You are on page 1of 12

ISSN 1413-389X Temas em Psicologia - 2009, Vol.

17, no 2, 359 – 370


Dossiê "Psicologia, Violência e o Debate entre Saberes"

Violência e educação: a percepção de pré-adolescentes


sobre a autoridade da escola e da família no conflito
interpessoal

Maria Isabel da Silva Leme


Universidade de São Paulo – Brasil

Resumo
O trabalho analisa a violência que pode resultar do conflito interpessoal entre pares na escola, a partir
de dados coletados pela autora. Como esta instituição atribui os conflitos que ocorrem em seu interior
à ausência de educação por parte da família, dados da literatura que abordam a percepção que o pré-
adolescente tem da autoridade familiar e da escolar são trazidos para refletir sobre a questão. A grande
maioria dos estudos mostra que as crianças e os adolescentes reconhecem e legitimam o direito de
seus pais e da escola intervirem em questões morais como o uso da violência para resolver conflitos,
resguardando, porém, seu direito à autonomia em questões pessoais e convencionais.
Palavras-chave: Conflito, Escola, Família, Autoridade.

Pre Adolescents’ perceptions about the authority of the family and


school over interpersonal conflict

Abstract
This study examines violence that can result from interpersonal conflict among peers at school using
as reference empirical data collected by the author. As this institution attributes the occurrence of
conflicts to the lack of education from the family, we analyzed data from the literature that address the
perception that the pre-adolescent has from the authority of the family and the school on the issue.
Most studies show that children and young people recognize and legitimize the right of parents and
school to intervene on moral issues, such as the use of violence to solve interpersonal conflicts,
safeguarding, however, their right to autonomy in personal and conventional matters.
Keywords: Conflict, School, Family, Authority.

Conflito e Violência uma certa violência, no sentido em que se


Antes de discutir o conflito e a violência, espera que a criança se submeta às regras
assim como a percepção dos jovens sobre o disciplinares da família e da escola,
direito de intervir de cada instituição, escola e controlando seus impulsos para se adaptar à
família, por meio do exercício da autoridade, vida em sociedade (Bruner, 1996/2001). É
cabe tecer algumas considerações para um possível que o foco exclusivo na missão
tratamento adequado e realista desse tema construtiva da escola explique não só o fato de
polêmico. Refletir realísticamente sobre o se ignorar este aspecto coercitivo do educar,
conflito e, principalmente, sobre a violência na mas ainda que haja certa idealização do
educação envolve, em primeiro lugar, convívio escolar do passado, visto como mais
enfrentar um paradoxo. Este se configura pacífico do que atualmente. Idealização
quando se admite a existência de algo porque, como bem lembra Aquino
destrutivo, como a violência, no interior de (1996/2008), a ordem então reinante era
uma instituição social como a escola, cuja provavelmente mais fruto do medo das
missão é, pelo menos em princípio, construir e punições do que do verdadeiro respeito pelo
favorecer o crescimento. Por outro lado, é outro. Assim, parece-nos mais promissor
preciso lembrar também que educar envolve refletir de modo realista e objetivo sobre as
______________________________________
Endereço para correspondência: Maria Isabel da Silva Leme. Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo.
Av. Professor Mello Moraes, 1721. CEP.: 005518-900. E-mail: belleme@usp.br.
360 Leme, M. I. S.

questões envolvidas na gestão do convívio, situações complexas como o conflito. Tem se


procurando, sem com isso incorrer em verificado que a resolução satisfatória do
simplificações, preservar a complexidade e conflito demanda uma análise de várias
contradição que lhes são inerentes. dimensões envolvidas na situação, como
direitos e deveres de todos os envolvidos,
estratégias possíveis, consequências, normas
Conflito interpessoal na escola e etc. Assim, a melhora na capacidade da
violência: memória de trabalho permite comparar os
Uma das primeiras questões a serem direitos do outro com os próprios, e assim,
enfrentadas é a concepção que se mantém avaliar as estratégias possíveis para lidar com
sobre conflito, visto que ela dirige como nos a ocorrência e os riscos envolvidos. Além do
relacionamos com ele. O conflito nem sempre desenvolvimento psicológico, o sexo é outra
envolve violência, embora essa seja sua variável importante, pois a agressividade é
representação mais frequente em nosso muito mais tolerada nos meninos do que nas
cotidiano, o que, a nosso ver, explica porque é meninas e, assim, eles têm maior tendência a
visto como algo negativo, a ser evitado. resolverem conflitos apelando para a coerção
Definindo em poucas palavras, o conflito é (Magalhães & Otta, 1995). Essa variável pode
uma situação de oposição entre pessoas ser atenuada ou fortalecida pela ação de outra
envolvidas em uma interação social. Essa muito importante, que é a cultura. Culturas
oposição pode consistir em diferenças nos individualistas, que valorizam mais a
objetivos de cada uma, como por exemplo, a autonomia e o bem-estar individual do que o
negação de um dos protagonistas ao pedido do coletivo, são mais tolerantes à agressão do que
outro, o que provoca frustração neste último. as coletivistas, que valorizam mais a
Pode ser iniciado por uma crítica, que ameaça interdependência e harmonia no grupo
a boa imagem de si, ou até mesmo por um (Bergeron & Schneider, 2005). Mesmo entre
esbarrão, que pode ser interpretado como crianças esta tendência pode ser observada em
provocação, mesmo tendo sido acidental. A atividades como brincadeiras ou divisão de
violência pode ocorrer quando um prêmios (Schneider, Fonzi, Tomada, & Tani,
protagonista, ou todos eles, escolhe o uso da 2000). Culturas que valorizam a masculinidade
força para mudar a situação, coagindo o outro, são também mais tolerantes com relação à
obrigando-o a obedecer, a satisfazer o seu violência como estratégia de resolução de
desejo. Esse pode se submeter porque conflitos do que as que não partilham esses
considera que essa seja a solução mais fácil, ideais e organizam suas práticas orientadas por
ou, simplesmente porque tem medo. valores identificados como femininos, como
Infelizmente, em vista das consequências, que por exemplo, o cuidado com o outro (Hofstede
geralmente levam ao distanciamento da parte & Bond, 1984; Berry, Poortinga, Segall, &
que se submeteu, a submissão e a coação são Dansen, 1992/2002).
estratégias de resolução bastante comuns. As estatísticas mostram as consequências
Todavia, devem ser lembradas as formas funestas desse tipo de valorização, pois uma
alternativas de enfrentamento, que são por isso das principais causas de morte entre jovens no
satisfatórias, e ao mesmo tempo pacíficas, pois mundo, principalmente os do sexo masculino
buscam contemplar os direitos e objetivos de de baixa renda, é a violência interpessoal,
todos, como a negociação, o diálogo e a resultante de conflitos mal resolvidos (Yunes,
conciliação. Como analisaremos a seguir, essa 2002). Por isso, é importante que a resolução
forma de resolver o conflito é menos de conflito seja objeto de atenção, tanto da
frequente, por vários motivos, que também escola, como da família, para que os jovens
serão examinados. aprendam a resolvê-lo de modo pacífico e
A escolha das estratégias depende da respeitoso, por meio do diálogo e negociação,
interferência de uma variedade de fatores, preservando o direito de todos. Vamos
sendo que consideramos como mais examinar a seguir, em que tipo de situação isso
importantes os destacados a seguir. O nível de deve ser feito, isto é, quais os conflitos mais
desenvolvimento cognitivo é, a nosso ver, um frequentes entre jovens na escola, como são
dos mais importantes, visto que a maturação comumente resolvidos, como a instituição lida
favorece o processamento de uma quantidade com eles e quais as implicações, em termos de
maior de informações, o que é frequente em mudanças que são necessárias na gestão do
A percepção da autoridade por pré-adolescentes 361

