Professional Documents
Culture Documents
c
c
Guacira Quirino Miranda
Universidade Federal de Uberlândia
guaciraqm@hotmail.com
A educação a distância ± EAD, que existe no Brasil desde 1904, vem se modificando ao longo
do tempo, influenciada pelas circunstâncias históricas, políticas e sociais. O surgimento das
novas tecnologias da informação e da comunicação tornou possível a inserção de novas
metodologias, sobretudo com o uso da Internet nas mediações pedagógicas. A possibilidade
de interação em tempo real com os estudantes, que também passaram a demandar uma maior
aproximação entre eles e com o professor, trouxe a necessidade de ampliação do quadro de
profissionais nas instituições de ensino. Assim surge a figura do tutor ou orientador
acadêmico na EAD. O papel do professor se modifica, se adapta, cria novas alternativas e
exige novas competências. Conversando sobre a tutoria a distância é possível analisar e
compreender melhor o lugar e as atribuições do professor-tutor. O primeiro passo é
estabelecer uma análise sobre a EAD no Brasil, sua história e configuração atual para, em
seguida, falar sobre a tutoria: suas características, o perfil do tutor e o questionamento sobre
esta atividade profissional.
c
c
Historicamente esta modalidade de ensino surgiu através da busca de expansão do acesso ao
ensino, principalmente para o preparo profissional de pessoas que, por vários motivos, não
podiam freqüentar um curso presencial. O primeiro anúncio de um curso a distância se deu
em 1728, em Boston, quando um professor de taquigrafia publicou anúncio em um jornal
oferecendo um curso a distância. No final da Primeira Guerra Mundial surgiram, por causa do
aumento da demanda por educação, novas iniciativas em EAD. Com o avanço das tecnologias
em cada momento histórico, pode-se observar a expansão de ofertas de cursos a distância. O
aperfeiçoamento dos correios e do serviço de transporte, a radiodifusão, a televisão e
posteriormente o acesso mais amplo à Internet propiciaram a consolidação desta modalidade
de ensino.
No Brasil, a partir de 1904, com escolas técnicas internacionais oferecendo cursos por
correspondência, se deu o início da educação a distância. Em 1941, o Instituto Universal
Brasileiro passou a oferecer cursos por correspondência. Na década de 70 a Fundação Roberto
Marinho implantou o programa de educação supletiva no modelo de tele-educação
complementado por material impresso. A Universidade Aberta de Brasília foi criada em 1992.
Vários recursos didáticos foram incorporados nesse sistema de educação: o uso de fitas
cassete e de vídeo, os disquetes para uso em computador e finalmente, a educação on-line.
Nos últimos anos, pelo desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação ±
TICs observou-se um aumento vertiginoso na oferta desta modalidade de ensino. A Internet
possibilitou a tecnologia de multimeios, que combina sons, textos e imagens; além dos
hipertextos e programas informatizados que tornam possível a interação em tempo real.
Soma-se ao desenvolvimento tecnológico o fenômeno da globalização, que trouxe a
necessidade de formação contínua e aperfeiçoamento diante do aumento da competitividade
no mercado de trabalho.
O conceito de EAD tem, portanto, ligação direta com as circunstâncias históricas, políticas e
sociais, e sua expansão tem a ver com uma demanda da sociedade, mais do que com a própria
modalidade de ensino.
Do porto de vista legal, a EAD foi oficializada na Lei 9.394, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação ± LDB, de 20 de dezembro de 1996, em seu artigo 80º que diz que ³o Poder
Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em
todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada´.
O Decreto 5.622, de 19.12.2005, (que revogou o Decreto 2.494 de 10.02.98 e o Decreto
2.561, de 27.04.98), regulamenta o Art. 80 da LDB, e caracteriza a educação a distância
como:
1
Comunicação assíncrona é um termo utilizado em educação a distância para caracterizar a
comunicação que não ocorre exatamente ao mesmo tempo, não simultânea. Dessa forma, a mensagem
emitida por uma pessoa é recebida e respondida mais tardiamente pelas outras. (MENEZES e
SANTOS, 2002, s/p.).
criatividade diante de novas situações, propostas, atividades. (MORAN,
2003, p. 43).
Pólos de Apoio Presencial, segundo a UAB, são pontos de apoio mantidos por municípios ou
governos de estado, selecionados por projetos conforme abertura de Edital, que oferecem
infra-estrutura física, tecnológica e pedagógica para que os alunos possam acompanhar os
cursos:
!"#$
Moran (2006) destaca a responsabilidade que acompanha um educador a distância, e a
importância de que ele reúna algumas características, traços e condições. O tutor deve saber
se comunicar com facilidade, tanto na forma presencial como por telefone, ou por escrito.
