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ARTIGOS

Ferramentas básicas
da qualidade
Bernardo F. E. Lins INTRODUÇÃO para a melhoria no ambiente de trabalho
e para a redução de custos operacionais.
Um dos objetivos básicos da cultura da
qualidade é educar o profissional a con- AS FERRAMENTAS BÁSICAS
fiar menos no feeling e a trabalhar prefe- DA QUALIDADE
rencialmente com dados. Ao contrário do
que possa parecer à primeira vista, essa
CONCEITUAÇÃO
postura não reprime a criatividade, mas a
desenvolve. Dispor de informações reais
sobre o que está ocorrendo modifica a As ferramentas básicas da qualidade
forma de atacar os problemas: em lugar são:
de buscarmos soluções por "tentativa e
erro", podemos analisar a questão de a) Fluxograma
forma sistemática e projetar uma solução.
b) Folha de verificação
Trabalhar com dados, por outro lado, é
um desafio: como coletá-los? Como or- c) Gráfico de Pareto
ganizá-los? Como usá-los? As ferra-
mentas apresentadas a seguir resolvem,
na maior parte dos casos, essas d) Diagrama de causa e efeito
questões. São quase todas muito
simples, de fácil utilização. e) Gráfico de tendências

Para fins didáticos, as ferramentas apre- f) Histograma


sentadas foram divididas em dois grupos.
O primeiro inclui as ferramentas básicas g) Carta de controle
propriamente ditas, cujo objetivo é
auxiliar o profissional na análise de
problemas e que compreendem o h) Gráfico de dispersão
fluxograma, a folha de verificação, o
gráfico de Pareto, o diagrama de causa e Fluxograma
efeito, o gráfico de tendência, o
histograma, a carta de controle e o O fluxograma destina-se à descrição de
gráfico de dispersão. O outro grupo processos. Um processo é uma certa
compreende as ferramentas auxiliares combinação de equipamentos, pessoas,
Resumo que complementam as ferramentas métodos, ferramentas e matéria-prima,
básicas, ou que servem para apoiar a que gera um produto ou serviço com de-
A abordagem sistematizada de problemas é sua utilização: o brainstorming, a técnica terminadas características. Assim, fala-
um dos aspectos mais importantes de um nominal de grupo, os diagramas de apre- se, por exemplo, do processo de
programa da qualidade. Diversas ferramentas sentação, a análise de forças de campo,
foram desenvolvidas para auxiliar o profissio- manufatura de um móvel: os marceneiros
nal a compreender os problemas que ocorrem
o checklist e a análise de capacidade de e estofadores (pessoas), utilizando
em seu dia-a-dia e a encontrar soluções ade- processos. serras, plainas, lixas (equipamentos e
quadas para os mesmos. O texto apresenta ferramentas), trabalham a madeira,
algumas dessas ferramentas, denominadas As ferramentas podem ser usadas isola- couro, verniz (matéria-prima), utilizando
ferramentas básicas da qualidade por serem certa seqüência de operações (método).
damente, mas os melhores resultados
de uso geral na identificação e análise de
problemas. São o fluxograma, a folha de veri- serão obtidos com uma abordagem sis- Nas atividades não manufatureiras, o
ficação, o gráfico de Pareto, o diagrama de tematizada de solução de problemas. É conceito de processo também é
causa e efeito, o gráfico de tendência, o histo- preciso, em outras palavras, administrar o facilmente aplicável. Na preparação de
grama, a carta de controle e o gráfico de dis- esforço coletivo na solução de problemas uma bibliografia, por exemplo, um
persão. Apresenta, também, algumas ferra- e na conseqüente busca de melhoria da estagiário (pessoa), utilizando um
mentas auxiliares, que complementam as fer- computador e um software de recupe-
ramentas básicas ou que servem para apoiar
qualidade. É necessário estimular o tra-
a sua utilização: o brainstorming, a técnica balho em equipe e uma intensa interação ração por palavras-chave (equipamentos
nominal de grupo, os diagramas de apresen- entre as pessoas. O texto discute breve- e ferramentas), obtém acesso a infor-
tação, a análise de forças de campo, o che- mente algumas alternativas para integrar mações (matéria-prima) e elabora o seu
cklist e a análise de capacidade de essas ferramentas em um método de tra- produto, seguindo uma certa lógica de
processos. Discute, finalmente, algumas balho. recuperação de dados (método).
formas de utilizar tais ferramentas em
conjunto.
As ferramentas básicas são o "arroz com O fluxograma descreve a seqüência do
Palavras-chave feijão" da engenharia da qualidade. O trabalho envolvido no processo, passo a
Análise e solução de problemas; Qualidade; seu uso intensivo pode representar, entre passo, e os pontos em que as decisões
Ferramentas da qualidade. outros aspectos, um ponto de partida são tomadas (figura 1). É uma ferramenta
Ferramentas básicas da qualidade