ambiente de convivência e do conflito em veladas, ou seja, mais difíceis de serem


especial. Em seguida, analisaremos o papel da observadas pelos educadores, como os
família na mesma perspectiva. insultos, apelidos, empurrões, difamação e
roubo ou danificação de pertences. Observa-
se, na mesma tabela, que a probabilidade de
Ambiente de convívio e violência na ocorrência deste tipo de agressão é mais alta
educação: nas escolas públicas do que em escolas
Para a análise do ambiente de convivência privadas, possivelmente um indicativo de
escolar em termos dos conflitos que ali menor preocupação em promover a boa
ocorrem, recorreremos a dados de duas convivência entre pares na primeira.
pesquisas recentes. Uma delas abordou mais Outro dado que vale ser mencionado, e
especificamente o ambiente de convivência na que confirma o apontado sobre a importância
escola e foi realizada com uma amostra do sexo, é o evidenciado pela Tabela 2, que
representativa de alunos de Ensino mostra que os meninos informam sofrer muito
Fundamental e Médio de São Paulo (Leme, mais provocações do que as meninas.
2006). A outra, iniciada no final da década de
1990, (Leme, 2004) aborda as respostas de Tabela 1: Provocações mais frequentes por
resolução de conflitos de cerca de 1000 alunos tipo de escola.
de escolas públicas e privadas de São Paulo e,
ainda, de 350 alunos de Rennes, França. Privadas Públicas
A pesquisa mencionada acima sobre a
convivência na escola (Leme, 2006) revelou Insultos 64% 69%
dados que causam preocupação, visto que o Apelidos 49% 60%
convívio, se já não se encontra comprometido,
pelo menos não se caracteriza como um Empurrão 46% 60%
ambiente seguro e agradável para o Difamação 44% 47%
relacionamento entre pares da comunidade
escolar. Isso porque, segundo metade dos Pertences 35% 40%
jovens pesquisados, os conflitos aumentaram
Ameaça 17% 23%
nos últimos anos, opinião mais frequente entre
os mais jovens, de sexto e oitavo anos. Apanhar 16% 16%
Considerando que, segundo a literatura, o
ápice da agressividade ocorre em torno dos
dez anos (Astor, 1994; Borum, 2000),
Tabela 2: Provocação mais frequente
esperava-se, em função da faixa etária dos
segundo o sexo.
participantes, índices menores, isto é, que a
incidência de conflitos estivesse em declínio.
Alunos Alunas
Outro indicador significativo foi a queixa
apresentada por cerca de um quinto (22%) de Insultos 61% 39%
alunos de que tem poucos amigos na escola.
Cerca de 25% destes alunos que considera que Apelidos 58% 33%
tem poucos amigos na escola, informa que Empurrão 54% 46%
gostaria de mudar para outro estabelecimento
de ensino. Coerentemente com esta percepção, Difamação 52% 48%
verificamos que 70% dos alunos de 5o a 7 o
Apanhar 55% 45%
anos do Ensino Fundamental de duas escolas
pública e privada estudadas recentemente Pertences 49% 51%
informaram que foi na escola o local onde
conheceram as pessoas de quem não gostam, Ameaça 52% 46%
consideradas até inimigas por cerca da metade
deles (Leme, 2008). As queixas manifestadas pelos alunos
Examinando as queixas mais frequentes indicam que vale examinar como os conflitos
dos alunos sobre provocações, ou mesmo são resolvidos nos dois tipos de escola e por
agressões infligidas por seus colegas, observa- que motivo estão comprometendo o ambiente
se na Tabela 1 que essas são em sua maioria de convivência. Os dados de pesquisa
362 Leme, M. I. S.