Precisa ter bom domínio do conteúdo, conhecer a filosofia e os objetivos da instituição em
que trabalha. Precisa gostar de trabalhar com os estudantes, ter interesse em conhecer as
características dos estudantes e ajudá-los com métodos, técnicas ou mecanismos que facilitem
a aprendizagem, respeitando o ritmo de cada aluno. Precisa ser dedicado e comprometido com
o trabalho e as pessoas. Ter ética profissional e pessoal. Ser receptivo a manifestações
afetivas, de sentimentos e reflexões pessoais tratando-as com respeito.
Ressalta ainda as características de autenticidade e honradez, maturidade emocional, bom
caráter e cordialidade, compreensão de si mesmo, capacidade de empatia, inteligência e
agilidade mental, capacidade de escutar, cultura social, estabilidade emocional, capacidade de
aceitação, inquietude cultural, amplos interesses e liderança, entre outras.
Assim, um tutor deve ser:
O tutor deve ter uma formação específica, para a compreensão dos fundamentos, da
metodologia e da estrutura da EAD. Precisa ter conhecimentos pedagógicos de forma a
orientar com didática e método. De uma forma geral, o tutor precisa compreender a estrutura
dos assuntos que acompanha e seus princípios conceituais.
No curso de formação de tutores do Senac/DF, Rodrigues (2008) informa que a tarefa do tutor
está desvinculada do ato de ensinar, pois sua função é a mediação pedagógica. O tutor não é
um transmissor de conhecimento, mas um professor facilitador que contribui para a formação
de um ambiente propício à atividade colaborativa. Assim o tutor precisa ter as competências
de um animador, um facilitador e um estrategista. Animador para criar condições agradáveis
para que os alunos se sintam confortáveis no ambiente virtual de aprendizagem, incentivando
a comunicação para criar interesse comum em grupos heterogêneos. Facilitador porque
trabalha em função de uma aprendizagem colaborativa, usando o método construtivista,
criando oportunidades para que os alunos se sintam responsáveis pela sua apropriação dos
saberes. Estrategista por ter que prever situações, antecipar-se aos problemas, resolver
conflitos, fazer intervenções e traçar planos para atuações futuras.
O Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, em sua Classificação Brasileira de Ocupações ±
CBO (2008) lista as seguintes competências pessoais para a profissão de Instrutores e
Professores de Cursos Livres: ³demonstrar flexibilidade, dominar conteúdo ministrado,
compatibilizar diferenças entre alunos, desenvolver criatividade, aprimorar-se continuamente,
despertar outros interesses nos alunos, mediar relação ensino-aprendizagem´.
%"&'
(
A descrição das competências pessoais para a profissão de Instrutores e Professores de Cursos
Livres da CBO/MTE tem um segundo propósito: não encontramos naquele documento a
profissão de tutor ou orientador acadêmico. A única profissão que inclui a tutoria de alunos a
distância em sua área de atividades é a que foi mencionada. No entanto, sobre a profissão de
Instrutor e Professor de Curso Livre (código 3331), e ao relatar sobre a formação e
experiência, a CBO/MEC (2008) observa que: ³O exercício dessas ocupações é livre. Requer-
se escolaridade e qualificação profissional variadas, dependendo da área de atuação. Os
cursos livres não estão sujeitos à regulamentação pelo MEC´. E sobre as condições gerais de
exercício desta profissão, encontra-se na CBO a menção de que é exercida em instituições de
ensino, basicamente em escolas que oferecem cursos livres, e os profissionais geralmente
atuam como trabalhadores autônomos. Mas o tutor acadêmico atua em instituições
regulamentadas pelo MEC e, portanto não se enquadra neste código profissional.
Na busca de um código para enquadramento do tutor ou orientador acadêmico verifica-se que
existe uma profissão, cadastrada sob o código 2394, com a denominação ³Programadores,
avaliadores e orientadores de ensino´. Suas áreas de atuação estão ligadas à implementação da
execução do projeto pedagógico, avaliação do desenvolvimento do projeto pedagógico,
coordenação da (re)construção do projeto pedagógico e promoção da formação contínua dos
educadores (professores e funcionários). Sobre as condições gerais de exercício observa-se
que os profissionais ³atuam em atividades de ensino nas esferas públicas e privadas. São
estatutários ou empregados com carteira assinada´. E sobre a formação e experiência ³o
exercício dessas ocupações requer curso superior na área de educação ou áreas correlatas´.
Esta profissão está relacionada às de Coordenador Pedagógico, Pedagogo, Professor de
técnicas e recursos audivisuais, Psicopedagogo, e Supervisor de Ensino. Não consta a
atribuição de tutoria a distância, as áreas de atuação do tutor são diferentes das mencionadas,
e a formação exigida também não corresponde às exigências em seleções de tutores. Pode-se
dizer que este código profissional não enquadra a profissão do Tutor ou Orientador
Acadêmico.
