difusa. Defendeu a proposta política
de se estufar esse tema. Temos a intenção de fazer o debate sobre censura e não fazer esse
tema virar pó.
Comentou a crise da universidade pública em são Paulo, que afetou a vinda de pessoas ao
grupo. O GP é tanto uma proposta científica quanto política.

Apresentação Bárbara Heller


Título:
Há um fracasso quanto à isegoria. Apresenta exemplos de casos em que havia uma temática
sexual e que foi polêmica. Por exemplo, 50 tons de cinza, Diário de Anne Frank e seriado
(pegar nome). Imagens de Pedro Martinelli, primeiras imagens de indígenas nus na expedição
dos irmãos Villas Bôas, outra foto é a criança no peito da mãe. Gerou debate com as mães que
amamentam em público. Foram censuradas pelo Facebook pelo nu.
A questão da Isegoria e a possibilidade da ação da internet.

Renato Rovai
A mídia livre, a blogosfera progressista e a democratização da comunicação no Brasil em
Creative Commons
Orienatndo de Sérgio Amadei

Perguntar o que é a mídia livre e como conectar isso com a criação de um novo espaço
público.
Pensar copyright e direitos de autor. Opção pela livre reprodução na blogosfera para que ela
crescesse.

430
Nos termos da #interdição

Fez um recorte da própria tentativa de democratização da internet


Relação entre TCP/IP e a derrubada do muro de Berlin.
O gosto por compartilhar, delights do Cheer/ Share
Diferença entre blogs e newsletters. Textos enviados para listas de e-mails.
Os blogs no Brasil caminhavam pela cultura, pela academia e pela tecnologia.
Um tipo de blog político começou a aparecer (Ricardo Noblat)
Disputa entre a mídia massiva e a massa da mídia (jornais estabelecidos e a massa da internet).
A circulação e a massa do copyright. Pensar na circulação de valores políticos.
O que faz a dinâmica da republicação e de colaboração.
Licença dentro do Creative Commons contra o copyright. Como lidar com a liberdade de
expressão na nova esfera pública.
Malini e Antoun – Hacker das narrativas
Copyright e o dilema da definição de autoria.
Lei de direitos autorais.

Lilia
O controle do que dizemos visto pelas políticas do Google
Controle e vigilância na web. Temos a sensação de liberdade e de que não estamos sendo
vigiados.
E a sensação da vigília constante?
Um sistema de classificação que devolve o que clicamos. Um espelho que nos devolve a
sabedoria das massas,
Há um bombardeio Google. A manipulação e a compra de anúncio no buscador do Google.
Lógica da conexão de pessoas a partir do armazenamento de cookies.
Cidadãos e as redes. A circulação de pessoas como cidadãos.
Perguntar a ela se o controle não é por princípio um recurso na linguagem.
Pensar no valor de circulação das palavras como valor que pode ser manipulado
Projeto “Save the internet”, para a neutralidade das ações na rede, e não controle das pessoas
na rede.
Procura por uma inclusão ética do digital
Perguntar: o processo político e da forma da rede, da utilização da ferramenta.

Roberto Teixeira
Apropriação da rede social Facebook nas manifestações de Vitória – ES em 2013

431
Nos termos da #interdição

Mostra foto de Vitória, terceira ponte, que liga Vitória a Vila Velha – Ponte Interditada. Há a luz
dos celulares aparentes na multidão.
O lugar das redes sociais seriam o quinto poder. Perguntar quanto poder haveria.

Cristina Costa

Apresentação da estrutura do Obcom, da coleta de matérias na internet.


Apresenta a coleta de matérias que foi dedicada à censura em geral (seu tema) no último
simpósio do Obcom.
Comenta os seguintes tópicos a partir delas:
- Cada país comenta a censura de seu vizinho
- A censura não é restrita a regimes ditatoriais, mas também de países democráticos hoje
- Não há um órgão censor, mas instâncias instituídas (Festivais, Comitês,...) que decidem o que
deve ser feito.
- As igrejas tem sido uma instituição censória
- A censura é caso a caso, particularizada, dando a entender que ela está desaparecendo.
- Características comuns:
Crescente importância da imagem
Visão ultrapassada da comunicação (a lei tem uma percpeção da comunicação, o público é sem
reação, mantém a ideia da mídia de massa).
- Facebook cria uma censura globalizada, algoritmos, processos globalizados de censura

Perguntas:
Papel dos blogs na esfera pública. Se ainda tem força política.
O poder do Google é também de natureza política, social (e não só de negócios)
Mistura entre publicidade #vemprarua” da Fiat com o que foi usado como marca dos protestos
A circulação cultural e política na rede em contrapartida do valor econômico.
Formas de censura na Internet eliminam o contexto e o teatro de revista e as imagens em
plavras.

Questões: o que há por trás de tantos termos como: mídia livre, censura e democratização
Pensar que tipo de blog posso criar, se literário e/ou que alimente as pesquisas.
Pensar a questão da visibilidade ou não das pautas.
Criação de muro e construção de muros virtuais

432
Nos termos da #interdição

Pensar em compromisso e comprometimento da liberdade de expressão. É possível ser livre


manifestando-se através das funcionalidades e aplicativos do Google?
Ver a relação do V de vingança com a imagem do anonimato.

Segundo dia de grupo


11 pessoas

Trabalho de Cláudia Nonato, junto com Roseli


Censura no mundo do trabalho
Cita a cultura do silencio, como a submissão. Venício Lima também encara que o silencio é
uma censura disfarçada.
Os manuais prescritivos já há uma condução sobre como trabalhar.
Qual deve ser a instância de regulação e normatização, como discutiremos quais as diretrizes.
Qual a condição de trabalho deve ser levada a cabo?
Dá como exemplo o atendimento por telemarketing.
Discute, como Bernardo Kucinsky, sobre a autocensura. Como ela é vista com naturalidade os
cortes e as normas

Trabalho Nara Lya Cabral


Emancipação ou censura?
O politicamente correto nasce como defesa das minorias. Seria incorreto usar certas palavras.
Qual o limite da liberdade de expressão, na divisa do preconceito, no racismo, na violência.
Há uma cartilha do politicamente correto.
Princípios fundamentais dos direitos humanos. Perceber quais os discursos estão embasando
os preceitos do politicamente correto.
Mostra a dualidade entre entendê-las como uma nova forma de censura e a construção de um
caminho para a civilidade. Esse paradoxo baseia muitos dos trabalhos.
O politicamente correto que enuncia as interdições que ele gera. É político pois ele pede
ações, atribui marcas de maneira não comprometida.
Cita Bourdieu e a violência simbólica. Pensa o signo em sua tomada ideológica.
Bakhtin
A alta e a baixa língua como divisão social. Jargão de área ou de subdivisão social.
Pensa o politicamente correto como forma de interdição.
Cita o pensar sobre a vida pública setorizadamente.
Pensadores liberais tem defendido certas restrições ao dizer.

433
Nos termos da #interdição

O politicamente correto é um conceito em disputa. E a liberdade de expressão como campo de


luta.

Trabalho Filipe Marcondes


Sites de paródia
Fake news, notícias que não tem um pé na realidade.
Trabalha com o caso Falha se São Paulo.
Mostra visualmente como as imagens do site e da paródia eram parecidos.
Há o processo em www.desculpemnossafalha.com.br.
A dispersão da mesma notícia em outros endereços, por autores diversos. A responsabilidade
legal é de quem publica. (Pensar nesse sentido as questões de autoria.
O sistema da internet e a replicação e descontrole dos conteúdos. O valor que circula é da
assunção de autoria (por parte de quem decide replicar).
Questiona os princípios do jornalismo e a construção da credibilidade jornalístico e a existência
da paródia.
Qual era o objetivo do ataque à instituição jornalística, quando ela chega à internet. E brincar
com a flexibilidade para a circulação do que foi postado.

Ana Inês (UFJF)


Para uma comunicação democrática.
Projeto de Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual
O que está inscrito como democratização?
Consumo de conteúdos regionais pelos pares. Produtos brasileiros e argentinos no Uruguai.
Dilma oferece ampliação do acesso, mas pede-se uma lei que organize a produção.
Importante que não existam monopólios
Sujeitos políticos como novas vozes. Qual é a posição política e diferenciada da cultura.

Veruska.
O corpo como mídia e como texto
Existe a coleta de dados através de aparelhos. Há o contato com o outro e a busca de canais de
comunicação. Há a importância de situar um terceiro em relação a um saber (de como
funcionam os aparelhos). Pode-se fazer a leitura dos pacientes, dos corpos.
A vinculação do paciente através do nome. A proposta de humanização e a proposta política
de estar no mundo.
Qual a divisão entre saúde e doença. O que é um nome e um lesionar.

434
Nos termos da #interdição

Perguntas
Será que é possível um mundo sem normatização, livre.
Caso a resposta seja negativa, quais serão as instâncias de regulação.
O politicamente correto e a ampliação do espaço público e de visibilidade. A regulação fica
disseminada.

Assembleia do GP
Representatividade de um campo de pesquisa entre instituições e em níveis de formação
diferentes.