de análise e de apresentação gráfica do


método ou procedimento envolvido no
processo. Os principais elementos do flu-
xograma são:

a) Atividade

Atividade é um bloco que simboliza a


execução de uma tarefa ou de um passo
no processo.

b) Decisão

Decisão representa um ponto do pro-


cesso em que uma decisão deve ser to-
mada, em função do valor de alguma va-
riável ou da ocorrência de algum evento.

c) Resposta

Figura 1 - Fluxograma

Resposta representa a resposta a uma Folha de verificação Outra aplicação usual da folha de verifi-
decisão. cação é como "folha de votação". É utili-
A folha de verificação é, essencialmente, zada para que os participantes de uma
um quadro para o lançamento do número reunião, após o trabalho de identificação
de ocorrências de um certo evento. A sua e do agrupamento das causas de um pro-
d) Início/fim aplicação típica está relacionada com a blema ou de alternativas para a sua so-
observação de fenômenos. Observa-se o lução, indiquem aquelas que pareçam ser
número de ocorrências de um problema as mais significativas.
ou de um evento e anota-se na folha, de
forma simplificada, a sua freqüência
(figura 2).
Gráfico de Pareto
Início / fim identifica pontos de início ou
de conclusão de um processo. O gráfico de Pareto leva esse nome por-
que foi desenvolvido pelo economista ita-
liano Vilfredo Pareto, que identificou as
seguintes características nos problemas
sócio-econômicos:
A grande vantagem do uso do fluxo-
grama é a de identificar claramente os
passos da execução do processo, ou a) poucas causas principais influíam for-
seja, de tornar visível o método. Outra temente no problema;
vantagem é que a montagem do fluxo-
grama identifica variações no processo, b) havia um grande número de causas
quando este é executado por pessoas ou triviais, pouco importantes, que in-
equipes diferentes. fluíam marginalmente no problema.
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Nos processos industriais e na adminis- É utilizado quando precisamos identificar mento não estruturado das causas, po-
tração em geral, comprovou-se que o as causas de um problema. O diagrama demos citar:
comportamento dos problemas é seme- permite, a partir dos grupos básicos de
lhante. Assim, é importante identificar possíveis causas, desdobrar tais causas a) a própria montagem do diagrama é
quais as causas principais e atacá-las até os níveis de detalhe adequados à educativa, na medida em que exige
efetivamente, de modo a obter o máximo solução do problema. um esforço de hierarquização das
ganho em termos de solução para o pro- causas identificadas de uma agre-
blema em estudo. Os grupos básicos podem ser definidos gação em grupos. É desejável que a
em função do tipo de problema que está montagem do diagrama seja feita por
O gráfico de Pareto tem o aspecto de um sendo analisado. Usualmente, para pro- uma equipe de pessoas envolvidas
gráfico de barras. Cada causa é quantifi- blemas de natureza operacional, sugere- com o problema, através de um
cada em termos da sua contribuição para se a adoção dos seguintes grupos bási- brainstorming;
o problema e colocada em ordem de- cos:
crescente de influência ou de ocorrência b) o foco passa a ser no problema, le-
(figura 3). - maquinas; vando à conscientização de que a so-
lução não se restringirá a atitudes sim-
As causas significativas são, por sua vez, - materiais; plistas (substituir pessoas, adquirir
desdobradas em níveis crescentes de equipamentos), mas exigirá uma abor-
detalhe, até se chegar às causas primá- dagem integrada, atacando-se as di-
- mão-de-obra;
rias, que possam ser efetivamente ataca- versas causas possíveis;
das. Esta técnica de se quantificar a im-
portância das causas de um problema, - metodologias/métodos;
c) conduz a uma efetiva pesquisa das
de ordená-las e de desdobrá-las sucessi- causas, evitando-se o desperdício de
vamente é denominada estratificação - instalações/ambiente. esforços com o estudo de aspectos
(figura 4). não relacionados com o problema;
Já no caso de problemas de natureza
administrativa ou gerencial, pode-se ini- d) identifica a necessidade de dados,
ciar a análise com os seguintes grupos para efetivamente comprovar a proce-
básicos: dência ou improcedência das diversas
possíveis causas identificadas. Assim,
- políticas; o diagrama é o ponto de partida para o
uso adequado de outras ferramentas
- equipamentos; básicas;

