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DISCIPLINA

Hidrologia

INFILTRAÇÃO

Prof. Rogério TS
1 - GENERALIDADES

Infiltração é a passagem da água da superfície para o interior do solo. É um processo que depende
fundamentalmente: a) da disponibilidade de água para infiltrar; b) da natureza do solo; c) do estado da camada
superficial do solo; e, d) das quantidades de água e ar inicialmente presentes no interior do solo.

2 - DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE INFILTRAÇÃO – Evolução do perfil de umidade

No interior do solo, o espaço disponível para a


água se acumular e se movimentar é
determinado pelos vazios entre os grãos que
compõem a estrutura do solo.

O parâmetro capaz de especificar a máxima


retenção de água no solo é a porosidade do
solo1, n. O teor de umidade do solo2, θ, será
sempre menor ou igual à porosidade.

O grau de saturação do solo3 é definido pela


relação entre o volume de água e o volume de
vazios da amostra.

__________________________________________________________
1 Porosidade, n = (volume de vazios) ÷ (volume da amostra de solo)
2 Umidade do solo, θ = (volume de água na amostra de solo) ÷ (volume da amostra)
3 Grau de saturação, S = (volume de água) ÷ (volume de vazios) = θ/n
Enquanto houver aporte de água, o perfil de umidade tende à saturação em toda a profundidade,
sendo a superfície, naturalmente, o primeiro nível a saturar. Cumpre observar que, normalmente, a infiltração
decorrente de precipitações naturais não é capaz de saturar todo o solo, restringindo-se a saturar, quando
consegue, apenas as camadas próximas à superfície. Em consequência, desenvolve-se um perfil típico onde o teor
de umidade decresce com a profundidade, conforme ilustrado na Figura 1 (linha cheia da Figura 1).

Figura 1 – Evolução do perfil de umidade do solo

Quando cessa o aporte de água à superfície (isto é, deixa de haver infiltração), a umidade no interior
do solo se redistribui, evoluindo para um perfil de umidade inverso, com menores teores de umidade próximos à
superfície e maiores nas camadas mais profundas (linha pontilhada da Figura 1). Nem toda a umidade é drenada
para as camadas mais profundas do solo, já que parte é transferida para a atmosfera pela evapotranspiração. Obs.:
Nas camadas inferiores do solo, geralmente é encontrada uma zona de saturação (lençol freático), mas sua
influência no fenômeno da infiltração só é significativa quando esta se situa a pouca profundidade.
3. GRANDEZA CARACTERÍSTICA DA INFILTRAÇÃO – CAPACIDADE DE INFILTRAÇÃO

A capacidade de infiltração (f) é o potencial que o solo tem de absorver água pela sua superfície. A sua
medida é feita em termos de uma altura de lâmina d’água, por unidade de tempo, que representa, fisicamente, o
volume de água que o solo pode absorver, por unidade de área, na unidade de tempo. A sua dimensão é de
comprimento por tempo, e a sua medida é feita, em geral, em mm/h ou mm/dia.

Deve-se fazer distinção entre os conceitos de capacidade de infiltração e taxa real de infiltração, dado
que esta última só acontece quando há disponibilidade de água para penetrar no solo.

As curvas, em função do tempo, da taxa real de infiltração e da capacidade de infiltração de um solo


somente coincidem quando o aporte superficial de água (proveniente de precipitações e mesmo de escoamentos
superficiais de outras áreas) tem intensidade superior ou igual à capacidade de infiltração.

Se uma precipitação atinge o solo com uma intensidade (i) menor que a capacidade de infiltração (f)
toda a água penetra no solo, provocando uma progressiva diminuição da própria capacidade de infiltração. Se a
precipitação continua, pode ocorrer, dependendo da sua intensidade, um momento em que a capacidade de
infiltração diminui tanto que sua intensidade se iguala à da precipitação.

A partir deste momento, mantendo-se a precipitação, a infiltração real se processa na mesma taxa da
capacidade de infiltração, que passa a decrescer exponencialmente com o tempo, tendendo a um valor mínimo. Em
decorrência, a parcela não infiltrada da precipitação se escoa pela superfície em direção às áreas mais baixas (na
forma de um balanço, i - f = escoamento superficial).