mencionada acima sobre resolução de amigos, as estratégias mais usadas são as mais
conflitos, em que já participaram cerca de pacíficas, como negociação e submissão.
1000 alunos de segundo a sétimo anos de Resumindo, provocações veladas, mais
escolas públicas e privadas, podem ajudar a difíceis de serem identificadas pelos
responder estas questões. Nesta pesquisa, os educadores, são mais frequentes do que as
alunos responderam a um questionário que explícitas como agressão física. A submissão
aborda como resolveriam conflitos fictícios ao outro é a forma mais comum de lidar com o
envolvendo colegas, amigos e pais (Deluty, conflito, variando, porém, de acordo com o
1979). Tais conflitos são descritos em dez grau de proximidade de quem está envolvido
vinhetas e envolvem situações muito no conflito, com o gênero, com o nível
semelhantes às agressões relatadas pelos socioeconômico, e com o tipo de problema
alunos, ou seja, insultos, apelidos, empurrões e envolvido. Nos que envolvem um direito
danificação de pertences. Temos obtido desde inquestionável do outro, como o de
o início da pesquisa resultados bastante propriedade sobre um objeto a reação da
estáveis, categorizados de acordo com as grande maioria é não reagir. A agressão ou
estratégias descritas acima, que apontam para coerção é a segunda forma mais frequente,
a necessidade de intervenções mais indicando a necessidade de um trabalho na
sistemáticas nas escolas (Leme, 2004). Tal escola voltado para a resolução de conflitos
recomendação se justifica porque mais de um mais pacífica e produtiva.
terço das respostas fornecidas pela população
estudada (35%) consistem em ausência de Tabela 3: Reação a conflitos por tipo de
reação, ou até submissão à vontade do outro, escola.
por exemplo, obedecendo à imposição. Uma
proporção semelhante (30%) de respostas Pública Privada
aponta o uso da coação, por meio de alguma
forma de violência, física ou verbal, e, Submeter-se 39% 32%
finalmente, um quinto das respostas indica o Coagir 28% 32%
uso de estratégias ambíguas, por exemplo,
submissão, mas incluindo alguma forma de Mistas
20% 19%
retaliação no futuro. A este respeito, vale (Agressão/Submissão)
mencionar que essa estratégia mista é Conciliação 13% 17%
frequentemente observada em situações em
que os participantes reconhecem o direito do
outro protagonista, como, por exemplo,
recusar o pedido de partilhar um doce, mas Quadro 1: Reação a conflitos segundo o
planejam retribuir a negativa no futuro. protagonista.
Finalmente, a reação mais desejável, isto é, a
protagonista reação reação
conciliação via negociação ou diálogo, vem
sendo desde o início da pesquisa a menos colegas submissão coação
frequente de todas (15%). Como mostra a
Tabela 3, algumas diferenças são encontradas amigos submissão negociação
entre escolas, observando-se mais respostas de
enfrentamento, tanto coercitivo, como pacífico Nesse sentido, pareceu-nos pertinente
entre alunos de escola privada. Este tipo de investigar junto aos diretores das escolas
resposta é menos frequente entre alunos de participantes do estudo já mencionado acima
escola pública, que informam que se sobre convivência escolar, a que atribuem os
submeteriam mais ao outro. conflitos que ocorrem entre alunos, e também
como costumam proceder nestas ocasiões.
Entretanto, vale observar que essas Verificamos nesta pesquisa que 60% dos
estratégias diferenciam-se de acordo com a diretores delegam aos professores o manejo
proximidade com o protagonista descrito no das ocorrências que consideram mais leves,
conflito. Como mostra o Quadro 1, nos como exposição ao ridículo ou troca de
conflitos com colegas, as respostas dos alunos insultos entre alunos, reservando para si a
tendem mais para a submissão e coerção. Por gestão das mais graves, como roubos e
sua vez, quando o conflito ocorre entre ameaças. Considerando que as ocorrências são
A percepção da autoridade por pré-adolescentes 363

em sua maioria veladas e, como pode se como das características do aluno nos tipos de
observar na Tabela 4, ocorrem em locais mais relação que estabelece com colegas e
difíceis de observar como pátio, corredores e professores. Também não se pretende defender
saída da escola, dificilmente os alunos a ausência de punição para as transgressões
receberão alguma orientação dos professores cometidas pelo aluno. Entretanto, ao
para resolver o conflito, de tal modo que sua “terceirizar” a responsabilidade pelos
intervenção produza alguma aprendizagem problemas de convivência que ocorrem na
sobre o enfrentamento desse tipo de situação. escola, os diretores minimizam ou mesmo
negam que a organização escolar tenha alguma
Tabela 4: Locais onde mais ocorrem os participação no problema. Em outras palavras,
conflitos. ao não assumir a parcela de responsabilidade
da escola nos conflitos, nada fazem para
Local Pública Privada identificar e corrigir as falhas em sua
Pátio 44% 38% organização, e também, não propiciam
condições para que o aluno aprenda a partir do
Corredor 30% 30% conflito, principalmente quando tomam
Classe s/ prof. 40% 30% medidas extremas como chamar a polícia. Em
Saída 28% 16%
suma, ao que tudo indica, o estilo de gestão
não comprometido com o convívio entre
Classe c/ prof. 24% 18% alunos, e também desses com os professores,
perpetua alguns equívocos já apontados na
É muito provável que esse tipo de gestão literatura, como: a escola deve se ocupar
pouco eficaz seja produto das crenças sobre somente do conhecimento acadêmico, ficando
conflitos mantidas pelos diretores. Segundo a educação da afetividade e da sociabilidade a
eles, os conflitos ocorrem entre alunos porque cargo da família. Outro equívoco que se pode
a educação dada em seu lar é permissiva detectar nestas concepções é a concepção de
(44%), ou sua personalidade os predispõe a paz, que, ao que tudo indica, é sinônimo de
esse tipo de incidente (40%). Apenas 14% ausência de conflito. Como já analisado,
admite a possibilidade de que a organização conflito não é concebido como algo passível
escolar, como por exemplo, estímulo à de ocorrer nas relações cotidianas, por estar
competição entre alunos, ou mesmo associado a falta de educação ou problemas de
dimensionamento insuficiente das áreas personalidade.
destinadas à recreação possa ter relação com o
fenômeno. As crenças dos diretores sobre
conflitos entre professores e alunos são muito Família e gestão de conflito
semelhantes. Novamente a família é apontada A seguir analisaremos se procede a crítica
como a principal responsável (58%), por não feita pela escola sobre a permissividade da
cumprir seu papel de educar, ou então o aluno, família que induz os jovens ao conflito. Esta
por sua falta de interesse nas aulas (30%). Só análise será feita por meio de dados da
uma minoria (12%) admite que os professores literatura referente aos estilos de criação
possam ter alguma participação nos conflitos adotados pelos pais identificados pelas
que ocorrem entre eles e os alunos. pesquisas. Em seguida, analisaremos a
Além disso, essas crenças são autoridade, tanto familiar, como escolar na
confirmadas pelas medidas tomadas quando o perspectiva dos jovens.
aluno transgride, agredindo alguém ou Vale observar que muitas investigações
danificando o patrimônio escolar. A grande que serão examinadas a seguir têm buscado
maioria dos diretores informou chamar a estabelecer relações entre o estilo de criação
família nessas ocasiões, principalmente nas dos pais, notadamente o tipo de autoridade
escolas privadas. Uma boa parcela de diretores exercida para controle da conduta e a
de escola pública informou que dependendo da explicitação da afetividade, e a moralidade,
gravidade da transgressão, encaminham competência social dos filhos. Já no início da
denúncia ao Conselho Tutelar, ou até mesmo à década de 1970, foram identificados por
polícia. Baumrind (1971) 3 tipos básicos de estilos de
Não se pretende aqui retirar, nem mesmo criação: autoritário, permissivo, autorizante ou
minimizar a participação da família, bem autoritativo (authoritative). O primeiro estilo
364 Leme, M. I. S.