- pessoal/recursos humanos; e) identifica o nível de compreensão que


a equipe tem do problema. Quando o
Figura 3 - Gráfico de Pareto problema não é adequadamente
- procedimentos; entendido, a elaboração do diagrama
conduz naturalmente à troca de idéias
- infra-estrutura. entre as pessoas envolvidas e à iden-
tificação dos conflitos;
A estratificação pode exigir o uso de ou-
tras ferramentas analíticas, como, por Entre as vantagens de se usar uma fer-
exemplo, o diagrama de causa e efeito, ramenta formal de análise de causa e f) o seu uso é genérico, sendo aplicável
ou de ferramentas para coleta de dados efeito, como é o caso do diagrama de a problemas das mais diversas natu-
tais como a carta de controle e a folha de Ishikawa, em vez de fazer um levanta- rezas.
verificação.

Figura 4 - Estratificação

Diagrama de causa e efeito

O diagrama de causa e efeito é também


conhecido como diagrama de Ishikawa,
por ter sido desenvolvido pelo engenheiro
japonês Kaoru Ishikawa, ou como dia- Figura 5 - Diagrama de causa e efeito
grama "espinha de peixe", por seu for-
mato gráfico (figura 5).

Ci. Inf., Brasília, 22(2): 153-161, maio/ago. 1993 155


Ferramentas básicas da qualidade

Gráfico de tendências

É um gráfico simples, em coordenadas


cartesianas, que descreve o comporta-
mento de uma variável ao longo do
tempo ou em função de outra variável de
referência. A sua utilidade é a identifi-
cação de tendências de comportamento,
facilitando a identificação de eventos ou a
compreensão do problema em estudo.

Histograma

O histograma é um gráfico de barras ver-


ticais que apresenta valores de uma certa
característica agrupados por faixas. É útil
Figura 6 - Gráfico de tendências
para identificar o comportamento típico
da característica.

Usualmente, permite a visualização de


determinados fenômenos, dando uma
noção da freqüência com que ocorrem.

Carta de controle

A carta de controle, também denominada


carta de Shewhart, por ter sido desenvol-
vida na década de 1920 pelo estatístico
norte-americano Walter Shewhart, é utili-
zada para o acompanhamento de pro-
cessos.

Como já vimos, um processo é uma certa


combinação de equipamentos, pessoas,
métodos, ferramentas e matéria-prima, Figura 7 - Histograma
que gera um produto ou serviço com de-
terminadas características. As caracterís-
ticas do produto ou serviço resultante de-
pendem do processo adotado. Assim, se
desejarmos modificar algumas dessas
características, devemos alterar o pro-
cesso. Para que tais alterações possam
ser estudadas e implementadas, gerando
resultados previsíveis, o processo deverá
estar sob controle.

Para colocar um processo sob controle, é


necessário analisar todos os desvios sig-
nificativos de comportamento que ve-
nham a ocorrer no mesmo, identificar cla-
ramente as suas causas e resolvê-las
sempre que possível. Quando o processo
estiver sob controle, esses problemas Figura 8 - Comportamento estatístico de um processo
terão sido eliminados e ocorrerão apenas
Distribuição normal
algumas variações eventuais, não siste-
máticas ou aleatórias, em seu comporta-
mento. Só então, torna-se adequado es-
tabelecer um ciclo em que esse processo
é observado e comparado com um pa-
drão desejado de desempenho. O estudo variações aleatórias que ocorrem b) quando o processo apresentar um
do comportamento do processo é desen- dentro de certos limites, sem uma desvio sistemático ou uma variação
volvido com o apoio do Controle Estatís- causa sistemática que possa ser fora dos seus limites de comporta-
tico de Processos (CEP), que se baseia eliminada — o comportamento é es- mento, existirá uma ou mais causas
em duas premissas: tatístico: a maior parte das variações é para essa ocorrência. Tais causas,
muito pequena e variações grandes denominadas causas especiais, po-
a) todo processo sofre pequenas. são extremamente raras (figura 8). derão ser identificadas e eliminadas.