435
Nos termos da #interdição

14 - Universidade Federal do Mato Grosso – Campus Araguaia (Resumo)


Mídias digitais na prática profissional jornalística: desafios para a liberdade de
expressão
Proposta
As mídias que envolvem o uso de plataformas digitais e o acesso à internet representam,
ao mesmo tempo, uma abertura e um desafio para os debates sobre a liberdade de
expressão hoje. Tendo um papel marcante para a renovação dos processos
comunicacionais, sua presença é crescente, desde a década de 90, na vida pessoal e na
dinâmica de trabalho das empresas. Se por um lado temos a possibilidade de trocar
informações e de expor conteúdos em nível mundial, podemos nos questionar sobre se a
entrada no ambiente da rede ocorre de maneira igualitária. Mais ainda, observamos o
remodelamento dos processos de interdição inerentes ao exercício de articulação na
linguagem. Para pensar, assim, a prática jornalística é necessário desenvolver uma
consciência sobre os recursos disponíveis nas novas mídias como forma de lidar com as
seguintes questões: os limites entre o local e o global; a fidelidade do conteúdo postado
na rede; sites de notícias no contraponto com blogs; os limites entre o pessoal e o
privado. O debate sobre a liberdade de expressão nos novos meios só pode ser levado a
cabo se ele está informado pelas novas questões que o próprio uso das ferramentas e
interfaces implica.

Nota biográfica
Pós-doutoranda na Escola de Comunicações e Artes da USP trabalhando junto ao
Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura (www.usp.br/obcom)
com bolsa Fapesp no projeto Nos termos da #interdição: uma rede significante de
palavras proibidas. Doutora em Ciências da Comunicação pela mesma Escola com a
tese Coincidências da Censura: figuras de linguagem e subentendidos nas obras
teatrais do Arquivo Miroel Silveira (2011). É também membro de MidiATO, grupo de
estudos de linguagem: práticas midiáticas. E-mail: andrealeite@usp.br.

436
Nos termos da #interdição

15 - Ibercom 2015 (Texto completo)

POSSIBILIDADES NARRATIVAS NAS MÍDIAS DIGITAIS78


NARRATIVE POSSIBILITIES IN THE DIGITAL MEDIA

Andrea Limberto79

Resumo: As mídias digitais têm desafiado alguns dos conceitos fundantes da


construção narrativa, especialmente como o oferecimento de uma unidade de
sentido e a evidência de um ponto de partida e de chegada claros. No
presente trabalho procuraremos estudar como alguns termos com reconhecida
recorrência nas redes, marcados como trending topics (TT, tópicos tendência
ou, ainda, em tradução livre, assuntos do momento) e indexados sob a égide
da hashtag podem construir um percurso narrativo através da sua repetição e,
ao mesmo tempo, um movimento de diferenciação em cada inscrição. Desse
modo, pretendemos situar a questão da novidade anunciada para estes meios
com base em modelos narrativamente e discursivamente reconhecíveis.

Palavras-Chave: Mídias digitais 1. Linguagem 2. Narrativa 3.

Abstract: The development of the digital media has challenged some o the
founding notions of narrative studies, especially that of the clear
acknowledgment of a textual unity and well defined start and end points. At
the present article we intend to investigate some of the terms posted on social
media which show recurrence, marked as trending topics (TT), indexed with
the hashtag symbol. We analyze how they can build a narrative trajectory
trough the process of both repetition and difference found in each inscription.
That way, we intend to ponder on the novelty expectation existing over the
digital media based on previously narrative and discursive identifiable
models.

Keywords: Digital Media 1. Language 2. Narrative 3.

As mídias digitais têm desafiado alguns dos conceitos fundantes da construção narrativa,
especialmente como o oferecimento de uma unidade de sentido e a evidência de um ponto de
partida e de chegada claros. Indicamos esses dois parâmetros como centrais para marcar a
diferença entre as produções narrativas para as mídias digitais em relação às produções

78
Texto apresentado na divisão temática Discursos e estéticas da comunicação do XIV Congresso
Internacional da Associação Ibero-Americana de Comunicação (Assibercom), realizado entre 29 de
março e 02 de abril de 2015.
79
Pós-doutoranda da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP),
estudando a interdição a obras artísticas e sua relação com as mídias digitais com bolsa Fapesp. É
doutora (2011) e mestre (2006) pela mesma instituição. E-mail: andrealimberto@gmail.com.

437
Nos termos da #interdição

ligadas à palavra escrita, especialmente como o livro e o jornalismo impresso. Acreditamos que
os caminhos para a produção narrativa na rede estão ainda está sendo experimentados e,
dessa forma, tem deslocado algumas das possibilidades de leitura escrita. Referenciamos
especialmente os trabalhos na área de arte digital como desafiadores das experimentações na
ordem da linguagem.
Não diremos que a narrativa nas mídias digitais rompem com preceitos postulados por uma
teoria narrativa e com cânones da narrativa clássica, mas que diante de novos suportes,
abrem-se as possibilidades de escrita. Tais preceitos que anunciamos como constantes numa
teoria da narrativa vêm sendo modificados e de alguma forma volatilizados em função de
obras mais abertas e dadas à articulação com outros textos na cultura, ainda que com a
manutenção do suporte escrito. O esgarçamento dos limites para a produção textual se revela
no nível da aproximação entre discursos: o referencial e o ficcional, o jornalístico e o literário,
um texto considerado fechado e a pretensão da realização de uma obra verdadeiramente
aberta.
Dessa forma, quando pensamos o digital, temos que situá-lo como uma abertura narrativa de
segunda ordem. Num primeiro nível está a aceitação e a circulação de narrativas que deslocam
discursos dos limites da produção textual e também da categoria de autoria. Num segundo
nível está o encontro dessa abertura com um suporte digital, cujas especificidades
potencializam certos caminhos que a produção textual já vinha trilhando. Implicamos aqui a
soma intertextual entre publicações através do estabelecimento de hiperlinks e, ainda, a
pulverização da autoria com a possibilidade de publicação multiplicada através de perfis
pessoais.
Neste ambiente, referenciado já por um grupo de importantes trabalhos que associam as
questões da linguagem textual com o crescimento da produção das redes, se estabelece um
novo parâmetro de produção narrativa. Este sim, ainda para ser estudado, acompanhado e
experimentado. Entendemos, por exemplo, que há um tipo de construção narrativa que
privilegia a hierarquia para a apresentação de informações. Trata-se do espaço
institucionalizado e bem desenhado dos websites ou páginas na internet. Ressaltamos, de
outro modo, a crescente presença da ligação que se estabelece nas redes sociais. Acreditamos
que ali exista uma das vocações da rede, que é o do fluxo entre suas extremidades
comunicantes. E, ainda que as regras do jogo para a publicação das falas esteja dada
alheiamente à essas extremidades da rede, elas agitam horizontalmente conteúdos.
Não devemos desconsiderar o tema da ordem do discurso instaurada em cada uma das
plataformas disponíveis para a comunicação social nas redes. Ao contrário, elas são
reveladoras de monopólios e interdições sobre a fala. No entanto, são os mesmos espaços que

438
Nos termos da #interdição

se nutrem pela ação de se conectar, de linkar, de executar o jogo da justaposição de


elementos. É nesse sentido que pretendemos averiguar as possibilidades narrativas que se
instalam nos interstícios de uma regra situacional de fala e da ação autoral de usuários. Tal
regra situacional de fala está exemplificada, por exemplo, pela quantidade de caracteres
autorizadas pela rede social Twitter, ou pelo impedimento da publicação de fotos de nu pela
rede social Facebook e, ainda, pela mais geral obrigatoriedade de criação de uma conta
associada a um perfil.
Como contraponto, algo da criação do usuário subsiste no uso de uma linguagem condensada,
pelo escape do controle feito por códigos binários dedicados ao rastreamento e pelo
falseamento de informações pessoais. Nessa abertura situamos as possibilidades digitais de
narrar. Alertamos que muito de seus artifícios já estavam canonizados na linguagem literária,
como a criação de pseudônimos, o respeito ao número de páginas e caracteres, ao formato da
publicação. Vamos repousar, assim, nosso argumento no fato de que esses processos, quando
tomados nas redes digitais, ganham em capacidade de multiplicação de autoria e da replicação
de conteúdos que se mantém conectados como num único texto.
No presente trabalho procuraremos estudar como alguns termos com reconhecida recorrência
nas redes, marcados como trending topics (TT, tópicos tendência ou, ainda, em tradução livre,
assuntos do momento) e indexados sob a égide da hashtag podem construir um percurso
narrativo através da sua repetição e, ao mesmo tempo, um movimento de diferenciação em
cada inscrição. Consideramos, assim, um repensar das próprias categorias narrativas, da
dinâmica de produção de sentido nas redes digitais, dos processos discursivos de repetição e
diferenciação. Reconhecemos tais processos como presentes na dinâmica da linguagem. Mais
uma vez, consideramos que haja dois níveis: aquele da diferenciação dos termos quando de
sua criação e postagem. Num segundo nível, entendemos sua dissidência e variação no
movimento de replicação. Tais termos mantêm-se ligados através de sua ordem significante ou
por via de seu conjunto referenciado.
Dessa forma, assumimos que, metodologicamente, o presente trabalho enfrenta um desafio –
que tem se colocado para os trabalhos que se dispõem com as chamadas mídias digitais – na
tentativa não exatamente de forçar a aplicação de conceitos, mas de atualizá-los e encontrar
melhores parâmetros descritivos. Muitos dos termos que estão sendo utilizados para
classificar as dinâmicas nos suportes digitais têm relação com tradições tecnológicas e não com
a cultura dos referenciados estudos de narrativa e de linguagem.
Nesse sentido, assumimos uma postura teórica baseada na aposta de que os debates sobre o
uso das mídias digitais e suas práticas comunicacionais podem ser enriquecidos a partir de um
assentamento no arcabouço conceitual dos estudos de linguagem. As relações estabelecidas

439
Nos termos da #interdição

especialmente com os conceitos de signo, de discurso, de texto, de arquivo e de autoria situam


as dinâmicas em rede num campo que privilegia seu caráter logicamente interligado. Desse
modo, podemos situar a questão da novidade anunciada para estes meios com base em
modelos narrativamente e discursivamente reconhecíveis.
Acreditamos que esta conexão se coloca com percalços conceituais do mesmo modo que
reconhecemos que pode ser rica a aproximação. A narrativa é representativa da nossa
dimensão de humanidade, do estado de nosso referencial cultural e dos modos de relatar.
Nesse sentido, uma investigação sobre a narração no suporte digital pode ser reveadora de
como as atuais formas de relato humanizam o tempo que a máquina daria, mas que o humano
rouba e compartilha.
“(...) existe entre a atividade de narrar uma história e o caráter temporal da
experiência humana uma correlação que não é puramente acidental, mas
apresenta uma forma de necessidade transcultural. Ou, em outras palavras:
que o tempo torna-se tempo humano na medida em que é articulado de um
modo narrativo, e que a narrativa atinge seu pleno significado quando se torna
uma condição da existência temporal” (Ricoeur, 1984, p. 85. Grifos do autor).