se baseia no exercício da autoridade pelo como mais responsivos e exigentes do que


controle e pelo pouco apoio oferecido à seus filhos os percebem (Weber, Prado,
criança, o segundo, por pouco controle e apoio Viezzer, & Brandenburg, 2004).
forte, e o terceiro, em que controle e apoio são Entretanto, não há total consenso sobre
equilibrados, no sentido em que existem esta visão de que os estilos parentais produzem
normas a serem obedecidas, mas ao mesmo determinados resultados nos filhos, que vem
tempo é possível alguma autonomia da sendo criticada por pesquisadores como
criança para negociar as regras. Maccoby e Montandon (2005), que consideram que a
Martin (1983) refinaram a tipologia, questão é mais complexa. Segundo esta autora,
desdobrando o permissivo em dois subtipos: é preciso lembrar que a percepção de que há
negligente, em que impera a indiferença, tanto uma crise de autoridade na criação das
em termos de exigências, como de apoio, e o crianças vem desde a Antiguidade, como
estilo indulgente, que se caracteriza pela baixa indicam excertos de textos de filósofos como
exigência e alto apoio na relação com os Sócrates por ela apresentados em seu artigo.
filhos. Esta caracterização dos estilos parentais Mostra ainda que as explicações fornecidas
inspirou inúmeros trabalhos, inclusive no pelas pesquisas para a adoção de um estilo de
Brasil (Costa, Teixeira, & Gomes, 2000; autoridade parental em detrimento de outros
Weber, Selig, Bernandi, & Salvador, 2006; vêm variando ao longo do tempo. Na década
Teixeira, Oliveira, & Wottrich, 2006; Reichert de 1980, eram considerados fatores
& Wagner, 2007). Os primeiros estudos importantes para adoção de um determinado
(Baumrind & Black, 1967; Baumrind, 1971) estilo: a constituição familiar, como número de
verificaram a existência de relação entre o filhos, ocorrência de separações, sexo e ordem
estilo de criação e a competência social da de nascimento da criança; e a origem
criança, no caso, o autoritativo e autonomia, socioeconômica da família, apontando-se as
ajustamento e segurança da criança já na pré- classes populares como mais propensas a
escola. adotar um estilo de criação mais autoritário,
Valem ser mencionados dois instrumentos enquanto os pais de classe média adotariam
disponíveis no Brasil. O Inventário de Estilos um estilo mais democrático. Já na década de
Parentais, incluído pelo Conselho Federal de 1990, começa a emergir a visão do estilo de
Psicologia como instrumento de diagnóstico, criação como um fenômeno complexo,
foi desenvolvido por Gomide em uma multideterminado por variáveis como nível
perspectiva teórica diferente da de Baumrind, socioeconômico, cultura, funcionamento
mas que aborda muitas das mesmas familiar, história da família em termos do ciclo
dimensões, como tipo de monitoramento e de vida, sua representação de infância e os
afetividade, e tem encontrado resultados ideais de vida que projeta para a criança. Em
semelhantes, como por exemplo, monitoria suma, passou-se a admitir que o impacto dos
positiva associada à sociabilidade (Prust & diferentes estilos de criação sobre os filhos
Gomide, 2007; Sampaio & Gomide, 2007; precisa ser ponderado em relação à influência
Carvalho & Gomide, 2005; De Salvo, Silvares, das variáveis citadas e, ainda, as características
& Toni, 2005). Duas escalas foram traduzidas da criança, sua experiência em outras
e adaptadas nas dimensões de responsividade e instituições como escola e vizinhança. Além
exigência (Costa, Teixeira, & Gomes, 2000), disso, é essencial considerar o estilo a partir da
encontrando a mesma distribuição e perspectiva da criança, o que ainda é raro,
proporções semelhantes de estilos aos embora informações importantes sobre sua
encontrados na amostra norte americana, o socialização possam ser assim obtidas. No
que evidencia ainda que nossas práticas de sentido de preencher essa lacuna, Montandon
criação não são tão permissivas como se (2005) realizou pesquisa que levantou as
supõe na escola. Já quando a escala foi expectativas mantidas pelas crianças acerca do
aplicada em pré-adolescentes, os resultados que os pais deveriam prover em sua educação,
mostraram proporções não só diferentes, mas verificando que esperavam afeto, apoio,
ainda que 67% dos pais pesquisados adotam orientação e controle. Apenas um terço das
estilo ou autoritário, ou indulgente, ou crianças manifestou satisfação quanto ao
negligente, os menos propícios para o preenchimento desta expectativa. No que
desenvolvimento de competência social como concerne à experiência de autonomia de
autonomia. Além disso, os pais se percebem crianças de 11 a 12 anos, verificou-se a
A percepção da autoridade por pré-adolescentes 365