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Ferramentas básicas da qualidade

O CEP é implementado pela carta de Em resumo, para construir a carta de b) caracterizar-se como uma correlação
controle (figura 9). Para montar a carta, controle: linear — no gráfico, os pontos ten-
devem ser seguidos os seguintes pas- derão a se distribuir ao longo de uma
sos: * tira-se periodicamente uma amostra; reta;

a) escolher a característica a ser medida * Calcula-se a média (X) e amplitude (R); c) caracterizar-se como uma correlação
— tal característica (também denomi- não linear — no gráfico, os pontos ten-
nada item de controle) poderá ser me- derão a se distribuir ao longo de uma
* Lança-se no gráfico;
dida pelo número de vezes com que curva, ou de várias curvas similares
ocorre, como, por exemplo o número que se repetem periodicamente;
de referências recuperadas em uma * comportamento não aleatório
pesquisa em base de dados, ou o nú- (sistemático) exige análise.
d) caracterizar outras distribuições, como,
mero de peças defeituosas em um lote por exemplo, em agrupamentos bem
de parafusos. Diz-se, nesse caso, que A construção da carta exige a determi- delimitados.
a característica acompanhada é um nação dos limites de controle inferior e
atributo. Já no caso de se medir uma superior. Para tal, obtém-se algumas
dimensão para acompanhar a sua va- amostras iniciais, sem lançar os valores
riação, como, por exemplo, o valor co- na carta, e calculam-se os limites como:
brado por uma pesquisa ou o diâmetro
do parafuso, diz-se que a caracterís-
a) para o gráfico de médias
tica é uma variável;

UCL = X + A2 R
b) medir periodicamente a característica
em um certo número de ocorrências
sucessivas, por exemplo, a cada vinte LCL = X - A2R
pesquisas efetuadas, consideram-se
Figura 10 - Gráfico de dispersão
as últimas quatro e mede-se o número b) para o gráfico de amplitudes
de referências recuperadas — essas
quatro ocorrências são a amostra. UCL = D4 R

c) calcular a média e a amplitude da LCL= D3 R ALGUMAS FERRAMENTAS


amostra — no exemplo anterior, a mé- AUXILIARES
dia X é a soma das referências recu-
onde X é a média dos valores de X das
peradas em cada uma das quatro
pesquisas, dividida pelo número de
amostras e R é a média dos valores de R CONCEITUAÇÃO
das amostras. A2, D4 e D3 são valores ta-
elementos da amostra, ou seja, quatro;
belados em função do tamanho da Algumas ferramentas auxiliares são de
a amplitude R é a diferença entre o
amostra. Para uma amostra de cinco grande utilidade na abordagem dos pro-
maior e o menor valor encontrados na
elementos (n=5), por exemplo, teremos blemas da qualidade, servindo de apoio
amostra;
A2 = 0.577, D4 = 2.114 e D3 = 0. às ferramentas básicas descritas ante-
d) lançar os valores na carta de controle riormente. Essas ferramentas auxiliares
Estas fórmulas presumem que o com- facilitam a organização do trabalho de
— a média e a amplitude são lançadas
portamento das médias do processo se análise e a apresentação de resultados,
na carta, como ilustra a figura 9;
ajuste a uma distribuição normal, tal sendo de uso extremamente interessante
como a da figura 8, o que é geralmente no dia-a-dia da profissão. Tais ferramen-
e) verificar se o processo está sob con- correto. No caso de elaboração de cartas tas são:
trole — a variação da média e da com valores individuais, porém, isto nem
amplitude não devem ultrapassar os sempre é verdadeiro, o que pode acar- a) brainstorming,
limites de controle ou caracterizar um retar o uso de fórmulas diferentes e uma
comportamento tendencioso; análise um pouco diferente da carta de
controle. b) técnica nominal de grupo;
f) corrigir as causas dos desvios — no
caso de se observar um comporta- Com a carta de controle é possível c) diagramas de apresentação;
mento tendencioso ou fora de controle, acompanhar o comportamento do pro-
deve-se analisar as causas do mesmo cesso e documentar a sua variabilidade. d) análise de forças de campo;
e buscar resolvê-las. Saberemos o instante em que um certo
desvio foi identificado e poderemos utili- e) checklist,
zar as demais ferramentas para estudar
as suas causas e corrigi-las. f) análise de capacidade de processo.