Os dois pontos da narrativa


Os estudos da narrativa tradicionalmente pensaram o desmembramento de um texto escrito
em unidades mínimas na tentativa de estabelecer seus padrões. Tais unidades mínimas
deveriam repetir-se numa estrutura comum a diversas narrativas ou a um grupo delas.
Tradicional nestes estudos é o trabalho do russo Vladimir Propp em Morfologia do conto
maravilhoso. Tal referência nos interessa citar pela possibilidade de realizar um corte entre
textos diversos, que se comunicam, se conectam nestes pontos em comum. No entanto, é só
mais tarde, num momento do estabelecimento de novas formas narrativas que esses pontos
se repetem com um dado de autorreferência e de referência à mesma situação em comum
marcada num outro texto. Dessa forma, além de se conectarem num ponto em comum, há
referência explícita ao fato de que tal ponto está sendo referenciado a partir de outra
narrativa já existente, parte do arcabouço cultural de um grupo.
Podemos dizer que este é o nível em que aparece uma narrativa midiatizada, propensa à
plataformas digitais. A novidade não está em criar novas articulações narrativas, mas diante de
sua repetição reforçar e renovar repertórios. Neste sentido, podemos argumentar que o
arquivamento e o reconhecimento de estruturas narrativas reduz a possibilidade do novo para
a recomposição do arsenal de referências conhecidos. O acúmulo de informações seria
correspondente à efetivação de sua recuperação e transformação, reforçando o estatuto que

440
Nos termos da #interdição

bancos de dados têm como arcabouço comum. Não mais a memória, mas a justaposição
criativa.
Num processo paralelo, ainda, a partir de um certo momento em que os estudos de narrativa
encontram-se com aqueles de semiótica, temos o desenvolvimento de categorias ligadas
especialmente aos percursos modais. A narrativa aparece descolada da referencialidade, mas
os dados inclusos servem à ações de fazer fazer. A potência narrativa residiria no
desdobramento da interação entre sujeitos em situação de que um exerce influência
argumentativa sobre outro. Levamos em consideração o desenrolar narrativo que se descola
das ações heroicas e suas conquistas, para a possibilidade de uma ação psicológica e
contextualmente centrada nas figuras humanas em conflito. Está instalado, então, um jogo de
expectativa entre o que se diz e os desdobramentos do dito nas ações narrativas
subsequentes. “When a reader is reading a novel or an essay, the words create a rhythm of
expectations. One word alludes to something earlier in the text or looks ahead to something to
come” (Bolter, 1999, p.99).
Destacamos tal ponto de reflexão pois pretendemos atribuir às narrativas nas mídias
digitais um caráter de centramento na disposição autoral e na ação de interação sujeito a
sujeito, com valorização das cooptações modais.
Dessa forma, devemos admitir que os estudos de narrativa têm incorporado uma
instabilidade em relação á construção narrativa, tanto nos estudos acadêmicos, quanto na
experimentação artística com textos. Tal abertura podemos dizer que, de certa forma,
favorece os processos fixados com as mídias digitais, como retroalimentam a produção
narrativa em papel como desafio de suprir os efeitos dessa proximidade. O texto impresso
investe na abertura possível para a criação imagética e para a incorporação da
descontinuidade. Tais características, mais do que exclusivas de uma produção digital, podem
ser consideradas como novos parâmetros para o assentamento de uma produção literária que
procura, nessa proximidade, inovação. Assim, estes parâmetros tem sido incorporados nas
produções literárias mais recentes, mas que também, não necessariamente, trabalham com o
suporte digital.
Um dos pontos de instabilidade que emerge é o do desenho dos limites de uma unidade
textual. Está em questão o que determina a própria unidade narrativa, o que se entende por
texto e seus limites, além da determinação de seu ponto de partida e chegada. Conforme o
referencial da presença de um ambiente narrativo e de um leitor que devolvem ao autor
interativamente, estimula-se a inoperância da autorização de um caminho de leitura e
interpretação únicos. “Um texto que se transmite em um fluxo de dados contínuo e que

441
Nos termos da #interdição

demanda pensar um contexto de leitura líquida que não responde ao desenho retangular da
janela do monitor nem ao enquadramento da página” (Beiguelman, 2005, p.18).
Dessa maneira, devemos problematizar qual a tomada de unidade que é possível
quando olharmos para os registros na web. Se pensamos no nível da página, e não do código,
temos o entendimento do todo em que se baseia a estrutura do site. Mas não podemos
reproduzir este modelo como o único modelo na estruturação narrativa na web. As
plataformas que se baseiam na pluralidade de páginas a serem preenchidas por usuários,
garantem que os nós em suas redes se apresentam a partir do perfil. O que nos interessa mais
nesse modelo é a ligação que pode ser estabelecida entre estes perfis através da relação de
linkagem e compartilhamento. O acionamento de uma palavra acende ao mesmo tempo sua
indexação em relação ao todo do texto e à ligação com os demais textos que relaciona, numa
dinâmica intertextual e dialógica.
Entendemos que o conceito de intertextualidade guia a correlação entre conteúdos
nas redes. Encontramos diversas variações conceituais para mencionar essa que é uma das
principais características da produção digital: a possibilidade de fragmentação e recombinação
entre as partes. Em relação especificamente à produção textual, reconhecemos uma primeira
transformação a partir da associação entre termos
na medida em que páginas puderam ser relacionadas umas às outras, estimulando a ideia do
conhecimento rizomático e da disposição dos conteúdos em níveis. No entanto, consideramos
ainda uma segunda transformação quando o processo de ligação pôde ser feito através de
indexadores dentro das redes sociais. A partir da marcação de uma palavra ocorre a ligação
entre todas as publicações que foram notificadas sob a mesma rubrica. Reforçamos que esta é
uma forma de ligação horizontalizada, que dá abertura para a construção ainda mais
destituída da organização hierarquizada. A possibilidade de recuperação se dá pela utilização
de mecanismos de buscas através de algoritmos próprios. A perseguição da sequencia de uma
palavra marcada com alguma modalidade de etiqueta (tag) se dá de maneira dispersiva.
Nesse sentido, o que está sendo valorizado é a correlação de um termo dentro de um texto.
Ele é tanto pertencente ao texto que seria chamado de texto de origem, quanto ao seu texto
de chegada. Participa da construção de sentido em ambos e, ainda, contribui para a formação
de um texto em comum que inclui o termo marcado na ordem da cultura. Entendemos, assim,
que a possibilidade da marcação de uma palavra está dada antes de sua transformação em
link. Este processo aciona um dos seus sentidos.
Não se pode determinar, na verdade, qual o começo ou o fim dessa história e qual será o
percurso certeiro do usuário. Parte do percurso narrativo está delegado ao trajeto feito por ele

442
Nos termos da #interdição

em sua navegação, num mar de sentidos marcados, embora as possibilidades para tal
navegação não sejam infinitas.
“A revolução do texto eletrônico será, ela também, uma revolução da leitura.
Ler num monitor não é o mesmo que ler num códice. Se é verdade que abre
possibilidades novas e imensas, a representação eletrônica dos textos modifica
totalmente a condição destes: à materialidade do livro, ela substitui a
imaterialidade de textos sem lugar próprio; às relações de contigüidade
estabelecidas no objeto impresso, ela opõe a livre composição de fragmentos
indefinidamente manipuláveis; à apreensão imediata da totalidade da obra,
viabilizada pelo objeto que a contém, ela faz suceder a navegação de muito
longo curso, por arquipélagos textuais sem beira nem limites” (CHARTIER,
1998, p. 190).
O que nos interessa, então, é aquela narrativa que só pode estar desenhada na coleção de
dados de cada usuário. Se ele é identificado com um perfil, podemos rastreá-lo em sua
movimentação pela rede. Não mais um percurso doado, mas guiado pelo interesse.
Comentamos, paralelamente, que o circuito realizado por cada usuário se transforma em
verdadeira coleção de dados, como dissemos e pode circular como um arquivo exclusivo, com
unidade própria.
O que nos interessa aqui é chamar também de percurso narrativo à possibilidade
apresentada no cruzamento dos vários textos por motivo da marcação de uma palavra ou
expressão específica em comum. Estamos considerando que cada publicação seja uma
unidade textual separada. Isto em si já merece ser debatido dentro da noção de unidade de
texto, no sentido da vontade de determinar qual seria a unidade de texto maior que abarca
todas as publicações. Não consideramos que cada uma das plataformas para as redes sociais
seja a resposta para tal unidade. Sua publicação extrapola a publicação interna dentro de cada
interface e integra listagens produzidas por mecanismos de busca. Defendemos, assim, uma
que cada uma das interfaces criadas tem a pretensão de manter o princípio de abertura e
circulação de seus conteúdos.
No passo seguinte, ao procurarmos observar o circuito feito por cada termo marcado,
entendemos que um fio condutor narrativo costura as diversas publicações. Não podemos
dizer que cada publicação responda a partes de um todo como no caso de um livro e seus
capítulos. Ao mesmo tempo somos obrigados a reconhecer a unidade promovida pelo ato da
indexação horizontal de alguns de seus termos.
“Probably the most important use of colour in a well-designed Web site is to
identify the hypertext links – the jumps that users can make if they want to

443
Nos termos da #interdição

move from one page or site to another. The hypertext link is the most
fundamental structural property of the Web, without which the medium would
not exist” (CRYSTAL, 2004, p. 202).