existência de variações associadas ao nível probabilidade dos filhos manterem atitudes


socioeconômico, o que seria de se esperar, contrárias à agressão entre pares. Por outro
visto que as tarefas que provem o sentimento lado, essas atitudes pró-sociais diminuem se os
de autonomia são diferentes em cada meio. pais usam punição física como forma de
Alguns outros resultados sobre a relação disciplina. Em suma, estilo de autoridade,
nível socioeconômico e autonomia, tomada de coerência, disponibilidade de informação
perspectiva do outro, e tendências pró-sociais explícita e motivação para atentar para os
(Eisenberg, Zhou, & Koller, 2001; Nucci, valores parentais são evidências de influências
Camino, & Sapiro, 1996), importantes para a múltiplas sobre a percepção, internalização de
negociação na resolução do conflito, valem valores e autonomia (Duman & Margolin,
ser mencionados, porque mostram a 2007).
importância de se considerar a influência de Quanto à relação entre nível
outras variáveis. Em poucas palavras, crianças socioeconômico e adoção de valores
e adolescentes de origem socioeconômica favoráveis à submissão nos menos afluentes,
menos afluente mostraram-se menos há indicações de que as condições econômicas
autônomos que seus pares de origem mais são insuficientes para explicar a menor
abastada, e também com tomada de autonomia, reforçando a importância de outros
perspectiva do outro mais tardia. Estas fatores. Vinha e Mantovani de Assis (2007)
diferenças foram atribuídas aos diferentes relatam resultados de pesquisa conduzida pela
estilos de socialização: nas classes menos primeira autora em dois ambientes
favorecidas, que ocupam posições mais equivalentes quanto ao nível socioeconômico,
subalternas, seriam adotadas práticas de no caso, duas escolas públicas, uma
criação mais voltadas para a obediência e não caracterizada como gerida de modo
questionamento da autoridade, visando a democrático e a outra de forma autoritária.
adaptação futura a posições semelhantes, Nessa pesquisa, verificou-se que a forma de
enquanto em ambientes mais afluentes, estas interpretar e resolver conflitos hipotéticos dos
seriam mais voltadas para a autonomia e alunos da escola caracterizada como
iniciativa da criança (Nucci, Camino, & Sapiro democrática eram mais elaborados em relação
1996). Uma outra explicação para as ao direito do outro, como a negociação, do que
diferenças em autonomia seriam a na escola autocrática. Em uma investigação
disponibilidade de espaço e recursos semelhante, também conduzida em duas
financeiros que resultariam em maior ou escolas diferentes quanto ao estilo de gestão,
menor flexibilidade nas práticas de criação, em democrático e autoritário, Tognetta (2007)
termos de normas e hábitos estabelecidos em verificou que na primeira havia maior
um meio e outro (Lautrey,1980/ 1995). predisposição à solidariedade do que na
Além da influência do nível segunda. Estes resultados confirmam o que
socioeconômico sobre as práticas parentais, Montandon (2005) pondera ao argumentar que
valem ser mencionadas outras variáveis o estilo parental não pode ser considerado
associadas também à percepção e adesão aos determinístico, e que outras influências, como
valores dos pais (Knafo & Schwarz, 2003; a da cultura, escola e pares também devem ser
Ohene, Ireland, Mc Neely, & Burowski 2006; investigadas. Segundo a autora, o modelo
Vinha & Mantovani de Assis, 2007; Tognetta, democrático de criação não produz resultados
2007). tão positivos em culturas coletivistas como as
Em relação à percepção dos valores orientais, onde o controle é interpretado como
parentais, verificou-se que são influências um sinal de cuidado. Além disso, a cultura
importantes para adesão, além do estilo de escolar e dos pares também tem sua influência,
autoridade democrático, a coerência entre mesmo que menor do que a familiar. A
norma explicitada e conduta parental percepção das crianças sobre o estilo de
observada, o consenso percebido entre os pais autoridade da família é um aspecto
quanto às normas estabelecidas, afetividade fundamental na opinião da autora e vale ser
positiva demonstrada por eles e motivação do investigado. A nosso ver, o mesmo se aplica
filho para atentar para as normas (Knafo & em relação a outras fontes de controle e
Schwartz, 2003). Além disso, Ohene et al. autoridade, isto é, como os alunos se
(2006) verificaram que, se os pais desaprovam relacionam com a autoridade na escola e pares
explicitamente o uso da violência, aumenta a de idade, que será examinado a seguir.
366 Leme, M. I. S.