Gráfico de dispersão Brainstorming

O gráfico de dispersão permite visualizar O brainstorming caracteriza-se como uma


a correlação entre duas grandezas (figura reunião de grupo em que novas idéias
10). Tal correlação poderá: são buscadas e, portanto, a livre ex-
pressão dos participantes deve ser asse-
a) inexistir — no caso, não será possível gurada. O objetivo é o de maximizar o
identificar qualquer tipo de comporta- fluxo de idéias, a criatividade e a capaci-
mento típico no gráfico; dade analítica do grupo.

Ci. Inf., Brasília, 22(2): 181-185. maio/ago 1993


Ferramentas básicas da qualidade

A primeira etapa da reunião de Da mesma forma que no brainstorming


brainstorming é a apresentação de idéias convencional, as idéias apresentadas
relacionadas com algum problema. são transcritas para um quadro-negro ou
Nessa et apa, os participantes flip-chart.
apresentam idéias de forma livre e, às
vezes, aparentemente caótica. Nenhuma A seguir, é feito um agrupamento das ob-
crítica deve ser feita. As idéias devem servações apresentadas, obtendo-se,
fluir. Um facilitador coordena a reunião e dessa forma, um quadro resumo. Cada
assegura a livre expressão das idéias. participante deve, então, copiar o quadro
Um relator anota as idéias, à medida que resumo em um papel e atribuir uma nota
forem sendo apresentadas, a cada item, de acordo com a sua rele-
preferencialmente em quadro-negro ou vância. As notas serão, a seguir, trans-
em flip-chart. Não deve haver Figura 11 - Diagrama de barras
critas no quadro e somadas. O item de
interpretação da idéia; esta deve ser maior nota total será considerado o mais
anotada com as palavras usadas por seu importante e assim sucessivamente.
autor. Análise de forças de campo
Se a relação for considerada muito ex-
A seguir, quando o grupo entender que tensa, pode ser reduzida pela técnica A análise de forças de campo é uma téc-
esgotou as possibilidades relativas ao "metade mais um", que consiste em con- nica utilizada para avaliar que fatores in-
problema, as idéias devem sofrer um siderar apenas a metade mais um dos fluenciam em um problema, no sentido de
agrupamento, de forma a serem ordena- itens, ou em consolidá-los até reduzir o modificar a sua situação atual, ou de faci-
das. Em seguida, outras ferramentas po- seu número à metade mais um. litar ou dificultar a sua solução. O resul-
dem ser utilizadas para aprofundar uma tado da análise é apresentado grafica-
análise, conforme o tipo de problema mente em um diagrama de forças de
Assim como o brainstorming, esta técnica
abordado: diagrama de causa e efeito, campo (figura 12).
é utilizada em conjunto com outras ferra-
folha de verificação, análise de forças de
mentas. Entre outras aplicações, utiliza-
campo etc. Os passos a serem seguidos no desen-
se para a definição de prioridades de
ação em grupo, para a identificação de volvimento da análise de forças de
Há, basicamente, duas maneiras de se causas de problemas ou para o trabalho campo são:
conduzir um brainstorming: a condução em grupo sobre alternativas de soluções.
estruturada e a não estruturada. No pri- a) identificar a métrica do problema —
meiro caso, todos os participantes devem
Diagramas de apresentação determinar qual a característica que
expor suas idéias de forma ordenada,
melhor quantifica o problema, qual a
cada um apresentando uma idéia quando
Os diagramas de apresentação são utili- sua unidade de medida e como pode
chegada a sua vez e aguardando a pró-
xima rodada para expor a idéia seguinte. zados para mostrar, de forma gráfica, ser medida;
Os participantes podem usar algum mate- distribuições ou ocorrências. Os diagra-
rial de apoio para anotar idéias enquanto mas mais comumente usados são os b) estimar a medida atual — atribuir um
aguardam sua vez. No segundo caso, a diagramas circulares (ou diagramas em valor à métrica do problema; Pode ser
exposição das idéias é livre. pizza) e os diagramas de barras, hori- um valor real (coletado) ou estimado;
zontais e verticais.
A técnica nominal de grupo, descrita a
seguir, é uma forma alternativa de con-
duzir um brainstorming estruturado. Ba-
seia-se na concepção de que é possível
agregar procedimentos ao brainstorming
de modo a otimizar determinados resul-
tados.