Pontos flutuantes na rede


Seguimos, assim, com a ideia de que a criação de hiperlinks está na base do tipo de
intertextualidade promovida nas mídias digitais e, ainda, considerando que há uma revolução
em fazer com que tais links se somem à dimensão da palavra. Eles acionam uma dinâmica de
indexação que acompanha a produção cultural desde a lista de tropos gregos e latinos,
passando pela marcação sobre palavras-chave e desembocando na circulação através do
símbolo hashtag.
Reconhecemos que a uma das principais diferenças para a organização narrativa nas mídias
digitais está ligada ao estabelecimento de uma unidade de texto. Os formatos textuais que
identificamos são herdeiros da tradição do livro impresso e da escrita. Assim, temos páginas,
títulos, documentos, arquivos. Ao mesmo tempo, uma comunicação horizontal, no sentido da
interligação entre textos se faz presente. E ela se distancia da condição de ser um agregado de
um texto identificado como central, como seria a relação entre o corpo de um texto e suas
notas de rodapé. Significam já um desvio de rota para um outro texto construído, do qual não
há retorno. Ao menos, o retorno não é construído pelo mesmo texto, sua volta depende de um
mecanismo de indexação (navegadores, links, hashtags, perfis de usuário). Uma das diferenças
que pleiteamos aqui, assim, é a flutuação destas palavras marcadas na constituição de
publicações variadas. E a ideia de flutuação se coaduna com o deslocamento de sentido
possível destes mesmos termos marcados. Parece-nos interessante a soma da perspectiva de
navegação, entendida como o percurso de um usuário link a link, com a variação de sentido
que pode advir desse constante movimento.
O que pretendemos observar aqui, a título de exercício, é a elaboração de um fio condutor nos
casos da marcação de um termo com o símbolo hashtag. Podemos dizer que mais do que o
estabelecimento de um percurso narrativo estamos lidando com uma tentativa de fazê-lo. Se
entendemos que a possibilidade de publicação é imediata, cada autor-usuário posta sua
publicação e marca suas palavras com o ímpeto de que ela seja um nó na rede. Cada
publicação não tem, no momento de sua execução, a extensão de seu eco, de sua replicação.
Pode bem ser que uma publicação mantenha-se isolada, fechada, desconectada. Tal eco ou
viralização de conteúdos é um fenômeno a parte a ser estudado e que depende de um
imponderável existente na circulação discursiva.

444
Nos termos da #interdição

Dessa forma, podemos dizer que nem todas as hashtags logram ficar em evidência, ligadas a
um assunto que tem circulação pública. Há um outro nível de comunicação, ainda dependente
de outros meios, inclusive não digitais, que reforçam o termo exato com o qual se deve
indexar determinado texto. Há também a segurança de publicações indexadas com hashtags
mais certeiras, porque popularizadas e já de circulação reconhecida. É crescente o número de
páginas que apresenta opções de hashtags já estabelecidas para que se acerte no uso. O
acerto tem em vista a circulação.
Há um comentário que deve ser feito em relação à maleabilidade que encontramos para
estabelecer um indexador do tipo hashtag. Como dizíamos, o estabelecimento de um
marcador é algo da dimensão pública, depende de um sentido disponível e de um movimento
de repetição. Há uma constante batalha por parte dos produtores de conteúdos para a rede
em tentar deter a autoria de tais palavras enquanto elas são bem sucedidas na circulação.
Podemos dizer, assim, que a marcação sobre palavras resulta em um processo dinâmico que
aponta para dois tipos de produção que, até então, tínhamos em âmbitos separados. A
primeira delas é o estabelecimento do tópico de uma conversa, como entendido nos processos
de estudo da linguagem oral. Neste caso, reforça-se a maleabilidade que comentávamos.
Reforça-se, ainda, o pacto estabelecido na dinâmica microscópica da comunicação entre dois
interlocutores.
Por outro lado, está incluso na atividade da marcação sobre palavra o processo de indexação e
de coleção de termos. Neste caso, a vontade seria de fixidez e estabelecimento de parâmetros
para a organização dos enunciados.
“Many, many solutions to the naming problem have been attempted and
successfully deployed in different circumstances. At one end of the scale, it
would be in fact possible using a huge network of hash tables around the
world, to keep a hash index of all randomly generated unique names. The
problem with this idea is that there would have to be one single funding model
and one homogeneous quality of service for all names” (Berners-Lee, 1996,
online).
Assim, entendemos a possibilidade de marcar palavras em uma publicação como um ato
perdido entre a tradição oral e aquela do acúmulo de conhecimento, da atividade vulgar e da
atividade enciclopédica. Temos, por um lado, a criação sobre as hashtags, sua variação nos
níveis do significante e do significado. Incluindo aí a possibilidade de marcar palavras em
ambientes que não são destinados à indexação: como mensagens de e-mails, postagens em
interfaces que não utilizam esse símbolo para recuperação de conteúdos, por exemplo.

445
Nos termos da #interdição

Por outro lado, temos a instrução sobre hashtags que potencializam publicações, temos
listagens de hashtags populares e sites dedicados ao escrutínio dos tópicos mais relevantes do
momento. Ainda, temos a possibilidades de fazer buscas e análises a partir de mecanismos de
coleta (data mining) que resultem em conjuntos de dados de interesse sobre esses termos
marcados e indexados. Existem também a forma correta de grafar certas hashtags já
canonizadas.
Para nosso exercício, tomaremos como exemplo o caso de duas hashtags que, cada uma a seu
tempo, se tornaram visíveis e ganharam circulação: #selfie e #paudeselfie. A primeira se refere
à tradição da publicação de retratos, enquanto à segunda, ao objeto de que dá suporte para a
produção de tais retratos. Ambas são interessantes experiências de como a marcação por
hashtag pode estabelecer uma relação intertextual entre publicações e que geram uma
narrativa nessa conexão horizontal. Podemos dizer que elas geram não uma, mas diversos
percursos narrativos.
No caso das selfies, o primeiro percurso narrativo diz respeito à marcação de um tipo de
retrato: tomada de rosto, tirada por uma pessoa que participa da foto e entorno relevante.
Observamos mais um percurso narrativo que é a da experiência de desconectar a relação entre
a palavra que indexa a foto e sua imagem. Devemos levar em consideração que as publicações
na rede envolvem esses a materialidade da palavra escrita e da imagem, no caso das
publicações sobre selfies.
Em 29 de maio de 2014, a seção vida digital da Revista Veja, aponta a variação desta hashtag
para #shelfie, baseada na palavra shelf (estante), em inglês. Ela serviria para marcar, mais do
que rostos, o estilo de vida das pessoas. “As imagens compartilhadas com a marcação são
cuidadosamente produzidas exibindo livros, obras de arte, itens de decoração e revistas
fashion”80, diz a repostagem. Já em novembro do ano de 2013, a palavra “selfie” havia sido
incorporada ao dicionário Oxford da língua inglesa, baseando-se na recorrência de sua
manifestação.
O site Social Times relaciona algumas variações para essa hashtag, dentro da mesma
concepção do retrato. A variação nesse caso é na forma da escrita e do termo a ser indexado.
Mas mantém-se seu conjunto possível de significados:
#selfie: singular, versão sintética do termo
#selfies: versão plural
#selfiesaturday, #selfiesunday: marcação temporal dos retratos tirados em dia de descanso

80
Depois do #selfie, #shelfies se espalham pelo Instagram. Vida Digital. Revista VEJA. 29 mai. 2014.
Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/depois-do-selfie-shelfies-se-espalham-pelo-
instagram/.

