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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO


DEPARTAMENTO DE LÍNGUA E LITERATURA ESTRANGEIRAS

Disciplina: LLE7021 – Literatura Ocidental I


Aluno(a): Patrícia Araújo

PORTFÓLIO I: ÉDIPO REI, SÓFOCLES

Trata-se de uma peça de tragédia grega, escrita por Sófocles, dramaturgo grego e um dos
mais importantes escritores de tragédia, narrada pelas falas dos personagens, datada por volta de
427 a.C.
Em Édipo Rei nós conhecemos a história de Édipo, rei de Tebas. A história de Édipo
começa muito antes do início da peça de Sófocles: filho de Jocasta com Laio, ele é despojado
pelo seu pai em um campo, por conta de uma profecia do Oráculo Delfos que prometia que seu
filho iria matá-lo e tomar sua esposa como sua mulher, Édipo é encontrado e levado a cidade de
Corinto. Lá, adotado por um casal, após certo tempo de vida, fica ciente da mesma profecia que
seu pai havia recebido. Amedrontado, resolve fugir de sua cidade e vai para Tebas, querendo
escapar do seu destino, acreditando que se tratava de sua família adotada. No meio do caminho,
encontra um grupo de homens com quem batalha e durante esta briga acaba matando o seu pai
biólogico, Laio, sem saber desse fato.
Édipo, então, chega à Tebas. Lá se depara com um monstro enviado por Hera que
amedrontava a cidade: a Esfinge. A Esfinge fazia enigmas para quem cruza-se seu caminho,
quem não conseguia resolvê-los, ela os devorava. Assim seguiu-se até Édipo encontrá-la,
conseguir resolver uma de suas charadas e ela ser derrotada, suicidando-se em seguida. Ele é
então declarado o novo rei de Tebas, ganha uma esposa, Jocasta, com quem terá 4 filhos e reina
na cidade por muitos anos, sendo reconhecido como um rei muito bom e generoso. A peça de
Sófocles começa já com Édipo reinando por muitos anos.
Chega um momento, então, em que Tebas começa a ser assolada por uma peste. Édipo,
desesperado pela saúde de seu povo, procura saber o porquê, até que descobre, depois de muita
procura, pelo profeta cego de Apolo, Tirésias, que ele é o filho abandonado de Laio e Jocasta,
confirmando a profecia do Oráculo de Delfos.
Desesperada, Jocasta, mãe e também amante, dá fim a sua própria vida. Édipo,
atormentado por não ter conseguido ver o que estava diante de si o tempo todo e por querer
deixar de ver essa realidade tão terrível, o destino que ele tanto queria fugir, mas acabou não
conseguindo, pune a si mesmo furando seus dois olhos.
Nessa peça, a ficção mostra um dilema muito comum e presente em nossas vidas até
hoje. Podemos fugir do destino? Existe uma vida já predestinada para cada um de nós e não
podemos fugir disso? Somos vítimas do destino?
Pensar no trajeto que fazemos em nossas vidas é difícil, sempre. Trajetórias, pessoas,
sentimentos, lembranças, experiências, tudo isso nos formam até o agora. Tudo o que já
passamos registra-se na gente. A dúvida é: tudo isso que nos ocorreu, foram consequências de
nossos atos passados que nos levaram até aqueles pequenos — ou grandes — momentos e
tomamos total responsabilidade por nossos atos ou tudo, de fato, já estava preparado para
acontecer e você só precisaria estar ali para a realização desses atos? Colocar essas dúvidas em
jogo é o que Édipo faz ao viver sua história na obra de Sófocles.
Um realce que acredito ser necessário ser feito nesta peça é o sentimento múltiplo que
Édipo nos faz sentir com sua trajetoria: medo e piedade.
Quando Aristóteles, na sua Poética, diz que a tragédia deve recair sobre um personagem
que seja bom e que cometeu um grande erro e não sobre um que seja completamente ruim, pois
assim não podemos sentir piedade alguma deste segundo, ele nos mostra uma relação com
Édipo: ao mesmo tempo que o temos como um rei maravilhoso, como quando, por exemplo, ele
derrota a cidade da Esfinge, ou quando ele diz "(...) Quero prestar-vos todo o meu socorro, pois
eu seria insensível à dor, se não me condoesse de vossa angústica (...)" para o seu povo que
sofria da peste, temos, também, um homem que apresenta defeitos, como quando ele acusa
Creonte de conspirar contra ele ou quando ele trata de forma ríspida o profeta Tirésias. Vemos
uma ambiguidade em seus atos, porém, seus defeitos são pequenas falhas, e não grandes.
Seria a maior falha de Édipo ter matado seu pai biólogico, então? Teria sido dormir com
Jocasta, sua mãe? Que grande falha teria Édipo cometido para que seu destino lhe punisse tão
cruelmente? Ou seu destino era apenas exatamente esse, sofrer essas infelicidades predestinadas
e sem escapatórias? Ele não sabia que era seu pai quando matou Laio e fica claro, também, na
obra que ele agiu com defesa. Em relação à Jocasta, ele também não sabia que era sua mãe e ela
lhe foi entregue junto com o trono quando ele derrotou a Esfinge.
Construindo, assim, um personagem que nos causa sentimentos múltiplos, notamos a
excelência de Sófocles para esse desenvolvimento e podemos aplicar essas questões, talvez,
também em nossas vidas. Nossas desgraças e infelicidades são resultados de atos falhos que
cometemos e estávamos inconscientes dos mesmos? Ou, até, está tudo imposto e estávamos já
destinados a passar por essa situação?
Pensando na segunda opção, percebemos que se o caso for esse nós não temos livre
arbítrio algum. Todas as escolhas com as quais já nos deparamos, na verdade, não são realmente
nossas escolhas, uma vez que, não importa qual escolhermos, qualquer uma delas irá nos levar ao
mesmo lugar: ao nosso destino, assim como aconteceu com Édipo, quando decide fugir de
Corinto por conta do seu destino prometido.
Entretanto, lembrando que Édipo apenas fugiu para Tebas porque pensava que a profecia
se referia aos seus pais adotivos, e não aos seus biólogicos, podemos pensar que ele poderia ter
evitado o seu destino cruel se tivesse permanecido na cidade de Corintio.
A curiosidade de Édipo, vista como boa por mim, uma vez que ele só procurava saber
quem era o assassino para que seu povo parasse de sofrer, também é muito marcante, pois, se ele
não houvesse insistido tanto para Tirésias lhe falar quem era o assassino de Laio, ele não saberia
que estava já vivendo a profecia de seu destino e não estaria consciente da terrível realidade que
lhe era presente, sendo o próprio responsável por ela, lhe poupando da amargura de saber o que
era sua vida.
Destino, consequências de atos, falhas, coincidência, todas as maiores dúvidas que nos
atormentam até hoje sobre a forma como viemos para cá e como passaremos o tempo durante
nossa estadia aqui na Terra, são muito bem retratadas pela história de Édipo.
Portanto, como não sabemos ao menos as respostas para nós mesmo em relação à essas
questões, obviamente, não saberemos a resposta para a obra de Sófocles também. Cabé a nós,
como leitores, acompanhar Édipo em sua jornada até sua desgraça como observadores e apenas
podermos formular hipóteses sobre seu destino, assim como os nossos próprios.

REFERÊNCIAS
Sófocles (c. 496 AC-406 AC). Rei Édipo. Clássicos Jackson, Vol. XXII, 2005.
Aristóteles. (1973) Poética. São Paulo: Abril Cultural. Col. Os Pensadores,
vol IV.

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