Técnica nominal de grupo

A técnica nominal de grupo é adotada


nos casos em que se faz necessário for-
malizar e controlar brainstormings. Isto
pode ocorrer pela necessidade de se do-
cumentar detalhadamente as propostas
dos participantes ou para evitar que um
excesso de participação de pessoas
muito extrovertidas iniba outros colegas.

Nesta técnica, cada participante anota


em uma folha suas opiniões, antes e du-
rante a reunião. A reunião se desenvolve
com uma rodada de apresentação, em
que cada participante expõe os seus
pontos de vista quanto ao problema em
análise, seguida de uma rodada de escla- Figura 12 - Diagrama de forças de campo
recimentos, em que cada participante tira
dúvidas sobre as colocações dos demais.

158 Ci. Inf., Brasília, 22(2): 153-161, maio/ago. 1993


Ferramentas básicas da qualidade

c) identificar as forças pró-ativas — iden- riações são aceitas. Assim, por exemplo,
tificar os fatores que, ao ocorrerem, um parafuso pode ser utilizado em um
tenderão a melhorar a métrica do pro- certo motor, se tiver um diâmetro de 8mm Preciso mas
blema ou a facilitar a resolução do ± 0,1 mm. Esta variação tolerada de (a) não acurado
mesmo; 0,1 mm para mais ou para menos é a tole-
rância. Um parafuso de até 8,1 mm pode
d) identificar as forças reativas — identifi- ser usado. Se o diâmetro for maior, deve
car os fatores que, ao ocorrerem, ten- ser descartado.
derão a piorar a métrica do problema (b) Acuado mas
ou a dificultar a resolução do mesmo; O processo de fabricação do parafuso não preciso
será "capaz" quando produzir resultados
e) lançar no diagrama — o diagrama é dentro da margem de tolerância. Para
construído, colocando-se uma escala que isso seja possível, a variação aleató-
vertical à esquerda, na qual é lançada ria do processo, quando estiver sob con-
a medida atual do problema. A seguir, trole, deve estar dentro dos limites da to- (c) Preciso e
traça-se uma linha e, à direita, identi- lerância. O processo tem de ser acurado, acurado
fica-se o problema ou a sua métrica. ou seja, a sua média deve estar ajustada
As forças pró-ativas são representa- ao valor nominal da característica, e deve
das verticalmente, em sentido ascen- ser preciso, ou seja, ter uma variabili-
dente e as forças reativas, em sentido dade, ou dispersão, menor que os limites
descendente. O diagrama obtido de tolerância. Figura 13 - Analogia do alvo
(figura 12) é conhecido como dia
grama de forças de campo horizontal. Uma forma de visualizar o problema é a O desvio padrão é calculado a partir do
O diagrama é também construído na analogia do alvo (figura 13). Imagine um valor de R da carta de controle. O seu
direção vertical. jogador de dardos tentando acertar um valor é dado por:
alvo. Ele pode acertar todos os tiros
Assim como as demais ferramentas muito próximos uns aos outros (será s= R
preciso), mas longe do centro (não estará d2
apresentadas, a análise de forças de
campo pode ser usada isoladamente. No sendo acurado). Pode dar tiros esparsos
(com pouca precisão), mas uns irão para onde da é um valor tabelado em função
entanto, será mais bem aplicada quando do tamanho da amostra usado na elabo-
associada a outras ferramentas. E parti- o alto, outros para baixo e a média será
próxima do centro (estará sendo acu- ração da carta de controle. Para um ta-
cularmente útil a sua aplicação durante
rado). Um jogador preciso e acurado manho de amostra de cinco elementos
brainstormings, ou com técnica nominal
acertará todos os tiros próximos uns dos (n=5), por exemplo, teremos d2 = 2.326.
de grupo. Pode estar associada, também,
ao diagrama de causa e efeito. outros e no centro do alvo.
Um índice de capacidade pode ser,
Um processo preciso é similar a um atira- então, calculado e deverá ser maior que
Checklist 1 para que o processo seja capaz:
dor de dardos que acerta todos os tiros
próximos uns dos outros: a sua variabili-
O checklist ou lista de verificação é uma dade, ou dispersão, é pequena. Um pro-
relação previamente definida de ativida- cesso acurado atende, na média, o valor
des ou itens de verificação. Aplica-se, nominal (o centro do alvo), mas, se não
geralmente, à verificação de procedi- for preciso, a sua variabilidade, muito
mentos repetitivos ou padronizados. grande, pode levá-lo a produzir resulta- No entanto, mesmo um processo capaz
dos inadequados. pode produzir resultados indesejáveis, se
O checklist possibilita o controle na exe- for pouco acurado (figura 14c). Nesse
cução de tarefas e a sua avaliação poste- Um processo acurado, mas com uma caso, embora Cp seja maior que 1, haverá
rior. Por sua simplicidade e utilidade, é dispersão maior que a tolerância, não é perdas.
uma ferramenta amplamente utilizada na capaz de atender às necessidades
elaboração de manuais de procedimen- (figura 14). Essa dispersão do processo Para identificar tais situações, usa-se o
tos em geral, ou de manuais da quali- corresponde, na distribuição normal, a
dade. índice de performance CPk
um valor de três desvios padrão a mais
ou a menos, ou seis-sigma (60). Esse ┌ ┐
Análise de capacidade processo irá gerar produtos ou serviços Cpk = min X - LSL USL - X
que terão de ser descartados. ----------,----------
3s 3s
A análise de capacidade é desenvolvida └ ┘
a partir da carta de controle. Estando o
processo sob controle, pode-se avaliar se
este é capaz de atender às especifi-
cações estabelecidas.