446
Nos termos da #interdição

#selfienation: marcação por destinação territorial, o conjunto de pessoas nesse espaço


engajadas na atividade de tirar retratos
#selfiee e #selfieee: variação interessante, que revela a repetição da última vogal da palavra
com efeito de ênfase. Esta alteração se dá mais no nível significante da palavra, mas produz o
efeito de reforça da já canonizada versão usual da palavra. É por existir a primeira que se
autoriza as demais
#selfiefordays: alusão à publicação diária dos retratos, dentro da ideia de que estas imagens
são repetição do mesmo rosto e, ao mesmo tempo, incorrem em variações sobre sua
diferença.
No segundo caso que levamos em conta, aquele da utilização da hashtag #paudeselfie, houve
maior recorrência da divisão entre publicações que tomavam as fotos de maneira literal e
aquelas que utilizavam a expressão em sentido metafórico. A expressão de duplo sentido criou
um vínculo entre publicações que tentavam se utilizar de humor.
“Um levantamento realizado pela AirStrip, empresa especializada em pesquisa de redes
sociais, mostrou que 49% das postagens relacionadas ao “pau de selfie” são brincadeiras e
memes. Para a análise, foram verificados 83.082 posts registrados no Facebook, Twitter e
Instagram sobre o assunto em um período de 10 dias, entre 5 e 14 de janeiro”81.
As imagens que ela marca dizem respeito, assim, ao uso do objeto na foto ou a uma
apropriação jocosa do termo. O nome possível para o mesmo objeto, monopod, foi preterido
em favor de uma palavra que reúne um universo de significados mais rico para a circulação.
Podemos considerar esta hashtag também como uma forma variada da primeira que
analisamos. Ela pode existir a partir da solidificação da tradição do retrato na web.
A possibilidade da existência de um recurso para fazer tais imagens gerou a abertura para que
e tratasse dos tipos de “paus de selfie”, sem ser o objeto específico a ser comercializado, sobre
a possibilidade de improvisar para tê-lo, além de piadas de duplo sentido com o órgão sexual
masculino. Com este deslocamento, a foto de retrato passa a poder incluir não apenas um
único rosto, mas aquele de um grupo. Podemos considerar algumas variações a partir desta
marcação, das quais recuperamos a seguir:
#caradepaudeselfie: referência á expressão coloquial “cara de pau”
#paudecervis: referência à reunião de amigos em torno da bebida cerveja
#gopobre: referência à marca de câmeras GoPro

81
Metade dos comentários sobre "pau de selife" na internet são piadas. Correio Braziliense. 22 jan.
2015. Disponível em:
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/tecnologia/2015/01/22/interna_tecnologia,467689/
metade.shtml

447
Nos termos da #interdição

O site Canaltech relaciona as hashtags mais associadas à #paudeselfie82: #goppro, #monopopd,


#gopobre, #friends, #amigos, #verão, #summer, #praia, #ferias, #familia. Ressaltamos aqui
mais uma característica que podemos atribuir à narrativa através da circulação de hashtags.
Ela se compõe como nuvem de palavras que criam sentido em associação. É possível e até
desejável utilizar mais de um marcador para a mesma publicação. Assim, a partir dessa
combinação de elementos podemos reforçar, no caso de #paudeselfie, a accociação com a
foto em grupo (família, amigos), com a realização de fotografias em ambientes de paisagem
(férias, praia). Novamente aparece, ainda, a referência à alternativa para quem não pode
comprar o objeto pau de selfie (gopobre, em referência às fotos tiradas com a câmera da
marca GoPro).
O que gostaríamos de ressaltar destes breves comentários sobre a forma de circulação dos
dois marcadores que escolhemos observar é que a possibilidade de classificar o aglomerado de
publicações como um percurso narrativo está dado na avaliação de elementos externos à essa
circulação. Alguns marcadores podem contar histórias mais isoladas a poucas publicações,
enquanto outros associam verdadeiros articuladores sociais devido à imponência de sua
repetição.

Especificidades das mídias digitais


Gostaríamos de ressaltar, finalmente, que não entendemos a produção narrativa nas mídias
digitais como um evento isolado da circulação que os mesmos conteúdos tem nas demais
mídias. Ao contrário, acreditamos na possibilidade de interpenetração entre os meios e, mais,
atribuímos uma especificidade ao digital. Quando os conteúdos se apresentam narrados aí
entram num âmbito que defendemos como a um só tempo autoral, particular e público;
privado e coletivo; associado a um perfil e de circulação massiva.
Assim, a relevância de estudar os processos narrativos nestes meios estaria em observar como
estes interstícios são preenchidos de sentido. Este conteúdo de entremeio que parte de cada
um para um ambiente aparentemente mais descomprometido institucionalmente e que
privilegia o reforço dos laços sociais, pode se estabelecer como o lugar de fala comum.
“Aposta-se aqui na possibilidade de uma cultura cíbrida, pautada pela interpenetração de
Redes on line e off line, que incorpore e recicle os mecanismos de leitura já instituídos,
apontando para novas formas de significar, ver e memorizar” (BEIGUELMAN, 2005, p.12-13).

82
Quase metade dos posts sobre 'pau de selfie' nas redes sociais é piada ou meme. Canaltech. 23 jan.
2015. Disponível em: http://canaltech.com.br/noticia/comportamento/Quase-metade-dos-posts-sobre-
pau-de-selfie-nas-redes-sociais-e-piada-ou-meme/#ixzz3VA4EyQqI
.

448
Nos termos da #interdição

Novas formas de lidar com os suportes dão abertura para um espaço em que o senso comum
pode ser codificado e recodificado. Se os termos que buscamos são os da narrativa, podemos
observar a fragmentação de conteúdos e a recomposição de expectativas de leitura,
considerando um autor que espera selecionar caminhos e jogar com o aro autoral de sua
publicação. Aproximam-se as pontas da escrita e da leitura num só processo lúdico de
narração do conteúdo comum. “Essas mutações comandam, inevitável e imperativamente,
novas maneiras de ler, novas relações com o escrito, novas técnicas intelectuais” (CHARTIER,
1998, p. 190).

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450
Nos termos da #interdição

16 - IAMCR 2015 (Resumo)


IAMCR 2015
#In terms of the interdict

The present work results from the postdoctoral research #In terms of the
interdict, funded by São Paulo Research Foundation (FAPESP), and developed within
the Observatory on Communication, Freedom of Expression and Censorship of the
University of São Paulo (OBCOM/ECA-USP).
We investigate the circulation of words that are considered linguistic taboos
pursuing their presence in current social media postings which support the use of
hashtags as a keyword indexical parameter. Our intent is to echo the terms censored in
the playwrights submitted to the Public Entertainment Division of the State of São
Paulo, Brazil, between 1930 and 1960, to which we have exclusive access trough the
Miroel Silveira Files. Our research will be nurtured from the data collection of censored
text excerpts present in the partially released playwrights of such archive and the
trajectory of building an interface to both visualize the data and present it publically.
Our hypothesis is that social media network interfaces cannot escape such
relationships of ordering and conformity. Our objective is then to draw which those
procedures would be when it comes to the social media, focusing on the seeming
paradox of thinking restricted circulation of enunciations and the language practice
within a media marked by the emblem of freedom of expression and communication
democratization.
We primarily focus on the recurring words from yesterday present in the social
media today. Afterwards, as second step of the research, we observe the permanence or
shift in the meaning such terms carry(ied). We understand them within a discourse
driven theoretical perspective, performing an analysis that is at one time etymologic,
linguistic, historic and digital.
Such theoretical articulation is to help us develop a study on the formal level of
the word, then articulate the notion of archive and of network according to the following
intended theoretical trajectory: 1- the concept of signifier network, as ways to portray
meaning connections that can enclose the same words in different time periods bonded
through a connection point of the network; 2 - to recover the debate on the possibilities
of constituting an archive according a given unity, approaching what offers cohesion to
it; 3- to associate the structuring of archives and its current availability to reorganization

451
Nos termos da #interdição

based on a communicational network taking into consideration digital technologies and


media. In a more general perspective, our work is to argument on the relevance of
studying local productions in relation to global perspectives, the necessity of unveiling
social crucial content and considering the possibilities of the work in digital media in
challenging the role of memory.

452
Nos termos da #interdição

17 - Socine 2015 (Resumo)

SOCINE 2015, CAMPINAS

Formas do entretenimento na constituição de realities musicais


Andrea Limberto

Resumo:
Relacionamos os variados formatos de programas televisivos dedicados à
performance artística a modelos consagrados dentro do gênero do entretenimento.
Apresentamos, assim, uma proposta classificatória que pretende referenciar a maneira
como a arte, tomada como objeto nestes programas, é apresentada. Concentramo-nos
em observar as heranças da audição artística, da entrevista profissional e do teatro
pretendendo relacionar tais modelos a três programas: Idol, The X Factor, The Voice.