A relação da criança e do jovem maioria das crianças e adolescentes reconhece


com a autoridade que a escola é um espaço hierarquizado e
considera legítima a autoridade docente
Uma construção importante no domínio quando concernente a lições, cuidado com a
das interações sociais é a relação estabelecida escola e atenção à aula. No entender dos
com as regras e normas de convívio social, isto alunos, os professores devem ser obedecidos
é, é a legitimação da autoridade, o que se para que a ordem seja garantida, e seja
diferencia tanto com o desenvolvimento preservado seu papel como educadores. Outros
psicológico, como com o domínio de motivos apontados são evitar punição e
aplicação: moral, pessoal, convencional e mostrar respeito aos docentes por serem
segurança. A legitimação da autoridade, seja adultos. Porém, essa autoridade é limitada às
escolar, seja parental, diminui com a idade, o questões escolares, visto que consideram que
que foi constatado em várias pesquisas. Outra os professores não devem intervir em questões
variável importante é o sexo, pois meninas pessoais, principalmente fora da escola, como
tendem a maior legitimação da disciplina relacionamento com pares, vestuário etc. O
escolar do que meninos. Em termos do professor não deve ser obedecido quando suas
domínio de aplicação, as pesquisas analisadas ordens envolvem a violação do direito à
a seguir trazem indicações que podem ajudar dignidade ou liberdade, colocam o aluno em
os educadores a melhor gerir o convívio na um dilema moral, levam à violação de regras
escola. da escola, ou tratam de exigência descabida
O estudo conduzido por Smetana e Bitz em relação à habilidade do indivíduo. Os pais
(1996), que investigou a relação de pré- devem intervir em situações em que seu filho é
adolescentes e adolescentes com a autoridade objeto de injustiça na escola. Verificou-se que
escolar, revelou que esta é pouco discriminada alunos mais velhos, do Ensino Médio,
em termos de quem a exerce, docentes ou mostram mais compreensão da complexidade
gestores. É mais legitimada quando aplicada a do problema, pois consideram que autoridade
questões morais e menos a pessoais, como é algo que se conquista. No seu entender, o
decisões sobre aparência ou relacionamento professor não controla pensamentos e
com pares. As regras morais foram as que sentimentos, e ainda mostram-se cientes da
receberam avaliação mais positiva, e existência de direitos civis que podem limitar
coerentemente, sua transgressão foi avaliada autoridade docente. Em suma, a autoridade do
como mais negativa. Os alunos mais jovens, professor é vista como limitada à escola, a
de 5o ano, percebem todas as regras como mais questões morais e convencionais, podendo
subordinadas à autoridade do que alunos de intervir fora dela só em caso de alguém
Ensino Médio, principalmente as que se necessitar de sua interferência ou proteção.
referem à esfera pessoal. Regras convencionais No que diz respeito às representações
contextualizadas, como por exemplo, sair da mantidas pelas crianças sobre autoridade
sala de aula, são julgadas mais dependentes de parental, Custódio e Cruz (2008) investigaram
decisão pessoal, mas que existem na escola por meio de entrevistas semi estruturadas com
para manutenção da ordem. Coerentemente, as crianças de 8 a 10 anos de idade a relação
transgressões mais cometidas são dessa mesma entre a sua percepção dos pais, enquanto
esfera convencional, principalmente entre disciplinadores e provedores de afeto, e a
alunos mais velhos. A validação das regras competência social segundo avaliação das
está associada à transgressão, isto é, quanto professoras. Os resultados mostraram que,
menos válida é julgada uma regra, mais diferentemente do encontrado em outras
transgredida ela é, o que por sua vez está pesquisas, os pais foram representados como
também associado a mau desempenho escolar uma única unidade parental, pouco tipificados
e percepção negativa do ambiente da escola. quanto ao papel tradicionalmente atribuído a
Também se encontrou mais transgressão às cada sexo, isto é, a mãe como provedora de
normas e conformidade ao grupo em alunos afeto e o pai de disciplina. Outra diferença
provenientes de famílias monoparentais ou encontrada de estudos anteriores foi a
reconstituídas. semelhança das representações de meninas e
Resultados muito semelhantes foram meninos.
encontrados por Yariv (2009) entre crianças e Por outro lado, coerentemente com o já
adolescentes israelitas. Verificou-se que a apontado na literatura, os pais de nível
A percepção da autoridade por pré-adolescentes 367

socioeconômico mais baixo foram física, verificou-se que adolescentes de 12


representados como mais rejeitadores, anos acham mais aceitável que os pais
punitivos, e com afetividade menos elaborada, intervenham no caso de praticarem violência
tanto em relação a si próprios como aos filhos. física, e até pessoal, como mudança para um
Além disso, segundo informações prestadas, visual agressivo. Já a ingerência relativa a
tenderiam a explicitar menos suas expectativas questões interpessoais como agressão social,
sobre comportamentos dos filhos, assim como como por exemplo, isolar alguém ou fazer
os motivos para as mesmas. Esse é um fofocas, é muito menos legitimada. Isto
resultado importante para a resolução do porque isolar alguém é visto como uma
conflito interpessoal, porque, como já decisão estritamente da esfera pessoal,
mencionado acima, as primeiras pesquisas semelhante ao direito de escolher os próprios
(Baumrind & Black, 1967; Baumrind, 1971) já amigos. Acreditam ainda que pais têm mais
estabeleciam relação entre assertividade da direito de interferir do que os amigos, o que
criança e práticas disciplinares verbais usadas não ocorre no caso de agressão relacional,
pelos pais, como instrução, explicação dos principalmente com relação à exclusão sobre
motivos e uso de indução. Vale lembrar, como a qual os amigos têm mais direito de opinar
também já mencionado acima, que a que os pais. A fofoca é vista sob uma
assertividade é essencial para a resolução perspectiva mais ética em vista do
satisfatória e pacífica do conflito. A reconhecimento do seu potencial em
representação dos pais como punitivos e prejudicar o outro. A legitimação à
rejeitadores relacionou-se com autoestima interferência de pais ou pares se relaciona ao
negativa, menor autocontrole, menor desenvolvimento pessoal e à manutenção da
assertividade, menor competência escolar e relação, enquanto a rejeição da autoridade das
prevalência de sentimentos negativos como duas instâncias se baseia em argumentos de
tristeza e ansiedade. A punição física foi a direito. Esse tipo de justificativa fornece
prática disciplinar que mais se relacionou a indicações sobre como intervir nesse último
pior avaliação das professoras sobre caso, que consistiria na explicitação da
competência escolar e afetividade da criança. intenção de ajudar o objeto da exclusão social
Porém, essa relação entre disciplina e ao invés de mera intromissão. (Goldstein &
competência escolar deve ser examinada com Tisak, 2006).
cuidado, pois há indicações que crenças No Brasil, só foi localizado um estudo
veiculadas na cultura podem moderar a relação acerca da percepção dos jovens sobre a
entre punição e problemas externalizantes autoridade parental. Nele, verificou-se que a
como agressividade. maioria dos jovens de 15 anos em média
A respeito de práticas disciplinares para considera os pais negligentes, possivelmente
transgressão, vale assinalar que também elas porque 67% deles trabalham, dispondo de
são tipificadas sexualmente em algumas pouco tempo para despender com os filhos.
culturas, pois meninos suecos de 8 anos Por outro lado, cerca de 30% revelou que seus
relataram sofrer mais punição física que pais adotam o estilo “autorizante” (ao que
meninas, mais aplicada pelos pais do que pelas tudo indica o autoritativo cunhado por
mães, embora ela seja mais rara (14%) do que Baumrind), e uma minoria (12%) os considera
a coerção verbal, a mais controladores e pouco afetuosos. As mães são
frequente.Transgressões mais leves como ainda apontadas como as principais cuidadoras
recusa em cumprir uma ordem têm segundo os filhos e coerentemente são
habitualmente consequências mais suaves. Já consideradas mais controladoras e intrusivas,
as que envolvem agressão física contra irmãos, principalmente pelas meninas (Reichert &
ou desobedecer a uma regra de segurança Wagner, 2007).
foram associadas a consequências mais Em suma, os estudos examinados acima
severas. De modo geral, meninos relatam mostram que crianças e adolescentes
receber tratamento mais severo que meninas, o reconhecem e legitimam o direito à
que é confirmado por elas (Sorbring, interferência, tanto da parte de pais, como de
Rodholm-Funnemark, & Palmérus, 2003) professores e amigos em questões que
No que diz respeito à aceitação de envolvem deveres morais e transgressões às
interferência de pais e amigos em possíveis regras. Já em questões convencionais ou
transgressões, como agressão relacional e envolvendo o que consideram direitos
368 Leme, M. I. S.