Para melhor compreender as implicações


da capacidade de processos devemos
abordar a questão da tolerância de uma
característica.

Uma característica, quantificada por uma


variável ou por um atributo, tem uma Figura 14 - Precisão, acuidade e tolerância
certa tolerância dentro da qual as va-

Ci. Inf., Brasília, 22(2): 153-161, maio/ago. 1993 159


Ferramentas básicas da qualidade

Para que o processo seja capaz, então, zação das causas que originaram o as variáveis ou atributos (itens de con-
C p e C pk devem ser ambos maiores problema. Pode-se adotar: trole) adotados anteriormente, verifi-
que 1. cando se estão relacionados com as
modificações introduzidas.
- brainstormings ou técnica nominal de
grupo, para discutir coletivamente o
APLICAÇÕES DAS diagrama da Ishikawa, para ordenar a e) Aperfeiçoar a abordagem — o próprio
FERRAMENTAS BÁSICAS E DE pesquisa das causas; processo de análise de problemas
APOIO pode ser refinado, em função dos re-
sultados alcançados.
- folha de verificação, para selecionar
As ferramentas descritas são utilizadas, causas mais prováveis;
essencialmente, na resolução dos pro- f) Reinicio do ciclo, atacando-se um
blemas de gestão que enfrentamos no novo problema, verificando se as
- gráfico de dispersão e gráfico de Pa-
dia-a-dia. Em linhas gerais, as etapas ações tomadas levaram aos
reto, para ordenar dados coletados
para uma adequada abordagem de um resultados esperados e avaliando se
anteriormente e facilitar a sua análise;
problema são: existem novas possibilidades de
melhoria do processo.
- checklist, nos casos em que rotinas de
a) Identificar corretamente o problema —
análise já existam ou devam ser cria-
trata-se de, uma vez constatado que Evidentemente, antes da primeira etapa
das. Também é útil para ordenar as
algum problema existe, defini-lo clara descrita será adequado criar uma siste-
atividades de análise.
mente, em outras palavras, deve-se mática de abordagem de problemas
estabelecer o que está ocorrendo, em (reuniões periódicas, círculos de controle
que circunstâncias e dentro de que d) Atuação — consiste em corrigir os pro- de qualidade etc.), bem como dar o ade-
processos. Nesta etapa pode-se utili- blemas identificados, atacando suas quado treinamento ou informações sufi-
zar: causas principais e reiniciando o ciclo. cientes sobre as ferramentas a usar. As-
Um aspecto de grande importância sim, um fluxograma do processo de so-
nessa etapa é a redefinição dos dados lução de problemas seria assemelhado
- fluxograma, para definir em que pontos a serem medidos. Deve-se reavaliar
do processo o problema ocorre; ao da figura 15.