Resumo expandido:
Podemos relacionar os variados formatos de programas televisivos dedicados à
performance artística, que se concentram hoje principalmente na experiência do canto, a
modelos consagrados dentro do gênero do entretenimento. Apresentamos neste trabalho,
assim, uma proposta classificatória que pretende também referenciar a maneira como a
arte, tomada como objeto nestes programas, é apresentada. Trata-se de um estudo sobre
uma produção audiovisual específica, mas que entendemos representar o desafio
colocado pela circulação massiva da produção artística, passando do ideal de sua
valorização como alta cultura à sua fragmentação em diversos formatos revividos de
forma híbrida na concretude da performance oferecida.
Concentramo-nos, assim, em observar as heranças da audição artística, da
entrevista profissional e do teatro pretendendo relacionar tais modelos respectivamente
a três programas, realities de canto exemplares, televisionados atualmente: Idol, The X
Factor, The Voice (considerando as versões nacionais e estrangeiras destes formatos).
Nossa perspectiva é primariamente discursiva, enquanto identifica os elementos dos
programas que ecoam suas vinculações a tradições imagéticas históricas para a

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Nos termos da #interdição

apresentação da arte. Lidamos, dessa forma, não com seu fazer, mas com as maneiras
elegidas para seu oferecimento público.
Recorremos a um reconstituído cultural funcionando como fundamento para a
sustentação de cada um dos modelos apontados. O primeiro deles, a audição artística,
remonta à forma de avaliação sobre a performance que valoriza o julgamento sobre a
habilidade e o virtuosismo da execução. Baseia-se na exibição do talento para um grupo
de especialistas tendo em vista a integrar grupos seletos (orquestras, ballets, etc.), sendo
executada em ambientes preparados e dedicados (salões, teatros, museus, etc). Recebe
historicamente os ecos de um ambiente nobre e dos especializados circuitos de arte. Este
imaginário está na base dos programas de exibição artística em geral, mas mostram-se
reforçados especialmente na primeira fase do formato Idol. Na sua apresentação
televisiva, fica aparentemente de fora o dado de que a performance é filmada, a
expectativa é pelo não existir da câmera.
O segundo modelo que reconhecemos é o da entrevista de emprego. Ele revela já
a sombra da presença de uma indústria cultural, da arte como uma carreira, da ascensão
da atividade do show business e o interesse pela circulação nele. Isso contemplado, o
olhar se volta para os aspectos da vendagem de discos, da assinatura de contratos, do
visual do candidato direcionado para que seja um ídolo popular. Esse modelo se
encontra mais nas últimas temporadas de Idol e em The X Factor.
O terceiro modelo tenta fazer um retorno histórico à performance artística e ao
virtuosismo, mas estabelece o acontecimento no palco. Ele é performático e montado.
Assume a demanda pelo show e ao mesmo tenta manter-se fiel a uma tradição artística,
neste momento já híbrida – indicada, por exemplo, como pureza da voz. O staging para
a câmera ganha relevância e a presença da gravação como elemento constitutivo é
marcada. Esta tentativa é feita pelo The Voice, tratando-se do modelo que mais assume
o fato da transmissão e joga com a disposição de palco que é herdeira do teatro.
Consideramos, finalmente, como forma de extensão do argumento, alguns
seriados e programas televisivos que contemplam a audição de talentos, tendo em vista
que, também em novas produções sobrevivem as referências apontadas, como é o caso
de Mozart e de The Glee Project. Pontuamos que existe, na base destes programas, o
desejo do encontro entre a alta e a baixa cultura, entre descoberta do verdadeiro talento
e seu compartilhamento público, entre a verdadeira Arte e a produção massiva. É
relevante, ainda, retomar este trabalho entre as tentativas de estabelecer consensos sobre
o ambiente da cultura em face de novos processos de midiatização e de difusão.

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Nos termos da #interdição

Bibliografia:

GANS, Herbert J. Cultura popular alta cultura – uma análise e avaliação do gosto. São Paulo: Edições
Sesc, 2014.

BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk, 2007.

BURKE, Peter. Testemunha ocular – história e imagem. São Paulo: Edusc, 2004.

MOURÃO, Maria Dora; LABAKI, Amir (orgs.). O cinema do real. São Paulo: Cosac Naify,

2005.

JOST, François, La Télévision du Quotidien – entre réalité et fiction, Bruxelles, Éditions De Boek
Université, 2003 [2001]

CALVERT, Clay,Voyeur Nation – media, privacy and peering in modern culture, Oxford, Westview
Press,2000

Mini-currículo: Pós-doutoranda da Escola de Comunicações e Artes da Universidade


de São Paulo (ECA/USP), estudando a interdição a obras artísticas e sua relação com as
mídias digitais, sob supervisão da Prof.ª Dr.ª Mayra Rodrigues Gomes e com bolsa
Fapesp. É doutora (2011) e mestre (2006) pela mesma instituição. E-mail:
andrealimberto@gmail.com.

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Nos termos da #interdição

18 - 2015: Liberdade de Expressão e seus limites

Efeito disciplinar nas produções culturais: o exercício de autocontrole


Profa. Dra. Mayra Rodrigues Gomes
Profa. Dra. Andrea Limberto

Resumo
Como pesquisadoras do Obcom, temos estudado processos de censura, observado a
proibição de palavras e sopesado o potencial restritivo da classificação indicativa de
produtos culturais. Em nossas ponderações sobre seu status, temos trabalhado com o
entendimento de que ela, assim como muitos outros processos, faz parte de um quadro
que visa trazer o respeito aos direitos, sobretudo da criança e do adolescente, prover
condições de saudável, harmônica/produtiva, formação social e imprimir equilíbrio às
relações humanas. Enfim, trata-se de mais um dispositivo disciplinar a regular uma
comunidade, segundo critérios relevantes para um entorno temporal e um contorno
espacial.
Ocorre que toda regulação se faz através de restrições, de cerceamentos vários, em
particular de proibições que atingem as palavras em suas formações discursivas. O
movimento de contenção acompanha o da civilização e se realiza tanto por meio de
aparatos institucionalizados quanto pelos que brotam espontânea e extemporaneamente
numa cultura.
Como membros do Obcom guardamos nossa atenção para a linha divisória em que, de
mecanismos para melhor gerir e gerenciar as coisas públicas, os processos restritivos
assumem o tom opressivo e persecutório com que as censuras se tecem. Consideramos
que, nesse último caso, o mecanismo tornou-se instrumento do controle que nem mais
atende aos interesses de uma comunidade como um todo, simplesmente porque passa a
atender a interesses particulares ou privados.
Mas, atendendo ou não a tais interesses, no limite, uma intervenção para ter sucesso
deve moldar os corpos de modo a conformá-los aos interesses visados, deve ser, na
verdade, o instrumento de construção dos corpos porque neles encarnados. Claro que o
limite da contenção é justamente a delimitação do corpo.
Não raro, temos a oportunidade de presenciar efeitos que apontam para esse modo de
inflexão da regra no corpo. Neste artigo, a partir da recente polêmica em torno do beijo
lésbico na novela “Babilônia”, e de matéria jornalística que condensa as diversas
contestações, encetamos o rastreamento de efeitos que se configuram como o estágio
máximo, e insuspeitado, do refinamento disciplinar.

A MATÉRIA EM QUESTÃO

Folha de S. Paulo, 6 de abril de 2015. Ilustrada, E4, Outro Canal, por Keila Jimenez
“Globo irá cortar cenas de prostituição em ‘Babilônia’”.
A globo iniciou o que acredita ser o processo de salvação da novela das 21 horas,
“Babilônia”. A trama, que estreou coroada por duas vilãs, um casal gay de octogenárias
e prostituição, terá ajustes. Cenas inteiras estão sendo reeditadas e cortadas.
O folhetim, que estreou dia 16, com média de 33 pontos, está marcando médias
na casa dos 23,5 pontos, índice mais baixo da história do horário. Cada ponto equivale a
67 mil domicílios na Grande SP.

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Nos termos da #interdição

De olho nisso, a Globo vai mudar a trama de Alice (Sophie Charlotte). A jovem
que seria uma prostituta agenciada pelo namorado, Murilo (Bruno Gagliasso), ganhará
outro rumo. Várias de suas cenas serão cortadas e regravadas. Segundo um dos autores,
Ricardo Linhares, a mudnaça veio para evitar problemas com a classificação indicativa.
À Folha, no dia 27, ele havia dito que apesar dos protestos, não mudaria a trama.
A Folha apurou que outras modificações virão. Há diretores da rede defendendo
a diminuição do destaque das duas megeras da história, Beatriz (Glória Pires) e Inês
(Adriana Esteves) e dos gestos de carinho entre o casal de lésbicas Teresa (Fernanda
Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg).
A Globo afirma que a novela é “uma obra aberta”.

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Nos termos da #interdição

19 - Disciplina em nível de Pós-Graduação Interdição e mídias digitais (Programa)


Disciplina CJE 5244
CIÊNCIAS DA LINGUAGEM: INTERDIÇÃO E MÍDIAS DIGITAIS

Programa de Pós Graduação em Ciências da Comunicação, Área 1: Teoria e Pesquisa em Comunicação,


quintas-feiras, das 14 as 17 horas.
Docentes: Profª. Drª. Mayra Rodrigues Gomes, Profª. Drª. Andrea Limberto

CRONOGRAMA DO 1º SEMESTRE DE 2015

Objetivos:

A disciplina tem por objetivo apresentar importantes questões teóricas para o estudo das
chamadas mídias digitais, consideradas dentro do âmbito conceitual dos estudos de
linguagem, preocupando-se tematicamente de seus mecanismos de interdição constituintes.
Pretendemos uma abordagem que analise as práticas midiáticas advindas de seu
desenvolvimento e a originalidade de sua articulação narrativa. Assim, consideramos
relevante como problemas chave para entender a dinâmica do meio, voltar ao estatuto da
palavra (apresentação da base teórica das ciências da linguagem), à noção de arquivo
(associado ao debate em relação à memória e à produção e sentido) e ainda, à formação de
rede. Ao longo do curso, apresentaremos conceitos que permitem olhar a forma da produção
textual e a condição relacional que se estabelece entre termos. Nosso objetivo é articular
sobre como as mídias digitais apresentam também novas formas de práticas midiáticas e a
inserção das mesmas no discurso corrente sobre o fazer comunicacional. Acreditamos que
exista nelas um embate neles entre dois imaginários: a possibilidade ilimitada de acesso à
informação, de um lado, e o exercício de práticas de interdição, de outro. A anunciada
perspectiva teórica tem sido muito incipientemente acionada para estudar as questões
trazidas pela grande amplitude do uso das mídias digitais e da inovação tecnológica. Assim,
o curso tem um caráter de oferecer abertura teórica diante de um tema atual e que tem
alterado as dinâmicas das produções midiáticas, e, ao mesmo tempo, extrair um debate
profícuo através de atividades práticas envolvendo a análise de diferentes materiais.