Cessada a precipitação, e não havendo aporte de água à superfície do solo, a taxa de infiltração real
anula-se rapidamente, enquanto que a capacidade de infiltração volta a crescer, pois o solo continua a perder
umidade para as camadas mais profundas (além das perdas por evapotranspiração).
Na Figura 2 representa-se a evolução da capacidade de infiltração em função do tempo, em
decorrência de uma precipitação de duração td e intensidade i constante. Nota-se que com o início da chuva a
capacidade de infiltração decresce com o tempo. Enquanto f > i toda a água precipitada infiltra-se no solo.

Figura 2 – Visualização da variação da capacidade de infiltração com a ocorrência de uma chuva

No instante te contado a partir do início da chuva, a capacidade de infiltração iguala-se à intensidade


da chuva (ponto M na figura). A partir deste instante, e até o instante correspondente ao ponto N da figura, a
capacidade de infiltração se reduz exponencialmente. Parte da água de chuva se infiltra e o restante escoa
superficialmente. As áreas demarcadas na figura representam, conforme indicado, as alturas totais das lâminas
d’água infiltrada e escoada superficialmente.
4. EQUAÇÃO DE HORTON PARA O CÁLCULO DA INFILTRAÇÃO PONTUAL e OUTROS MÉTODOS

A partir de experimentos de campo, Horton (1939) estabeleceu, para o caso de um solo submetido a uma
precipitação com intensidade superior à capacidade de infiltração, uma relação empírica para representar o
decaimento da infiltração com o tempo (ramo MN da curva f x t da Figura 02), que pode ser escrita na forma:

onde
f = capacidade de infiltração (igual à taxa real de infiltração) no tempo genérico ;
f0 = capacidade de infiltração no tempo  = 0;
fC = capacidade de infiltração mínima, ou taxa mínima de infiltração, que é um valor final de equilíbrio avaliado em
um tempo  suficientemente grande;
k = constante característica do solo (constante de Horton), com dimensão de tempo-1;
 = tempo

Existem muitas publicações que abordam a aplicação da Equação de Horton para o cálculo da
infiltração da água no solo. No entanto, outros modelos também se destacam e são amplamente utilizados na
prática, por exemplo, o Algoritmo de Berthelot (1970), a Equação de Green e Ampt (derivada da equação de Darcy);
a Equação de Philip (1957) e o Método do Número da Curva (1972) desenvolvido pelo Soil Conservation Service
(SCS) – vinculado ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (SCS-USDA) – a partir de dados de grande
número de bacias experimentais.

Um EXEMPLO de determinação da infiltração da água será demonstrado em


capítulo posterior (ESCOAMENTO SUPERFICIAL), pois, pelo Método da Curva, é possível
determinar a parcela de água escoada superficialmente e a parcela de água infiltrada no
solo, simultaneamente.
Alguns equipamentos também são frequentemente utilizados para a determinação direta da
capacidade de infiltração: a) Infiltrômetros; b) Simuladores de Chuva.
a) Os infiltrômetros são constituídos de dois
anéis concêntricos de chapa metálica, com
diâmetros variando entre 16 e 40 cm, que são
cravados verticalmente no solo de modo a
restar uma pequena altura livre sobre este.
Aplica-se água em ambos os cilindros
mantendo uma lâmina líquida de 1 a 5 cm,
sendo que no cilindro interno mede-se o
volume aplicado a intervalos fixos de tempo.
Como exemplo, apresenta-se uma planilha de
anotações e cálculo para uso nas medidas da
capacidade de infiltração através do uso de
infiltrômetro de anel metálico.
Os resultados de f em função do tempo são normalmente lançados em um gráfico cartesiano para mostrar a evolução
da capacidade de infiltração ao longo do tempo. Na Tabela 1, demonstra-se um modelo de caderneta de campo para
as anotações dos dados de um ensaio e os cálculos necessários para a determinação da capacidade de infiltração
através do uso de infiltrômetro de anel metálico. Os resultados de f em função do tempo são normalmente lançados
em um gráfico cartesiano para mostrar a evolução da capacidade de infiltração ao longo do tempo.