Sobre a ocupação de Professor (vários códigos listados na CBO), a característica básica desta
profissão é a necessidade de escolaridade de ensino superior, ou a formação profissional em
nível técnico para aqueles que atuam em cursos técnicos. A pesquisa nos editais de seleção de
tutores a distância revela que as instituições estão exigindo formação superior para a
contratação de tutores, no entanto, a forma de contratação é específica para este tipo de
atividade, não podendo ser considerada como uma contratação de professor.
A respeito da remuneração dos tutores e de suas relações de trabalho, cria-se uma outra
polêmica, pois alguns autores consideram que a criação desta distinção entre professor e
professor-tutor possibilita uma nova relação que revela uma maior precariedade do trabalho
docente. Belloni (2003) menciona que seguindo a lógica de produção em massa, que produz
trabalhadores instrumentados para o mercado, observa também a influência de modelos
teóricos oriundos da economia e sociologia industriais, tais como o fordismo e o pós-
fordismo, no que diz respeito à organização do trabalho acadêmico. A autora cita Renner
(1995), que diz:
Um aspecto que tem sido levado em consideração a respeito do debate sobre a tutoria em
educação a distância é a remuneração do trabalho com relação à quantidade de horas
trabalhadas. O tutor é contratado para uma carga-horária determinada, porém o trabalho
normalmente excede o horário estabelecido. Em virtude da flexibilidade da EAD e do
acompanhamento também individualizado do aluno, da necessidade eventual de viagens e de
trabalho em finais de semana, o tutor muitas vezes trabalha além do horário, com o trabalho
fragmentado e sem nenhuma remuneração adicional.
Na prática, muitos docentes têm a tutoria como um trabalho adicional, um ³segundo turno´
para complementação de renda. A contratação eventual é um dos fatores determinantes para
que isto aconteça, além disto, a falta de regulamentação ou de direitos trabalhistas. Em muitos
editais o valor que se oferece é de uma bolsa de pesquisa.
No entanto, este novo campo de trabalho tem atraído muitos professores, que estão
procurando a formação para tutoria em EAD entre as várias universidades oferecem este curso
de Extensão. A carga horária da Formação de Tutores para EAD é variada, de acordo com a
proposta do curso. As disciplinas versam sobre a educação on-line, ambientes virtuais de
aprendizagem, a mediação on-line e ferramentas de mediação, entre outras.
A profissão de Orientador Acadêmico ou Tutor em EAD representa uma alternativa para
aqueles que buscam um lugar no mercado de trabalho.
)c
*+
O tutor é o profissional responsável pela facilitação da aprendizagem, cabe a ele mediar as
interações do estudante com o conteúdo e com os demais colegas, acompanhar a realização
das atividades, fazer a avaliação do desempenho do aluno, servir como um elo entre o
estudante e a instituição, orientar e motivar para a consecução dos resultados esperados ao
final do curso. Este profissional precisa reunir uma série de conhecimentos, habilidades e
atitudes para exercer a função de tutoria.
Com as inovações tecnológicas e de comunicação, que possibilitaram a Internet e sua
expansão, e levando em conta o processo de globalização que trouxe novas demandas por
parte da sociedade, de formação continuada, a EAD representa atualmente uma opção viável.
Nesta metodologia de ensino, o tutor pode ser considerado indispensável para a interação e o
trabalho on-line, que hoje são as principais características da EAD. As características do seu
trabalho, bem como as competências pessoais desejáveis são conhecidas.
A descrição sumária e as áreas da atividade de Professor contempladas na CBO/MTE
permitem enquadrar os tutores ou orientadores acadêmicos nesta categoria profissional. Estes
profissionais exercem suas atividades nas instituições de ensino, no entanto não são
concursados ou assalariados portadores de carteira assinada, diferentemente do que está
prescrito na CBO/MTE. Fica então o questionamento: será a tutoria em EAD uma nova
profissão ou a ressignificação da profissão de Professor? Esta pergunta demonstra a
impossibilidade de uma conclusão sobre o assunto porque muitas dúvidas ainda persistem
com relação à profissionalização do tutor. As respostas deverão ser dadas por aqueles que
estudam ou trabalham na EAD. Através da análise das experiências e perspectivas da tutoria
há de se constituir uma regulamentação para a profissão.
J+,c
BELLONI, M.L. -&. . Campinas: Autores Associados, 2003.
MENEZES, E.T.; SANTOS, T.H. Comunicação assíncrona (verbete). / 6
-& #1EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em:
<http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=201>. Acesso em 03 out. 2008.
MORAN, J.M. Contribuições para uma pedagogia da educação . In: SILVA, M. (Org.).
-&i 2º ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
MORAN, J.M., BOF A., MORAES M. +$-&$-&.
Florianópolis: SEaD/UFSC, 2006.
SÁ. I.M.A. -&. ' processo contínuo de inclusão social. Fortaleza: CEC,
1998.