Justificativa:

Acreditamos que seja interessante ancorar diversos dos debates que estão sendo feitos
sobre o uso das mídias digitais e suas práticas comunicacionais no arcabouço conceitual dos
estudos de linguagem. As relações estabelecidas especialmente com os conceitos de signo,
de discurso, de texto, de arquivo e de autoria situam as dinâmicas em rede num campo que
privilegia seu caráter logicamente interligado. Desse modo, podemos situar a questão da
novidade anunciada para estes meios com base em modelos discursivamente reconhecíveis.
A fundamentação teórica e o debate informado sobre mídias digitais é importante hoje diante
de seu uso extensivo e ampla incorporação nas dinâmicas de interação social. Uma questão
se destaca ainda, em relação à possibilidade de interposições e interdição em oposição a um
movimento de maior conexão e encontro. O presente curso tem fundamentação num
percurso já estabelecido no nível da graduação e da pós-graduação, sob a designação de
ciências da linguagem e que compreende as diversas teorias do signo que resultaram em
correspondentes abordagens teóricas. Estas se desdobram em diferenciados modelos
configurados como análise de texto, de narrativa, de discurso.

Modulo I – A palavra e processos de indexação na linguagem

1. O estatuto da palavra, reflexões sobre linguagem


Aula expositiva: Dia 12 de março

2. Processos de indexação e o uso de hashtags, da diferença à repetição


Aula expositiva: Dia 19 de março

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Nos termos da #interdição

3. A noção de tabuísmo linguístico e a circulação de termos tabu, discurso e seus


desdobramentos
Aula expositiva: 26 de março

Módulo II – A questão da memória e recuperação de sentidos

4. A unidade de arquivo, a perspectiva do controle dos discursos


Aula expositiva: 2 de abril

5. As possibilidades de um arquivo não-linear


Aula expositiva: 09 de abril

6. Banco de dados e repositórios de dados


Aula expositiva: 16 abril

Módulo III – Conceito de rede e seus desdobramentos

7. Conceito de rede em contraste com a noção de cadeia sígnica


Aula expositiva: 23 de abril
Estudo em classe

Textos para estudo em classe:


CASTELLS, M. “A rede e o ser”. In: A sociedade em rede. Vol. I. São Paulo: Paz e Terra,
1999. 8ª Ed. p. 39-66.
COOK, Sarah. “Immateriality and its discontents”. In: PAUL, Christiane. (Ed.) New media in
the white cube and beyond. Berkeley, Los Angeles and London: University of California Press,
2008. p. 26-49.

8. Superficialidade e profundidade das conexões


Aula expositiva: 30 de abril
Estudo em classe

Textos para estudo em classe:


BOLTER, Jay; GRUSIN, Richard. “Networks of remediation”. In: Remediation: understanding
new media. MIT Press, 2000. p. 64-84.
CRYSTAL, David. “The lingustic future of the internet”. In: Language and the internet.
Cambridge University Press, 2004. p. 224-251.

9. Possibilidades de reconexão, a questão da identificação, grupos e palavras


Aula expositiva: 7 de maio
Estudo em classe

Textos para estudo em classe:


SÜSSEKIND F., DIAS, T. (Org.). A historiografia literária e as técnicas de escrita. Rio de
Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa: Vieira e Lent, 2004.
VIANELLO OSTI, M. El hipertexto entre la utopia y la aplicación: identidad, problemática e
tendências de la Web. Gijón: Trea, 2004. p. 73-93.
NELSON, T.H. Opening hypertext: a memoir. In: TUMAN, M.C. (Ed.). Literacy online: the
promise (and peril) of reading and writing with computers. London: The University of
Pittsburgh Press, 1992.

Módulo IV – Possibilidades de interdição e expressão nas mídias digitais

10. Noção de autoria e a ação do usuário


Aula expositiva: 14 de maio
Estudo em classe

Texto para estudo em classe:


BOLTER, Jay; GRUSIN, Richard. “The networked self”. In: Remediation: understanding new
media. MIT Press, 2000. p. 256-265.

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Nos termos da #interdição

CHARTIER, R. “O leitor: entre limitações e liberdade”. In: A aventura do livro: do leitor ao


navegador. São Paulo: Unesp,1995.

11. Fragmentação dos conteúdos e unidade de sentido


Aula expositiva: 21 de maio
Estudo em classe

Texto para estudo em classe:

RICOEUR, P. “O ponto de partida e o ponto de chegada”. In: Tempo e narrativa. Tomo I.


Campinas: Papirus editora, 1994. p. 76-84.

12. Possibilidades de livre expressão e mídias digitais, sentido e sedução


Aula expositiva: 28 de maio
Estudo em classe

Textos para estudo em classe:

BEIGUELMAN, Gisele. “Coleiras Digitais”. In: Link-se: arte/mídia/política/cibercultura. São


Paulo: Peirópolis, 2005. p. 122 -128.
POLLAK, Michael. “Memória, esquecimento, silêncio”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.
2, n. 3, 1989, p. 3-15.
BRUNO, Fernanda. “Monitoramento, classificação e controle nos dispositivos de vigilância
digital”. Revista FAMECOS. Porto Alegre, nº 36. agosto de 2008.

13. Entrega de trabalho final: até fim de julho, em anexo, por email encaminhado às professoras
para os endereços: mayragomes@usp.br, andrealeite@usp.br.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

1) As avaliações serão feitas a partir do trabalho final.


2) O trabalho final terá o formato de pequena monografia em que temas, conceitos e/ou teorias
estudados durante o semestre sejam aplicados a algum objeto de interesse, pois relacionado a
pesquisa do aluno. Deve seguir o formato Times New Roman 12, e não exceder 10 páginas de
espaço duplo.

BIBILIOGRAFIA AUXILIAR

ALLAN, Keith & BURRIDGE, Kate. Forbidden Words: Taboo and Censorship of Language. New
York: Cambridge University Press, 2006.
AGAMBEN, Giorgio. Estâncias: a palavra e o fantasma na cultura ocidental. Trad. S.
Assmann. Belo Horizonte: UFMG, 2007, p.240-250.
AUSTIN, J. L. How to do things with words. Oxford University Press, 1962.
AUTHIER-REVUZ, Jacqueline. Palavras incertas. As não coincidências do dizer. Trad.:
BARROS, Diana Luz Pessoa e FIORIN, Jose Luiz (Org.). Dialogismo, polifonia e
intertextualidade. Sao Paulo: Edusp, 1994.
BARTHES, R. Elementos de semiologia. São Paulo, Cultrix, 1989.
________. “Introduction à l'analyse structurale des récits”. In Communications 8, Paris,
Seuil, 1966.
________. Novos ensaios críticos. O grau zero da escritura. São Paulo, Cultrix, 1974.

BEIGUELMAN, G. Link-se: arte/mídia/política/cibercultura. 1. ed. São Paulo: Peirópolis, 2005.


v. 1. 176 p.
BEIGUELMAN, G. . O Livro depois do Livro. 1. ed. São Paulo: Peirópolis, 2003. v. 1. 96 p.
BENVENISTE, É. Problemas de lingüística geral I. São Paulo, Pontes, 1995.
BOLTER, J. D.; GRUSIN, R. Remediation: Understanding New Media. Cambridge, MIT Press,
1999.
BRANDAO, H.N. Subjetividade, Argumentação e Polifonia. A Propaganda da Petrobrás. São
Paulo: UNESP, 1988.
CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a
sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

460
Nos termos da #interdição

CASTELLS, Manuel. A sociedade em Rede - a era da informação: economia, sociedade e