A coluna (4) da Tabela 1 é preenchida dividindo-se a coluna (3) pela área A da seção transversal do
infiltrômetro. Por sua vez, a coluna (5) é preenchida dividindo-se os valores obtidos na coluna (4) pelo intervalo de
tempo correspondente em horas.
Os principais inconvenientes relacionados ao uso de infiltrômetros, que causam erros nas medidas, são:
• ausência do efeito de compactação da chuva;
• fuga do ar retido para a área externa aos tubos;
• deformação da estrutura do solo com a cravação dos tubos.

b) Os Simuladores de Chuva são aparelhos nos quais a água é aplicada por aspersão, com taxa uniforme, superior
à capacidade de infiltração no solo (f), exceto para um curto período de tempo inicial. Delimitam-se áreas de
aplicação de água, com forma retangular ou quadrada, de 0,10 a 40 m2 de superfície. Estas áreas são circundadas
por canaletas que recolhem a água do escoamento superficial. Medem-se, nos teste, a quantidade de água
adicionada e o escoamento superficial resultante, deduzindo-se a capacidade de f.

5. AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE INFILTRAÇÃO EM UMA BACIA

Para conhecer f em uma bacia hidrográfica, utiliza-se a equação do balanço hídrico. Se forem
conhecidos a precipitação e o escoamento superficial, poder-se-á calcular, por diferença, a capacidade de
infiltração da bacia. Neste procedimento admite-se que a evapotranspiração durante a chuva é muito pequena.
Assim, f = i − (QS ÷ A), onde QS é a vazão devida ao escoamento superficial e A é a área de drenagem da bacia
hidrográfica. Na avaliação acima acaba-se por incluir a interceptação e o armazenamento nas depressões do
terreno no valor de f. Para as pequenas bacias o erro introduzido é menos significativo do que para as grandes
bacias. Para fins de cálculo, pode-se organizar uma tabela, como a Tabela 2.

Nesta tabela,
coluna (4) = coluna (3) ÷ área da bacia (corrigindo-se as unidades),
coluna (5) = coluna (2) ÷ intervalos correspondentes de tempo (corrigindo-se as unidades),
coluna (6) = coluna (5) − coluna (4).
5. FATORES QUE INTERVÊM NA CAPACIDADE DE INFILTRAÇÃO

São vários os fatores que exercem influência na infiltração da água em um solo. Listam- se a seguir cada um deles.

a) Tipo de solo: A capacidade de infiltração varia diretamente com a porosidade do solo, com o tamanho das
partículas do solo (distribuição granulométrica) e o estado de fissuração das rochas.
b) Grau de umidade do solo: O solo no estado seco tem maior capacidade de infiltração, pelo fato de que à ação
gravitacional se somam as forças capilares. De outro modo, quanto maior for a umidade do solo, menor será a
capacidade de infiltração.
c) Compactação pela ação de homens e animais: A compactação da superfície do solo o torna mais impermeável,
diminuindo a capacidade de infiltração.
d) Ação da precipitação sobre o solo: A ação da chuva sobre o solo tende a diminuir a capacidade de infiltração,
pelo efeito da compactação da superfície do terreno, do transporte de material fino que diminui a porosidade
junto à superfície e do aumento das partículas coloidais, que diminui os espaços intergranulares.
e) Alteração da macroestrutura do terreno: A capacidade de infiltração pode ser aumentada pela alteração da
macroestrutura do solo devido a fenômenos naturais, como escavações de animais, decomposição de raízes de
plantas e ação do sol, e também devido a ação do homem no cultivo da terra (aração).
f) Cobertura Vegetal: A presença da cobertura vegetal tende a aumentar a capacidade de infiltração do solo, pois
atenua a ação da chuva e facilita a atividade de insetos e outros animais no processo de escavação. Ainda, por
dificultar o escoamento superficial e por retirar umidade do solo, possibilita a ocorrência de maiores valores da
capacidade de infiltração.
g) Temperatura do solo: A infiltração é um fenômeno de fluxo de água no solo. Assim, sua medida (através da
capacidade de infiltração) depende da temperatura da água, da qual depende a sua viscosidade. Menores
temperaturas provocam o aumento da viscosidade, reduzindo f.
h) Presença de ar: O ar retido temporariamente nos espaços intergranulares retarda a infiltração da água.
BIBLIOGRAFIA

• MELLO, C.E.F. Infiltração. Hidrologia Aplicada CIV-226. Departamento de Engenharia Civil,


Universidade Federal de Ouro Preto, 2011.

• FRANZOTTI, C.L. Infiltração (Notas de Aula), Disciplina: Hidrologia e Drenagem, 2010.

• TUCCI, C.E.M. (Org.) Hidrologia – Ciência e Aplicação. Porto Alegre, Editora da Universidade, ABRH,
EDUSP, 1993, 943p.

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