pessoais, esta interferência não é nem providências sempre que o aluno transgride, o
reconhecida nem legitimada. que indica que não considera sua
responsabilidade gerir as condições para que
os alunos aprendam a resolver conflitos. Tal
Conclusões concepção é lamentável, pois perpetua uma
Ao final desta análise sobre o papel da situação de irresponsabilidade com o ambiente
escola e da família na socialização para a de convívio e mais, nada se faz para trabalhar
resolução satisfatória de conflitos, verifica-se com os alunos a melhor forma de resolver seus
em primeiro lugar que a ação de ambas conflitos. Tal situação precisa ser
instituições é extremamente necessária, visto urgentemente mudada, caso contrário,
que os conflitos têm sido vistos como mais presenciaremos o aumento cada vez maior na
frequentes e consistem em sua maioria em violência que ocorre nas escolas, que como a
provocações veladas, mais difíceis de serem mídia tem noticiado, se deve na maioria dos
identificadas pelos educadores. A intervenção casos a conflitos mal resolvidos.
ideal deve ser no sentido de induzir os
envolvidos a considerar a situação sob o ponto
de vista de considerar os direitos de todos e Referências
não de interromper ou eliminar o conflito
como ocorre em muitas ocasiões. Assim, não Aquino, J. G. (2008). A desordem na relação
é de surpreender que a submissão ao outro seja professor-aluno: indisciplina, moralidade, e
a forma mais comum de lidar com o conflito, conhecimento. In J. G. Aquino (Org.),
variando, porém, de acordo com o grau de Indisciplina na escola: alternativas
proximidade de quem está envolvido no teóricas e práticas (pp. 39-55). São Paulo:
conflito, com o gênero, com o nível Summus. (Trabalho original publicado em
socioeconômico, e com o tipo de problema 1996).
envolvido. Nos que envolvem um direito
inquestionável do outro, como o de Astor, R. (1994). Children’s moral reasoning
propriedade sobre um objeto a reação da about family and peer violence: The role of
grande maioria é mesmo não reagir. A provocation and retribution. Child
agressão ou coerção é a segunda forma mais Development, 65, 1054-1067.
frequente, indicando a necessidade de um
trabalho na escola voltado para a resolução de Baumrind, D., & Black, A. E. (1967).
conflitos mais pacífica e produtiva. Este Socialization practices associated with
trabalho parece ser ainda mais necessário em dimensions of competence in preschool
escolas públicas, pois ali ocorrem mais certos boys and girls. Child Development, 38(2),
tipos de conflitos, indicando haver 291-327.
possivelmente menor preocupação em
promover a boa convivência entre pares, Baumrind, D. (1971). Current patterns of
impressão reforçada pela prática de denunciar parental authority. Developmental
ao Conselho Tutelar ou chamar a polícia em Psychology Monograph, 4(1-2), 1-103.
transgressões mais graves. Bergeron, N., & Schneider, B. H. (2005).
Outra prática comum é a escola Explaining cross-national differences in
responsabilizar a família pelo aumento dos peer-directed aggression: A quantitative
conflitos entre alunos, acusando-a de não synthesis. Aggressive Behavior, 31(2), 116-
educar. Entretanto, os vários estudos revistos 137.
mostram que boa parcela dos pais se preocupa
em disciplinar para educar seus filhos, mesmo Berry, J. W., Poortinga Y. H., Segall, M. H., &
variando em termos de estilo, mais Dansen, P. H. (2002). Cross Cultural
democrático ou autocrático. Além disso, vimos Psychology: Research and applications.
que os jovens legitimam a autoridade, tanto New York: Cambridge University Press.
familiar, como escolar, referendando regras, (Trabalho original publicado em 1992).
esperando que os pais e a escola eduquem. Já a
escola considera que a família é a maior Borum, R. (2000). Assessing violence risk
responsável pela educação da afetividade e among youth. Journal of Clinical
sociabilidade, pois a convoca para tomar Psychology, 56(10), 1263-1288.
A percepção da autoridade por pré-adolescentes 369