- brainstormings ou técnica nominal de


grupo, aliados a folha de verificação,
para identificar e caracterizar o pro-
blema, selecionando as medidas a
acompanhar (itens de controle);

- análise de forças de campo, para


discutir aspectos que possam estar
envolvidos com o problema;

- fluxograma e cheklist, para descrever


o processo de acompanhamento, co-
leta e análise dos dados.

b) Observar dados — coletar


informações e identificar ocorrências
do problema, observando o seu
comportamento. Deve-se introduzir o
acompanhamento de um item de
controle de cada vez. Os procedi-
mentos relacionados com o processo
em acompanhamento devem ser
padronizados, evitando-se a varia-
bilidade. Isto pode ser feito por meio
de:

- carta de controle e análise de capaci-


dade, nos casos em que o problema
esteja relacionado com a variabilidade
do processo;

- gráfico de tendência;

- histograma;

- folha de verificação.
Figura 15 - Passos na implementação de solução de problemas
c) Análise de causas — buscam-se
nessa etapa, a identificação e a priori-

160 Ci. Inf., Brasília, 22(2): 153-161, maio/ago. 1993


Ferramentas básicas da qualidade

BIBLIOGRAFIA

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WALTON, Mary. The Deming Management


Method. New York, NY EUA; Putnam,
1986. 262 p.

Artigo aceito para publicação em 15 de outu-


bro de 1993.

O método aqui sugerido é um caso parti- CONCLUSÃO


cular de um ciclo, sugerido por Shewhart
na década de 30, denominado ciclo
PDCA (figura 16). Segundo esse ciclo, As ferramentas aqui apresentadas per-
todo problema deve ser sistematicamente mitem abordar problemas relacionados
abordado em quatro etapas: planeja- com processos de produção de bens e
mento (plan), ação (do), verificação serviços. Geralmente, duas situações
(chek) e correção (act). O ciclo se repete distintas irão ocorrer. Por um lado, pode-
continuamente, à medida que novos pro- se atacar um problema a partir de sua
blemas e novas oportunidades de aper- identificação em função de uma recla-
feiçoamento vão seguindo. Daí o mote "a mação, uma falha ou uma perda ocorrida.
qualidade é um caminho que tem início, A identificação das causas e a solução
mas não tem fim". definitiva do problema representarão uma
melhoria. Terá sido uma melhoria por
demanda.

Outra situação decorre da identificação


de possibilidades de melhoria por pes-
soas diretamente envolvidas no pro-
cesso, sem que tenha ocorrido qualquer
demanda externa. São situações em que
se elimina desperdício e se reduzem
custos. Uma equipe treinada é capaz de
avaliar permanentemente o processo, fa-
zendo pequenas melhorias com muita
frequência. Essa melhoria do processo
por aperfeiçoamento interno denomina-se
melhoria contínua.

As ferramentas básicas da qualidade são


úteis em ambas as situações. São tam-
bém simples de usar, mas não devemos
Basic tools for quality nos deixar enganar por essa simplici-
dade. A sua aplicação deve ser feita de Bernardo Felipe Estellita Lins
Abstract
forma organizada, seguindo-se uma ro-
The purpose of the paper is to discuss the tina preestabelecida e sistematicamente
seguida. O ciclo PDCA deve ser respei- Graduado em engenharia civil pela Uni-
value of solving problem and process
improvement in the information field. Some tado e os resultados da análise devem versidade de Brasília (81) e obteve a cer-
practical concepts and tools for quality redundar em soluções efetivamente im- tificação Certified Quality Engineer da Ameri-
improvement are presented and their usage is plantadas e verificadas. Não se pode es- can Society for Quality Control em 1989. Foi
briefly commented. quecer, de fato, que a própria aplicação examinador senior do Prémio Nacional da
dessas ferramentas se constitui em um Qualidade em 1992.
Key words
Annalysis and problems solution; Quality, processo a ser criado, implantado e me-
Tools for quality. lhorado ao longo do tempo.

Ci. Inf., Brasília, 22(2): 153-161, maio/ago. 1993 161

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