cultura - Volume 1. São Paulo: Paz & Terra, 2002.
CHARAUDEAU, P. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2006.
CHARTIER, R. A Aventura do Livro: do Leitor ao Navegador. São Paulo, Unesp, 1998.
CRYSTAL, D. Language and the Internet. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
DERRIDA, J. A Escritura e a Diferença. São Paulo, Perspectiva, 1995.ECO, U. Lector in
Fabula. 2ª. ed. São Paulo, Perspectiva, 2002.
DIDIER-WEILL, A. Os três tempos da lei. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
DUCROT, O. O dizer e o dito. Campinas, Pontes, 1987.
DURAND, G. As estruturas antropológicas do imaginário. Introdução à arquetipiologia geral.
São Paulo, Martins Fontes, 2001a.
DURAND, G. O imaginário. Ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. Rio de
Janeiro, DIFEL, 2001b.
FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. São Paulo, Contexto, 1989.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo, Loyola, 1996.
________. As palavras e as coisas. São Paulo, Martins Fontes, 1995.
________. História da sexualidade. Vol. I A vontade de saber. Rio de Janeiro, Graal, 1997.
________. Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal, 2001.
________. O que é um autor? São Paulo, Passagens, 1997.
FREITAS, J. M. M. Comunicação e psicanálise. São Paulo, Escuta, 1992.
FREUD, S. O mal-estar na civilização. In: “Os Pensadores”, São Paulo, Abril Cultural, 1978.
________. Psicologia de grupo e análise do ego. Edição Standard Brasileira, Volume XVIII
(1920-1922). Rio de Janeiro, Imago, 1976.
GANS, H.Democracy and the News. New York, Oxford University Press, 2003.
GIDDENS, Anthony. As Conseqüências da Modernidade, São Paulo, ed. Unesp, 1991.
GOMES, M. R. Jornalismo e ciências da linguagem. São Paulo, Edusp e Hacker Editores,
2000.
________. Palavras proibidas: um estudo da censura no teatro brasileiro. São Jose do Rio
Preto: Fapesp/Bluecom, 2005.
________. Poder no jornalismo. São Paulo, Hacker/Edusp, 2003.
________. Repetição e diferença nas reflexões sobre comunicação. São Paulo, Annablume,
2001.
________. Comunicação e identificação: ressonâncias no jornalismo. Cotia: Ateliê Editorial,
2008.
GREIMAS, A. J. Sémiotique et sciences sociales. Paris, Seuil, 1976.
GREIMAS, A. J. e COURTÉS, J. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage. Paris,
Hachette, 1979.
________. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage. Paris, Hachette, 1979.
GUEIROS, R. F. Mansur. Tabus lingüísticos. Rio de Janeiro: Simões, 1956.
HJELMSLEV, L. Prolégomènes à une théorie du langage. Paris, Minuit, 1971.
JAKOBSON, R. Lingüística e comunicação. São Paulo, Cultrix, 1989.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Editora Aleph, 2009.JÚNIOR, Queiroz. Vocábulos
no banco dos réus. COPAC, [s.d]
JENKINS, Henry; FORD, Sam; GREEN, Joshua. Spreadable media: creating value and
meaning in a networked culture. New York: New York University Press, 2013.
KRISTEVA, J. História da linguagem. Lisboa, Edições 70, 1974.
LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
________. O Seminário, livro 22, R. S. I. Cópia mimeografada. Paris, 1974-1975.
LEÃO, Lucia. O Labirinto da hipermídia - arquitetura e navegação no ciberespaço. São Paulo:
Iluminuras, 1999.
LEMOS, André. Cibercultura. Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea. Porto
Alegre, Sulina, 2002.
LÉVI-STRAUSS, C. Introdução à obra de Marcel Mauss Ensaio sobre a dádiva. Lisboa, Edições
70, 1950.
LÉVY, Pierre. O que é o Virtual? São Paulo: Editora 34, 1997, 160 p.
LEVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. São Paulo: Ed. 34, 2004.
LYOTARD, J.-F. L’Inhumain. Causeries sur le Temps. Paris, Galilée, 1988.
LYOTARD, J. F. A condição pós-moderna. 2a. ed. Lisboa: Gradiva, 1989 (col. Trajectos).
MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. São Paulo, Cortez, 2004.
________. Novas tendências em análise do discurso. Campinas, Pontes, 1993.
MANOVICH, L. The Language of New Media. Cambridge, MIT Press, 2001.
MATTELART, A. História da sociedade da informação. São Paulo: Loyola, 2002
McLUHAN, Marshall. “Visão, som e fúria”. In: Teoria da cultura de massa. Rio de Janeiro, Ed.
Saga, (s.d.).

461
Nos termos da #interdição

MOSCOVICI, S. Representações sociais. Investigações em psicologia social. Petrópolis,


Vozes, 2003.
MURRAY, J. H. Hamlet no Holodeck. O Futuro da Narrativa no Ciberespaço. São Paulo, Itaú
Cultural/Unesp, 2003.
ORLANDI, E. P. A linguagem e seu funcionamento, as formas do discurso. São Paulo,
Brasiliense, 1983.
ORLANDI, E. P. Análise de discurso. Campinas, Pontes, 2001.
________. As formas do silêncio. Campinas, Edunicamp, 1992.
________. Interpretação. Rio de Janeiro, Vozes, 1996.
PÊCHEUX, M. O discurso, estrutura ou acontecimento. Campinas, Pontes, 1990.
________. Semântica e discurso. Uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas, Editora da
Unicamp, 1995.
PRETI, D. A linguagem proibida: um estudo sobre a linguagem erótica. São Paulo: T.A.
Queiroz, 1983.
PROPP, V. Morfologia do conto maravilhoso. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1984.
QUÉRÉ, L. Des miroirs équivoques. Paris: A.-M., 1982.
RECUERO, Raquel. Redes sociais e internet. Porto Alegre: Sulina, 2009, 191p.
RICOEUR, Paul. Time and Narrative. vol. 1. Trans. Kathleen McLaughun and David Pallauer.
Chicago, University of Chicago Press, 1984.
SAAD, B. Estratégias para a mídia digital. Internet, informação e comunicação. Ed. Senac,
2003.
SAAD, Beth ; SAAD CORRÊA, E. . Estratégias 2.0 para a mídia digital - 3ª edição. 3ª. ed. São
Paulo: Senac, 2012. v. 1. 220p.
SANTAELLA, L. A assinatura das coisas. Rio de Janeiro, Imago, 1992.
________. A teoria geral dos signos. Semiose e autogeração. São Paulo, Ática, 1995.
________. Cultura das mídias. São Paulo, Experimento, 1996a.
SANTAELLA, Lúcia e NÖTH, Winfried. Semiótica. São Paulo, Experimento, 1999.
SAUSSURE, F. Curso de lingüística geral. 12ª ed. São Paulo, Cultrix, s/d.
ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo, Boitempo, 2003.
WERTHEIM, M. Uma História do Espaço. De Dante à Internet. Rio de Janeiro, Jorge Zahar,
2001.

462
Nos termos da #interdição

20 - Curso de atualização a distância Censura e liberdade de expressão em debate


(Programa)

O Curso de Atualização EaD “Censura e Liberdade de Expressão em Debate” será


promovido pelo Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura
(OBCOM/USP), pelo CCA da Escola de Comunicações e Artes/USP, em conjunto com
o Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ), sediado na FCSH-UNL, pretende
solidificar uma rede colaborativa (instrumento de atualização) que se reafirma com
encontros presenciais entre os investigadores, professores, alunos e o público
interessado no desenvolvimento de atividades conjuntas na área de pesquisa em
comunicação, liberdade de expressão e censura.

Este Curso terá 14 videoconferências presenciais realizadas nas salas de aula da USP e
da Universidade Nova de Lisboa, sendo 07 Fóruns Temáticos ao vivo, com duração de
duas horas, e os outros 07 Fóruns de Debates Monitorados, também com duração de
duas horas. Além de 07 Fóruns de Debates Virtuais online, do tipo assíncronos, em que
os participantes do curso poderão apresentar suas dúvidas para serem esclarecidas pelos
monitores de cada temática e os trabalhos que deverão desenvolver para cada módulo.

Inscrições

02 a 15 de setembro de 2013 (Portugal): Clique aqui para fazer sua inscrição.

02 a 15 de setembro de 2013 (Brasil)

Processo seletivo: 15 a 20 de setembro de 2013

Resultado do processo seletivo: 23 de setembro de 2013

Início das Atividades:
 Semana de Boas-Vindas e Fórum de Abertura – 01 a 07 de


outubro de 2013

463
Nos termos da #interdição

Cronograma de atividades:

Fórum Temático 01 - A IMPORTÂNCIA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA


ATUALIDADE. Responsáveis: Profas. Dras. Maria Cristina Castilho Costa, Mayra
Rodrigues Gomes, Ana Cabrera e Isabel Ferin da Cunha

Data: 08 de outubro de 2013

10 às 12 horas (BR) - 14 às 16 horas (PT)

Fórum Temático 02 - REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E DEMOCRATIZAÇÃO DA


COMUNICAÇÃO. Responsáveis: Prosf. Drs. Manuel Carlos da Conceição Chaparro,
Francisco Rui Cádima

Data: 15 de outubro de 2013

10 às 12 horas (BR) - 14 às 16 horas (PT)

Fórum Temático 03 - POLITICAMENTE CORRETO – A ÉTICA DAS RELAÇÕES


LINGUÍSTICAS E DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS. Responsáveis: Profs. Drs.
Elias Thomé Saliba, Teresa Flores e Paulo Cunha

Data: 22 de outubro de 2013

11 às 13 horas (BR) - 14 às 16 horas (PT)

Fórum Temático 04 - CONTROLE E PODER. Responsáveis: Profs. Drs. Estrela


Serrano e Eugênio Bucci

464
Nos termos da #interdição

Data: 29 de outubro de 2013

11 às 13 horas (BR) - 14 às 16 horas (PT)

Fórum Temático 05 - REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA E DESREGULAMENTAÇÃO


DAS PROFISSÕES. Responsáveis: Profas. Dras. Roseli Aparecida Figaro Paulino e
Diana Andringa

Data: 05 de novembro de 2013

11 às 13 horas (BR) - 13 às 15 horas (PT)

Fórum Temático 06 - PRODUÇÃO AUDIOVISUAL E NOVAS FORMAS DE


INTERDIÇÃO. Responsáveis: Profs. Drs. Leonor Areal, Ana Bela Morais e Maria do
Carmo Piçarra

Data: 19 de novembro de 2013

11 às 13 horas (BR) - 13 às 15 horas (PT)

Fórum Temático 07 - FORMAS ATUAIS DE CENSURA E DE EXERCÍCIO DA


LIBERDADE DE EXPRESSÃO. Responsáveis: Profas. Dras. Maria Cristina Castilho
Costa e Ana Cabrera

Data: 26 de novembro de 2013

11 às 13 horas (BR) - 13 às 15 horas (PT)

Encerramento: 28 a 30 de novembro de 2013

465
Nos termos da #interdição

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novembro-2013#sthash.mjx07bZv.dpuf

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