Bruner, J. S. (2001). A Cultura da Educação. Knafo, A., & Schwarz, S. H. (2003). Parenting
(M. A. C. Domingues, Trad.) Porto Alegre: and accuracy of perception of parental
ARTMED. (Trabalho original publicado values by adolescents. Child Development,
em 1996). 73, 595-611.
Carvalho, M. C. N., & Gomide, P. I. C. Lautrey, J. (1995). Classe sociale, milieu
(2005). Práticas educativas parentais em familial, intelligence. Paris PUF. (Trabalho
famílias de adolescentes em conflito com a original publicado em 1980).
lei. Estudos de Psicologia , 22(3), 263-275.
Leme, M. I. S. (2004). Resolução de Conflitos
Costa, F. T., Teixeira, M. A. P., & Gomes, W. Interpessoais: Interações entre Cognição e
B. (2000). Responsividade e exigência, Afetividade na Cultura. Psicologia
duas escalas para avaliar estilos parentais. Reflexâo e Crítica, 17(3), 367-379.
Psicologia, Reflexão e Crítica, 13(3), 465-
473. Leme, M. I. S. (2006). Para um convívio mais
harmonioso na escola. Idéia: avaliação
Custódio, S., & Cruz, O. (2008). As educacional. São Paulo: ISME.
representações mentais das crianças acerca
Leme, M. I. S. (2008). Relatório de pesquisa.
das figuras parentais. Psicologia: Teoria e
56 p. USP/ PIBIC/CNPq.
Pesquisa, 24(4), 393-405.
Maccoby, E., & Martin, J. A. (1983).
Deluty, R. H. (1979). The children’s action
Socialization in the context of the family:
tendency scale: A self report measure of
parente-child interactions. In E. M.
aggressiveness, assertiveness and
Herrington, & P. H. Mussen. Handbook of
submissiveness in children. Journal of
Child Psychology (pp. 1-102.) (vol. 4).
Consulting Psychology, 47, 1061-1071.
N.Y.: John Wiley & Sons.
De Salvo, C. G., Silvares, E. F. M., & Toni, P.
Magalhães, C. M. C., & Otta, E. (1995).
M. (2005). Práticas Educativas como forma
Agressão em crianças: influências do sexo
de predição de problemas de
e de variáveis situacionais. Psicologia:
comportamento e competência social.
Teoria e Pesquisa, 11, 7-12.
Estudos de Psicologia, 22(2), 187-195.
Montandon, C. (2005). As práticas educativas
Duman, S., & Margolin, G. (2007). Parent’s
parentais e a experiência das crianças.
aggressive influences and children’s
Educação e Sociedade, 26(91), 485-507.
aggressive problem solutions with peers.
Journal of Clinical Child and Adolescent Nucci, L., Camino, C., &, Sapiro, C. M.
Psychology, 36(1), 42-55. (1996). Social class effects on northeastern
Brazilian children’s conceptions of areas of
Eisenberg, N., Zhou, Q., & Koller, S. (2001). personal choice and social regulation. Child
Brazilian adolescents’ prosocial moral Development, 67, 1223-1242.
judgment and behavior. Relations to
sympathy, perspective taking, gender role Ohene, S. A., Ireland, M., Mc Neely, C., &,
orientations and demographic Borowsky, I. W. (2006). Parental
characteristics. Child Development, 71(2), expectations, physical punishment and
518-534. violence among adolescents who score
positive on a psychosocial screening test in
Goldstein, S. E ., & Tisak, M. S. (2006). Early primary care. Pediatrics, 117(2), 441-447.
adolescents conceptions of parental and
friend authority over relational aggression. Prust, L. W., & Gomide, P. I. C. (2007).
Journal of Early adolescence, 26(3), 344- Relação entre comportamento moral dos
364. pais e dos filhos adolescentes. Estudos de
Psicologia, 24(1), 53-60.
Hofstede, G., & Bond, M. B. (1984).
Hofstede’s culture dimensions: an Reichert, C. B., & Wagner, A. (2007).
independent validation using Rokeach’s Autonomia na adolescência e sua relação
value survey. Journal of Cross Cultural com o estilo parental. Psico, 38(3), 292-
Psychology, 15(4), 417-433. 299.
370 Leme, M. I. S.

Sampaio, I. T. A., & Gomide, P. I. C. (2007). Vinha, T. P., & Mantovani de Assis, O. Z.
Inventário de estilos parentais IEP - (2007). A autonomia, as virtudes e o
Gomide (2006) Percurso de padronização e ambiente cooperativo em sala de aula: a
normatização. Psicologia e Argumento, construção do professor. In L. R. P.
25(48), 15-26. Tognetta (Org.), Virtudes e educação: o
desafio da modernidade. Campinas:
Schneider, B. F., Fonzi, A., Tomada, G., &
Mercado das Letras.
Tani, F. (2000). A cross - national
comparison of children’s behavior with Yariv, E. (2009). Students’ attitudes on the
their friends in situations of potential boundaries of teachers’ authority. School
conflict. Journal of Cross Cultural Psychology International, 30(1), 92-111.
Psychology, 31(2), 259-266.
Yunes, J. (2002). Prefácio. In M. F. Westphal
Smetana, J. G., & Bitz, B. (1996). (Org.), Violência e Criança (pp.11-12). São
Adolescents’ conceptions of teachers Paulo: EDUSP.
authority and their relations to rule
Weber, L. N. D., Prado, P. M., Viezzer, A. P.,
violations in school. Child Development,
& Brandenburg, O. J. (2004). Identificação
67, 1153-1172.
de estilos parentais: o ponto de vista dos
Sorbring, E., Rodholm-Funnemark, M., & pais e dos filhos. Psicologia:Reflexão e
Palmérus, K. (2003). Boys’ and girls’ Crítica, 17(3), 323-331.
perceptions of parental discipline in
Weber, L. N. D., Selig, A. G., Bernandi, M.
transgression situations. Infant and child
G., & Salvador, A. P. V. (2006).
development, 12(1), 53-69.
Continuidade dos estilos parentais através
Teixeira, M. A. P., Oliveira, A. M., & das gerações-transmissão intergeracional de
Wottrich, S. H. (2006). Psicologia Reflexão estilos parentais. Paidéia, 16(35), 407-414.
e Crítica, 1(3), 433-441.
Tognetta, L. R. P. (2007). A virtude da Enviado em Novembro de 2009
solidariedade em ambientes escolares. In L. Aceite em Janeiro de 2010
R. P. Tognetta (Org.), Virtudes e educação: Publicado em Outubro de 2010
o desafio da modernidade. Campinas:
Mercado das Letras.

You might also like